camimlrco

Kim Yugyeom é um nome conhecido no tribunal, famoso por sempre ser culpado até que chega o dia em que é inocente. E cabe a Park Jinyoung defendê-lo. NÃO ESTÃO AUTORIZADAS ADAPTAÇÕES E/OU REPOSTAGEM. A história é totalmente fictícia e não tem relação alguma com os idols mencionados e suas vidas particulares. O intuito dessa obra é entreter e nunca, jamais, ofender alguém. >Disponível também na plataforma Wattpad.<


Fanfiction Bandas/Cantantes Sólo para mayores de 18.

#got7 #parkjinyoung #kimyugyeom #jinyeom #oneshot
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— Jinyoung, caso novo pra você.

Choi Youngjae passou pela porta da sala do promotor de justiça, aproximou-se do tampo de madeira da mesa e jogou uma pasta carregada com vários papéis.

Deixando de lado suas anotações sobre o último caso encerrado, o Park puxou para si o punhado de papéis e abriu a pasta preguiçosamente, dando de cara com o único rosto que sempre desejou arduamente não ver a sua frente.

— Esse cara? É sério?

Youngjae deu de ombros e sorriu divertido da reação do amigo. Ele já esperava certa resistência vinda do promotor.

— Muito sério. Parece que ele é inocente dessa vez.

— Duvido muito.

Kim Yugyeom tinha um problema recorrente com passagens na polícia por perturbação à ordem, dirigir embriagado, pichação e briga de rua, tornando-o um nome conhecido para os promotores.

Park Jinyoung já teve o desprazer de acusá-lo no tribunal, e somente de lembrar-se daquilo seu corpo todo sofria pelo esforço que teria que fazer para manter sua calma e conseguir falar civilizadamente com o outro homem.

Em seu único encontro com o Kim, Jinyoung passou um par de horas engolindo toda sua vontade de voar naquele pescoço branco para esganar o garoto, assistindo a expressão debochada plantada nos lábios volumosos e tendo uma piscadela lançada pra si a cada trinta segundos.

Além de um arruaceiro, o Kim era um conquistador barato, segundo Park Jinyoung.

— Dá uma olhada no arquivo.

Jinyoung revirou os olhos, pensando que já estava fazendo aquilo desde o momento que abriu a pasta. Mas, no lugar de protestar, ele voltou a ler todas as páginas fornecidas pela polícia.

Logo no começo estava sua ficha criminal, mostrando quantas vezes o estado multou o Kim pelos seus crimes, e quantas medidas administrativas ele sofreu. A lista era extensa demais para que o Park se preocupasse em gastar sua paz com o homem mais jovem.

Mais a frente, Jinyoung viu que ele era suspeito de assalto à mão armada, ato que aconteceu um dia antes.

— Ele passou de crimes brandos pra um crime grave. Nada de novo sob o sol.

Sem vontade de continuar a estudar um caso que significava derrota, o Park fechou a pasta com a ficha do Kim e a deixou em cima da sua mesa. Seus olhos voaram para o outro promotor enquanto ele se acomodava da cadeira do outro lado da mesa.

Youngjae sentou confortavelmente e ficou em silêncio, esperando que o Park começasse a reclamar sobre o Kim como se não houvesse amanhã. Sempre que Yugyeom aparecia no tribunal para receber mais uma sentença e tinha o azar de encontrar com Jinyoung, o Park passava uma semana reclamando para o amigo promotor sobre como o Kim era irritante somente por existir.

O Choi sabia bem o que aquilo significava, mas não dava voz aos seus pensamentos.

— Fala logo, Youngjae.

— As ordens são de cima, Jinyoung. Você não tem escolha, o caso é seu.

— Mas eu achava que meu trabalho aqui era fazer acusações, e não defesas.

Youngjae deu de ombros.

— Já disse, as ordens são de cima.

A contragosto, o promotor reabriu a pasta e começou a estudar o caso.


[...]


Era impossível que Park Jinyoung andasse pelo tribunal sem ser percebido. Vestido em seu terno feito sob medida e calçando seus sapatos caros de couro legítimo, o promotor seguia um pouco contrariado para a sala onde teria o desprazer de encontrar seu cliente. Visitantes e funcionários do tribunal faziam uma pausa em qualquer que fossem suas tarefas apenas para observar o caminhar duro do promotor.

Sua expressão sempre fechada parecia ainda mais dura naquela manhã, seu cenho franzido e seus lábios apertados um contra o outro davam a certeza de que ele definitivamente não desejava contato com as outras pessoas, e que sua paciência já estava próxima do fim.

Depois de reler o caso inteiro, Jinyoung realmente percebeu que existiam incoerências entre os fatos apresentados e a alegação da polícia. Para o seu desagrado, existia uma chance considerável de que o Kim fosse inocente.

Parando em frente a uma das pequenas salas de reuniões do prédio, o promotor apresentou sua identificação e logo teve sua entrada liberada pelo segurança, esse que encarou o Park de cima a baixo e depois fez uma careta ao desviar o olhar.

Yugyeom estava deitado no pequeno sofá de dois lugares quando a porta se abriu revelando o promotor. Suas pernas compridas cobertas por uma calça preta repousavam cruzadas no braço do sofá, seus pés calçados em uma bota clara e suja balançavam para cima e para baixo, enquanto que sua cabeça era apoiada por uma de suas mãos.

Jinyoung reparou primeiro na postura do homem que seria seu cliente, depois observou bem a jaqueta marrom com manchas do que deveriam ser sujeira e sangue e a mão enfaixada que segurava um pirulito vermelho. Ele fechou a porta atrás de si e foi até a pequena mesa de centro, jogando ali em cima a mesma pasta que recebeu de seu amigo.

O acusado não fazia questão de levantar o próprio olhar para conferir o promotor, já sabendo que caso o fizesse encontraria uma carranca de quem foi beber café e acabou queimando a língua. O silêncio era preenchido somente pelo barulho desnecessariamente alto que o Kim fazia ao chupar o pirulito, e aquele ato foi a primeira coisa a irritar o Park.

— Você quer parar com isso?

Jinyoung se sentou na poltrona a frente da mesa de centro, deixando seus cotovelos apoiados em seus joelhos e inclinando o tronco para frente. Seus olhos captaram o momento exato em que Yugyeom passou o doce nos lábios como se passasse batom, fez um bico, e depois usou sua língua para limpar o rastro melecado.

Finalmente decidindo encarar o outro, o Kim primeiramente tomou o tempo que achou necessário para observar cada detalhe do promotor, permitindo-se gravar bem a forma com que o cabelo tão bem alinhado combinava com todo o personagem que Jinyoung interpretava naquelas roupas caras e sapato de grife.

— Te incomoda? – Yugyeom chupou o doce mais uma vez, fazendo um barulho mais alto.

Jinyoung revirou os olhos e respirou fundo, tentando manter a promessa que fez a si mesmo de não deixar o mais novo entrar na sua mente, mesmo que tivesse sido afetado demais pela forma que a boca do Kim envolveu o doce.

— Eu não vou nem pedir pra você sentar que nem gente, porque sei que não é capaz disso.

O Kim fez uma expressão de falsa dor e o promotor viu como os cortes em sua sobrancelha, bochecha, nariz e boca foram evidenciados.

— Você é sempre assim tão charmoso, promotor?

Jinyoung quis abrir mais um corte na bochecha macia do Kim quando ele piscou para si pela primeira vez naquela manhã. Estava sendo difícil ignorar seus impulsos de ir até o homem a sua frente e fazer com que o mínimo de juízo entrasse em seu cérebro.

— Briga recente, Kim? – ao invés da violência física, o promotor resolveu provocar seu cliente.

— Ah, sabe como é, só resolvendo os problemas que você e sua gente são incompetentes demais pra resolver – Yugyeom respondeu voltando o doce para sua boca e o deixando em sua bochecha.

O Park achou ter escutado errado. Na verdade, ele quis ter escutado errado. Aquele criminoso estava se dando ao luxo de julgar um trabalho que nem era dele, um trabalho que ele fazia questão de atrapalhar muitas vezes.

Yugyeom viu quando o promotor ficou com o rosto vermelho, mas escolheu ignorar aquilo e voltar seu olhar para a mão que antes segurava o pirulito. O Kim testou seus movimentos, abrindo e fechando a mão, girando o punho de um lado para o outro, testando a sensibilidade da ponta de cada dedo. Uma careta de dor surgiu em seu rosto.

— Você pelo menos vai ao médico depois de sair arrumando briga na rua?

Yugyeom riu soprado e fitou o promotor que imediatamente se arrependeu.

— Preocupado, Park?

— Na verdade, não. Tanto faz pra mim se você pegar alguma doença nesses cortes mal lavados, não vai fazer diferença na minha vida.

O Kim mordeu o restante do pirulito e jogou o palitinho em cima da mesa de centro. Devagar e tomando cuidado com seus movimentos, ele tirou as pernas do braço do sofá e levantou o tronco, virando-se para o promotor.

— Algo me diz que você se importa sim, Park, e que é isso que mais te irrita.

Jinyoung viu seu cliente se sentar bem no meio do sofá, deixando suas pernas abertas e seus braços apoiados no encosto. A blusa clara que cobria o tronco do Kim também tinha algumas manchas parecidas com terra e sangue. Sua mandíbula bem definida mexia de um lado para o outro conforme o Kim terminava de mastigar o pirulito.

— Fique à vontade pra acreditar no que quiser.

O promotor teve sucesso em deixar para trás o assunto anterior e fingir que aquilo não tinha o cutucado. Ele não daria aquele gosto para o Kim.

Voltando sua atenção para a pasta a sua frente, Jinyoung a abriu espalhando alguns papéis pela mesa, passando os olhos brevemente pelas linhas que continham a acusação de assalto e pelas linhas que forneciam um álibi para o Kim.

Segundo a declaração de duas testemunhas, Yugyeom foi visto três quadras para baixo da rua onde aconteceu o assalto no momento do crime. Essas duas pessoas afirmaram que viram o homem alto, de cabelo preto, jaqueta marrom e calça preta discutindo calorosamente com outro homem.

Quando levadas para reconhecimento, as duas testemunhas reconheceram o Kim em fotos mostradas na delegacia.

Era uma causa ganha, na verdade. Somente aqueles depoimentos eram o suficiente para que as queixas fossem retiradas e Kim Yugyeom pudesse sair da delegacia livre para cometer seu próximo crime brando.

— Qual foi a chantagem que você teve que fazer pra essas pessoas te darem um álibi?

Jinyoung levantou os olhos para o homem a sua frente, capturando o momento em que ele passou a língua pelos lábios levemente inchados.

— Eu não tive que chantagear ninguém, Park.

— Essas pessoas apareceram em uma hora muito boa pra você.

Yugyeom riu soprado e o Park revirou os olhos por causa de toda aquela marra.

— Elas poderiam ter me ferrado, na verdade.

O promotor juntou as sobrancelhas como se questionasse a fala do outro.

— Ferrado você?

— Sim. – Yugyeom apertou as pernas uma na outra, ajeitou a postura e então voltou a afastar os joelhos. – Elas poderiam ter falado que eu tava saindo no soco com aquele assediador de merda que você e sua gente não tiveram a competência de prender.

— Então você tava brigando?

— Eu disse que elas poderiam falar isso, não que eu tava fazendo isso.

O Park respirou fundo, sentindo-se cansado daquele diálogo que mal começava.

— Você é a porra de um justiceiro agora? Fica brigando com criminoso na rua?

— Eu não precisaria brigar com eles se você fizesse seu trabalho direito.

Jinyoung bateu forte na mesa e fixou seu olhar nos papéis espalhados tentando, a todo custo, não jogar tudo para o alto e entrar na lista do Kim de homens com quem ele já brigou.

— O que te faz pensar que eu não faço meu trabalho direito? – seu olhar ainda estava no tampo de madeira.

— Aquele assediador que fez quatro meninas novas lá do bairro ficarem traumatizadas a ponto de não conseguir sair de casa sem ter uma crise de ansiedade estar solto me faz pensar isso. – Yugyeom mantinha sua postura relaxada ao passo que sua fala se tornava dura. – Você não tem a decência de fazer o que precisa ser feito, não quando as vítimas são mulheres pobres e os criminosos são amigos da polícia.

O Park voltou a olhar para seu cliente, sentindo raiva pela forma que o Kim enchia o peito para destilar suas palavras para o promotor.

— E enquanto esse tribunal tenta me prender por muito menos, aquele bosta tá andando livre naquelas ruas só esperando pela próxima menina. – Yugyeom fez uma pausa em sua fala somente para reparar em como o Park parecia alterado. – Enquanto você fica com essa sua bunda redondinha bem confortável na sua cadeira de couro, eu tento manter o mínimo de segurança naquelas ruas.

Jinyoung sentia todo seu sangue ferver pela forma que o seu cliente falava, mostrando uma certeza absoluta de que toda a culpa daqueles erros do tribunal era sua.

Em toda sua carreira, Jinyoung jamais deixou que um criminoso que fosse acusado por si saísse de dentro do tribunal pela porta da frente. Seu trabalho nunca acabava enquanto aquelas pessoas não estivessem cumprindo suas penas atrás da grade.

— Isso não te torna menos criminoso, Yugyeom.

— Eu nunca disse isso, Park. Toda culpa das coisas que fiz, eu assumo. Pichei aqueles muros, dirigi bêbado e fiz outras coisas pelas quais eu paguei, mas eu nunca deixei com que aquele tipo de gente passasse sem receber o mínimo de punição. Diferente de vocês que deixam um lixo daquele sair daqui como se tivesse vindo só pra uma visita.

O promotor viu que o Kim apertava forte o encosto do sofá em suas mãos, viu que seu corpo estava tenso e que os olhos não deixavam os seus, instigando-o a rebater sua fala.

Os dois naquela sala sabiam bem que um erro não justifica o outro. Não é através de violência que aquele assediador ficaria longe de outras meninas e Yugyeom tinha consciência daquilo, mas era difícil ignorar seu impulso de fazer com que homens como aquele sentissem um pouco do que suas vítimas sentiam.

— Eu não to aqui em busca de redenção pelos meus pecados, Park. – Yugyeom cortou o silêncio quando percebeu que o promotor não responderia. – Eu to aqui porque eu jamais apontaria uma arma pra um criminoso, imagina pra um pai de família segurando a mão do filho pequeno.

Um pouco acuado pela postura diferente vindo do Kim, o promotor optou por não continuar a falar sobre sua briga com o assediador no dia anterior para dar sequência a sua defesa.

Os dois permaneceram se encarando por pouco tempo, buscando algum sinal de profunda alteração um no outro, encontrando alguém que desesperadamente controlava seus impulsos na intenção de evitar danos maiores.

O Kim foi o primeiro a relaxar um pouco, afrouxando seus dedos que ainda apertavam o sofá e suavizando seu olhar para o promotor. Seus olhos percorreram todo o rosto do Park, percebendo bem que ele tinha as sobrancelhas unidas desde o começo de sua acusação, e que os lábios sempre tão convidativos para si estavam estreitados um no outro.

Por sua vez, Jinyoung sentiu a intensidade do olhar que recebia, ele percebeu que cada detalhe seu foi muito bem observado pelo Kim e inexplicavelmente se sentiu nu naquela sala pequena, sob o julgamento de seu cliente.

— Por que a polícia quer que você seja o culpado?

Jinyoung voltou a olhar para seus papéis como se algo novo tivesse acabado de aparecer ali e isso demandasse sua atenção, quando, na verdade, ele só não queria correr o risco de demonstrar o quanto aquele olhar tinha lhe afetado.

Yugyeom percebeu o comportamento do promotor e decidiu que usaria aquilo como vantagem em outro momento.

— Você me parecia mais inteligente, Park. – Antes que Jinyoung protestasse, o Kim continuou. – Eu tava acabando com o amiguinho do policial que me odeia enquanto um crime acontecia. Esse mesmo policial deixou o verdadeiro assaltante fugir quando soube que eu quase mandei aquele nojento pro hospital, e novamente esse policial sabia que não poderia me levar pra delegacia pela agressão sem expor o amigo dele, então ele resolveu me levar no lugar do outro cara.

— Seu álibi pra um crime é outro crime... – Jinyoung viu o Kim dar de ombros. – Como que eu vou explicar isso no tribunal?

— As testemunhas falaram que eu tava discutindo, não foi? – O promotor assentiu. – Então pronto, discutir não é crime.

Yugyeom deu de ombros novamente.

Algo dentro do Park começou a ferver pelo tom de voz usado pelo Kim. Jinyoung tinha certeza que o homem mais novo olhava para toda aquela situação com divertimento, como se sua vida fosse um filme onde ele é o personagem principal e sua única preocupação é parecer legar na frente dos amiguinhos.

Existiam coisas mais importantes do que escrever mensagens de protesto em muros de lojas, beber e sair dirigindo em alta velocidade, vandalizar um parquinho de criança durante a noite e várias outras rebeldias sem sentido que o Park não conseguiria se lembrar.

Ter um propósito, um caminho para trilhar e atingir um objetivo, era muito mais importante do que somente viver o agora. Park Jinyoung acreditava fielmente nisso, e via que as coisas eram bem diferentes para o Kim.

Talvez fosse justamente pela diferença de opinião que o promotor se incomodava tanto.

— Qual que é a porra do seu problema? – Jinyoung falou mais alto do que gostaria. – Sério, você não cansa de ir pra delegacia toda hora por causa dos mesmos motivos?

Yugyeom deixou um sorriso mínimo tomar seus lábios, satisfeito por ver que o Park vestia sua face impassível no dia a dia com extrema facilidade, mas estava deixando-a cair por terra em tão pouco tempo de conversa.

— Eu espero que você não perca a postura tão fácil quando tá na frente de um juiz.

Ao contrário do Park, o Kim mantinha sua pose confortável no pequeno sofá da sala de reunião, tamborilando seus dedos no estofado pouco usado e ousando sorrir divertido.

Jinyoung perdeu cada traço de bom senso que ainda tinha em seu corpo.

— Isso tudo é uma brincadeira pra você? – O promotor se levantou de sua poltrona. – Enquanto tem um monte de criminoso de verdade aguardando julgamento, o tribunal é obrigado a gastar tempo e dinheiro com os seus caprichos de jovem inconsequente!

Seu tom de voz era alto demais, quase um grito, e mesmo assim Yugyeom não se sentia intimidado.

Depois de uma vida inteira lidando com homens abusivos que acreditavam fielmente que gritos resolviam qualquer problema, um pequeno descontrole como o que o Park tinha a sua frente não era o suficiente para intimidá-lo.

— É isso que você pensa de mim, Park? Um jovem inconsequente caprichoso?

— E você não é? Fala pra mim, Yugyeom. Qual é o sentido disso tudo?

Jinyoung começava a fazer a volta na mesa de centro.

— Eu não me daria o trabalho de explicar algo pra alguém que não quer entender.

— Papo furado! – A cada fala, o promotor dava mais um pequeno passo se aproximando do Kim. – A vida é mais do que esse monte de machucado no seu corpo. Quantas oportunidades você já perdeu? Quantas vezes você já abriu mão de um futuro brilhante pra virar um criminoso qualquer?

Pela primeira vez naquela manhã, o Kim sentiu que poderia acabar perdendo o controle de suas emoções. Ouvir Jinyoung falar com tanta propriedade sobre qual oportunidade foi dada a ele e qual não foi, como se o promotor em pessoa tivesse vivido sua vida, mexeu com sentimentos que ele não sabia que ainda guardava.

— Não fale como se você soubesse da vida dos outros.

— Eu não preciso saber pra ver que você deve ter deixado pra trás uma vida de estudos por uma ideia romântica de badboy. Qualquer um tem oportunidades nesse mundo.

— Qualquer um quem? – Yugyeom falou mais alto pela primeira vez, o que fez com que o Park parasse no lugar. – Qualquer um que nasceu em berço de ouro igual a você? Qualquer um que frequentou as melhores escolas da cidade? Qualquer um com pais influentes? Qualquer um quem?! Em qual mundo?! No seu ou no meu?

Um silêncio angustiante tomou conta da pequena sala enquanto os dois homens permaneciam presos no olhar um do outro. A tensão e a raiva eram palpáveis ali dentro, tornando a energia do ambiente pesada e quase difícil demais de sustentar.

— Não julgue a vida dos outros com base no ponto de vista do seu umbigo, promotor. Nem todo mundo tinha café da manhã na mesa todos os dias. – Por algum motivo, o Park voltou a caminhar contido em direção ao seu cliente. – A vida é muito bonita nos livros de romance que você leu na escola, mas lá fora, promotor, é uma constante competição de quem sobrevive por mais tempo.

Yugyeom mantinha a mesma postura corporal, com a diferença de que seus dedos novamente apertavam o sofá, quando o Park o alcançou e parou a frente de seu corpo.

Os dois novamente ficaram presos em um contato visual pesado, instigando um ao outro a continuarem com aquela discussão sem sentido. Yugyeom conseguia ver claramente que o Park enfrentava um questionamento interno, sua postura estava rígida ao mesmo tempo em que seus olhos pediam por algo, por algum motivo.

E o Park estava de fato dividido entre continuar com sua teimosia ou abaixar a guarda depois do breve choque de realidade.

— Se você não fosse a porra de um criminoso.

A fala saiu baixa e entredentes, mas foi o suficiente para que o Kim conseguisse ouvir. Suas mãos se suavizaram, assim como sua expressão, quando ele viu que o corpo em pé a frente do seu também começava a suavizar. Ambos deixavam a tensão escorrer por entre seus dedos.

Jinyoung inclinava o tronco para frente de forma sutil, como se quisesse fazer aquilo, mas não quisesse que alguém percebesse seu movimento.

— O que você faria se eu não fosse um criminoso, promotor?

O Park não respondeu, ao invés disso, ele apoiou uma de suas mãos na parede atrás do Kim, ficando com o seu corpo inclinado por cima do corpo de seu cliente. Seus olhos investigavam cada pedaço do rosto machucado, reparando nos cortes ainda recentes e nos lábios inchados pelos traumas sofridos. Seu olhar também desceu brevemente pelo corpo magro largado no estofado, e o Kim não deixou de reparar naquilo.

— Mas você tinha que ficar fazendo merda, né?

Mais uma vez a fala saiu baixa, mas dessa vez o Kim ouviu melhor por conta da distância cada vez menor entre seu rosto e o rosto do promotor.

Em um ímpeto de loucura, o Kim levou sua mão até a cintura fina do Park, segurando-a firmemente somente para puxá-la em sua direção. Jinyoung foi surpreendido pelo toque, mas não o repudiou como achou que faria. Um de seus joelhos estava apoiado no estofado ao lado da coxa do Kim, enquanto sua outra perna permanecia firme no chão.

— Você não respondeu, promotor.

Os dois estavam perigosamente próximos, Yugyeom sentindo o ar quente que deixava os pulmões do promotor bater em seu rosto enquanto fitava aqueles lábios que tanto se imaginou beijando. Jinyoung perguntava-se porque ainda não tinha afastado aquele muleque metido a criminoso que parecia decidido a ultrapassar todos os limites naquele dia.

Contrariando o próprio bom senso, o Park se viu apoiando o outro o outro joelho no estofado, ficando assim ajoelhado ao lado das coxas do Kim. Yugyeom ficou surpreso pela atitude do promotor, mas não deixou isso transparecer e aproveitou a deixa para levar sua outra palma até a cintura do Park.

— Deixa eu adivinhar; – Yugyeom começou a falar enquanto observava o olhar do Park fixo em seus lábios. – se eu não fosse um criminoso, você teria sentado no meu colo antes?

O Kim usou as duas mãos para puxar o corpo do promotor para baixo, deixando-o sentado em suas coxas.

Jinyoung continuou sem responder, recusando-se a assumir para si mesmo que as palavras ditas pelo amigo promotor momentos antes eram verdadeiras. Ao invés disso, ele permitiu que seus joelhos se afastassem um pouco mais e seu quadril escorregasse para frente.

Suas mãos se ocuparam em agarrar os ombros do Kim como se ele precisasse daquilo para continuar tendo coragem, uma de suas palmas seguiu para a nuca do mais novo, seus dedos serpentearam por ali e depois se enroscaram nos fios incrivelmente macios.

— Eu teria feito tanta coisa antes, Kim.

Sem que Yugyeom realmente acreditasse que aquilo fosse levado até o fim, e pegando-o de surpresa, Park Jinyoung cedeu à tensão sexual que envolvia os dois e uniu seus lábios aos lábios levemente inchados do Kim.

Não existiu um breve momento sutil, onde os lábios se buscariam e se tocariam suavemente, a tensão cresceu por tempo demais e se tornou forte demais para que qualquer um dos dois fizesse algo com calma.

Os corpos se buscaram como se aquele contato fosse algo comum, as bocas se encaixavam como se já estivessem acostumadas com aquilo, as línguas se enroscavam como se já conhecessem muito bem uma a outra. Era estranho por ser inesperado, mas era bom o suficiente para inflamar a tensão já existente e transformá-la em algo mais.

O Kim sentiu-se na obrigação de descer suas palmas para a bunda que tanto observou em seus dias no tribunal, apertando com força cada um dos lados quando o promotor ousou ao rebolar firmemente. Suas mãos instigaram e incentivaram os movimentos que eram feitos despudoradamente em seu colo, sem a mínima intenção de parar.

“Você é um idiota, isso sim. Esse ódio todo não passa de tensão sexual, beija ele pra você ver se isso não melhora.”

O beijo tornava-se agressivo a cada segundo que passava, as carnes eram esfregadas uma na outra buscando por firmeza, por calor. Jinyoung se despiu de qualquer bom senso que deveria pautar suas ações com seu cliente e passou a colocar cada vez mais pressão em seu quadril.

Yugyeom era incentivado pela forma com que o Park parecia entregue ao contato, passando a levantar o próprio quadril sempre que sentia o promotor buscar por mais e esquecendo-se totalmente de seu lábio machucado e seu corpo dolorido.

O Park findou o beijo apenas para arfar quando sentiu as mãos em seu corpo apertarem sua bunda com mais força, suas mãos apertavam os ombros do Kim quando ele deixou que sua boca se aproximasse da pele abaixo da orelha de seu cliente.

Nenhum dos dois parecia se lembrar de que eles estavam em uma das salas de reunião do tribunal, e que serem pegos daquela forma ali dentro, quando deveriam estar tendo somente um contato profissional, seria mais prejudicial para o Park do que para o Kim.

Yugyeom arfou quando beijos e mordidas foram deixadas em seu pescoço, sentindo sua pele se arrepiar pela intensidade que o promotor colocava ali, pouco se importando se manchas vermelhas fossem aparecer depois.

Foi quando as mãos ágeis do mais velho escorregaram pela blusa clara do Kim, indo em direção ao zíper de sua calça e já o abrindo, que Yugyeom percebeu que eles precisavam parar.

Uma de suas mãos foi imediatamente para o zíper de sua calça, afastando o promotor dali, enquanto que a outra apertava o corpo acima do seu na tentativa de mantê-lo parado.

— Park...

O promotor percebeu que seu toque já não era mais bem vindo e deixou com que seu tronco se afastasse minimamente. Os dois pares de olhos se buscaram, tentando afirmar um para o outro que ninguém ali tinha ultrapassado algum limite.

Jinyoung não viu irritação ou desconforto nos olhos do Kim, e foi por isso que ele se inclinou novamente e tomou aqueles lábios para si. O ósculo, mesmo que desesperado, não durou muito mais depois que o promotor voltou a se mexer no colo de seu cliente.

— Jinyoung. – O Kim chamou baixo, seu hálito batendo na bochecha do promotor. – Me defenda no tribunal e então a gente termina isso.


[...]


Kim Yugyeom tinha plena certeza de que nem todos aqueles olhares que voavam para si sempre que pisava no tribunal eram de desprezo. Ele sempre foi bom em perceber emoções alheias, e aquilo o ajudava a perceber a forma desejosa que algumas mulheres e homens olhavam para si.

Não estava sendo diferente naquela manhã. Enquanto terminava o segundo pirulito do dia, o Kim desfilava pelos corredores tão conhecidos por si até alcançar a sala onde aconteceria sua audiência. Ele passou pelo batente e se refugiou lá dentro.

Mais de uma semana se passou desde que Park Jinyoung e Kim Yugyeom se beijaram em uma das salas de reunião do tribunal.

Depois que o Kim findou a rodada de beijos, tirou o promotor de seu colo e saiu do cômodo pequeno deixando a promessa de que os dois dariam continuidade àquilo, o promotor não conseguiu pensar em outra coisa que não fosse o risco que seu emprego correu por um capricho seu.

Qualquer pessoa poderia ter entrado na sala e flagrado os dois aos beijos, qualquer um poderia ter visto a forma desesperada que o Park rebolava. E se isso tivesse acontecido, ele teria saído dali direto para sua sala guardar suas coisas e entrado para a lista de desempregados.

Sua mente não parava de reprisar para si o nível de intimidade que teria sido exposto se uma pessoa visse como seus lábios combinavam bem com os lábios do Kim, ou visse como as mãos grandes dele faziam um bom trabalho em apertar seu corpo, ou visse como ele mesmo estava muito mais do que entregue.

Alguém poderia ter visto como ele estava focado no Kim ao ponto de ter tentado abrir a calça dele somente para aprofundar mais o que tinham.

E era bem difícil não pensar nessas coisas quando o próprio Kim estava sentado na cadeira ao seu lado enquanto o juiz terminava de fazer suas últimas considerações.

— Declaro Kim Yugyeom inocente da acusação de assalto à mão armada.

Não aconteceu uma reunião para que o promotor pudesse orientar seu cliente, alinhar as informações e por fim decidirem juntos o que seria melhor, tudo que Jinyoung conseguiu fazer foi sussurrar para o Kim que ele ficasse de bico fechado, fosse breve quando questionado sobre algo e, em hipótese alguma, falasse que estava brigando com outro homem.

Yugyeom fez como foi pedido depois de reparar em como o promotor evitava olhá-lo nos olhos.

Aquele foi o único contato entre os dois antes do início da audiência. Após o juiz declarar a sessão aberta, o Park transformou-se e não deixou que a bagunça em sua mente transparecesse para suas ações.

Sua defesa foi impecável, como sempre era, e o Kim ficou admirado ao ver que o promotor tinha se comportado como um adolescente inseguro minutos antes de mostrar sua postura incontestável como um advogado realmente bom no que faz. Pareciam duas pessoas diferentes.

Tanto o acusado quanto o promotor se levantaram de suas cadeiras e começaram a caminhar para sair daquela sala. Jinyoung reparou na forma com que os seguranças e outros promotores do prédio olhavam para o Kim com certo desprezo, reparou também que Yugyeom permanecia inalterado pelos olhares que recebia.

Ou o Kim estava acostumado, ou ele simplesmente não se importava.

Ambos continuavam a caminhar lado a lado, com passos firmes e certos em direção ao destino que Yugyeom não sabia qual era.

A verdade é que ele estava simplesmente buscando por um pequeno momento a sós com o promotor, por isso que segui-lo pelos corredores bem arrumados do tribunal parecia uma boa ideia. Jinyoung percebeu que estava sendo acompanhado de perto em sua caminhada até sua sala, mas não se importava. Ele precisava falar para o Kim que aquilo foi um erro e que não se repetiria.

Chegando até a porta que carregava seu nome, o Park abriu-a e passou por ela indo direto para sua mesa a tempo de ver o Kim fecha-la.

— Caso resolvido, Kim.

Jinyoung ficou observando enquanto o homem se acomodava na cadeira a frente de sua mesa. Sua postura estava melhor do que no outro dia, seus cortes estavam cicatrizando bem e sua mão não estava mais enfaixada.

As roupas do dia eram limpas, como deveriam ser. Sinal de que ele não brigou novamente ou de que ao menos trocou de roupa antes de ir até o tribunal.

Yugyeom meneou a cabeça em resposta ao comentário do promotor.

— Eu pedi aquele caso do assediador. – O Kim não conseguiu evitar sua expressão de surpresa. – Se depender de mim, ele vai apodrecer na cadeia.

Um breve silêncio se instalou novamente e o Park deixou-se ser observado.

Yugyeom parecia estar em busca de algo quando observou com atenção o promotor. Mais um terno feito sob medida cobria seu corpo, fazendo o Kim pensar em como gente rica gosta de gastar dinheiro com luxos desnecessários. Os fios antes alinhados perfeitamente estavam um pouco bagunçados naquela manhã e o Kim perguntou-se o motivo daquilo.

Um penteado desalinhado não combinava com o terno, o sapato e o relógio de grife.

— Então você ouviu o que eu falei aquele dia.

— Cada palavra – o Park respondeu enquanto assentia.

— Sendo assim você também ouviu que nós temos assuntos pendentes para resolver.

Jinyoung respirou fundo e espalmou as mãos na mesa a sua frente. Ele fitou os arquivos ali posicionados de forma alinhada e relembrou sua decisão de não deixar aquilo seguir por outros rumos.

— Eu não acho que a gente deveria repetir aquilo.

Sua fala saiu enquanto seus olhos ainda estavam grudados em sua mesa.

— Não? – Jinyoung negou. – Então olha nos meus olhos e fala isso.

Jinyoung não foi capaz de fazer como pedido. Por algum motivo, toda sua coragem de colocar em prática sua decisão sumiu de um momento para o outro.

— Olha pra mim, Park.

Sendo uma surpresa para si, o promotor imediatamente ergueu os olhos para fitar o homem a sua frente, observando de longe a calça larga e a jaqueta jeans que vestiam seu corpo.

— Então você não quer continuar o que começamos?

O olhar penetrante do Kim fazia o Park sentir-se acanhado. Era estranha a forma com que os dois pareciam ter trocado de papéis naquela manhã, sendo o promotor a sentir-se intimidado e o Kim a sentir-se confiante.

Talvez fosse justamente a aparente incapacidade do Kim de deixar-se ser encurralado que desconcertasse tanto o Park. Yugyeom parecia ser alguém totalmente diferente de quem realmente era, e isso o promotor conseguia afirmar somente pelo breve momento sincero que os dois tiveram anteriormente quando Jinyoung foi arrastado para a realidade.

Ouvir de forma direta que sua realidade não era a realidade de outras pessoas foi um balde de água fria para a arrogância do Park.

— Eu te fiz uma pergunta.

Park Jinyoung respirou fundo mais uma vez e jogou para os ares seus modos.

— Isso não teria acontecido se você não tivesse me puxado pra perto.

Yugyeom odiava na mesma medida que achava engraçada a necessidade de fugir de certos assuntos que o Park tinha.

— Foi literalmente você que sentou no meu colo e começou a se esfregar em mim.

— Você me puxou primeiro.

— E você não me parou. – Jinyoung vacilou. – Eu te obriguei a algo?

Yugyeom encarava bem o homem a sua frente ao vê-lo negar.

— Pois então não fale como se eu fosse o único culpado.

O Kim se levantou da cadeira confortável, passou a mão no cabelo colocando seus fios para trás e manteve seu contato visual com o promotor. Jinyoung se odiou por reparar demais em como os dedos longos serpentearam pelo cabelo de seu cliente.

— Meu endereço tá na ficha que você tem, te espero em casa às sete horas de hoje.

Jinyoung não soube o que responder quando ficou fitando as costas do Kim viradas para si no momento em que ele caminhava até a porta.

Antes que atingisse a maçaneta, ela se mexeu e provocou a abertura da porta, relevando um promotor desconhecido para o Kim, mas bem familiar para o Park. Yugyeom foi educado e cumprimentou o homem que entrava no recinto antes de se virar para Jinyoung uma última vez e piscar para ele.

O Park viu Youngjae se acomodar na cadeira onde o Kim estava sentado antes e deixou seus ombros caírem de cansaço.

Mais tarde naquele dia, Park Jinyoung usou um papel de rascunho para anotar o endereço de Kim Yugyeom antes de ir embora.


[...]


Já passavam vinte três minutos desde que o relógio marcou sete horas da noite quando o promotor estacionou o carro em frente ao prédio pequeno e de fachada gasta. Seus olhos investigaram toda a pintura descascada e manchada que contornava as janelas desbotadas enquanto suas mãos apertavam o volante.

Algo dentro de si se agitava demais e não deixava claro qual era o motivo exato de tanta comoção; vontade de entrar naquele apartamento acabar de vez com a tensão entre os dois, ou vontade de ligar o carro e ir sumir dali.

Ele sabia bem que poderia ir embora e fingir que nunca sequer cogitou a possibilidade de se encontrar com o Kim em um lugar privado, Yugyeom não iria atrás de si somente por causa de alguns amassos interrompidos. Se ele fosse embora naquele segundo, todas as possibilidades morreriam.

O problema é que a vontade que crescia em seu âmago não morreria com essas possibilidades.

E foi somente pensando em não ficar com aquela sessão breve de pegação em sua memória, atormentando-o por sabe-se lá quanto tempo, que o Park finalmente saiu de dentro de seu carro e caminhou até atravessar a rua.

Jinyoung escolheu não pensar muito enquanto passava pelo portão do prédio, subindo seis lances de escada e encontrando algumas crianças pelo caminho, observando os desenhos espalhados pelas paredes dos corredores. Chegando ao terceiro andar, ele foi até a porta de número trinta e cinco e bateu nela duas vezes.

O pouco tempo que o promotor teve que gastar ali parado enquanto esperava ser atendido foi o suficiente para que dúvidas surgissem em sua mente, quase o fazendo desistir daquilo. Mas antes que sua coragem evaporasse, a porta do trinta e cinco abriu e Yugyeom apareceu ali.

Vestido em um conjunto de moletom e um par de pantufas, o Kim parecia muito mais novo do que quando estava com suas jaquetas de couro falso e calças largas. Dando espaço para o promotor passar, o dono do apartamento deu um passo para o lado.

Jinyoung deixou seus sapatos na entrada e calçou uma pantufa indicada pelo Kim. Ele caminhou com calma para dentro do apartamento, ouvindo a porta ser fechada atrás de si enquanto se aproximava do sofá.

Seus olhos foram rápidos em reparar na decoração simples do apartamento limpo e muito cheiroso. A TV pequena fixada na parede, o único sofá da sala, a pequena mesa de centro e a grande janela que permitia que a luz da lua entrasse no cômodo davam um ar calmo para o lugar. Jinyoung se sentiu calmo ali dentro.

Cada coisa parecia ter seu lugar certo e o dono do apartamento provavelmente se dedicava para manter as coisas daquela forma. Quem pisasse dentro daquele apartamento veria um homem muito diferente do homem que andava pelo tribunal. Kim Yugyeom era extremamente organizado e cuidadoso com seu apartamento, isso ficou óbvio para o promotor.

— É uma das poucas coisas que eu tenho que foram conquistadas com muito suor, seria injusto não cuidar.

O dono do apartamento percebeu que o promotor corria os olhos por cada canto de sua sala, conseguindo ver as sobrancelhas franzidas que mostravam a concentração do Park em cada pedaço de seu apartamento.

— É aconchegante aqui.

Jinyoung não mentiu, mas se surpreendeu quando deu voz ao pensamento que rondava sua mente desde que chegou ali. Mesmo sendo pequeno se comparado à casa onde mora, o apartamento do Kim parecia verdadeiramente como uma casa deveria ser, segundo o promotor.

Yugyeom sorriu mínimo.

— Fique à vontade, eu to terminando a janta.

O Park assentiu olhando para o Kim, vendo-o virar as costas para si e se afastar em direção à cozinha separada por um balcão.

Seus olhos se ocupavam com os móveis bem conservados envolvidos por algumas partículas de pó que nem chegavam a formar uma camada, mas sua mente trabalhava acelerada para achar algum motivo, alguma justificativa que explicasse a sua presença na casa de um homem com quem ele não deveria se envolver.

Para si, não existia uma justificativa razoável para o que estava fazendo. A situação não fazia sentido, e pareceu fazer menos ainda quando ele teve a visão do Kim de costas para si mexendo em alguma panela no fogão.

A forma que ele estava vestido, a forma natural que os dois se encontraram, a falta de estranhamento que um tinha com a presença do outro, o silêncio que nem de longe chegava a ser desconfortável. Tudo aquilo era doméstico demais.

Não estava certo, não era daquela forma que deveria ser, o Kim não deveria trata-lo como algo além de um caso de uma noite.

Mas ali estava o dono do apartamento cozinhando para os dois.

— Park, vai lavar a mão. Tá pronto.

Deixando seus pensamentos e suas preocupações para trás, e percebendo que passou tempo demais mergulhado nelas, o promotor seguiu até a porta indicada pelo Kim, lavou suas mãos e imediatamente voltou para a cozinha, escolhendo o assento a frente do dono da residência.

A comida seria uma sopa, Jinyoung percebeu. O cheiro estava bom o suficiente para fazer seu estômago se contrair de fome, por isso ele não se fez de tímido antes de começar a experimentar cada um dos pratos ali expostos sem ao menos esperar pelo anfitrião.

Yugyeom comia devagar enquanto observava o Park. Seus olhos eram rápidos em perceber a confusão demonstrada pela postura do promotor, entregando que ele pensava muito em algo que não estava falando, ou que se questionava continuamente sobre aquilo que estava acontecendo, usando a comida a seu favor como uma distração.

O Kim mesmo não poderia pensar diferente, era estranho estar com Park Jinyoung em sua cozinha. O homem que constantemente destilava ódio para si parecia tão inofensivo quando estava concentrado na comida daquela forma.

— Eu acho que você quer falar algo.

Jinyoung se sobressaltou quando ouviu a outra voz e se lembrou de que não estava sozinho. Seus pensamentos variavam em pensar no quão estranha era aquela situação e no quão boa aquela comida estava.

— Isso é estranho.

Yugyeom teve o par de olhos em si.

— Isso?

— Nós dois jantando juntos no seu apartamento. Até uma semana atrás eu queria fazer picadinho de você.

Yugyeom riu soprado ao perceber que o clima parecia menos pesado.

— Bom, eu sei que você esperava outra coisa vindo aqui, mas eu tava com fome e achei falta de educação não te oferecer nada.

Jinyoung viu que o mais novo parecia sincero em sua fala, sem a intenção de provoca-lo ou algo do tipo. Ele concordou e deixou que sua atenção voltasse para a comida quando viu o Kim fazer o mesmo.

Ambos gastavam seu tempo focados em se alimentar, sentindo-se incrivelmente mais leves depois que o gelo do ambiente foi quebrado.

O promotor não conseguiu deixar seu lado curioso de lado por muito tempo, voltando a pensar no que povoou sua mente durante a semana. Não fazia sentido o Kim viver da forma que viva e estar conformado com aquilo, Yugyeom definitivamente não era o tipo de pessoa que sentia prazer em gerar problemas, mesmo que em muitas ocasiões ele desse a entender o contrário.

Naquela noite, podendo conhecer o apartamento tão bem cuidado, a calma que envolvia o Kim, a forma que ele se dedicou a cozinhar algo, tudo fez menos sentido ainda.

Estava ficando difícil acreditar que o Kim criminoso era o mesmo Kim que estava sentado a sua frente fazendo barulho enquanto comia.

— Eu to vendo a fumaça saindo das suas orelhas, Park.

Jinyoung se repreendeu por ter se deixado levar por seus pensamentos mais uma vez naquela noite.

— Por que você comete todos aqueles crimes?

Bebendo o último gole do caldo da sua sopa, Jinyoung deixou seus talheres e pratos de lado, limpou a boca e se recostou na cadeira, passando a observar o Kim.

Yugyeom respirou fundo e fez o mesmo com seus pratos e talheres. Recostando-se na cadeira, seus olhos fitavam as louças deixadas na mesa pelos dois homens enquanto ele parecia ponderar sobre o que deveria responder.

— Sabe, Park. Vou te contar um segredo hoje. – Yugyeom levantou o olhar para o promotor. – Eu sou inocente da maioria deles.

Jinyoung primeiramente achou ter ouvido errado, talvez a fala tivesse sido criada pela sua mente desesperada por alguma justificativa. Depois ele cogitou ser uma brincadeira do Kim, mas ver o par de olhos lhe investigando tão intensamente afastou a possibilidade.

— Como assim?

Yugyeom relaxou o corpo e respirou fundo. Ele tinha começado a falar, e agora precisava continuar.

— Quantas vezes eu bebi e dirigi?

— Várias – o Kim riu soprado.

— Duas, Park. Duas vezes alguns anos atrás. – Yugyeom viu a dúvida tomando o rosto do promotor. – Na segunda vez eu quase perdi o controle do carro. Se eu não tivesse disso pego naquela noite, eu nunca mais teria dirigido bêbado, de qualquer forma. Depois disso eu não me meti em encrenca.

— Como não? – Jinyoung tinha que estar ouvindo errado. – Você tem uma ficha criminal bem recheada.

— Tenho. – O Park pensou ter visto tristeza no mais novo. – Por escolha própria.

O rumo da conversa parecia desafiar o bom senso do Park. Estava se tornando difícil controlar sua irritação com a ideia de que o Kim estava brincando consigo em sua mente.

— Do que você tá falando agora?

— Você falou sobre oportunidades outro dia, Park. – Jinyoung assentiu desgostoso de lembrar-se da forma que falou com o Kim naquela manhã. – Acontece que eu nunca tive e nem tenho oportunidades, mas as crianças do bairro ainda têm. Dói em mim ver elas desperdiçando isso pela ideia romântica de badboy que você mesmo mencionou. É por ver o que elas estão fazendo que quando alguma mãe me liga desesperada porque o filho fez besteira, eu apareço e dou um jeito de assumir a culpa.

O cômodo mergulho em um silêncio que apenas dava espaço para o barulho quase inaudível da respiração dos dois homens.

Jinyoung usava tudo que aprendeu em seus anos de experiência para tentar descobrir se Yugyeom mentia para si, investigando a postura corporal, o contato visual, a respiração, e tentando perceber os batimentos cardíacos do mais novo. Mesmo com seu esforço, nada apareceu para si. O Kim estava tão confortável como no dia em que se encontraram no tribunal.

Yugyeom continuou a falar.

— Depois das duas primeiras passagens, as duas por dirigir bêbado, as únicas que realmente foram minha culpa foram as de agressão. E eu já te expliquei essas.

— Você tá destruindo seu futuro.

— Eu não tenho futuro, Park, não mais. Mas aquelas crianças têm.

Abalado demais pela declaração que nem deveria ter mexido consigo, Jinyoung optou por apenas assentir e abster-se de falar. Nada inteligente sairia de sua boca, não enquanto ele ainda estivesse chocado demais com o que tinha acabado de descobrir.

Sua saída para a situação foi começar a empilhar os pratos dispostos na mesa, juntar os talheres em seguida, e se levantar. Ele levou cada uma das coisas até a pia que não ficava muito longe, gastando duas viagens até ter a mesa livre.

Suas ações não foram interrompidas ou questionadas, e o Park agradecia mentalmente ao Kim por permitir mais um momento de silêncio entre eles, seus pensamentos clamavam por uma folga.

Era estranho para si pensar que a imagem do Kim que ele tinha montado existia somente dentro de sua cabeça. Estar vendo aquele homem tão doméstico já foi um choque para si, agora saber que ele não era o criminoso que todos acham que ele é estava sendo algo totalmente diferente.

Uma culpa sorrateira começava a tomar conta de si quando Jinyoung passou a se lembrar de cada situação na qual tratou o Kim com desprezo, por vezes ridicularizando-o na frente de outras pessoas ao chama-lo de criminoso e outros nomes que não queria lembrar.

Perceber aquilo e, ao mesmo tempo, lembrar-se do que disse na semana anterior parecia um tanto assustador. O que ele quis dizer com “se você não fosse um criminoso”? Aquela resposta deveria ser achada o quanto antes, porque depois de expor tudo aquilo, o Kim não era mais exatamente um criminoso.

A louça já estava no final e nenhuma de suas dúvidas tinha sumido. Pelo contrário, a cada segundo parecia que mais um questionamento tomava lugar em sua mente.

Yugyeom ficou observando em silêncio durante todo aquele tempo, prestando atenção na cabeça baixa do homem que tanto o desafiava. Quando viu que faltava somente um prato para enxaguar, o Kim levantou-se e seguiu até o outro homem, colocando o peitoral colado às costas do Park.

Jinyoung se assustou um pouco por estar muito longe em suas divagações quando sentiu o par de mãos tocar sua cintura. Suas costas receberam o calor do corpo alheio e ele sentiu o mais novo apoiar o queixo em um de seus ombros.

— Tá desapontado porque eu não sou o criminoso que você achava, Park?

Foi uma pergunta sem segundas intenções, mas ouvir aquela voz bonita soando tão próxima de seu ouvido provocou um arrepio em seu corpo.

— Não é isso, eu só to meio chocado.

Não somente pela declaração do Kim, o choque do promotor também era mérito da inusitada intimidade explícita que envolvia os dois.

— Entendi. – Yugyeom deixou um selar molhado no pescoço do Park. – Você ainda precisa pensar mais?

Não estava sob controle do promotor as reações que seu corpo entregava, muito menos as vontades que pareciam tomar força a cada segundo que o Kim passava segurando sua cintura daquela forma.

— Não preciso. – Jinyoung ponderou antes de continuar. – É incrível essa sua capacidade de mudar o clima de uma hora pra outra.

O dono do apartamento riu soprado.

— A gente pode terminar o que começou aquele dia? – Yugyeom cruzou suas mãos na barriga do promotor e fez todo seu corpo tocar no outro homem. – Ou você quer conversar mais?

Jinyoung suspirou e relaxou no toque alheio.

— Que saco, Kim. Para de ser compreensivo.

Yugyeom riu baixo e o promotor sentiu o ar quente bater em sua nuca, um pouco antes de sentir os lábios no mesmo lugar.

— Você quer que eu fale que agora nós vamos dar continuidade no que você fazia no meu colo aquele dia?

— Quero...

— Você quer isso, Jinyoung?

O promotor girou nos braços alheios e apoiou as palmas nos ombros do Kim, seus olhos buscaram o olhar alheio e ele foi firme quando respondeu.

— Sim.

Os lábios se encontraram em mais um ósculo intenso e quase desesperado, nada carinhoso e que deixava o desejo de ambos exposto demais, palpável demais.

A noite teve início naquele primeiro beijo compartilhado na cozinha do Kim, e findou-se em um contato sublime que era estranho para ambos ao mesmo tempo em que era bom demais para interromper.

8 de Julio de 2021 a las 00:52 0 Reporte Insertar Seguir historia
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