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Ser um mago era muito difícil, principalmente com uma infinidade de feitiços, poções e rituais. A grande maioria deles requeria uma atenção aos mínimos detalhes, para que atingissem o efeito desejado, por isso, todos sabiam que só deveria se realizar feitiços ou rituais se tivesse lido completamente as instruções. Menos Jimin. Em meio a sua euforia por finalmente ser um estudante de magia, Jimin encontra um grimório antigo na biblioteca e resolve aprender tudo que o livro tem para lhe ensinar, mesmo que haja partes borradas e desgastadas. Estava tudo indo bem até que, ao tentar invocar um familiar, Jimin acaba fazendo um contrato com Yoongi, um ser mágico cujo sonho é conhecer o mundo humano. Por conta do erro do jovem mago, Jimin e Yoongi passam a estar ligados um ao outro por toda a eternidade. Aos poucos, juntos, eles descobrem que vermelho é a cor mais bonita.


Fanfiction Bandas/Cantantes Sólo para mayores de 18.

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Um familiar (ou quase) para pertencer


Escrito por: @YinLua

Notas iniciais: Olá, eu sou a Yin!
Essa história é um plot doado pela @In0zanan, eu realmente espero que goste!! Não sei se ficou do jeitinho que você queria, mas espero que tenha suprido as expectativas

Queria agradecer à @busanjimin | @xbusanjimin pela capa maravilhosa e à @minie_swag pela betagem perfeita. Obrigada também à @mimi2320ls | @bebeh1320alsey por me ajudar a pensar em nomes pra essa história!!

Sem mais delongas, boa leitura!


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Ser um mago era mais difícil do que parecia.

Não bastava apenas ler um feitiço em um livro qualquer de magia e tentar executá-lo, Jimin aprendeu isso da pior — ou melhor, dependendo do ponto de vista — forma possível. Não, era preciso aprender a controlar a magia que fluía em seu sangue, entender por que as regras existiam e cumpri-las da forma devida... e também era de extrema importância ler sobre um feitiço completamente antes de tentar praticá-lo.

O jovem que havia completado 21 anos recentemente e que há pouco havia começado a estudar na Escola de Magos de Seul, Park Jimin, deveria ter pensando em tudo isso antes de deixar sua curiosidade lhe guiar.

Estava tudo bem ir à biblioteca da escola e ler um livro antigo, com capa dura e páginas feitas de tecido, em vez de papel. Não tinha problema algum em levá-lo para seu apartamento — com a devida permissão do bibliotecário, é claro, mesmo que ele não estivesse realmente prestando a atenção nele — e estudar sobre as poções e feitiços quaisquer desse livro.

Até então, tudo bem.

Noite após noite, Jimin havia tido sucesso em diferentes itens do grimório e sua excitação só crescia. Sua curiosidade e sede de conhecimento não parecia ser saciada nunca, treinando sem parar encantamentos que não eram ensinados pelos professores; ele não pararia até que completasse todos os feitiços, poções e rituais do livro.

O problema era que, em uma noite qualquer, Jimin falhou em ler a descrição completa do feitiço. Ele só sabia que invocaria um familiar, porém o restante dos parágrafos estava coberto por uma mancha escura e continha todas as informações adicionais sobre o que aconteceria caso seguisse as instruções. Por conta disso, o dono de cabelos coloridos pensou duas vezes antes de prosseguir com o ritual.

Ele pensou duas vezes, porém isso não foi o suficiente para impedi-lo de cometer um erro... ou o melhor acerto de sua vida.

Com o coração batendo rapidamente em excitação, os olhos brilhando em curiosidade, os lábios repuxados em um sorriso e coberto pela baixa luminosidade de velas aromáticas vermelhas que tinham o delicioso cheiro de cereja — e o ajudavam a entrar no clima de magia —, Jimin não hesitou em desenhar o pentagrama no chão de seu apartamento com sua tinta especial.

Era assim que os magos pintavam símbolos mágicos: ou os escreviam no ar, usando a ponta dos dedos com magia canalizada, ou utilizavam uma tinta que continha partículas de pó mágico, como o das fadas. Como o pentagrama precisava ser impresso em uma superfície lisa, na horizontal, Jimin preferiu gastar um pouco de sua tinta para isso.

Quando o jovem mago se deu por satisfeito e comparou o símbolo no chão com a figura do livro, ele sorriu. A adrenalina corria por suas veias, só por saber que estava fazendo algo escondido, junto com a animação para saber o que aconteceria.

Um familiar... Seria bom ter um naquele apartamento vazio, sentia-se tão sozinho quando não estava na escola. Imaginou se o familiar teria a forma de um gato ou de um cachorrinho e não se conteve em pular enquanto batia palmas para conter a animação.

— Ah! — exclamou, um pouco alto demais para o horário. — Espero que seja um gatinho!

Jimin riu consigo mesmo enquanto se encarregava de dar os toques finais para poder, enfim, colocar o ritual em prática.

— Se bem que qualquer tipo de familiar estaria bom — divagou ele, olhando ao redor. — Eu vou amar a companhia da mesma forma — concluiu com um sorriso nos lábios. Mesmo que viesse um animal fora de sua zona de preferências, tipo… cobra, ele sabia que o vínculo que formariam seria especial o bastante para superar a forma de seu familiar.

Jimin tirou uma mecha de fios da cor rosa da frente de seus olhos, empurrando o cabelo para trás, e inclinou-se sobre a mesa da sala para ler mais uma vez o livro de feitiços.

Pentagrama... feito.

Texto em latim decorado... feito.

Luz da Lua sobre o pentagrama... Jimin olhou para a janela aberta, vendo que os raios de luz tocavam o desenho no chão. Feito.

Oferenda... feito. Jimin não sabia que tipo de familiar seria invocado, então inicialmente não sabia o que oferecer; no fim, acabou escolhendo um pequeno buquê com três rosas de cores diferentes. Amarela, rosa e azul, que representavam, respectivamente, lealdade e amizade, delicadeza e sensibilidade, e harmonia.

Além do significado que os humanos não-mágicos davam às flores, as rosas, para magos, também eram especiais. Elas eram utilizadas em muitos rituais justamente por serem flores mágicas, diferentes de todas as outras. Rosas nasciam em lugares de pura magia, assim como Canapeias — embora as propriedades da Canapeia fossem ainda melhores —, e por isso dar uma única pétala a outro ser mágico já era sinal de respeito e adoração. Imagine três rosas inteiras!

Por fim, para completar o feitiço, só faltavam três gotas de sangue do invocador após o encanto para selar o ritual.

Jimin se encaminhou para a cozinha, onde pegou uma faca, e voltou para a sala de estar com ela na mão. Olhando ao redor brevemente, ele agradeceu por não ter nenhum companheiro de quarto, porque tinha feito uma tremenda bagunça no apartamento. Com a mesma animação de antes, Jimin posicionou-se na borda do pentagrama e respirou fundo, preparando-se para começar a recitar as palavras escritas no tecido envelhecido do grimório.

Pelo Sol, pela Lua e pela magia que corre em minhas veias, eu te invoco! Venha! — No fim, o encantamento eram apenas palavras. Feitiços eram apenas palavras, porque palavras tinham poder.

Enquanto falava, deixou que a faca afiada corresse por sua mão e ultrapassasse a barreira do tecido cutâneo, libertando o líquido vermelho que corria por suas veias. Uma gota escorreu por sua palma e caiu no chão, fazendo com que o pentagrama fosse ativado e a tinta mágica brilhasse em um tom dourado.

A luz foi tão forte que Jimin precisou cobrir os olhos com o braço cuja mão não estava cortada, porém isso não o impediu de continuar recitando a frase, que era pontuada com uma gota de seu sangue.

No final, quando Jimin proferiu as palavras em latim pela última vez e permitiu que a última gota de seu sangue pingasse no desenho, o brilho se intensificou e uma força desconhecida o empurrou para trás. Contudo, não foi o suficiente para que Jimin batesse na parede, apenas para que desse uns passos para trás e caísse sentado, incrédulo e extremamente surpreso com o que estava acontecendo.

Diante dos seus olhos, o brilho ofuscante, de fora para dentro, dava lugar à imagem de um ser belo, com as curvas de um humano, a beleza de um deus e a magia pura de um ser elemental. Jimin engoliu em seco, em partes pelo choque, em partes pela beleza surreal do desconhecido à sua frente. Ele não conseguiu piscar enquanto os traços do — agora Jimin sabia — homem se tornavam mais visíveis com o recuo da luminosidade.

Os fios de tom roxo brilhante esvoaçavam levemente, interagindo com a magia ao redor, e mesmo assim pareciam extremamente macios e sedosos, sem um único nó. Era a cor mais bonita que já havia visto no cabelo de alguém, Jimin se perguntou internamente se conseguiria pintar o seu assim também.

Ao contrário de Jimin, o dono dos cabelos mais lindos que ele já havia visto tinha suas pálpebras fechadas, negando a Jimin uma troca de olhares.

A luz diminuía conforme os segundos passavam. Jimin piscou uma, duas, três vezes, porém o que parecia ser uma miragem não desapareceu. Não importava quantas vezes piscasse, o ser que havia acabado de fazer uma entrada triunfal — só faltaram anjos tocando trombetas, e Jimin poderia acreditar facilmente que aquele era um anjo — em sua sala de estar continuava flutuando, mas cada vez mais perto do chão. Conforme seus pés tocavam o chão pela primeira vez, o brilho cegante sumia, dando total visão do dono dos cabelos roxos para Jimin.

Com os lábios entreabertos, ainda jogado no chão e com a palma sangrando levemente, o jovem mago finalmente reparou nas roupas que o desconhecido usava. Eram diferentes de roupas comuns que tanto humanos mágicos quanto não-mágicos vestiam, pelo menos atualmente; Jimin diria que parecia... uma túnica. Talvez grega. Ele era da Grécia Antiga? Jimin tinha errado o ritual para obter um familiar e invocado alguém da Grécia Antiga? Isso era possível? Porque...

— Você não parece um familiar — murmurou ele, ainda preso na visão do homem.

Como se tivesse sido despertado ao ouvir a voz de Jimin, o homem finalmente abriu os olhos. O mago certamente não estava preparado para isso; seus lábios se entreabriram novamente em surpresa e ele piscou rapidamente, porque a cor dos olhos do desconhecido era completamente incomum. Roxos, tão brilhantes quanto seus cabelos, de um tom tão singular que parecia... mágico.

— Familiar...? — Ele inclinou a cabeça para o lado, respondendo Jimin com uma expressão de confusão. O coração de Jimin falhou uma batida com a fofura daquele ser. — O que é isso?

— H-hm... — Jimin não sabia o que dizer, muito menos o que pensar. O que diabos estava acontecendo?!

O dono dos cabelos roxos brilhantes desviou o olhar brevemente, parecendo bastante curioso sobre seu redor, mas voltou a fixá-los nos pés do humano caído a sua frente.

— Yoongi. — Ele abaixou sua cabeça, como se fizesse uma reverência.

— O... — Jimin piscou, confuso. — Quê?

— Me chamam de Yoongi — esclareceu. Jimin franziu as sobrancelhas, acenando lentamente. — Mas... o que é um familiar?

Jimin pareceu se dar conta de que ainda estava sentado no chão. O mago rapidamente se levantou, limpando a mão suja de sangue na roupa — um feitiço poderia rapidamente tirar a mancha que ficaria, então quem ligava se iria sujar? — e colocando a faca sobre a mesinha, que estava próxima.

— É o que você deveria ser — respondeu, ainda perdido. Ele tinha errado o feitiço? Quando viu o olhar confuso de Yoongi, ele continuou: — Digo, familiares... são... bichinhos? Animais mágicos, que acompanham magos, os protegem, fazem companhia, são mais inteligentes que animais comuns, etc. Eles têm um vínculo muito forte com o mago também.

Yoongi o ouvia atentamente, embora ainda mantivesse o rosto um pouco abaixado, parecendo tímido demais para olhá-lo nos olhos. Jimin o achou fofo.

— Mas você definitivamente não parece um... animal — continuou, um pouco hesitante, mesmo que ele tivesse certeza que Yoongi definitivamente ficaria ainda mais fofo com orelhinhas de gato. — Então, o que você é?

Pela primeira vez na noite, os olhos castanhos se encontraram com os de tom arroxeado. Jimin estava extremamente curioso com o estranho que havia aparecido do nada em seu apartamento, quando ele esperava um gatinho ou um cachorrinho mágico.

Yoongi abriu a boca, como se fosse falar algo, mas suas palavras se perderam no meio do caminho. Ele selou seus lábios, apenas para tornar a abri-los segundos depois. Em seus olhos, podia-se perceber um brilho diferente, confuso. Como se ele estivesse tão perdido quanto Jimin.

— Acho que sou o seu familiar — sussurrou Yoongi, ainda que parece um pouco incerto.

— Como assim?! — Jimin arregalou os olhos no mesmo instante, suas sobrancelhas praticamente sumindo por entre os fios de cabelo colorido.

— Você disse... proteger. — Ele levantou um dedo, enumerando as características que Jimin tinha mencionado antes. — Fazer companhia... — Mais um dedo foi levantado. — E inteligentes... Acredito que sou inteligente o suficiente. — Arqueou a sobrancelha levemente, mostrando três de seus dígitos para Jimin.

— Desde quando você tem que me proteger?!

— Desde que você fez isso aqui. — Yoongi apontou para o chão, mostrando o pentagrama que Jimin havia desenhado na esperança de conseguir um familiar. Aparentemente, tinha dado certo... porém não da forma como ele esperava. — Você me invocou e me ofereceu um contrato.

— Eu fiz o quê?! — A voz de Jimin saiu extremamente alta, beirando ao grito. Ele quase podia ouvir sua vizinha o xingando mentalmente. — E-eu...

— É o meu mestre. — Yoongi abaixou levemente a cabeça para demonstrar submissão. — Eu aceitei o contrato. Sou seu... como disse? Familiar agora.

— Yoongi, você deve estar enganado — desesperou-se Jimin. Ele deu passos para frente, borrando o chão com as gotas de seu sangue que ainda pingavam. Yoongi não se mexeu, nem levantou a cabeça, então Jimin se abaixou levemente, procurando seus olhos. Quando os achou, tão belos e brilhantes quanto antes, ele precisou respirar fundo para acalmar seu nervosismo. — Olha, o ritual é para invocar um animal mágico, e eu tenho certeza absoluta que você não é um.

Yoongi pendeu sua cabeça para o lado, ficando ainda mais bonito com alguns fios cobrindo um de seus olhos.

— De onde eu vim... Eles falam sobre esse símbolo — explicou Yoongi. Seus dedos apontaram para o chão novamente e ele finalmente se mexeu, caminhando sobre o desenho que cobria parte do piso do apartamento de Jimin. — Ele é um chamado; cada vez que alguém o pinta e nos chama em nossa língua materna para fechar um contrato, um de nós pode escolher entre aceitar ou não... entre permanecer na dimensão dos elementais ou caminhar no mundo dos humanos.

Jimin engoliu em seco, sem saber o que pensar. Seus olhos se moveram inconscientemente para o grimório aberto em sua mesa; será que havia feito o feitiço errado? Ou... a parte manchada tinha informações vitais que ele deveria saber?

— E... você aceitou o meu chamado? É isso? — perguntou alguns segundos depois, quando sua mente ainda processava as informações.

— Sim. — Yoongi assentiu, sério. Suas mãos se fecharam e foram mantidas por trás de suas costas, sobre o tecido macio de tom azul, parecido com a cor do oceano.

— Mas... por quê? — Jimin levou uma de suas mãos ao cabelo rosa, tentando aliviar um pouco sua confusão. Não deu certo. Por quê? Por que Yoongi tinha aceitado o contrato que Jimin nem sabia que estava propondo?

Yoongi ficou em silêncio por alguns segundos, baixando o olhar novamente. Jimin decidiu que gostava mais quando os orbes brilhantes lhe encaravam.

— Por que abandonar sua vida na... — Ele desviou o olhar, tentando buscar em sua mente o termo que Yoongi havia utilizado segundos antes. — Dimensão dos elementais e vir para cá? E-eu nem sequer sabia que eu estava oferecendo um contrato a você, digo...

O dono de cabelos cor-de-rosa se perdeu em meio ao raciocínio quando Yoongi levantou o olhar novamente, parecendo ligeiramente ofendido.

— Não é isso! — Jimin levantou as mãos em sinal de rendição, não querendo chatear o outro. — Eu apenas achei que seria um familiar...

— Que fosse um animal mágico, entendi — interrompeu Yoongi, balançando levemente a cabeça. — Não precisa se explicar, está tudo bem.

Jimin sorriu sem graça, sem saber o que responder. Ele realmente estava piorando a situação.

— Eu resolvi aceitar porque gostaria de me aventurar no mundo dos humanos. — Yoongi desviou o olhar, observando com curiosidade a janela à sua direita. Por ela, dava para ver a Lua, algumas estrelas e vários prédios tão altos quanto o que Jimin morava, ou ainda maior. — Foi a primeira vez que o portal abriu em dois mil anos.

— Como assim? — Jimin franziu o cenho.

— O portal só abre quando alguém tenta fazer um contrato com um de nós — explicou ele.

Não demorou nem um segundo para Jimin captar a mensagem. No mesmo instante, sua boca abriu em surpresa e suas pernas ficaram fracas. Isso significava que ninguém havia feito o feitiço em dois mil anos?! Merlin...! Seus olhos se mexeram, perdidos e sem focos, enquanto sua mente parecia cada vez mais barulhenta. Não era possível... Se ninguém havia feito o feitiço em dois mil anos, deveria haver um motivo. Feitiços e rituais não eram simplesmente esquecidos e abandonados...

— A menos que sejam proibidos — Jimin sussurrou, sentindo o último fôlego em seus pulmões se esvair.

Sua mão se estendeu para se agarrar no apoio mais próximo; seu coração batia tão acelerado quanto antes, tão alto que ressoava em seus ouvidos, porém, diferente de antes, que era de animação, dessa vez era de terror. Ele puxou o ar com o máximo de empenho que conseguia, engolindo em seco no processo.

O que foi que eu fiz?

— Eu... preciso sentar.


[...]


Depois de alguns chás mágicos para acalmar a mente e trocar a roupa suja de sangue, Jimin permitiu-se relaxar por alguns minutos para, enfim, conversar com Yoongi sobre o que iriam fazer quanto aquilo. Quer dizer... Jimin não queria um ser em forma humana para cuidar, certo? Ele sequer sabia que tipo de contrato havia selado!

Seus olhos seguiram a forma curiosa de Yoongi por todo o percurso que ele fez em seu apartamento. Os olhos roxos brilhantes fizeram questão de visitar cada canto do lugar, aprendendo cada vez mais sobre seus arredores. Jimin deixou com que ele se aventurasse pela sala de estar, pelo corredor que levava ao seu quarto, pelo banheiro... porém, quando Yoongi chegou à cozinha, o jovem mago percebeu que aquele lugar em específico era perigoso para seu... visitante.

— Mestre, isso é bebida humana? — Yoongi perguntou ao longe.

No mesmo instante, Jimin levantou com pressa, dirigindo-se para a cozinha. Porque não, era impossível do que quer que fosse que ele estivesse falando ser uma bebida humana, pois Jimin havia consumido a última garrafa de vinho no fim de semana anterior e o refrigerante havia acabado mais cedo. Então só podia ser...

— Não! Não toque nisso! — Sua fala saiu extremamente desesperada, a calma advinda do chá se esvaindo entre seus dedos. Seus dígitos agarraram firmemente no batente da porta, seus olhos buscando Yoongi entre seus eletrodomésticos.

— Hm? — O dono de cabelos roxos olhou-o curiosamente; Jimin já havia entendido que tudo aquilo era extremamente novo para Yoongi, por isso ele estava sempre curioso, então ele sequer questionou.

— Isso... — Ele respirou fundo, pondo a mão no peito para acalmar seu coração. Droga, o susto tinha sido tremendo. — É uma poção curativa, que combate a maioria dos venenos... Ou era para ser.

Yoongi voltou seus olhos para o vidro em sua mão. Um líquido verde espesso podia ser visto através da transparência do objeto que poderia ser facilmente confundida com uma garrafa de vidro de refrigerante de 600ml.

— Era para ser? — Ele tornou a encarar Jimin.

— É. — Jimin riu, sem graça. Ele usou sua mão livre para coçar sua nuca, a fim de esconder seu embaraço. — Vê que a cor do líquido tá puxada para o verde escuro?

Yoongi assentiu, em silêncio.

— Então, ela deveria ter um tom puxado para o verde-água. Além disso, a espessura tá bem mais grossa do que é aceitável. Basicamente, não sei o que isso faz, só o que deveria fazer — explicou. — Pode ser que eu tenha feito um novo veneno, etc. — Ele deu de ombros. — Melhor não tentar a sorte.

— Entendi...

Com os olhos sérios, Yoongi colocou a garrafa no lugar e limpou suas mãos na túnica azul por segurança. Sua pose era tão travada, tensa, que Jimin quase não conseguiu evitar a risada que queria escapar por seus lábios.

Quando o familiar pareceu perdido o suficiente, o jovem mago resolveu que sua curiosidade havia sido o suficiente até o momento. Ele respirou fundo, cruzando os braços e tentando acalmar sua mente. Uma hora aquilo teria que acontecer, então, quanto mais cedo, melhor.

— Bem, Yoongi... Acho que deveríamos conversar.

— Claro, mestre. — Yoongi abaixou a cabeça levemente, porém se pôs a caminhar até Jimin.

Ao perceber que Yoongi estava vindo até ele, Jimin seguiu para o sofá da sala de estar — que continuava totalmente suja, mas isso não vinha ao caso. O mago sentou-se e sinalizou para que Yoongi fizesse o mesmo. Com um pouco de relutância, Yoongi obedeceu, sentando-se ao lado de seu mestre.

— Primeiro... — começou Jimin, um pouco incomodado. — Por favor, por favor, por Merlin, não me chame de mestre. — Yoongi levantou o olhar brevemente, franzindo as sobrancelhas. — É sério. Não parece... certo. Prefiro que me chame de Jimin. Nada de mestre.

— Certo... Jimin — Yoongi pronunciou lentamente, como se testasse a palavra em sua língua, e Jimin sorriu com quão fofa aquela cena parecia.

— Isso! — Jimin bateu palmas, um pouco mais animado com aquela mudança de eventos. Era como se um terço do peso em seus ombros tivesse saído; ora essa, não era professor de ninguém, muito menos o lorde de um reino antigo para ser chamado de mestre! Só que ainda havia muito a ser discutido, e Jimin tinha a impressão de que nem tudo seria tão simples assim. — Agora... Eu quero saber mais sobre o... contrato.

Yoongi pendeu a cabeça para o lado, um pouco confuso, mesmo que soubesse que Jimin provavelmente estava ainda mais perdido que ele.

— Bem... O contrato estava escrito no pentagrama que você desenhou no chão.

— Estava? — Jimin interrompeu-o, surpreso.

— Sim. — Yoongi assentiu. — Os termos são representados nos sigilos; tem um para proteção, um para formar uma conexão, outro para submissão, alguns que, juntos, permitem você a usar minha essência como fonte de poder...

— O quê?! — O jovem mago se levantou, incrédulo com tudo aquilo. Merlin! — E você aceitou?

— Como disse... queria vir para o mundo dos humanos — respondeu Yoongi com uma calma que Jimin invejava.

— Yoongi, você tem noção que você poderia ter fechado um contrato com uma pessoa horrível? — exasperou-se Jimin. — E se eu fosse do mal? Cruel? Como pôde se submeter a isso?!

— Sua essência não era de alguém cruel. Eu saberia se você tivesse más intenções.

— Minha essência?

— Sim, a fonte de seus poderes. — Yoongi arqueou as sobrancelhas como se aquilo fosse óbvio.

— Você quer dizer a minha magia? — Jimin piscou, um pouco confuso.

— Provavelmente.

Um pequeno silêncio se seguiu enquanto Jimin ainda processava as informações que tinha acabado de ouvir. Então... Yoongi o protegeria, se submeteria a ele, Jimin teria acesso à magia de Yoongi e eles teriam — quer dizer, tinham — uma conexão...? Céus... Isso era demais para ele. Ele cobriu seu rosto com suas mãos, apoiando os cotovelos nos joelhos.

— E tem como desfazer o contrato? Há uma forma de te mandar de volta para o lugar de onde veio? — murmurou Jimin.

Contudo, uma resposta não veio nos próximos segundos. Jimin esperou, porém Yoongi continuou quieto. Quando a espera tornou-se tremenda, Jimin removeu as mãos de seu rosto e virou-se para o familiar, querendo entender o porquê do silêncio.

Yoongi olhava para sua direita, onde se encontrava a televisão, porém Jimin sabia que, dessa vez, ele não estava realmente curioso. Podia perceber pelo franzir de suas sobrancelhas, pela forma como seus lábios e seus olhos pareciam duros nos cantos. Tensos. Como se Jimin tivesse acabado com todos os seus sonhos e o familiar estivesse sendo cuidadoso com suas palavras.

Ele se sentiu mal, lembrando-se de Yoongi dizendo sobre o quanto queria vir ao mundo dos humanos. Jimin estava sendo egoísta? Pensando apenas no peso da responsabilidade que cairia sobre ele ao fazer um feitiço proibido, ao ter que cuidar de outro ser que não era humano, mas pensava e agia como um?

— Yoongi... — Jimin começou, respirando fundo novamente. — Desculpe considerar algo assim sem te consultar antes.

O dono de cabelos roxos apenas assentiu, ainda com a mandíbula tensa e seus olhos fixados na televisão, sem a ver realmente. Mesmo assim, um peso deixou os ombros de Jimin naquele instante. Pelo menos havia tido uma resposta!

— Tem como você permanecer aqui sem um contrato?

Novamente, Yoongi balançou a cabeça, porém negativamente dessa vez.

— E você quer mesmo ficar aqui?

Mais um aceno. Sim.

Jimin suspirou, derrotado. Bem, parecia que ele teria que lidar com Yoongi. Não era algo realmente ruim — afinal, ele tinha conseguido um familiar, alguém que o acompanharia por sua vida e que poderia ser um amigo —, só que também não parecia algo bom. Era arriscado; por sua mente, infinitas consequências eram simuladas em sua mente e a maioria incluía o Conselho de Magos batendo à sua porta em algumas horas para prendê-lo. Ainda assim, ele não se via sendo capaz de abandonar Yoongi à própria sorte; não parecia certo... não parecia ele.

— Certo... Fale mais sobre essa conexão, por favor.

Yoongi finalmente voltou a olhar em sua direção, e Jimin sorriu, considerando aquilo uma vitória em meio aos desafios que pudessem vir a seguir.

O familiar estalou os dedos e, no mesmo instante, uma luz dourada começou a surgir na ponta de seu mindinho. O brilho foi forte, mas não o suficiente para incomodar a vista de Jimin, que arqueou as sobrancelhas, curioso.

Em menos de um segundo, a luz dourada passou a se mover por um trajeto já traçado e deixou para trás um laço que envolvia quase completamente o mindinho de Yoongi. Por onde a luz passava, ela revelava um fio amarelo, composto por algo que Jimin suspeitava ser pura magia. O fio, por sua vez, continuou a surgir diante do olhar de Jimin e flutuou em sua direção, até parar em seu mindinho também, onde brilhou mais forte até desaparecer completamente segundos depois.

Diferente do de Yoongi, o fio não envolveu seu dedo em um laço, apenas o circundou suavemente.

Jimin levantou o olhar para Yoongi, buscando uma explicação.

— Essa é a nossa conexão — explicou ele. Levantou o mindinho, fazendo com que o fio balançasse suavemente. Jimin assentiu. — Percebe a diferença nos extremos do fio? Como o meu dedo tem um laço, e o seu não? É porque o fio me liga unicamente a você, porém você não está ligado somente a mim. Ou seja, você poderia fechar outros contratos se quisesse.

Jimin franziu as sobrancelhas.

— Que injusto — murmurou.

— É como os contratos são feitos. — Yoongi assentiu enquanto falava. — Nós prometemos muita coisa, porém recebemos pouco em troca. O que é considerado justo ou não depende do que cada um está disposto a arriscar.

O mago ficou sem palavras, observando sua parte do fio com fascínio e um pouco de estranheza. Ele se perguntou se aquilo significava que estaria para sempre ligado a Yoongi... ou, no caso, Yoongi ligado eternamente a ele.

— E o que eu te ofereci em troca? — Ele voltou seus olhos para o familiar.

— Sua companhia... e um lugar para pertencer.

Jimin sorriu involuntariamente quando Yoongi desviou o olhar para o lado ao falar aquelas palavras. Fofo.

Ele tinha sentimentos conflitantes naquele instante; era muita coisa para processar, muitas responsabilidades que ele assumiu sem saber e, mesmo assim, pequenas ações do homem sentado ao seu lado eram capazes de fazer parecer que tudo aquilo valia a pena. Querendo ou não, ele já tinha se afeiçoado a Yoongi naquelas primeiras horas, sem motivo algum, e não sabia exatamente como proceder, porém era um assunto que poderia deixar para o dia seguinte. Sua mente começava a ficar lenta por conta do sono — já era para Jimin estar dormindo há um bom tempo.

— Acho que isso eu posso cumprir.

O sorriso apenas deixou seus lábios para que um bocejo passasse por eles. Piscou lentamente, sentindo todo o cansaço da noite começar a pesar depois que a adrenalina e a ansiedade se esvaíram de seu corpo.

— Você... dorme? — Jimin perguntou, incerto.

— Sim... — Yoongi pendeu a cabeça para o lado, como se questionasse por que ele estava perguntando isso. — Eu... como também? — completou, tão confuso que saiu em tom de questionamento, mesmo que parecesse estúpido dizer tais coisas.

— Oh. — Jimin piscou, um pouco sem reação. Aquilo estava acontecendo muito nas últimas horas. — Você está com fome? O que você come? Posso fazer algo para você...

— Não precisa, m... Jimin. — Yoongi balançou a cabeça e um pequeno sorriso repuxou o canto de seus lábios para cima. — Estou bem.

— Tudo bem — repetiu Jimin para si mesmo.

Ele suspirou e levantou, olhando ao redor para se situar novamente. Seus olhos o fizeram lembrar que Yoongi dormia quando pousaram sobre a porta de seu quarto no fim do corredor. Merlin! Onde ele vai dormir? Jimin não podia simplesmente deixar que ele dormisse no chão. Yoongi era um convidado! Quer dizer, mais ou menos... mas era! Sua mãe ficaria totalmente brava se soubesse que havia deixado um convidado dormir no chão.

— Venha, vou te levar onde você pode dormir. — Sinalizou para que Yoongi o seguisse. Quando Yoongi se pôs de pé, ele encaminhou ambos para seu quarto e continuou: — Depois eu arrumo toda essa bagunça, agora eu me sinto exausto.

— Quer que eu limpe...? — ofereceu-se Yoongi, seus olhos inocentes observando a pintura que ainda cobria o chão.

— Não! — Jimin virou-se para ele no mesmo instante, de olhos arregalados. — Yoongi, você é como um convidado no meu apartamento. Não precisa limpar nada, tudo bem? Não se preocupe com isso.

— Como queira, Jimin. — Yoongi baixou o olhar, demonstrando obediência, e Jimin odiou aquela ação totalmente. Mesmo assim, não falou mais nada.

O mago abriu a porta e a segurou para que o outro passasse. O olhar curioso de Yoongi retornou a seu rosto, parecendo absorver totalmente a visão do quarto decorado com itens mágicos e não-mágicos.

Ele possuía porta-retratos que se moviam — que certamente tinham inspirado a saga de livros de bruxos que Jimin cresceu lendo, mesmo que fosse tudo ficção —, seu computador, o teto do quarto enfeitiçado para mostrar como estavam as estrelas naquele momento... Na parede de frente para sua cama, a imagem do mar era animada com magia, a fim de imitar o cenário real, com direito a brisas marítimas, ondas e, às vezes, o surgimento de algum animal marítimo.

Jimin entendia o olhar encantado de Yoongi, ele também achava que seu quarto era o próprio paraíso na Terra.

— Bem... — Ele precisou interromper a observação de Yoongi quando mais um bocejo teimou em sair. — Você vai dormir aqui, na cama, tudo bem?

— E... Jimin? — perguntou ele, querendo saber onde que Jimin iria dormir, se Yoongi dormiria em sua cama.

Jimin deu de ombros.

— Vou dormir no sofá mesmo. Posso só pegar um travesseiro e uma coberta que...

— Não precisa — interrompeu-o Yoongi rapidamente —, eu posso dormir no sofá em seu lugar e você fica com a cama.

— Yoongi. — Jimin franziu as sobrancelhas. — Já disse que...

— Eu não sou seu convidado, Jimin. — Yoongi abaixou o rosto novamente, incapaz de olhar nos olhos de Jimin ao interrompê-lo pela segunda vez seguida. — Sou o seu familiar, e você é o meu mestre, não posso tirá-lo da sua própria cama.

Jimin coçou a nuca, esperando Yoongi terminar de falar para que pudesse fazer ele ver a razão. Quando percebeu que Yoongi tinha se calado, ainda de cabeça baixa, Jimin se aproximou dele até que estivessem tão próximos que podia contar quantos cílios Yoongi possuía em cada pálpebra. Não perdendo tempo, tocou em um de seus ombros levemente para chamar sua atenção e só começou a falar quando Yoongi levantou o olhar.

— Eu não quero ser o seu mestre, nem nunca vou ser. — Sua voz era gentil, calma, e seus olhos suplicavam para que Yoongi o ouvisse até o fim. Isso não impediu que os olhos roxos desviassem dos seus, chateados por sua fala. — Mas posso ser seu companheiro, um amigo, que não vai se prender a contrato algum e, em vez disso, vai ser ele mesmo ao seu redor. — Jimin buscou o olhar de Yoongi novamente e, dessa vez, Yoongi o olhou de volta com um brilho diferente no olhar. — Esqueça isso de mestre, me trate como trataria um amigo, tá bom?

Yoongi não ousou falar, apenas balançou a cabeça em concordância. Ele diria que tinha se sentido emocionado pelas palavras do outro, porque, no momento em que decidiu largar sua vida no mundo dos elementais para se aventurar no mundo dos humanos, ele aceitou que muito provavelmente seria tratado apenas como uma fonte de essência, sem sentimentos, sem vontade própria, apenas um... servus. Mesmo que a essência de Jimin fosse gentil e acolhedora, ele não ousou ter esperanças; ainda assim, Jimin o surpreendeu.

O dono dos cabelos roxos sorriu.

Vendo que Yoongi parecia mais tranquilo, Jimin retornou o sorriso e se afastou, tirando a mão do ombro do familiar.

— Então, decidido! — Ele bateu palma levemente. — Você fica na cama que eu vou dormir no sofá.

Antes que Jimin pudesse virar em seu calcanhar e se jogar no sofá da sala de estar, Yoongi protestou:

— Ei! Eu disse que ficaria com o sofá.

Jimin arqueou a sobrancelha, levemente impressionado com a insistência do outro.

Eu quem disse que ficaria no sofá.

— Isso não é justo — reclamou Yoongi. — Por que só sua opinião importa?

Por causa da reclamação de Yoongi, junto do leve bico que se formou nos lábios do outro, Jimin não conseguiu resistir à gargalhada que escapou por seus lábios, alta demais para aquela hora da madrugada, porém espontânea demais para ser abafada. Os olhos do jovem mago se fecharam involuntariamente enquanto sua mão tentava segurar sua barriga durante a risada, e seu corpo se dobrou.

Ele não pôde evitar de pensar, enquanto uma pequena lágrima pelo sono e pela risada se acumulava em seu olho. Ah... Ele até reclamou na minha cara! De certa forma, era um pouco reconfortante que Yoongi se sentisse à vontade tão rápido — rápido até demais, mas Jimin tinha adorado isso — para falar dessa forma com ele. O mago decidiu que definitivamente preferia assim.

Quando finalmente a crise de riso passou, Jimin precisou enxugar a lágrima solitária e risonha que escorria por sua bochecha.

— Certo — falou ele, um pouco ofegante ainda. Um sorriso adornava seu rosto enquanto seus olhos observavam os orbes roxos brilhantes. — Então... que tal ambos dormirmos na cama? — propôs, apenas de brincadeira. Ele acabaria dormindo no sofá de qualquer jeito. — Prometo não te chutar durante a noite.

Yoongi assentiu, sério, e Jimin arqueou a sobrancelha.

— Não se incomoda de dormir na mesma cama que eu?

— Não. Ainda acho que seria melhor eu dormir no sofá... — Yoongi desviou o olhar brevemente. — Porém, se nem Jimin está disposto a ceder, nem eu... Não vejo motivos para evitar que ambos tenhamos o que queremos.

Definitivamente surpreso, porém nem um pouco incomodado, Jimin sorriu e não tardou a se encaminhar para o outro lado da cama, a ideia de dormir no sofá esquecida tão rápido quanto foi pensada. Ele puxou as cobertas e se deitou, apoiando a cabeça no travesseiro como sempre fazia — a diferença é que, dessa vez, teria companhia. Sinalizou para o homem que ainda estava de pé, ao lado de sua cama, para que fizesse o mesmo.

Yoongi se moveu com um pouco mais de timidez, mas não recusou o convite. Os olhos de Jimin acompanharam cada movimento do mesmo, observando com interesse como Yoongi ajeitava sua túnica antes de sentar e afofava o travesseiro antes de deitar. Não deixou de sorrir com a cor rosada que surgiu nas bochechas dele enquanto estava sob o seu olhar.

Sem jeito, Yoongi virou-se para o lado oposto ao de Jimin, deixando que Jimin apenas tivesse a visão de suas costas.

— Confortável? — sussurrou Jimin.

— Hm.

Jimin supôs que aquilo fosse um “Sim”, então apenas se virou para o seu lado e bocejou novamente. No dia seguinte, limparia aquilo tudo, pensaria em como prosseguir e emprestaria algumas de suas roupas a Yoongi — túnicas gregas azuis certamente não seriam nem um pouco discretas em meio à multidão. Naquele momento, Jimin não perdeu tempo em sussurrar “Averte lux” para que a escuridão tomasse conta completamente do quarto.

Ali, na tranquilidade do cômodo, nenhuma preocupação conseguiu penetrar sua mente e Jimin pôde finalmente descansar.


[...]


Ao contrário do que pensava, Jimin não acordou no dia seguinte com oficiais do Conselho de Magos em sua porta.

Enquanto piscava lentamente, ainda sonolento, ele se perguntou se Yoongi tinha sido fruto de algum sonho estranho que ele havia tido. Fazia sentido ele não ser real; quer dizer, sua beleza era sem igual. Seus cabelos pareciam mais macios que a mais pura seda, seus olhos tinham a cor e o brilho mais perfeitos que Jimin já vira e... não podia negar, as reações de Yoongi eram maravilhosas.

Jimin se sentia extremamente atraído por ele.

Mas, Yoongi era um sonho. Literalmente. Ele não existia, e Jimin podia apenas suspirar tristemente que a própria definição de perfeição não era real.

— Jimin, onde você guarda suas folhas de Canapeia? — perguntou uma voz ao longe.

Folhas de Canapeia... Quem me dera ter folhas de Canapeia, resmungou ele mentalmente. Jimin não respondeu, apenas se revirando na cama e ignorando quem quer que tinha ousado interromper seu estado sonolento. Queria dormir mais uns minutinhos e sonhar com Yoongi novamente.

— Onde está seu bule mágico? — A voz parecia mais próxima dessa vez, como se caminhasse para a porta de seu quarto. Ainda assim, a sonolência de Jimin não o permitiu processar quem estava em seu apartamento. — Sabe, onde você coloca as folhas e o bule as transforma em chá no mesmo instante.

— Desde quando isso existe? — murmurou Jimin contra o travesseiro.

Bule mágico... Seria bom se existisse. Por sinal, não sei ainda por que os magos ainda não inventaram um, seria melhor do que gastar magia pra automatizar o processo não-mágico.

— Os humanos não têm um? Então como vocês fazem chá?

Humanos... Jimin piscou lentamente, ainda com o rosto enterrado no travesseiro, até que ele finalmente processou a informação e percebeu quem estava falando consigo.

— Yoongi! — Ele se virou no mesmo instante e se sentou na cama, surpreso. Ele realmente tinha acreditado que tinha sido um sonho, mas... Olhando para baixo, pôde perceber o fio amarelo ainda em seu mindinho. — Não era um sonho — sussurrou, levando o olhar para observar cada traço do rosto do familiar.

— Um sonho? — Yoongi arqueou as sobrancelhas, inclinando a cabeça ligeiramente para a direita.

— S-sim, quer dizer... — Jimin sorriu sem graça, coçando sua nuca. — Por que você queria folhas de Canapeia? Elas não são fáceis de conseguir no mundo humano — desconversou.

— Ah... Pensei em fazer um chá para quando você acordasse, mas como não achei, peguei um não-mágico, espero que não se importe. Chá verde. Só que também ainda não achei o bule, então...

Jimin sorriu com a forma sem jeito do outro. Sentiu-se mais energizado, ainda tinha um pouco de sono, porém o dia tinha começado muito bem.

— Não precisava, mas, mesmo assim, muito obrigado.

O jovem mago aproveitou aquela deixa para levantar da cama e ver o que Yoongi tinha aprontado enquanto dormia. Não se surpreendeu quando encontrou a sala de estar completamente limpa, sem quaisquer evidências de que tinha praticado um ritual na noite anterior e invocado um familiar; ele sentiu vontade de sorrir e, ao mesmo tempo, um pouco culpado. Esperava que Yoongi não tivesse se sentido obrigado a limpar a bagunça dele.

Sem perder muito tempo, dirigiu-se para a cozinha. Contrariando todas as suas expectativas — aquelas que Jimin sequer sabia que tinha —, o lugar estava totalmente arrumado, sem um único copo ou talher fora do lugar. Ué…? Ele não tinha deixado para limpar e arrumar tudo quando acordasse? Tinha virado sonâmbulo ou algo do tipo?

O mago parou no batente da porta, sem palavras.

— Você... limpou o apartamento ou algo assim?

— Eu acordei cedo, então pensei em... ajudar. — Yoongi abaixou a cabeça atrás de Jimin, mas o mago não viu. — Fiz mal?

— Não! — Jimin virou em seus calcanhares, de olhos arregalados. No mesmo instante, Yoongi levantou o rosto, mesmo que minimamente. — Não é isso, só não precisava. Não quero que fique fazendo as coisas por mim, sabe? Como se fosse alguma obrigação ou algo do tipo.

— Certo. Se deixou Jimin desconfortável...

Jimin respirou fundo, sabendo que teria que escolher suas palavras com cuidado.

— Olha, Yoongi... Não me deixou desconfortável. Eu só quis dizer que qualquer coisa que você pense em fazer por sentir alguma obrigação ou algo assim, você pode esquecer. Não quero que se sinta obrigado a fazer coisas por mim, isso que eu quero que entenda. — Ele olhou mais uma vez nos olhos roxos antes de sorrir e se virar, encaminhando-se para o armário. — Sente-se. O que você come? O que acha de cereais no café da manhã?

— O que Jimin comer está ótimo — Yoongi respondeu.

A passos lentos, Yoongi seguiu até a mesa redonda que havia no meio da cozinha e sentou-se na cadeira, com seus olhos curiosos observando os movimentos de Jimin em torno de si. A leveza com que o mago se movia era fascinante; ele se perguntou se um humano e uma fada dançante poderiam ser relacionados.

Os orbes roxos perseguiram o jovem mago até que Jimin, enfim, colocasse uma tigela na frente de Yoongi, com leite e cereal. Ele depositou uma tigela idêntica do outro lado da mesa, em frente aonde ocupou a cadeira.

Yoongi abaixou o olhar para sua própria tigela. Alguns círculos coloridos flutuavam em meio a um líquido branco, que ele não tinha a menor ideia do que era, mas que parecia o que extraíam de unicórnios. Será que tinha propriedades mágicas também?

Com cuidado, ele pegou a colher que lhe tinha sido oferecida e capturou alguns círculos coloridos com ela, deixando também que um pouco do líquido permanecesse ali. Levou a colher até a boca sob o olhar atento de Jimin, porém não permitiu que suas bochechas se aquecessem.

— O que achou? — perguntou Jimin.

O jovem mago só então começou a comer seu cereal, ainda atento a Yoongi.

Yoongi mastigou lentamente, querendo saborear a comida para dar seu veredito final a Jimin.

— Diferente... — ele respondeu ao engolir. — Doce. Muito bom.

Jimin sorriu enquanto mastigava seus próprios cereais, contente que Yoongi tinha gostado. Não era o que ele esperava, mas definitivamente estava feliz por ter um amigo novo.

Como era uma manhã — quase tarde — de domingo, Jimin não tinha aulas. Aos sábados e domingos, a Escola de Magos de Seul permitia que seus alunos tivessem uma folga da semana puxada de aulas e treinos de magia, por isso Jimin não se importava de ficar até tarde nos sábados testando e aprendendo feitiços. Ele não teria responsabilidades no dia seguinte mesmo.

Naquela manhã, então, Jimin pensou em eles irem à rua para comprar algumas roupas para Yoongi — afinal, ele não poderia usar aquela túnica para sempre. Mesmo que fosse bonita e o deixasse parecendo uma divindade grega, Yoongi ainda chamaria muita atenção caso saísse com ela.

— O que acha? Posso te emprestar umas minhas para sairmos, parece que somos do mesmo tamanho.

— Hm... — Yoongi desviou o olhar para sua tigela, porém isso não escondeu suas bochechas vermelhas. Aquilo soava como um presente. — Tudo bem.

— Ótimo! — Jimin sorriu.

Ele aproveitou que já tinha terminado de comer e pôs sua louça na pia, iria tomar um banho rápido e se arrumar para saírem. Poderiam até almoçar na rua, assim Yoongi poderia experimentar mais comidas humanas! Seria tão legal!

— Mal posso esperar para te mostrar Seul! Ah, eu vou tomar banho primeiro, mas você pode escolher uma muda de roupa no meu guarda-roupa, sabe, o móvel gigante de madeira com um espelho na porta. Só abrir que todas as minhas roupas estão ali, pode pegar qualquer uma. Quanto a roupas de baixo... — Jimin coçou a nuca. — Se você esperar, eu posso ir à lojinha de conveniências aqui perto e comprar cuecas novas.

Yoongi apenas assentiu, embora, em seu interior, compartilhasse da agitação de Jimin. Ele estava tão feliz de estar naquele mundo totalmente diferente do seu, em que as coisas não simplesmente aconteciam por meio de magia — você tinha que fazê-las acontecer. Era... animador. Ele diria até que era um alívio.

Em Anhili, onde nasceu, Yoongi cresceu... solitário. Seu fascínio pelo portal para o mundo dos humanos, sua curiosidade por esse lugar lhe rendeu o isolamento da maior parte de seu povo, porque a maioria já tinha aprendido a lição: quem quer que trocasse sua liberdade por um novo mundo, acabaria sendo punido. De um jeito ou de outro; ou o humano sugaria toda sua essência sem se importar com o servus, ou ele faria com que o servus se sentisse sozinho, como um objeto, como se seu mestre não se importasse com eles.

Em ambos os casos, o destino do servus era a morte.

O humano pecava, mas o servus quem era castigado. A natureza daquele ritual nunca seria justa para aquele vindo do mundo dos elementais.

E ainda assim, Yoongi preferia abandonar tudo e desbravar a Terra. Ele não tinha nada a perder. Seus criadores, aqueles que tinham cultivado sua semente — seu povo nascia da primeira pétala de Ortus, uma flor encantada que não existia no mundo humano — já haviam perecido, porque, mesmo que seu povo vivesse bastante, eles não eram imortais, e eram as únicas pessoas com quem Yoongi realmente tinha laços.

Eles eram almas gêmeas, tinham um relacionamento esplêndido, o mais bonito que Yoongi já havia visto — mesmo que nunca tivesse observado de perto muitos relacionamentos. Só que, depois de encontrar sua outra metade, os indivíduos não conseguiam mais ficar sem ela; perder sua alma gêmea era como perder a si mesmo, então quando um de seus criadores morreu, o outro o seguiu logo em seguida.

Depois disso, Yoongi não tinha mais nada que o prendesse a Anhili. Ele estava apenas esperando uma chance de escapar... até que Jimin lhe deu essa oportunidade. O mago abriu um portal que não era aberto há dois mil anos, e Yoongi nem sequer pensou duas vezes antes de aceitar o chamado. Ele só precisava... se mudar daquele mundo em que tudo era magia.

Encurralando aqueles pensamentos nos cantos mais profundos de sua mente, o dono de cabelos roxos se encaminhou para o lugar que havia dormido, à procura do tal guarda-roupa. Feito de madeira, com espelho na porta. Fácil, ele pensou assim que entrou no quarto. Eles tinham algo parecido em Anhili, onde os seres elementais guardavam seus pertences, porém não era gigante assim, e definitivamente cabia muito mais coisas.

Yoongi não se fez de rogado, abrindo as portas do guarda-roupa com a curiosidade que havia o levado até ali, até aquele momento. Inúmeros tecidos e formatos de vestimentas que Yoongi nunca tinha visto o cumprimentaram quando olhou o que havia ali dentro e, com fascínio, olhou peça por peça até decidir o que gostaria de experimentar primeiro.

Quando tinha acabado de selecionar peças que pareciam confortáveis o suficiente, Jimin passou pela porta, passando uma toalha no cabelo molhado para secá-lo.

— Já escolheu? — A pergunta foi pontuada pelo olhar curioso do menor. Rapidamente, seus olhos castanhos encontraram a roupa na mão de Yoongi. — Ah! Eu adoro essas, certeza que vão ficar ótimas em você!

Jimin se aproximou, parecendo animado o suficiente para depositar sua toalha molhada em cima da cama.

— Deu sorte também que o clima esfriou, está quase nevando lá fora — comentou ele, deixando seus dedos tocarem a ponta do suéter felpudo. Jimin redirecionou o olhar para a janela do quarto rapidamente, e Yoongi seguiu seu olhar. — Não dá pra sentir essas mudanças de clima aqui dentro porque eu uso um feitiço de regulação da temperatura... Sabe, como aqueles termostatos? Ah, você não deve saber, é algo pra manter a temperatura do ambiente como você quiser; aí, no caso, aqui dentro do apartamento está sempre agradável. Tudo culpa da magia.

Yoongi acenou, entendendo o que ele queria dizer. Não o surpreendeu, apenas o deixou mais curioso sobre como seria a sensação térmica lá fora. Além disso, Jimin disse que estava quase nevando... O que seria... “nevar”?

— Acho que vai precisar de um casaco mais pesado, mesmo com o suéter. — Jimin passou por ele, indo em direção ao guarda-roupa. Ele cutucou alguns cabides, passando-os para lá e para cá, reorganizando-os de forma que seus casacos estivessem todos próximos um do outro. — Escolhe algo daqui para colocar por cima dessa roupa, vai te deixar mais aquecido.

— Ok — concordou Yoongi.

Depois disso, não tardou para Jimin sair do cômodo. Ele também precisava se preparar para ir à rua, e iria antes de Yoongi para comprar algumas roupas íntimas — infelizmente, ele não tinha nenhuma que não havia sido usada ainda.

Pegou um chapéu preto que cobria parcialmente suas orelhas e voltou para o quarto, encontrando um Yoongi bastante interessado na paisagem lá fora. Ele deu de ombros, chamando sua atenção assim mesmo.

— Yoongi, vou ali na loja de conveniência e já volto — avisou. — Espera eu voltar para tomar banho.

— Certo, Jimin. — Yoongi inclinou levemente a cabeça, fazendo Jimin revirar os olhos.

— Temos uma nova regra: sem reverências entre nós, de qualquer tipo. — Yoongi arqueou as sobrancelhas, parecendo surpreso, porém não questionou. Jimin piscou o olho direito para ele. — Bom garoto!

As bochechas de Yoongi se aqueceram levemente, mas sua vergonha foi disfarçada ao desviar o olhar para a janela, pigarreando apenas para fingir que não tinha sido afetado.

— Não sabia que tínhamos regras.

O tom de voz de Yoongi não o traiu, soando sério o suficiente, porém Jimin não pôde evitar rir, porque o mais velho era definitivamente fofo demais para seu bem-estar. Se sua voz não o condenava naquele momento, suas bochechas vermelhas e sua postura tímida o faziam. Ele estava tão absurdamente lindo com o tom vermelho decorando sua pele que Jimin só conseguiu se virar enquanto ria, encaminhando-se para a porta antes que desistisse de tudo e resolvesse guardar Yoongi em um potinho.

A risada de Jimin só fez o rubor aumentar. Yoongi sentiu seu interior se aquecer juntamente com sua face, ele só queria sair daquele cômodo o mais rápido possível, a fim de evitar mais constrangimento.

— E não tínhamos, mas agora temos — respondeu o mago com um sorriso no rosto, deixado pelas risadas. — Quando voltar, eu deixo você me contar quais são as suas regras. — Jimin piscou novamente, dessa vez não esperando a reação de Yoongi para, enfim, sair pela porta e ir comprar roupa íntima para Yoongi.

Yoongi não sabia o que pensar sobre seu mestre, apenas que, apesar de ter percebido que ele não podia ser tão ruim assim quando sentiu seu chamado, o mago não parecia ser como os outros invocadores, aqueles que fechavam contrato com os seres elementais há muitas centenas de anos. De certa forma, aquilo o deixava aliviado e contente.

O Min entendia que sua atitude ao aceitar o chamado tinha sido irresponsável — quem diabos fecharia um contrato com humanos, quando há tantos exemplos na história dos elementais de que isso só traz dor, sofrimento e morte ao ser mágico? — e que poderia ter inúmeras consequências, uma pior do que a outra, por isso perceber que Jimin parecia ser um bom humano o trazia tranquilidade. Ele havia tido sorte, pelo visto.

A sensação de alívio só aumentou naquele dia, passando a se transformar em um sentimento de gratidão. Jimin o trouxe roupa de baixo nova, ajudou-o a se vestir quando teve dificuldade, e acalmou toda sua ansiedade quando percebeu que as ruas estavam lotadas, humanos não paravam de encará-lo e seu coração passou a bater fortemente ao imaginar que a qualquer momento alguém poderia reconhecê-lo como um ser mágico e fazer coisas terríveis por isso.

Ele até se lembrava da forma como Jimin segurou sua mão, olhando em seus olhos e dizendo o quão forte Yoongi era e que, se mesmo assim ele quisesse que Jimin o protegesse, ele o protegeria, porque eram amigos afinal.

Yoongi desconhecia a sensação de ter amigos, mas achou que se parecia muito com a de tomar um chá de Canapeia morno em um dia de inverno: seu interior ficava quentinho enquanto seu estômago se revirava em um sentimento de satisfação, só que, além disso, seu coração também parecia mais leve. Ele realmente gostava dessa sensação.

O dia seguinte ao que havia chegado à Terra havia ficado marcado em sua memória; naquela manhã de domingo, Yoongi conheceu vários lugares interessantes. Infelizmente não havia nenhum estabelecimento no topo de árvores enormes, mas havia veículos que tinham asas e voavam! E eles nem precisavam de magia para isso!

Ah, como os humanos eram inteligentes.

Contudo, quando Jimin o arrastou para um lugar em específico com várias opções de comida, Yoongi ficou tão animado que perguntou a Jimin se poderiam voltar ali todos os dias. O som da risada de Jimin foi o suficiente para espantar a decepção que se seguiu quando Jimin disse que infelizmente ele iria à falência caso comessem ali sempre. Foi então que Yoongi entendeu que, no mundo dos humanos, é preciso pagar para adquirir algo, e nem sempre é barato.

Mesmo assim, Jimin não hesitou em comprar roupas para Yoongi. O mago deixou que o mais velho escolhesse várias peças, e ainda o ajudou a combiná-las. Ele sequer estranhou quando Yoongi lhe mostrou uma peça que parecia com sua túnica.

O dono dos cabelos roxos só percebeu que não era o público-alvo daquele tipo de roupa quando a humana que Jimin pagou pelas peças perguntou se o vestido era para sua namorada — ele sequer sabia o que era uma namorada. Yoongi, inocente, disse que era para ele, e a jovem fez uma careta não tão discreta, apressando o pagamento quando Jimin perguntou a ela se havia algum problema.

Yoongi não imaginava que palavras pudessem sair dos lábios de Jimin em um tom tão... gelado. Ácido. A careta da humana certamente havia causado aquilo. A roupa que havia escolhido era o motivo da expressão dela.

Ele sentiu-se envergonhado naquele momento, por sua ignorância sobre os costumes humanos, por ter escolhido a peça errada, e perguntou-se por que Jimin não havia lhe avisado antes, porém esses pensamentos sumiram de sua mente assim que Jimin o guiou para fora da loja com a mão firme em suas costas, uma expressão determinada no rosto e bochechas levemente vermelhas e estufadas.

— Desculpe — ele pediu baixinho, culpando-se sem saber pelo quê.

Ele deveria se envergonhar de ter gostado do vestido? Por que nem todos os humanos podiam usar esse tipo de roupa? Por que a moça reagiu tão mal? Era contra as regras? Mas, se fosse, Jimin não o defenderia, certo?

Isso sem falar na atenção que atraía: por onde passava, podia sentir diversos pares de olhos o seguindo, cutucando tanto suas costas que Yoongi pensava em se transformar em um pequeno gato e se esconder nos braços de Jimin.

A mão de Jimin que permanecia em suas costas fez uma leve pressão em resposta à sua fala.

— Não tem motivos para pedir desculpas, Yoongi. Era apenas uma moça sendo ignorante, você não fez nada de errado.

— Tem certeza? — Yoongi franziu as sobrancelhas, a expressão da mulher passando novamente por sua mente. Pensando bem... Ela parecia estar com nojo. Por quê? Ele não entendia. — Ela parecia... enjoada — ele sussurrou. — Homens não podem usar vestidos?

— Claro que podem! — Jimin exclamou, sua voz um pouco mais alta que o normal. — Roupas não têm gênero. Se você gostar de algo e se sentir confortável, então não tem nada de errado em usar.

— Então por que ela reagiu mal?

Jimin suspirou, parecendo um pouco frustrado. Não com Yoongi, mas talvez com a humanidade. Yoongi dividia o olhar entre o caminho e o perfil de Jimin, tentando entender o que diabos tinha acontecido.

— Algumas pessoas ainda têm esse pensamento arcaico do que faz um homem ser homem. Elas acham que homem precisa ser másculo, forte, gostar de lutas, viril; e acham estranho quando alguém demonstra interesse em coisas bonitas, roupas que são destinadas para o público feminino, maquiagens ou tem um jeito mais delicado... — Jimin fez uma pausa, sem desviar o olhar do caminho. — A verdade é que não existe regras ou padrão a ser seguido, nós só precisamos ser nós mesmos e sermos felizes com isso. Tipo, o que diabos é ser homem?!

Yoongi sorriu com a indignação do mais novo, uma sensação boa se espalhando por seu interior. Parecia que tinha acabado de tomar uma xícara de chá de Canapeia quentinho, a sensação da magia o preenchendo e percorrendo seu interior enquanto o líquido quente se encaminhava para seu estômago, trazendo calor por onde passava. Mas Yoongi não havia tomado chá, então o que era aquilo?

— Apenas... não faz sentido — Jimin completou, respirando fundo. — Não ligue para isso.

— Então está tudo bem eu ter gostado de um vestido? — perguntou lentamente, apenas para confirmar. A palavra vestido ainda enrolava de forma estranha em sua língua, mas não era desagradável.

— É claro! — Jimin sorriu-lhe, olhando em sua direção pela primeira vez desde que saíram da loja. — Tenho certeza que vai ficar incrível em você.

Naquele momento, o sorriso de Jimin foi suficiente para acabar com qualquer indecisão que ainda restava dentro de Yoongi — mesmo que pouca — quanto à decisão de vir para a Terra. Além disso, ele também o ajudou a entender o que era aquele sentimento em seu interior. Seus olhos acolhedores e seu sorriso doce convenceram Yoongi de que eles eram amigos. Aquele era o sentimento de ter um amigo. Não havia relação de mestre e servus entre eles. Um protegeria o outro.

Yoongi podia lidar com aquilo.

Quando os dias de semana chegaram e, com eles, a necessidade de Jimin ir à aula, o mago ficou relutante em deixar Yoongi sozinho. Ele sabia como podia ser solitário em seu apartamento, e não queria que Yoongi permanecesse preso entre quatro paredes — o mais velho disse que se sentiria mais confortável quando Jimin saísse para explorar com ele, então ele acabaria ficando no apartamento mesmo tendo total liberdade para sair. Yoongi teve uma ideia para solucionar o caso.

— E se eu for com você, mas em forma de gato? — Seus olhos se arregalaram levemente, brilhando em animação — Eu posso inibir minha assinatura mágica e ficar na sua... bolsa?

Jimin arregalou os olhos também, seus olhos logo se abrindo em um sorriso enquanto suas mãos batiam palmas rapidamente.

— Ótima ideia! — A voz de Jimin soou mais alta, animada. — Eu posso dizer que o gato não pode ficar sozinho em casa porque tem que tomar remédio e não tenho ninguém para cuidar.

Yoongi analisou a proposta, pendendo a cabeça para o lado e levando os próprios dedos ao queixo. Ele franziu levemente as sobrancelhas arroxeadas, pensativo.

— Mas deixariam um animal não mágico entrar?

— Ah. — Os ombros de Jimin caíram quando ele se tocou que muito provavelmente a resposta era não. Ele tinha quase certeza que havia alguma regra contra animais nas dependências da escola. — Acho que não. Então... o que faremos?

Yoongi suspirou, remexendo-se no sofá. Eles estavam tendo aquela pequena discussão há algum tempo, Jimin já tinha até perdido o começo da primeira aula, porém... A solução mais simples seria Yoongi simplesmente ficar em casa, mas ele não queria. Ter que ficar sozinho seria chato, entediante. Fora que queria conhecer o mundo lá fora, e nada melhor que fazer isso ao lado de Jimin.

— E se eu ficar invisível? E apagar minha assinatura mágica? — sugeriu novamente. — Consigo fazer com que você seja a única pessoa a me ver.

— Sério?! — Tão rápido quanto se esvaiu, a animação de Jimin voltou. Dessa vez, o plano parecia tão infalível que o mais novo não se conteve e avançou no ser mágico, abraçando-o com força. — Que daora!

Yoongi sentiu suas bochechas se aquecerem, porém não recuou do enlace surpresa. Pelo contrário: deixou que seus braços cobrissem o corpo do mais novo, e pouco se importou com os pequenos pulinhos que Jimin dava, que acabavam quase o enforcando.

Ele fez um barulho com a boca, confirmando que aquilo era possível.

Quando Jimin finalmente o soltou, o menor ostentava um sorriso enorme que deixava seus dentes à mostra. Pela primeira vez, Yoongi reparou que um de seus dentes da frente era levemente torto e completamente adorável.

— Então vamos! Já perdi o começo da primeira aula mesmo, então podemos ir com calma para você conhecer um pouco mais da cidade.

Yoongi concordou, ainda com as bochechas levemente coradas. Em seus lábios, um “Sim, mestre” morreu antes que as palavras fossem proferidas — Jimin já havia deixado claro que não gostava daquele tipo de tratamento e, bem... Yoongi também preferia a ideia de que eram amigos, e um amigo não chamava o outro de mestre, certo?

Pouco antes de saírem do apartamento, Yoongi se permitiu uma pausa para fazer o feitiço, palavras em latim deixando seus lábios. Pensando em como ainda teriam que passar por multidões para chegar ao destino final que era a escola de magia, ele não apenas se deixou invisível, como também deixou sua forma incorpórea, de forma que nenhum humano senão Jimin pudesse tocá-lo. Os outros apenas passariam através de si, sem poder vê-lo nem o sentir.

Combinando ambos os efeitos, Yoongi seguiu Jimin pelas ruas e assistiu suas aulas o resto do dia. Até “conheceu” os amigos do mais novo! Porém, a melhor coisa era poder ver com seus próprios olhos como os humanos viam a magia que corria por suas veias. Ele tinha tantas curiosidades!

— Você tem aulas de como criar selos? — perguntou Yoongi, incapaz de se conter.

Estavam no refeitório, no intervalo para o almoço, e Yoongi estava sentado na frente de Jimin — não que os outros pudessem vê-lo. Durante o dia, mesmo que Jimin pudesse vê-lo, ouvi-lo e tocá-lo, ele não podia respondê-lo diretamente diante de outras pessoas.

Jimin inclinou a cabeça para o lado, sem saber como responder sem que as pessoas em volta achassem que ele precisava de um hospício. Seus olhos arregalaram levemente quando teve uma ideia, e Yoongi assistiu sem entender quando ele retirou um objeto estranho de dentro de sua bolsa, colocando-o em sua orelha.

— Pode falar, assim eu consigo te responder. — Jimin sorriu, seus olhos quase se fechando. — Aulas desse tipo só no último ano, tenho mais uns... — pausou ele, parecendo contar algo em seus dedos — quatro anos até lá.

— Vocês aprendem tudo de magia em quatro anos?! — Yoongi arregalou os olhos, surpreso. Quer dizer, ele havia passado boa parte de sua vida aprendendo sobre magia, então parecia bem provável que quatro anos fosse o suficiente para saber tudo sobre magia, seres mágicos, poções e todo o resto. — Impossível!

Jimin riu, adorando as emoções tão claras nos olhos de Yoongi.

— Acho que aqui só aprendemos o básico; há a possibilidade de se especializar em uma área depois, para poder aprender mais, mas não sei se quero algo do tipo — confessou ele. — Embora eu ame conhecer e testar feitiços novos.

— Hm? — Yoongi inclinou o rosto para o lado da forma que Jimin adorava. — E o que você gostaria?

— Meu sonho está entre os não mágicos — revelou, sua voz ganhando uma tonalidade extremamente baixa. Yoongi se inclinou sobre a mesa para poder ouvi-lo melhor. — Eu quero ser professor... de dança — ele completou quando viu o olhar interessado de Yoongi.

Fez uma pausa, levando um pouco de comida à boca e se permitindo escolher suas próximas palavras.

— Quero que crianças e adolescentes possam se sentir como eu me senti quando dancei em um palco pela primeira vez, a paixão, a adrenalina... A satisfação. A vontade de fazer isso pelo resto da minha vida.

Um pequeno sorriso se formou em seus lábios, ao mesmo tempo em que sua mente repassava o momento de sua primeira apresentação, de quando tinha 13 anos e já dançava balé há cinco. Era certamente uma das cenas que lembraria pelo resto de sua vida: seu coração batendo rápido em seu peito, tão rápido, porém não alto o suficiente para abafar o som dos aplausos da plateia enquanto se curvava, agradecendo.

Jimin amava dançar. Amava balé. Daria tudo para se apresentar novamente.

Contudo, o que sempre lhe parou foi que... apesar de amar dançar, também não conseguia se ver desistindo da magia completamente. Ele sentia que nunca seria capaz de ser completamente feliz ao deixar a magia para trás para seguir seu sonho em meio aos não mágicos.

— O que houve? — Jimin levantou o olhar, vendo que Yoongi o observava com as sobrancelhas franzidas. — Você ficou sério de repente.

— Ah. — Ele riu fracamente, uma tentativa falha de disfarçar seus pensamentos. — A verdade é que... — Ele engoliu em seco. — Eu não sei se conseguiria desistir disso tudo.

— Disso o quê? — Yoongi pareceu não entender.

— Da magia, do sentimento de poder fazer tudo e qualquer coisa... de sempre ter algo novo para aprender e descobrir. Sabe, um dos dias mais felizes da minha vida foi quando minha carta chegou; desistir da magia não seria dizer que tudo que eu estou aprendendo aqui não vale a pena? Quando lembro de como me sinto quando sinto a magia fluindo por mim durante um feitiço...

Seu coração se apertou com o pensamento. Ali estava ele, expondo suas maiores dúvidas para Yoongi, alguém que conhecia há poucos dias, em meio ao refeitório da escola de magia. Parecia uma péssima ideia, mas Jimin não estava se importando naquele momento. O assunto tinha surgido, e ele só queria uma solução.

— Eu não sei como conseguiria.

— Mas por que você teria que desistir da magia? Não entendo.

Jimin tentou buscar palavras para explicar a situação, o porquê de não haver um meio termo, o motivo de ele não poder ser um professor de dança e um mago especializado em alguma coisa — contudo, as palavras morreram em sua mente e ele se tornou incapaz de formar uma sentença incoerente. Ele simplesmente não sabia o que dizer.

— Por que não tenta dividir seu tempo? — sugeriu Yoongi. — São cinco dias de trabalho por semana, certo? Você quem disse. Então... por que não é professor durante algumas tardes e depois trabalha com magia nas manhãs e em outras tardes? — Ele franziu as sobrancelhas, parecendo pensar no que havia dito. — Não sei se fez sentido, mas...

— Eu entendi — Jimin respondeu, mordendo o lábio inferior. Era uma solução. Provavelmente seria uma solução que o cansaria bastante e que o faria ter que aprender a dividir seu tempo, mas, ainda assim, permitiria que fizesse as duas coisas que gostava.

— Ou você também pode pensar em uma forma de unir a dança com magia — continuou Yoongi. — Não sei como, mas, até lá, tenho certeza que você consegue.

Um belo sorriso encorajador adornava o rosto de Yoongi naquele momento, fazendo com que Jimin também sentisse vontade de sorrir. Seu coração bateu mais rápido pelos pensamentos que invadiam sua mente e a esperança que tomava conta de seu coração. Não seria fácil, mas ele tinha bastante tempo para dar um jeito.

Ah... Yoongi mal tinha chegado em sua vida e já estava o ajudando.

A sensação que Yoongi despertava em seu peito só parecia acumular conforme o tempo ia passando. A cada dia, Jimin tinha mais certeza de que tinha feito a escolha certa ao fazer um ritual desconhecido com instruções faltando — definitivamente não a mais responsável ou inteligente, mas... certa. Yoongi era tudo o que ele precisava, e talvez até mais.

Os amigos caíram em uma rotina. Nos dias de semana, seguiam para as aulas de Jimin, o fio amarelo que ligavam seus mindinhos guiando um em direção ao outro; nos horários de almoço, o mago estava quase sempre no telefone, a não ser quando algum colega do mais novo surgia para tirá-los de seu mundinho.

As tardes também eram cobertas por aulas de diferentes disciplinas, porém, às vezes, Yoongi apenas caía no sono sentado ao lado de Jimin. Não era a posição mais confortável, mas ele conseguia conjurar pelo menos um travesseiro — invisível e que não pudesse ser percebido pelos outros além de Jimin — para se acomodar melhor. De vez em quando, o ser mágico até acordava com os dedos pequenos e fofinhos de Jimin deslizando por seu cabelo.

Por fim, a noite era quando eles podiam ter um descanso de tanto conteúdo. Jimin preparava uma comida para eles enquanto Yoongi decidia o que ele gostaria de descobrir naquele dia. Às vezes, Yoongi perguntava se poderiam visitar algum outro país ou estado; por vezes, tudo o que o mais velho queria era entender um pouco mais sobre senso de humor, romance ou vampiros.

Jimin não demorou muito a entender que não havia histórias de romance nem de ficção em Anhili, isso o fez questionar o que eles costumavam fazer como lazer e terminou em uma conversa de algumas horas sobre os hábitos dos habitantes daquele mundo. Por exemplo, Yoongi contou que alguns de seu povo costumavam brincar de algo semelhante à guerra de bolas de neve — ele aprendeu esse termo durante um filme qualquer de Natal —, só que as crianças anhilianas utilizavam esferas feitas de água que elas mesmos conjuravam.

Havia também a brincadeira de se esconder, como o famoso pique-esconde dos humanos, porém essa era feita entre as pétalas de flores. As crianças se encolhiam até o tamanho de uma formiga e tentavam se esconder dos outros, o que dificultava bastante a parte de encontrar os amiguinhos.

Jimin ouvia Yoongi falar com fascínio no olhar, mesmo quando o ser mágico admitiu que nunca havia brincado de nada disso, apenas porque não costumava ter... amigos entre os anhilianos. Naquele momento, observando as bochechas rosadas de Yoongi e os olhos um pouco distantes, o mago não conseguiu evitar de sorrir e permitir que seus dedos tocassem ao do familiar, o laço amarelo que representava sua conexão com Yoongi encostando levemente em si.

— Que tal a gente brincar dessas coisas no fim de semana? — sugeriu, sentindo o pequeno espasmo que pulsou pelos dedos de Yoongi devido a sua surpresa. Os olhos arregalados não o impediram de prosseguir. — Podemos fazer guerra de bolas de neve, ou, se não nevar, podemos arrastar os móveis e brincar aqui dentro de casa mesmo com as bolas de água do seu povo.

— Você faria isso? — Yoongi parecia até mais tímido que antes, com os cantos de seus lábios querendo mais que tudo se curvarem para cima.

Jimin assentiu, um belo sorriso adornando seus lábios.

— Só não sei se pique-esconde versão miniatura seria muito seguro fora de casa... Então vai ter ser aqui mesmo.

— Pique-esconde? — Yoongi fez seu movimento característico de inclinar o rosto para o lado, demonstrando confusão.

— É uma brincadeira humana que uma pessoa conta durante um tempo enquanto os outros precisam se esconder. Quando o tempo acaba, ela precisa encontrar todo mundo — explicou da forma mais simples que podia. — Sabe, como a segunda brincadeira que você mencionou.

— Ah! Entendo. — Yoongi assentiu, sério, o que arrancou mais um sorriso fácil de Jimin.

No fim de semana após esse dia, o apartamento de Jimin passou por três estações diferentes. Diferente do lado de fora, onde o Sol quente já brilhava com sinais da primavera que chegava, o apartamento inteiro foi inundado por neve nas primeiras horas do sábado. Yoongi assistiu fascinado Jimin recriar — com magia! — a neve fofinha que tinha visto em poucos dias ali e em vários dos filmes que já havia assistido.

Ele deixou-se guiar por Jimin. O mais novo o instruiu a colocar roupas mais quentes; ele vestiu um par de luvas, botas, calça, um suéter e um casaco pesado completando o look com um gorro. Dessas peças, só a calça e o suéter eram realmente seus, que Jimin havia comprado para si naquele dia — mesmo assim, o resto havia cabido perfeitamente nele.

— Uau, Yoongi. — Jimin o analisava de cima a baixo, vendo como suas roupas haviam caído extremamente bem no outro. — De onde você veio, todos são lindos como você? Porque, olha...

Yoongi não pôde evitar corar diante do sorriso brincalhão de Jimin, sentindo-se envergonhado.

— Não sei do que está falando — respondeu brevemente, desviando o olhar. Mesmo assim, nada era capaz de esconder o tom rubro que assolava suas bochechas.

Jimin riu, sentindo seu interior se aquecer com a cena diante de seus olhos. Ah, Yoongi era tão, mas tão fofo...

— Venha! — falou enquanto esticava sua mão, pronto para puxar o mais velho consigo. — Vamos brincar na neve!

Os dedos de Yoongi se entrelaçaram nos de Jimin involuntariamente e ele se deixou ser levado para o lado de fora do quarto que dividiam. Mesmo sabendo o que esperar, sua surpresa foi enorme quando Jimin abriu a porta revelando um mar inteiro de branco, alguns centímetros acima do chão. A neve tomava conta de todo o apartamento, menos do quarto, e se estendia por baixo dos móveis. Era simplesmente... lindo.

— Uau. — Yoongi não conseguiu evitar.

Desviando o olhar do imenso branco para Jimin, que lhe olhava sorrindo tanto que seus olhos pareciam pequenas meias-luas, Yoongi se sentiu contente. Não importava que a magia tivesse sido usada para aquilo, o que importava era que Jimin queria tanto fazê-lo feliz que havia criado aquele cenário maravilhoso apenas para ele. Para eles.

Com os dedos formigando em animação, Yoongi se abaixou levemente, seus lábios se entreabrindo ao finalmente poder sentir o macio e gelado que estava abaixo de seus pés. Mesmo tendo visto a neve em alguns filmes, e até pela janela uma vez — no dia em saíram para comprar roupas, o clima estava propício para isso, mas infelizmente não chegou a realmente a acontecer —, antes de o clima começar a se preparar para receber a primavera, aquela era primeira vez que Yoongi estava realmente próximo da neve. E era incrível.

Sem soltar os dedos de Yoongi, Jimin também se abaixou, analisando com cuidado as expressões faciais de Yoongi. Os olhos levemente arregalados e brilhantes, os lábios entreabertos e os cantos levemente curvados — Jimin achava que Yoongi definitivamente ficava ainda mais belo assim. Feliz.

Enquanto Yoongi ainda se distraía cutucando a neve com o indicador, Jimin se encarregou de escavar a imensidão branca e capturar um pouco dela entre seus dedos bem protegidos. Com uma mão, apertou a neve o máximo possível para que ela parecesse uma pequena bola e, enfim, sorrateiramente a deixou cair em cima do gorro de Yoongi, assustando-o de leve.

— Surpresa! — Riu, vendo o que sobrou da bola de neve desmontar e cair.

— Ei! — Yoongi franziu as sobrancelhas levemente, apenas para mover dois dedos e acertar uma bola de neve feita com magia diretamente no rosto de Jimin como retaliação.

— Isso não vale, você usou magia! — Jimin levantou rapidamente, desentrelaçando seus dedos e se afastando. — Que injusto!

— E você é o que, um mago ou rato? — Yoongi levantou-se também, gesticulando para o branco abaixo de si. Em poucos segundos, neve começou a flutuar e, aos poucos, cinco bolas se formaram em torno do ser mágico. — Como isso seria injusto? Achei que valesse tudo no amor e na guerra.

Em um movimento rápido, Jimin fez a mesma coisa, e ainda ergueu o braço quando Yoongi ameaçou começar a tacar as bolas de neve, formando um escudo translúcido e dourado à sua frente. Um sorriso brincalhão tomou conta de seu rosto, ao mesmo tempo que uma de suas bolas de neve flutuava até sua mão.

— Tem razão, Min Yoongi, isso é guerra!

As risadas de ambos ainda ecoavam pela mente de Jimin, caso ele se distraísse o suficiente. Eles correram o apartamento inteiro, se esconderam — embora fosse tão fácil encontrar o outro, bastava apenas seguir o fio amarelo, então Yoongi acabou o escondendo para o pique-esconde —, caíram e fizeram anjos na neve fofa. Era um dia inesquecível.

Ele ainda se lembrava dos flocos teimosos que tinham grudado nos fios roxos de Yoongi em algum momento da brincadeira. Jimin os viu enquanto estavam sentados lado a lado, apoiados em uma parede qualquer, rindo de algo aleatório, e seu primeiro instinto foi levantar a mão para tirá-los de lá.

Ao seu lado, Yoongi apenas o encarou em confusão, não entendendo por que a mão de Jimin de repente estava em seu cabelo. Contudo, estando tão perto, Jimin não pôde deixar de notar o quanto Yoongi era perfeito.

O riso morreu em sua garganta enquanto os olhos de írises roxas brilhavam em sua direção, um pouco mais molhados que o normal pelas risadas anteriores. Jimin só conseguiu pensar que queria tanto, mas tanto beijá-lo, porque Min Yoongi era simplesmente perfeito.

E esse pensamento o assustou, fazendo com que Jimin prosseguisse com o que estava fazendo, tirando os flocos de neve rapidamente, e soltasse uma risada sem graça ao mesmo tempo.

— Tinha um pouco de neve no seu cabelo — explicou ele. Seu coração batia acelerado, assustado com o súbito rumo de seus pensamentos. Era a primeira vez que sua mente processava esse tipo de... desejo em relação ao amigo, e ele simplesmente não sabia lidar.

Sem saber o que fazer, Jimin resolveu apenas levantar e pegar algo para comer. Pelo menos aquela era uma desculpa válida para evitar que Yoongi percebesse seu coração acelerado ou suas bochechas vermelhas, tingidas pela vergonha. Sentiu o olhar do mais velho lhe acompanhando, porém seguiu de cabeça erguida em direção à cozinha, aliviado quando percebeu que Yoongi não o seguiu, preferindo ficar brincando na neve.

Aquela havia sido a primeira vez que Jimin quis Yoongi para si, não como um amigo — e muito menos como um familiar —, mas como seu companheiro. E mesmo sendo a primeira, não foi a última.

O mago passou meses percebendo seu coração saltitar apenas com pequenos gestos do ser mágico. Era um universo totalmente novo de sensações, já que nunca havia se apaixonado de verdade; tinha tido apenas paixonites juvenis, que não poderiam ser realmente chamadas de amor. Ele estava envergonhado no começo pela forma como suas mãos suavam e seus dedos coçavam para enlaçar os de Yoongi a todo instante, porém se acostumou ao notar que Yoongi permanecia tão alheio quanto sempre.

Com o passar do tempo, Yoongi não tomava conta de apenas seus pensamentos, mas também de seus sonhos. O que começou inocente, tornou-se... quente, ávido, desejoso... luxurioso. A partir de um dado momento, abraçar e segurar a mão de Yoongi não era mais tudo o que ele queria.

Jimin passou a desejar mais.

Em silêncio, seu corpo começou a clamar pelo ser mágico, enquanto seu coração só queria ser correspondido — um pedido em vão, já que Jimin não planejava deixar que Yoongi tivesse ciência de seus sentimentos. Ele estava ferrado.

Por outro lado, Jimin não sabia que Yoongi estava cada vez mais perdido. Primeiro, ele não entendia por que seu rosto se aquecia sempre que Jimin sorria para si; segundo, ele já havia lido todos os livros da biblioteca da escola de Jimin, e nenhum deles falava sobre uma doença que fazia o coração de um ser mágico se acelerar do nada.

Não apenas perdido, ele também estava com medo, porque não tinha ninguém para conversar sobre isso, a não ser Jimin, Jungkook e Taehyung — amigos de Jimin que achavam que ele e Yoongi eram amigos de infância e que Yoongi precisava de um lugar para ficar em Seul porque seus pais foram morar em outro país —, e não era como se Yoongi pudesse dizer a eles que achava que estava morrendo, não é mesmo?

Jungkook ia contar ao namorado, e, por sua vez, Taehyung... iria contar para Jimin. Certeza. Jimin iria surtar na hora.

Sem muita escolha, o mais velho apenas continuou procurando respostas em livros de todos os tipos; mágicos, não-mágicos, didáticos, literários... Até que encontrou um motivo para as suas reações estranhas quando estava perto de Jimin.

Não, ele não estava morrendo.

Quer dizer, isso definitivamente poderia causar sua morte, o que era preocupante, mas isso não vinha ao caso. Ele duvidava que conseguiria se sentir mal e indesejado o suficiente — não quando Jimin sempre era tão gentil, atencioso e prestativo — para que o vínculo entre eles cessasse sua vida.

Muito bem versado nos livros, filmes e doramas de romance, logo Yoongi percebeu que o que sentia perto de Jimin não era alergia — eles, na verdade, poderiam ser sinais de que algo dentro de si estava mudando. Que Yoongi estava aprendendo a amar, como seus criadores.

A história nunca terminava bem para servus que se apaixonavam por seus mestres, ele sabia. Só que Jimin era diferente. Ele não era como os babacas de séculos atrás que não sabiam valorizar seu familiar e que queriam apenas seus poderes; o Park se distinguia de todos os outros ao sorrir para Yoongi, segurar sua mão e brincar com ele de guerra de neve apenas porque Yoongi estava curioso. Ele sentia que Jimin era especial.

Tão precioso quanto o sentimento que estava crescendo em seu coração.

Contudo, se Jimin sentia a mesma coisa... esses eram outros quinhentos. Park Jimin era um humano, um mago, dono de uma beleza mágica e uma personalidade tão gentil quanto apaixonante. Yoongi nunca sonharia em ser mais do que um familiar ou um amigo. Ele sabia que não tinha um espaço como companheiro... ou namorado para si na vida do Park.

Ainda assim, não deixou de desejar algo a mais.

Com o passar dos meses, Yoongi sentia seu coração estremecer com sua vontade crescente de estar sempre com o outro e beijar seus lindos lábios. Principalmente quando se perdia nos olhos apaixonantes de Jimin. Ele já havia visto inúmeros beijos na televisão, e a maioria parecia sem graça, mas, mesmo assim, o dono dos cabelos roxos não deixava de... querer.

Seu coração e sua mente ansiavam mais e mais fazer coisas de casal com o outro. Queria beijá-lo, tocá-lo, passear de mãos dadas na rua — mesmo que já fizessem isso quando a multidão se tornava muito tumultuada para Yoongi, seria diferente se fossem companheiros no amor — e... aquilo que casais muito apaixonados faziam, mas que nunca passava na televisão, só havia relatos nos livros. Seu rosto se aquecia só de pensar. Yoongi sabia que o motivo principal era para procriação, porém também tinha aprendido como podia ser um sinal de paixão, ainda que sua ausência não significasse a falta de sentimentos.

Ele tinha lido e pesquisado bastante, já era praticamente especialista nos hábitos humanos, então sabia como funcionava tudo aquilo. Pelo menos em teoria. E bem... na prática? Ele queria fazer aquelas coisas com Jimin, será que isso contava? Afinal... se Jimin não gostava dele também, por que eles fariam esse tipo de coisa de casais? Yoongi tinha conhecimento de que pessoas não beijavam apenas aquelas que gostavam, mas também duvidava que Jimin o beijaria por livre e espontânea vontade.

Quer dizer, o que Yoongi tinha de especial? Além de ser um ser mágico, é claro.

Absolutamente nada. Ele se sentia apenas um inquilino para Jimin às vezes, mesmo que aquele sentimento passasse rápido, porque o mago lhe bateria se ouvisse seus pensamentos.

Com isso, Yoongi poderia apenas sonhar.

Foi durante seus sonhos que ele e Jimin transaram pela primeira vez. Yoongi acordou assustado, sem saber o que fazer, e com suas partes íntimas animadas demais para seu gosto. Sem saber como reagir — ainda que tivesse lido sobre coisas desse tipo diversas vezes —, ele apenas se virou para o lado e tentou voltar a dormir. Demorou um pouco, mas seu cansaço venceu.

Na manhã seguinte, ele agradeceu aos céus por terem comprado uma cama extra. Não imaginava o que faria se acordasse assim ao lado de Jimin. E, mesmo que Jimin certamente não tivesse percebido seu estado, o ser mágico não conseguiu olhar em seus olhos completamente a partir daquele dia. Não era real, mas seu corpo ainda trazia a sensação de estar por cima de Jimin, sendo acolhido pelo outro, com um fio feito de magia, vermelho, enrolado em torno dos pulsos do mais novo.

Era uma cena que o perseguiu novamente por várias noites, com detalhes diversos e vívidos demais para seu gosto. Ou melhor, para sua sanidade.

Yoongi demorou um pouco até deixar de sentir vergonha de seus sonhos e desejos; lendo, ele percebeu como aquilo era comum entre os humanos, mesmo que não fosse muito disseminado em seu mundo, já que a procriação era feita de forma diferente e assexuada. Se seus criadores sentiam vontade de fazer esse tipo de coisa, Yoongi nunca soube e preferia ficar sem saber.

Estava tudo sobre controle... até Yoongi voltar para casa mais cedo que o normal de um passeio ao cinema e escutar, sem querer, uma conversa entre Taehyung e Jimin.

— Eu não sei o que fazer, Tae. — O cansaço na voz de Jimin preocupou Yoongi, a ponto do mais velho se apressar para abrir a porta. Contudo, seus dedos congelaram na maçaneta quando Jimin continuou a falar. — O Gi nem sequer me olha mais nos olhos. Tô achando que ele percebeu... — Sua voz abaixou de volume, tornando quase impossível para se escutar, só que Yoongi era um ser mágico e seus sentidos eram aguçados.

Ao perceber que estavam falando sobre si, Yoongi mordeu o lábio inferior. Parecia muito errado continuar escutando a conversa conscientemente; não era algo como invasão de privacidade ou algo assim? Mesmo que ele fosse o assunto da vez, o mais velho se sentiu culpado.

— Percebeu...? — Taehyung pareceu incerto. — Tem certeza?

O sentimento pesado em seu peito piorou ao ouvir Jimin dizendo suas próximas palavras.

— É a única explicação possível, Tae! Por que mais ele não iria nem querer olhar na minha cara? Assim... do nada? — Um fungado foi ouvido, e Yoongi sabia que só poderia ser de Jimin. Jimin estava chorando, e a culpa era toda de Yoongi; o pensamento fez com que seu peito se apertasse e sua mão na maçaneta a apertasse com força. — Eu não fiz nada de errado... Não que eu saiba, pelo menos.

— Você ter feito alguma merda é mais provável que ele descobrir que você tá apaixonado por ele, Jimin. O Yoongi é mais inocente que um filhotinho de cachorro, duvido que ele perceberia algo do tipo.

Assim que sua mente processou as palavras de Taehyung, o ser mágico arregalou os olhos e seus pensamentos ficaram em branco. Seus ouvidos não mais captavam o que estava sendo conversando; pelo contrário, ele apenas conseguia escutar seus batimentos cardíacos, que estavam tão altos, tão rápidos, que tomavam conta de seu sentido inteiro, camuflando o resto da conversa dos amigos.

Apaixonado? Por mim? Os lábios de Yoongi se entreabriram, enquanto seus olhos miravam a porta, mas sem realmente a ver. Jimin está apaixonado por mim? Os orbes roxos seguiram de um lado para o outro, buscando inconscientemente algo que o ancorasse de volta para a realidade, mas sem sucesso. Droga, não havia o que fazer naquela situação, os inúmeros filmes de romance não o tinham preparado para aquilo!

Em meio ao desespero, Yoongi fez a única coisa que tinha feito nos últimos tempos: fugir.

Com um estalar de dedos, o ser mágico tomou a forma de um gato; suas roupas se adequaram ao seu novo corpo, fundindo-se à sua pelagem como se tivessem sido apenas guardadas no interior de uma bolsa mágica, e os cabelos roxos se tornaram pelos negros, macios como Jimin adorava ressaltar. E sobre quatro patas, Yoongi correu como se sua vida dependesse disso. Ele foi para o único lugar que podia pensar: a biblioteca.

Pernas e pés passavam por si mais rápido do que conseguia desviar deles, porém as pessoas faziam esse trabalho para ele; ninguém gostava da ideia de pisar em um pobre gatinho de rua, não é mesmo? Ele já estava no meio do caminho, com ruídos abafando seus pensamentos, quando se lembrou de que ele podia simplesmente se teleportar para o lugar. Ele era um ser mágico, afinal! Magia fazia essas coisas, certo?

Miando, indignado com sua própria lerdeza, Yoongi continuou correndo. Contudo, entre um piscar de olhos, o gato preto sumiu em meio à multidão de Seul, reaparecendo em uma área mais afastada da biblioteca da Escola de Magia de Jimin. Ele ainda achava um absurdo as proteções da escola serem tão fracas, porém quem era ele para reclamar, não é mesmo? Se até um livro ancião Jimin tinha conseguido tomar posse, cheio de feitiços proibidos... a falta de segurança era o de menos.

Caminhou pelas prateleiras conhecidas de focinho em pé, atento a qualquer movimento. Ele odiaria ser pego ali, ainda mais sem Jimin por perto — e sem sua coleira, Yoongi poderia passar por um gato de rua qualquer, mesmo que seu pelo fosse muito bem cuidado, o que levaria a uma situação ainda pior. Para começar, animais nem eram permitidos na escola!

Na verdade, ele já estava se xingando mentalmente por ir parar ali, deveria ter apenas entrado escondido no quarto. Droga, ele podia ter se teleportado para dentro! Burro, burro, burro! Ele nem precisaria olhar para Jimin se tivesse feito isso!

Respirando fundo, Yoongi se enfiou em um espaço escondido, entre uma prateleira e uma parede, onde poderia, enfim, descansar. Com um leve piscar de olhos, permitiu que sua assinatura mágica fosse camuflada e sua forma se tornasse invisível; ele poderia ter feito isso antes, mas a ideia escapou de sua mente agitada. Naquele momento, ele queria apenas ficar quietinho ali por um tempo, colocando os pensamentos no lugar.

Nossa, ele tinha corrido tanto que suas patinhas estavam doloridas; precisaria de um bom banho relaxante ou uma bela massagem para que o incômodo passasse. Será que Jimin faria uma massagem em seus pés se pedisse com jeitinho?

Escondeu a cabeça sob suas patas, amassando suas orelhas felpudas levemente. Droga, Jimin. Ele era o motivo de estar ali, desesperado, exausto e longe de casa; seu coração se acelerou só de lembrar. Fechou os olhos, lembrando-se do que tinha ouvido e... como era possível? Só podia ser brincadeira... Por que Jimin estaria apaixonado por Yoongi, quando Yoongi era... era...

O sorriso de Jimin preencheu sua mente, pintando a paisagem ali de cores brilhantes e bonitas; as pinceladas desenharam seus olhos em meia-lua, os lábios curvados e avermelhados por conta do frio, e os fios de cabelo cobertos com neve. Era uma de suas memórias preferidas; Jimin estava simplesmente perfeito nela, o que deixava tudo ainda melhor.

O momento que Jimin tocou em seu cabelo, para tirar alguns flocos de neve, passou por seus olhos. O rosto do mago estava tão próximo do seu... Yoongi ainda não entendia seus sentimentos naquele momento, porém agora sabia por que seu coração tinha acelerado tanto, tão repentinamente. Ele queria ter estendido a mão naquele momento e puxado Jimin para mais perto, queria tê-lo beijado e dito o quanto também estava apaixonado por ele.

A vozinha triste de Jimin voltou à sua mente, questionando por que Yoongi havia se afastado dele.

A quem Yoongi queria enganar? Naquele momento, em que o choque inicial estava passando... ele só conseguia se sentir muito feliz. Um calor tomava conta de seu interior, e suas orelhas se moviam sem sua permissão, assim como sua cauda que Yoongi lutava para manter escondida. Ele estava mais do que feliz, estava animado; um desejo enorme de voltar para casa e se declarar para Jimin tomava conta de si aos poucos, impedindo que pensasse claramente.

Será que ele deveria apenas entrar e beijá-lo? Ou deveria levar flores? Jimin gostava de flores? Yoongi não sabia. Droga, droga. Se Yoongi apenas se declarar também, iria parecer estranho? Jimin acreditaria nele?

Quer dizer, Jimin não havia se declarado exatamente, Yoongi quem tinha escutado acidentalmente a conversa dele com Taehyung... E se Jimin não pretendesse se declarar? E se ele não quisesse um relacionamento com Yoongi, mesmo que gostasse dele? Afinal, os filmes e livros já tinham ensinado a Yoongi que, ainda que se amasse, um casal nem sempre era destinado a ficar junto...

Seu coraçãozinho já estava ficando triste com os pensamentos que rondavam sua mente; se continuasse pensando assim, ele não sairia dali nunca mais. Por isso, decidiu ignorar todo seu medo e voltar para o apartamento. Sempre diziam que comunicação era essencial, não era mesmo? Quantos dos seus casais preferidos Yoongi viu sofrer porque faltava diálogo entre eles? Concluiu, então, que conversaria com Jimin assim que possível. De preferência, o mais rápido que pudesse, precisava colocar aqueles sentimentos em seu peito para fora antes que explodisse.

Respirou fundo e permitiu a magia correr por seu corpo mais uma vez. Ela não hesitou em cumprir e o teleportou de volta para o apartamento. Dessa vez, Yoongi apareceu em sua cama, porém não tardou a pular da mesma e seguir para a sala, onde imaginou que Jimin ainda se encontrava.

Não estava errado, Jimin realmente ainda estava lá. Encolhido, com o rosto nos joelhos, mirando a televisão. Um jogo de futebol qualquer passava no canal e, embora Yoongi soubesse que era o time preferido de Jimin que estava jogando, o mais novo não parecia estar focado o suficiente na partida. Quando Yoongi, enfim, subiu no sofá, reparou que os cantos dos olhos de Jimin estavam avermelhados e inchados, resultado do choro que havia ouvido mais cedo.

E a culpa era toda de Yoongi.

— Oi, Gigi — cumprimentou o mais novo, assim que Yoongi sentou-se no sofá. Ele não hesitou em esfregar seu focinho na pele macia do mago, querendo lhe passar o carinho que certamente estava precisando. Em resposta, Jimin também lhe concedeu um pouco de carinho, deixando que seus dedos pequenos percorressem as orelhas felpudas do corpo felino. — Por que ainda está em forma de gato? Está tudo bem?

Yoongi acenou com a cabeça e miou suavemente, querendo dizer que sim, estava. Ainda assim, seu coração estava batendo acelerado demais para que Yoongi tivesse a coragem necessária para se transformar de volta.

— Quer assistir um filme? Podemos ver Diário de uma Paixão — ofereceu Jimin, desfazendo sua posição e cruzando suas pernas. Como se não fosse nada, pegou Yoongi e o colocou em seu colo, onde poderia fazer carinho nele de forma mais confortável.

Yoongi quase gritou internamente, mas conseguiu se manter civilizado e apenas aproveitar o que lhe estava sendo oferecido.

— Já que não pode discordar, vou colocar o filme assim mesmo. — Jimin riu levemente, ainda que sua risada tivesse traços de tristeza.

Yoongi nada disse — ou miou —, deixou que Jimin conduzisse a conversa. O mais novo soltava uns comentários de vez em quando, agindo como se fosse a primeira vez que visse Diário de uma Paixão, quando Yoongi sabia que era seu filme favorito desde sempre e o menor provavelmente já o tinha visto umas cem vezes. Mesmo assim, deu-se aqueles minutos para reunir toda coragem que precisava, porque ele tinha certeza de que não seria nada fácil.

Quando sentiu que Jimin estava à beira das lágrimas mais uma vez, Yoongi deu por encerrada a sessão de cinema. Com um suspiro nervoso, ele pulou do colo de Jimin repentinamente, sobressaltando o mago.

— Gi...? — disse, já com a voz meio molhada.

Porém, antes que Jimin pudesse questionar mais, ele se transformou novamente em sua forma humanoide. Não olhou para Jimin primeiro, preferiu pausar o filme na tela para que tivesse toda a atenção que precisava do mais novo, senão não conseguiria seguir em frente.

Voltando-se para o Park, percebeu o olhar de confusão em seu rosto e só então se deparou com um problema: o que diria? Abriu a boca para tentar se explicar, porém nada saiu.

— Tudo bem? — perguntou Jimin, fungando levemente. — Você parece um pouco... nervoso.

Yoongi engoliu em seco, baixando o olhar. Naquele momento, ele parecia muito o Yoongi de meses atrás, que tinha acabado de chegar em um mundo totalmente novo. Suas bochechas pareciam ficar cada vez mais quentes e seus dedos formigavam, querendo algo para apertar e descontar tudo o que estava sentindo naquele instante.

Ele tentou novamente.

— Estou bem... — fez uma pausa, respirando fundo. — Ok, eu admito, estou nervoso mesmo. — Tentou disfarçar com uma risada, mas não muito certo, apenas fez com que Jimin franzisse as sobrancelhas, parecendo preocupado. — Os filmes nunca me prepararam para algo assim... — murmurou.

— Assim como? — Jimin inclinou a cabeça para o lado, mania que tinha adquirido de Yoongi.

— Minie, eu preciso te contar uma coisa... — Yoongi mordeu o lábio inferior, deixando-se cair ao lado do outro, ainda sem conseguir fazer contato visual. Ele sempre havia tido problemas para olhar nos olhos de Jimin, e naquele momento não seria diferente.

— O que é? — Jimin buscou os olhos de Yoongi, porém sem sucesso. Quando não conseguiu, ele respirou fundo e aguardou, oferecendo apoio ao estender sua mão. Yoongi a segurou sem pensar duas vezes, aproveitando para entrelaçar seus dedos. — É o motivo de você estar me evitando? — arriscou. Ele viu Yoongi levantar o olhar, surpreso, e soltou uma risada desanimada. — Porque, sabe, é meio difícil não notar que você estava correndo de mim como o Diabo foge da cruz.

— Quem? — Yoongi piscou confuso. — Ah, não importa. É isso mesmo... Eu te devo desculpas, Minie, sinto que te magoei, sendo é tudo que eu mais odiaria nesse mundo. Sei que não adianta muito pedir...

— Eu aceito — interrompeu-o Jimin, apertando os dedos entrelaçados nos seus. Ele deu um sorriso fraco, um pouco quebrado, mas sincero. — Só não faça isso de novo, ok? Prometa que vai conversar comigo, seja lá o que for que tenha acontecido.

Yoongi sentiu seu coração se partir, sabendo que Jimin certamente tinha ficado muito chateado por conta de seu afastamento. Ele tinha sido muito egoísta, não tinha?

— Prometo. Eu prometo.

— Então tudo bem.

Um silêncio confortável tomou conta deles, e Yoongi precisou resistir ao impulso de pular nos braços de seu amado. Antes, ele precisava se confessar; já tinha pedido desculpas, faltava só a parte mais importante...

Engolindo em seco, Yoongi fez um esforço e levantou o olhar, buscando o olhar de Jimin. Quando conseguiu fazer com que o mago fixasse seus lindos olhos castanhos em si, ele buscou toda coragem que tinha reunido dentro de si e disse:

— Eu estou apaixonado por você, Minie.

O mundo pareceu parar assim que essas palavras deixaram os lábios de Yoongi. Nenhum dos dois desviou o olhar, nem por um segundo; Yoongi conseguia ouvir seus próprios batimentos cardíacos novamente, e, por um segundo, ele se perguntou novamente se estava enfartando. Sua boca estava seca e, por mais que quisesse, não conseguia falar mais nada. Sua mente estava em pane total.

Naquele momento, Yoongi só pôde esperar uma resposta de Jimin.

Por sua vez, Jimin olhava para Yoongi como se o visse pela primeira vez, incrédulo, desacreditado. Quer dizer, por que um ser mágico se confessaria para si? Yoongi sabia o que era paixão? Como era estar apaixonado? E ele estava dizendo que sentia tudo isso por ele, Jimin? Parecia, no mínimo, um sonho muito maldoso, criado por seu subconsciente para satisfazer seus desejos.

Sem saber o que pensar, com a mente em branco, Jimin apenas continuou o encarando, com os lábios entreabertos. Nenhuma palavra deixou sua garganta, assim como sua linha de pensamentos parecia ter sido cortada. Contrário à sua expressão, seu coração batia acelerado em seu peito, bastante desesperado para que aquilo fosse verdade, esperançoso demais para considerar que poderia se decepcionar em poucos instantes.

Não havia uma fórmula de como se declarar para alguém, muito menos como receber uma declaração. Jimin já havia recebido muitas, bonito do jeito que era, esperto e engraçado como sempre foi. Contudo, era muito diferente quando quem dizia que gostava de si era justamente a pessoa por quem estava apaixonado. Uma paixão recíproca era... muito mais difícil de lidar.

Quando se passaram segundos, poucos minutos, e Jimin ainda parecia em choque, Yoongi desistiu de esperar. Seu coração parecia implorar para que ele continuasse falando, para que despertasse alguma reação em Jimin antes que tudo se despedaçasse. E todos sabiam o que acontecia com um servus desiludido.

Aquele silêncio estava ficando extremamente incômodo mesmo.

— Eu sei que não tenho muita experiência, nem vivo no mundo dos humanos há muito tempo... Mas acho que aprendi o suficiente para ter certeza de que você é a pessoa que eu gostaria de estar pelo máximo de tempo possível; e não é por causa do contrato, eu já deixei isso para lá há tempos. O que eu quero é... diferente. Quero que Jimin segure minha mão sempre... — Apertou os dedos entre os seus, para ilustrar. — Quero poder abraçar Jimin a qualquer momento, assim como também adoraria... você sabe, fazer coisas de casais com Jimin.

Um rubor surgiu em suas bochechas, pintando-as de vermelho como um blush. Yoongi não ligou, apenas continuou olhando o mais novo nos olhos, tentando transmitir seus sentimentos com toda sinceridade possível.

— Só com Jimin.

Aquilo trouxe alguma reação de Jimin: suas bochechas foram ficando cada vez mais rosadas, até o mais novo não aguentar mais e desviar o olhar, parecendo acordar do transe em que estava.

— Eu não sou bom com palavras, você sabe — Yoongi continuou.

Ele se permitiu tomar a liberdade de deixar que sua mão livre fosse até o rosto de Jimin, virando-o para si. Sorriu quando ouviu o leve suspiro do mais novo, tomando aquilo como um sinal para continuar. Seus dedos começaram um carinho na pele macia enquanto palavras tornaram a deixar seus lábios.

— Mesmo aprendendo tudo o que posso, mesmo que a magia corra em mim e eu possa fazer um monte de coisas apenas estalando os dedos... ainda assim, não tenho palavras suficiente para descrever como eu me sinto. Sinto que, se eu tentasse mais um pouco, começaria a gaguejar e estragaria a conversa da minha existência. — Riu levemente.

Seu polegar fez um carinho de leve na bochecha rubra de Jimin, antes de deixar o rosto do mais novo e se direcionar para a mão livre do outro. Com cuidado, sem desviar o olhar, pegou o pulso do mago e o dirigiu para seu peito, bem onde ficava seu coração. Segurou os dedos alheios ali, esperando que Jimin pudesse sentir seu coração acelerado, faminto por respostas.

— Por favor, diga alguma coisa.

Com aquela voz quase suplicante, os olhos roxos brilhantes e pedintes, e os batimentos nervosos sob seus dedos, Jimin se forçou a dizer algo, mesmo que sem saber o quê. Seu próprio coração já pedia para que tivesse coragem o suficiente para contar seus sentimentos a Yoongi, estava mais do que na hora de fazer isso acontecer.

Engolindo em seco, Jimin finalmente soltou as palavras que estavam entalada em sua garganta há meses.

— Eu também gosto de você, Gigi. Muito mesmo — sussurrou, desviando o olhar por alguns segundos, mas tornando a olhar para o mais velho. — Mas eu tenho medo... Não quero que seja obrigado a sentir algo por mim por causa do... você sabe.

— Eu sei. — Yoongi sorriu levemente, sentindo como se toda felicidade do mundo o inundasse naquele momento. — Mas Jimin não precisa se preocupar, os meus sentimentos são apenas meus, não têm nada a ver com o contrato.

— Mesmo? — Jimin sussurrou, um pouco frágil, bastante esperançoso e muito feliz. Yoongi acenou. Um sorriso surgiu nos lábios grossos do mais novo, maior e mais alegre que o outro, mas tão sincero quanto. — Nesse caso... O que está esperando para me beijar?

O rosto de Yoongi ficou vermelho instantaneamente, porém ele não se fez de rogado. Como nos romances que tinha assistido, pôs sua mão, que antes segurava a de Jimin em seu peito, na lateral do rosto do mago e se inclinou na direção dele, fechando os olhos. Contudo, Yoongi ficou confuso quando seus lábios não tocaram a superfície macia que esperava.

A risada de Jimin pôde ser ouvida, e as bochechas de Yoongi queimaram novamente. O mais velho abriu os olhos para ver que tinha, na verdade, beijado o nariz de Jimin.

— Ops — brincou Jimin, mas não deixou de sorrir quando Yoongi se aproximou mais uma vez, dessa vez encontrando os lábios de Jimin.

Não houve faíscas como diziam os livros, nem fogos de artifício explodindo em seu estômago; para Yoongi, uma sensação totalmente sem igual tomou conta de si assim que beijou Jimin. Em seu interior, sua magia estava em frenesi, como se quisesse deixar seu corpo e escapar para o de Jimin. Ele não sabia o que era aquilo, porém a sensação era maravilhosa, não tinha como ser um sinal de perigo.

Enquanto isso, o coração apaixonado de Yoongi parecia que ia sair do peito e, por um segundo, ele ficou sem saber o que fazer, por isso deixou que Jimin tomasse a frente e se permitiu ser guiado por ele. Suas mãos juntas se desentrelaçaram, e a de Yoongi se moveu, encontrando a cintura de Jimin, onde apertou levemente, ainda sem saber o que fazer.

Jimin, por sua vez, não se fez de rogado: pousou sua mão direita na nuca de Yoongi, pressionando o mais velho ainda mais contra si, e inclinou seus rostos, procurando uma posição mais confortável. Com calma e bastante gosto, sugou o lábio inferior do maior, fazendo com que Yoongi deixasse um suspiro surpreso.

Há quanto tempo ele sonhava com aquilo? Com Yoongi em seus braços? Tão perto quanto possível, trocando beijos e carícias, compartilhando sentimentos, novas experiências e sensações. Ah... Jimin estava tão feliz! Seu peito parecia que ia explodir com tamanha felicidade. Seus lábios sorriam de encontro aos de Yoongi, enquanto o beijo finalmente tomava forma.

Yoongi era inexperiente, tendo apenas seus romances como referência. Ainda assim, aquele estava sendo o melhor momento da vida de ambos — podia até superar o dia em que Jimin tinha recebido sua carta. Jimin esperava que continuasse assim para sempre.

Eles nunca haviam sido como mestre e familiar, mas, naquele momento, nem o contrato era capaz de definir a relação de ambos. Ainda com os apaixonados de olhos fechados e lábios se tocando, um brilho começou a surgir nos mindinhos ligados pelo fio dourado; a luz começou fraca, porém foi ganhando força até que Jimin e Yoongi finalmente se separassem para ver o que estava acontecendo.

Confusos, detectaram a fonte da luz que tinha penetrado suas pálpebras. O fio dourado do contrato estava exposto, embora estivesse escondido desde que brincaram de pique-esconde meses atrás. Contudo, algo estava acontecendo. Yoongi sentia sua magia se concentrando na ponta de seu dedo, brilhante e da cor de ouro como sempre, mas, olhando mais de perto, o brilho que tinha despertado ambos do beijo estava se tornando avermelhado, em um tom forte e vivo.

O tom avermelhado foi ganhando força e, de repente, começou a se mover. Antes, a luz dourada tinha começado no mindinho de Yoongi e seguido para a ponta do dedo de Jimin; dessa vez, ambos os dedinhos possuíam brilhos de igual intensidade, e eles estavam seguindo ao próprio encontro pelo trajeto já desenhado pelo fio do contrato.

Yoongi observava aquilo incrédulo, sem saber o que pensar. Ver o fio dourado mudando de cor era... inesperado. Praticamente não se tinha registros disso em sua terra natal, porque isso só podia significar uma coisa... Ele ergueu o olhar, vendo o olhar encantado e perdido de Jimin, e um sorriso surgiu em seus lábios.

— O que está acontecendo? — Jimin sussurrou, com seus olhinhos brilhando em curiosidade.

Contudo, o mais velho nada falou, escolhendo observar com calma o laço deixado para trás no mindinho de Jimin. Diferente de antes, que o laço no mindinho de Yoongi representava uma ligação unilateral, naquele momento, o fio demonstrou que aquele era um novo relacionamento, uma via de mão dupla, como deveria ser.

Yoongi quase podia sentir suas bochechas doerem por conta do sorriso que não saía de seu rosto.

— Gigi? — Jimin levantou o olhar. Ele tinha um olhar bobo no rosto, que logo foi substituído por um franzir de sobrancelhas e um brilho preocupado. — O que está acontecendo? Nosso contrato acabou? Você não vai ter que voltar para Anheli, né? Por favor, diz que não...

O mais velho quase deixou seu sorriso morrer, porém escolheu selar os lábios do homem por quem estava apaixonado, para passar segurança.

— Não se preocupe — disse quando se afastou novamente. Jimin ainda encarava seus lábios, um pouco entorpecido pelo momento, mas levantou o olhar logo depois. — Eu diria que... o contrato acabou, mas eu não vou sumir. Sabe por quê?

Jimin arqueou a sobrancelha, direcionando seu olhar para o pulso de Yoongi, que estava levantando o fio. Sob o olhar dos dois, a linha feita de magia tinha ficado completamente vermelha, não restando nem um único traço de dourado. Ele podia perceber só de olhar que aquele fio era mais resistente, mais bem feito e a magia que o tornava possível era mais acolhedora, quase tão quente quanto sua cor.

— Esse é um fio especial, tem pouquíssimos registros dele nas histórias do meu povo. Ele surge quando nos apaixonamos e somos amados de volta, verdadeiramente. — Yoongi sorriu, entrelaçando seus dedos nos de Jimin. — No mundo dos humanos, ele é chamado de fio vermelho do destino.

Jimin arregalou os olhos e soltou um ofego surpreso. Aquilo era...

— Isso é incrível! — Jimin riu, jogando-se em cima de Yoongi, sem se importar com outra coisa. Os dois caíram deitados no sofá, Jimin por cima de Yoongi. — Nós somos... — ele começou, buscando o olhar do outro. Seu coração estava tão feliz porque Yoongi ia ficar, porque não existia mais um contrato entre eles, porque eles eram... — Destinados?

— Pelo que parece, sim. — Yoongi sorriu, com os olhos fechados e as bochechas quentes.

Jimin arqueou as sobrancelhas sugestivamente, com um sorriso provocador em seus lábios. Ele levantou um pouco, usando os braços para se apoiar, e deixou seu rosto próximo do de Yoongi, o suficiente para sentir sua respiração contra seu rosto. Baixou o olhar e roçou seus lábios no dele, sentindo a respiração do outro falhar.

— Que conveniente... — sussurrou contra os lábios de Yoongi. Com as intensas emoções do momento, sua boca tinha ficado seca, então deixou que sua língua passasse por seus lábios, a fim de umedecê-los. — Porque quero ficar com você por bastante tempo ainda.

Subiu o olhar brevemente, deixando que seus lábios formassem um sorriso fofo — nos olhos de Yoongi — e sincero, antes de voltar a pressionar seus lábios contra os de Yoongi.

Se antes restava alguma dúvida no coração de um deles, naquele momento, tinha se extinguido. Ainda era muito cedo para definir se aquele sentimento era amor ou jurar amor eterno, mas já podiam dizer com toda certeza que aquele era o sentimento mais especial que já tiveram, e que pretendiam manter assim.

Naquele instante, ter um ao outro era suficiente. O erro e a irresponsabilidade de Jimin tinha aberto um novo caminho para sua vida; as consequências não tinham sido ruins, muito pelo contrário. Por fazer um feitiço sem ter as instruções completas, Jimin tinha ganhado um novo amigo e um companheiro — um namorado? —, com quem tinha passado os últimos meses construindo uma relação incrível, coberta de memórias lindas e cheias de magia.

Talvez... não tivesse sido um erro, e sim, o destino. Jimin adoraria descobrir mais o que o destino tinha reservado para os dois.

Vermelho era mais bonito que amarelo mesmo.

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Notas finais: O que acharam?

Obrigada a todes que leram. Cuidem-se e nos vemos no extra!

22 de Enero de 2022 a las 22:32 0 Reporte Insertar Seguir historia
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