O copo artista Seguir historia

Quando um copo se enche por completo, ele transborda.

Ao menos, deveria ser assim, certo?

Mas, em algum momento, notou-se um copo.

Um copo que não transbordou.

Não importa quanta água houvesse, ele não transbordou.

Talvez fosse uma conspiração do destino,

Erro na matrix,

Karma de vidas passadas,

Punição divina

Ou, simplesmente, incapacidade de transbordar...

Mas toda a água ele acumulou.

E isso durou tanto tempo,

Durante anos, várias águas outros copos lhe derramaram, dizendo:

"Não há problema, ele não transborda, ele pode nos ajudar"

E ele o fazia. Ele apenas as guardava.

Com um sorriso, apenas as guardava...

Já havia desistido,

Após tanto tempo cheio,

Não imaginava-se sem água.

Era aterrorizante se imaginar esvaziando,

Ao mesmo tempo era sufocante

Não ter espaço nem para si mesmo.

Sabia que uma vez que conseguisse vazar aquela água, se sentiria mais leve.

Mas também sabia que se um dia o fizesse,

Outros copos molharia.

Sabia que se uma gota transbordasse,

Não pararia.

Tudo se tornaria molhado,

Perigoso, embaçado,

E, por isso, ele nunca se perdoaria.

Até que um dia, ele avistou um papel.

Não tinha certeza qual era sua utilidade,

Mas sua intuição o dizia que devia se aproximar.

Em um movimento, o papel se molhou.

O copo, perplexo, observou

Que com o tempo, ele secou.

Aquilo era estranho,

Novo,

Libertador...

Graças ao papel se libertou...

E, pouco a pouco, esvaziou.

A única forma de transbordar que conhecia,

Ele a nomeou: arte.

Algo na sua vida se iluminou.

Após tantas águas, ele se viu seco.

Molhar o papel com suas lágrimas,

Se tornou sua terapia.

Algo que muitos chamavam de "inanimado",

"Sem vida"

Foi o que criou um novo ser:

Criou um copo artista.