O céu estava completamente escuro, sem estrelas, até mesmo a lua me largou naquela noite. O vento soprava úmido sobre o meu rosto e frio deixava um breve aviso de que logo a chuva cairia.
Eu estava vagando em minha própria mente deixando meus pés se moverem sozinhos na direção mapeada inconscientemente. Preso em um pesadelo, meus olhos estavam cegos àquela noite.
Minhas lembranças resumiam-se ao piano marrom no canto da sala, as teclas de jade branca empoeiradas que haviam conduzido os meus sonhos em direções mais altas que as minhas expectativas. As notas desafinadas traziam de volta para dentro mim sentimentos que lutei para arrancar do coração antes que se enraizassem em minha alma e me devorassem.
Tudo se resumia ao piano marrom no canto...
Submergi das lembranças ao grito de socorro dos pulmões pedindo oxigênio percebendo que o ar havia sido roubado por minha mente. O toque do celular devolveu-me a consciência e o controle sobre os pés.
Respirei pesado deixando o ar entrar novamente e puxei a mão trazendo junto o celular. Gotas finas de água chuviscaram na tela, a chuva começara cair sobre mim.
Levantei o rosto olhando o céu escuro sentindo a fina chuva tocar a minha pele. Fechei os olhos deixando aquela sensação fria percorrer o corpo.
Eu ainda estava vivo...
Baixei o rosto e tornei a abrir os olhos dando-me conta de onde estava e para onde meus pés haviam me guiado. Do outro lado da rua, ele me esperava.
Através do vidro estava o piano marrom.
Virei o rosto apertando o aparelho em minha mão, e então meus olhos ofuscaram os meus pensamentos, medos e lembranças.
Embaixo de um dos bancos da praça — deserta àquele horário —, escondia-se um menino, pequeno, magricela e tão amedrontado quanto um filhotinho. A baixa temperatura o fazia encolher-se em buscar de aquecer seu corpo enquanto seus poucos dentes trincavam uns nos outros.
Caminhei em sua direção com a estranha sensação dentro de mim deixando cada passo mais rápido, apressado.
Eu precisava ir até ele.
Parei próximo ao banco e abaixei percebendo que os meus olhos não haviam se enganado.
— O que faz aqui criança? – questionei e estendi a mão para tocá-lo o vendo encolher-se de medo.
Recuei para não assustá-lo mais do que estava.
— Eu não vou te machucar.
Ele virou a cabeça tentando me olhar deixando-me ter uma visão melhor de seu rosto.
— Você pode confiar em mim? – estendi a mão.
Tremendo senti a pequena mão tocar a minha, estava fria, gélida.
— Está tudo bem. Vou te tirar da chuva.
Usei de todo cuidado e delicadeza para tirá-lo de debaixo do banco temendo assustá-lo para que não fugisse de mim.
Ele me fitou com um olhar puro e inocente, parecia está me contando uma história, a sua história. As palavras deveriam tentar traduzir o que os seus olhos me diziam, mas elas não se faziam presentes.
Por que me olhava assim?
Tirei minha blusa de frio e coloquei sobre ele.
— Vai ficar tudo bem...
Levantei levando a criança em meus braços deixando-a próxima ao meu corpo para protegê-la do frio e da chuva.
Naquela noite de inverno minha mente deixou as memórias queimarem junto ao piano no momento em que os pequenos braços abraçaram meu corpo rompendo as raízes presas na minha alma que sufocavam o coração.
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