Será que garotos podem chorar?
Sentia-me péssimo todas as vezes que ouvia “É, não foi dessa vez, quemsabeem um próximo teste você consiga passar".Sempre ouvi que garotos não podiam chorar, não podiam expressar demais suas emoções, e todas as vezes eu chorava, a decepção me consumia, mas sempre no silêncio do meu quarto, nunca na frente dos outros. Apesar de minha irmã, Lyn, me aconselhar a contar que continuei o curso de teatro que não me permitiram frequentar, e continuava tentando passar nos testes de elenco, a coragem não era suficiente para falar a meus pais que eu ainda persistia com a carreira de ator, principalmente minha mãe, que é extremamente controladora. Ela sempre me dizia que garotos não podiam chorar, e alçar voos impossíveis demais. Entretanto, quero muito mais do que ela quer para mim, quero seguir por caminhos diferentes do que minha família traçou. Quando finalmente ouvi, "Você foi o nosso escolhido para interpretar o Thirasak!" as lágrimas escorriam pelo meu rosto. Foi a primeira vez que chorei depois de anos, e acho que garotos podem chorar, e expressar seus sentimentos.
Era a primeira reunião com o diretor, produção e elenco depois que foi estabelecido que meu personagem não seria o Thirasak, mas o Wanchai, não compreendi muito bem o motivo da troca, embora o P’ Tan, o diretor, tenha me explicado que ao ver as imagens dos testes, ele achou que eu ficaria melhor como Wanchai, e o outro ator como Thirasak. Eu não gostei muito no início, mas eu queria muito trabalhar, e para isso ainda tive que emagrecer bastante, pois, o personagem tinha uma aparência frágil e delicada, em relação ao seu par romântico. O nervosismo toma conta de mim, estou tão atônito no saguão da recepção que meu staff, P'Mes, percebendo a situação, me conduz até o grande elevador, me encara e fala.
— Você parece não estar aqui. Fique calmo, vai dar tudo certo! — ao escutar, balanço a cabeça em sinal de positivo e respiro fundo.
Caminhamos por um longo corredor até chegar diante da porta. Ao entrar percebi que a sala estava cheia de pessoas, olho ao meu redor e reconheço alguns rostos da TV, e o meu nervosismo aumenta quando um dos produtores fala algo.
— Estávamos à sua espera! — Que vergonha, chegar atrasado na primeira reunião com todo o elenco!
Sorri timidamente.
— Desculpem o atraso! Bom dia a todos...
P'Tan começou a falar do que esperava para o projeto. Enquanto ele fala, percorro meu olhar pelo ambiente, observo cada pessoa presente na mesa, até que meu olhar recai sobre meu parceiro de cena, P’Nate. Seu olhar é intimidador, ele me encara como se estivesse me recriminando por algo. Enviaram para mim o texto dos três primeiros episódios, sei que tenho muitas cenas com ele, e também sei que teremos cenas românticas, mas não quero pensar nisso agora, e encará-lo me dá um pouco de insegurança.
[...]
Após a reunião com o elenco P'Tan e os produtores pediram para conversar comigo e com o senhor “olhar intimidador”. Ele passou toda a reunião me encarando, fiquei na dúvida, será que ele estava interpretando o personagem? Pois, ouvi que ele é um jovem ator promissor, muito competente, e talvez na minha frente estivesse Thirasak. P’Tan olha para ambos, e diz:
— Vocês sabem que começaremos os workshops, e provavelmente já estão estudando o texto que foi enviado. Há um ponto muito importante antes de tudo começar, vocês não se conhecem, e irão viver dois personagens que ao longo da história se apaixonarão. Teremos muitas cenas de cumplicidade e romantismo entre o casal. Então, é preciso que haja uma cumplicidade entre vocês, algo que vocês ainda não tem.
O senhor “olhar intimidador” resolve perguntar.
— E o que sugere, P’Tan?
— Eu sugiro que passem o máximo de tempo juntos antes e durante os workshops. Construam uma amizade. Saiam para vários lugares, conversem todos os dias presencialmente, ou por telefone. Enfim, adquirir intimidade é essencial, pois, os outros atores já se conhecem, trabalharam em vários projetos, e alguns até fizeram pares românticos. Mas vocês são os protagonistas, e estão se conhecendo agora, e precisam adquirir um grau de intimidade muito bom para dar vida a Wanchai e Thirasak!
Assim que saímos da sala, P’Nate olhou para mim, e disse.
— Preciso do seu número! — seu olhar é intenso, hipnótico. Não consigo parar de olhar para ele, é estranho. — Ouviu o que eu falei?
Entrego meu telefone para que ele digite seu número.
— Ah! Sim, desculpe!
Assim que o fez, ligou para o número digitado.
— Está feito! Qual é o próximo passo? — pergunta num tom seco.
— Precisamos ficar muito tempo juntos. — respondo, e seu olhar é indiferente ao me responder.
— Vamos marcar algo para amanhã, eu ligo pra você! Agora, eu preciso ir... Até mais!
Fiquei olhando ele se afastar,e em minha mente, vem a pergunta: será que isso vai dar certo?
[...]
Ele realmente me ligou no dia seguinte, e fomos a um restaurante escolhido por ele. Desde aquele dia, tudo igual. P”Nate age como uma porta, às vezes penso que estou falando sozinho, sempre fazemos os mesmo programas, e o clima de intimidade entre nós não existe, sinto-me ainda mais intimidado por ele. A forma como olha para mim têm me deixado bem intrigado, não sei se tem raiva de mim, ou se está com raiva do mundo. É confuso.
Deitado em minha cama, pego o celular. Penso em enviar uma mensagem, mas não sei se devo, é desencorajador, ele mal responde. Enquanto penso, alguém bate na porta do quarto.
— Pode entrar. — A porta abre, e uma bela garota sorridente entra, senta na beira da minha cama. — O que faz acordada a essa hora?
— Queria ver se meu irmãozinho está bem. Afinal de contas, não tenho visto você esses dias...
— Estou bem, só um pouco cansado.
Ela me olha com um aspecto sério, um olhar intrigante, mas não demora muito para que isso mude, e um sorriso malicioso se forma no canto de sua boca.
— E como vai seu namoro?
— Namoro? Eu não estou namorando, sua doida!
— Nossa! Eu jurava que você e o Nate estavam namorando… — responde, e acerto um travesseiro no rosto dela, enquanto escuto sua gargalhada.
— Sua palhaça! Isso não tem graça…
— Calma, irmãozinho! Você parece bem abalado com o que falei, o que houve? Já sei, tá rolando um clima entre vocês, uma tensão sexual. E...
— Dá pra você calar a boca, e parar com tanta besteira?
Ela não se contenta com a resposta.
— E?
— E? Nós somos homens!
— E?
— E, o quê? Está maluca, criando fanfic...
Ela nunca se contenta, e sua língua é sempre muito afiada.
— Acho que o termo mais adequado para sua fala, seria nós somos héteros, ou melhor, você é hétero. Afinal, você não sabe como está definida a sexualidade dele, não é mesmo?
— Lyn, para com isso! Já basta o P’Nate me tratar como se eu fosse um louco!
— Como assim?
— Temos que estar juntos para adquirir mais intimidade, e ele simplesmente não se esforça, sinto que estou falando sozinho, ele me encara com o seu olhar intimidador de todo dia. Eu simplesmente não sei o que fazer!
— Ele é tão difícil assim? — pergunta, e eu balanço a cabeça. — Acho que você deve ser sincero, e dizer pra ele que isso está te incomodando, e ele precisa interagir, afinal há um contrato em jogo... E a série precisa acontecer!
— Não sei, estou ficando cansado.
— Você não vai desistir do seu sonho, porque o mini Christian Grey está te intimidando, e parece querer ferrar com tudo? Você não está louco, não é mesmo?
Gracias por leer!
Podemos mantener a Inkspired gratis al mostrar publicidad a nuestras visitas. Por favor, apóyanos poniendo en “lista blanca” o desactivando tu AdBlocker (bloqueador de publicidad).
Después de hacerlo, por favor recarga el sitio web para continuar utilizando Inkspired normalmente.