Seoul - South Korea
08/07/2019
1:12
Ajustei a jaqueta de couro no corpo e me aproximei do meu Alfa Romeo Quadrifoglio preto que já estava posicionado na largada. Corridas clandestinas não são bem vistas aqui em Seoul, mas quem liga? São divertidas e você pode faturar um bom dinheiro se ganhar.
Entrei na máquina e apertei o cinto, era simples: três voltas pelo quarteirão e a grana na minha mão. Meu adversário já havia corrido comigo antes, não seria difícil.
A moça de shorts curto e top entrou no meio dos dois carros e balançou o pano quadriculado, a multidão gritou e levantou seus copos com bebidas, alterados demais para entender o seu redor. A bandeira desceu e enfiei o pé no acelerador.
Passei a primeira esquina tirando um fio do guard rail enquanto meu adversário estava na minha cola, fizemos a primeira volta juntos, lado a lado. A tática era o fazer acreditar estar na frente e na última volta eu aceleraria com tudo. Sempre funcionava.
Na segunda volta escorreguei em uma poça de água que me causou uma aquaplanagem, mas logo recuperei e fizemos a segunda volta. Passando meu concorrente, a linha de chegada já estava na minha visão, as luzes fracas dos postes me davam uma breve vista da rua, mas o suficiente.
Busquei os freios, mas não funcionavam. Freei de novo, mas nada, alguém os cortou antes da corrida. Eu iria bater e provavelmente me arrebentar inteira, apertei a buzina para que todos se afastassem e me preparei para a batida no poste. Sentindo o mundo girando e cacos de vidro voando para todos os lados, fechei os olhos com força e gritei.
Quando tudo pareceu parar no tempo, tentei abrir os olhos e percebi estar de ponta cabeça. Sangue escorria do lado do meu rosto e sentia vários cacos em contato com a minha pele. Antes de apagar completamente, consegui enxergar pessoas vindo ao meu alcance, mas percebi nove homens parados me olhando.
Seoul — South Korea
08/07/2019
1:30
Senti uma pressão nos pulsos, abri os olhos rápido o que me causou uma vertigem forte, os fechei de novo e respirei fundo algumas vezes. Tentei me desamarrar da cadeira, mas sem sucesso. Abri um olho de cada vez até me ajustar a luz, percebi estar em uma oficina, carros caros e potentes espalhados pelo local, ferramentas e tudo o que se precisa.
Eu ainda estava machucada e no mínimo ensanguentada, só conseguia lembrar que meus freios não funcionaram e o carro capotou e de...
— A bela adormecida acordou — O barulho alto do portão da oficina me fez ranger os dentes e apertar os olhos, olhei para frente me deparando com os homens de antes, aqueles que me olharam dentro do carro.
— Vocês? Vocês estavam no racha, viram eu capotar o carro, o que…
— Nós cortamos os seus freios — Um baixinho falou enquanto se apoiava na maleta alta de ferramentas, os restantes ficaram de pé, passando o peso de uma perna para outra.
— O quê? Vocês cortaram meus freios! Qual a porra do problema de vocês? Eu poderia estar morta nesse exato momento.
— Sabíamos que você não iria morrer, calculamos tudo para que isso não ocorrese.
— Não me interessa se vocês calcularam merda nenhuma, quero saber o porquê de eu estar aqui, amarrada e pior, junto com vocês bando de babacas que tentaram me matar.
— Você é bem teimosinha né — Um cara que parecia não muito feliz em me ver ali comentou.
— E você com essa cara de bunda aí também é bem feinha, cuidado que pode ficar com rugas.
—Hui eu vou matar essa garota! — Ele fez menção de vir pra cima, mas um cara bem alto colocou o braço na frente.
— Cala boca, YeoOne. Garota, escuta aqui, precisamos da sua ajuda. É um plano sério e precisamos saber se você esta dentro.
— Eu tenho nome, baixinho. Kendra prazer e não, não estou interessada em qualquer "proposta" que você tenha a me oferecer, então peço que corte essas merdas para eu ir embora e ir denunciar vocês para o dono do racha.
— George… George Williams, esse nome soa familiar pra você?
Minha respiração travou, a garganta fechou e as lágrimas já se amontoaram no canto dos meus olhos. É claro que eu conhecia esse nome, o nome do filho da puta que acabou com a minha vida, me abusou, rasgou e puxou a força a criancinha de pano que ainda tinha dentro do meu coração. Tive incontáveis pesadelos com esse nome, de lembrar, meu corpo nu, jogado em um banheiro imundo, a infância esfaqueada com a adaga da loucura.
— O... O que tem ele? - Minha voz vacilou, o tom da minha fala foi ficando mais baixo a cada palavra.
— Nós fomos vítimas também, assim como você, todos nós...
Depois disso não escutei mais nada e senti meu corpo enfraquecer.
Lysandra Trizi
