fernandailusao Fernanda Ester

Alvor, um guerreiro amado, parte de seu mundo e espera ser recebido com honra e alegria nos salões eternos de seu Deus. Mas o guerreiro acaba indo parar num lugar muito pior.


Cuento No para niños menores de 13. © Imagem Pixabay: https://pixabay.com/pt/vectors/neve-cena-arvores-isolado-frio-1848346/

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Cuento corto
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Onde o Gelo Habita


Alvor abriu os olhos após sentir uma forte corrente de vento passar por seu rosto.

— Não! — esbravejou o guerreiro após se pôr de pé — Não era para ser aqui! Meu lugar não é aqui!

— Parece que não há enganos, meu bom guerreiro. — uma voz estranha e mórbida o atraiu.

— Meu lugar é ao lado dos Deuses! Meu assento na mesa do Pai já estava garantido!

— Parece que seu Deus não lhe quer perto... — a criatura congelada diz — Acomode-se por aqui, há lugar para todos.

— Você não entende, infeliz — o guerreiro admirou o quase humano apodrecido que o encara atolado na profunda neve — Esse lugar não é o prometido!

— Ora não seja tolo, menino. Não é o único decepcionado com o outro lado da vida. Todos os mortos aqui desejaram o melhor para si em vida, mas parece que a vida não nos reservou seu melhor. Sua honra cabe bem nesse inferno gelado. — a criatura sorri — Admire o lugar. – a podre coisa aponta para além da vista, e Alvor, semicerra os olhos se desviando da grossa geada que impede sua vista, mas consegue enxergar que está no alto de uma montanha muito alta. Tão alta que ele via as nuvens. O menino provou de um vento tão forte e gélido, que fez sua lágrima congelar ainda em seus olhos. A neve o assusta, pois cai do céu numa força jamais vista pelo guerreiro tão amado de seu povo. O jovem guerreiro um dia já cheio de vigor e esperança, sentiu seu ar se esvair de seus pulmões, soube ele, que já não precisava mais disso para viver. Não houve festa nem louvor, o guerreiro partiu de seu mundo devido uma batalha sangrenta por demais.

— Pelos deuses... — Alvor leva as mãos ao rosto numa falha tentativa de conter seu choro — Onde estou? Que lugar é esse?

— Não os chame, jovem. Pois eles não o ouvirão daqui — a fraca voz revela — Parece que sua honra ilusória ficará para outra vida. Esse lugar é nossa morada.

— Não... — Alvor desenterra a perna esquerda da alta neve com dificuldade e força e puxa seu casaco de pele para mais próximo de seu corpo, passou a mão pela cintura e não sentiu seu machado que ali sempre esteve — Que lugar é esse que não permite a entrada de meu sagrado machado?

— Você não entendeu ainda, não é? — a alma penada gargalhou — Seus dias de glória ficaram para trás, você não está mais entre os vivos. Bem-vindo ao lar de gelo, infeliz. Você vagará aqui provavelmente pela eternidade.

— Eu morri.... E estou no inferno? — o jovem perde o equilíbrio de suas pernas.

— Não vê? — a criatura presa á uma montanha aponta pra o sul — A grandiosa área que nos cerca? Não há nenhuma festa para ti, acomode-se em qualquer canto e espere alguém se lembrar de você.

— Vai se ferrar! — Alvor se rebate contra a neve abraçando suas pernas e caminha com dificuldade até a criatura — Você está aqui há quanto tempo?

— Desde que o Haren, o filho amado, se tornou Rei. — ele diz

— Isso foi há trezentos anos! — Alvor berrou em total desespero — Tem uma pintura dele no salão de minha família!

— Sinto muito, mas sou péssimo em contas.

— Há como eu sair daqui?

— Esqueça e procure outro canto.

— Há ou não? — Alvor insistiu.

— Não entende que não passamos de poeira aqui? Volta para a caverna e fique lá!

— Não me faça perguntar de novo! – Alvor engrossa sua rouca voz.

— Jovem, eu sei que teu sangue ainda ferve e que a juventude mal lhe deixa raciocinar, mas pense. Não há como fugir daqui. Todos que tentaram enfrentar As Irmãs, foram enviados para outro inferno de onde não há a mínima chance de sair! E eu garanto que há lugares piores que esse!

— E aqui há maneira de sair?

— Há, se matar as três irmãs – o velho aponta para uma montanha ainda mais alta – Elas ficam lá. Uma delas é bem velha, a segunda nem tanto, e seu maior problema será ela, mas a terceira lê o manuscrito que irá te lançar em outra dimensão. Princesas de todo o ódio e dor dos nove mundos, criadoras de cada maldade humana. Como as odeio!

— Se eu as enfrentar e ganhar, poderei sair daqui?

— Jovem, você não voltará a viver — a criatura se lamenta — Se conforme!

— Eu poderei ou não sair desse lugar frio? – Alvor se sacode da neve que quase o cobre por completo.

— Poderá. — ele afirma — Talvez para a desejada morada de seus Deuses.

— Eu agradeço — Alvor se curva para a velha criatura presa a parede e sem se despedir, caminha pela profunda camada de gelo do chão. A criatura uivava o nome do guerreiro causando eco por um longo percurso em que o guerreiro percorreu. Alvor sentiu um vento cortar seu rosto e gelar sua alma, o vento gritava alto e arrastava tudo em seu caminho, inclusive outros como seu primeiro amigo há pouco. A nevoa o cegava não o deixando enxergar um só palmo em sua frente, mas esse agarrou a fé que ainda lhe restava e o rosto do irmão Sven junto á memória

— Irmão... – ele chama pelas últimas forças que habita em seu ser e desvia de tudo o que o vento lhe lançava. E caminhou ao choro congelado junto ao rosto para um pequeno degrau velho e quebrado. O primeiro degrau da Montanha das Três.

— Você, aí. – uma voz o chama assim que o Alvor pressiona o pé contra a densa camada gelada. — Há quanto tempo está aqui?

— Não sei – Alvor responde confuso — Eu não lembro. Ontem ainda era dia, e tinha sol.

— Aqui nunca teve sol — a voz delicada, mas ainda assustadora se revela. Magra, e praticamente congelada — Porque está aqui?

— Meu lugar não é aqui. Houve um engano. Eu pertenço ao lado dos Deuses.

— Eu já vivi muito para acreditar que isso é uma ilusão, alma. — ela sorri — Porque teima em enfrentar as Senhoras daqui?

— Porque não quero ser igual a você – Alvor grita — Há vida fora daqui. Isso é o inferno!

— Vamos convir que, aqui só habita os que não chegam aos pés dos bonzinhos. O que você fez?

— Não tenho tempo para isso. Adeus. — Alvor avançou para o segundo degrau da escadaria forrada de gelo que parecia rodear toda a montanha de seu destino.

— Adeus? — a criatura o acompanhou — Você sabe quem são elas? — caminhou no gelo com a facilidade de sua leveza assustadora. Alvor sentiu um arrepio quando uma geada forte o surpreendeu.

— Eu não sei e não quero saber. – ele enfrenta a corrente de gelo e consegue fazer com que suas fracas pernas se ergam novamente para já subir dez degraus.

— São filhas de uma poderosa Deusa. — a criatura continua a irritar Alvor – Uma delas tem o poder de trazer o sol para cá, e uma vez fez, quando um dos poucos idiotas igual a você a enfrentou.

— Pensei que ninguém tinha vencido.

— Engano seu. — a criatura sorri — Poucos tiveram sucesso, mas a maioria é lançada tão longe que nunca mais retornam. Me pergunto se ainda há alguma bondade. Nesse mundo, no outro, tanto faz. Coisas boas são raras.

— Não há bondade, por isso você precisa lutar — Alvor relembra dos ensinamentos de seu irmão mais velho, Sven — E sobre as outras? O que pode dizer?

— Ahh... — ela gargalha — Uma outra carrega uma espada de fogo tão grande que é capaz de derreter todo esse gelo. Forte e cruel, a segunda é a pior delas, sim!

— Porque não ajudam as pessoas com essa magia calorosa?

— Não estão aqui para ajudar, mas sim para garantir que fiquem — a presença lamenta — Repense, meu caro. O outro lugar é pior que aqui.

— Nunca. — Alvor corre dois lances da escada para tentar se aquecer, mas outra geada o joga contra a parede da montanha.

— Você nunca vai conseguir assim — a presença estendeu a mão sobre o peito do jovem — Se vai se aventurar, eu posso ajudar. Vejo que sua força ainda é viva. — Alvor sente um forte calor vindo de seus pulmões, um calor que sentiu preencher todo seu vigor e força, a criatura o ajudou de alguma forma — Agora, diga seu nome.

— Alvor. E você? Porque está fazendo isso?

— Meu nome é velho demais... mas mate elas. — a criatura pede — Elas mandaram meu amado para longe e eu o quero de volta. — a criatura ajuda o guerreiro a se erguer — Você precisa pôr um fim nisso, meu jovem. Faça isso por mim.

Alvor continua sua caminhada ao lado daquela misteriosa presença. E continuou por meses e por anos. Até chegar ao topo de sua montanha. Numa alta e simples capela ao topo reto da montanha

— Sua jornada enfim se aproxima. Eu pude contar os anos...

— Não — Alvor engrossa a voz — Não diga quantos anos se passaram. Eu não suportaria.

— Foram muitos, meu amigo — a criatura lamenta e caminha em direção a capela — Pegue isso — ela se ajoelha e faz surgir uma espada em mãos — Pertenceu a meu amado, há muitos e muitos anos atrás.

E Alvor se apossou da espada ainda reluzente sentindo o balanço e o peso. O já não jovem guerreiro caminhou cortando o vento com sua nova espada e bateu duas vezes na porta da capela, onde um silêncio assustador foi cortado por um alto soar de sinos. As portas se abriram com dificuldade, deixando a neve revolta adentrar a simples e aquecida construção. Alvor provou de uma quente brisa que o surpreendeu vindo de uma grandiosa lareira ao fim desse lugar. Pela primeira vez em centenas de anos sentiu-se aquecido, e ali teve a certeza de que todos os anos de subida, valeram a pena. Sua vida poderia se resumir nesse breve e aconchegante calor e ele agradeceria.

— Diga-me forasteiro teimoso! — a voz daquela princesa temida se fez presente. Uma alta mulher se levanta de um dos tronos da capela com sua espada que alcança o teto — Está ciente que ao me vencer irá para um lugar de honra? Um lugar onde se caminha somente com a mais pura vitória? — a esbelta dama caminha com elegância sob o salão .

— Sim! — Alvor bate a espada no peito — Enfrente-me!

— Se você perder esse duelo, eu vou te mandar para tão longe que nem eu serei capaz de te ouvir! — a segunda princesa corre deixando um alto barulho de passo e um rastro de fogo pelo chão de onde pisa, e Alvor avança á passos rápidos em direção da criatura mística e poderosa. Mas, eram três. E Alvor vê uma delas o surpreender com um feixe de luz que quase acerta em cheio seu peito, mas ele pulou á tempo. Diferente da guerreira, essa segura um cajado de madeira luminoso.

— Ah, um desafio... – aquela que deveria ser a primeira irmã se curvou como numa reverência — Quanto tempo um desafio!

Alvor avançou primeiro a segunda irmã, e desferiu rápidos golpes que matariam qualquer pessoa, mas elas não eram pessoas, eram anjos, deusas ou qualquer coisa, mas não tinham nada humano. Após falhar em todos os golpes, Alvor é atingido no rosto por uma luz, e sente seu sangue escorrer por sua bochecha. A segunda fez um golpe que quebrou uma das paredes da capela, e bateu sua espada no chão fazendo o mesmo se tremer e Alvor perder seu equilíbrio, e olhar para o teto. E avistou a terceira princesa com um livro em mãos, lendo-o em boa voz como num belo canto. Ela o mandaria para outro mundo, mas o guerreiro não congelou vivo todo esse tempo para assim ser derrotado. Alvor se ergue numa pirueta e se livra de seu casaco, e quando a primeira princesa lhe cercou, a segunda desferiu sua espada contra o ar, Alvor sentiu o vento sendo cortado, e com um lapso de reflexo, passou pelas pernas da primeira, que soltou um profundo lamento de dor quebrando todos os vitrais da capela. A espada de sua irmã havia atravessado seu peito. E com outro grito, a guerreira uivou em dor ao ver a primeira irmã se desfazer em sua própria espada. E essa não ficou feliz, mas Alvor gostava de adversários irritados. O ser se aproximou de Alvor com um grito, e com um encantamento da criatura do alto, fez de sua espada uma fonte de raios, onde dois acertaram Alvor no antebraço, fazendo o não tão jovem, sentir seu braço adormecer numa profunda irritação. A segunda correu para Alvor, e com um golpe desferido, rasgou o peito do jovem o lançando longe.

— Não.... — Alvor sentia sua vida se esvair e suas esperanças morrerem de novo — Eu não posso! — e então o incansável guerreiro avistou uma lança escondida em baixo de um dos bancos e a puxou, e quando a guerreira o pegou pela roupa e o colocou a seus olhos, soltou uma gargalhada.

— Ela voltará — gargalhou — Já você, nunca mais verá o sol, muito menos neve.

— Vá para ela! – Alvor enfia a lança na garganta do ser, que o solta de imediato. O ser cambaleia para trás e solta sua espada ao chão, fazendo um barulho seco ecoar pelo salão, então se colocou sobre um de seus joelhos e caiu. Se desfazendo em poeira e solidão. A leitora do alto se fez descer em uma grandiosa corrente, mas Alvor pegou a espada da guerreira perdedora e lançou contra a magricela alma que não desceu toda sua corrente.

— Eu! Eu consegui? — Alvor se belisca deixando a imensa alegria invadir seu peito — Eu? Pelos Deuses! Eu?

— Bravo! — a sua amiga adentra o salão. Não mais com sua aparência desgastada e magra, mas com um longo vestido de seda e uma coroa sob os cabelos sedosos — Pouco me surpreende nessa vida, jovem guerreiro.

— Você?

— Doí ver minhas preciosas filhas indo embora de mais esse mundo. — ela pega a espada de fogo do chão — Mas só pode existir uma Rainha nesse mundo. Eu o criei e os próprios Deuses me abençoaram!

— Você? Mãe dessas aberrações? Criadora desse lugar?

— Não fale assim! — a criatura se revela numa voz terrivelmente alta.

— Você me usou... — Alvor se afasta poucos passos.

— Elas tomaram o poder de mim. — a Deusa revela – Você deve me conhecer por Aileen, em sua cultura.

— A Deusa Aileen? Mãe de todos os finais? — Alvor se segura na parede. No mesmo instante, a Deusa estendeu a mão ao ar e tirou da paisagem azulada e fria, sua fraca luz. Deixando apenas frio e escuridão.

— A maioria não as matou... — a Deusa passa por ele — Mas você sim. E por isso, farei o que te prometeram.

— O que será das almas que aqui ficarem? Você roubou toda a luz!

— Esse lugar é meu! — ela uivou — Eu decido o quanto essas criaturas horríveis pagarão por seus pecados!

— Que pecados, senhora? — ele chora — Eu nunca cometi um!

— Acha que matar dezenas de guerreiros iguais a você lhe renderia glória? — a Deusa se curva numa risada — Você provou do que causou. Agora vá! E nunca mais pise em meu belo lar!

Alvor se sentiu leve por um instante e como mágica, voou para os céus. Sentiu as nuvens ficarem cada vez mais próximas, e voou tão alto que enxergou os jardins quentes de seu precioso Deus. E quando chegou lá, pode beijar a fresca grama e um leve e aquecido ar invadir seus pulmões, naquele jardim imenso onde Alvor não enxergou o fim, sentiu que ali não haveria mais dores.

— O que há no mundo de gelo, pecador? — uma voz familiar pergunta.

— Nada... — Alvor afasta dos pensamentos o ocorrido. O último que escapou do inferno de gelo, que agora só fez o lugar ficar ainda mais doloroso devolvendo a sua verdadeira criadora — Nada de belo. Eu vi Aileen.

— Então há algo. Você pagou pelos seus feitos, irmão?

— Por cada um deles, meu querido irmão Sven.

30 de Agosto de 2021 a las 05:00 0 Reporte Insertar Seguir historia
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Fin

Conoce al autor

Fernanda Ester Olá, me chamo Fernanda! Tentando ser escritora! Adoro fazer novas amizades, então se quiser pode me chamar! Amo aventuras de tema medieval e épico, quanto mais dragões, espadas, capas, melhor! - Eu costumava ser aventureira, então levei uma flechada no joelho.

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