Faz um tempo que não escrevo, mas há algumas semanas acabei topando com uma música razoavelmente velha que talvez alguns escritores mais novos da plataforma não conheçam (ou talvez conheçam por conta do filme), e a surpresa que senti ao ouvir aquela letra me fez quedar num silêncio um tanto nostálgico e reflexivo, despontando uma possível escrita a respeito.
Eu devia ter lá meus 12/13 anos de idade quando o filme Ela é o Cara chegou no Brasil (uma ótima sessão da tarde) e a música do final desse filme se tornaria uma das minhas favoritas pelos próximos meses, voltando vez ou outra nas lembranças do futuro. Quem viu o filme sabe que música é essa: Move Along do grupo All-American Rejects (uma banda não tão conhecida aqui no Brasil).
Na época, eu tocava mentalmente essa música no caminho pra escola (sim, eu andava à pé pra ir até lá - quantas crianças já tiveram essa oportunidade?), me imaginando em inúmeras situações heroicas, constrangedoras, cômicas e românticas que poderiam existir apenas na cabeça de uma criança mesmo, e seguia quase dançando pela calçada quebrada ao som daquilo. O ritmo era animado, como um chamado à aventura! Aquela música era show!
Então, há algumas semanas, como disse no começo, topei de novo com esse som que não ouvia há muitos anos. Decidi colocar a música pra tocar no Youtube e pronto. Aquele ritmo inicial me pegou de jeito, como costumava pegar quando eu era criança a caminho das aulas...
Só que, veja só, algo diferente me tocou. Percebi que meu corpo não seguia o ritmo dos instrumentos como faria antigamente: eu me peguei sentado na cadeira, olhando o tampo da mesa, mal percebendo os passarinhos cantarem lá fora. Meus ouvidos, depois de tantos anos, se fixaram à letra e minha mente acabou pensando sobre o significado dessa canção.
É realmente instigante notar como as paisagens ao nosso redor podem se modificar com o passar dos anos. Não estou dizendo numa modificação física do tipo um prédio que costumava existir naquela quadra e que foi demolido pra construção de um estacionamento 24h. Não, não. Falo daquela paisagem que você vê todo dia, do mesmo lugar, por anos a fio, que de repente parece ser outra completamente diferente apenas porque você passou a de fato enxergá-la como ela sempre foi. Você só nunca parou pra prestar atenção...
Foi mais ou menos isso que aconteceu comigo ao ouvir (de verdade!) aquela música depois de anos.
Mesmo que alguns a interpretem de uma maneira diferente ou que contem histórias outras a respeito da motivação da banda ao escrever essa letra, existem passagens dela que falam em alto e bom som sobre: desesperança, pensamentos ruins e mensagens positivas.
Se ninguém nunca ouviu essa música ou se você não sabe inglês, não tem problema: vou deixar uma tradução sobre ela agorinha (isso é a letra de uma música, então lembremos da licença poética):
Vá em frente enquanto desperdiça seus dias com pensamentos
Quando você cai, todo mundo fica de pé
Mais um dia, e você já teve sua cota de ruína
Com a vida mantida em suas
Mãos que estão tremendo de frio
Estas mãos são destinadas a segurar
Fale comigo
Quando tudo o que você tem a manter é forte
Siga em frente, siga em frente como eu sei que você faz
E mesmo quando sua esperança se foi
Siga em frente, siga em frente só para conseguir atravessar
Siga em frente
Siga em frente
Então um dia em que você se perdeu completamente
Pode ser uma noite em que sua vida termina
Um coração assim que o levará a enganar
Toda a dor contida em suas
Mãos que estão tremendo de frio
Suas mãos são minhas para segurar
Fale comigo
Quando tudo o que você tem a manter é forte
Siga em frente, siga em frente como eu sei que você faz
E mesmo quando sua esperança se foi
Siga em frente, siga em frente só para conseguir atravessar
Siga em frente
(Continue, continue, continue, continue, continue)
Quando tudo está errado, nós seguimos em frente
(Continue, continue, continue, continue, continue)
Quando tudo está errado, nós seguimos em frente
Em frente, em frente, em frente, em frente
Quando tudo o que você tem a manter é forte
Siga em frente, siga em frente como eu sei que você faz
E mesmo quando sua esperança se foi
Siga em frente, siga em frente só para conseguir atravessar
Quando tudo o que você tem a manter é forte
Siga em frente, siga em frente como eu sei que você faz
E mesmo quando sua esperança se foi
Siga em frente, siga em frente só para conseguir atravessar
Quando tudo o que você tem que manter é forte
Siga em frente, siga em frente como eu sei que você faz (sei que você faz)
E mesmo quando sua esperança se foi
Siga em frente, siga em frente só para conseguir atravessar
Retroceda o que está errado
Nós seguimos em frente
(Continue, continue, continue, continue, continue)
Retroceda o que está errado
Nós seguimos em frente
(Continue, continue, continue, continue, continue)
Retroceda o que está errado
Nós seguimos em frente
(Continue, continue, continue, continue, continue)
Retroceda o que está errado
Nós seguimos em frente
Essa música te toca diferente quando você cresce né? Quer dizer, quantas vezes não me peguei presa de um ciclo vicioso de pensamentos? Quantas vezes não desejei apenas segurar a mão de outra pessoa só para não ter a sensação de estar sozinho? Quantas vezes eu apenas "segui em frente" quando tudo deu errado? (sério, depois de vários anos optei pela seguinte filosofia de vida: planejar o mínimo possível para não acabar tudo em frustração) E quantas vezes eu não berrei a plenos pulmões quando o apartamento estava vazio: "Your hands are mine to hold/ Speak to me!!!!!"
Eu já perdi a conta de quantas pessoas terminaram com suas vidas numa noite... Já perdi a conta de quantas pessoas se desesperaram por frustrações amorosas... Já perdi a conta de quantas pessoas possuem suas mãos frias...
A gente é engraçado: prefere optar pela tristeza ao invés de seguir em frente na alegria. Prefere reclamar do dia chuvoso, em vez de sair mundo afora cantando na chuva.
Na tradução de um poema que gosto muito existe o seguinte verso: "(...) Um paraíso numa flor selvagem". Os primeiros versos de Blake me tocam fundo como a música do All-American Rejects, pois me mostram quantas potencialidades existem aqui dentro.
Quer dizer, se uma flor é capaz de conter o paraíso ou o universo,
que dirá o que há dentro de você!
Existe algo em tudo, inclusive em você mesmo.
E esse algo se chama Amor.
Sei que é difícil lembrar que o mundo ainda é um lugar lindo.
Mas a gente não pode pegar nosso coração seco e arrancá-lo do peito
Pois existe um eco ressoando nessa câmara sagrada: Escute-o!
É sutil como a luz da Lua, perene como as ondas do mar
E sussurra: "eu te amo, eu te amo, eu te amo..."
Existe um sábio chamado Kabir que escrevia uns poemas bacanas. Num desses, Kabir fala que "os mundos se alinham como contas". Imagem bonita né? Parece até mágica...
Não sei vocês, mas cresce em mim a propensão de pegar essas contas e ordená-las na jornada mais serena que eu encontrar...obviamente, dançando, ouvindo e cantando
MOVE ALONG!
Gracias por leer!
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