lara-one Lara One

Casamento, família, filhos e muita confusão. Uma história cheia de momentos da vida de dois casais nada comuns. Tudo culmina com um fato na noite do boliche, gerando a fúria delas e sobrando o castigo pra eles. Querendo vingança, Mulder e Krycek tem a ideia de inscreverem Scully e Barbara no Troca de Esposas. Reza a lenda que quem assusta é assustado. As baixinhas vingativas armam um plano e decidem trocar de maridos, colocando Mulder e Krycek numa confusão dos infernos. Homens contra mulheres, mulheres contra homens. Façam suas apostas.


Fanfiction Series/Doramas/Novelas Sólo para mayores de 18.

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S07#08 - CASAMENTO, TRAPAÇAS E NARIZES FUMEGANTES


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INTRODUÇÃO AO EPISÓDIO:


Residência dos Mulder - Virgínia - 2:21 P.M.

Perto da piscina, Victoria, oito anos, deitada na cadeira, de boné com aba pra trás e óculos escuros, vestindo um maiô com estampas de alienígenas.

Mulder se aproxima, de boné com a aba pra trás, óculos escuros e uma bermuda com estampas de alienígenas. Mulder olha pra filha igual a ele e sorri bobo. Deita-se na cadeira. Leva os braços atrás da cabeça.Se ajeita, sorrindo, ficando confortável e relaxado.

Victoria imita o pai, levando os braços atrás da cabeça e sorrindo.

SCULLY: - (GRITA) Eu não acredito!!!!

Mulder e Victoria tiram o sorriso do rosto ao mesmo tempo, mas continuam deitados e relaxados. Gritos de uma Scully irritada são ouvidos.

SCULLY: - (GRITA) Eu vou enlouquecer!!!

Mulder e Victoria ignoram. Ao mesmo tempo se ajeitam mais ainda na cadeira, tomando sol.

SCULLY: - (GRITA) Mulder e Victoria!!!!!! Eu vou arrancar as orelhas dos dois!!!!

MULDER: - (DEBOCHADO)Aposto que esqueci o creme dental aberto.

VICTORIA: - (DEBOCHADA) Nah! Acho que deixei minha roupa suja fora do cesto.

Pai e filha suspiram, mas seguem ignorando.

SCULLY: - (GRITA) Eu mereço! Isso não é uma casa, é um chiqueiro de porquinhos rebeldes liderados pelo porcão!

Mulder e Victoria tiram os óculos ao mesmo tempo e fazem cara de pânico, olhando um para o outro.

MULDER: - Ela me chamou de porcão?

VICTORIA: - E eu de porquinha.

MULDER: - Quando a gente se casou, sua mãe me chamava de raposa. Viu? Nunca case. De raposa a porco em uma década!

VICTORIA: - (RINDO) O que será que houve?

MULDER: - Nem quero saber. Hoje é domingo. Sou inocente até que provem o contrário.

VICTORIA: - A mamãe tá sempre nervosa, não sabe ficar "sussa"!

MULDER: - E o que é "sussa"?

VICTORIA: - Sossegada.

MULDER: - Eu que o diga! Conheço a fera há mais tempo que você! Nunca foi "sussa".

Scully se aproxima, irritada, com Bryan no colo. Bryan tem molho e macarrão no rosto, na roupa, nos braços e até caindo pelos cabelos.

SCULLY: - (IRRITADA) Eu não disse pra guardarem as sobras do almoço na geladeira? Ahn? Deixaram na mesa. O Bryan pegou!

Bryan olha pra Mulder num beiço, com o rosto sujo. Mulder se levanta. Olha pra Scully num deboche. Pega um macarrão do cabelo do filho e leva à boca como se fosse uma minhoca e mastiga.

MULDER: - Adoro o seu macarrão, Scully. Sempre "al dente". Mas "al Bryan" também fica bom.

Victoria solta uma gargalhada, se revirando na cadeira. Mulder numa cara de deboche. Bryan olha pra eles e ri também. Scully séria.

SCULLY: - (IRRITADA) Pega o seu filho e dá um jeito nisso! Eu tenho a cozinha pra limpar antes que o Cookie coma todo aquele macarrão espalhado! E de pensar que ia passar a tarde assistindo Men in Trees e o pregador Eric!

MULDER: - Quem é o pregador Eric?

SCULLY: - O gostosão do Nicholas Lea! Ele é quente! Mas não, eu sou a escrava nessa casa, não tenho direito nem de assistir minha série favorita!

MULDER: -(DEBOCHADO) Nicholas Lea é um otário e não prega nada! Gostosão sou eu! E você adora canadenses, fala sério!

Scully, furiosa, entrega Bryan pra Mulder e volta de beiço pra casa. Mulder olha debochado pra Bryan.

MULDER: - E aí, Campeão? Hum? Que tal um banho de mangueira pra tirar esse macarrão todo?

VICTORIA: - Eu também quero!

MULDER: - Mas você pode entrar na piscina comigo.

VICTORIA: - É, mas banho de mangueira é mais divertido!

MULDER: - Ok, meus dois porquinhos, o porcão aqui vai ligar a mangueira, vamos fazer poças de lama, atirar um no outro e enlouquecer a Dana Scully.


Residência dos Krycek - 2:47 P.M.

Krycek na cozinha, abre e fecha gavetas e armários, já irritado e com a cara amarrada. Barbara grávida, atirada no sofá do estar íntimo, comendo pipocas com uma das mãos e assistindo TV, dando risada. Com a outra mão ela acaricia a barriga peluda do cachorro que está dormindo de barriga pra cima, num sono só, espremido entre ela e o encosto do sofá.

KRYCEK: - (IRRITADO) Eu sempre coloco tudo no mesmo lugar! Quando procuro, está em outro!

Rasputin se acorda, vira-se rapidamente, colocando a cabeça na perna de Barbara e olhando assustado pra Krycek. Barbara dando risadas, prestando atenção na TV.

KRYCEK: - (IRRITADO) Só queria saber o que a minha chave de fenda faz na gaveta dos talheres!

BARBARA: - Eu peguei pra fazer furinhos num vaso de plástico!

Krycek ergue a chave de fenda e olha incrédulo para a ponta com plástico derretido.

KRYCEK: - Legal. Era uma vez uma chave de fenda! E você encontrou a chave de fenda aqui ou na garagem? Depois eu perco metade do dia procurando as minhas ferramentas pra fazer as coisas! Eu não me casei com uma mulher, casei com uma criança crescida que não sabe o conceito de organização! Custa muito guardar as coisas no lugar? Se não quer ir até a garagem, deixa no cestinho que eu coloco de volta! Pra que eu coloquei aquele cestinho ali na entrada, ahn? Pra colocar ali tudo o que estiver fora do lugar pra ser guardado!

BARBARA: - Ai, meu saco de batatas! O fiscal da organização chegou! Um cestinho em cada peça da casa! É por essas e outras manias suas, que o Mulder fica sacaneando e te chamando de viado, ô "Maria da Frescura"! Eu nunca conheci um homem tão neura com organização! Eu me casei com um cara que banca o meu pai! Isso é o que dá casar com cara mais velho. Você é chato, Ratoncito! O que tá procurando aí nessa merda?

KRYCEK: - Estou há duas horas procurando a maldita da porra do abridor de latas, que eu coloquei na gaveta, na repartição dos abridores e que não está aqui!

BARBARA: - Sei lá, não peguei a maldita da porra do abridor de latas! Você tem tanta repartição pra organizar as coisas que vai ver nem sabe mais em que repartição colocou! Ou vai ver o abridor foi abduzido! Os aliens ficaram trancados na nave e precisaram improvisar uma porta!

Krycek olha pra ela, com aquele olhar sério e penetrante. Volta a procurar.

KRYCEK: -Rasputin, aonde você colocou o abridor de latas? Quantas vezes eu disse pra você não abrir sua própria comida? Olha, quer saber? Desisto dessa lata de conservas! Vou improvisar a receita com qualquer coisa que estiver na geladeira mesmo! É você quem vai comer!

Krycek abre a geladeira. Franze o cenho. Tira a lata de comida para cães, o abridor está cima dela. Krycek acena negativamente com a cabeça.

KRYCEK: - Estava na geladeira, em cima da comida do cachorro. Quem alimentou o cachorro hoje, ahn? Eu não fui. Acho que o Rasputin anda abrindo latas nessa casa. O pior é que quando se abre latas, se deve tirar o conteúdo que fica e colocar num recipiente fechado pra não estragar o resto! Entendeu, Rasputin? Isso se chama higiene e evita proliferação de bactérias e doenças!

BARBARA: - Ô minha nossa senhora do piti soviético, fui eu, homem de Deus! Nem me liguei nessa merda de abridor de lata! Agora vai fazer uma novela russa inteira por causa disso? Deixa eu assistir Californication em paz! Fica quieto! Você tá atrapalhando o meu Duchovny gostosão brincando de ser Hank!!!

KRYCEK: -(DEBOCHADO) Esse David Duchovny é um idiota! Gostosão sou eu! E se você fosse menos aloprada e mais organizada, a coisa andava nessa casa. Você vive sempre nas nuvens.

BARBARA: - Então atira em mim, quem sabe eu caio? Feito um pato, quá-quá-quá! Fala sério, Ratoncito, seu filho vai nascer a qualquer momento e você fica aí agitando por causa de abridor de lata? Você anda muito nervosinho. Eu, hein?

KRYCEK: - E o que tem a ver uma coisa com a outra? Já arrumou a sua sacola e a do Dimi? Porque a hora em que as contrações começarem, vamos ter que correr pro hospital. Não vai dar tempo pra nada. Eu já deixei a sua médica em alerta.

BARBARA: - É claro que já arrumei! Pensa que sou lesada da cabeça?

Krycek olha pra ela, sorri sacana com o canto da boca e não fala mais nada.

VINHETA DE ABERTURA: E VIVERAM... SE AMANDO E BRIGANDO PARA SEMPRE...



BLOCO 1:


CASAMENTO



Residência dos Mulder - Sótão - 5:29 P.M

[Som: Creedence Clearwater Revival - Have you ever seen the rain]

Computador ligado no editor de textos. Caneca de café. Pilhas de arquivos em pastas. Trabalho pra fazer.

Mulder dançando e batendo palmas no ritmo da música, mordendo os lábios.

Victoria dançando de olhos fechados, bem ritmada. Mulder se ajoelha e dá a mão pra ela. Os dois dançam agarradinhos. Mulder de olhos fechados, Victoria rindo.

A porta se abre. Scully segurando Bryan, que está com a chupeta na boca, apoiando ele no quadril. Mulder acena pra ela.

SCULLY: - Trabalhando, né, Mulder? E você, Docinho, não devia estar fazendo o dever de casa? O rei da procrastinação dando exemplo para a sua princesa!

Mulder ergue o rosto virando a cara pra ela, num deboche. Segue dançando com Victoria. Bryan olha pra eles e solta a chupeta, inclina o corpo pra trás como quem quer ir pro chão. Scully o ajeita no quadril. Bryan esperneia.

BRYAN: - Rah!!!!!!

SCULLY: - Não mesmo, você vai lá pra baixo comigo, sua avó tá aí.

BRYAN: - (BRAVO) Rahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh!!!!!!!!!!

Scully suspira e coloca Bryan sentado no chão. Ele alterna o olhar pra Mulder e pra Scully, cerrando o cenho num beiço.

SCULLY: - Vai. Vai lá com o seu pai e a sua irmã. Vai cheirar os dois!

MULDER: - Que maldade, Scully! Ele nem consegue engatinhar ainda!

SCULLY: - Ele tá ficando mimado e preguiçoso, Mulder.

Mulder se levanta e pega Bryan no colo. Começa a dançar com ele. Bryan faz festa. Mulder puxa Scully pra dançar. Scully acena negativamente com a cabeça, rindo.

SCULLY: - (RINDO) Mulder, não! A mamãe tá lá embaixo, me ajudando a fazer o jantar!

Victoria se agarra na cintura de Scully, a chamando pra dançar. Scully então dança com a filha. Bryan pula no colo de Mulder, como quem está dançando. Os quatro dançando. Meg chega na porta, secando as mãos no pano de prato. Abre um sorriso. Mulder entrega Bryan pra Scully e vai dançando até Meg, a tirando pra dançar. Meg joga o pano de prato no ombro e começa a dançar com Mulder.

MULDER: - (DEBOCHADO) Você sempre vem aqui, garota bonita?

MEG: - (SORRI) Fox, só você mesmo!

MULDER: - Tem compromisso ou pode namorar?

MEG: - Meu pai não me deixa namorar.

MULDER: - Ele tá certo. Você é nova demais pra namorar.

Os dois riem.


Residência dos Krycek - 6:11 P.M.

Barbara se apoiando na mesa de jantar e com a outra mão segurando a barriga, numa fisionomia de dor, fechando os olhos. Krycek sai da sala com a sacola de roupas.

KRYCEK: - Tá doendo muito?

BARBARA: - Não. Imagina! Só dói quando eu respiro!

KRYCEK: - Posso fazer algo pra ajudar?

BARBARA: - Use camisinha da próxima vez!

Krycek olha incrédulo pra ela.

KRYCEK: - Foi você quem queria desesperadamente um bebê! Não adianta, eu sou sempre culpado de tudo nessa vida. Se um cara cair morto há cinco quarteirões daqui foi o Krycek! Se o Mulder tiver dor de barriga, foi o Krycek. Se a Scully tiver uma gripe, ah só pode ser o Krycek. O Fumacinha tem um ataque cardíaco por causa do cigarro, não, foi o Alex Krycek! Um tsunami, um terremoto, um meteoro e o apocalipse, tudo culpa do Krycek! Quanta importância as pessoas me dão por nada! Ok, isso aí foi culpa minha mesmo.

Barbara segura o riso.

KRYCEK: -Vamos pro hospital, tá? Não gosto de ver você sofrendo.

Barbara morde os lábios e afirma com a cabeça.

BARBARA: - As contrações parecem ter piorado.

KRYCEK: - Vem, eu te ajudo.

BARBARA: - Ligou pra minha médica?

KRYCEK: - Sim, ela está de plantão no hospital. Está tudo pronto.

BARBARA: - Liga pra Scully. Eu quero ela comigo. A médica deixou Scully ajudar.

KRYCEK: - E eu? Não quer mesmo a minha presença, né? Vai me tirar o gostinho...

BARBARA: - Você vai pegar o celular e filmar o nascimento dele. Eu quero isso guardado. E não desmaia! Uhhhh! Que dor!!!!

KRYCEK: - (INDIGNADO) Eu não vou desmaiar! Já vi coisas bem mais assustadoras que um parto! Vem, vamos que não aguento ver você gemendo desse jeito! Até eu já tô com dor!

Krycek abre a porta e ajuda Barbara a sair. O cachorro vem correndo.

KRYCEK: - Você fica tomando conta da casa, Rasputin.

Krycek fecha a porta. Vai ajudando Barbara a chegar até o carro. Ela vai caminhando com ele devagarzinho e gemendo.

KRYCEK: - Quer que eu leve você no colo?

BARBARA: - Não, é bom caminhar, aumenta a dilatação. Uh, que dor! Espero que eu tenha puxado as mulheres da minha família aonde o parto é rápido, porque se tiver que esperar horas com essa dor eu vou morrer, Ratoncito! Uououou... Dói!!!

KRYCEK: - Você não vai morrer nada. Segura no carro aí que vou colocar essa sacola lá atrás.

Krycek abre a porta traseira da picape e atira a bolsa lá dentro. Barbara com a mão apoiando-se no carro e segurando a barriga com a outra.

BARBARA: - Ai não! Eu acho que eu quero fazer xixi!

KRYCEK: - Agora, Malyshka? Não dá pra segurar?

Barbara olha pra baixo. A água escorre pelas pernas dela, fazendo uma poça.

KRYCEK: - É, não deu pra segurar mesmo!

BARBARA: - (NERVOSA) Não era vontade de xixi! Acho que é a bolsa! Ai meu Deus! Ele vai nascer!

KRYCEK: - Quer se acalmar? Scully disse que mesmo a bolsa arrebentando ainda tem bastante tempo.

BARBARA: - (NERVOSA) Tem nada, ele tá saindo!

KRYCEK: - (NERVOSO) Barbara, você tá nervosa, se acalma! E tá me deixando nervoso!

BARBARA: - (IRRITADA) Alex, eu tô dizendo que ele tá saindo! Me ajuda a sentar ou a minha vagina vai fazer ploft e o seu filho vai fazer plaft no chão!

Krycek fica mais nervoso. Abre a porta de trás do carro. Volta pra ajudar Barbara, que caminha miudinho, com as mãos na barriga.

BARBARA: - (NERVOSA) Ai, ai, ai... Como vou subir nessa picape enorme? Se eu abrir as pernas o Dimi se estabaca nessas lajotas!!!

Krycek a pega com cuidado e a coloca sentada no banco traseiro. Barbara gritando de dor.

BARBARA: - (DESESPERADA) Chama a Scully porque vou parir meu filho aqui!!!!

KRYCEK: - (NERVOSO) Barbara, tem certeza...

BARBARA: - (DESESPERADA) Chama agora!!!!!!!!! Aiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!!!!!!!!!

Krycek sai correndo, nervoso e todo atrapalhado. Barbara controla a respiração e deita no banco, abrindo as pernas.

BARBARA: - Ai, meu Deus! Que mico a gente paga pra ter um filho!!!! E vaza água perna à baixo, e vaza os peitos, e fica feito frango assado com os outros encarando a sua papaya escancarada... Aiiiiiiiiiiiiiiii!!!!!!!!

Corte.


Scully abre a porta da frente, Krycek mal respirando e olhando apavorado pra ela.

SCULLY: - O que aconteceu?

KRYCEK: - Não vai dar tempo. A Barbara tá lá no carro aos gritos dizendo que o bebê tá nascendo. A bolsa estourou faz menos de um minuto! Não sei se é nervosismo ou verdade!

Scully arregala os olhos.

SCULLY: - Pode não ser, tem mulheres que tem parto fácil e rápido.

Mulder se aproxima.

SCULLY: - Mulder, pega a minha maleta no armário agora! A Barbara tá tendo o bebê!

Scully sai correndo com Krycek. Mulder abre o armário, procurando a maleta. Meg entra na sala.

MEG: - O que aconteceu, Fox?

MULDER: - O bebê da Barbara tá com pressa. Meg, fica de olho nos anjinhos aí. A noite vai ser agitada!

Corte.

Barbara grita, de pernas abertas, deitada no banco traseiro, se agarrando no banco de trás e no da frente. Krycek nervoso, de um lado pra outro, sem saber o que fazer. Scully a examina.

BARBARA: - (AOS GRITOS/ NERVOSA) Nunca mais toca em mim, seu russo tarado!!! Aiiiiiii!!!!!! Eu te odeio, Alex Krycek!!!!!! Isso dóiiiiii!!!!!! Eu vou morrer!!!!!!

Scully segura o riso.

KRYCEK: - (NERVOSO) Não tá vindo, né? Chamo a ambulância?

SCULLY: - (SORRI) Ela tem razão, ele já está querendo sair! Barbara, sua sortuda! Tá com a dilatação ótima, ele tá saindo mesmo aos pouquinhos, no tempo dele!

BARBARA: - (AOS GRITOS/ NERVOSA) Sortuda nada! Doeu pra entrar e tá doendo mais pra sair!!!! Eu te mato, Alex!!!!!!!!!!!!!!! Nunca mais toca em mim ou esfolo seu couro de rato russo!!!!

Scully segura o riso. Mulder se aproxima com a maleta e entrega pra Scully. Se afasta e fica de costas. Scully abre a maleta e pega um bisturi de um saco plástico.

SCULLY: - Barbara, pra ajudar você, eu vou fazer uma pequena incisão. É normal fazer isso.

BARBARA: - (ARREGALA OS OLHOS) Ai meu Deus! Vai doer mais ainda?

SCULLY: - Nem vai sentir dor. Pronto. Sentiu? Agora tem mais espaço pra ele sair.

BARBARA: - Eu tô morrendo, Scully!!! Acho que o Dimi tá entalado!

SCULLY: - (RINDO) Barbara, seu filho não está "entalado". Relaxa e faz o que eu disser que vai acabar bem rápido.

Krycek totalmente desatinado, sem saber o que fazer.

BARBARA: - (AOS GRITOS/ NERVOSA) Filma!!!!! Faz alguma coisa, homem!!!!!!!!!

KRYCEK: - (PATETA) Ah, tá!

Mulder acena negativamente com a cabeça.

MULDER: - (DEBOCHADO) Amadores...

Scully veste um par de luvas.

SCULLY: - (RINDO) Mulder, acalma o papai de primeira viagem antes que ele derrube o telefone no chão!

BARBARA: - (AOS GRITOS/ NERVOSA) Eu disse que ele ia desmaiar!!!! Eu falei!!!

KRYCEK: - Eu não vou desmaiar!!! Eu to filmando, tá legal? To tremendo, mas tô filmando!

BARBARA: - (AOS GRITOS/ NERVOSA) Então não treme ou vai estragar a filmagem!!! E não dá muito close na minha vagina!!!!!!!!!!!!!!! Mulder, você não tá olhando pra minha periquita escancarada, né?

Mulder abaixa a cabeça e começa a rir.

MULDER: - (RINDO) Eu tô longe e de costas!!! Já tive que encarar dois partos na vida, pra mim chega!!! Me aposentei!!!

BARBARA: - (AOS GRITOS/ NERVOSA) Ai que situação humilhante!!!!!!!!!! Ai!!!!! Eu tô nervosa e com dor!!! Bota uma música aí nesse carro, qualquer coisa pra me distrair!!!

Mulder dá a volta no carro, rindo. Entra e senta-se no banco do motorista. Liga o CD. Procura uma música.

MULDER: - (SORRI) O moleque vai se chamar Dimi né? Pode ser um Dimi com J?

[Som:Jimmy Cliff - I Can See Clearly Now]

BARBARA: - (OFEGANTE) Boa, adoro o Jimmy Cliff!!!! Aiiiiiiiiiiiiiiiii!!!!!!!!!!! E odeio você Ratoncito!!! Ele deve ser enorme como pai dele!!! Ai, vou me rasgar todinha!!! Não vai sair fácil!!! É desproporcional!!!! Por que fui me casar com um homem alto e grandão????

MULDER: - (DEBOCHADO) Porque assim como a Scully, você também é uma baixinha esganada? Não gosta da coisa grande? Agora aguenta, minha filha!

BARBARA: - (IRRITADA) Mulder, eu vou te matar!!!!!!!!!!!

SCULLY: - (RINDO) Mulder!!! Barbara, se acalma, o corpo da mulher já é feito pra parir, volta tudo ao lugar de novo.

KRYCEK: - (NERVOSO) Eu tô dizendo, sempre levo a culpa sozinho e de graça! E você para de rir, Mulder, a culpa é sua!

SCULLY: - Vamos, Barbara. Respira e força, Barbara. Força. Concentra.

Barbara faz força e grita. Krycek numa pilha de nervos.

SCULLY: - Isso, tá tranquilo, continua. Respira e força de novo. (SORRI) Ele é bonzinho, tá vindo...

Krycek tira o celular da frente do rosto, olhando num sorriso bobo. Mulder de olhos fechados batuca no volante ao som da música.

MULDER: - Rato, filma aí ou vai escutar pro resto da vida que estragou o vídeo do nascimento do seu filho. Já tá escutando que a culpa é sua, seu "Ratoncito" tarado.

Krycek continua filmando, mas olhando bobo num sorriso.

KRYCEK: - (EMPOLGADO) Cara, isso é... Inacreditável! A cabeça dele já saiu pra fora! E o carinha tem cabelo mesmo!

BARBARA: - (AOS GRITOS/ NERVOSA) Inacreditável é a porra da merda da dor que eu tô sentindo, Alex Krycek!!!!!!!!! Aiiiiiiiiiiiiiii!!!!!!!!!!!!

Mulder abaixa a cabeça rindo. Krycek filmando, empolgado, Barbara aos gritos.

MULDER: - (DEBOCHADO) Inacreditável mesmo é que você está acabando com o banco da picape de estimação do Rato. O seguro cobre partos no banco traseiro?

Barbara leva a mão do banco ao ombro de Mulder e agarra de propósito, com força. Mulder dá um berro, em pânico.

SCULLY: - Mulder, é você ou a Barbara quem está parindo? Então cala a boca, pega uma mantinha pra mim, uma fralda de pano, qualquer coisa, tem aqui na sacola da Barbara... Barbara, mais uma vez! Força!

Barbara grita, já suada e cansada. Mulder sai do carro e pega a sacola no chão atrás do banco. Olha pra Scully suja de sangue nos braços. Abre a sacola e entrega a mantinha de bebê.

Scully segura o pequeno garotinho e o envolve na manta. Barbara exausta, escorrendo suor da testa, ergue a cabeça pra olhar. Enche os olhos de lágrimas. Mulder olha pro bebê e abre um sorriso, emocionado.

SCULLY: -(SORRI) Chora pra sua madrinha, chora. Hum? Vamos limpar os pulmões, Dimi?

O bebê começa a chorar. Krycek enche os olhos de lágrimas, num sorriso bobo, ainda filmando. Scully coloca o bebê de bruços sobre Barbara.

SCULLY: - Vai com a mamãe, vai. Olha mamãe, que coisinha linda e perfeita que eu sou!

Barbara começa a chorar, envolvendo as mãos no filho. Scully se levanta e tira as luvas, num sorriso de felicidade. Krycek abaixa o celular e se inclina pra dentro do carro, olhando para Barbara e o bebê.

SCULLY: - Mulder, liga esse carro. Krycek, senta aí atrás, deixa a Barbara deitar a cabeça no seu colo. Vamos pro hospital agora.

Krycek corre pra dentro do carro. Scully entra no carona. Mulder liga a picape e dá marcha ré.

SCULLY: - Não precisa voar, Mulder. Tudo bem com mãe e filho.

BARBARA: - (CANSADA) Ai meu Deus, ele é lindo!!!!!!!!!! Oi Dimitri!!!!! É a mamãe, bebê? Hum? Não quis esperar, seu apressadinho?

Dimi para de chorar.

KRYCEK: - Ele gosta de picape como o pai dele. Já nasceu num carro. Vai ser piloto de corrida.

MULDER: - Olha, Rato, se ele fosse descendente de alemão, francês, brasileiro, inglês ou até austríaco, eu acreditava. Mas russos não tem tradição em Fórmula 1. O negócio de vocês é olimpíadas, balé, circo e vodka.

KRYCEK: - Você tá por fora! Temos uma boa promessa pra entrar na Fórmula 1. Um garoto chamado Daniil Kvyat. Só espera. Você vai ver.

Mulder olha pelo retrovisor.

MULDER: - Até que pra filho de rato, o camundongo aí é bonitinho. Pensei que ia nascer com a cabeça pelada. Mas ainda assim é branquelo e todo enrugado.

SCULLY: - Mulder, por favor!!! Já vai começar a provocação?

Barbara só tem olhos pro filho em seus braços. Krycek faz careta pra Mulder.

BARBARA: - Ele é lindo como o papai, né, bebê? Ai, meu Ratinho lindo!

MULDER: - É, ele até pode ser bonitinho, mas é o meu filho quem vai fazer sucesso com as meninas da vizinhança.

Scully e Barbara suspiram.

KRYCEK: - Vai nada, tio Mulder. Você não viu o tamanho do meu pintinho, eu vou pegar todas.

MULDER: - E você não viu o do meu filho. É genético.

SCULLY: - (INCRÉDULA) Meu Deus! Agora vão comparar o tamanho do pintinho dos meninos?

KRYCEK: - Ô genético, dirige o meu carro e fica quieto porque a minha genética também é poderosa.

BARBARA: - Ô Scully, por falar nisso, pega leve nos pontos tá? Não me deixa muito virgem que eu não quero sofrer!!!!

Scully abaixa a cabeça e começa a rir.

MULDER: - (DEBOCHADO) Mas pensei que você nem ia mais querer fazer sexo depois dessa!

BARBARA: - Cala a boca, Mulder! Você nunca pariu na vida pra saber que a gente diz um monte de coisas na hora do desespero! E a culpa é toda sua, você me fez esquecer as pílulas, lembra? Vai bancar as fraldas todas do meu filho pra deixar de ser idiota!

MULDER: - Ah certo! E eu tenho culpa que os ratos aí gostam de acasalar?

BARBARA: - E você não gosta?

SCULLY: - (DEBOCHADA) As abelhinhas, os cachorrinhos, todos fazem, Mulder. As raposinhas e os ratinhos também.

KRYCEK: - Toma, Mulder! Aprende a ficar quieto!


Hospital Mercy - Sala de espera da maternidade - 7:33 P.M.

Krycek, sentado no banco, termina de digitar algo no celular e o guarda no bolso. Respira fundo, fechando os olhos num sorriso. Mulder se aproxima com duas latas de refrigerante. Entrega uma pra Krycek e senta-se abrindo a sua.

KRYCEK: - Mandei mensagem pro Bishop. Hoje não vou trabalhar. Não tiro o pé daqui nem arrastado.

MULDER: - (SORRI) E aí? Como está se sentindo, "papai rato"? Mais calmo?

Krycek abaixa a cabeça. Mulder olha pra ele. Krycek derruba lágrimas. Se abraça em Mulder.

KRYCEK: - Obrigado.

MULDER: - (DEBOCHADO) Me tira dessa, Rato! O rolo é só seu, eu nem cheguei perto da sua mulher!

KRYCEK: - Mulder, é sério. Obrigado.

MULDER: - Ah, para com isso. Me solta porque as enfermeiras estão olhando esquisito pra gente, "amorzinho".

Krycek larga Mulder, secando as lágrimas, num sorriso.

KRYCEK: - Eu devo a minha vida pra você. Tudo o que eu tenho de mais importante, foi porque você me ajudou a ter.

MULDER: - Eu não, você conquistou por seu mérito próprio.

KRYCEK: - Mulder, e eu conquistaria alguma coisa se você não me desse o seu perdão, a chance de mudar, os conselhos certos e me impedisse de acabar com a minha vida de merda?

MULDER: - Krycek, não foi só você que levou muito tapa da vida pra acordar. Eu também levei. E continuaria levando se não tivesse tido a coragem de dizer eu te amo pra Scully, mesmo pensando que eu ia perdê-la porque não era recíproco.

KRYCEK: - Só que era recíproco.

MULDER: - É. Mas se ela não me amasse, o clima entre a gente ia ficar esquisito e eu acabaria me afastando dela por vergonha. Perderia a amiga, o meu tudo. E aí quem daria um tiro na cabeça seria eu. Não pensa que não eu não me vi em você algumas vezes. Eu via o Mulder solitário ali, sem saída, sem esperança, se odiando por ter feito as loucuras que fez. Acho até que a vida foi complacente conosco. Nos deu nossas baixinhas, que nos deram filhos... E nos transformaram em homens de verdade.

KRYCEK: - Não, Mulder. Você merece cada coisa que conquistou. Eu não merecia. Nunca se compare a mim, você é melhor do que eu. E sou homem o suficiente pra admitir isso. E os erros que cometi, as merdas todas em que me meti e...

MULDER: -Ok, eu devo lembrar que você é o homem que matou o meu pai e entregou a Scully para ser abduzida e ter um câncer? O homem que estava junto quando a irmã da Scully foi morta? Ou devo lembrar que você foi o homem que trouxe Scully de volta pra mim, impediu que eu acreditasse naquela mentira, salvou minha filha das mãos do Sindicato e salvou a vida do meu filho? Qual desses Krycek eu devo ver quando olho pra você?

KRYCEK: - Você tem direito de ver quem quiser, Mulder. Eu não tenho o direito de impedir. A escolha é sua.

MULDER: - Como a escolha também foi sua, Krycek. A primeira escolha realmente que você teve direito. Eu hoje sei a sua história, o seu passado. Sei a sua verdade, como você sabe a minha. Sei quem você é. E não tenho direito de julgá-lo quando me coloco no seu lugar e vejo que se fosse eu, poderia ter cometido os mesmos erros que você. Eu poderia ter sido um Alex Krycek se tivesse tido a sua vida, como você poderia ser um Fox Mulder se tivesse tido a minha vida. O que nos difere agora?

KRYCEK: - Acho que o passado, Mulder.

MULDER: - E o passado deve ficar no lugar dele ou não haverá espaço para construir o futuro, e parte do futuro já está ali, naquela maternidade. Eu aprendi isso, porque vivi metade da vida no passado. Quer dizer, pensava que vivia, mas não tinha uma vida de verdade. Como eu disse anos atrás pra você, não caia no meu erro. Estamos aqui para aprender uns com os outros. Se a gente continuasse sendo inimigos, como seria hoje?

KRYCEK: - Não seria. Porque pra continuar seu inimigo eu ainda teria que estar no Sindicato. Eles queriam me matar pra me calar e se eu continuasse fugindo, eu mesmo teria acabado com a minha vida, eu não tinha mais nada a perder. Eu só acordei quando passei pelo que você e Scully passaram, quando vi que eles tiraram de mim a única chance que eu tinha pra mudar de vida e o tudo que me importava: a Marita e o meu filho. A ajuda e o perdão de vocês serviu pra eu me aproximar de pessoas que eu achava que jamais me aproximaria. Ver vidas que eu achava nunca poder viver. Ver o mundo numa perspectiva menos maldosa. Acreditar nas pessoas novamente. Não confiar em ninguém pode ser muito seguro, mas também é viver sozinho numa ilha.

MULDER: - Nunca perguntei, mas... Eu fui sua primeira escolha? Você poderia ter batido em outras portas mais influentes do que eu e que poderiam ajudar você a desaparecer. Por que bateu na minha porta pedindo ajuda?

KRYCEK: - Porque um homem precisa ser humilde o suficiente pra admitir quando está errado e quando perdeu o jogo. Porque não há confiança em homens maus. Os justos sempre serão confiáveis. Sim, você foi a minha única opção, Mulder. Eu não confiava em mais ninguém, apenas em você, mesmo sabendo que teria que pedir perdão por tudo e talvez você me socasse novamente. E eu ia apanhar quieto, porque merecia cada murro que você me daria.

Scully sai pela porta da maternidade. Krycek se levanta, ansioso.

KRYCEK: - A Barbara tá bem? E o Dimi?

SCULLY: - Estão ótimos. Hora de vê-los.

Krycek sorri e passa por Scully, que olha pra Mulder.

SCULLY: - Você também, Mulder. Por sua causa, a taxa de natalidade aumentou no último ano! Duas vezes!

Mulder sorri.

SCULLY: - Pensa que não sei? Você adora essa coisa de família e criança nascendo. Você tá ficando velho e emotivo, Mulder.

Mulder olha pra ela num deboche.

MULDER: - Você vai ver velho e emotivo, Scully. Quem sabe escapamos pra pegar um presente legal pra eles? Tem uma loja aberta do outro lado da rua.

SCULLY: - Perfeito! Ligou pra mamãe avisando que vamos demorar?

MULDER: - Liguei. Disse que vamos passar a noite aqui.

SCULLY: - Mulder, acha que...

MULDER: - Eu não sei. Mas não vou arriscar. Ainda querem vingança contra o Rato por ter passado para o nosso lado. Não quero que alguma coisa aconteça com a mulher ou o filho dele. Você sabe do que aquela gente é capaz. Temos um acordo entre nós: protegeremos nossas famílias. Agora é a família dele que precisa de proteção.

SCULLY: - Tem razão. Não fosse Krycek, eles teriam matado o Bryan e sequestrado a Victoria... Ele salvou nossos filhos e agora vamos retribuir. Vamos ficar na vigilância. Eu fico com a Barbara e você de olho no Dimi.

MULDER: - Acha que a Barbara volta pra casa quando?

SCULLY: - Amanhã com certeza. E em casa a segurança é maior.

MULDER: - Certo. Vamos lá comprar alguma coisa pra eles. Sabe que o moleque é bonitinho mesmo?

SCULLY: - (SORRI) Também achei. O que é aquele cabelo? Quero ver a cor dos olhos, o preguiçoso não quer abrir os olhos!


Quarto - Maternidade - 7:49 P.M.

Barbara sentada na cama, com soro no braço e segurando Dimi, que dorme, vestido numa roupa com estampa de ratinhos. Cabelos negros espetadinhos num topete. Krycek sentado ao lado dela, olhando bobo para o menino, com os olhos em lágrimas. Barbara percebe que Krycek está chorando calado. Barbara mexe a mãozinha de Dimi num aceno.

BARBARA: - (VOZ DE CRIANÇA) Oi papai! Eu sou o Dimi! Meu nome é Mikhail Dimitri Krycek. E eu sou um garotinho saudável e vim pra alegrar a vida de vocês dois. Você vai me ensinar a brincar, a pescar, a jogar bola, a tocar violão. Eu vou ser o seu parceirão, sabia?

Krycek sorri, secando as lágrimas com o braço.

KRYCEK: - Barbara, eu te amo. Obrigado por me dar esse momento, que eu jamais pensei que viveria.

Os dois trocam um beijo, apaixonado. Recostam as testas, num sorriso.

BARBARA: - Tá feliz, Ratoncito?

KRYCEK: - Claro que eu tô. Só não acredito que a gente fez uma coisinha tão bonita assim.

BARBARA: - (SORRI) Cabeludo feito a mãe. Mas o cabelo é do pai... Aposto que você era assim quando bebê, branquinho feito neve!

KRYCEK: - É o que meus pais diziam. Kalinka.

BARBARA: - (SORRI) Olha as mãozinhas, Ratoncito! Dedos compridos de pianista. Vai ser maestro.

KRYCEK: - Vai ser o que ele quiser. Vou garantir isso pra ele. Ninguém vai ferrar a vida do meu filho como ferraram a minha. Ele vai ser um homem honesto, de bem, e se depender de mim, nunca vai pegar uma arma na vida. Não o meu filho.

Barbara olha ternamente pra Krycek.

BARBARA: - Você já é um pai maravilhoso. Dimitri vai ter um exemplo de homem dentro de casa. Você viveu no inferno por quase toda a sua vida, Alex Krycek, mas ela mudou e a partir de agora, não tem mais volta. Olha para o seu filho, meu amor. Ele é o seu legado. Não são as coisas erradas que você fez no passado. É o seu filho. Ele é a sua verdadeira redenção. O que você vai deixar para o mundo.

Krycek perde os olhos no filho. Barbara passa a mão no rosto de Krycek.

KRYCEK: - Queria que meus pais vissem o neto... Eu sei que eles teriam orgulho.

BARBARA: - Acho que eles estão vendo sim, Ratoncito. E estão orgulhosos do homem que você se tornou. E do netinho deles que vai continuar o nome da família.

KRYCEK: - E da nora, Barbara Ramirez, vulgo Barbara Wallace. A mulher mais linda e perfeita do mundo.

BARBARA: - Barbara W. Krycek.

Krycek olha pra ela.

BARBARA: - Agora a jornalista assina e se apresenta como Barbara W. Krycek. Agora aquela casa é a residência dos Krycek. Somos uma família, não somos?

KRYCEK: - Alguns homens tem azar, outros tem sorte. Eu tenho mais, eu tenho a Barbara.

Ela sorri e eles trocam um beijo. Dimitri se mexe, abrindo os olhos, curioso.

BARBARA: - (SORRI)Ai meu Deus, ele abriu os olhos!!!

KRYCEK: - (SORRI)São claros.

BARBARA: - Ai filho, fica com esses olhos verdes, muda não tá? Só tem olho castanho na família da sua mãe.

KRYCEK: - E qual o problema com os olhos castanhos? São tão lindos.

Barbara sorri e passa a mão no rosto de Krycek. Dimi se espreguiça todo, simulando um sorriso, olhos curiosos e vidrados em Barbara.

BARBARA: - Ai Ratinho da mamãe, tá feliz tá? "Toisinha totosa e ceilosa" da mamãe!

Dimi fecha os olhos, bocejando e sorrindo. Krycek começa a rir.

KRYCEK: - Que carinha mais preguiçoso! Não sei quem é pior, ele ou o cachorro.

BARBARA: - Dois dorminhocos, Ratoncito. Estamos bem arranjados. Quer segurar o seu filho? Porque eu ainda não dividi os louros com você.

KRYCEK: - E será que eu levo jeito?

BARBARA: - Claro que leva. Segura ele. Pega ele assim, por baixo... Isso.

Krycek segura o filho nos braços. Abre um sorriso bobo.

KRYCEK: - Esse carinha nem pesa nada! Ele é tão leve e pequeno...

BARBARA: - Você vai ver papai, eu vou tomar muito leite e ser forte como você.

KRYCEK: - Fala sério, ele é lindo!

BARBARA: - Acho que tem o seu nariz e os seus olhos.

KRYCEK: - Tem nada. Bebês mudam.

BARBARA: - Não, tem esse seu nariz perfeitinho, um pouquinho arrebitado. Adoro seu nariz.

KRYCEK: - (RINDO) Nariz perfeitinho... Por que mulher tem cisma com nariz de homem?

BARBARA: - Porque mulher adora nariz de homem. É o que chama atenção no rosto.

KRYCEK: - Sério?

BARBARA: - Sério! Depois que a gente vai perceber os olhos, a boca e o resto. Primeiro é o nariz.

KRYCEK: - Pensei que fosse o traseiro, aonde fica a carteira, como diz o Mulder.

BARBARA: - Hum, adoro seu traseiro e não é pela carteira. Mas a primeira coisa que olhei em você foi o nariz. E você, qual foi a primeira coisa que olhou em mim? Os peitos ou a bunda?

KRYCEK: - (RINDO) Por que eu olharia para essas partes primeiro?

BARBARA: - Porque é o que os homens olham primeiro. Fala. Seja sincero.

KRYCEK: - Pro seu rosto, seus olhos castanhos. E tô sendo sincero. Depois que fui olhar o resto.

BARBARA: - E por que foi olhar o resto se não tava a fim de mim?

Krycek ri.

BARBARA: - Hum! Ratoncito canalha! Olha o seu pai, Dimi. Que safado!

Mulder e Scully entram no quarto. Scully com uma cesta cheia de presentes e flores. Mulder com um rato de pelúcia enorme e uma caixa de bombons.

BARBARA: - (RINDO) Não acredito! Vocês dois não precisavam...

SCULLY: - (DEBOCHADA) Não se preocupe. Mulder comprou um pra ele também. Vai dormir agarradinho com o rato, como o Krycek dorme com a raposa de pelúcia.

MULDER: - Ah vou! Encoxando o rato a noite toda. E ele ainda cozinha e limpa a casa...

KRYCEK: - Sai fora, Mulder! Me respeita que agora eu sou pai!

MULDER: - Ah, olha o bobalhão aí: "Me respeita que sou pai". Quem te viu, hein, Ratoncito? Toma uns bombons pra você, "amorzinho". Não encontrei os seus favoritos, mas acho que esses aí servem. E aí, posso chegar perto do "júnior" ou ele morde como o pai dele?

BARBARA: - (RINDO) Pode. O problema é que os afilhados sempre puxam alguma coisa dos padrinhos. Espero que o Dimi não tenha a ironia do padrinho!

MULDER: - Não diz isso nem brincando, ou vou achar que a cara feia que o meu filho faz pra mim seguida de um ranço é cara de Krycek! Sabia que aquele "rah!" mal humorado do Bryan era coisa de russo!

Krycek bota a língua pra ele. Mulder se aproxima, olhando pra Dimi nos braços de Krycek.

MULDER: - Não é seu filho, Rato. Não é mesmo. Pede DNA logo, porque o garoto é bonito. E olha o topete do moleque! (ABRE UM SORRISO) Elvis, você voltou!!!!

Barbara e Scully começam a rir. Krycek cai na risada junto.

BARBARA: - (RINDO) Mulder! Não me faz rir que dói tudo!

Scully coloca a cesta na cadeira.

SCULLY: - Tem um monte de coisa nessa cesta, Barbara. Coisas uteis pra você e o Dimi. Talvez você já tenha algumas, mas nunca é demais.

Scully pega o vaso da mesinha e vai pro banheiro com as flores. Mulder senta-se na poltrona.

MULDER: - É, quem diria que eu ficaria vivo pra ver isso! Alex Krycek pai. Bom, agora o apocalipse pode começar!

Krycek olha bobo pro filho, quase hipnotizado. Mulder pisca o olho pra Barbara que ri.

MULDER: - Achei algo mais interessante na vida.

BARBARA: - Aham... Eu disse que isso ia tirar as besteiras da cabeça. Arrumou diversão nova.

MULDER: - Pode apostar que vai ficar mais chato do que já é. Ninguém toca no filhote.

BARBARA: - E tá tão babão e bobo que nem está escutando nada. Um dólar pelos pensamentos.

MULDER: - Tá viajando. Quem diria!

Scully volta com as flores no vaso e coloca sobre a mesinha. Barbara enche os olhos de lágrimas.

BARBARA: - Obrigada, Scully. Por tudo. Tudo mesmo.

Scully pega a mão dela.

SCULLY: - Não me agradeça. Você também faz muito por mim.

MULDER: - Eu não quero ser o chato, mas já sendo o chato. Falei com a Scully, eu vou ficar no berçário, de olho no moleque e a Scully fica com a Barbara. Tá com a sua arma?

Krycek ainda olhando bobo pro filho, imerso em outro mundo.

MULDER: -Krycek acorda! Tá com a sua arma?

KRYCEK: - Ahn? Ah! Deixeina picape.

MULDER: - Eu pego pra você.

BARBARA: - (NERVOSA) Acha que...

MULDER: - Não sei, Barbara, o Sindicato está praticamente morto, mas é melhor prevenir que remediar. Seguro morreu de velho. E fora o Sindicato e o passado de Krycek, você também arruma bastante inimigos políticos expondo verdades na imprensa.

Mulder se levanta e sai do quarto. Krycek entrega o filho pra Barbara.

BARBARA: - (NERVOSA) Alex...

KRYCEK: - Fica tranquila, tá?

SCULLY: - Fica mesmo, porque estamos aqui. Tentou amamentá-lo?

BARBARA: - Ainda não.

SCULLY: - (SORRI) Então tenta.

BARBARA: -E será que acerto?

SCULLY: -Só encosta o bico do seio na boquinha dele que ele já vai pegar. É instintivo.

BARBARA: -Ratoncito, filma isso!

Krycek sorri. Puxa o celular, prepara e começa a filmar. Scully ajeita os travesseiros atrás de Barbara.

SCULLY: -Tem que ficar confortável para os dois. Pronto.

Barbara desce um lado da camisola.

BARBARA: -Ele tá dormindo de novo!

SCULLY: -Ah ele vai mamar dormindo ou não. Você vai ver.

BARBARA: -Ainda bem que a sua madrinha tem experiência, né filho? Sua mãe ia deixar você morrer de fome, porque está tão besta olhando pra você! E eu tô com muito leite. Tô parecendo uma vaca holandesa! Meus peitos querem explodir!

Scully ri e senta-se na cama, ao lado de Barbara. Fica admirando os dois.

SCULLY: - É tão gostoso esse momento... Aproveita que passa tão rápido! Bryan já está com seis meses, daqui à pouco acaba o bebê em casa... O Diminão chorou de fome?

BARBARA: -Nadinha desde que você saiu... (SORRI) Tá mamando!

SCULLY: -Não falei? E tá com fome!

KRYCEK: -Se ele puxar a mãe dele... Que já nasceu com fome e vive com fome.

BARBARA: -E o papai ainda fica cozinhando coisa gostosa pra mamãe, né filho? Ai, isso dói!

SCULLY: -Você vai acostumar, mas tem uma hora que irrita. Aí troca o seio. Não deixa rachar, tenta hidratar sempre, porque é muito dolorido. Eu deixei um óleo pra você na cesta. Só não esquece de tirar o óleo do seio antes de amamentá-lo.

BARBARA: - (IMPRESSIONADA)Nossa, mas que fome bebê!

SCULLY: -O Bryan começou a ficar preguiçoso na primeira semana. Se Dimitri não mamar, insista. Não vai pra mamadeira achando que ele não tá gostando do seu leite não, porque é preguiça. Existem bebês que tem preguiça pra mamar.

BARBARA: - (OLHOS EM LÁGRIMAS)Nem acredito que tô fazendo isso! Nem acredito que ele já nasceu, está aqui nos meus braços... Eu sou mãe, Scully! Eu tenho um filho! Isso é um pouco assustador, sabia?

SCULLY: -(SORRI) Agora é que cai a ficha. E termina as noites de sono. Sabe que se precisar de qualquer coisa, basta me ligar. Vai ter cólica e essas coisas de neném novinho.

BARBARA: -Você é uma irmã mais velha pra mim, Scully. Ainda bem que tenho você aqui pra me ajudar com essas coisas de mulher. Eu não teria ninguém comigo se não fosse você. Minha mãe não conseguiu sair de Cuba a tempo pra chegar aqui. Minhas irmãs tem crianças na escola. Eu estaria aqui nervosa e sem saber como agir. Você me tranquiliza.

SCULLY: -(SORRI) Você saberia sim. Instinto materno. Você o tem.

BARBARA: -Scully, você devia estar em casa. As crianças...

SCULLY: -Mamãe está com eles. E Bryan precisa de mamadeira também. Eu tenho que associar o leite especial pra ele com o meu leite.

BARBARA: -E você, Ratoncito? Tá tão caladinho filmando...

KRYCEK: - Tô admirando. Nunca pensei que um sujeito como eu se derretesse desse jeito por um carinha desse tamanho.

SCULLY: -Bom, estou no corredor. Vou deixar você sozinhos. Precisam. É um momento único na vida da gente. Parabéns novamente. Dimi vai dar muito orgulho pra vocês.

Scully sai, fechando a porta. Mulder sentado no corredor. Scully sorri e senta-se ao lado dele. Coloca o braço no braço de Mulder e recosta a cabeça no ombro dele.

SCULLY: - Então... O time X está aumentando?

MULDER: - É... Logo vamos ficar pra trás e eles tomarão conta do pedaço.

SCULLY: - Acontece.

MULDER: - Scully, você já pensou que estamos quase chegando nos 50? E depois nos 60, 70, 80... A gente tem quase meio século de existência!

SCULLY: - Sim. E o que preocupa você, Mulder?

MULDER: - O que a gente vai fazer da nossa vida quando as crianças forem pra faculdade?

SCULLY: - O mesmo que a gente fazia da nossa vida antes de ter filhos, Mulder. Lembra?

MULDER: - (ABORRECIDO) Que chato!

SCULLY: - (RINDO) É, né?

MULDER: - Muito chato.

SCULLY: - Podemos viajar. Conhecer lugares legais.

MULDER: - Com um grupo de aposentados chatos e combinando bingos aos finais de semana? Nem pensar!

SCULLY: - Mulder, não somos nossos pais. Nem temos a cabeça velha, "tá ligado"? Podemos fazer coisas divertidas juntas.

MULDER: - Que coisas divertidas um casal de velhos pode fazer?

SCULLY: - As mesmas que fazemos hoje! Comer pipocas, assistir filmes, viajar, andar de bicicleta no parque, suas trilhas malucas atrás de coisas malucas... Podemos fazer coisinhas...

MULDER: - Sem graça, Scully. Duas horas com você tentando ressuscitar os mortos?

SCULLY: -(RINDO) E quem disse que isso aí vai morrer, Mulder? Hum?

MULDER: - Ah sei lá, diz que a pilha acaba.

SCULLY: - Acaba nada. Eu carrego a sua pilha rapidinho.

MULDER: - Tô ficando velho, Scully. Ver o Dimi nascendo me deixou reflexivo. Até o Rato já tem um filho! Como a vida da gente passa rápido!

SCULLY: - Eu também estou ficando velha, Mulder. E agradeço a Deus por isso!

MULDER: - Mesmo assim você ganhou mais anos de juventude do que eu. Vou ficar caquético antes de você!

SCULLY: - Não vamos ficar caquéticos, Mulder. Vamos ficar experientes.

Scully ajeita a cabeça no ombro dele e fecha os olhos. Mulder tira o celular do bolso.

MULDER: - Acredita que Pinguinho sabe mexer nisso com facilidade? Ela me ensinou todas as funções dessa coisa!

SCULLY: -(SORRI) Acredito. Eles são a geração da tecnologia, Mulder.

MULDER: - Victoria fica pedindo pra eu fazer um Orkut pra ela jogar um jogo lá que a Megan joga, de fazendinha... Malditas redes sociais, agora inventaram essa porcaria. Os clientes já chegam perguntando se você tem Orkut. (DEBOCHADO) Eu não vou dar o meu "Orkut" pra ninguém não!

SCULLY: -(RINDO) Eu tenho e você devia fazer um pra você.

MULDER: - E o que um cara anti-social como eu vai fazer numa rede social, Scully? Ahn?

SCULLY: - Sei lá, amigos, clientes... Você mantém seus relacionamentos lá.

MULDER: - Ah sim. Vou postar fotos, vou mostrar toda a minha vida pro governo saber mais ainda. Ou acha que eles não monitoram isso? Eu tenho uma teoria.

SCULLY: - Mulder, não começa.

MULDER: - É sério. Estão catalogando as pessoas pela rede social. Eles sabem tudo o que você faz e com quem anda. Onde trabalha, o que gosta... Isso me cheira a um catálogo. E bem que o Fumacinha disse que isso ia acontecer. O catálogo agora vai ficar mais fácil, será virtual e de livre e espontânea vontade dos catalogados!

SCULLY: - Mulder, para! Você não dá certo com internet, desista!

MULDER: - Eu sei e você sabe que mesmo desligados, esses aparelhos emitem sinais de localização?

SCULLY: - Não pode!

MULDER: - Pode sim, Frohike me falou. Esses smartphones são diferentes dos telefones que a gente usava, desligava e ninguém mais podia rastrear o chip. Esses vão além do rastreio de chips, eles rastreiam o aparelho. Esse treco aqui é um dedo-duro que eu paguei caro pro governo me monitorar. E empresas, sabia? O que me preocupa mais ainda porque penso no que a Ordem dos Treze trama com isso.

SCULLY: - E vai fazer o quê? Viver sem celular? Sem internet? Enclausurado numa caverna na montanha?

MULDER: - Tô achando que o futuro vai ser monitorarem mesmo as pessoas. Começa com smartphone e rede social. Depois você vai ver como termina. Vamos começar a viver num Estado de Exceção.

SCULLY: - Agora você parece um velho, Mulder. Já tá começando a reclamar de que no seu tempo as coisas eram melhores...

MULDER: - Mas eram! Tinha o Elvis e o Senhor Spock! E os cones de sorvete seco com marshmallow! Sucos de groselha. E a Laura Ingalls! Cara eu era apaixonado pela Laura Ingalls e as sardas dela e as encrencas todas em que ela se metia! Eu não perdia um episódio daquela série! Ah, mas você sabe disso.

SCULLY: - Little House on the Prairie... Eu odiava aquela menina, a filha chata e enjoada do comerciante. Lembra? Ela humilhava a Laura e a Mary porque tinha mais dinheiro e condições sociais... E você já gostava de ruivas sardentas, né Mulder?

MULDER: - Todo mundo achava a Mary mais bonita, mas eu gostava da Laura.

SCULLY: - E Pinguinho sabe por que tem esse apelido?

MULDER: - (SORRI) Acho que não... Vou encontrar os livros. Ela vai adorar.

A enfermeira se aproxima.

ENFERMEIRA: - Aonde encontro o detetive Alex Krycek? Tem uma penca de policiais fazendo festa lá embaixo, com champanhe, balões, ratos de pelúcia e perguntando por ele e me deixando maluca! Devo chamar a polícia para conter a polícia?


Uma semana depois...

X-Files Investigations - 7:12 P.M.

Mulder no banheiro do escritório, em frente ao espelho, ajeitando a gravata. Baba escorada no batente da porta, de braços cruzados.

BABA: - Ainda sabe fazer isso, Mulder? Faz anos que não vejo o agente do FBI na minha frente.

MULDER: -Nem eu. Mas nunca se esquece, depois de tantos anos engravatado o dia todo... Vê se eu tô cheiroso.

Baba cheira ele.

BABA: - Discreto e másculo como todo o perfume masculino deve ser. Não para atiçar os narizes todos quando entra no ambiente, mas o suficiente para uma mulher sentir quando chega perto.

MULDER: - E o cabelo?

BABA: -Tá legal. Deixa eu ajeitar um pouco. Ah, agora sim!

MULDER: - Tô bonito?

BABA: - Faz outra pergunta! Essa aí você já sabe a minha opinião. Você não é o Denzel Washington. Aquele é homem de verdade, macho, imponente, lindo e sexy!

MULDER: - (DEBOCHADO) Estou comestível então?

BABA: - E lá eu quero saber se você é comestível? Virou sardinha agora? Eu hein! Tá apresentável.

MULDER: - E pareço assim um homem de verdade, macho, imponente, lindo e sexy? Você sairia comigo?

BABA: - (DEBOCHADA) Eu não. Definitivamente você não é o Denzel e macho menos ainda. Mas se quer a minha opinião sincera, para o gosto da Scully você está ótimo!

MULDER: - Como você é folgada, mulher!

Mulder dá um beijo no rosto dela.

MULDER: - Baba, obrigado. Sabe que sem você eu não sei mais viver. Você é mais que uma sócia, uma parceira e uma amiga. Você sempre quebra todas pra mim, Oda Mae.

BABA: - Ainda bem que admite isso. Agora anda. Vá se divertir com a Scully que vocês dois estão precisando ficar sozinhos. As crianças vão ficar bem.

MULDER: -Tenho certeza, você estará com elas.

BABA: - E Mulder. Se diverte tá? Deixa os casos aqui. Amanhã continuarão na sua mesa. Sempre vai haver um Arquivo X, mesmo depois que você morrer. Então... Viva!

Mulde dá outro beijo nela.

MULDER: - Quer carona?

BABA: - É, acho que vamos pro mesmo lugar.


Restaurante - 9:31 P.M.

Um restaurante à beira-mar. Mulder e Scully sentados à uma das mesas do lado de fora. A brisa brinca com a chama da vela sobre a mesa. Scully num vestido, cabelos presos no alto da cabeça, echarpe sobre os ombros. Ela olha pra Mulder e sorri tímida, brincando com o garfo na comida. Mulder serve mais vinho branco.

MULDER: - Sério?

SCULLY: - Sério. Você não?

MULDER: - (SORRI) Lógico que sim! ... E você é feliz comigo?

SCULLY: - Mais feliz que eu jamais imaginei ser. E você? É feliz comigo?

MULDER: - Numa escala de felicidade tipo Romeu e Julieta, Heathcliff e Catherine, Tristão e Isolda...

SCULLY: - (SORRI) Tipo Mulder e Scully.

MULDER: - (SORRI) O homem mais feliz desse planeta. O mais sortudo... O mais apaixonado.

SCULLY: - Não precisa me conquistar, Mulder. Você já ganhou o prêmio. Não estamos num primeiro encontro, hoje estamos comemorando novamente o nosso aniversário de 10 anos de vida juntos, e nem conto mais seis de convivência como amigos...

MULDER: - Ok, Scully. É o que acontece nos casamentos, depois da aliança no dedo, acaba o jogo da conquista, vem os filhos, a rotina. Mas nós não somos os outros casais. Nós dois sempre dissemos um ao outro que essa relação não ia ficar rotineira e chata. Eu preciso sim conquistar você todos os dias. É um jogo que eu gosto. E eu sei que você também gosta de jogar.

SCULLY: -Nossas briguinhas e implicâncias... Sabe que isso faz parte do nosso jeito de conquistar e chamar a atenção do outro. Uma coisa que mantemos desde o tempo em que éramos colegas num porão.

MULDER: -É uma coisa sagrada, Scully. E devemos manter isso, sabe que foi assim que nos apaixonamos um pelo outro. É como o nosso Graal. Se fugirmos disso, será um tédio eterno e não seremos nós mesmos.

SCULLY: -(RINDO) De fato algumas vezes fico furiosa de verdade com você, Mulder.

MULDER: -Eu sei que fica, como eu fico, somos diferentes e iguais. Mas no fim das contas já sabemos como termina. Não vivemos mais sem o outro.

Os dois brindam.

MULDER: -Quer dançar?

SCULLY: -Mas não tem música, Mulder.

MULDER: -(SORRI) Isso é apenas um detalhe.

SCULLY: -Vamos parecer dois malucos? Hum, que novidade!

MULDER: -(PISCA O OLHO) Confie em mim.

Mulder se levanta e ajuda Scully a se levantar. Ela ajeita a echarpe nos ombros, solta os cabelos. Mulder pega a mão dela e envolve a outra na cintura de Scully.

A música toca.

[Som: Barry Manilow - Can't Smile Without You]

Scully começa a rir. Mulder olha sorrindo pra ela.

SCULLY: - Eu não acredito que você combinou com eles... Hum... Barry Manilow? Não esqueceu mesmo!

MULDER: - (DEBOCHADO) Quem esquece um pedido desses? Quem esquece Barry Manilow?

Ela inclina a cabeça pra trás rindo. Mulder olha apaixonado pra ela. A luz da lua ilumina os cabelos ruivos de Scully. Ela olha pra ele, olhos azuis brilhando de felicidade.

MULDER: - Eu não mereço você. Não... Nunca mereci.

SCULLY: - Eu sei, mas abri uma exceção.

Os dois riem. Mulder a gira. Scully sorri. Ele a puxa de volta.Se abraçam, dançando agarradinhos. Mulder beija a cabeça dela, e apoia o queixo.

MULDER: - Eu te amo, Scully.

Scully suspira, de olhos fechados, num sorriso, recostada no peito dele.

SCULLY: - Te amo também, Mulder.


Residência dos Mulder - 10:01 P.M.

Baba sentada no sofá. Victoria deitada com a cabeça nas pernas dela. Baba faz carinhos nos cabelos de Victoria. As duas assistindo televisão.

VICTORIA: - O papai e a mamãe estavam tão lindos hoje. Você viu? Pareciam um casal de filme.Ainda bem que você tirou uma foto. Vou colocar no meu mural.

BABA: - É. Eles se produziram um pro outro.

VICTORIA: - Quando eu crescer, quero um namorado como o papai.

BABA: - Acha o seu pai um homem perfeito?

VICTORIA: - Ele não é perfeito, mas é o meu exemplo de homem. Ele é romântico e faz tudo pela mamãe. Acho tão bonito ver o papai levar uma rosa e café na cama aos finais de semana. Gosto quando ele dança com ela, mesmo sem música. Quando eles se entendem só pelo olhar. Eles falam com os olhos, sabia? Aí mamãe dá um sorriso tímido, ele sorri bobo...

BABA: - Ah! Pensei que queria um agente do FBI, de terno e gravata.

Victoria começa a rir.

BABA: - E você é observadora, hein?

VICTORIA: - Ah, não me culpe Babinha, mas eles são o casal mais lindo mundo. Foram feitos um pro outro. Será que todo mundo tem um par?

BABA: - Não acha que você é nova demais pra pensar nisso? Oito anos. Ainda tem um bom tempo pela frente. Tem certeza de que você é uma criança ou uma anã disfarçada?

Victoria solta uma gargalhada.

VICTORIA: -Nah! Eu não penso em namorar, eu sou criança, Babinha! O que eu tô dizendo é que penso no dia em que eu for grande, se eu vou ser feliz como eles são. Se vou ter um par, alguém que me ame muito, como o papai ama a mamãe, porque eu acho isso tão lindo! A mamãe disse que eu nasci do amor. Se eu nasci do amor e sou criada no meio do amor, eu tenho que pensar no amor, não é?

BABA: - Bom, amor é loteria. Às vezes você tira a sorte, às vezes não.

VICTORIA: - Você amava o seu marido e ele amava você?

BABA: - Tínhamos nossas briguinhas, mas sim. A gente se amava. Eu fui feliz. E eu tenho uma coisa pra contar pra você.

Victoria senta-se. Presta atenção.

BABA: - Quando Papai do Céu fez o homem, tirou dele uma costela. E dessa costela, criou a mulher. Isso me diz que pra cada pé torto, tem um chinelo velho por aí. Tipo sua mãe saiu da costela do seu pai. E que seu pai não me ouça, ou vai fazer piada disso com ela pelo resto da vida!

VICTORIA: - (RINDO) Pode apostar! ... Então acha que temos um par, alguém feito pra gente?

BABA: - É o que eu penso.

VICTORIA: -Será de qual costela eu saí?

Baba segura o riso.

BABA: - Uai, um dia você vai saber! Seu doador de costela pode estar longe, pode estar perto, de repente até na sua escola!

VICTORIA: - Mas só um?

BABA: - Como assim só um? Quer dois?

VICTORIA: - Nah! Tô falando porque se o par da gente morre antes da gente, como foi com o seu marido. E aí? Ficamos sozinhas como você e a vovó ficaram?

BABA: - Bom, daí, se a gente quiser, arruma outro par que também perdeu sua costela.

VICTORIA: - E isso dá certo?

BABA: - Algumas vezes dá. Como eu disse, o amor é loteria. E sossega seu coração, porque quando ele chegar, você vai saber.

VICTORIA: - Fico mais tranquila em saber disso.

Baba começa a rir.

BABA: - Ah, criança! Tem tanta coisa na vida pra você aprender. Não tenha pressa. Eu só sei que o que é da gente, aquilo que Papai do Céu nos dá, nada e ninguém pode tirar.

VICTORIA: - Então quando um casamento não dá certo, é por que não casamos com nossa costela?

BABA: - Meu Deus, Victoria, você tá me dando nó na cabeça!

VICTORIA: - Porque tem um menino lá na escola que os pais dele estão se separando e ele tá muito triste com isso. E eu fico triste só de pensar se isso acontecesse com os meus pais.

BABA: - Seus pais se amam. São dois turrões, cabeças duras, vivem se digladiando, mas no fundo não vivem sem o outro. Fica tranquila.

Victoria deita a cabeça nas pernas de Baba novamente.

BABA: - Bruxinha, guarda as minhas palavras no seu coraçãozinho, porque eu não vou viver pra sempre. Seja o que tiver que ser, tudo tem um motivo divino pra ser. E o que é da vontade de Deus, por pior que nos pareça, é o melhor pra nós. Nunca duvide dos caminhos Dele. Ele sabe antes da gente o que virá. Nós nada sabemos. Nem mesmo os anjos sabem. Mas Ele guia sabiamente as coisas, as pessoas e o movimento do universo para conspirar a nosso favor e pelo bem maior. Ele tem o tempo Dele, que é diferente do nosso. E tudo acontece no tempo Dele.

VICTORIA: - Entendi. Como o tio Tchek e a tia Barbie.

BABA: - Quem não entendeu fui eu! Como assim?

VICTORIA: - Ele sofreu pela vida até encontrar a costela dele. Acho que foi porque ela nasceu com dez anos de atraso. Aí também entra o fator costela atrasada.

Baba começa a rir.

VICTORIA: - Ih, falei besteira né?

BABA: -(RINDO) Faz sentido! Mas não me pergunta mais nada sobre costelas, eu não sou perita no assunto. Pergunta pro açougueiro!


Residência dos Krycek - 11:11 P.M.

No quarto do casal, Barbara de camisola deitada com Dimi ao lado. Krycek de pijamas, ajeita o berço ao lado da cama deles.

KRYCEK: - Agora sim, coloquei rodinhas. Vai ficar mais fácil quando você precisar descer da cama. Aí só empurra o berço, sem fazer tanta força como estava fazendo.

BARBARA: - Eu sei que devia acostumar o Dimi no quarto dele, que é a coisa certa a ser feita, que tem a babá eletrônica, mas ele é tão pequeno! Coisa de mãe latina mesmo. Tem que cheirar a cria até dormindo!

KRYCEK: - Não é questão de cheirar a cria. Essa coisa americana de deixar bebês no quarto desde cedo... Prefiro ele aqui com a gente. Acho mais seguro mesmo. Bebê sozinho no quarto, vai que se engasga, vira e se sufoca e a gente não escuta... Pelo menos até uns seis meses. Ah, sei lá! Já ouvi tanta merda que aconteceu com bebês que fico com medo. Uma vez fiz um B.O. de uma mãe e um pai, os dois colocaram o bebê recém-nascido pra dormir no meio deles e o pior aconteceu.

BARBARA: -Ai... Meu Deus! Esmagaram o bebê?

KRYCEK: - Sufocaram ele, sem querer, obviamente. Então, com bebês todo o cuidado é pouco. Quando for dormir, coloca o Dimi no berço.

Krycek senta-se na cama e se recosta na cabeceira. Dimi entre os dois, dormindo. Barbara se levanta. Empurra o berço.

BARBARA: -Ah, melhorou mesmo! Me casei com um gênio!

KRYCEK: -Não exagera. Aonde você vai?

BARBARA: -Pegar umas fraldas pra deixar à mão e algumas coisinhas... E vou ligar pro Calvin, pra saber quando posso retornar ao trabalho.

Barbara sai, levando o celular. Krycek se deita de lado, apoiando a cabeça na mão e observando Dimi.

KRYCEK: - Eu não queria um filho... Nada contra você, carinha. Eu perdi um filho e sendo bem sincero, nunca me imaginei sendo pai, tendo alguém que dependesse de mim em todos os sentidos. Depender logo de um sujeito como eu... E depois é um mundo tão podre pra abrigar a inocência, sabe?

Barbara volta, ao ouvir Krycek, se esconde atrás da parede. Krycek pega a mãozinha de Dimi.

KRYCEK: -Eu... Quando a sua mãe disse que você viria...

Barbara liga a câmera e fica filmando escondida.

KRYCEK: - Lógico, eu nunca a deixaria sozinha numa situação dessas, afinal um homem tem que assumir suas responsabilidades e eu amo a sua mãe como nunca amei outra mulher. Mas juro pra você que naquela noite eu fiquei bem nervoso com a situação. Foi uma semana disfarçando medo e um nervoso daqueles, sabe? (SORRI) Não, você ainda não sabe. Depois fui me acostumando com a ideia e ficando empolgado. É que eu achava que um cara como eu não merecia coisas boas e um filho é uma coisa muito boa. E uma criança não merecia passar a vergonha de ser filho do Krycek. Um dia você vai crescer e certamente, se encontrar alguém do meu passado e disser seu sobrenome, essa pessoa vai virar a cara pra você por ser o meu filho. Eu não quero que você seja humilhado por minha causa. E nem que tentem corromper você por ser filho de um canalha. Se depender de mim você nunca vai saber o que é uma arma.

Barbara morde os lábios. Dimi começa a chorar. Krycek pega o pezinho dele e fica esfregando com a mão. Leva os lábios e o assopra, esquentando.

KRYCEK: - Minha mãe fazia isso pra me acalmar. Eu tinha pés gelados, custava a dormir. Mexer nos meus pés sempre me acalmava. Hum? Tem pés frios também,carinha?

Dimi abre os olhos e para de chorar. Fixa os olhos no pai.

KRYCEK: - Funciona né? Significa que tem alguém cuidando de você. É muito bom ter alguém cuidando da gente. Eu esqueci do quanto isso é bom depois que o seu avô morreu, mas relembrei quando sua mãe quis viver comigo... Sabe, Dimi, eu posso não ser o pai que você merece, mas eu vou fazer o meu melhor, eu prometo pra você. No que depender de mim, porque existem coisas que não dependem da gente. Tipo a morte. A gente não tem domínio sobre a morte. Espero não morrer tão cedo, vou fazer o possível pra me cuidar. Não é bom não ter um pai. Um dia, quando você tiver idade pra entender, eu vou contar as coisas que eu já fiz na vida. Você provavelmente vai ficar decepcionado comigo. Eu espero que fique. Se ficar significa que você é melhor do que eu. E isso vai me fazer feliz, porque terei a certeza de que criei um homem do bem. Eu nunca realizei meus sonhos. Mas pode contar comigo pra ajudar você a realizar os seus.

Barbara enche os olhos de lágrimas, espiando os dois na cama.

KRYCEK: - Quando você me pedir algumacoisa que deseja muito, nós vamos negociar. Eu posso dar tudo o que você me pedir, mas é melhor eu me segurar, porque é bom você aprender a conquistar as coisas. Isso nos ensina a ter caráter, filho. Esse mundo pode ser louco e cheio de gente ruim, mas eu vou proteger você. A vida pode querer dar uma rasteira, mas eu estarei lá pra puxar você pela mão. Eu serei seu amigo, mas também serei o seu pai. Amigos podem meter você em enrascada com conselhos que eles acham certos, mas um pai não. Eu vou puxar suas orelhas se precisar, porque eu me importo com você. E se importar faz parte de amar alguém.

Barbara continua filmando, levando a mão aos lábios, emocionada.

KRYCEK: - E eu amo você, pequenino. (SORRI) Sólnêchka... Você é o meu solzinho. Veio trazer a luz que eu precisava. Aquela música que seu padrinho colocou enquanto você nascia, não podia ser mais perfeita pra dizer o tudo que você é na minha vida.

Krycek sorri. Coloca a ponta do dedo no nariz do filho. Dimi mexe os braços, simulando um sorriso, olhando pro pai.

KRYCEK: - (CANTANDO) I can see clearly now the rain is gone... I can see all obstacles in my way... Gone are the dark clouds that had me blind... It's gonna be a bright, bright sunshiny day.

(Eu posso ver claramente agora que a chuva se foi. Eu posso ver todos os obstáculos no meu caminho.As nuvens pretas que me deixavam cego já se foram. Será um brilhante, um brilhante dia de sol.)

Krycek beija a testa do filho.

KRYCEK: - (SORRI) Você é o meu brilhante dia de sol, carinha. A minha redenção.

Barbara se aproxima, olhos em lágrimas, num sorriso.

BARBARA: - Foi a declaração de amor mais linda que eu já ouvi de um pai pra um filho.

Krycek olha pra ela, desconcertado. Barbara coloca o celular no criado-mudo e senta-se na cama.

BARBARA: - Me beija agora, porque me apaixonei mais ainda por você.

KRYCEK: - É que eu ando convivendo demais com o Mulder. Tô me contaminando.

BARBARA: - Não vem culpar o Mulder agora, Ratoncito... Isso veio de dentro de você, alma sua. Vai ou não vai me dar um beijo?

Krycek sorri. Os dois aproximam os lábios trocando um beijo suave. Se afastam olhando um pro outro.

BARBARA: - Juro que se eu não estivesse nesse estado, eu dava agora pra você a noite inteira!

Krycek deita a cabeça no travesseiro e começa a rir.

BARBARA: - Mas deixa... Deixa que depois vem com juros e correção. Estou em débito com você. Mas vou pagar tudinho, tá? Muito bem pago! Eu dou tudo, mas calote não!

KRYCEK: - (RINDO) Dependendo, Malyshka, é melhor você pagar em suaves prestações, porque já tô ficando com medo do meu carro não ser tão forte pra aguentar o seu pagamento!

BARBARA: - Aguenta, sim. A gente tá doidão, subindo parede e chamando urubu de meu nego.

Krycek desata a rir dela. Barbara segura o riso.

BARBARA: - Bom, hora do ratinho ir pro berço. Agora a mamãe quer dormir agarradinha no ratão dela. Papai merece né?


Hotel Ritz - 12:23 A.M.

Mulder fecha a porta da suíte. Scully olha pra suíte, debochada.

SCULLY: - Nossa! Suíte de luxo no Ritz... É, Fox Mulder. Quem diria! Quando você era agente do FBI a coisa era mais pobre. Agora é detetive particular do paranormal, especialista no assunto, palestrante e quase um escritor. Quando ficar mais famoso e cheio de fãs correndo atrás, eu vou ter pesadelos.

MULDER: - (RINDO) Fala sério, Dana Scully. Acha que eu levaria você pra um motel de beira de estrada?

Scully anda pela suíte. Abre as cortinas, olhando para a vista da cidade iluminada.

SCULLY: - Hum, sairia mais barato que um hotel desses!

MULDER: - Nunca, jamais leve a sua esposa pra uma noite romântica num motel.

SCULLY: - Por quê? Por que não vai impressioná-la? (SORRI) E precisa, depois de tantos anos juntos, em fases ruins em que dividíamos até um sanduíche?

Mulder se aproxima da mesa e pega o champanhe no balde de gelo.

MULDER: - Porque num motel você vai com qualquer uma, disposto a qualquer coisa, num lugar aonde qualquer um vai. Motel é "qualquer". Esposa é a mulher que você ama, ela é "única". Como acha que ela vai se sentir sendo tratada como uma qualquer?

SCULLY: - (RINDO) Nossa! Tudo isso pra comemorar nosso aniversário de dez anos? Quer dizer então que eu mereço hotel cinco estrelas, mas as outras não.

Mulder abaixa a cabeça, culpado. Senta-se na cama.

MULDER: - Eu não quis dizer quando estávamos no restaurante para não acabar com o clima, mas agora eu vou acabar com o clima de qualquer jeito.

Scully fica séria.

MULDER: - Não vou pregar o olho se não confessar pra você a idiotice que eu fiz. Uma besteira que nenhum homem casado com uma mulher como você deveria fazer. Ainda mais depois de dez anos dividindo a cama, mais seis anos dividindo a escrivaninha, passando por tudo o que a gente passou, conhecendo você como eu conheço. E se você me perguntar por que eu fiz, não sei dizer. Só sei que fiz. E tô arrependido. Juro!

Scully amolece as pernas. Senta-se ao lado dele.

SCULLY: - (SÉRIA) Fala, Mulder.

MULDER: - Você vai brigar comigo e me atirar pela janela. Eu menti. Não fui pra agência ontem à tarde. Não fui trabalhar, eu...

SCULLY: - (FECHA OS OLHOS) Quem é ela?

MULDER: - Ela quem?

SCULLY: - A vadia!

MULDER: - Que vadia, Scully? Estamos falando da mesma coisa?

SCULLY: - Você vai me confessar que não foi trabalhar porque passou a tarde com uma mulher, Mulder! Então confessa e não enrola! Seja homem pra admitir na minha cara! Bem que estranhei que você chegou com uma cara esquisita e tarde da noite! E eu preocupada achando que tinha acontecido alguma coisa até que você ficou normal novamente!

MULDER: - Quê? Não é isso, Scully! É muito pior!

SCULLY: - (INCRÉDULA) Foram duas?

MULDER: - Scully, deixa eu terminar de falar antes que o caldo entorne mais ainda com a sua imaginação fértil. Eu não fui trabalhar ontem, eu menti. Eu passei a tarde toda seguindo você!

Scully olha incrédula.

SCULLY: - Como assim me seguindo, Mulder? Tipo... Tipo detetive?

Mulder abaixa a cabeça, envergonhado.

SCULLY: - Fala, Mulder! Você me seguiu? Por que fez isso? Ahn?

MULDER: - Eu não sei! Foi uma coisa de idiota. Me deu vontade de seguir você. Dar uma incerta. Vai que...

SCULLY: - Vai que o quê, Mulder? Hum?

MULDER: - Sei lá, você anda fazendo tanta questão de me deixar trabalhando sozinho, não pega mais no meu pé, me deixa livre e solto. Quer voltar a estudar e trabalhar com medicina, naquela universidade cheia de professores bonitões e garotos sarados e que falam a mesma língua que você!

SCULLY: - (SEGURA O RISO) Mulder, você pensou que eu estava tendo um caso?

Mulder fica quieto, cabisbaixo, nem olha pra ela com vergonha.

SCULLY: - Fox Mulder, foi você quem disse que eu deveria ser mais light, que o fato de viver policiando você e com ciúmes doentios o aborrecia! Agora tá me dizendo que me seguiu por que estava com ciúmes? Por que eu resolvi ser mais light?

Scully solta uma gargalhada e se joga de costas na cama. Mulder faz beiço.

MULDER: - Isso foi um coisa muito feia da minha parte.

SCULLY: - (RINDO) Foi sim! Mas ouvir você confidenciando isso, não tem preço! (IMITANDO MULDER) "Eu não sou ciumento, Scully, você que é um poço de ciúmes".

Scully ri mais ainda.

MULDER: - (BEIÇO) Isso, pode rir. Ri bastante!

SCULLY: - Claro que vou rir bastante, ainda mais lembrando de cada lugar que eu fui e imaginando o que você devia estar pensando nessa sua mente criativa!

MULDER: - (SEGURA O RISO) ... É, admito. Eu já tava pensando no pior.

Mulder leva a mão atrás da cabeça e faz dois chifres com os dedos. Scully ri mais ainda.

SCULLY: - Ai, Mulder! Essa noite tá divertida mesmo! Abra aquele champanhe porque eu tô com a garganta seca de tanto rir da sua cara!



TRAPAÇAS


Residência dos Krycek - 2:24 P.M.

Barbara abre a porta. Sorri com surpresa.

BARBARA: - (GRITA) No creo!!!!!!! Madrecita! Papacito!!!

O casal, por volta dos sessenta anos, parado na porta com duas malas e sacolas de viagem, cheios de bagagem. Antônio Ramirez, vulgo "Tonhão", sério, estatura mediana, fortão, de barba e cabelos grisalhos, em roupas casuais e com um boné a la Fidel Castro. É um Chucky Norris cubano. A mãe, Serena Ramirez, mais baixinha, meio gordinha, pele morena do sol, cabelos castanhos presos no alto da cabeça, usando vestido colorido e saltos. Barbara se agarra na mãe. As duas choram.

TONHÃO: - Pronto, já começou a choradeira! Vão molhar toda a casa!

BARBARA: -(CHORANDO) Madrecita,te extrañé tanto, no sabes cuanto!

SERENA: -(CHORANDO) Querida hija, yo también estaba preocupada por ti! ¿Cómo estás? ¿Y tu hijo? ¡Me muero por conocer a Dimitri y Alex!

Tonhão puxa as malas pra dentro. Coloca as mãos nos bolsos das calças e observa a sala. Barbara solta a mãe e abraça o pai. Ele a abraça com força.O cachorro vem fazer festa.

BARBARA: - (SECA AS LÁGRIMAS) Deus, que saudades de vocês!!!

Barbara solta o pai. Tira o boné dele e agita os cabelos grisalhos. Ele sorri. Barbara coloca o boné na cabeça dela.

TONHÃO: - Éum Husky Siberiano? Esses cachorros são lindos! Vem aqui rapaz! Vem!

Rasputin todo bobo, abanando o rabo e latindo.

BARBARA: -Ele se chama Rasputin. É um filhotão ainda. Tem só cinco meses.

TONHÃO: - É, mas já está ficando grande, não é rapaz? (OLHA PRA BARBARA) Não sei aonde errei. Por que essa menina tem tara por russos? Até o cachorro é comunista!

Tonhão se agacha e brinca com o cachorro.

BARBARA: - Por que não disseram que viriam? Alex podia ter ido buscar vocês no aeroporto...

SERENA: - Queríamos fazer uma surpresa.

TONHÃO: -Não mente, Serena. Eu queria chegar de surpresa sem avisar só pra ver se você realmente está sendo bem tratada como a princesa que eu criei. Esse cara desce o pau em você? Conta pro seu pai que arrebento a cara dele! Sabe o que penso de policiais. Não confio na polícia, na polícia americana menos ainda! E nem sei o que pensar sobre um russo na polícia americana. Mistura explosiva!

Tonhão se levanta.

BARBARA: -Começou o discurso político, seu Antonio? Não, ele não bate em mim, até porque levaria outra porrada na cara se ousasse!

TONHÃO: -(SORRI) Essa é a minha garotinha! Criei você pra ser foda!

BARBARA: -Papacito, modere seu linguajar de estivador! Venham pra cozinha, eu estava passando café. Dimi tá lá, dormindo no carrinho.

TONHÃO: - Jimmy de James? Por que meu neto tem nome de gringo?

BARBARA: - Dimi de Dimitri. Mikhail Dimitri Krycek.

Tonhão arregala os olhos.

TONHÃO: - Como é que é? Meu neto tem rato no sobrenome? Você não se casou com um homem, você se aninhou com um rato?

BARBARA: - A pronúncia é parecida, mas a escrita não. E não fale mal do meu Ratoncito! Você nem conhece ele!!!

TONHÃO: -Um rato russo ou russo rato, não importa. Eu afundo o Encouraçado Potemkin dele rapidinho. Krycek... Serguei por acaso?

BARBARA: - (BEIÇO) Alexander e ele não é gay não! A prova tá na cozinha!

SERENA: - Tonho, dá um tempo!

TONHÃO: - E Dimitri?Por que dar um nome desses para a criança? Juan, José, Paolo ou Antonio não são dignos do seu filho? Nem o meu sobrenome ela colocou na criança, Serena!

BARBARA: - Ai, papacito! Eu não quis estragar o nome russo do menino! Dimitri Ramirez?

TONHÃO: -Podia ter colocado Antonio Ramirez Neto!

BARBARA: - Coloquei o nome do pai dele! E depois você já tem dois netos com o seu nome! Chega de Antonio na família. Vem, vamos pra cozinha. Deixem as malas aí.

Barbara vai indo pra cozinha, num beiço. Os dois a seguem, encantados com a casa. Rasputin atrás de Tonhão, abanando o rabo.

SERENA: - Linda casa, filha! Parabéns!

BARBARA: -Depois mostro tudo pra vocês. Madrecita você vai adorar! É enorme e espaçosa! E tem jardim e piscina!

SERENA: - (SORRI) Sério? Tonhão, nossa filha tem piscina no quintal! Não é de plástico, né?

BARBARA: - Não, madrecita. Piscina de verdade.

SERENA: - (FELIZ/ QUASE CHORANDO) Minha filha conseguiu vencer na vida!

TONHÃO: -Serena, por favor, você chora, ela chora e isso aqui vai virar um velório desse jeito! E o seu marido?

BARBARA: - Alex trocou de turno na delegacia pra ficar comigo durante a noite, até o Dimi crescer um pouquinho.

TONHÃO: -Não tirou licença?

BARBARA: -Ele tá de licença, papacito, mas como é policial da homicídios, tem que estar sempre disponível numa emergência e foi o caso hoje. Teve um assalto com reféns, perseguição, tiroteio e gente morta, tá uma confusão só!

SERENA: - Então foi isso o que vimos no caminho do aeroporto. O moço do táxi teve que sair da rodovia, estava tudo trancado, tinha polícia pra todo lado, helicóptero... Nunca tinha visto uma coisa dessas, só no cinema!

Eles entram na cozinha. Serena percebe Dimi dormindo no carrinho. Põe as mãos no rosto, encantada.

SERENA: -¡Oh Dios mío! Mi chiquito lindo!

Barbara pega Dimi.

TONHÃO: -Deixa o menino dormir, filha.

BARBARA: - Não, ele precisa conhecer os avós. Tem o dia todo pra dormir, né filhinho?

Barbara entrega Dimi nos braços de Serena.

SERENA: - (SORRI)Olha, Tonho! Nosso neto é lindo! Adorei esse cabelo todo!!! Oi, gracinha da vovó!!!

TONHÃO: -(SORRI) Oi, garotão do vovô! Sabia que você é filho da minha filha favorita?

Os dois ficam bobos com o neto. Barbara vai pra cozinha passar café.

TONHÃO: - E os pais dele já conhecem o neto?

Serena cutuca Tonhão.

BARBARA: - Os pais do Alex faleceram há muito tempo, quando ele ainda era criança.Sentem, vocês devem estar cansados. Estão com fome?

TONHÃO: -Não, comemos aquela merda de comida de avião que só serviu pra atacar a minha azia.

BARBARA: -Eu tenho antiácidos...

SERENA: - Seu paijá tomou, não se preocupe... Ai, mas é lindo o neném da vovó!!! Filha, ele não parece muito com a nossa família. É branquelo e cabeludo.

BARBARA: - Puxou ao Alex. (RINDO) Ele tava inspirado! Mas a quantidade de cabelo é nossa.

SERENA: - Sim, você quando nasceu tinha muito cabelo. E suas irmãs! Eu levava horas penteando e prendendo os cabelos de vocês!

Tonhão anda pelo espaço todo, bisbilhotando tomadas, olhando para o piso e as paredes, procurando alguma coisa estragada.

SERENA: -Filha, que casa enorme! Deve ter custado muito dinheiro!

BARBARA: - Eu tinha um apartamento bem localizado e dei como entrada na casa.

TONHÃO: -Seu marido ajudou a pagar?

BARBARA: -Sim, ele ajudou a pagar. E nem era meu marido ainda, era apenas amigo.

TONHÃO: -Sei, amigo... Com salário de policial? Hum! A polícia daqui ganha tão bem?

BARBARA: -Estamos na América, seu Antonio, o país das oportunidades. E não precisa ficar procurando serviço pra fazer. Alex faz tudo. Não tem nada pra você consertar.

TONHÃO: -Ele arruma as coisas pra você? Consertinhos domésticos?

BARBARA: - Claro!

TONHÃO: -Milagre! Esses caras de hoje não sabem trocar uma resistência de chuveiro! Só sabem foder a filha dos outros e pedir empréstimo pra velho aposentado!

BARBARA: - Papai!!!!!!!!!! Não começa! O Alex não está acostumado com piadinhas e palavrões, tá? Ele é sério. Modere sua língua, por favor!

TONHÃO: -Puta que pariu! Esqueci que você casou com um comuna mal-humorado. Trouxe rum e uns charutos cubanos pra ele, quem sabe fica mais alegrinho.

BARBARA: -Pai, por favor! E nada de discursos políticos, ok? E o Alex não fuma.

TONHÃO: -Todo homem que é homem fuma um charuto. Ele vai fumar. Não aceito desfeita.

Tonhão volta pra sala. Serena com Dimi no colo, o embalando. Barbara fazendo café e servindo biscoitos.

SERENA: - Tenho orgulho de você, Bábi. Conseguiu vencer na vida. Aproveitou todo o sacrifício que seu pai e eu fizemos. E que não foi pouco.

BARBARA: - Eu sei madrecita. E todos os dias agradeço a vocês pelo esforço que fizeram.

SERENA: - Mi corazón de madre saltaba dentro del pecho! Deixar minha caçula no México sozinha com amigos do Tonho. Chegar em Cuba e mentir que haviam sequestrado você. Pensei que não cairiam em nossa mentira, que seríamos punidos e considerados traidores do regime. E depois calejava meus joelhos diante da Mãe de Jesus, pedindo que tudo desse certo, que você conseguisse a bolsa pra estudar na Flórida e entrasse nesse país pela porta da frente e não por uma fronteira perigosa. Juro que pensei que os Ruiz não conseguiriam essa bolsa pra você e acabariam atravessando você clandestinamente pela fronteira mexicana.

BARBARA: - Eles não eram pessoas irresponsáveis. Eram professores universitários, gente estudada e que me ajudaram muito. E eles deviam favores ao papai, lembra?

SERENA: - E depois, o seu pai morria de medo de deportarem você de volta pra Cuba. Ele arriscaria tirar você de Cuba novamente nem que fosse numa balsa!

BARBARA: - Eu sei madrecita. Não gosto nem de lembrar, mas os Ruiz foram muito bons pra mim, eu era uma filha pra eles. Nunca tentariam me atravessar. Eles sabiam como fazer a coisa certa. Eu devo muito a eles pelo tanto que me ajudaram a estudar e pelos contatos que eles tinham com outros professores daqui.

SERENA: - Estou feliz de ver que tem uma linda casa, um emprego, um marido e um filho lindo! Pelo menos uma de vocês deu certo na vida.

Barbara se recosta na pia. Cruza os braços.

BARBARA: -Madre, a coisa tá feia em Havana, né? Meus irmãos estão dando trabalho pra vocês.

SERENA: -O Jorge deixou a esposa, ela chora dia e noite, e toda a semana vou lá pra tentar animar minha nora. No dia da visita aos filhos, as crianças ficam mais lá em casa que na casa dele. Arrumou uma vadia. Lembra da filha do Seu Enrico do armazém? Então. Aquela safada destruiu a vida dele e tá levando tudo o que ele tem. Ela tá de olho no emprego público dele no banco, é a carteira que ela quer. E sua prima Teresa escondeu toda a sacanagem, acredita?

BARBARA: - Aquela batuqueira vesga e invejosa... Ai! Não fala nada da minha vida pra essa criatura! Ela viu a foto do meu casamento no Orkut e foi lá comentar, botando olho no meu Ratoncito. Vadia! Queria dar uns bofetes naquela maria da periquita foguenta! Acredita que ela pediu amizade pra Scully? A minha amiga que te falei. Só pra saber da minha vida! Eu avisei a Scully pra não aceitar, porque se bobear, ela bota olho no marido da Scully também! Haja tambor em Havana! Nem postei fotos do Dimi pra não botar olho gordo no meu filho.

SERENA: -Jesus, Maria e José, nunca! E o seu irmão Gui ainda tá casado com a Sonia e ainda tem a oficina. Suas irmãs naquela vidinha de sempre, filhos, marido, casa pra limpar... Por Deus, Bábi, não comente nada com o seu pai sobre isso! Ele não sabe da vadia. Se souber, ele vai socar seu irmão até ele colocar o juízo no lugar.

Tonhão entra com uma enorme sacola de viagem.

TONHÃO: -Esses gringos filhos da puta reviraram toda a bagagem na fronteira e nos aeroportos! Acham que porque somos latinos somos traficantes?

BARBARA: -Eles fazem isso com todos, papai. Desde os atentados em Nova Iorque a segurança aumentou muito. Vocês entraram como mexicanos, não é? Fizeram o que eu disse?

TONHÃO: - Sim, ou nem estaríamos aqui! Cuba não nos deixaria sair e os americanos não nos deixariam entrar! Cuba nos permitiu duas semanas pra visitar as ruínas maias no México. Aterrissamos na Cidade do México, encontramos os Ruiz no aeroporto, eles nos entregaram os passaportes mexicanos que você mandou pra eles pelo correio, pegamos um voo até Monterrey. Depois alugamos um carro e entramos pela fronteira do Texas.

SERENA: - Os Estados Unidos nos deram uma semana como visitantes. Seu pai disse que estávamos vindo para visitar você e o nosso netinho na Virgínia.

TONHÃO: - Comprei até um chapéu de Mariachi pra atravessar a fronteira. Se me pedissem provas eu cantaria La Cucaracha e comeria tacos! Mas pra nossa sorte, eles acham que todos os latinos são iguais! Pegamos um avião no Texas e chegamos aqui.

BARBARA: - Meu Deus, quanto sacrifício pra duas pessoas nessa idade, tudo pra verem a filha e o neto! Essa maldita rinha política me dá nojo! Vocês devem estar super cansados de tanto avião, carro e fora a tensão nervosa.Eu amo você dois!

SERENA: - Estávamos com medo dos passaportes falsos, filha. Se nos pegassem, teríamos que dizer que éramos cubanos e seríamos deportados na mesma hora.

TONHÃO: - Depois de sermos presos, interrogados, considerados espiões de Fidel ou até jogados em Guantánamo. Vai saber o que esses gringos fazem com os cubanos que tentam entrar no país deles.

BARBARA: -Meu amigo Byers conseguiu esses passaportes, tá? Fiquem com eles, são quentes.

Barbara dá um beijo na mãe e abraça o pai, que tira coisas da bagagem.

BARBARA: -O que tem aí?

TONHÃO: -Coisas que você tem saudade. Todas industrializadas, porque não passa nada nesses aeroportos que seja caseiro. Suas comidas e temperos favoritos. Até aqueles biscoitos que você adora. E uns presentes pro meu genro e meu neto.

BARBARA: -Ai saudades de Cuba por algumas dessas coisas. Outras não.

TONHÃO: -Não parece. Desmereceu o casamento que eu paguei pra você. Ignorou seu pai e o direito básico dele entrar numa igreja com a filha de branco, embora branco seria blasfêmia porque você já estava de festa com esse rato comunista aí.

BARBARA: -Papacito, eu já expliquei. Alex me fez uma surpresa quando fomos pra Rússia. Casamos numa igreja ortodoxa...

TONHÃO: -Não valeu, porque eu, o seu pai, não levei você até o altar! E você é católica e não ortodoxa. O casamento, a festa, a decoração tá toda paga e vocês dois vão ir pra Havana e se casar como devem. É isso o que eu mereço depois de todo o sacrifício que fiz pra você vir estudar na América? Filha ingrata! Se não fosse sua mãe e eu, você estaria em Havana, cheia de filhos como as suas irmãs, esquentando a barriga no fogão e esfriando no tanque! Com sorte passaria num concurso público pra trabalho burocrático ou seria professora. Porque pra médica nunca serviu.

Barbara dá um beijo estalado no pai.

BARBARA: -Papacito lindo, não fica assim não. Alex concordou que a gente vai pra Havana se casar, mas precisamos que o Dimi esteja mais crescidinho. A gente entra fácil, ele tem passaporte russo e eu sou cubana naturalizada americana. Sou filha da Ilha, não vão me barrar.

TONHÃO: -Tomara que não espere pra casar até o Dimi estar adulto, porque até lá a mulher do bufê e o padre já terão batido as botas e eu vou perder meu dinheiro sacrificado que juntei pro dia do seu casamento! Ele casou antes ou depois da sua barriga?

BARBARA: -Foi por amor, se é isso o que quer saber.

TONHÃO: -Ah, fizeram o filho primeiro! Pelo menos ele assumiu. Sabe o que os soldados russos costumavam fazer? Engravidar as cubanas quando ficavam na Ilha. Carne morena, eles ficavam doidos! O que mais tem lá é descendente de safados russos sem pais! E a sua prima lá tá pançuda de novo, agora de um brasileiro safado que foi apostar num cassino e desapareceu! Eu não criei filha pra ser burra, mas infelizmente a única esperta é você!

BARBARA: -Ai meu Deus, quanto exagero!

TONHÃO: -Exagero não! A única coisa que exigi de vocês foi que estudassem. E sempre disse pras meninas: vocês tem que estudar mais ainda que os meninos, porque se tiverem azar no casamento, vão ter como se virarem na vida sem precisarem se humilhar pra homem por causa de pensão. Quem me ouviu, ahn? Só você!

A porta da cozinha se abre. Krycek entra. Todos olham pra ele. Krycek olha pra eles desconcertado, interrogando Barbara com o olhar e estranhando o boné na cabeça dela. Tonhão olha sério, de cima a baixo para o genro.

BARBARA: - Alex, esse são os meus pais...

TONHÃO: - Esse é o tal russo que roubou a minha filha caçula? Jaqueta de couro e brinco na orelha? Só faltou o cabelo comprido. Puta que me pariu!

Krycek fica assustado. Serena entrega Dimi pra Barbara e vai até Krycek, dando-lhe um abraço apertado, com direito a tapinhas nas costas, totalmente latino. Krycek sorri tímido, desconcertado.

SERENA: - Meu filho!!! Que bom conhecer você!!! Bábi fala tanto de você, querido.

Barbara segura o riso. Serena se afasta, pegando as mãos de Krycek e olhando pra ele de cima a baixo.

SERENA: -Deixe-me vê-lo! Ele é mais bonito pessoalmente, Bábi! As fotos não fazem jus a ele!

Krycek parece querer se enterrar, completamente sem graça.

KRYCEK: -(SORRI TÍMIDO) Obrigado, senhora Ramirez.

SERENA: -Sou sua sogra, me chame de Serena.

KRYCEK: - Alex Krycek, é um prazer conhecê-la.

TONHÃO: - Ele é mais velho que você, Bábi.

Krycek olha incrédulo.

BARBARA: - Dez anos de diferença. E daí?

SERENA: - Esse aqui é o meu marido, o pai da Barbara.

Tonhão se aproxima e estende a mão, com cara séria.

TONHÃO: -Antonio, mas me chamam de Tonhão, o Demolidor. Porque eu costumava lutar box. Ainda tenho um gancho de direita que bota qualquer marmanjo pra dormir.

Tonhão troca um aperto de mão que quase esmaga a mão de Krycek.

KRYCEK: - (NERVOSO) Ahm... Muito prazer, senhor Ramirez. Alex Krycek.

TONHÃO: -Em que pulgueiro da Rússia você nasceu, soldado?

BARBARA: - (IRRITADA) Papai!!!!!!!!!

KRYCEK: -Moscou, senhor. Nasci na capital mesmo.

TONHÃO: -Eu estive uma única vez na Rússia, a trabalho, por tempo suficiente para não querer voltar nunca mais. Numa cidade congelante chamadaVladivostok.

KRYCEK: -Ah, sim. É uma cidade portuária.

TONHÃO: -É, ele conhece. Não sei se sabe, mas eu fui funcionário público do porto de Havana. Passei um frio do cacete naquela cidade! E só tinha vodca pra beber e eu sonhando com o calor de Cuba e uma boa dose de rum. Fiquei com o rabo congelado naquela merda de lugar!

Krycek sorri sem graça. Barbara se aproxima e troca um beijo com ele, desviando o assunto.

BARBARA: -Tudo certo, amor?

KRYCEK: -Sim, fechamos o cerco e pegamos os caras... E como você está? E o Dimi?

Krycek beija a testa do filho.

BARBARA: -Tranquilo, só abre o berreiro quando tá com fome. E que garganta! Acho que vai ser cantor!

TONHÃO: -Ah um artista na família Ramirez cairia muito bem! Sangue cubano!

BARBARA: -Papacito, Alex canta. Até ópera.

TONHÃO: -Sério?

KRYCEK: -Menos, Barbara...

BARBARA: -Canta sim.

TONHÃO: -Você é comuna?

BARBARA: -Papai!!!!!!!! O que eu falei?

KRYCEK: - B-bem... Eu detesto o comunismo, eu fugi dele. Desculpe, sei que mora em Cuba e...

TONHÃO: -Viu? Nem os russos aguentavam o comunismo! Eu não disse pra vocês? Por que merda eu ainda tenho que aguentar o Fidel latindo na televisão?

BARBARA: - Papacito nada de política! Os meus cubanos favoritos sempre serão Andy Garcia e o Jon Secada!Alex, pensei em convidar o Mulder e a Scully pra jantar conosco.

TONHÃO: -Quem são?

BARBARA: -Os vizinhos, aqueles que eu falei pra vocês que me ajudaram muito. São nossos padrinhos de casamento e padrinhos do Dimi.

TONHÃO: -Mas claro que quero conhecê-los! Ainda bem que trouxe uns presentes extras.

BARBARA: -Ratoncito, pode ir tomar seu banho, meus pais não reparam. Vou com você, preciso pegar uma fralda pro Dimi.

Barbara puxa Krycek pra sala.

BARBARA: -(SUSSURRA) Não estranhe, latinos são mais dados e já saem abraçando as pessoas, ok? E não liga pro meu pai, ele fala palavrão pra caramba, foi estivador, eu falei pra você. Ele xinga todo mundo, parece ameaçador, mas é um coração mole.

KRYCEK: -Por que não me avisou que eles vinham, Malyshka? Eu tô desconcertado, fui pego de surpresa! Seu pai deve achar que sou um velho tarado! E você nunca me disse que ele foi lutador de box! Ele tá olhando pra mim igualzinho o Danny Trejo! Tonhão Demolidor? Pelo amor de Deus, Barbara, em que furada eu me meti?

BARBARA: -Ratoncito eu juro que estou tão surpresa quanto você! Não esperava eles tão cedo! E ignore o meu pai, ele é mais boca suja do que eu.

KRYCEK: -O que vou cozinhar pra eles? Nem faço ideia!

BARBARA: -Não se preocupa. Vou fazer uma listinha, você traz e vou com a mamãe pra cozinha. Vou ligar pra Scully, acho que o clima com eles aqui vai ficar menos tenso.

KRYCEK: - (INCRÉDULO) O Mulder? (DESANIMADO) Malyshka, o Mulder vai adorar a situação e colocar mais lenha na fogueira! O Mulder é um folgado, você sabe disso!

BARBARA: -Ai, para com isso! É bom você ter um amigo por perto, vai se sentir mais confiante.

KRYCEK: -Isso só tá ficando é estressante cada vez mais! Sua mãe já me aceitou, mas acho que seu pai não foi com a minha cara. Ele tá desconfiado de mim.

BARBARA: -Você sabe que eu sou o xodó dele, a caçula e a única que fez a vontade dele em ser uma mulher independente, porque pela minha mãe eu seria dona de casa como minhas irmãs. Papacito nada sabe sobre seu passado. Ninguém precisa saber. E se prepara porque ele trouxe charutos e rum. Acho melhor aceitar. E relaxa, amor. Hum? Seja você mesmo. Não abaixa a cabeça para o meu pai e nem concorde com o que não concorda pra ganhar pontos com ele. Confia no que eu digo. Ele está testando você pra ver se é digno da filha dele. Meu pai é daqueles latinos machões.

KRYCEK: -Ele foi lutador de box? Eu tô lascado, Barbara! Por que nunca me disse...

BARBARA: -Não se preocupa com isso. Eu não disse porque foi há muito tempo atrás, ele era solteiro ainda. Foi assim que conheceu a mamãe.

KRYCEK: -(INCRÉDULO) Sua mãe curte luta de box? Aquela senhorinha doce e sorridente?

BARBARA: -Minha mãe tem outra mulher por dentro, acredite. Acha que puxei a quem? Agora vai tomar seu banho, vou fazer a listinha. Se não souber puxar assunto com ele, leve-o pra garagem e mostra a moto, o trailer, ferramentas, fala de consertos... Ele adora essas coisas.

KRYCEK: -Ele falou do brinco e da jaqueta! Se eu soubesse...

BARBARA: - Relaxa, tá? Ele falou, mas porque ficou impressionado com seu estilo. Meu pai também curte, ele já teve cabelos longos, tem tatuagens e sempre gostou de rock. Ganhou pontos com ele pelo visual, meu ratboy. Mostra a Harley pra ele e vai deixar o Tonhão maluco!

Os dois trocam um beijo. Krycek sobe as escadas, nervoso. Barbara volta pra cozinha.



BLOCO 2:

7:31 P.M.

Krycek abre a porta da frente. Mulder numa cara debochada segura duas garrafas de vinho. Scully com Bryan no colo. Victoria segura um prato de sobremesa.

VICTORIA: - Oi tio Tchek! Eu ajudei a fazer a sobremesa.

KRYCEK: - (SORRI) Sério, Scullyzinha? Entrem. A Barbara tá na cozinha.

Scully entra com as crianças, Mulder fica parado na porta, segurando o riso.

MULDER: - Vim dar uma força pro meu amigo.

KRYCEK: - Ah, eu imagino. Tá se divertindo, né, Mulder?

MULDER: - E aí? Quem morde? O sogro ou a sogra? O cara é grandão?

KRYCEK: - Não, ele é latino, mediano. Não é um Stallone, tá mais pra Chuck Norris.

MULDER: - Ferrou, Rato! Baixinho só serve pra fazer os grandes brigarem.

Mulder entra.

KRYCEK: -Mulder, não fala nada do meu passado, não faz piadinhas idiotas e nem me chame de amorzinho, eu imploro pra você!

MULDER: -Tá, "amorzinho", não vou contar nada sobre o seu passado, sobre a nossa relação amorosa e nem que você adora apanhar como mulher de malandro.

KRYCEK: -Mulder, um dia desses eu pego você e encho de porrada até desmanchar você num canto! Só tô avisando. Uma hora dessas você vai me provocar num dia ruim e eu vou te mostrar com quantos socos eu arrebento a sua cara de cachorro pidão.

MULDER: -Não vai acontecer. Eu sou o sádico, você o masoquista. Eu bato e você apanha.

KRYCEK: -Já tá avisado. Entra aí e vê se não apronta. Já tô nervoso o suficiente com a situação.

MULDER: -Para de reclamar! Você não tem um cunhado mala como eu tenho! Se dependesse do Bill Dog eu nunca estaria com a Scully, o cara só me esculhamba e me humilha na frente da família. Você conhece o chato, sabe do que tô falando. Ainda vai almoçar lá em casa amanhã e vou ter que fazer cara de paisagem, assar churrasco pra ele e resistir a tentação de não colocar pimenta, porque o imbecil é alérgico.

KRYCEK: -Eu colocava... Melhor não, afinal ele salvou a Samantha.

MULDER: -É. Só por isso nunca dei uma porrada nele.

Krycek fecha a porta.

MULDER: -Rato, bem vindo a parte chata do casamento: a família da mulher. Você casa e leva esse brinde. E se a Barbara é como a Scully, ai de você que reclame da parentada chata dela.


8:12 P.M.

Todos sentados à mesa, jantando. Bryan brincando no tapete do estar íntimo. Dimi dormindo no carrinho. Victoria brincando com o cachorro na varanda. Mulder abre o vinho.

MULDER: - Não conheço Havana. Gostaria de conhecer.

TONHÃO: - Você vai gostar. É padrinho deles, está convocado pra ir ao casamento.

MULDER: - (OLHANDO DEBOCHADO PRA KRYCEK) Não perderia isso por nada desse mundo.

Scully cutuca Mulder, discretamente.

BARBARA: - O Byers resolve a coisa dos passaportes se o pedido de entrada não der certo.

KRYCEK: - Malyshka, é mais fácil americanos entrarem em Cuba do que cubanos na América. Era assim na época da Guerra-Fria com os russos. Era mais fácil um americano entrar na Rússia que um russo entrar aqui.

TONHÃO: - Me desculpem os amigos americanos à mesa, nada contra vocês... (PRA KRYCEK) Ainda olham pra você como inimigo, quando sabem que é russo?

KRYCEK: -Na verdade eu consegui cidadania americana. E não costumo dizer que sou russo, não tenho sotaque, mas quando sabem, sim, fazem piadinhas. Os caras lá na delegacia então... Mas é brincadeira, nada que seja ofensivo. Meu parceiro é negro, acho que ele sofre mais preconceito pela cor do que eu pela minha nacionalidade.

TONHÃO: - É, eu ia comentar que você não tem sotaque. Até hoje eu não entendo como a minha filha conseguiu um greencard sendo cubana!

Scully morde os lábios. Barbara fica nervosa. Krycek segura a mão dela.

KRYCEK: - Ela se destacou como repórter, conseguiu fácil.

MULDER: - (CORTANDO O ASSUNTO) Eu sou filho de judeus, meu pai nasceu em Berlim e minha mãe era americana descendente de judeus. E mesmo sendo americano, quando descobrem que tenho origem judaica, a folga começa. Mas nada ofensivo também.

SCULLY: - As pessoas gostam de piadinhas. Acho que não é racismo, se isso não for ofensivo,embora grande parte dos americanos sejam racistas. Ok, eu sou ruiva e tenho olhos azuis, pra mim é fácil falar. Mas acho isso vergonhoso, porque até o mais branco dos americanos certamente tem genética em algum país europeu, principalmente a Inglaterra. Mesmo tendo pele branca, não pensam que americano mesmo, de origem, são os índios, que eles tanto discriminam. A América inteira é indígena. Nós somos os intrusos no continente.

SERENA: - Uma parte da população de Cuba é negra. Grande parte mestiça. E isso torna tudo muito mais interessante culturalmente.

KRYCEK: - O racismo não é uma coisa exclusiva de brancos europeus ou americanos. É uma doença social espalhada pelo mundo inteiro. Os chineses não entraram em guerra com a Coréia, torturam e mataram coreanos por conta de racismo? Eu não sei distinguir um chinês de um coreano, vocês sabem?

TONHÃO: - Verdade. Infelizmente é verdade.

MULDER: - Eu só quero ver se Obama vencer as eleições. Tô pagando pra ver um negro com nome islâmico sentado na Casa Branca. Que tapa na cara dos conservacionistas racistas.

Victoria se aproxima correndo.

VICTORIA: - Tia Barbie, eu posso ensinar uns truques pro Rasputin?

BARBARA: - Claro, amor. Pode sim. O Rasputin não aprende nada do que eu ensino, quem sabe você tem sorte? Ele não sabe fazer xixi no tapetinho e enterra minhas coisas no quintal, acabando com as minhas plantas.

MULDER: - Barbara, o cachorro é macho, ok? Ele nunca vai agachar pra fazer xixi em tapetinho!

Eles riem.

BARBARA: - Ele não precisa agachar, pode levantar a perna! E nem sei se ele é macho ainda, já que o Alex castrou o coitadinho!

MULDER: -(DEBOCHADO) Por isso o cachorro tem essa cara de tristeza! Que vergonha, Rato! Só você pode ter bolas nessa casa?

Tonhão começa a rir. Krycek olha atravessado pra Mulder.

VICTORIA: - Tá, deixa comigo! Vem Rasputin, vamos conversar!!!

Victoria volta pra varanda. Barbara ri.

SERENA: - Seus filhos são uma graça. Sua filha então, é uma criança tão amável e educada.

SCULLY: - (SORRI) Obrigada.

SERENA: - Eu tenho três netinhas e três netinhos. Adoro crianças.

TONHÃO: - Então Alex, o que você fazia antes de ser policial?

Krycek quase se engasga. Leva o vinho rapidamente à boca.

MULDER: - Agente do FBI. Foi meu parceiro.

TONHÃO: - Ah, então são amigos de longa data!

MULDER: - Nem imagina o quanto! Ele aprontava cada uma pra mim... Tinha vezes que eu queria socar esse palhaço... Ele é um brincalhão.

Scully chuta a canela de Mulder. Tonhão olha pra Krycek, que sorri sem graça.

TONHÃO: - Ah, então meu genro tem senso de humor?

MULDER: - Nem imagina o quanto!

SCULLY: -(CORTANTE) Então, vocês já conheciam os Estados Unidos?

TONHÃO: - Não, senhora. O máximo que chegamos perto foi no México.

SCULLY: - Barbara me contou os sacrifícios que fizeram para que ela pudesse estudar aqui.

TONHÃO: - Minha princesa mereceu. Garota inteligente. Orgulho do papacito dela. Eu mato o desgraçado que aprontar pra minha garotinha.

Barbara sorri e dá um beijo estalado no pai. Mulder olha pra Krycek e faz um gesto passando o dedo no pescoço. Krycek fica mais tenso ainda.

MULDER: - Então vão ficar alguns dias pra aproveitar. Eu sugiro um mês ao menos para poderem conhecer os pontos turísticos, a capital... Aproveitarem que Alex está de licença. Ele é ótimo guia turístico.

Krycek dá aquela olhada maligna pra Mulder.

TONHÃO: - Na verdade vamos pra um hotel e ficaremos dois dias.

BARBARA: - Nem pensar! Que hotel? Vai fazer ofensa pra sua filha? Tenho um suíte pra vocês lá em cima. Dois dias? Só dois dias? Vocês tem permissão pra ficarem uma semana! E a gente pode tentar prorrogar o visto.

SERENA: - Bábi, seu pai marcou os exames de rotina...

BARBARA: - Desmarca! Estou há anos sem ver vocês e vão embora assim? A última vez que fui a Cuba tem quase 10 anos! Queria você comigo um pouquinho, a gente tem tanto pra conversar. Seu netinho precisa da avó. Eu vou tirar os pontos ainda, queria passear com vocês.

TONHÃO: - Depois conversamos isso, Bábi.

MULDER: - O senhor foi lutador de box então?

TONHÃO: - Peso médio. Eu derrubava qualquer cara. Ainda derrubo.

Tonhão ergue a manga da camiseta e mostra a musculatura e a tatuagem de caveira. Krycek arregala os olhos.

MULDER: - Puxa, seu genro também gosta de luta. Podia treinar uns socos...

Agora é Krycek quem chuta Mulder por baixo da mesa.

SCULLY: - Sem lutas, detesto essas coisas.

SERENA: - Eu gosto. Adoro uma boa luta de box. Foi como me apaixonei por ele.

Scully arregala os olhos e leva a taça à boca. Krycek só observa.

BARBARA: - Meus pais não são um casal normal.

TONHÃO: - E o que é casal normal? A vida é curta demais pra ser normal. Concorda, Alex?

KRYCEK: - Ah, sim... Concordo com o senhor.

MULDER: - Claro que ele concorda. Alex detesta rotina, organização, essas coisas. Russo, sabe?

TONHÃO: -Sei. Convivi com muitos russos no porto de Havana. Mandavam armas pra Cuba e ficavam se engraçando com as cubanas. Mulder, você bebe rum? O rum cubano é o melhor rum do mundo. Vou abrir uma garrafa e vamos fumar um charuto lá fora, você, eu e o meu genro, longe das mulheres e conversar assuntos de homens.

Tonhão olha pra Krycek, que já está apavorado.

MULDER: - Claro! Vou adorar isso!

SCULLY: - Mulder, você não fuma!

MULDER: - Ah, mas um charuto cubano na companhia de amigos e papo de homem...


8:31 P.M.

Barbara vai se levantar da cadeira. Krycek se levanta e a ajuda. Tonhão só observa, disfarçando.

SCULLY: - O jantar estava delicioso. Deveria ter me chamado antes, eu teria vindo ajudar vocês duas.

BARBARA: - (SORRI) Nem cheguei perto da cozinha, Scully. O Alex e a mamacita fizeram o jantar. A sua sobremesa também estava muito boa.

SERENA: - Estava mesmo. Gostaria da receita.

Krycek começa a recolher os pratos. Tonhão o observa. Krycek não percebe e vai pra cozinha com os pratos.

TONHÃO: - Vamos lá pra fora, Mulder.

Mulder se levanta e vai com Tonhão pra varanda. Krycek pega o avental. Serena se aproxima.

SERENA: - Alex, deixe isso que eu faço. É coisa de mulher.

KRYCEK: - (SORRI) A senhora tá brincando né?

BARBARA: - Mamãe, estamos nos Estados Unidos. Aqui as tarefas da casa são divididas. Não tem essa de homem ou mulher.

SERENA: - Sério?

BARBARA: - Sério.

SCULLY: - Ou pelo menos deveria ser. Algumas vezes você tem que dar um piti pra ajuda acontecer.

Eles riem.

KRYCEK: - Mulder continua uma péssima dona de casa?

SCULLY: - Mulder não tem mais conserto. Cozinha bem, pelo menos aprendeu. Mas se mandar fazer duas coisas ao mesmo tempo, uma vai dar errada.

SERENA: - Como as coisas são diferentes entre as culturas.

BARBARA: - Sim. E a nossa é muito machista. É uma coisa dos latinos machões.

KRYCEK: - Dos russos também, Malyshka. Russos são machistas. Eu sei fazer as coisas e gosto disso porque desde cedo aprendi a me virar, mas não pensem que todo russo ajuda em casa. E depois quando você é solteiro, se não faz, quem vai fazer?

SCULLY: - Eu fico maluca com machistas. Pensam que não coloco o Mulder no serviço? Ele faz as coisas quando está disposto, quando não está, é só abaixo de cara feia. Bryan não vai ser assim.

BARBARA: - Nem o Dimi! Quando ele aprender a abrir a torneira já vou ensinar a lavar o copo. Somos nós quem estragamos os homens. Criamos machões, fazemos tudo pra eles.

SCULLY: - Ah, eu sei disso! Minha mãe mandava Sissy e eu lavar a louça, os meninos saíam da mesa e iam dormir. Vocês são meninas, eles não. Grande coisa! Homem não pode fazer serviço doméstico?

SERENA: - Tonhão não faz nada de serviço de mulher! Meus genros então... Minhas filhas servem até o prato pra eles ou não comem.

BARBARA: - (RINDO) Eu não falei que meu Ratoncito é fofo? Só não faz propaganda lá em Havana que vão começar a bater tambor! Amor, deixa a louça pra gente. Vai lá fora tomar rum, fumar e coçar as bolas como todo macho, antes que o meu pai pense que você é boiola por lavar pratos.

Krycek sai da pia e seca as mãos. Serena vai pra pia. Scully pega um pano de prato.

BARBARA: - Eu guardo.

KRYCEK: - Não senhora, não quero você fazendo esforço. Vai sentar.

SCULLY: - Isso, vá sentar. Cuidado com os pontos.

Krycek vai pra varanda.

BARBARA: - Que droga, eu não aguento mais esses pontos. Quero minha vagina de volta!

Scully começa a rir. Serena ri junto.

SERENA: - Eu sei porque você quer sua vagina de volta.

BARBARA: - Ai madrecita! Eu gosto da coisa! Fico olhando pro Alex e subindo nas paredes! Tô na seca há meses! E o pobre deve estar a mil também! Como mulher sofre!

Corta para a varanda:


Na varanda, Tonhão e Mulder sentados, bebendo rum, fumando charuto e dando risadas. Krycek senta-se.

TONHÃO: - Pensei que ia ficar na cozinha a noite toda ouvindo fofoca de mulher. Não precisa me impressionar.

Tonhão serve um copo pra Krycek.

KRYCEK: - Estou acostumado a fazer as coisas pra Barbara... Obrigado.

TONHÃO: - O melhor rum do mundo. Deixei uma garrafa pra você e dei a outra pro Mulder. Pega um charuto.

KRYCEK: - ... Eu não fumo. Vou fazer por educação, o senhor trouxe isso de bom grado.

Krycek pega um charuto. Tonhão enche o copo dele de rum. Krycek arregala os olhos.

KRYCEK: -Não, senhor Ramirez, menos!

TONHÃO: -Beba mais, Alex. Macho que é macho bebe até cair.

KRYCEK: - Não, eu não bebo muito... Uma cerveja com o Mulder, uma vodca com a Barbara...

TONHÃO: - Mas é uma ocasião especial.

KRYCEK: - Mas sei o meu limite.

TONHÃO: - Quando forem pra Cuba vou levar vocês dois pra darem uma volta na noite de Havana.

MULDER: - E o que tem nas noites de Havana?

TONHÃO: - Salsa, rum e belas morenas.

Mulder olha pra Krycek. Pisca o olho.

TONHÃO: - Que tal, Alex? Belas morenas cubanas dançando salsa com saias curtas, aquelas bundas morenas e redondas de fora. Deixam qualquer europeu maluco e de pau duro!

KRYCEK: -(SORRI SEM GRAÇA) Não, senhor Ramirez. Eu já tenho uma bela morena cubana. A mais bela de todas.

Mulder segura o riso. Disfarçando, faz sinal de positivo pra Krycek. Mulder se levanta.

MULDER: - Adorei a noite, o rum, o charuto. E gostei de conhecê-lo, mas realmente preciso ir.

TONHÃO: - Já?

MULDER: - Amanhã tem almoço com a sogra. Nem arrumei a mesa no jardim e nem temperei as carnes. A patroa vai me esfolar. Sabe o quanto as baixinhas são bravas, Tonhão. A minha então vira uma leoa, sai me caçando pela casa!

TONHÃO: - (SORRI) E como sei! Minha mulher se chama Serena, mas serenidade só no nome, quando baixa a louca nem o diabo aguenta. Ah! Não esquece de levar o rum e os charutos, Mulder. Foi bom conhecer você.

MULDER: - Nos veremos ainda. Alex, me acompanha até a porta?

Krycek se levanta.

Corte.


Krycek abre a porta da frente. Mulder com a garrada de rum, uma caixa de charutos e Bryan dormindo em seu braço.

SCULLY: - Valeu pela noite, Alex.

VICTORIA: - Valeu, tio Tchek.

Krycek passa a mão nos cabelos de Victoria num sorriso.

KRYCEK: - Gostei da sobremesa, Scullyzinha. Valeu mesmo!

MULDER: - Rato, fica esperto. O Popeye lá vai jogar verde pra colher maduro. Está testando você e o seu caráter, ok? Não minta, seja você mesmo, defenda o que acredita mesmo que discorde. Viu o lance das morenas. Ele queria pegar você e se deu mal. Jogou pra ver se você era mulherengo e poderia trair a filha dele. E ficou empurrando rum pra ver se você é viciado em bebida.

KRYCEK: -Se deu mal mesmo, porque eu posso ter muitos defeitos, mas esses eu não tenho. Valeu, Mulder. Vou encarar a fera. A Barbara me disse a mesma coisa.

MULDER: - Se ela disse, acredite. Ela conhece a fera. O Tonhão é gente boa, só tá sendo o pai protetor. Azar o seu por se casar justamente com a princesinha dele. Eu entendo o lado dele e faria a mesma coisa se fosse a minha filha.

SCULLY: - Meu Deus! Agora entendi tudo! Mulder se reconheceu no Tonhão. É o que ele vai fazer com o genro algum dia!

MULDER: - Eu? Não. O Popeye até compreensível demais! Se fosse eu já tinha esfolado o couro do genro. Com a minha filha não!

SCULLY: - Mulder, quer que Victoria seja freira?

VICTORIA: -Nah! Eu não vou ser freira!

MULDER: - Scully... Deixa esse assunto quieto. Parabólica na área.

VICTORIA: - Eu não sou parabólica! E não vou ser freira!

Krycek começa a rir.

KRYCEK: - Victoria vai se casar com o Dimi.

MULDER: - Mas nem se o seu camundongo fosse o último cara no mundo!

VICTORIA: - (PROVOCANDO) O Dimi vai ser bonitinho. Pode ser o amor da minha vida.

Scully segura o riso.

MULDER: - (PÂNICO) Quê? Nem pensar, você ainda tem muito cereal pra comer e o amor da sua vida ainda sou eu! Raposas e ratos não combinam!

SCULLY: - Mulder, chega, vamos embora. Você nem arrumou nada pro almoço de amanhã. E não pensa que vai dormir antes de colocar aquela mesa no quintal!

MULDER: - Como eu digo sempre, a última palavra é a do marido: Sim, amor.

Eles saem. Krycek fecha a porta, rindo.

Corte.


Tonhão parado em pé na varanda, fumando charuto, olhando para o jardim iluminado. Krycek se aproxima.

TONHÃO: - Vocês têm uma boa casa. Grande, espaçosa e confortável. Um bairro tranquilo, bons vizinhos. Dá pra criar filhos aqui.

KRYCEK: - Com certeza.

TONHÃO: -Gostei do seu amigo Mulder. Ele me contou umas piadas. Tem muito senso de humor. Leve ele pra Cuba quando vocês forem se casar. Mulder se parece com o falecido Tito, o tio da Serena. Era a alma da festa. Sem o Tito as festas ficaram chatas.

KRYCEK: -Mulder é uma pessoa de coração bom. Ele é como um irmão pra mim. Eu respeito aquele cara. Devo muito pra ele. Incluindo a Barbara.

TONHÃO: -Eu ia perguntar como conheceu minha filha. Ela nunca me disse. Essas coisas ela fala mais com a mãe dela. As duas ficam de segredinhos. Coisa de mulher.

KRYCEK: -Um amigo do Mulder que é jornalista, estudou com a sua filha na Flórida. O Mulder tava enfrentando uns problemas aí com gente do governo e acabou sendo preso injustamente. Esse cara falou pra Barbara que se interessou na história e eu fui a fonte dela. Eu queria soltar o Mulder e provar que ele era inocente e sua filha me ajudou a fazer isso. Assim nos conhecemos.

TONHÃO: -E já foram para os finalmentes? Seja sincero porque eu descubro mentiras.

KRYCEK: -Não, senhor. Demorou bastante. Barbara é uma mulher de respeito. Conversamos sobre a possibilidade de tentar namorar, ela queria casar e já disse logo de cara. E eu já estava numa fase da vida aonde queria sossegar, me sentia sozinho. Começamos a conversar, trocar papo no telefone, depois se encontrar... Felizmente deu certo.

TONHÃO: -É bom que você seja mais maduro que ela. Barbara é muito desligada das coisas e impulsiva. Assim tem você pra colocar ela nos trilhos.

KRYCEK: - Acho que foi ela quem me colocou nos trilhos.

TONHÃO: -Você conserta as coisas? Faz reparos ou paga alguém?

KRYCEK: - Eu mesmo faço. Menos algum serviço de pedreiro, eu não sei erguer paredes, essas coisas... Hidráulica e elétrica entendo o suficiente...

TONHÃO: -Seu pai ensinou? Irmãos...

KRYCEK: - Não, perdi meu pai com dez anos e sou filho único. Aprendi no exército. Mecânica também. Eletrônica... O exército russo sempre foi muito exigente e fazia a gente aprender mexendo e tomando bronca do sargento.

TONHÃO: -Ah, você serviu... É, o serviço militar faz um homem. Antigamente, porque hoje, essa garotada só fala em balada, mulher e trepar. Trabalhar e estudar eles não querem. Querem pegar mulher, ostentar e tudo com o dinheiro dos pais, quando não se metem com traficantes pra ganhar dinheiro fácil. São homens só pra meter e dizer que são machos. Tirando o pinto, não servem pra nada. Não sabem manter uma casa e se duvidar ainda querem que os pais sustentem eles e os filhos que fizeram. Ostentação às custas dos outros. Não se fazem mais homens como antigamente. Homens de verdade, caras de responsabilidade, que encaravam no peito e na raça tudo o que vinha pela frente, de cabeça erguida, batalhando de sol a sol pra sustentar a família. Geração inútil e cega pelo consumismo.

KRYCEK: - Infelizmente é uma realidade entre tantas. Vejo isso todos os dias na delegacia. É um mundo doido pra se ter um filho. Mas eu já disse pra Barbara, Dimitri vai aprender desde cedo que pra conseguir algo na vida tem que ir à luta. Nada de moleza ou bater pé.

TONHÃO: -Concordo com você. Criamos os filhos pro mundo, eles precisam estar preparados pra tudo... Vocês têm um lindo jardim. Aquelas palmeiras não são nativas daqui.

KRYCEK: -Não, Barbara conseguiu umas mudas. Eu plantei e tentei deixar como Barbara queria. Um lugar pra relaxar, ler um livro...

TONHÃO: -Posso ter a certeza de que a minha filha está segura, Alex? Por que ela fala demais na televisão. Coisas que mexem com gente importante e me deixam insone.

KRYCEK: -Eu mato quem tocar um dedo nela. E pode acreditar nisso. Sem pestanejar.

TONHÃO: -Você é um cara bem vivido, dá pra ver as feridas que carrega na alma. Não que você não tenha bom humor, só esqueceu como é sorrir. E isso acontece com quem passou muita merda na vida. Eu tenho 65 anos, já vi muita coisa naquele porto de Havana. Conheci toda a ralé que frequentava o cais pela noite. Bandidos, golpistas, ladrões, traficantes, prostitutas... Então eu sei reconhecer as pessoas pra dizer que você nem sempre foi boa coisa, mesmo usando um distintivo de policial agora. Se isso não faz de você pior ainda, pois existem policiais desonestos e mais canalhas que bandidos.

KRYCEK: - Tem razão, senhor Ramirez. Nem sempre fui boa coisa. Em parte sua filha tem culpa por me transformar no homem que eu sou hoje. E eu levo a sério e honestamente a minha profissão de policial.

TONHÃO: -E como se sente quando prende quem já foi colega um dia?

KRYCEK: - Como alguém que está tirando outro do crime e jogando numa prisão, dando uma chance pra ele mudar de vida. Nem todos tem a sorte de encontrarem pessoas dispostas a ajudar, como eu tive o Mulder.

TONHÃO: -Barbara sabe desse seu passado?

KRYCEK: - Ela sabe toda a minha vida, bem antes da gente ficar junto. Nunca escondi nada dela. Olha, senhor Ramirez, sei que está preocupado com sua filha. Posso entender, eu sou pai. Eu me preocuparia com meu filho também. Posso não ser o genro dos seus sonhos, posso não ser o cara mais bonito do mundo e nem ter uma ficha imaculada que daria inveja aos santos. Mas eu amo a sua filha. Eu faço qualquer coisa pra ela e por ela.

TONHÃO: -... Barbara é uma garota um pouco tonta e ingênua na vida pessoal.

KRYCEK: -Não. Ela é uma mulher extremamente maravilhosa, amiga, esposa e mãe. Um pouco ligada no 220, mas eu não tenho medo de choque. Barbara me faz ser menos chato e ter motivos pra sorrir.

Tonhão abaixa a cabeça rindo. Leva o braço em Krycek.

TONHÃO: - Filho... Agora vou chamar você de filho e não estou bêbado, porque detesto beberrões, homens que não sabem seus limites. E mulherengos que não respeitam suas esposas e seus filhos. Vi que você é um homem sério que respeita sua esposa, seu filho e sabe seus limites. Gosto disso. Você é homem de verdade. O que mais eu tinha medo era chegar aqui e ver que minha filha se casou com um bêbado, um mulherengo, um cara que batia nela ou poderia matá-la se ela levantasse a voz, talvez um vagabundo que a explorasse financeiramente.

KRYCEK: -Fique tranquilo. Eu nunca levantaria a mão pra sua filha. E o salário dela é para as coisas dela. As despesas da casa são minhas.

Tonhão senta-se. Acende o charuto. Krycek senta-se na frente dele.

TONHÃO: - Nunca fiz nada de errado na vida, talvez mentir pro meu governo pra tirar minha filha do país e algumas lutas de box por baixo dos panos em porões de cassinos, em troca de dinheiro extra pra comprar uma casa e me casar com a Serena. É, quebrei alguns narizes por isso. Entrei com 18 anos naquele porto, aprendendo o serviço na marra, e saí com cabelos brancos e uma aposentadoria boa de funcionário público. De brinde a coluna ferrada e um pino na perna por conta de uma caixa que caiu da empilhadeira.

KRYCEK: - ...

TONHÃO: -Criei quatro filhas e dois filhos. Sete bocas dependiam de mim e o país numa merda completa, funcionários públicos eram os primeiros a ter corte de salário. Paguei aulas de inglês pra Bábi e confesso que pra isso os outros ficaram sem iogurte na geladeira. Passei noites chorando e em claro, sem saber se minha princesinha estava passando fome na América enquanto corria atrás dos seus sonhos. Minha ajuda financeira nunca chegava. Esses gringos de merda com seu embargo maldito! Eu não deixaria minha Bábi ser uma jornalista censurada num país comunista, enquanto ela tinha talento pra ser uma repórter internacional. Eu queria que ela fosse estudar no Canadá ou até na Rússia, mas o sonho dela era esse país. Teria sido mais fácil se tivesse sido bailarina.

Krycek morde os lábios.

TONHÃO: -Eu não posso ser cretino. Se não fossem os russos e Fidel Castro, Cuba nunca seria o país decente que é hoje. Fidel tirou Cuba das mãos de um ditador e sua polícia violenta e opressiva. Acabou com a exploração turística americana e a vida boa dos ricaços usurpando nossa ilha. Deu vez aos pobres. Eu admiro Fidel por sua esperteza. Ele queria de bom grado buscar alianças com superpotências, para tornar Cuba uma nação, mas os americanos o ignoraram como ignoram qualquer líder latino. A Rússia comuna não foi a primeira opção dele, mas foram vocês que abriram os braços pra nós, e sabemos que por interesse também. Graças a Fidel não nos tornaríamos escravos de regimes militares que os americanos incentivaram posteriormente na América Latina, quebrando os países todos e os fazendo beijar a bunda americana em troca de esmolas, perseguindo, exilando e matando pessoas que tinham a coragem de pensar. Guerra é guerra. Vocês queriam o mundo, assim como eles queriam. O comunismo transformou uma ilha pequena em nação grande e forte. Mas tivemos um preço por tudo isso. Você é russo. E pela sua idade entende o que estou falando.

KRYCEK: - É, eu entendo muito bem, senhor Ramirez.

TONHÃO: -Até hoje os americanos não engolem a história da Baía dos Porcos. Embargaram Cuba, usaram nossos soldados contra nós, sabotaram, assassinaram e até tentaram matar Fidel, tudo pela aliança nossa com vocês. Soltavam bombas nos canaviais, tentavam destruir nossas pequenas economias e vocês nos davam armas, petróleo, recursos e tecnologia para resistir. Depois veio a Crise dos Mísseis de Cuba. O Kruschev em acordo com Kennedy retirou os mísseis todos da ilha, sem avisar Fidel. Foi aí que a mágoa começou e a miséria bateu na porta novamente. Mas Fidel seguiu firme, começou a ajudar outros países como a Argélia a se libertar do imperialismo americano e isso abriu comércio com países africanos até para a Venezuela. Então, sem Fidel, Cuba nunca seria o que é hoje. Posso discordar de atuais discursos políticos, mas também respeito o homem. Só que já passou da hora dele largar a cria, porque se não larga mais o poder, isso também é uma ditadura.

KRYCEK: - O poder é uma tentação para muitos, senhor Ramirez. Uma vez lá, poucos sabem a hora de sair. Eu paguei um preço alto na vida pra trocar a Rússia comunista pelo sonho da liberdade americana. Ainda pago. Negociei com o diabo e a dívida agora é eterna. E o sonho americano não passa de uma ilusão. Eles são um povo manipulado politicamente, iludidos na primeira emenda, ouvindo mentiras de barriga cheia com conveniências de consumo pra todo o lado. Apenas um pão e circo mais elaborado e disfarçado do que o comunismo. E de pensar na utopia de Marx... Não adianta, sempre haverá um explorador e explorados. Todo sistema político tem suas falhas, porque é feito de pessoas e pessoas não são perfeitas.

TONHÃO: - Concordo, Alex... Então você sabe do que eu falo, sabe da realidade dura da vida. E agora, você é pai também. Eu só quero recostar a cabeça no travesseiro à noite e dormir sabendo que a minha garotinha está em boas mãos. Que ela não apanha do marido. Que ela não passa privações. Que ela pode continuar trabalhando no que ama e tanto investiu, recebendo apoio do marido. Que Bábi pode seguir sonhando os sonhos dela. E que meu neto não precise passar por privações, violência, brigas, bebedeiras e confusões dentro de casa. Que ele seja uma criança feliz como toda criança merece ser. São realidades que eu conheço muito bem, porque sou pai de meninas, Alex. Nenhuma fez um bom casamento, algumas vezes preciso dar uma chacoalhada em algum genro filho da puta e folgado. Só me diz que Bábi acertou quando escolheu você.

KRYCEK: - Tem minha palavra, senhor Ramirez. De homem pra homem, de pai pra pai. Eu amo a sua filha. Eu daria a vida por ela. Eu não tenho vícios, jamais bateria nela, eu nunca censurei a Barbara de fazer o que ela quiser. A Barbara é uma mulher livre. Meu maior defeito é que eu preciso lidar com um passado bem amargo, porque eu fui um filho da puta de marca maior e isso algumas vezes volta na minha cabeça e se não me deixa deprimido e com raiva de mim mesmo, me deixa com raiva do mundo, com vontade de sair matando todos que me ferraram e que me fizeram ferrar pessoas inocentes... Mas aí a sua filha, com as palavras sábias e o paciente amor dela, consegue fazer a fera aqui voltar aos trilhos.

TONHÃO: - É duro pra um homem admitir suas falhas. Eu gosto disso.

KRYCEK: -Eu fui pobre, vivi nas ruas de Moscou, mas eu tive por um tempo os meus pais e aprendi o quanto a família é importante, é a base de tudo, porque se eu nunca tivesse tido essa base eu jamais voltaria a ser uma pessoa decente. (SEGURA AS LÁGRIMAS) Eu não quero pro meu filho o que eu passei. Eu quero que o meu filho possa sonhar os sonhos que eu jamais pude sonhar. Que ele nunca precise olhar para a maldade, que seja um homem correto e do bem.

TONHÃO: -Acho que agora eu posso dormir tranquilo, Alex. Obrigado.

Tonhão se levanta.

KRYCEK: - Senhor Ramirez...

TONHÃO: - Pode me chamar de Tonhão.

KRYCEK: - Espero que fique mais tempo aqui. Temos muita coisa pra conversar e lugares pra vocês conhecerem. Tem um motorhome na garagem, podemos acampar. Tem uma moto, se quiser passear por aí. E se gosta de dançar salsa, tem um restaurante cubano que sua filha e eu frequentamos. Vamos a cada quinze dias pra dançar. Fizemos um curso juntos, eu sempre gostei de dança e ela sonhava em ser bailarina quando criança. É uma paixão comum, um sonho comum nosso, um pequeno sonho que a gente compartilha na nossa privacidade.

TONHÃO: -Não vim para atrapalhar a vida de vocês. Acho melhor voltar logo pra minha casa.

KRYCEK: - Está na sua casa. Vai ser bom ter outro homem pra conversar. Sua filha vai ficar feliz. E eu também. E seu netinho vai ter o avô por perto. E ele só tem um avô.

Barbara entra na varanda.

BARBARA: - Desculpe interromper o assunto de vocês, mas Ratoncito, você pode pegar um edredom no armário porque eu quero arrumar a cama para os meus pais? A sua nanica aqui não alcança aquela coisa e ainda não posso subir no banquinho!

KRYCEK: - Claro, Malyshka.

TONHÃO: -Já está me mandando dormir? Puta que pariu, o cara fica velho e os filhos já querem que vá dormir cedo!

BARBARA: - (RINDO) Não papacito! Quero deixar o quarto prontinho pra quando vocês forem dormir. Vou subir com a mamãe e o Dimi, vou dar de mamar pra ele. Ratoncito, quando subirem, não esquece de ligar o alarme e colocar o Rasputin pra dentro.

Barbara volta pra dentro. Krycek sorri.

KRYCEK: - Ela é mais do que eu merecia da vida.

TONHÃO: -Ela é especial. Meu orgulho.

KRYCEK: - Quer um café?

TONHÃO: -Trouxe café cubano.

KRYCEK: - Sério? Vamos tomar um café e me conta como a "Bábi" era quando criança.


Residência dos Mulder - 12:03 A.M.

Scully sentada na cama, lendo um livro, já pronta pra dormir. Mulder se atira na cama, só de calças jeans.

SCULLY: - E aí?

MULDER: - Tudo pronto para a família Scully. Amanhã eu posso socar o seu irmão Bill?

SCULLY: - Não.

MULDER: - Você é má, Scully! Um soquinho só!

SCULLY: - Não. Você acabaria estirado no chão e eu teria que dar pontos em você, Mulder.

MULDER: - Chata!

SCULLY: - Se meu pai estivesse vivo, o Tonhão seria fichinha, como você diz.

MULDER: - Sério, Scully. Se o seu pai estivesse vivo... Acha que ele iria com a minha cara?

SCULLY: - Sinceramente?

MULDER: - De preferência.

SCULLY: - Encare assim, Mulder. Você tem apenas o William Scully Júnior no seu pé. Dois William Scully você não aguentaria.

Mulder faz cara de pânico. Scully segura o riso, fecha o livro e coloca na cômoda. Mulder se vira pra ela. Scully se deita, puxando o edredom. Mulder numa cara deslavada, leva a mão por baixo do edredom. Scully segura o riso.

SCULLY: -O que você quer aí, Mulder?

MULDER: - (DEBOCHADO) Esquentar a minha mão gelada.

SCULLY: - Sua mão não está gelada. Mulder, vá trocar de roupa.

MULDER: - Pra quê?

SCULLY: - Pra dormir, Mulder!

Mulder se levanta. Tira as calças, ficando de cuecas e se enfia embaixo do edredom. Scully se vira e fecha os olhos.

MULDER: - Minha nossa, mas que pé gelado mulher!

SCULLY: -(SORRI) Esquenta pra mim, Mulder.

Mulder se vira pra ela e vai pra baixo do edredom.

SCULLY: - Mulder, seu nariz também está gelado?

MULDER: - ...

SCULLY: - (RINDO) ...

MULDER: - Adoro mordiscar essa bundinha.

SCULLY: - (RINDO) Ai, Mulder!

MULDER: - ...

SCULLY: - (RINDO) Mulder, para! Eu tenho que acordar cedo!

MULDER: -Foi você quem disse pra esquentar as coisas aqui.

SCULLY: - Eu disse pra esquentar os meus pés! Minha bunda tá quentinha.

MULDER: - Não mesmo, você disse "esquenta pra mim, Mulder". Tô esquentando, aliás, já tô quase fervendo! Meu termômetro está elevado.

Scully apaga a luz do abajur.

SCULLY: -Você vai ver o que é ebulição, Mulder. Dá esse termômetro aqui, você nem sabe usá-lo direito.

MULDER: - Yhaaaaaaaa!!!!!!!!!!!!!! Vai medir sua temperatura com o meu termômetro? Bom, existem diversas maneiras de medir a temperatura, Dra. Scully. Dá pra colocar o termômetro em muitas partes do corpo.

SCULLY: -Eu sei, sou médica! E nem ouse sugerir certo orifício, Fox Mulder! A forma mais eficiente pra começar a medir a temperatura é via oral. Depois... Depois eu resolvo aonde vou colocar esse termômetro.

MULDER: - Adeus, mundo cruel. Morri!


Residência dos Krycek - 12:34 A.M.

Barbara de camisola, recostada na cabeceira da cama, dando de mamar ao filho. Krycek sentado ao lado dela, assistindo o jornal na televisão.

BARBARA: - Meu pai pegou muito pesado com você?

KRYCEK: -Seu pai é gente boa. Já nos entendemos. Sua mãe nem precisa comentar. Eu vejo você nela. Doidinha igual a filha!

BARBARA: -Eu tava nervosa, amor. Achei que você fosse se escandalizar com o meu pai. Ele fala muito palavrão, banca o machão, diz na lata o que pensa sem medir palavras, às vezes até ofende as pessoas.

KRYCEK: -Seu pai é uma pessoa sincera e autêntica. Eu fiquei nervoso, afinal vivo com a filha dele há anos e não o conhecia.

BARBARA: -Você ficaria aborrecido se eles ficassem mais tempo aqui?

KRYCEK: -Claro que não, Malyshka. Já fiz o convite, eles são seus pais. Você ficaria aborrecida se os meus fossem vivos e quisessem ficar um tempo aqui?

BARBARA: -Claro que não! Seria um prazer. Graças a eles eu tenho você!

KRYCEK: -Então? Mesma coisa. Os dois vieram de tão longe, passaram tanta coisa pra chegar aqui e não acho justo que não fiquem a semana toda. Amanhã eu tenho que levar a picape na oficina pra trocar o óleo. Seu pai vai comigo. Já combinamos. De tarde eu levo você no hospital pra tirar os pontos.

BARBARA: -Não, Scully vai fazer isso pra mim aqui mesmo.

KRYCEK: -Certo. E na quinta a gente podia levar eles até Washington pra conhecerem a Casa Branca, os monumentos...

Barbara se ajeita.

BARBARA: -Alex, pega o Dimi. Eu preciso tomar um banho.

Krycek pega o filho.

BARBARA: -Deixa ele em pé, recostadinho em você. Ele mamou muito esse esfomeado.

Krycek coloca o filho contra o peito e o ombro. Barbara se levanta e vai pro banheiro. Dimi solta um arroto. Krycek se assusta.

KRYCEK: -Nossa, carinha! Quer me matar de susto?

BARBARA: - (GRITA)O que foi Ratoncito?

KRYCEK: -(RINDO) Nosso filho tem saúde!


2:12 A.M.

Barbara acende a luz do abajur, sonolenta. Dimi chorando no berço. Krycek se acorda. Barbara senta-se e pega Dimi.

BARBARA: - Que foi bebê? Hum?

KRYCEK: - Fome?

BARBARA: - Não. Deixa eu checar as fraldas... Nada. Cólica de novo? Ai filho, não chora... Eu nunca sei o que fazer quando ele começa a berrar desse jeito!

KRYCEK: -Dá ele aqui.

Krycek se levanta e pega o filho, começa a embalar e andar com ele pelo quarto. Dimi chorando.

KRYCEK: -É, tem uma garganta de ferro. Dimi, você vai acordar seus avós, eles estão cansados da viagem.

BARBARA: -Será que ele tá doente?

KRYCEK: -Barbara, acho que bebês incomodam à noite, pelo menos é o que as pessoas dizem. Ele ainda não sabe as horas, né? Diz pra sua mãe que você só tem uma semana nesse mundo, não está situado ainda com o relógio das pessoas.

Krycek embala Dimi, fazendo carinho no pezinho dele.

KRYCEK: -(CANTANDO) Rastsvetali yabloni I grushi... Poplyli tumany nad rekoi... Vyhodila na byereg Katyusha... Na vysoki, byereg na krutoi...Vyhodila na byereg Katyusha... Na vysoki, byereg na krutoi...

Dimi fica quieto.

BARBARA: - (RINDO) É, Katyusha não falha nunca!

KRYCEK: - (SORRI) E carinho no pé. Acho que o ratinho aqui também gosta. É, mamãe, ele gosta sim. Já tá caindo no sono de novo... Barbara, você viu o Rasputin? Será que deixei o cachorro na rua?

BARBARA: - Não, ele foi dormir com o papacito. Meu pai adora cachorro. Os bichos conhecem quem gosta deles... Ratoncito?

KRYCEK: - (SORRI) Hum?

BARBARA: - (SORRI) Dá gosto de ver você com o Dimi. Você tá bobo por esse menino!

KRYCEK: - (SORRI) Tô. Completamente bobão. Não é pra ficar?

BARBARA: - (RINDO) Vem pra cama, papai bobão. Agora ele se aquieta. E se não se aquietar, Katyusha nele!


Seis meses depois...

Residência dos Mulder - 3:48 P.M.

No quintal, Bryan sentado na cadeirinha, vestido de marinheiro, bate palmas olhando curioso para a vela com o número 1 sobre o bolo. Mulder todo bobo, tirando fotos do filho. Victoria assopra a vela. Bryan acha graça. A vela acende novamente. Ele ri. Victoria apaga. Ele espera a vela acender de novo e acha graça quando acontece. Bate palmas. Victoria dá um beijo estalado no irmão. Bryan puxa o nariz dela.

Scully e Angela servem os pratinhos pra criançada, Barbara e Samantha ajudam. A garotada correndo pelo jardim, gritando e fazendo barulho. Matthew Scully estourando todos os balões de propósito. Victoria e Johnny Mulder de marcação cerrada em cima dele.

VICTORIA: - Você é um Mulder. Sabemos o que fazer um Scully chato.

JOHNNY: - Com toda a certeza, prima.

Johnny, debochado, tira de dentro da jaqueta uma pistola de água. Victoria olha pra ele.

VICTORIA: - Água?

JOHNNY: -Vamos dizer que eu detesto refrigerante de groselha porque mancha a roupa e a minha mãe dá a maior bronca! Se uma Mulder desleixada dá bronca, imagina uma Scully?

Victoria e Johnny começam a rir. Johnny se aproxima dissimulado e acerta vários jatos de refrigerante de groselha na camiseta de Matthew, que nem percebe. Mulder observa os dois e faz sinal de positivo. Samantha dá um encontrão com o quadril em Mulder.

SAMANTHA: - Não alimente os pestinhas dos Mulder, Fox!

MULDER: - A gente aprontava junto também, Sam. Deixa os nossos filhos sacanearem o filhote de Bill Dog!

Krycek segura Dimi, já com seis meses. Conversa com Byers, Langly e Frohike. Dimi atento na criançada.

Julie Byers puxa Victoria e Johnny e os três correm pra brincar com Darius e Megan. Matthew vai atrás deles, quase derrubando Skinner que vem com as cervejas. Tara, com um bebê no colo, grita com Matthew, olhando pra camiseta dele toda manchada.

TARA: - (GRITA) Matthew, eu vou arrancar as suas orelhas! A camiseta nova que seu pai comprou!!!

Bryan, ao ver toda a confusão de crianças, começa a espernear querendo ir pro chão. Mulder o pega no colo.

MULDER: - Calma aí, Campeão. Eles são maiores que você, o seu nível ainda não é hard.

Will Scully, já adolescente, sentado no balanço ao lado de Chris, irmão de Darius, também adolescente. Os dois conversam aos risos olhando alguma coisa nos celulares.

Meg e Baba vem com copos de refrigerante nas bandejas. Ellen e Suzanne Modeski vem atrás delas, trazendo mais pratinhos.

BARBARA: - Meu Deus! Que agito!

SCULLY: -É, a família X cresceu. Se acostume, daqui pra frente será isso todos os anos.

ELLEN: - Depois de um tempo a gente fica surda. Nem liga mais.

SAMANTHA: -(RINDO) Verdade.

Mulder desce Bryan ao chão, o ensinando a caminhar. Isaac McCoy se aproxima.

ISAAC: - Mulder, o George tá aí segurando um presente, meio constrangido, como sempre. Sabe né? Todo mundo odeia a mulherdele e o coitado paga o pato. Está com vergonha de vir pra festa.

MULDER: - Eu convidei ele e a megera, mesmo sabendo que ela nunca viria. Eu vou lá falar com o George.

Mulder pega Bryan no colo e vai pra frente da casa. Isaac se junta aos homens.

As mulheres perto da mesa. Scully servindo pratinhos e Susanne colocando numa bandeja.

SCULLY: - Aqueles tagarelas quando se juntam esquecem até de comer!

ELLEN: - E hoje eles têm passe livre pra beber e se entupir de doces.

SUSANNE: - Dieta no John. Está ficando barrigudo!

SCULLY: - Exercícios no Mulder.

BARBARA: - Eu nem posso falar do Ratoncito, eu como mais que ele!

Mulder volta com George, que está encabulado.

MULDER: - Seguinte, vamos beber lá na sala que aqui fora não dá pra ouvir nem a nossa respiração!

Matthew empurra Julie que cai na grama. Victoria olha pra todos os lados, dissimulada. Ergue a mão e Matthew tropeça, caindo em cima do coco do cachorro. Darius começa a rir. Matthew sai berrando pela mãe.


7:22 P.M.

O quintal todo bagunçado. Scully sentada no banco de balanço, com a mão na testa. Bryan sentado sobre uma mantinha na grama, brincando com alguns presentes.

SCULLY: - Adoraram a festa do Bryan, mas eu tô acabada. E o Bryan ainda tá com energia pra brincar.

Bryan alcança um brinquedo pra Scully que o pega e devolve pra ele. Bryan repete com outro. Barbara em frente, sentada numa cadeira de jardim, Dimi nos braços dela, olhando pra Bryan brincar. Krycek sentado ao lado, tomando uma cerveja.

KRYCEK: - Bryan, dá o brinquedo pra mim. Hum? Alcança pro tio, vamos.

Bryan entrega pra Krycek que começa a brincar com ele.

BARBARA: - É que temos as nossas crias e quando junta com as dos outros, vira uma colônia de filhotes e mães nervosas.

As duas riem. Mulder se aproxima segurando uma cerveja. Senta ao lado de Scully. Coloca o braço por sobre os ombros dela.

MULDER: -Somos animais. Seríamos mais honestos se admitíssemos isso. Olha pra gente, fizemos uma colônia.

BARBARA: -Como assim, Mulder?

MULDER: -Você veio pra perto de nós pra ter segurança. Depois casou com o Rato. Susanne e Byers resolveram fazer o mesmo há duas casas daqui. Quando um casal sai, outro casal toma conta dos filhotes e do ninho. Isaac e Angela se juntaram ao clube. As fêmeas zelam pelas suas crias e pelas do bando, se alternam pra levar na escola, nas atividades. Os machos defendem os ninhos uns dos outros.

Krycek começa a rir. Bryan sai engatinhando e pega o pote aberto de biscoitos, tirando um.

MULDER: -Animais. Totalmente animais. Tudo pela preservação da sua espécie. Detalhe: o macho alfa sou eu.

Scully solta uma gargalhada. Mulder olha debochado pra ela.

SCULLY: -(RINDO) Você tá mais pro encrenqueiro alfa, Mulder!

KRYCEK: -É, aquele do bando que só entra em fria!

Eles riem. Dimi atento em Bryan. Bryan se levanta e vai andando desajeitado e tropicando, com o biscoito na boca. Cai. Sai engatinhando.

MULDER: -Por que vestiu o nosso moleque com essa roupa?

SCULLY: -Porque ele é neto de marinheiro, sobrinho de marinheiro.

MULDER: -Ah, se fosse assim devia vestir de astronauta por causa do pai dele. Ele tá mais pra astronauta, não sente a gravidade e caminha como se tivesse usando um traje espacial. (DEBOCHADO) Irlandeses na lua! Imaginem!

SCULLY: -Mulder!!! Ele não sabe caminhar direito ainda, que maldade! Se fosse pelo pai dele, Bryan estaria usando uma fantasia de senhor Spock ou de alienígena!

KRYCEK: - Mulder, irlandeses não podem ir à lua como americanos e soviéticos. Ainda não inventaram um foguete em forma de caneco e movido a cerveja. Eles vão morrer de desidratação assim que saírem da órbita terrestre!

Os dois brindam e riem.

SCULLY: - Vocês dois parem de piadinhas com as minhas origens. Os irlandeses são maravilhosos. E o meu "irlandês" ali é mais maravilhoso ainda!

MULDER: - No aniversário de dois anos, veste o Bryan de leprechau, também vai ser uma homenagem aos Scully. Principalmente a mãe dele.

Krycek quase se engasga com a cerveja. Scully fulmina Mulder com os olhos.

KRYCEK: - Mulder, sabia que também existem leprechaus em Cuba?

Barbara belisca Krycek.

BARBARA: - Vai ver leprechau cubano! Duende baixinha é a sua avó!

MULDER: - Leprechau irlandês verde já é um porre, imagina leprechau vermelho comunista?

KRYCEK: - É pior que o irlandês. O comunista é leprechau amadurecido!

Os dois desatam a rir delas. Barbara e Scully ignoram.

SCULLY: - Como pode caber tanta idiotice nesses dois?

BARBARA: - Vodca em excesso e manteiga de amendoim respondem a sua pergunta? Eu acho engraçadinho o jeitinho do Bryan. Todo sério e compenetrado.

MULDER: - E nada de falar ainda. A única coisa que desde cedo faz é soltar pela garganta aquele "rah!!!" resmungão, que mais parece ar saindo dos pulmões e esbarrando sem querer nas cordas vocais. É filho da Scully mesmo, sempre resmungando.

SCULLY: - É cedo ainda, Mulder. Só espero que ele fale mais cedo que Victoria, que puxou a lentidão dos Mulder!

Bryan para perto de Barbara, segurando-se nas pernas dela. Observa Dimi com curiosidade. Barbara senta Dimi em seu colo. Eles ficam olhando as reações.

MULDER: -Oh... Aposto no meu filho. Ele vai dar uma porrada no seu.

KRYCEK: -O seu é mais velho, né Mulder? Sem graça a sua aposta!

SCULLY: -Fiquem quietos. Quero ver o que ele vai fazer.

Bryan comendo o biscoito. Tira da boca e leva na boca de Dimi.

BARBARA: -Oh meu Deus! Tá dividindo o biscoito com o amigo dele.

SCULLY: -E isso encerra uma longa guerra entre clãs.

BARBARA: -Pelo jeito as crianças são mais sábias que os adultos.

MULDER: -Ah, parem com isso! Eu amo esse Rato! É que a nossa relação é baseada na provocação.Quer biscoitinho babado também na boquinha, hum?

KRYCEK: -Vai se ferrar Mulder! Eu chamo isso de paixão reprimida. Quando você quer muito alguém e implica com a pessoa pelo medo da rejeição. É bem coisa típica sua, já aconteceu no porão do FBI, lembra?

Scully solta uma gargalhada.

SCULLY: -Toma Mulder! Mexe com quem tá quieto!

MULDER: -Ah tá ficando esperto, Ratatouille?

KRYCEK: -Você não vai mais tirar onda comigo, Mulder. Eu já falei. Se me sacanear, eu devolvo.

MULDER: -Sexta você me paga. Vou ganhar no boliche.

KRYCEK: -Vai nada!

MULDER: -Um fardo de cerveja.

KRYCEK: -Apostado.

SCULLY: -Meu Deus! O que mais vocês fazem para provar quem é melhor que o outro?

BARBARA: -Isso é coisa de criança.

MULDER: -Somos crianças crescidas. Eu não tive infância.

KRYCEK: -Nem eu. E nem um irmão pra sacanear.

MULDER: -Viu? É amor, não é guerra. Temos mais coisas em comum do que vocês duas pensam.

Krycek se levanta.

KRYCEK: -Ok, a festa foi ótima, mas é melhor ir embora. Querem ajuda com a limpeza?

SCULLY: -Nem vou tocar nisso hoje. Vou dar um banho no Bryan e tomar um banho e cair na cama. Mulder, vai buscar a Victoria na casa dos McCoy.

KRYCEK: -Vamos, Barbara?

Krycek pega Dimi. Barbara se levanta.

BARBARA: -Amanhã venho ajudar você, Scully.

SCULLY: -Não precisa, amanhã o Mulder acorda cedo e limpa tudo, afinal ele é o macho alfa!

Eles riem. Mulder acena negativamente com a cabeça.

MULDER: - É, cala a boca Mulder. Eu tenho que aprender!


10:19 P.M.

A luz do abajur acesa no quarto. Scully de sutiã e calcinha, deitada de bruços na cama, olhos fechados, abraçada ao travesseiro. Exausta. Mulder entra no quarto.

MULDER: - Anjinhos dormindo... (SACANA) Uau!

SCULLY: - Não tem uma parte no meu corpo que não dói. Mas todos gostaram da festa. Valeu a pena todo o esforço.

Mulder tira a camiseta e as calças, ficando de cuecas.

MULDER: - (CANTANDO) You are so beautiful... To me...

Scully sorri de olhos fechados.

MULDER: - Skinner tá rindo sozinho. Os Democratas venceram e ele vai ser o próximo diretor do FBI. O nome dele está no topo da lista.

SCULLY: - Ai, Mulder, seria ótimo se acontecesse. Skinner merece isso. Mas acha mesmo que ele vai conseguir?

MULDER: - Já conseguiu, Scully. Só falta tomar posse quando Obama assumir a presidência. O Girafão vai chutar o Carter. Quer coisa mais justa na vida? Acho que enquanto Obama estiver na presidência, o Skinner vai estar na direção do FBI. E a gente vai ter paz. O Sindicato está caído sem os cabeças da conspiração, desde que Krycek os matou... O Fumacinha não tem mais como se levantar... Ah, a vida é boa!

SCULLY: - E a Ordem dos Treze?

MULDER: - Não estrague a minha paz, Dana Scully!

Mulder vai pro banheiro.

MULDER: -Scully, esse país precisa evoluir suas concepções, não acha?

Mulder volta com uma embalagem de óleo e um sorriso sacana.

MULDER: -Gosta de morango, Scully?

SCULLY: -Mulder, nem inventa. Não tem nada pra você aqui hoje.

MULDER: -Calma, Scully. Sou seu massagista particular, perito em tirar suas dores físicas e psicológicas.

Scully sorri de olhos fechados. Mulder se ajeita na cama, coloca óleo na mão e pega um dos pés dela, massageando.

SCULLY: -Hum... Isso é bom...

Mulder sorri sacana.

SCULLY: -Tem cheirinho de morango mesmo. Onde arruma esses óleos, Mulder?

MULDER: -Um bom massagista nunca revela os seus segredos.

SCULLY: -O misterioso homem dos misteriosos óleos aromáticos...

Mulder pega o outro pé dela. Scully suspira.

SCULLY: -Hum... Esse aí tá doendo mais que o outro.

Mulder beija a sola do pé dela. Scully ri. Mulder chupa o dedão dela. Scully afasta o pé em risadas altas.

SCULLY: -Mulder, isso faz cócegas!

Mulder sacana começa a massagear as pernas dela, subindo pelas coxas.

SCULLY: -O que tá fazendo, Mulder?

MULDER: -Suas pernas são curtas, Scully. Dá pra massagear por inteiro. Uma viagem só.

SCULLY: -Por que tenho a sensação de que essa massagem vai custar caro?

MULDER: -(DEBOCHADO) É de graça. Sem intenções.

SCULLY: -Humhum... Sei. Nem boas e nem más.

Ele segura o riso. Senta-se em cima das coxas dela e começa a massagear as costas.

SCULLY: -Mulder, você é pesado!

MULDER: -Isso faz parte da minha técnica japonesa, você coloca peso em cima forçando o relaxamento.

SCULLY: -Nunca ouvi falar disso, Mulder.

MULDER: -Você não entende nada de massagem, Scully. Algumas vezes tem que forçar pra relaxar.

SCULLY: - (RINDO) Mais pra esquerda... Hum... Ai que delícia!

MULDER: - (SACANA)É... Uma delícia mesmo!

SCULLY: -Desata o meu sutiã pra não atrapalhar.

Mulder desata o sutiã dela e continua massageando as costas de Scully. Leva a língua na nuca de Scully dando uma lambida. Scully se arrepia toda.

SCULLY: - (RINDO) Mulder!

MULDER: -(DEBOCHADO) Só quero provar se tem sabor de morango mesmo.

SCULLY: -Hum... Mulder, suas mãos valem ouro. Mãos grandes, fortes e sedosas...

Ele se ergue.

MULDER: -Quer se virar?

Scully se vira, entre as pernas dele. Os dois se olham. Mulder massageia a barriga de Scully. Ela olha sensualmente pra ele. Mulder dissimulado vai levando as mãos por baixo do sutiã e massageando-lhe os seios. Scully morde os lábios, ainda olhando sedutora pra ele. Revira o corpo, virando o rosto para o lado. Mulder apoia as mãos na cama e aproxima os lábios da orelha de Scully.

SCULLY: - (SUSSURRA) Eu sabia que essa massagem tinha um preço.

MULDER: -(SUSSURRA) Continua de graça. Você é quem decide.

SCULLY: - (SACANA) Eu pago!

Scully apaga a luz do abajur.

MULDER: - Vai ter que pagar por centímetro.

SCULLY: - Depende do centímetro, Mulder.

MULDER: - Sua pervertida. Menina má. Você fica me tentando.

SCULLY: -Eu não! Eu ia dormir, você que veio com essa coisa de massagem...

MULDER: -E você não recusou.

SCULLY: -Você disse que era de graça. Tá com o óleo aí? Acho que vou massagear outra coisa. Quem sabe a gente se lambuza junto?

MULDER: -Uh!!!!!!!!! Tá legal, quer me deixar doidão né?

SCULLY: - Não, só vou retribuir a massagem...

MULDER: -Como você é caridosa, Scully... Au!!!

SCULLY: -Nossa, Mulder! Isso poderia ser considerado uma das sete maravilhas do mundo. Mas não vamos falar em "tombamento" histórico nesse momento.

MULDER: -(RINDO) Scully, para! Nada vai tombar aqui! Bate na madeira!

SCULLY: - (RINDO) Tem certeza, Mulder? Pode doer...

MULDER: - (RINDO) Scully, você é uma pervertida pior do que eu!!!


Residência dos Krycek - 11:11 P.M.

Krycek entra no quarto do casal.

KRYCEK: -(RINDO) O Dimi tá num sono só. Está dormindo de boca aberta e...

Krycek para e fica catatônico. Barbara num espartilho e fio dental pretos, cabelos soltos, meias sete oitavos, saltos altos, parada na janela, de costas pra ele e lendo um livro.

BARBARA: - Não me admira que Dimi esteja cansado. Nunca viu tanta criança junta, ficou feliz pra caramba. Acho que vai sonhar que está brincando com eles.

Krycek fica de boca aberta, olhando pra ela de cima a baixo. Barbara vira o rosto pra ele, sorrindo com os lábios num batom vermelho. Pisca o olho e volta a atenção para o livro. Krycekleva as mãos ao rosto, deixando as mãos escorregarem.

KRYCEK: -Ok, eu posso admitir. Você é a vingança mais piedosa, que não deixa de ser a mais genial, cruel, vil, inteligente e a pior que eu já vi! O Mulder tá de parabéns, porque conseguiu realmente acabar comigo em todos os sentidos quando jogou você na minha vida! Olha pro Alex Krycek o que virou? ... Xeque-mate pro Mulder! A inteligência dele nunca será páreo pra minha!

Barbara finge ler e o ignora.

KRYCEK: - O que está lendo? Se é que está lendo!

BARBARA: -A face oculta da lua. É uma ficção que fala sobre o outro lado da lua, aquele que a gente nunca vê. Sabe?

Krycek inclina a cabeça pro lado, olhando sacana para o traseiro dela.

KRYCEK: - Sei. (SUSPIRA) Também gosto desse lado da lua.

BARBARA: - Bom, se tratando de viagens espaciais os russos são muito bons nisso.

KRYCEK: -Os russos são muito bons em muitas coisas... Mas admito, algumas vezes dá medo em pensar que falte combustível pra viajar numa nave dessas... É nave demais pra um russo dar conta.

Krycek se aproxima e agarra Barbara pelas costas.

BARBARA: - Ei, ei, ei! O que tá pensando?

KRYCEK: - Nem vem de brincadeira, enrolação e joguinho. Eu já saquei a sua intenção, Malyshka.

BARBARA: - Não senhor! Não pode ir chegando assim e metendo a mão no doce! Você precisa aprender a se comportar, badboy!

KRYCEK: - Tá maluca?Me comportar numa hora dessas? Com você desse jeito? Ah não me pede pra ser bonzinho não. (SUSSURRA NO OUVIDO DELA) Eu sou um cara malvado... Bem malvado... Completamente malvado e cheio das más intenções. Um canalha completo.

Barbara amolece as pernas. Krycek percorre as mãos pelo corpo dela e os lábios pela nuca.

BARBARA: - Gostou, Ratoncito, hum? É tudo pra você. Só não aperta os meus peitos porque não me responsabilizo por vazamentos indevidos.

Barbara solta o livro no chão, sentindo a mão dele entre as pernas dela.

BARBARA: - Hum...Sabes cómo hacer que una mujer se moje las bragas.

Barbara fecha os olhos e esfrega uma coxa na outra, levando sua mão sobre a dele.

KRYCEK: - (MURMURA) Tradução de bragas, por favor.

BARBARA: - Aquilo feito de tecido que você está tocando... Continua, não pare. Hum... Me vuelves loca, Ratoncito!

Ela esfrega o traseiro contra as calças dele. Krycek leva a mão aos seios por sobre o espartilho, percorrendo o ombro dela com os lábios. Barbara leva a mão pra trás, o agarrando pelos cabelos.

BARBARA: -(OFEGANTE) Canalha... Meu canalha.

Krycek empurra Barbara na parede rapidamente, a ergue pelas pernas e toma os lábios dela num beijo de tirar o fôlego. Barbara arregala os olhos, o beijando. Fecha os olhos, sentindo a língua ávida dele em sua boca. As línguas se procuram, famintas, as mãos dela nas costas dele, em desespero, tentando arrancar a roupa dele. Então soltam os lábios, ofegantes. Barbara leva os lábios na orelha dele, percorrendo a língua num círculo e sorvendo o lóbulo com o brinco, dando um chupão estalado. Krycek treme.

KRYCEK: - (OFEGANTE) Você é boa nisso... Já sabe no que estou pensando.

BARBARA: - (SACANA) Eu sei. Deixa eu abrir a sua calça e vou fazer aquele estrago que eu adoro e deixa você completamente sem ar, Ratoncito canalha.

KRYCEK: -Quem é canalha?

BARBARA: - Você, um canalha, safado, sacana, malvado... Ratboy dos infernos! Não vai me xingar em russo? Ou conhece outra língua?

Krycek dá um sorrisinho sacana com o canto da boca. Solta Barbara no chão, se ajoelha e coloca a perna dela sobre seu ombro, enfiando o rosto na calcinha dela. Barbara inclina a cabeça pra trás.

BARBARA: -(OFEGANTE) Ok, essa é a minha língua favorita!!! Não fala mais nada!!! Faz!!! Uh!!!


Uma semana depois...


Residência dos Mulder - 3:57 A.M.

Cozinha escura, apenas a luz do pátio que entra pela janela. Mulder entra sorrateiro pela porta dos fundos, sem fazer barulho. Camisa aberta, gravata solta ao redor do pescoço, segurando o paletó por sobre o ombro.

A luz da cozinha acende.

Scully num pijama de seda rosa claro, braços cruzados, encostada com o ombro no batente da porta, num beiço quilométrico, encarando Mulder. Mulder arregala os olhos.

SCULLY: - (IRRITADA)Isso são horas? Hum?

Numa cara deslavada, com receio, ele aponta pra porta dos fundos, pra ela, pro pátio, soltando um longo "ê" todo atrapalhado. Scully ergue as sobrancelhas e o rosto, encarando e esperando uma resposta inteligível.

SCULLY: - Sabe que horas são, Mulder?

MULDER: - (SE FAZENDO DE BOBO) Ahm... É muito tarde, "amor"?

SCULLY: - (SÉRIA)Quase quatro horas da manhã. Você disse que voltaria à meia-noite. O que é tarde pra você, Mulder? Sabe pra que serve essa coisa que você carrega chamada celular?

MULDER: -(MEDO) É que eu...

SCULLY: - (IRRITADA) Cala a boca, Mulder!

MULDER: - (PÂNICO) ... Posso explicar?

SCULLY: -(IRRITADA) Tenta!

Corte.

[Som: El Pasador - Amada Mia, Amore Mio]

Mulder sai correndo pela porta dos fundos. A caneca passa voando e quase raspando nele. A porta é fechada num supetão. Mulder para perto da piscina.

MULDER: - Você nem deixou eu terminar!!! Scullyeee!!!!!!!!!

Nenhuma resposta, apenas as luzes da casa e do pátio são apagadas. O cachorro na varanda encara ele.

MULDER: - (IRRITADO) O que foi, ahn? Por que tá me encarando? Vou dividir a almofada com você!

Cookie se levanta, num desaforo, e entra pela portinha pra dentro da casa. Mulder abre a boca, mas se contém.

MULDER: - (IRRITADO)Melhor amigo do homem um ova! Eu durmo na rua e você tá nem aí pra me fazer companhia! Me troca pelo conforto da minha cama e a companhia da minha mulher, seu pulguento desaforado!


Residência dos Krycek - 4:01 A.M.

[Som: El Pasador - Amada Mia, Amore Mio]

Krycek se defende com uma almofada, enquanto Barbara tenta bater nele com um tamanco de salto. Ela desce a porrada sem piedade alguma.

BARBARA: - (HISTÉRICA/ FURIOSA/ AOS GRITOS)¡ Hijo de puta, intrascendente, irresponsable, su rata rusa cretinosa y miserable, perro callejero, su mierda, maricón!!!!!!!!!!

Krycek corre em direção à porta. Barbara atira o tamanco na cabeça dele. Krycek se vira assustado. Barbara pega a frigideira da bancada da cozinha. Krycek arregala os olhos e sai porta à fora, fechando a porta atrás de si e ouvindo algo se estatelando contra a porta.


4:12 A.M.

Mulder entra no pátio de Krycek. Aproxima-se da picape. Abre a porta do banco do carona. Senta-se.

MULDER: -(IRRITADO) Loucas! São duas loucas!

Krycek se ergue do banco de trás, com cara de sono.

KRYCEK: - Não casamos com mulheres, nós casamos com duas malucas!

MULDER: - Já captei a coisa, Rato. Elas trocam informação sobre a gente o dia inteiro! São dois GPS disfarçados de mulheres!

KRYCEK: - Agora que você percebeu? A sua mulher me espiona e a minha espiona você! Elas ficam disfarçando tardes de chá com bolo e conversa sobre filhos, mas estão é passando relatório uma pra outra!

Krycek cruza os braços e se deita no banco de trás. Os dois irritados e indignados.

MULDER: -A louca da Scully nem deixou eu terminar de explicar!

KRYCEK: - Conseguiu pelo menos abrir a boca! Por que nem isso eu consegui! Ouvi mais de mil palavrões em espanhol e um tamanco de 15 cm de salto voou na minha cabeça! Eu fugi quando vi que a frigideira ia entrar em ação!

MULDER: - A altura delas é desproporcional ao tamanho do gênio invocado e briguento. Eu sei o que a Scully anda precisando pra tirar o mal humor daquele corpo! Um bom exorcismo!

KRYCEK: - Funciona?

MULDER: - Sexo, Rato! Muito sexo!

Krycek se ergue do banco de trás.

KRYCEK: - E desde quando sexo é exorcismo, Mulder?

MULDER: - Tira os demônios do mal humor. Ficam uns docinhos, calminhas, calminhas.

KRYCEK: - Hum! Entendi... (PENSATIVO) É, você tem razão, a fera se acalma... Agora entra o Plano S?

MULDER: - E qual é o plano S?

KRYCEK: - O velho plano de sempre! S de Sedução! Sim, porque de outra maneira elas não vão ceder. A gente provoca com umas roupas sensuais, faz cara de pobrezinho abandonado e carente, de bobinho fofinho e elas cedem apaixonadas.

MULDER: - Se a gente puder entrar em casa pra pegar roupas.

KRYCEK: - Mulder, seja criativo! Não precisa entrar em casa, nem vai conseguir! Presta atenção. A gente dorme no carro. Amanhã cedo ficamos aqui no carro, como dois pobres infelizes, com cara triste e abandonada. Lógico que as duas vão nos espiar. Tá quente, tiramos a camisa, fazemos uns exercícios de alongamento de uma forma sensual. Ah, você sabe do que tô falando. Você é mestre em provocar mulher!

MULDER: - Em provocar a ira delas, né Rato? Tá com sua jaqueta de couro aí?

KRYCEK: - Nada! Deixei as duas armas dentro de casa. A que atira e a jaqueta de couro. Tá quente demais!

Mulder reclina o banco. Cruza os braços e fecha os olhos. Krycek se deita no banco de trás.

MULDER: - Da próxima vez, vamos cuidar a hora de voltar do boliche. Se é que as duas acreditam que estávamos no boliche. A Scully é um poço de ciúmes! Aposto que pensa que eu tava com outra mulher!

KRYCEK: - A Barbara não é ciumenta. Ela fica irritada porque não tô em casa. Quer ver a minha cara ali, marcando presença, enfeitando a casa quando não tô trabalhando, nem que eu tenha mais o que fazer!

MULDER: - Malucas... Uma é ciumenta e a outra carente.

KRYCEK: - Você é frouxo, Mulder. Se a Scully fosse minha mulher eu colocava ela no lugar dela.

MULDER: - Ah é? Você nem coloca a sua no lugar dela! E a sua tem um gênio mais fácil. Dá atenção e carinho e ela nunca vai reclamar.

KRYCEK: - A Barbara é mais fácil? Ah, tá de brincadeira! Você não conhece a fera latina, Mulder. Ela late, late, e depois morde! Scully é mais fácil de dobrar. Basta você ser sério que ela ganha confiança.

MULDER: - Vamos inscrever as duas naquele programa, troca de esposas. Conhece?

KRYCEK: - (RINDO) Conheço.

MULDER: - Só pra zoar a cara delas... Vocês não tão contente com a gente? Vão ver o que tem de marido ruim por aí.

Os dois riem.

MULDER: - Queria que elas pegassem uns maridos dos mais chatos, sabia? Pra aprenderem a dar valor pra gente. De preferencia com famílias cheias de filhos, bagunceiras, esquisitas... Imagina a Scully numa casa onde só tem bagunça, um marido gordo que adora se entupir de fast food e um monte de crianças teimosas e birrentas.

KRYCEK: - Imagina a Barbara, num ambiente todo certinho, com horários rígidos pra tudo, crianças metidas e chatas que não dão assunto nem fazem companhia e um marido executivo que nunca para em casa e todo cheio de frescura.

Os dois riem alto. Mulder pega o celular.

MULDER: - Vou achar o site dessa coisa... Vamos inscrever e torcer pra chamarem elas. Vão levar um susto daqueles!

KRYCEK: - Vamos sacanear as duas. Elas pediram por isso... Mas Mulder, e se elas nos sacanearam topando? Eu não gostaria de saber que a minha mulher está na casa de outro homem. E com meu filho pequeno junto. Vai que o outro seja mais interessante, já pensou nisso? Podemos dar um tiro no pé!

MULDER: -Não corremos esse risco porque a sua mulher é uma figura pública, ela não vai querer se expor. E se toparem, melhor ainda, sabia? Porque quando voltarem pra casa, vão dar valor aos maridos que têm!


Dois dias depois...


Residência dos Mulder - 1:24 P.M.

Scully sentada à mesa da cozinha, no notebook e com uma pilha de livros de medicina ao lado. O telefone da casa toca. Scully se levanta e vai atender.

SCULLY: -(AO TELEFONE) Residência dos Mulder... Sim, é ela... (SURPRESA) American Home Channel? ... (ABRE A BOCA/ INCRÉDULA) ... Como assim me escrevi para o programa Troca de Esposas? Deve estar havendo algum engano... Eu me inscrevi pela internet? Quando isso? ... Não, eu não tenho interesse algum...

Barbara entra pela porta dos fundos, com Dimi nos braços, num beiço indignado. Scully sinaliza pra ela esperar.

SCULLY: - (AO TELEFONE) Não, eu não quero participar disso. Eu nem assisto esse programa!

Barbara solta o ar pesado pelas narinas.

SCULLY: - (AO TELEFONE) Deve ter sido algum engano.

Scully desliga.

BARBARA: - Era do Troca de Esposas?

SCULLY: - Como sabe?

BARBARA: -Porque também acabaram de me ligar, impressionados por eu querer participar do programa deles e se isso não implicava confusão jurídica com a minha emissora. Aprontaram pra gente, Scully!

SCULLY: -Mas quem faria isso com nós duas? A Nancy não faria uma coisa dessas. E a gente não incomoda ninguém, ninguém anda de beiço com a gente e... (INCRÉDULA) Eu não acredito!

BARBARA: -Quem mais? Ahn? Quem mais faria isso? Quantos moleques você conhece?

SCULLY: -Isso é coisa do Mulder! Ah, mas eu mato o Mulder, ele foi longe demais agora!

BARBARA: -Pode ser ideia do Mulder, mas o Alex tá no bolo! Aonde a raposa vai, o rato vai atrás e de vez em quando a girafa vai junto! É um mundo animal esse! Aqueles dois tão de sacanagem com a gente e eu juro pra você que se não tivesse um nome público pra zelar e um bebê pra cuidar, eu toparia! Só pra deixar o Alex sem dormir por uma semana inteira pensando se eu tava dando a minha periquita pra outro cara!

SCULLY: -Eu não toparia, não gostaria de ficar na casa de um homem estranho e menos ainda uma mulher estranha na minha casa com o meu marido e os meus filhos. Ah mas isso não vai ficar assim... Vamos aprontar uma pra eles. Bem grande.

BARBARA: -Eu tenho uma ideia, mas preciso de você. Se concordar, vamos dar uma lição nesses dois que eles nunca mais vão esquecer! Vamos fazer eles comerem o pão que o diabo amassou!

SCULLY: -Senta aí e fala. Sou toda ouvidos.


Residência dos Krycek - 7:11 P.M.

Scully sentada no estar íntimo, observando Bryan e Dimi brincando juntos no tapete. Bryan empurra a bola pra Dimi que empurra pra ele e os dois se divertem. Barbara entra com uma mulher mais alta que ela, de óculos, cabelos castanhos curtos e repicados, calças sociais, camisa aberta, echarpe e saltos altos.

BARBARA: - Scully, essa é Emma Connor. Ema, Dana Scully.

Scully se levanta, as duas se cumprimentam.

EMMA: - Muito prazer, Dra. Scully. Já ouvi falar muito sobre você. É uma honra conhecê-la.

SCULLY: - Obrigada. Adoro os seus documentários realistas sobre a vida das mulheres.

BARBARA: - Sentem meninas. Vou servir um café pra gente. Emma, eu trouxe você na minha casa porque Alex tá trabalhando a essa hora e o marido da Scully tá em casa, não quero que ele veja você.

EMMA: -Entendi. Barbara, seu filho tá cada dia mais lindo! E quem é esse louro lindo?

SCULLY: - Esse é o meu Bryan.

EMMA: - Olá Bryan!

Bryan sorri pra ela.

BARBARA: - Emma foi produtora do meu telejornal e minha assistente por...

EMMA: - Cinco anos.

BARBARA: - Cruzes! Cinco? Rendeu nossa parceria! Hoje ela produz o programa "M, de Mulher".

SCULLY: - Adoro! Assisto sempre que consigo. Gostei da direção que o programa tomou.

EMMA: - Era chato né? Receitinhas para engordar, fofoca de celebridades e dicas de beleza.

BARBARA: - Foi ela quem remodelou toda a formatação do programa.

EMMA: - Eu busquei a necessidade da mulher atual. Não somos cozinheiras fofoqueiras e patricinhas. A gente quer saber o que acontece no universo feminino no mundo inteiro! Discutir propostas legais para melhorar a situação das mulheres, trazer especialistas mulheres para falar sobre problemas de mulheres e abordar as situações reais, desde temas como aborto, violência doméstica, repressão, salários menores que os dos homens. Chega de porcos chauvinistas que acham que sabem sobre as mulheres.

SCULLY: - Adoro aquela parte do programa em que mostra a situação de mulheres em diferentes países do mundo. Tem vezes que eu choro em ver aquelas mães passando horrores para dar o que comer aos filhos. E aquelas mulheres que não podem sair do Islã? Eu fiquei chocada com...

EMMA: - O lance do apedrejamento né? Foi forte ver aquela mãe chorando a morte da filha jogada na rua acusada injustamente de trair o marido. É isso o que digo! Tem que mostrar! Nós mulheres precisamos nos unir. Você ainda está no FBI?

SCULLY: - Não mais. Agora investigo fenômenos paranormais com meu marido, e sou mãe e esposa quase que tempo integral. Pelo menos até voltar para o doutorado.

EMMA: - Sério? Não quer participar de um debate no programa? Contar sua experiência, isso seria muito legal!

SCULLY: - Nossa, seria ótimo!

As duas sentam-se. Barbara serve café e biscoitos. Senta-se ao lado de Scully.

EMMA: - Bom, entendi a situação. Eles na verdade estão de brincadeira com vocês.

BARBARA: - Sacanagem mesmo. Tudo porque chegaram atrasado do boliche, sem avisar e dormiram no carro por uma noite.

SCULLY: - Eles pensam que é ciúme, mas é preocupação! Nós duas temos filhos pequenos, eles dizem que vão sair, não voltam na hora combinada, não ligam e nem atendem o telefone... A gente cansada, doida pra dormir e preocupada...

BARBARA: - Eu já tava em nervos! Esse tapete aí tem até marca de trilho de tanto que eu andei pra lá e pra cá, nervosa, achando que tinha acontecido uma porcaria com os dois!

EMMA: - (RINDO) Mas admitam, meninos bem criativos. Devem estar querendo dizer com isso que se vocês fossem casadas com outras pessoas, veriam que eles são ótimos maridos.

SCULLY: - E são ótimos maridos. Não tenho muito pra reclamar não.

BARBARA: - São sim. Nem eu tenho nada a reclamar, Alex é quase uma esposa!

SCULLY: - Mas o meu marido é uma criança crescida. Ele adora aprontar brincadeiras bobas.

BARBARA: - Ele vive sacaneando o meu marido. Os dois são amigos mesmo, de um levar porrada pelo outro, mas aqueles dois quando se juntam, tão sempre de apostinha e rinha disputando o título de macho alfa, só pode!

Corte.

Emma cruza as pernas, levando as mãos ao rosto e rindo alto.

EMMA: - Ok, meninas, entendi tudo! Então, eu pensei no assunto e acho que podemos dar uma lição nesses dois. Nenhum deles entende de televisão, né?

BARBARA: - Não são da área.

SCULLY: - Mulder até entende alguma coisa...

BARBARA: - Mas não de detalhes técnicos de produção, isso eu garanto.

EMMA: - Ótimo! Então deixem comigo. Agora que vocês duas já me deram uma ideia sobre eles, sobre a relação dos casais... O que vou dizer, é uma relação ótima, viu? Tanto a sua quanto a da Scully. Realmente, eles são bons maridos e vocês sabem levar o casamento na esportiva... Olha, se eu fizer um painel no programa sobre casamento, quero vocês lá porque vai ser uma lição muito boa de como levar a vida e tentar não ficar na rotina. Eu só preciso saber uma coisa. Vocês confiam neles? E em vocês mesmas? Agora é a hora da verdade.

BARBARA: - Fala de traição? Claro que confio no Alex!

SCULLY: - Eu confio no Mulder, mas tem vezes que eu fico... Eu sou ciumenta, tento não ser. Eu sei que ele não me trairia, mas Mulder é o tipo que fica provocando até você pensar se realmente ele não seria capaz, entende?

EMMA: - Ele deixa você insegura quando faz brincadeiras que envolvam outra mulher.

SCULLY: - É isso aí.

EMMA: - E vocês confiam uma na outra?

SCULLY: - Lógico!

BARBARA: - Sem sombra de dúvida!

EMMA: - Hora da verdade, meninas. Eu não quero criar atritos na amizade de vocês, mas agora eu preciso realmente saber os limites da coisa, porque tive uma ideia... Barbara você confiaria em Krycek sozinho com a Scully? E você, Scully? Confiaria na Barbara sozinha com o Mulder?

Barbara e Scully se entreolham.

SCULLY: - Com certeza! Eu não confiaria em mulher nenhuma sozinha com o Mulder, mas na Barbara eu confio.

BARBARA: - Agora né? Porque você achava antes que eu estava de olho naquela raposa nariguda que você pensa ser o homem mais lindo e maravilhoso do mundo. Lamento, amiga, o mais lindo e maravilhoso é o meu. E sim, eu confio em você sozinha com o Alex. A não ser que você esteja lesada da cabeça e com o diabo encostado, porque aí eu não confio mesmo! Lembra?

SCULLY: - Amiga, lamento, mas o Mulder é o homem dos sonhos de toda a mulher! O seu Ratoncito pode até ser interessante, charmoso, mas ele é amante. Mulder é marido!

EMMA: -(CURIOSA) Como assim, amante e marido?

SCULLY: - Bom, Mulder trata uma mulher como rainha, todo romântico, carente e fofo... Alex é diversão, com aquele jeitão de malandro.

BARBARA: - Isso é o que você pensa. Mulder é amante, Alex é marido. Mulder só é bonito e tem presença, porque de resto... Prefiro o meu Ratoncito, ele divide as tarefas domésticas comigo, me traz presentinho. Eu não acho o seu Mulder a oitava maravilha não. É um ótimo amigo, mas pra homem... Agora o meu Alex... Ele sim é homem com H.

SCULLY: - O seu Alex não é todo esse artigo aí que você prega, não. Ele é sério demais e lento. E gostava de apanhar do Mulder.

BARBARA: - Lento? Apanhar do Mulder? Ah você realmente não conhece a fera! E não é o meu marido que fica de piadinha gay não. Mulder é meio duvidoso. Acho que ele arruma desculpa demais pra tocar no Alex.

As duas começam a rir alto. Emma mais curiosa ainda.

EMMA: - Que papo de gay é esse?

SCULLY: - A história é longa! Uma sucessão de mal entendidos. Se quiser uma versão bem criativa, fala com a nossa vizinha Nancy!

BARBARA: - Verdade, porque aquela ali é inventiva pra cacete! Mas você sabe porque Alex nunca reagiu às porradas do Mulder, né?

SCULLY: - Eu sei e lamento quando penso nisso. O Mulder fica se sentindo culpado quando pensa no assunto. Mas Mulder não sabia nada do Alex.

BARBARA: - Passado, Scully. Enterrado. Esquece. Bom, definitivamente a gente não tem o mesmo gosto pra homem.

SCULLY: - Ainda bem! Isso encerra a resposta à pergunta! Mas acho que você e eu fizemos muita propaganda dos nossos maridos diante da Emma.

BARBARA: - Verdade! Emma, nem em sonho pense neles! Os dois tem donas e elas mordem!

EMMA: - Ah! Nossa, realmente, se eu não fosse casada há vinte anos com o homem mais maravilhoso do mundo, que me deu três filhos lindos, que também tem um dona que morde, eu talvez pensasse em descobrir se esses artigos aí que vocês defendem valem alguma coisa. Eu duvido que superem o Tom. Mas, fazer o quê, se o amor é cego?

As três riem.

EMMA: - Bom... Eu vou dizer o que pensei e vocês dizem se concordam ou não. O tiro deles vai sair pela culatra, vai ser uma brincadeira como eles fizeram com vocês. Uma longa pegadinha, eu diria. Já que vocês confiam uma na outra e eles são amigos e vivem disputando quem é o melhor, isso vai ficar mais engraçado ainda. Vamos considerar que vocês tem bebês pequenos, então precisam ficar no habitat de vocês. Vou explicar o plano...



BLOCO 3:


NARIZES FUMEGANTES


Residência dos Mulder - 7:21 A.M.

Mulder abre a porta da frente. Emma parada ali, com uma prancheta. Mulder percebe a van, dois caras descem com câmeras.

EMMA: - Fox Mulder? Emma Connor, produtora do programa Troca de Esposas. Dana Scully se encontra?

Mulder segura o riso.

MULDER: - Scully!!! É pra você!!!

Scully já arrumada para o trabalho se aproxima.

EMMA: - Sou Emma Connor, nos falamos por telefone.

SCULLY: - Ah sim, entra. Pode sentar.

Mulder fica atento na conversa. Cruza os braços e se encosta na parede.

EMMA: - Vocês já conversaram sobre o assunto?

SCULLY: - Eu nem sabia que você viria tão rápido e... Mulder, alguém me inscreveu no Troca de Esposas.

MULDER: - (SEGURA O RISO) Sério? Quem?

SCULLY: - Não faço ideia.

MULDER: - É só não aceitar. Ninguém pode obrigar você a fazer algo que não quer.

EMMA: - Eu expliquei para a sua esposa que há uma cláusula jurídica no final da inscrição que não permite a desistência do candidato. O imbecil que fez a brincadeira não leu as letras miúdas. Isso é coisa séria, a emissora é séria e não dispomos de tempo para piadas. Por isso mesmo a cláusula existe.

Mulder faz cara de pânico. Scully tenta não rir.

MULDER: - Ah, quer dizer que se alguém resolve sacanear outra pessoa... Isso é ridículo! Nem tem a assinatura dela! Scully, você não é obrigada a participar disso. Se você participar, eu terei que participar também!

EMMA: - Não é ridículo, que casal se inscreveria num programa se não quer participar?

MULDER: - Um palhaço sacaneando alguém? Como foi o caso? Eu vou processar vocês.

EMMA: - Pode tentar, mas podemos descobrir o IP do malandro e o senhor pode ir atrás dele juridicamente, certamente forneceremos as informações todas para vocês dois.

Mulder fica mais em pânico ainda.

SCULLY: - Mulder, estou tão furiosa quanto você com quem fez essa brincadeira. Acho que tem razão, vamos solicitar o IP do moleque que fez isso e tomar as devidas providências judiciais. Se eu pego a pessoa que fez isso...

Mulder acuado, em pânico. Scully bem séria.

SCULLY: - Eu não vou participar dessa loucura! Imagina, Mulder!Aparecer na televisão, todos vão assistir, de leste a oeste!

MULDER: - Ahn... Quem sabe pode até ser divertido? Pra que arrumar mais confusão, né?

EMMA: -A maneira mais fácil é aceitar e participar. Garanto pra vocês que vai ser uma experiência diferente. E depois é apenas uma semana. Passa rápido. Eu preciso da assinatura dos dois aqui.

SCULLY: -(PILHANDO MAIS AINDA) Sabe que você tem razão, Emma. Pra que prolongar mais ainda essa coisa toda? Pode ser interessante. Uma experiência diferente. Vou me habituar com a rotina de outra mulher. E com um marido diferente, fazendo coisas diferentes... É bom variar um pouco. Ando tão cansada e entediada, sabe? Hum... Parece bom. É um aprendizado, vou comparar com o meu casamento...

MULDER: -(PIDÃO) Mas eu não quero você na casa de outro cara, Scully! E não quero outra mulher aqui dentro! (JÁ APELANDO/ EM DESESPERO) E as crianças? O Bryan é pequeno demais, não confio a segurança dos meus filhos nas mãos de uma estranha! O seu bebê, Scully! Vai conseguir ficar longe do seu bebezinho, hum?

SCULLY: - A gente explica pra Victoria. O Bryan não entende ainda. E depois, Mulder, a mulher que virá pra cá também deve ter filhos. Ela vai cuidar bem deles, assim como eu cuidarei dos filhinhos delas. Pobres crianças...Pra você ver, Mulder. A pessoa que fez isso nem pensou neles.

Mulder começa a se sentir culpado. Emma tenta não rir.

EMMA: - Bom, eu sou mãe também... Entendo que foi uma brincadeira, mas como eu disse... Nossa, estou sensibilizada por vocês terem um bebê... Mas eu posso resolver isso. Vou colocar vocês em outro programa similar, o contrato é o mesmo.

MULDER: - Que programa?

EMMA: - O Troca de Maridos 2.0. Assim você faz um sacrifício e vai pra casa de outro e outro vem pra sua casa. E sua esposa não precisa ficar longe dos filhos. Não vai alterar em nada a rotina das crianças tendo a mãe por perto, na sua própria casa, não é mesmo? Já o pai não faz muita diferença.

Mulder fulmina Emma com os olhos.

SCULLY: - Perfeito! Dá na mesma coisa, mas pelo menos as crianças estarão comigo. Aonde eu assino?

Scully pega a prancheta e assina. Mulder fica incrédulo.

MULDER: - Scully, nunca pensei que você topasse uma loucura dessas!

SCULLY: - E por que não toparia? Acho até divertido! Assina, Mulder. Você ainda me deve por aquela noite do boliche!

MULDER: - Ah, quer se livrar de mim é? Tá bom, me dá que eu assino!

Mulder assina, irritado. Scully tenta não rir.

MULDER: - Ok, espero que um serial killer não venha pra essa casa! Porque eu não estarei aqui pra salvar você, Scully! E aí, vão me mandar pra casa de uma mulher bonita? Hum? Gostosa? Eu não faço falta alguma na minha casa mesmo!

EMMA: - Senhor Mulder, fique calmo e tranquilo. A estreia do Troca de Maridos 2.0, será uma inovação nesse tipo de entretenimento! Tivemos a ideia quando comparamos os endereços das pessoas que se inscreviam nesses programas. Muitas eram vizinhas, como os seus aí na frente, que também se inscreveram. Então vamos fazer um programa especial com casais vizinhos um do outro. E vocês vão estrear o primeiro programa. Vai se chamar Troca de Maridos 2.0: Pulando o Muro. O senhor vai pra casa do seu vizinho e ele vem pra cá. Sua esposa estará segura. Vai ser o máximo, não?

Mulder cai sentado na poltrona, catatônico.

Corte.


Scully sentada no sofá, apoiada com o cotovelo no encosto e a mão sobre os lábios, tentando não rir de Mulder, que anda nervoso de um lado pra outro na sala, soltando ar quente pelas narinas.

MULDER: -(IRRITADO) Não fala comigo! Você fez isso de propósito! Bateu saudades do russo?

SCULLY: - Eu não sabia da coisa entre vizinhos, se soubesse não assinaria, Mulder! Você viu! Pelo menos acho que você pode se acalmar, afinal estarei em boa companhia, sem correr nenhum perigo com algum "serial killer" aqui dentro. (SEGURA O RISO) Agora você pode ficar sossegado. Estarei junto com o Krycek.

MULDER: - (ENCIUMADO) Sossegado? Com você e o Rato sozinhos, como marido e mulher? Ah, mas nem pensar!!!!

SCULLY: - Não é casamento de verdade, Mulder! Sexo não está incluso no pacote! E não estaremos sozinhos, esqueceu que temos filhos?

MULDER: -(IRRITADO) E você esqueceu que aquele russo safado trabalha de madrugada e passa o dia inteiro em casa? E Victoria vai pra escola? E o Bryan dorme à tarde? E você estudando medicina em casa o dia inteiro, disponível pra ele? Vê se está escrito otário na minha testa!

SCULLY: - Vai ser bom, Mulder. Alex pode me ajudar e...

MULDER: -(IRRITADO) Ajudar com anatomia? "Alex"? Agora é Alex? Quando estamos sozinhos você chama ele de Krycek!

SCULLY: - Dá no mesmo, Fox Mulder! Eu quero é saber quem foi o infeliz que nos meteu nessa, eu juro que nunca vou perdoar essa pessoa!

MULDER: - ... Calma, Scully, foi uma brincadeira de mau gosto, mas sei lá, a pessoa que fez podia estar meio chateada com você e não pensou na hora... E depois duvido que o Rato e a Barbara aceitem. Vai terminar que...

Batidas na porta da frente. Mulder vai atender. Emma entra com três caras com coletes de "Equipe Técnica" carregando um monte de parafernália. Mulder faz cara de pânico.

EMMA: - Bom, seu vizinho aceitou de bom grado. Vamos pessoal, vamos entrando, coloquem câmeras e microfones escondidos pela casa. Tem a casa da frente ainda. Vamos, o show tem que continuar, temos um cronograma aqui pra seguir!!!

Scully se vira pra rir.

MULDER: -(IRRITADO) O quê? Aquele Rato traíra aceitou fazer parte disso? Eu esgano aquele russo!

EMMA: - Senhor Mulder, eu tenho que explicar o funcionamento do programa pra vocês, e tenho que ser rápida, porque farei o mesmo com o seu vizinho e o tempo na televisão se mede por segundos que valem milhões! O mesmo que será feito aqui, vale pra outra casa, correto? Haverá câmeras escondidas 24 horas por dia, filmando tudo o tempo inteiro, menos os banheiros e os quartos. E temos o Jeová conosco.

MULDER: - (INCRÉDULO) Quem?

O negrão enorme e parrudo para na porta, com roupa de segurança, cruzando os braços e encarando Mulder. Rosna com o canto da boca. Mulder faz cara de pânico.

EMMA: - Esse é o Jeová. Ele vai ficar na van estacionada na rua para garantir que ninguém mude de ideia. O senhor não pode ter contato algum com sua esposa, nem tentar entrar nessa casa durante uma semana. Vai sim manter sua rotina, trabalhar, estudar, o que costuma fazer na rua, mas a sua casa agora é a da frente. Não pode pisar nem no seu quintal. Entendido?

MULDER: - E os meus filhos?

EMMA: - Lamento. É apenas uma semana. Passa rápido. Pode fazer chamadas de vídeo pra eles, mas não para a sua esposa. Estaremos de olho nas câmeras. Entendeu as regras? Se esquecer delas, Jeová o lembrará.

Jeová cerra o punho o erguendo. Parece uma marreta.

MULDER: -É, bem que dizem que a mão de Jeová pesa! E como pesa! (IRRITADO) Mas a minha também vai pesar! É uma mulher de vagabundo mesmo, ele pede sempre pra levar porrada!

Mulder sai porta à fora, passa por Jeová que o encara. Mulder desvia, assustado. Jeová fecha a porta. Scully espia pela janela e vê Mulder atravessando a rua, furioso, em direção a casa de Krycek. Scully e Emma começam a rir.

SCULLY: - Ele caiu feito patinho! Você é bem convincente!

EMMA: - E se visse a cara do Alex, você ia morrer de rir! A Barbara queria rir a cada segundo e eu tentando fazer a mulher ficar séria ou ele ia desconfiar. O russo tá virado num Jiraiya! Sabe a veia do pescoço? Chegou a pular quando ouviu que Mulder ia ficar sozinho com a mulher dele!

As duas riem.

SCULLY: - Bom, rapazes. Querem uma limonada gelada? Eles são mesmo de alguma equipe técnica de televisão?

EMMA: -Sim, trabalham comigo, menos o Jeová. Que não é Jeová. Mas lembrei que ele causaria um bom efeito!

JEOVÁ: - (RINDO) Billy, senhora, muito prazer. Meu nome é Billy Jan. Sou ator. Trabalho em pegadinhas. E admito, essa vai ser um desperdício não ser filmada de verdade!

Todos riem.

Residência dos Krycek - 9:54 A.M.

Mulder e Krycek discutindo na garagem.

KRYCEK: -Você é o rei das ideias de jerico, Mulder!

MULDER: -Você topou!

KRYCEK: -E você não leu as letras miúdas e agora eles tem o seu IP para nos incriminar... Droga, fomos longe demais! Se elas descobrirem que nós começamos isso, a coisa toda vai ficar pior pro nosso lado, entendeu? Agora é dar a cara a bater! Ou melhor não! Você conheceu o Jeová?

MULDER: -(IRRITADO) É eu vi Jeová de perto! Uma semana! Eu vou ter que não pensar que você, logo você, vai estar na minha casa e com a minha mulher por uma semana! Eu tô ferrado, esse pesadelo de novo!

KRYCEK: - (IRRITADO) Eu é quem devia estar preocupado! O bonitão aí cheio das cantadas, sozinho com a minha latina caliente e fazendo carinha de cachorro pidão! Vai dar merda, eu já tô vendo!

MULDER: -(IRRITADO) Não mesmo! Nem vem que eu respeito a Barbara e já disse que se eu estivesse a fim dela eu tinha pego bem antes de você! Eu tava sozinho mesmo!

KRYCEK: -(IRRITADO) Pego? Que pego? Você não pega nada, nem alienígenas!!! Tá pensando que minha mulher é o que pra ser "pega"? Dobra essa língua ou cumpro agora a promessa de socar você!

MULDER: -(IRRITADO) Nem vem, sou eu quem tem motivos de sobra pra ter ciúmes! Você era apaixonado pela Scully! Lembra? Ou esqueceu?

KRYCEK: - (IRRITADO) Eu senti algo por ela, mas eu tava confuso, eu falei pra você! Eu amo a Barbara e só de pensar em deixá-la sozinha com você, na minha casa, eu já sinto coceira na cabeça! Mulder, eu juro que esqueço toda a nossa amizade se você tocar um dedo na minha garota! Aí sim você vai levar a porrada que eu tô jurando!

MULDER: -(IRRITADO) Quê? Tá maluco? E você disse que não era ciumento!

KRYCEK: - (IRRITADO) Não era, mas tirei na loteria e não quero perder o prêmio! Agora eu sou!

Os dois cruzam os braços ao mesmo tempo, virando a cara um pro outro.

MULDER: - Fala sério! Que furada!

KRYCEK: - Põe furada nisso!

MULDER: - Olha, de irmão pra irmão. Eu juro que respeitarei sua esposa.

KRYCEK: - Juro que respeitarei a sua.

MULDER: - Prova de fogo essa. Mais um teste em cima da nossa confiança um no outro.

KRYCEK: - Verdade. Mulder, é sério. Nós confiamos um no outro, mas pelo jeito quando se trata de mulher...

MULDER: - Eu confio em você. Já passamos por isso e você respeitou a Scully. Só estou furioso comigo mesmo e descontando a minha raiva em você. Inventei essa porcaria e agora... Uma semana longe dela.

KRYCEK: - É, e eles são rígidos. Vão deixar o Jeová numa van cuidando pra que a gente não troque de casa em momento algum.

MULDER: - É, mas se Jeová tá de vigilância em cima, vamos por baixo. Nós temos um túnel, lembra?

KRYCEK: - Sim, e vamos justificar o que quando as câmeras nos capturarem dentro das nossas casas? Assinamos um contrato e podemos ser processados e ainda levar um castigo do Jeová. E ai que eu não assinasse, a Barbara deixou claro que eu tava devendo a história do boliche.

MULDER: - Pensei que pelo menos a sua mulher nunca aceitaria fazer parte de um programa assim, já que é um figura conhecida na mídia...

KRYCEK: - É, mas aceitou trocar o marido. Pelo menos não aceitou sair nua na Sex, ou eu teria que viver na eterna dúvida se você tinha ou não a minha mulher nua na sua gaveta.

MULDER: - (INCRÉDULO) Tá falando sério que...

KRYCEK: - Já faz uns quatro anos que mandaram convite pra ela sair na capa. Grana alta. Venda garantida, Barbara Wallace, a repórter, chupando uma caneta e nua em cima de uma bancada jornalística.

MULDER: - (IMAGINANDO)Nossa...

KRYCEK: -(IRRITADO) Nossa o quê?

MULDER: - (DISFARÇA)Nossa, que absurdo! Por que ela não topou?

KRYCEK: - Por mim. Eu não a impedi, mas ela teve o bom senso de recusar a oferta.

MULDER: - Tolice, deixar de ganhar dinheiro fácil pra não magoar você.

KRYCEK: - Se fosse a Scully, você gostaria?

MULDER: - Scully não é famosa. Estou seguro quanto a isso.

KRYCEK: - Tem certeza? (IMAGINANDO) Scully numa maca completamente nua, usando apenas o estetoscópio no pescoço?

MULDER: -(IRRITADO) Diz que não imaginou a cena como eu imaginei agora. Sua vida depende dessa resposta!

KRYCEK: - (IRRITADO) Me diz que não imaginou a cena da Barbara! Pra sua cara continuar inteira, depende dessa resposta!

MULDER: - (IRRITADO) Por que a gente tá brigando quando na verdade quem começou essa palhaçada foram as duas por causa de um atraso miserável? Ahn? Elas são culpadas! Nos forçaram a isso!

KRYCEK: - (IRRITADO) Você não respondeu, Mulder!

MULDER: - Ah, imaginei sim! E admita que você também. Somos homens. Imaginação fértil.

KRYCEK: - Esse é o problema! Entendeu?

MULDER: - Não estamos pensando com a cabeça de cima, mas com a de baixo. Vamos pensar direito, antes que voltemos aos velhos tempos. Chega de piadinhas.

KRYCEK: - Eu que o diga!

MULDER: - Rato, já passamos merdas piores do que essa, num jogo de vida e morte. E tivemos que confiar um no outro pra sobreviver. Aquilo sim, foi prova de fogo total!

KRYCEK: - Nem me lembra daquele caso. Eu tenho pesadelos até hoje!

MULDER: - Eu sei que você respeita a Scully. E você sabe que eu sou ciumento.

KRYCEK: - Sei. E você sabe que eu não sou ciumento, mas de você eu tenho ciúmes.

MULDER: - (DEBOCHADO) Você tem ciúmes de mim ou da sua mulher comigo? Sério que tem ciúmes de mim? Vai bater na Barbara se ela me agarrar? Oh, Ratoncito...

KRYCEK: - Mulder, para de palhaçada que a coisa agora ficou séria! Atiramos nos próprios pés! Vamos fazer o que tivermos que fazer, respeitando a cara um do outro e as nossas famílias. Eles vão estar gravando a gente o tempo todo, vamos sair na televisão e temos uma imagem a zelar. Estamos aqui discutindo besteiras que jamais aconteceriam. No fundo eu sei quem minha mulher é, e sei quem você é.

MULDER: - A recíproca é verdadeira.

Os dois apertam as mãos.

MULDER: - Só um aviso: Eu vou assistir isso na televisão e se você sumir muito das imagens com a Scully, eu sei aonde não colocaram câmeras, portanto vou imaginar aonde você estava com ela e certamente não era sozinho no banheiro. Entendeu?

KRYCEK: - (IRRITADO) Vale o mesmo pra você! Toca no meu doce pra ver se não acabo com a sua raça!


Primeiro dia - Residência dos Mulder - 10:17 A.M.

Scully abre a porta. Krycek parado com a mala.

SCULLY: - Entra.

Krycek entra.

KRYCEK: - Podemos falar qualquer coisa?

SCULLY: - Bem, tem câmeras e microfones pela casa, nem faço ideia de aonde colocaram, mas disseram que cortam muita coisa depois.

KRYCEK: - Mulder tá uma fera comigo. Como se eu tivesse culpa dessa coisa toda! Eu tive que aceitar, a Barbara me pressionou. Por que vocês duas toparam essa insensatez?

SCULLY: - Eu não sabia que era você quem seria o marido. Depois de assinar que explicaram... Mas isso não vai afetar a amizade de vocês, não é mesmo?

KRYCEK: - Acho que não. Mas é uma prova de fogo. E juro que estou desconcertado com a situação de estar aqui com você e você sabe por quê, Scully. Já passamos por algo parecido.

SCULLY: - Nem me lembra disso! Quem fica com vergonha sou eu, Alex. Vem, vou te levar ao quarto de visitas. Já arrumei tudo pra você.

KRYCEK: - Eu sei aonde fica. Scully eu costumo estar dormindo a essa hora porque trabalho de noite. Se importa se eu cochilar um pouco? Estou cansado. Não dormi de manhã por dois dias seguidos, com essa palhaçada toda.

SCULLY: - Claro que não. Acordo você pra almoçar?

KRYCEK: - Não. Geralmente eu almoço lá pela uma, duas da tarde. Mas não se preocupa comigo, eu me viro.

Krycek sobe as escadas. Scully olha para o relógio.

SCULLY: - Ok, vamos ver se você consegue dormir com Victoria chegando com os amigos da escola. E juro que vou incentivar a barulheira, "Ratoncito"! Vocês vão aprender a dar valor pras esposas, ah vão!


Residência dos Krycek - 10:18 A.M.

Barbara atende a porta. Mulder parado ali com a mala.

MULDER: - Eles não deviam estar filmando isso? Só vi a van parada na rua! E a mão pesada de Jeová pra fora da janela.

BARBARA: -E a mão de Jeová está pesando alguma coisa na sua consciência, Mulder? Entra aí. Eles filmam depois. Não tem ordem cronológica na filmagem. Eles ajeitam na edição.

MULDER: - Então vou ser seu marido agora?

BARBARA: - Por uma semana. Se eu não pedir o divórcio antes!

Mulder entra e fecha a porta.

MULDER: - Eu sou queridinho. O ruim vai ser você querer o russo de volta depois de uma semana na minha companhia.

BARBARA: - Sei. É pra rir ou pra chorar? Vem, vou te mostrar o seu canto.

MULDER: - Nossa, vou ter um canto só pra mim?

BARBARA: - Vai. E não vai ser junto com o cachorro. Ele é muito peludo e não quero que pegue pulgas.

MULDER: - Nossa! Que recepção calorosa! Eu vejo o meu canto depois. Vou deixar a mala, tenho que ir pra agência.

BARBARA: - Ah, verdade, você trabalha de dia.

Mulder abre a porta.

MULDER: - Até à noite, "querida"!

Barbara fecha a porta.

BARBARA: - Você me paga, "querido". Acha que Scully e eu não combinamos o castigo? Se prepara, porque comigo a coisa é muito mais temperada! Você vai comer fogo, meu filho!

Barbara pega o celular e aperta uma tecla.

BARBARA: - (AO CELULAR) Sou eu... Sim, deixou a mala e foi pra agência... Ah foi dormir? Ótimo! Humhum... Faça. Uma noite trabalhando cansado vai fazer ele repensar a rotina dele comigo... Pode deixar, seu marido hoje não pregará o olho, porque vou fazer faxina a madrugada toda e com música! Eles é que devem se acostumar com a rotina da casa em que estão, não é mesmo? Não vamos dar um minuto de folga pra esses folgados, Scully! Eles vão aprender a dar valor pras mulheres que tem.


Residência dos Mulder - 2:11 P.M.

Barulheira de crianças. Megan, Victoria e Darius correndo pela sala a risadas altas. Krycek desce as escadas, sonolento. Vai pra cozinha. Scully sentada à mesa, em frente ao notebook aberto.

SCULLY: - Eu ia deixar almoço pra você, mas Victoria saiu mais cedo da escola e trouxe amigos. Acabaram com a comida toda.

KRYCEK: - Não tem problema. Posso pegar um café?

SCULLY: - Claro. (SEGURA O RISO) Conseguiu dormir? A casa aqui é barulhenta durante o dia.

KRYCEK: - É, dei uma cochilada. Minha casa é silenciosa durante o dia. Por enquanto, até o Dimi crescer.

Krycek serve o café. As crianças gritam. Krycek cerra os olhos.

KRYCEK: - O que você está fazendo?

SCULLY: - Adiantando minha tese de doutorado. Voltarei a estudar. Quero tentar um emprego pra conseguir uma bolsa.

KRYCEK: - Legal! Scully, eu... Eu não sei as regras da sua casa, mas tipo eu tenho algumas rotinas que eu gostaria de manter, porque elas vão ter que continuar quando eu voltar pra casa e não quero perder o ritmo. São coisas minhas que não vão atrapalhar você e as crianças, se você concordar, certo?

SCULLY: - Tipo?

KRYCEK: - Tipo eu sempre faço o jantar pra Barbara antes de sair pra trabalhar.

Scully se vira, olhando incrédula.

SCULLY: - Como assim? Você faz o jantar todo o dia? Isso é sério? Ou tá querendo parecer o marido perfeito na televisão?

KRYCEK: - (SORRI) Não, é sério. Não é marido perfeito, é necessidade. Ou vamos ter que viver se entupindo de comida congelada e porcarias por falta de tempo. Já era complicado antes, agora com o Dimi, a coisa ficou mais crítica.

SCULLY: - Entendo. Um bebê muda toda a rotina do casal. Eu sei Alex, já passei por isso duas vezes. Ainda tô na segunda! E mesmo assim, insistindo em estudar novamente.

Krycek senta-se à mesa, com a caneca de café.

KRYCEK: - A Barbara acorda meio dia, faz o almoço e cuida do Dimi, pra eu poder dormir duas horas sem barulho, porque sabe que bebês acordam e choram, e a gente acorda o tempo todo. Depois almoçamos juntos lá pelas duas da tarde, passamos um tempo juntos e ela vai cochilar pra compensar o sono que não teve na manhã. Aí eu cuido do Dimi e faço a janta pra ela dormir sossegada. Quando saio às seis da tarde, coloco o Dimi com ela, se ela não se acordou. É uma troca. Assim ela já tem a comida pronta quando acordar e não perde tempo pra começar a trabalhar, ela geralmente entra ao vivo no jornal às nove e depois coloca o Dimi pra dormir e fica escrevendo as matérias ou fazendo o serviço doméstico até amanhecer. Quando eu chego vamos pra cama juntos e o Dimi acorda. Entendeu?

SCULLY: -Agora entendo porque a Barbara diz estar cansada.

KRYCEK: -Jogamos esses horários malucos pra não atrapalhar nossos empregos noturnos e ao mesmo tempo tentamos manter a rotina comum pro Dimi, ele precisa de horários normais. Por enquanto ele dorme mais que outra coisa, só acorda pra mamar ou resmungar uma troca de fraldas e pra dar risadas pro móbile. Estamos cansados e exaustos. Então, se você não se importar, eu gostaria de continuar a minha rotina, porque se eu mudar, quando voltar pra casa, vai ser difícil me adaptar novamente e tudo vai cair em cima da Barbara e não é justo.

SCULLY: - (RINDO/ INCRÉDULA) Me importar? Que você fique na cozinha por mim? Eu vou é agradecer!!! Assim posso estudar mais ainda!!!

KRYCEK: - Só me diz o que as crianças gostam, o que você gosta...

SCULLY: - E como funcionam suas folgas? Agora fiquei curiosa.

KRYCEK: - Bom, a Barbara folga aos fins de semana. Eu tenho uma folga por semana, que troco com um colega pra fazer 48 horas de folga ao contrário de 24 horas apenas. Todo mundo faz isso na delegacia. Igual, agora não podemos sair e tomar a estrada, passar o final de semana juntos longe daqui, ou recuperando o sono, porque tem o Dimi.

SCULLY: - É, um filho mexe com toda a rotina de um casal.

KRYCEK: -(SORRI) Aquele carinha compensa qualquer sacrifício. Eu posso estar cansado, mas quando ele estende os braços pra mim pedindo colo ou rindo, nem lembro mais que preciso dormir. O cansaço vai embora.

Victoria dá um grito. Scully leva a mão ao peito, mas Megan dá outro grito e as duas riem alto. Krycek abaixa a cabeça rindo.

SCULLY: -Meu Deus, matam a gente do coração!

Os dois riem.

SCULLY: - Mulder e eu não conseguiríamos criar nossos filhos se ainda estivéssemos no FBI. Um teria que sair. Eu nunca conseguiria deixar o Bryan numa creche ou com uma babá desconhecida. Entendo que Barbara e você se sacrifiquem sem uma babá pra ajudar, porque eles crescem rápido e não queremos perder as fases mais lindas da vida deles. Foi o que fiz quando Bryan nasceu. Deixei o Mulder se virar sozinho na agência e assumi ser mãe em tempo integral. Com Victoria foi mais fácil. Depois que voltei pro Mulder... Já tinha a Baba aqui e ela foi um presente dos céus... (TRISTE) Aproveitem cada momento, porque eu perdi uma parte da vida da minha filha...

KRYCEK: - Não se culpe por isso. Você não teve culpa.

SCULLY: - Me consola que Mulder foi homem nessa hora. Aguentou tudo sozinho.

KRYCEK: - É, eu sei. Chegava aqui e via o Mulder se virando em mil com a Scullyzinha. Faz tempo. Agora a Scullyzinha tá aí correndo e gritando pela casa.

SCULLY: - (SORRI) Mulder me contou que você vinha ajudá-lo até nas tarefas domésticas. Alex, eu nem sei como agradecer tudo o que fez por mim, meus filhos e principalmente pelo Mulder. Acho que sem você por perto, ele teria enlouquecido. Você foi a única pessoa que acreditou em Mulder.

Krycek leva a mão sobre a mesa e coloca sobre a mão de Scully. Sorri pra ela.

KRYCEK: - Não foi nada pelo tudo que vocês fizeram por mim.

Victoria entra na cozinha.

VICTORIA: - Mamãe, a gente pode fazer bolo? A Megan quer ajudar.

SCULLY: - (INCRÉDULA) Agora, Victoria?

VICTORIA: - Ai, deixa, vai! A gente tá com fominha de bolo!

Krycek começa a rir.

SCULLY: - Fominha de bolo... Sei. Quem sabe fominha de um pão, leite...

VICTORIA: - Nah, fominha de bolo mesmo!

SCULLY: - Depois Victoria, deixa eu terminar aqui primeiro. Estou conversando com o Tio Tchek agora.

VICTORIA: - Tio Tchek você vai ser meu pai por muito tempo?

SCULLY: - Victoria, o tio Tchek não vai ser seu pai, ele vai ficar conosco por uns dias.

VICTORIA: - Mas se ele vai ser o seu marido, vai ser o meu pai e o do Bryan, né?

Krycek abaixa a cabeça rindo.

SCULLY: - Tenta explicar...

KRYCEK: - Por que, Scullyzinha? Quer seu pai de volta, né?

VICTORIA: - Eu gosto de você tio Tchek, mas eu quero sim o meu papai de volta. Mas enquanto ele não volta... Podia encher o pneu da minha bicicleta?


5:45 P.M.

Na cozinha, Krycek veste a jaqueta. Scully olha pra ele.

SCULLY: - Não vai jantar? Você cozinhou e...

KRYCEK: - Não, eu tenho que trabalhar. Boa noite, Scully. Se precisar de alguma coisa, liga pra mim.

Krycek sai, mas volta.

KRYCEK: - Quer que eu traga leite quando voltar, alguma outra coisa?

SCULLY: - Não, tudo bem. Amanhã eu faço mercado, não precisa se preocupar com isso. Aqui eu faço as compras.

KRYCEK: - Precisa de dinheiro?

SCULLY: - (SORRI) Não. Pode ficar tranquilo.

Krycek sai. Scully abaixa a cabeça, arrependida. Victoria entra na cozinha.

SCULLY: - (REMORSO) Deixei o coitado sem dormir e sem almoço, tudo de propósito, e ele fez o jantar pra mim. Nem um lanchinho eu fiz pra ele... Ai, agora doeu na alma!

VICTORIA: -Viu? Devia ter feito um bolo! Eu posso jantar? O cheirinho tá tão gostoso!

SCULLY: - Pode, Docinho. Vou arrumar a mesa.

VICTORIA: - Você e papai se merecem mesmo! Um mata e o outro enforca!

SCULLY: - Victoria Mulder, não se meta em assuntos de adultos. Seu pai precisa de uma lição.

VICTORIA: - Não tô vendo nenhum adulto aqui. Acho que só eu.

Victoria sai da cozinha num beiço. Scully fica incrédula.


Residência dos Krycek - 6:01 P.M.

Mulder entra pela porta dos fundos. Barbara sentada no estar íntimo lixando as unhas e empurrando o carrinho num vai e vem com o pé. A TV ligada.

MULDER: - (DEBOCHADO) Querida, cheguei!!!

Barbara continua lixando as unhas, indiferente.

MULDER: - (DEBOCHADO)Hum, não vai pular no meu colo? Agora eu sou o seu "Raposito".

BARBARA: - (SECA)Ligue o alarme, cara pálida.

Mulder liga o alarme.

MULDER: -Encare essa situação assim: somos casais bem parecidos. Encaramos o casamento numa forma mais divertida, louca e tal... Não vai ter muita diferença.

BARBARA: - Quê? Mas nem em sonho que meu relacionamento com o Ratoncito tem algo a ver com o seu e o da Scully! E o tempo aqui vai te mostrar isso.

MULDER: - Você nem vai sentir falta do Rato nessa casa. Aposto que vai sentir é a minha falta quando essa palhaçada terminar.

BARBARA: - (DEBOCHADA) Ha... Ha... Ha...

MULDER: - (DEBOCHADO)Então "querida", como foi o seu dia?

BARBARA: -Maravilhoso. Dormi bastante. E o seu?

MULDER: -Bem agitado. Hoje tô cansado.

Mulder tira o casaco e coloca sobre a cadeira.

MULDER: -Então... O que vamos jantar?

BARBARA: -Não sei. O que você vai cozinhar pra nós?

MULDER: - (INCRÉDULO) Eu? Eu cozinhar?

BARBARA: -Claro! Eu nunca faço o jantar.

MULDER: -(INCRÉDULO) Nunca?

BARBARA: -Nunca. Alex faz o jantar e eu o almoço. Portanto, você vai pra cozinha e capricha porque estou com muita fome.

MULDER: -Que tal pizza?

BARBARA: -Não. Quero comida caseira. Você está na minha casa e regras da casa devem ser respeitadas, estão no contrato do programa. Eles estão nos observando pelas câmeras escondidas e se me sentir ameaçada é só gritar que o Jeová vem rapidinho!

Mulder faz cara de pânico.

BARBARA: -Que cor eu pinto as unhas? Hum?

MULDER: -Realmente o Rato tem razão, você é terrível, mulher!Pior do que a Scully!

BARBARA: -Eu? Eu terrível? Eu sou tratada como princesa pelo meu Ratoncito, portanto, enquanto você for o meu marido, vai me tratar como sempre fui tratada. Vá pra cozinha e faça o meu jantar, porque eu vou assistir a novela enquanto arrumo as unhas e fique quieto porque hoje a Valquíria vai pegar o Roberto com a Nádia e vai rolar o maior bafafá na novela!

Mulder debochado abre a geladeira. Pega uma cerveja.

MULDER: - Que tal comida russa? Vou fazer comida russa pra você.

BARBARA: -Adoro, meu Ratoncito faz. E você sabe fazer comida russa?

MULDER: -Sei sim. Vou fazer pra você um "roscovo".

BARBARA: -Nunca comi isso. É bom?

MULDER: - (DEBOCHADO)É. Arroz com ovo.

Barbara o fulmina com os olhos.


7:15 P.M.

Mulder, num deboche maior que de costume, senta-se à mesa na sala de jantar. Barbara olha para o jantar, incrédula.

MULDER: - O que foi? Vai fazer cara feia para o meu "roscovo"?

BARBARA: - Você fritou bem esses ovos?

MULDER: - Eu não sou entendido em ovos como o seu marido.

BARBARA: - A entendida em ovos nessa casa sou eu e não o meu marido. E se ficar debochando do meu Ratoncito, amanhã eu frito os seus ovos!

MULDER: - Uh! Quanta ingratidão, "Barbie Cubana". Ainda fiz batata frita e um belo bife. Viu? Sou um homem prendado. Acha que só o Rato sabe fazer comida?

BARBARA: - É... Não é nível "masterchef" como o Ratoncito, mas... Mata a fome.

MULDER: - Então? A Valquíria pegou o Roberto com a Nádia?

BARBARA: - Não, ficou para o próximo capítulo! Acredita? Ai que raiva, eu queria ver a surra que ela ia dar naquela piranha loura de farmácia!

MULDER: - O que vocês têm contra as louras? Metade das mulheres são louras e a outra metade odeiam louras e dessa metade que odeiam louras, 90% delas pintam os cabelos para se parecerem louras!

BARBARA: - Me diga você que é homem, porque vocês ficam idiotas e babando quando veem louras?

MULDER: -(DEBOCHADO) Não sei, namorei duas morenas e casei com uma ruiva. Pergunta pro Krycek, o lance de louras era com ele.

Barbara empurra o prato.

BARBARA: - ... Perdi a fome.

MULDER: - Tá tão ruim assim?

BARBARA: - ... Ele... Alex falava muito dela pra você?

MULDER: - De quem?

BARBARA: - Da falecida, Mulder! Ora, de quem! Teve mais louras na vida dele?

MULDER: - Bom não sei, só sei da Marita. E não. Ele não falava muito. Não tínhamos tanta intimidade na época. Por quê?

BARBARA: - Acha que ele amava mais ela do que eu? Pode ser sincero. Ela era linda. E aposto que se estivesse viva, eu não teria tido chance alguma!

Mulder começa a rir. Barbara faz um beiço aborrecida.

MULDER: - Quer minha teoria? Se ela estivesse viva, ele teria dado um chute nela, mais cedo ou mais tarde.

BARBARA: - Não minta pra me agradar, Mulder.

MULDER: - Não estou mentindo, Barbara. Ele foi quem admitiu pra mim que a coisa era amor e ódio. Você sabe que o Sindicato inicialmente queria usá-la pra me seduzir? Sabe que ela dormia com um velho caquético para conseguir informações? Acha mesmo que um homem aguenta dividir a mulher com outros? Mesmo que seja profissionalmente? É como se casar com uma prostituta. Acho até que ele foi paciente demais! Bom, tem homens que gostam de levar na cabeça, mas o Krycek não é desse tipo. Ou ele acabava matando ela ou ela matando ele.

BARBARA: -Mas ela estava grávida e ia ter um filho dele. Mudaria de vida certamente.

MULDER: -Barbara, poderia mudar, mas uma vez traída a confiança, nunca mais. Homens querem exclusividade.

BARBARA: - Ele me disse que assumiria ela e a criança, mas que tinha a certeza dentro dele de que depois iria deixá-la porque não confiava mais nela.

MULDER: - Barbara, vou te falar uma coisa, tá? E nunca, jamais diga isso ao Rato, ele não precisa de mais uma coisa pra remoer e pensar naquela cabeça pirada dele. Krycek nunca se perguntou se o filho era dele mesmo. Ele acreditou, talvez porque quisesse acreditar. E se não fosse? Hum?

BARBARA: - Meu Deus, Mulder! Nunca pensei nisso! Será que ela...

MULDER: - Eu não sei, Barbara. Não posso dizer que sim ou não. Mas se fosse comigo, eu me perguntaria diante de uma mulher com o histórico dela, tipo Diana Fowley. Eu exigiria DNA. E bico fechado. Não ressuscite passado.

BARBARA: -Com certeza, ou Alex vai começar a surtar de novo. Tadinho... Até isso! Antes de mim ele nunca teve uma mulher decente na vida. Que o amasse de verdade pelo que ele é... Que respeitasse a cara dele.

MULDER: - Em partes, minha amiga romântica inveterada. Porque Krycek também não merecia nada muito especial não. As vagabundas já estavam de bom tamanho pra ele. Agora o Krycek sossegou, porque antes ele era um sacana filho da mãe, que não queria compromisso com nada, apenas com o Sindicato e as sujeiras deles. E ele só mudou mesmo depois que perdeu a Marita. A morte dela foi o gatilho pro Krycek enxergar a verdade.

BARBARA: - Mulder, lembra quando você me chamou pra conversar num restaurante e despejou todo o histórico do Alex pra mim? Eu nunca agradeci você por isso. E também nunca disse que foi você quem abriu a boca. Eu protejo minhas fontes.

MULDER: - Sabe porque eu fiz isso. Você é uma mulher decente e eu tive medo de que quebrasse a cara. Eu só quis alertar, vi que você estava interessada nele porque me perguntava muita coisa sobre o Krycek. Naquela época, eu não sabia se ele seria sincero com você e nem tinha a certeza de que realmente ele queria mudar de vida. E você me ajudou muito, é uma mulher sonhadora e apaixonada, eu não podia simplesmente deixar que virasse diversão nas mãos de um canalha. Achei melhor dar a ficha, pelo menos você já entraria sabendo o que estava levando. E sabe, se ele aprontasse alguma com você, eu socaria ele.

BARBARA: - Mas ele foi sincero, desde o início, Mulder. Ele contou as canalhices dele, contou o passado dele, o que fazia no Sindicato. Acho que fui a sortuda que pegou o Alex num momento de mutação.

MULDER: - Não.Ele foi sortudo de encontrar você num momento de mutação. Outra mulher na vida dele não teria feito o moleque crescer e nem ser o homem que é hoje. Falo com propriedade. Outra mulher na minha vida e eu não teria crescido também. A mulher certa faz o homem, Barbara. Um homem jamais faz uma mulher. Esse talento é de vocês: transformar.

BARBARA: - Acho que com essa, meu apetite voltou. Mas isso não significa que serei a esposa boazinha não. Você não é o cozinheiro dos meus sonhos! Depois vou me arrumar, tenho que entrar às nove ao vivo.

Mulder começa a rir. Barbara pega o prato de volta.

10:27 P.M.

Mulder segue pelo corredor em direção ao quarto de hóspedes. Para. Recua pra trás ao ver o quarto de casal com a porta aberta e Barbara estendendo a cama. Numa cara debochada e deslavada, cruza os braços e se encosta no batente da porta, começando a provocar.

MULDER: - Então seremos casados por uma semana?

BARBARA: - É. Infelizmente. Pensei que me dariam alguma coisa interessante, mas jogaram na minha porta um judeu abestado e narigudo.

MULDER: - Mas eu sou um judeu abestado narigudo e interessante... E não tenho apenas o nariz grande. Mas se quiser o nariz, satisfação garantida também... Dizem que as latinas são calientes... As cubanas então... Que tal dançar rumba em cima de mim?

BARBARA: - Você entende espanhol, Mulder?

MULDER: - Alguma coisa, mas não precisamos nos entender, porque o que estou pensando, dá pra fazer sem problema de idioma, afinal de contas, a "língua" nesse caso, todo o mundo entende.

BARBARA: - Nunca transou com uma latina? Bom, não me admira. Americanos não aguentam o primeiro round.

MULDER: - Mas o que é isso, companheira? Você não sabe a qualidade do charuto americano!

BARBARA: - Eu sei, já transei com um, companheiro, e detestei a coisa capitalista onde só um chega ao topo. Prefiro a comunista. A divisão do orgasmo é mais justa.

MULDER: - (DEBOCHADO) Tem certeza que o seu Fidel não gostaria de fumar um bom charuto americano?

BARBARA: - (DEBOCHADA) Absoluta, e depois eu prefiro o Che.

MULDER: - Tudo bem, podemos guerrilhar lá no jardim, no meio das palmeiras. No pasará!

BARBARA: - Mulder, você não é apto para guerrilhar comigo. Solamente mi Ratoncito es habilidoso para eso.

MULDER: - Por que vocês dois são comunistas?

BARBARA: - Não. Porque quando olho pra dentro das calças dele, eu digo empolgada: Che, que vara!

Mulder olha assustado.

BARBARA: - Essa foi pelo "roscovo". Boa noite!

Mulder entra no quarto e se atira na cama. Barbara arregala os olhos.

MULDER: - Vem amor. Vou te fazer chegar bem mais longe que a Apollo 11. E sem falhas na missão. Essa é pelo Che que vara!

Barbara cruza os braços mais debochada ainda.

BARBARA: - Você não tem tecnologia russa, querido. Eu prefiro o meu Vostok. Robusto e infalível! Me leva pra outra galáxia três vezes numa noite! E se eu insistir, ainda tem uma quarta marcha!

MULDER: -Russos não são bons em fazer você ver estrelas. Americanos são melhores para explorar o espaço, eles são mais competentes e dedicados. Pode sair até a quinta marcha!

BARBARA: -Se não sair da minha cama em um segundo, eu vou fazer você ver estrelas rapidinho!

Mulder se levanta. Passa por ela.

MULDER: - Chata!

BARBARA: -Ou talvez ligue pra polícia. Aposto que o detetive de plantão vai adorar vir aqui, algemar o intruso e dar umas porradas em você.

MULDER: -Eu bato. Ele apanha. É o nosso acordo.

BARBARA: -Mulder, eu não sou ciumenta, tá bom? Qualquer dia desses, basta você me dizer quando, eu empresto o meu homem pra você matar a sua curiosidade em ser mulher pra ele. O único problema é que você vai gostar tanto, que vai querer levar o Sputnik dele todo dia no seu rabo!

Mulder arregala os olhos.

MULDER: -Definitivamente, você não é a Scully!

BARBARA: -Graças à Deus! Se fosse teria que aguentar suas piadas imbecis o dia inteiro!

MULDER: -Você não tem senso de humor!

BARBARA: -Ah, eu tenho. Só é mais ferino e boca suja que o seu. Agora andale, gringo maricón! Tira o seu rabo do meu quarto ou juro que pego a frigideira e faço você ter a noite mais pancada que já teve na vida. Eu bato! Você apanha!

Mulder sai irritado. Barbara segura o riso.


10:11 P.M.

No quarto de visitas, Mulder atirado na cama com a TV ligada e falando ao celular.

MULDER: - (AO CELULAR) Deixa de ser ingênuo, Rato! Elas aceitaram participar desse programa e combinaram entre si para nos sacanearem! É óbvio! Eu quis sacanear e saímos ferrados, elas aproveitaram a chance pra se vingarem da gente. Estão bravas com aquele dia ainda, sabe que mulher não esquece as coisas e não deixam barato... A sua mulher tá fazendo da minha vida um inferno e aposto que a minha tá fazendo igual aí... Resista. Eu tento irritar a sua patroa de todas as formas possíveis, mas ela sempre sai ganhando! ... Retiro o que disse, a Scully é muito mais fácil de lidar! Volta pra cá, por favor, me deixa voltar pra minha mulher!!!!!!!!! Não tô mais achando graça nenhuma nessa brincadeira! Se duvidar acordo sem as minhas bolas, a sua ratazana cubana é louca de pedra!!!! E que história é essa de Che Guevara?


Delegacia de polícia - 11:21 P.M.

Krycek desliga o telefone, rindo. Bishop, sentado à mesa, olha pra ele.

BISHOP: - Qual a piada agora?

KRYCEK: - Vamos dizer que meu amigo Mulder está vendo o quanto a vida dele é mais fácil do que ele pensava. Minha mulher tá dando uma surra mental nele.

BISHOP: - (RINDO) E a mulher dele não tá dando uma surra em você?

KRYCEK: - Essa é a parte mais engraçada nessa história. Ele tá se lascando, eu não. Os homens são mais unidos que as mulheres, mas nesse caso, eu tô me divertindo e deixando ele se ferrar, foi ele quem me meteu nessa confusão toda, com a ideia desse reality show. Scully e eu nos entendemos. Somos adultos, agimos como adultos. Agora o Mulder e a Barbara são infantis. Vão disputar e brigar até o fim!


2:35 A.M.

[Som: Buena Vista Social Club - El Cuarto De Tula]

A música alta. Barbara, com os cabelos amarrados no alto da cabeça, usando uma bermuda jeans rasgada, uma camiseta vermelha com o rosto de Che Guevara e de pés descalços, dançando e cantando enquanto passa o aspirador no tapete da sala de jantar.

BARBARA: - (CANTANDO) En el barrio La Cachimba se ha formado la corredera... En el barrio La Cachimba se ha formado la corredera... Allá fueron los bomberos con sus campanas, sus sirenas... Allá fueron los bomberos con sus campanas, sus sirenas... Ay mamá, ¿qué pasó... Ay mamá, qué pasó?

Rasputin deitado no sofá e brincando com uma bolinha a observa, curioso. Inclina a cabeça para o lado.Barbara solta o aspirador. Vai na cozinha, dançando, pega uma garrafa de rum e serve uma dose. Empina num gole. Abre a gaveta e retira um petisco pra cachorro. Volta dançando pra sala de jantar, dá o petisco pro cachorrinho, faz carinho nele e pega o aspirador de novo. Dança com o aspirador.

BARBARA: - (CANTANDO) El cuarto de Tula... le cogió candela... Se quedó dormida y no apagó la vela...

Barbara fecha os olhos, dançando, distraída, imersa na música.

BARBARA: - (CANTANDO) El cuarto de Tula... le cogió candela... Se quedó dormida y no apagó la vela...

Barbara dá um giro, requebrando os quadris.

BARBARA: - (CANTANDO) El cuarto de Tula... le cogió candela... Se quedó dormida y no apagó la vela... ¡Que llamen a Ibrahim Ferrer, que busquen los bomberos! Que yo creo que Tula lo que quiere Señor es que le apaguen el fuego!!!

Barbara se abana com a mão.

BARBARA: - (MANHOSA)Ai Ratoncito, que calor me dá pensar em você! Que saudade que eu tô! Uh! Pegando mais fogo que o quarto da Tula! (GRITA) Eu quero o meu russo de volta!!!!!!!!!!!!!!!!


Segundo dia.

Residência dos Krycek - 6:31 A.M.

Mulder entra na cozinha, com cara de poucos amigos e de quem não dormiu direito. Barbara sentada ao balcão, tomando café e comendo pão tostado com manteiga. Mulder serve um café, olhando pra camiseta de Barbara.

MULDER: - Teve festa cubana a madrugada toda, "Che Guevara"?

BARBARA: - Não, teve faxina com música cubana.

MULDER: - Nem pra fazer um café decente?

BARBARA: - Por quê? Meu café é indecente demais pra você?

MULDER: - Tô falando de panquecas, ovos, bacon, cereais, essas coisas!

BARBARA: - Não comemos isso aqui. Sou cubana e Alex é russo.

MULDER: - (DEBOCHADO) Que raios vocês comem de manhã? Banana com vodca?

BARBARA: - (DEBOCHADA) Não. Banana com vodca eu já estaria comendo agora se você não estivesse nessa casa.

MULDER: - (DEBOCHADO) Uh! O agito entre ratos é pela manhã?

BARBARA: -Algo contra transar pela manhã?

MULDER: - (DEBOCHADO) Nada. Tá a fim?

BARBARA: - (SÉRIA) Vamos. Scully não vai saber de nada, você não vai contar nada pro Alex. Vamos nessa. Aqui mesmo ou no quarto? Aonde você prefere?

Mulder entra em pânico. Barbara começa a rir, apontando pra cara dele.

BARBARA: - (RINDO) Bem como a Scully disse: late, late e depois sai correndo!

MULDER: - (IRRITADO) Isso não teve graça! Eu nunca trairia a minha mulher, e menos ainda com você que é minha amiga, amiga dela e mulher do meu amigo!

BARBARA: - (RINDO) Como você é meu amigo, amigo do meu marido e marido da minha melhor amiga! Se visse a sua cara, ia rir também! Você gelou! Perdeu a reação!

Mulder faz beiço de irritado.

BARBARA: -Voltando ao café... Comemos pão tostado com manteiga, café... Você pega o pão com manteiga, tosta ele, molha no café com leite, é uma delícia. Experimenta. Sua filha adora!

MULDER: - É, até que não é ruim. E o russo come isso?

BARBARA: - Ele geralmente quando chega já lanchou na rua, mas quando tem, ele come sim. E quando tá em casa eu faço chá, sirniki que são uns bolinhos doces ou blinis, umas panquequinhas russas parecidas com a de vocês, mas muito mais incrementadas. Na verdade Alex gosta de mingau.

MULDER: - Tá de brincadeira! Mingau é coisa pra criança! Mingau no café da manhã?

BARBARA: - É da cultura deles, eles adoram mingau de semolina no café da manhã. Eu detesto mingau a qualquer hora, mas ele gosta. O bom é que divide com o Dimi.

MULDER: - Vou trabalhar. Venho para o almoço hoje.

BARBARA: - Ok. Até mais.

Mulder sai. Barbara segura o riso.

BARBARA: - Rasputin, quando ele voltar, pode morder sem piedade. Mamãe deixa. Vamos lá pra cima, vou dar de mamar pro Dimi, colocá-lo na nossa cama e vamos tentar dormir um pouco. Eu não sei que horas o Mulder almoça, mas nessa casa almoçamos às duas da tarde.


Residência dos Mulder - 7:03 A.M.

Na cozinha, Scully prepara o lanche de Victoria, que come seu cereal.

SCULLY: - E quando chegar não faz barulho porque o tio Tchek precisa dormir.

VICTORIA: - Ele não chegou ainda?

SCULLY: - Tô preocupada. Já devia ter chegado.

VICTORIA: - Até que está sendo engraçado ter outro pai. Mas eu quero o meu de volta!

SCULLY: - Entre nós duas, também quero o seu pai de volta.

VICTORIA: -Ah, tá sentido saudades do bagunceiro debochado, né?

SCULLY: -Ok, admito, tô sentindo saudades sim. Agora tá feliz?

VICTORIA: -Você fez o meu dia, mamãe!

Victoria se levanta. Scully abre a porta dos fundos.

SCULLY: -Vou acompanhar você até a frente, Angela não deve demorar.

As duas saem. A picape de Krycek estacionada na frente da garagem.

VICTORIA: -Quando ele chegou?

SCULLY: -Não vi. E por que não entrou?

As duas olham pra dentro, Krycek dormindo no banco de trás.

VICTORIA: -Acha que ele não quis dormir na nossa casa?

SCULLY: -Sei lá. Não entendi... Mas não vou acordá-lo.

As duas vão pra frente da casa. Scully pega o jornal. Angela estaciona o carro. Desce o vidro.

ANGELA: - Bom dia vizinha! Expresso escola!

SCULLY: -Bom dia vizinha!

Victoria dá um beijo em Scully e entra no carro, trocando um cumprimento com Darius.

ANGELA: - Coloquem o cinto de segurança os dois! Scully, você vai na reunião dos pais na semana que vem?

SCULLY: -Vou sim. Acha que perderia uma reunião com o Prof. Serling?

As duas riem. Angela acena e parte. Scully fica acenando num sorriso. Quando vira-se pra voltar percebe Nancy disfarçando, mexendo nas plantas. Scully empina o nariz.

SCULLY: - Bom dia Nancy!

Nancy nem a cumprimenta. Scully faz um sinal de "dane-se" e entra no pátio. Nancy espia por cima da cerca viva.

NANCY: - O taradão bem dotado está na casa da jornalista vadia, mulher do policial amante dele. E o policial amante dele está na casa do taradão com a doutora ruiva pervertida. O que será que está havendo?

George passa por ela, debochado. Pega o jornal.

GEORGE: - Troca de casais. Está na moda, sabia? Você enjoa da mulher chata e pega a do vizinho. Até que a ideia é bem interessante. Uma pena que ninguém vai querer trocar comigo.

NANCY: - Não vai pro mercado não? Já devia estar lá!


Residência dos Krycek - 12:10 P.M.

Mulder entra pela porta dos fundos. Silêncio completo. Rasputin vem correndo da sala, abanando o rabo e latindo. Ao ver quem é, volta por onde veio, calado e desanimado.

MULDER: - Ok, eu vou entender esse gesto de frustração como se você estivesse esperando o açougueiro!

Mulder procura Barbara e não vê. Suspira. Liga a TV. Abre a geladeira e pega um suco. Olha pra caixa. Sorri sacana. Abre a caixa e bebe no gargalo. Senta-se na frente da televisão, acomodando-se na poltrona. Barbara entra com Dimi no colo. Rasputin a seguindo.

BARBARA: - Bom dia!

MULDER: - Boa tarde!

Barbara coloca Dimi no colo de Mulder.

BARBARA: - Segura o seu afilhado enquanto faço o almoço.

Mulder segura Dimi.

MULDER: - Eu imagino que almoce tarde também.

BARBARA: - É, acostume-se com as regras da casa.

MULDER: - Quero ver o meu trabalho se acostumar com as regras da casa. Duas horas tenho um cliente me esperando.

BARBARA: - Problema seu, não meu.

Barbara vai pra cozinha. Mulder leva a caixa de suco à boca. Dimi tenta pegar.

MULDER: - Não, "Camundongo Dimey", você ainda não pode tomar essas coisas.

Dimi se segura em Mulder e vai tentando escalar.

MULDER: - É, vem com o seu padrinho aqui, Elvis. Esse seu topete aí é marca garantida de roqueiro, mais a jaqueta do seu pai de herança e quando crescer o estrago vai tá feito. Pega a Harley e a carteira dele e vai pra balada! Só não chega perto daquela picape!

Barbara, picando uma cebola, solta uma gargalhada.

MULDER: -E quando a chapa esquentar aqui com o velho rabugento do seu pai, porque ele vai ficar um velho rabugento com certeza, você atravessa a rua que eu seguro a bronca. E me agradeça, porque se não fosse por mim, você não estaria aqui babando a roupa e os babacas dos seus pais ainda estariam pensando se deveriam namorar ou não.

Mulder faz caretas. Dimi morde as mãos e ri pra ele, olhos curiosos. Mulder solta a caixa de suco, ergue a mão. Dimi acompanha. Mulder abre a mão e mexe os dedos.

MULDER: - A aranha assassina! Hahahahahaha!

Dimi solta risadas altas, Mulder faz cócegas nele.

MULDER: - O Dimi já come alguma coisa?

BARBARA: - Papinha, sopinha, mingau. Ele toma suquinho, mas eu faço com frutas frescas.

MULDER: - Aí sortudo! Você ganha suco com frutas frescas!

Dimi solta um grito dando risada, erguendo e baixando o corpo. Coloca a mão no rosto de Mulder. Rasputin senta-se no tapete, encarando Mulder, como quem espera alguma coisa.

MULDER: - Pelo menos alguém nessa casa fica feliz com a minha presença... Barbara esse seu cachorro tá sempre bravo ou é a cara russa dele?

Barbara abre a geladeira e começa a retirar ingredientes pro almoço.

BARBARA: - (RINDO) Parece né? É por causa da cor da pelagem na cara, branco com preto e os olhos claros.

MULDER: - Só porque tem olhos azuis não deixa de ser um pulguento. Um pulguento com olhos azuis. Que tá me encarando feio e acho que quer me morder.

BARBARA: - Você sentou na poltrona do Alex. É por isso. Alex senta aí, bate na perna e ele pula. Está esperando isso.

Barbara coloca uma panela no fogão. Mulder bate na perna. Rasputin vira a cara pro lado, na dúvida, indeciso, erguendo a orelha e tentando entender.

MULDER: - É, seu cachorro é burro.

BARBARA: - Ele não é burro. Só está estranhando a situação. Não é o humano dele. Victoria ensinou uns truques pra ele, não sei como conseguiu, porque Rasputin é teimoso. Levei meses pra fazer ele entender aonde devia fazer as necessidades. Mas ele é um bebezão ainda.

MULDER: - Cookie está ficando velho. Ainda tem energia pra brincar, não como antes, mas ainda aceita as crianças brincando com ele. Acho que com o tempo vou ter que arrumar outro cachorro. O dia que ele morrer vai ser um inferno lá em casa.

Mulder brinca com Dimi. Puxa o nariz dele. Dimi dá risadas.

BARBARA: - Alex adora cães. Você gosta?

MULDER: - Eu adoro cachorros, eles que implicam comigo. O Cookie é todo Scully. Vive fazendo desaforo pra mim. Quando era filhote então... Roía minhas coisas e urinava nelas.

BARBARA: - Ciúmes! Ele ama a Scully. Ela é a humana dele. Aqui não tenho esse problema, o Rasputin é meu parceiro, mas também do Alex. E distrai o Dimi. Mas já fez cada uma. Roer coisas não é o estilo dele, mas sumir com elas. Acho que enterra, porque encontrei uma sandália minha quase enterrada no meio das flores. Ele acabou com meu canteiro, esse atentadinho. Tentei ensinar a ficar longe das plantas, mas não consegui. Acho que Victoria ensinou porque não vejo mais ele escavando minhas folhagens.

MULDER: - Victoria tem jeito com os animais. Acho que terei uma veterinária na família. Ou uma domadora de leões. Acredita que ela ensinou os agapórnis a dançarem?

BARBARA: - (RINDO) Quero ver isso!

MULDER: - Eu tô na sala, assistindo TV, aí deu um comercial com música e ouço aquela folia, olho pro lado e os dois dançando no poleiro. Em sincronia e no ritmo. Melhor do que eu!

Rasputin vira-se rapidamente e sai latindo e correndo pro quintal.

BARBARA: - É o gato da Nancy. Rasputin fica louco! Tadinho do gato, ele tava acostumado a vir aqui, eu dava petiscos pra ele. Agora o Rasputin não deixa ele descer nem do muro!

MULDER: - O Cookie tem uma raiva desse gato... Eu acho que os animais sabem quem é a dona do bichano.

BARBARA: - Anda quieta por sinal. Passa por mim e vira a cara. E o George todo solícito. Como aquele homem aguenta a Nancy? Ele não tem nada a ver com ela!

MULDER: - Coisas do coração. O cupido sacaneou ele.

O celular de Mulder toca. Mulder tira do bolso e atende. Dimi tenta pegar, Mulder tenta não deixar.

MULDER: - (AO CELULAR) Fala, meu castigo... Quem? Como assim, Baba? ... Hum... Hum... Espera, tem um ratinho aqui querendo pegar o telefone...

Mulder troca o canal para desenhos. Dimi volta a atenção rapidinho pra televisão.

BARBARA: - Ah! Ele adora a Masha e o Urso.

MULDER: -O Bryan também... (AO CELULAR) Não, eu disse pra ele outra coisa, o cara tá inventando história... Não, nós vamos pegar esse caso sim, o prefeito da cidade foi quem nos contatou, não foi esse vereador idiota... Baba esse cara tá querendo jogada política, ele é do partido de oposição ao prefeito e está torcendo pro cara passar um ridículo publicamente... Eu não! Que se danem os dois, eu quero é ajudar as pessoas da comunidade! Quero é descobrir a verdade. Concorda comigo que tem um Arquivo X nesse lugar? Se um prefeito chega a esse ponto de arriscar sua carreira chamando a gente pra resolver, é porque tem alguma coisa sinistra mesmo, que nem a polícia resolveu. E onde tem coisa sinistra, nós vamos... Se esse idiota ligar de novo, enrola e não dá meu número pra ele. Só falo com o prefeito. Semana que vem vamos pra lá.

Mulder desliga. Barbara se aproxima, curiosa.

BARBARA: - Quem? Onde? O quê? Quando? Como? Por quê?

MULDER: - (DEBOCHADO) Nada a declarar para a imprensa. Agora se você cozinhar na hora certa, fizer almoço e jantar, lavar as minhas roupas, fazer massagem nos meus pés e ser educada comigo, a história é sua. Se me tratar bem, pode até fazer uma reportagem. Ou morra curiosa!

BARBARA: - Ugh!!!!!!!!!!!!! Você é irritante, sabia? Quero o meu Ratoncito de volta!!!!

MULDER: - (DEBOCHADO) Até eu quero o Ratoncito de volta!!! Ele é mais divertido que você!!! Ratoncito, volta, por favor!!! Volta Ratoncito, mi vida!!! Vamos Dimi, grita aí: Volta Ratoncito!!!

Dimi dá risada. Rasputin entra correndo e começa a uivar. Barbara abaixa a cabeça e ri.

MULDER: - Todo mundo em coro: Volta Ratoncito!!! Volta!!!


Residência dos Mulder - 12:21 P.M.

Scully sentada na cozinha, dando comida pra Bryan.

SCULLY: - (RINDO) Calma, filho! Estou feliz que goste da comida da mamãe, mas vamos com calma!

Krycek entra.

KRYCEK: - Boa tarde!

SCULLY: - Boa tarde! Por que dormiu no carro?

KRYCEK: - Porque não sabia se você tinha acionado o alarme da casa e não queria acordar vocês.

SCULLY: - Ai, não acredito! Alex, quase nunca acionamos o alarme. O Mulder é o alarme! Senta aí, almoça comigo. Só vou terminar de dar almoço pro Mulder Junior.

Bryan de folia, bate com as mãos no pratinho e voa toda a comida no chão e alguma no rosto e cabelos dele. Krycek começa a rir. Scully segura o riso.

SCULLY: - Eu não disse? É filho do Mulder mesmo!

Bryan se espicha, olhando para o pratinho virado no chão e depois olha com um beiço de choro pra Scully.

SCULLY: - Tem mais, não precisa chorar!

KRYCEK: - Tem um pano aí?

SCULLY: - Eu limpo. Vou servir mais um pouquinho antes que ele comece a berrar.Alex, só pega o prato dele e lava pra mim, por favor?

Krycek se agacha e pega o prato. Vai pra pia lavar. Scully pega um paninho e limpa o rosto de Bryan.

SCULLY: - Meu filho, mas você é o porquinho da mamãe mesmo! Sempre de bagunça! A comida é pra comer com a boca e não com o rosto, os cabelos...

Scully tenta tirar a comida do cabelo de Bryan.

BRYAN: - Rah....

SCULLY: - Não adianta invocar rá ou qualquer outro deus egípcio hoje! O banho vai pegar! Seu pai não tá aí pra aliviar o seu lado dessa vez.

Bryan começa a chorar.

KRYCEK: - (RINDO) Deixa que eu limpo o faraó e você serve o prato dele.

SCULLY: - Ele entende a palavra banho rapidinho.

Scully entrega o paninho e vai servir a comida. Krycek tenta tirar a comida dos cabelos de Bryan.

KRYCEK: - Sorte a sua que não tem o cabelo do Dimi, porque isso levaria um dia inteiro! Pronto. Vem com o tio, vem.

Bryan chora. Krycek o pega no colo, abraça e leva a mão na cabeça de Bryan, fazendo carinho.

KRYCEK: - Ah, chora não, essas coisas acontecem. Quer brincar e comer ao mesmo tempo. É tanto coisa pra fazer e descobrir, né? Não dá pra decidir.

Bryan se acalma. Recosta a cabeça no ombro de Krycek e soluça magoado, olhando pra Scully.

SCULLY: - Eu não acredito! (RINDO) Eu vou me dar ao trabalho de pegar o celular e tirar uma foto dessa cara Fox Mulder me encarando como se eu fosse uma megera!

Krycek começa a rir. Scully bate uma foto.

SCULLY: - Quanto drama! Parece até que levou uma surra!

KRYCEK: - Serve o prato do Bryan, mamãe. O tio Tchek vai dar comida pra ele agora. Hum? Vamos almoçar? Pra crescer e ficar forte? Daqui à pouco você e o Dimi vão botar o terror nessa rua.

SCULLY: - Não sei do Dimi, mas o Bryan não vai dever aos genes paternos.

Scully serve o pratinho.Krycek coloca Bryan na cadeirinha. Senta-se na frente dele.

SCULLY: - Sabe fazer isso?

KRYCEK: - Bom, não sei se eu sei, mas eu faço com o Dimi.

SCULLY: - (SORRI) É instintivo, não?

KRYCEK: - Totalmente!

Scully vai na lavanderia. Bryan olha curioso pra Krycek, que leva a colher ao prato.

KRYCEK: - Babushka foi na floresta pegar amoras e encheu uma cesta assim.

Krycek ergue a colher com comida. Bryan observando. Krycek vai fazendo aviãozinho.

KRYCEK: - Babushka sujou as mãos e foi lavá-las no rio. O urso com fome queria tanto as amoras!

Krycek leva a colher parando na frente da boca de Bryan.

KRYCEK: - Corre urso! Coma tudo antes que a babushka volte!

Bryan abre a boca.

KRYCEK: - Urso, comeu! Babushka perdeu!

Krycek inclina a cabeça pro lado, num beiço de derrota. Bryan acha graça. Bate palmas e fica olhando pra colher.

KRYCEK: - Ok. De novo lá foi a babushka encher a cesta... O urso de olho. Corre urso!

Bryan solta risadas altas. Scully espia, curiosa.

KRYCEK: - Coma tudo antes que a babushka volte!

Bryan abre a boca.

KRYCEK: - Urso, comeu! Babushka perdeu!

Krycek inclina a cabeça pro lado, num beiço de derrota. Bryan ri alto. Agita as mãos querendo mais.

12:46 P.M.

Scully e Krycek almoçam juntos. Bryan sentado na cadeirinha, brincando com um cubo colorido de borracha. Algumas vezes leva à boca e examina curioso.

SCULLY: - Acho que vai gostar do almoço. Fiz arroz, frango grelhado e bastante legumes e sei que russos gostam disso. Eu quero aquela receita de sopa de beterraba. Aquela que você fez no último jantar, que o Mulder ficou dizendo que era comida de vampiro, sopa de absorvente e quase fez a Ellen vomitar... Eu desisto, o Mulder não tem mais jeito! Me faz passar vergonha!

KRYCEK: - (RINDO) O Mulder é um brincalhão, Scully. É o jeito dele. E que graça teriam os jantares sem o Mulder? Ele sabe engolir os problemas dele, não deixa ninguém ficar triste ou deprimido. E quando precisa desabafar, ele chama você num canto e bota tudo pra fora até chorar.

SCULLY: - Verdade. Mesmo que o mundo esteja desabando na cabeça do Mulder, ele ainda encontra uma piada pra fazer o outro rir. Não fosse o Mulder, acho que essa casa não seria um lugar alegre, mesmo com as crianças. Eu sou séria demais. O Mulder é quem me puxa pra brincadeira, pra leveza da vida, para ser um pouco mais espirituosa. Ele consegue tirar a criança travessa de dentro de mim.

KRYCEK: - A Barbara é quem consegue fazer isso lá em casa. Eu sou chato e sério. Quando a coisa tá muito silenciosa, ela arruma um jeito de agitar.

Bryan estende a mão pedindo comida.

SCULLY: - Mas meu filho, você acabou de almoçar! (RINDO) Tá, mais um pedacinho de frango.

Scully dá uma lasquinha de frango e Bryan leva à boca, se babando todo.

KRYCEK: - Dimi também é bom de garfo. Agora que pode comer outras coisas, ficou mais engraçadinho. Quer provar tudo o que a gente come. O que não gosta ou não quer, tira da gente só pra dar pro cachorro. Acho que ele e o cachorro tem um acordo.

SCULLY: - Cachorro é tudo para uma criança. Cookie me avisa quando o meu terror tá aprontando alguma.

KRYCEK: - Dimi chora pra dormir à tarde, mas é deixar o Rasputin deitar com ele e o carinha pega no sono rapidinho. Acho que o cachorro o acalma, esquenta... Você cozinha bem, Scully. Você e eu temos o mesmo hábito de caprichar em legumes e verduras.

SCULLY: -Isso é da cultura de vocês, no meu caso, é hábito saudável adquirido. Os americanos comem muito mal. Vida corrida, tudo industrializado e pronto, fast food então... Minha mãe sempre teve uma parcela nisso. Meg perdia horas na cozinha pra cozinhar e você sabe, crianças... A gente sempre reclamava querendo porcarias congeladas. Hoje eu dou valor aos ensinamentos dela. Preparar refeições leva tempo. Muita gente tem preguiça de descascar ou lavar uma salada. É cansa, mas... Depois se vê o resultado na saúde... Posso dar uma sugestão? Almoce e suba. Durma mais um pouco. Eu chamo você pelas cinco, hoje você escapa de fazer o jantar. Um dia só pra relaxar? Hum?

KRYCEK: - Proposta indecente essa sua. Estou tentado a aceitar.

Bryan empurra o cubo como se fosse um carro.

BRYAN: - Brrrrrrrrrr...

KRYCEK: - Bom, tem alguma coisa do padrinho, gosta de carros.

Scully ri.

KRYCEK: - O Bryan não lembra em nada o Mulder. Pelo menos não fisicamente. Ele é você. Seus olhos, seu jeito sério...

SCULLY: - Mamãe acha que ele é o meu pai que voltou.

KRYCEK: - Sério? E você acredita nisso?

SCULLY: - E você acha que eu acreditaria?

Os dois riem.

SCULLY: - Não condiz com as crenças da minha fé. Victoria quando menor disse que voltou pra nós, assim, do nada, como se entendesse alguma coisa sobre o assunto. Aquilo foi um susto, depois um alento, sabe? Chorei tanto. Depois fiquei dias pensando sobre isso e discutindo com o Mulder. Eu tenho uma teoria, Victoria até pode ter voltado. Mas isso não é pra qualquer um. Acho que me entende.

KRYCEK: - Entendo. Faz sentido no caso dela.

SCULLY: - E pela primeira vez consegui deixar o Mulder encucado com alguma teoria minha sobre o paranormal. Agora é ele quem se questiona se suas crenças estão certas. O que me deixa angustiada é que Mulder olha pra filha esperando respostas que ela não tem pra dar. Como se Victoria fosse o gênio da lâmpada que vai conceder desejos sobre a verdade.

KRYCEK: - Isso só o tempo vai dizer pra vocês até aonde Victoria é especial. O Sindicato especulava, ninguém nunca soube ao certo...

SCULLY: - Mas Coin deve saber alguma coisa que não sabemos.

KRYCEK: - Se ele sabe, sabe sozinho. Porque nem A Ordem e o Sindicato tinham certeza. E por falar neles, há tempos não conseguimos descobrir mais nenhum nome entre os treze.

SCULLY: - Mulder teme a amizade de Victoria com Megan, por causa do Robinson. Eu não posso correr a menina daqui. Ela e Victoria parecem duas irmãs quando se juntam. Robinson nunca apareceu, nunca ligou e nem aparece na escola. A avó dela é quem a cria realmente.

KRYCEK: - Não dá pra julgar uma criança por seus pais... Meu filho não tem culpa de ser meu filho. Não gostaria que julgassem ele como se fosse eu. Dimi não é eu. Ele não cometeu os meus pecados.

Bryan joga o cubo no chão. Fica olhando pro cubo, triste. Scully pega uma bolinha de borracha de cima da mesa e coloca na frente de Bryan. Ele já leva à boca.

SCULLY: - É, pode até ser uma Dana Scully, mas a fixação oral é a do pai dele.

Os dois riem.

SCULLY: - Barbara comentou comigo que estava preocupada com o Dimi. Mas cada criança tem seu ritmo e meninos custam mais a desenvolver que as meninas. Elas aprendem a andar, a falar, tudo bem mais cedo. Victoria demorou mais pra falar do que deveria, mas quando aprendeu, nunca mais fechou a boca! Me deixa tonta às vezes!

KRYCEK: - (SORRI) O garoto tem só meio ano de vida e a Barbara quer que ele saia correndo e falando? Agora que ele descobriu o que é papinha! Acho que o Dimi puxou mais a minha família. Espero que não seja chato como eu, ou o Tonhão não vai ter parceiro pra piadas.

SCULLY: - Amei os pais da Barbara. Eles são divertidos. Lembra quando o Tonhão me tirou pra dançar salsa no restaurante cubano e eu nem fazia ideia do que estava dançando?

KRYCEK: - Você mandou bem, Scully.

SCULLY: - Nada! Eu sou americana, dura pra dançar! Tonhão quase me desmontou e olha que ele nem é tão alto! Como eles estão?

KRYCEK: - Estão bem, ligam toda a semana. Fiquei feliz que eles gostaram daqui e que a gente se deu bem.

SCULLY: - Sério, quando vocês combinarem o casamento, me avisem com antecedência, porque eu quero conhecer Havana. Dizem que a noite lá é maravilhosa. Eles sabem se divertir.

KRYCEK: - Eu conheço tanto lugar no mundo e nunca pisei em Cuba. Eles têm uma herança cultural incrível. A música deles é aquela coisa caribenha, latina, espanhola, com raízes negras. Dizem que em qualquer hora que você ande por lá, sempre tem um músico tocando alguma coisa na rua.

SCULLY: - Tonhão me contou coisas que eu desconhecia. É que temos uma visão meio preconceituosa de Cuba, por causa do comunismo.

KRYCEK: - Como fizeram com a Rússia, nos transformando em comedores de criancinhas.

SCULLY: - Sabe que a educação em Cuba é bancada pelo estado desde o início até a universidade? Que toda família ganha uma cesta básica e o que me deixou mais fascinada foi o fato da saúde ser gratuita e de excelente reputação. Eu nunca imaginei isso! Pensa nunca ter que pagar um médico? Nesse país você espera pra estar à beira da morte pra procurar um hospital, de tão caro que é! Sabe, eu quero encontrar tempo na minha vida para me dedicar a alguma causa como médica, dedicar algumas horas na semana para ajudar as pessoas gratuitamente, eu sinto vontade e necessidade disso.

KRYCEK: - Legal Scully. Não esperava menos de você.


1:38 P.M.

Scully lavando a louça, Krycek secando, os dois de conversa feito duas comadres.

SCULLY: - Eu concordo com você. Dimi está crescendo e vai precisar de rotina normal.

KRYCEK: - Mas se eu disser pra ela ceder, tenho receio que Barbara vai achar que estou censurando o fato dela trabalhar fora, que estou sendo machista. Só que pra ela é mais fácil trocar de turno, trabalhar de dia. Eu não tenho quem fique no meu lugar a madrugada toda, o Chambers já fez isso enquanto eu estava de licença e o cara tem filhos e esposa também. Se pudesse eu trocava de turno.

SCULLY: - É complicado, mas você vai ter que falar com ela, posso até dar um toque pra Barbara, porque sabemos que ela é geniosa.

KRYCEK: - E como eu sei! Esse ritmo funcionava bem quando a gente era sozinho, mas um filho muda tudo. Ele precisa dormir bem à noite, acordar cedo, brincar, ter horários normais. Você acha que tô sendo machista? Que não é mais fácil pra ela do que pra mim?

SCULLY: - Não acho porque nesse caso é mais fácil e até melhor profissionalmente para a Barbara. Vai ser menos estressante pra ela conseguir falar com seus contatos. As pessoas vivem de dia e dorme à noite, e ela se sobrecarrega dormindo menos para conseguir contatar as pessoas, entrevistar... Já você, a polícia não dorme nunca. E eu sei bem disso! Toca o telefone, salta da cama, joga água na cara e acabou o sono!

Scully desliga a torneira e seca as mãos num pano.

SCULLY: -Eu não sei como aguentei o ritmo do FBI por tanto tempo. É porque não tinha filhos, apenas Mulder e eu. Depois tudo ficou mais puxado. Os filhos exigem e precisam da gente. Não sei como vai ser se eu voltar a estudar. Vou ter que falar seriamente com o Mulder. Precisamos combinar horários e ele vai ter que abrir mão também de tempo na agência. Eu sei que é o sonho dele realizado, mas eu tenho os meus que não realizei. E temos filhos. Vai ser um caos.

KRYCEK: - O problema é encontrar alguém de confiança. Se eu tivesse alguém assim, daria menos encrenca. Barbara continuaria trabalhando de noite, eu também e Dimi teria assistência durante o dia, embora eu preferisse que fosse da mãe dele.

SCULLY: -Eu já vou estudar à noite, porque durante o dia posso ficar com as crianças enquanto o Mulder trabalha. Mas e se a universidade realmente me aceitar no hospital e me conceder uma bolsa noturna? Como eu vou fazer tendo que ficar dois turnos fora? Mulder vai ter que deixar a Baba sozinha. Ela dá conta, mas o ciumento... Aquela agência virou o porão do FBI! Ele traz trabalho pra casa, algumas vezes fica aqui o dia todo, outras vezes passa o dia todo lá e chega tarde... Ele vai ter que entrar numa rotina, o Mulder tá muito sem rotina, sem agenda...

KRYCEK: - Minha briga com a Barbara. Até temos uma certa rotina, mas não nos horários que uma criança precisa.

SCULLY: -Vou estender a roupa. Se quiser ir descansar...

KRYCEK: - Não vou me deitar de novo.Vou ajudar você. Não tenho nada pra fazer. Não tô na minha casa!

SCULLY: - Isso não é justo. Vá descansar. Você tem que trabalhar à noite.

KRYCEK: -Não fica chateada se eu comentar uma coisa?

SCULLY: -Fala.

KRYCEK: -Percebi que você tá com problemas na lâmpada do banheiro. Acho que é o interruptor. E vi quando a Victoria pediu pra você uma prateleira pra colocar as bonecas. Se me permitir, eu ganho entretenimento.


Residência dos Krycek - 2:04 P.M.

Dimi dormindo no sofá. O cachorro com a cabeça em cima dele, cochilando. Dá uma lambida no braço de Dimi, que dá um sorriso dormindo. Barbara coloca o almoço na mesa. Mulder já sentado olha pra comida.

MULDER: - Hum! Agora sim, mulher! Almoço atrasado, mas pelo menos tá começando a quitar a sua dívida comigo. E ela é muito grande.

Barbara senta-se. Mulder se serve. A disputa de ironia começa.

BARBARA: - Você é pior que judeu cobrando aluguel, Mulder!

MULDER: - Pior mesmo, porque eu não aluguei o Ratoncito pra você. Eu dei!

BARBARA: - Ha, ha, ha!

MULDER: - Se não fosse eu, você ainda estaria solteira, o que agora entendo o motivo. Ficava pensando o que tem de errado, ela é bonita, inteligente, independente... Agora encontrei a resposta do porquê ninguém levava a mercadoria. Dá choque!

BARBARA: - Eu conquistei ele! E você nem me viu dando choque ainda!

MULDER: - Uh! Mas e quem deu o empurrãozinho? Ahn? Você me deve muito ou não teria nem o camundongo "Dimey" ali. Fica aí me esculhambando, tirando com a minha cara, fazendo pirraça... Me negando comida. Isso é um pecado, sabia?

BARBARA: - Por falar no meu camundongo, você me deve fraldas.

MULDER: - Devo nada! Não fui eu quem fiz!

Barbara serve o prato.

BARBARA: - E aí? Gostou da comida?

MULDER: - Colocou veneno?

BARBARA: - Sim, e vou me suicidar junto!

MULDER: - Você revida assim o tempo todo?

BARBARA: - Não. Apenas quando preciso revidar e isso é raro. E você provoca assim o dia todo?

MULDER: - Mas é claro!

BARBARA: - Pobre Scully!

MULDER: - Pobre Krycek!

BARBARA: - Nunca pensou em se vingar do Alex pelas coisas que ele fez?

MULDER: - Claro que pensei! Por isso dei uma força pra ele se casar com você! Quer vingança melhor?

BARBARA: - Mulder, como você é debochado!

MULDER: - Você não fica longe de mim. Se fôssemos casados isso nunca daria certo.

BARBARA: - Não daria mesmo! Um terminaria estirado num saco preto no chão! E não seria eu com certeza!

MULDER: -... Isso aqui tá muito bom, nem faço ideia do que seja.

BARBARA: - É arroz cubano. Tipo um risoto. Vai cerveja na receita.

MULDER: - Hum, é muito bom mesmo. Ou eu que tô com fome.

BARBARA: - Sim, é delicioso. Mas é a carne de gambá que faz toda a diferença na receita. Nós cubanos adoramos carne de gambá.

Mulder faz cara de pânico. Barbara solta uma gargalhada.

MULDER: - Isso não teve graça!

BARBARA: - Teve sim!

MULDER: - Não teve!

BARBARA: - Teve sim! Isso é frango, Mulder. Que gambá nada! Quem come gambá? Tá maluco?

MULDER: - Tem quem coma gambá.

BARBARA: - Quem?

MULDER: - O gambá macho.

BARBARA: - E eu ainda me presto a perguntar!


Residência dos Mulder - 5:01 P.M.

Scully de óculos, sentada à mesa da cozinha, com o notebook aberto e um livro, estudando compenetrada. Krycek em silêncio fazendo o jantar. Victoria entra.

VICTORIA: - Cheguei!!! Oi mamãe, oi tio Tchek!

KRYCEK: - (SORRI) Olá, Victoria!

SCULLY: - (SORRI) Oi Docinho, como foi o passeio com a turma da escola?

Victoria beija a mãe e beija Krycek.

VICTORIA: - Legal! A gente viu ossos de dinossauros e são muito, muito grandes mesmo! Maiores que o papai!!! E a gente aprendeu como viviam os homens das cavernas e como eram os animais antes do homem existir e eu adorei aquele dinossauro que voa! Ele é o meu favorito!

SCULLY: - (RINDO) Ah, o pterodátilo. Ele também era o meu favorito.

Krycek coloca o refratário no forno.

KRYCEK: -O pterodátilo tem mais estilo.

SCULLY: - Filha, aquela prateleira que você tá pedindo há dias, já está no seu quarto. Depois você pode colocar as bonecas. Agradeça ao tio Tchek.

VICTORIA: - Legal! Valeu tio Tchek!

SCULLY: - E o interruptor do banheiro tá funcionando, a minha panela favorita finalmente teve o cabo aparafusado e a porta do quarto do Bryan não range mais.

VICTORIA: - Tio Tchek o que vai sair de bom hoje? Isso tá bonito!

KRYCEK: - Lasanha de berinjela.

VICTORIA: - Ai, adoro qualquer lasanha!

SCULLY: - Ok, "Garfield", suba agora e tome seu banho e depois vem lanchar e fazer seus deveres.

Victoria corre pras escadas. Scully volta a atenção para os estudos.

SCULLY: - Hoje ela vai ter mais novidades pra contar que mulher grávida! Alex, a Barbara que me desculpe, mas acho que você não vai voltar mais. Ela que fique com o Mulder. Eu troquei de marido e saí no lucro!

Os dois começam a rir.


Residência dos Krycek - 8:30 P.M.

Barbara num beiço, braços cruzados e olhando para o relógio. Toda maquiada, cabelos arrumados, uma blusa decotada, blazer e com calças de pijama e pantufas da Minnie. Mulder entra pela porta do fundos com uma sacola de papel escondida nas costas.

BARBARA: - Isso é hora de chegar?

MULDER: - (PÂNICO) ...

BARBARA: - Você não tem rotina não?

MULDER: - (PÂNICO)Joanne Fletcher é você ou estou tendo um deja vù?

BARBARA: - Quem é essa vadia? Ahn? Abre a boca que eu conto agora pra Scully! Vou junto com ela e nós duas enchemos a vaca de porrada até ela se mijar todinha! E eu tenho um guarda-chuva bem resistente e sou filha do Tonhão Demolidor!

Mulder se encolhe. Coloca a sacola sobre a mesa.

MULDER: - Posso falar ou vai atirar essa pantufa de rata louca na minha cabeça?

BARBARA: - Fala. Desembucha tudo, tim-tim por tim-tim!

MULDER: - (PROVOCANDO)Você não manda em mim. Se eu quiser chegar tarde e aproveitar que estou longe da minha esposa e cair matando na mulherada, o problema é só meu!

BARBARA: - Não senhor! O seu pau é problema meu também!

Mulder faz cara de pânico.

BARBARA: - E enquanto estiver sob a minha tutela, ele não vai sair de dentro das suas calças, entendeu? Entendeu mesmo? Você está confiscado, dos pés à cabeça, carimbado como propriedade da Scully! E eu vou vigiar muito bem a propriedade dela assim como ela está vigiando a minha!

MULDER: -(MEDO) Posso ao menos tirá-lo pra fazer xixi?

BARBARA: - Não se faz de louco, cabrón! ¡Que te ponga la sartén en la cabeza, montón de mierda!¡Hijo de una gran puttana!Simplemente no te doy una paliza porque... Donde estabas? Ahn?

MULDER: - Na agência, aonde mais estaria? A Baba pode comprovar.

BARBARA: - Pode ter certeza de que vou ligar pra ela depois e confirmar isso!

MULDER: - Tem certeza absoluta que você não é mesmo ciumenta?

BARBARA: - Isso não são ciúmes! É preocupação com a mercadoria da minha melhor amiga!

MULDER: - (DEBOCHADO) Bem que meu pai me alertou de que eu ouviria muito na vida a palavra mercadoria!

BARBARA: - Tem certeza mesmo de que é o Alex quem gosta de apanhar? Porque você implora pra apanhar o tempo inteiro!!!

MULDER: -(SURTADO) Ahhhhhhhhhhhhhhhhh!!!! Você é louca mesmo!!!!! E não tem gosto pra moda!!!! Vai sair assim? Não esqueceu de trocar nada não?

BARBARA: - Eu vou entrar ao vivo em meia hora no jornal da noite e tava aqui pensando em chamar a polícia!!! E não era pra transar com o policial não! Você não me disse que ia chegar tarde!!!

MULDER: - E tenho que avisar?

BARBARA: - Você é meu marido por uma semana!!! É lógico que tem que me avisar, se algo acontece com você a culpa é minha!!! A Scully vai dizer que não cuidei de você como ela cuidou do meu marido!!! Agora sobe, toma um banho, faz o nosso jantar e se o Dimi chorar pega ele pra mim. Eu tenho que trabalhar!!!

Barbara furiosa vai para as escadas do porão e desce resmungando em espanhol. Mulder fica parado, catatônico.

[Som de grilos]

MULDER: - (FRANZE O CENHO PRA CHORAR) Scullyeeeeeeeeeeeee!!!!!!!!!



BLOCO 4:

9:01 P.M.

No estar íntimo, a TV ligada no telejornal. Mulder, já de banho tomado, de moletom e camiseta fazendo o jantar na cozinha. Dimi deitado no carrinho, brincando com um ratinho de pelúcia pendurado.

MULDER: - Aqui entre nós, de homem pra homem, filhote de Rato, mas a sua mãe é completamente louca!

Dimi solta resmungos de bebê.

MULDER: - Ainda bem que concorda comigo. Estou começando a ficar com pena do seu pai. Quando eu tiver vontade de bater no Krycek, vou me lembrar de que ele já pagou duplamente por todos os pecados que cometeu contra mim em todas as temporadas! Imagina se o Sindicato das Sombras aceitasse mulheres? O Fumacinha não seria páreo pra sua mãe! Cubana maluca! Devo ligar pra imigração e despachar a doida de volta pro Fidel Castro?

O cachorro se aproxima, sentando-se e olhando pra Mulder.

MULDER: - Vou fazer um filé pra você também, Rasputin. Mas só se enterrar a frigideira e o guarda-chuva da sua dona. Uma hora sobra pra você também!

Mulder volta a atenção pra TV. Na imagem da televisão, Barbara, sentada no escritório, divide a tela com o apresentador do telejornal no estúdio.

APRESENTADOR (OFF): - ... Virando o país numa verdadeira baderna política e ainda discutindo se estamos no caminho certo ou devemos retroceder aos tempos em que meu avô achava que a maior novidade da América era o catchup em garrafas de vidro! Barbara, além dessas mudanças nas políticas de impostos, quais as iniciativas do novo presidente estão despertando a atenção por aí em Washington? Muitos senadores nervosos?

BARBARA(OFF): - Logicamente os Republicanos não estão muito animados com o discurso de Obama sobre a libertação de forma gradual dos prisioneiros de Guantánamo. Hoje pelo telefone, o senador da oposição Robert Mills comentou comigo sobre o seu polêmico discurso de ontem, reiterando que a preocupação maior de Obama deveria ser "trazer de volta para a casa os nossos soldados que ainda estão no Iraque e não se deter em libertar terroristas".

APRESENTADOR(OFF): - Esse discurso durante o governo Bush era o discurso dos Democratas. Não concorda?

BARBARA(OFF): -... Bem, geralmente isso costuma acontecer quando o poder troca de lado.

Mulder abaixa a cabeça, rindo.

MULDER: - Toma fascista republicano! E olha que você não levou um coice dela como eu levei hoje!

BARBARA(OFF): - Eu perguntei a Mills sobre aquela brincadeira maldosa em seu discurso e que assustou muitos americanos e Mills me retornou a brincadeira dizendo que a política de Obama pode fazer os americanos dormirem com a Rússia e os comunistas, já que além de libertar terroristas, Obama amenizou as restrições de viagens impostas aos cubano-americanos e também relaxou as normas para envio de remessas à Cuba.

APRESENTADOR(OFF): -E acha que Obama vai manter o embargo contra Cuba ou já podemos declarar estado de insônia até o fim do governo dele? Podemos ser invadidos por cubanos comunistas fedidos a charuto?

MULDER: - (INCRÉDULO)Ele não disse isso! Não pra uma cubana!

BARBARA(OFF): - ... O fato é que Obama está sendo pressionado por todos os lados por mais ação na política externa, e em seu discurso no senado, Mills também deixou claro que a questão do embargo a Cuba ainda deve ser mantida. Hoje pela manhã o presidente se pronunciou. Obama disse que está aberto ao diálogo com os líderes cubanos, mas deixou claro que, como os presidentes anteriores, ele apenas vai considerar a suspensão completa do embargo se o governo comunista de Cuba tomar medidas como a realização de eleições democráticas.

APRESENTADOR(OFF): - E você acha possível que os cubanos sejam domesticados? Talvez Obama deva fazer o caminho contrário dos cubanos, pegando uma balsa clandestina até Cuba e tomar chá com Raúl Castro para ensinar os truques de sentar e rolar que ensinamos aos russos?

Mulder arregala os olhos e se vira pra televisão.

BARBARA(OFF): - Eu acho que o presidente Barack Obama, como um homem que já sofreu muito preconceito, tem jogo de cintura para lidar com a política externa, um bom discernimento das questões políticas e humanitárias e que nós americanos podemos dormir tranquilamente à noite, sem medo de fábulas mentirosas sobre comedores de criancinhas ou charutos.


9:27 P.M.

Barbara entra na sala de jantar, agora sem maquiagem e de pijamas e pantufas. Mulder serve a mesa, olhando pra ela, meio cabisbaixo. Barbara dá um beijo estalado em Dimi no carrinho, e senta-se à mesa. Mulder senta-se de frente pra ela.

BARBARA: - Oba! Filé com fritas! Hum, a coisa tá melhorando, querido.

MULDER: - ... Barbara, é sério. Eu admiro você. Como eu admiro a Scully. Como admiro mulheres que tem garra pra sobreviverem num mundo machista que tenta sufocar vocês a todo o custo. Você é inteligente. E diplomática. Eu sei que a gente precisa engolir desaforos pra não perder o emprego, mas você deveria ter mandado aquele imbecil fascista retrógrado tomar no orifício anal dele com uma banana do tamanho de Cuba!

BARBARA: - Tudo bem, Mulder. O mundo é formado pelos Estados Unidos. O resto é um monte de terra ao redor, com repúblicas das bananas, canadenses idiotas, africanos mortos de fome, russos comedores de criancinhas e bon vivants europeus.

MULDER: - Eu lamento.

BARBARA: - Não lamente. Ele não sabe que sou cubana. Poucos sabem. O público nem imagina, sou Barbara Wallace, lembra? Se eu fosse Barbara Ramirez provavelmente estaria limpando latrinas aonde é o lugar dos latinos. E Alex certamente seria cozinheiro do Hannibal.

Mulder sorri sem graça.

MULDER: - Nem todo americano é metido e preconceituoso, tá?

BARBARA: - Eu sei, tenho amigos americanos que não se importam de conviver com comedores de criancinhas e fumantes de charutos. O problema daquele cara é que eu sou a Barbara Wallace, entende? E eu sou mulher. Eu fui famosa e hoje não estou na bancada, estou como correspondente. Ele é um idiota que apresentava um jornaleco da concorrência e perdia audiência pra mim. Agora, ele tenta me humilhar e provocar na frente do público, porque ainda me vê como concorrente e não como colega da mesma emissora. Eu não vou dar esse gostinho pra ele de perder o meu emprego.

MULDER: - Ele não é um formador de opinião? Me explica como um cara desses chega a ser apresentador de telejornal de uma emissora que não tem compromisso com partido político? Ele é totalmente parcial em cada comentário! Tá escrito conservador na testa dele, com luzes piscando! Eu gostei da resposta inteligente que você deu pra ele. No seu lugar, eu teria ofendido até o público americano! Você ainda aguentou e disse "nós americanos". Você precisa esconder a sua origem? Isso deve doer!

BARBARA: -Eu sou americana também, não nasci no continente americano? Então não dói, eles entendem o que querem. Ele tem nome e veio da RCBS. Calvin quer audiência, audiência é necessária pra pagar salários e no momento para expandir a emissora. É por isso que esse idiota está lá. Pra dar audiência. Quando não der mais, ele vai quicar de lá mais rápido que bola de basquete.

MULDER: - Me sinto culpado. Culpado porque você não me conhecia, mas acreditou na minha inocência. Você pegou a minha causa, detonou o esquema daqueles caras do Sindicato publicamente, quase perdeu sua vida por isso, queimou sua carreira numa rede nacional de televisão e tudo pra me tirar da cadeia e limpar o meu nome. Você perdeu tudo o que custou a conquistar por minha culpa!

BARBARA: - Não, tudo não. Estou trabalhando no que amo, não?

MULDER: - O que sei é que agora você está aí, num canal pequeno, como correspondente, ouvindo comentários fascistas e aguentando desaforos de colegas que não tem a competência que você tem pra estarem sentados atrás de uma bancada de telejornal.

BARBARA: - Ei, Fox Mulder! Eu tô feliz. Ok? Eu já sentei numa bancada daquelas e voltava triste para o meu apartamento, torcendo para que o gato da vizinha, o meu único amigo de verdade, aparecesse na janela pra eu ter companhia sincera do meu lado. Hoje eu tenho amigos sinceros de verdade. Eu tenho um marido maravilhoso que me ama como eu sou e com quem posso ter longas conversas sobre qualquer assunto. E tenho o meu filhote amado e um cachorrinho. É, hoje eu sou feliz. E agradeço você por isso. O resto que se dane!

MULDER: - Não é justo. Você merecia mais. É o que digo pra Scully quando a vejo dentro de casa cuidando das crianças. Eu sei que ela gosta, mas ela é mais que mãe, e pode fazer mais ao mesmo tempo. E a Scully também queimou a carreira dela pra ficar do meu lado.

BARBARA: - Aposto que assim como eu, ela não tá arrependida não... A primeira vez que eu vi você, Mulder, naquela prisão, sentado atrás daquela parede de vidro e pegando aquele telefone pra conversar comigo... Quando se é repórter, o cérebro trabalha rápido, somos desconfiados, analíticos e curiosos, Byers já tinha me dado toda a sua ficha e se Byers acreditava em você, eu acreditava no Byers. Mas não cheguei engolindo tudo não, eu queria sacar a sua.

Mulder sorri.

BARBARA: - Você me disse uma coisa que eu não esqueço até hoje. E foi aquilo que me fez jogar a porra toda pra cima e arriscar minha carreira pra tirar você da prisão. Ali eu tive a certeza de que você precisava de mim, que eu precisava devolver ao mundo aquilo que eu recebi de bom na vida, fosse o preço que tivesse que pagar. Ou toda a minha ética jornalística e pessoal não valeriam mais nada.

MULDER: - E o que foi que eu disse?

BARBARA: - Você disse: "Tudo o que eu fiz contra eles era só pra Scully e eu termos o direito a um pouquinho na vida". E eu te perguntei "Que pouquinho, senhor Mulder? Dinheiro?" E você me respondeu: "A nossa filha".

MULDER: - Eu nem lembro disso. Eu estava pirando naquela prisão. Krycek era o único que eu admitia a visita, eu não queria que a Scully me visse naquele estado. Ele voltou a ser o cara das informações, só que dessa vez ele levava gravações minhas pra guardar e algum dia entregar pra Victoria, porque eu achava que Pinguinho cresceria sem um pai, e um dia ouviria a versão dos jornais e acabaria me odiando. Eu falava com as paredes e alimentava um rato. Por pouco já não chamava ele de Alex.

BARBARA: -É, eu sei, porque antes de guardar as gravações, Alex as entregava pra eu ouvir. E quanto mais eu ouvia, mais sinceridade eu sentia na sua voz, e ouvir um agente do FBI chorando e pedindo perdão pra filha por não ter fugido do país com ela e a mãe, é porque a coisa é séria mesmo. Eu cheguei na redação e fiquei pensando no "pouquinho". No direito ao pouquinho da vida. Tiram de uma mulher o direito de gerar. Depois seu útero passou a ser propriedade de experimentos científicos escusos. Tiraram do bebê seu direito de nascer, e da mãe o direito em dar à luz. Então os dois cansaram e resolveram jogar o jogo dessa gente, para ocultar um bebê que era a última esperança deles. E essa gente se sentiu traída e armou uma vingança contra esse pai o acusando de crimes que ele jamais cometeu. Tudo pelo pouquinho da vida que eles queriam.

Mulder olha pra ela.

BARBARA: - Eu também queria um pouquinho assim na vida, mas eu não tinha nada. Nem um homem que me amasse pelo que eu sou e não pelo meu corpo, nem amigos verdadeiros e nem o colo dos meus pais pra chorar. Então decidi que eu ia expor os nomes que você me deu, ia soltar a merda no ventilador, ia me ferrar com certeza, jogar fora tudo o que meus pais e eu passamos pra que eu realizasse meu sonho em ser jornalista. Dane-se! Eu não quero mais esse tudo, vou lutar pelo "pouquinho" dos outros. Nunca foi pouquinho, Mulder. Eu tinha o pouquinho da vida, você tinha a maior riqueza do mundo. Um homem capaz de tudo o que você fez pra defender um filho e sua esposa, se isso não é caráter, não sei o que é. Então, Mulder, hoje eu digo pra você que consegui o meu "pouquinho" da vida e estou muito feliz. Não se culpe pela minha importante carreira perdida, me deixa com o meu pouquinho, com os meus dois garotos, porque eles me bastam na vida. Eu sou importante pra eles. O resto é foda-se.

Mulder sorri.

MULDER: - É. Eu disse ao Rato: Agarra essa mulher de uma vez porque a loteria da vida não vai premiar você de novo. A sorte nunca bate duas vezes na mesma porta.

BARBARA: - E como sabia que eu era sorte? Poderia ser o azar dele.

MULDER: - Eu conheci o azar, Barbara. Foi fácil reconhecer a sorte quando ela bateu na porta do porão. Então eu sei reconhecer azar e sorte. Só lamento ter perdido tempo demais sem dizer à sorte o que eu sentia por ela. Por isso empurrei o premiado da vez. Pra ele não perder tempo precioso na vida como eu perdi.

BARBARA: - Você é doente pela Scully. Quando fala nela, seus olhos mudam o brilho, sabia? Algumas vezes até a cor. Você parece um garoto falando da primeira namorada.

MULDER: - E você muda até o humor quando fala do Krycek. Parece uma menina falando do primeiro amor.

BARBARA: - (SORRI) Ele é o meu primeiro amor de verdade. Um amor maduro, de quem já sabe o que quer da vida. O resto foi ilusão ou paixão platônica só da minha parte. E aposto que com você não é diferente. Scully é o seu primeiro amor de verdade.

MULDER: - O resto foi ilusão ou paixão platônica só da minha parte.

Os dois riem. Brindam com os copos.

MULDER: - Aos nossos pares!

BARBARA: - Que aturam as nossas neuras!

MULDER: - Tem certeza mesmo que a sua mãe não andou com algum Spender ou Mulder? Vai que somos irmãos e nem sabemos?

BARBARA: - Não somos irmãos. Mas segundo a Baba, você e Alex seriam. Mas você foi afobadinho e quis nascer antes dele. Acho que isso explica porque vocês vivem brigando e disputando tudo!

Os dois riem.


Residência dos Mulder - 10:11 P.M.

Scully deitada na cama, lendo um livro. Olha para o lado vazio da cama. Volta a atenção para o livro. Segura o riso. Vira a página, mordendo os lábios, tentando não rir. Então olha pro lado da cama e vê a raposinha de pelúcia deitada. Scully sorri, abaixando a cabeça.

SCULLY: - Qual o problema, filha do Mulder? Hum?

Victoria ergue a cabeça ao lado da cama e se levanta, usando pijamas e pantufas. Se atira de bruços na cama, apoiando os cotovelos no colchão e a cabeça nas mãos, olhando pra mãe.

VICTORIA: - Como sabia que era eu?

SCULLY: - Porque se o palhaço do seu pai não está, quem faz palhaçada é a filha dele. Ou seria porque mães tem antena receptora e captam os filhos até quando eles pensam em colocar uma raposa na cama como um tipo de protesto.

VICTORIA: -(RINDO) Nah! Não é protesto. É pra você não sentir saudades do papai... Eu sei que ele apronta mais do que eu, mas ele ama você.

SCULLY: - Ok, advogada de defesa do Mulder. Também estou cometendo uma travessura e aprontando com ele.

VICTORIA: -Posso perguntar uma coisa?

Scully sorri. Fecha o livro. Victoria se deita ao lado dela, recostando a cabeça no peito da mãe, que a envolve num abraço, acariciando os cabelos da filha. Victoria se abraça em Scully.

SCULLY: - Pergunte.

VICTORIA: - Vocês não vão se divorciar, né?

SCULLY: - Não. Nunca. Amo o seu pai. Ele me ama. Você é o presente que ele me deu. A nossa vitória. Eu já disse que você veio do amor? Hum?

VICTORIA: - (SORRI) Já, um "tantãozão" de vezes! Mas eu gosto de ouvir de novo. Conta como vocês se conheceram.

SCULLY: - Você já sabe, eu já contei.

VICTORIA: - Ah conta de novo! "Desculpe, não há ninguém aqui, a não ser os mais indesejados do FBI".

SCULLY: - (RINDO) Tá vendo? Você já sabe a história de cor! Que tal você me contar o que estava fazendo que ainda não foi dormir. Hum? O que se passa na cabecinha curiosa da minha filhinha adorada?

VICTORIA: - Eu tava lendo.

SCULLY: - E o que estava lendo?

VICTORIA: - O Pequeno Príncipe que o papai me deu.

SCULLY: - Docinho, mas você tem mais livros. Já é a terceira vez que lê esse!

VICTORIA: - Eu gosto da história.

SCULLY: - Gosta do principezinho? (RINDO) Ou seria da raposa?

VICTORIA: -Dos dois. Mas eu gosto mesmo do que a história não diz claramente.

SCULLY: - Hum... E o que não está claro na história?

VICTORIA: - Que grande parte dela é um diálogo entre o bem e o mal. Porque o essencial é invisível aos olhos.

Scully arregala os olhos. Fica pensativa e intrigada, como quem tenta entender uma nova teoria.

VICTORIA: - Posso dormir aqui agarradinha com você?

SCULLY: - Já escovou os dentes?

VICTORIA: - Claro!

SCULLY: - (SORRI) Então pode.

Victoria senta-se na cama, tira as pantufas. Scully ergue o edredom. Victoria se deita, pegando a raposinha e colocando entre elas, se aninhando em Scully e fechando os olhos. Scully a cobre e a abraça, ficando intrigada e tentando achar respostas.

SCULLY: - Assim que acabar o livro, eu quero reler de novo. Acho que perdi alguma coisa.

VICTORIA: -(SORRI) Te amo, mamãe! Muito, muito, muito! Sonha comigo.

SCULLY: - (SORRI) Te amo, filhinha! Muito, muito, muito! Sonha comigo.

VICTORIA: - E sonha com o papai também. E com o Bryan...

SCULLY: - Vou sonhar até com o Cookie. Vai ter tanta gente no meu sonho, que vai virar pesadelo!

As duas riem. Bryan começa a chorar.

VICTORIA: -Ai, fala sério, os homens dessa casa nunca deixam as meninas sozinhas! São uns carentes ciumentos, sempre querendo atenção!

SCULLY: -(SEGURA O RISO) Vou dar de mamar ao ciumento que ele dorme rapidinho e as meninas vão ficar sozinhas de novo, tá? Mamãe promete.


Residência dos Krycek - 1:21 A.M.

[Som: Guantanamera - Diversos artistas cubanos]

O notebook aberto sobre a mesa, a caneca de café vazia. Dimi sentado no carrinho, cabelos revirados, mordendo as mãozinhas, olhando pra mãe e rindo. Barbara provoca mais risadas, rebolando.

BARBARA: - (CANTANDO) Guantanamera, guajira guantanamera... Guantanamera, guajira guantanamera...

Mulder entra na sala de jantar com cara de sono e se escora na parede. Cruza os braços, debochado. Barbara continua dançando. Dimi desvia a atenção pra Mulder.

MULDER: - Já amanheceu?

Barbara leva um susto. Para de dançar.

BARBARA: - Não, por quê?

MULDER: - Essa criança não dorme?

BARBARA: - Dorme. A noite toda, mas hoje ele acordou.

MULDER: - (DEBOCHADO) Também pudera!

Barbara desliga o som. Pega a vassoura. Mulder ergue as mãos e recua.

BARBARA: -Quê? Tá pensando que vou quebrar minha vassoura na sua cabeça? A vassoura tá cara demais pra desperdiçar!

Mulder vai até Dimi e o pega no colo. Senta-se no sofá, pega um bichinho de pelúcia e começa a brincar com o bebê. Barbara varre o chão da cozinha.

MULDER: - Sabia que a sua mãe é louca?

BARBARA: - Sabia que tá na hora de trocar as fraldas dele?

MULDER: - Não vai me assustar com isso. Já troquei muita fralda na vida. Fui pai solteiro, lembra?

BARBARA: - Lembro que nunca me agradeceu por tirar o Alex da sua vida amorosa.

MULDER: - Bom, foi temporário, já que ele está agora na minha casa, sozinho com a minha mulher e nem faço ideia do que os dois estão aprontando.

BARBARA: - Você é que não vai me assustar com isso. Alex está na delegacia agora.

MULDER: -(PILHANDO) Tem certeza disso? E de dia, acha que não vai rolar nada?

BARBARA: -Tenho certeza.

Barbara solta a vassoura. Pega duas canecas e serve café.

MULDER: -Confia tanto no Krycek?

BARBARA: -Confio nele e na Scully. E confio no meu taco. Aliás, confio mais neles do que você confia neles.

MULDER: -Ligou pra delegacia pra saber se ele está trabalhando mesmo?

BARBARA: -Desista, Mulder. Não vai me colocar pilha. Eu conheço o homem com quem me casei. Ele pode ter muitos defeitos, mas isso não. A coisa que mais aborrece o Alex é ser chamado de traidor. A única causa que ele realmente traiu foi a do Sindicato. E ao contrário de você, ele não fica fazendo molecagem só pra provocar a mulher dele.

Barbara entrega uma caneca pra Mulder. Senta-se na poltrona.

MULDER: -Como faz isso?

BARBARA: -O quê?

MULDER: -Confiar. Eu... Eu morro de ciúmes da Scully. Me sinto um hipócrita. Antes de voltar com ela, eu a critiquei pelo ciúme possessivo e a fiz prometer que pegaria mais leve. E o que eu faço agora? Vivo com ciúmes.

BARBARA: -Por quê? Scully ama você.

MULDER: -Eu sei. Eu também nunca a trairia. Pensava que tinha ciúme por insegurança, pelo fato dela não envelhecer e eu virar um velho feio e esquisito ao lado de uma mulher jovial e linda. Mas a maldição acabou e... Eu continuo com ciúme. Sei porque discuti com o Rato por causa dela. Eu tô com ciúmes sim.

BARBARA: -E não confia no Alex?

MULDER: - Na verdade eu confio no Rato. Eu não confio em mim mesmo.

BARBARA: -Mulder, eu tava entrando nessas pilhas. Foi do nada, tá? Alex não me deu motivo. Eu só comecei a pensar em mim como mulher. Tive um filho, engordei um pouco, já não estou tão gostosona...

MULDER: -Para, Barbara! Você é uma mulher linda.

BARBARA: -É, mas eu não tenho me sentido tão linda assim não, eu tenho espelho. A gravidez acabou comigo. Cheguei ao ponto de começar a usar espartilho pra disfarçar e seduzir meu marido. Empinar os peitos e ficar apertada sem respirar direito.

Mulder começa a rir.

BARBARA: - Mulder, para! É sério! Ele perguntou por que eu comecei a fazer isso e se me comprimir toda daquele jeito não era incômodo.

MULDER: - E como você enrolou o Rato?

BARBARA: - Não enrolei. Quem enrola o Alex? Ele sacou de cara o que eu estava fazendo e ficou rindo como você tá rindo agora!

MULDER: - Vocês mulheres acham que o cara liga pra pneu que não seja de carro, pra estria, pra celulite. Os homens não ligam para detalhes, eles se ligam em outras coisas!

BARBARA: - Alex me disse a mesma coisa. Me fez jurar que nunca mais faria. Mas eu tava na pilha. Eu trabalho em casa, poucas vezes preciso gravar externa. Alex é quem sai mais pra rua. As oportunidades aparecem na rua.

Dimi boceja e recosta a cabeça no peito de Mulder, balançando de sono.

BARBARA: - Uma noite fiz um bolo e resolvi pegar o Dimi e dar uma incerta na delegacia.

MULDER: - Por que fez isso?

BARBARA: -Não sei, Mulder. Senti vergonha de mim mesma, mas fui com vergonha e tudo. Quando cheguei lá, vi meu marido sentado à mesa dele, lendo alguma coisa e o parceiro dele falando sobre um caso. Ele estava trabalhando. Fiquei olhando de longe, sabe? Com vergonha de mim mesma.

MULDER: -(SORRI) Sei. Ah como sei!

BARBARA: -Fiquei um bom tempo observando ele trabalhar. Percebi o porta-retratos na mesa dele, a minha foto com o Dimi. Olhei pro nosso filho nos meus braços. Olhei pro meu marido trabalhando para manter a família e o orgulho que eu sentia de que finalmente Alex é um homem responsável, do bem, do quanto ele lutou com seus demônios e venceu... Pensei em voltar pra casa antes que ele percebesse. Mas o Norris esbarrou em mim e me cumprimentou e Alex me viu na porta. Me deu aquele sorriso surpreso, de felicidade, aquele sorriso raro... Eu nem pude retribuir aquele sorriso sincero porque estava com vergonha. Entendeu? Quando a gente não tá legal com a gente mesma, começa a criar ideias malucas sobre o cônjuge. Começa a inventar coisa na cabeça. Mentimos para nós mesmos, buscamos justificar nossa culpa no outro.

MULDER: - É... Eu já fiz pior com a Scully. Foi numa semana em que ela estava atribulada com o negócio de voltar a estudar e não foi pra agência. Eu banquei o detetive particular em causa própria. Segui minha mulher uma tarde inteira, sem que ela percebesse.

BARBARA: -Sério, Mulder?

MULDER: - Sério. Do nada fiquei pensando que Scully estava arrumando muita justificativa pra me deixar trabalhando sozinho. Mas como você disse, inventamos coisas na cabeça porque não estamos bem por dentro. Eu estava inseguro. Comecei a duvidar das coisas que ela disse sobre trabalhar comigo quando eu precisasse, mas que queria seguir estudando e lecionar medicina na universidade. Imagina, um lugar cheio de caras interessantes. Pensei que ela poderia estar querendo mais espaço, que eu a sufocava como o pai dela, o irmão dela e que talvez ela estivesse procurando alguma novidade.

BARBARA: -E o que aconteceu?

MULDER: -(RINDO DE SI MESMO) Eu estava certo num palpite. Scully estava mesmo querendo novidade.

BARBARA: -Como assim?

MULDER: -Primeiro ela entrou no supermercado. Fez compras. Fiquei admirando ela procurando itens, comparando preços. Colocando coisas pras crianças no carrinho. Sorri quando ela escolheu maracujás bonitos, provavelmente pra fazer a minha sobremesa favorita. Depois ela saiu do mercado. Seguiu de carro, desceu colocando os óculos escuros e entrou num sex shop. Aí eu gelei.

BARBARA: -Sério?

MULDER: -Fiquei observando de dentro do carro. Ela demorou um bom tempo e saiu com uma sacola. No meio da tarde? No meio da semana? Eu estava ocupado de trabalho, ela estudando, não, aquilo não era pra nós dois. Eu tremia por dentro. Ela entrou no carro e pensei que iria pra casa, mas passou numa loja de bebidas. Saiu com um vinho caríssimo, já vi pela garrafa. Eu já tava ficando maluco. Vinho, sex shop, no meio da semana... Disse pra mim mesmo: "Chega, Mulder. O que os olhos não veem o coração não sente". Ela partiu e eu voltei pra agência. Acha que consegui trabalhar?

Barbara ri.

MULDER: -Não mesmo. Mas fiquei lá até tarde, como o corno que morre de medo de chegar mais cedo e ter uma surpresa desagradável.

Barbara ri mais ainda.

MULDER: -Cheguei em casa com uma cara de "meu mundo caiu". Estava tudo num silêncio de estranhar, sabe? Subi e fui direto pro quarto, pronto pra encarar a guerra, eu não ia ficar quieto. Quando abri a porta ela estava usando uma lingerie nova, segurando o vinho caro e me sorriu: Mandei as crianças pra mamãe. Feliz aniversário de casamento, Mulder.

Barbara coloca as mãos no rosto.

BARBARA: -Eu não acredito que você...

MULDER: -É. Esqueci nosso aniversário porque minha insegurança me fez seguir minha esposa e suspeitar dela. Vergonhoso, né?

BARBARA: -Me diz que compensou depois?

MULDER: -Compensei. Levei ela pra jantar à beira mar, como ela estava querendo há tempos. Depois pra uma suíte de luxo no Ritz. E minha culpa me corroendo. Eu tive que contar o que tinha feito. Por fim Scully se matou de tanto rir da minha cara. Eu não quero fazer isso de novo, sentir essas coisas de novo. Estou com vergonha de mim mesmo por ter pensando tão mal da minha Scully.

BARBARA: -Bom, eu tive um filho, meu corpo ainda não voltou ao normal. Mas e você? Qual a sua justificativa pra não estar se sentindo bem com você mesmo?

MULDER: - Sabe a transformação do Krycek? Não foi apenas ele quem se transformou nos últimos anos. Eu me transformei e não estou sabendo lidar com isso. Estou confuso.

BARBARA: -Tipo?

MULDER: -Tipo você tinha razão quando me disse pra escrever. Até o Fumacinha me aconselhou a fazer isso. Barbara, estou cansado de correr atrás das coisas que eu corria. Gosto? Adoro! Mas não quero mais fazer isso todo o dia, de segunda à sexta. Eu quero estar em casa lambendo as minhas crias e adorando a minha mulher. Eu quero mais da minha vida, porque eu estou apagando uma velinha a mais a cada ano, e conforme os anos passam, o único arrependimento que eu tenho é de não ter dito pra Scully o quanto eu a amava bem antes do que eu disse.

BARBARA: -Mulder, já falou pra Scully o que sente?

MULDER: -Já, mas não dei continuidade ao assunto. Eu tenho medo de que ela pense que eu vá sufocá-la mais ainda se virar um escritor direto dentro de casa.

BARBARA: -Medo bobo, Mulder. Assim você vai ajudá-la mais, sabe por quê? Scully vai ter mais tempo pra correr atrás dos sonhos dela. Ela já correu tanto atrás dos seus, não é? É justo que agora você a ajude a buscar a verdade dela. E sabe que a verdade da Scully é colocar os conhecimentos dela pra fora, senti-se útil, levantar a bandeira das mulheres que fazem a diferença. Ela precisa desse reconhecimento pra sentir que conseguiu ser quem ela desejou ser um dia, que seu pai teria orgulho da filha, da médica. Os monstros da Scully não são os seus, Mulder. Ajude sua mulher a superar os monstros dela como ela ajudou a superar os seus.

Os dois percebem Dimi dormindo.

MULDER: -(SORRI) Foi bom conversar com você. Me sinto mais leve. Vou colocá-lo no berço.

BARBARA: - Me faz esse favor. Eu vou terminar de varrer a cozinha e voltar pro notebook, estou cheia de trabalho pra fazer.

MULDER: -Amanhã não tenho nada pra fazer na agência. Eu vou dormir até tarde e virar a noite com você. Preciso terminar o livro e preciso de ajuda, vou aproveitar a chance. Então não acorde pra fazer almoço. A gente se vira depois.

BARBARA: -Vai ser ótimo, vamos escrever e tomar café juntos. Não vamos nos atrapalhar, prometo. Você escreve seu livro e eu minhas matérias. Combinado.

Mulder sorri. Se levanta e sai com Dimi nos braços. Barbara olha pra ele, arrependida.

BARBARA: -Tadinho... Tá cheio de problemas e eu peguei pesado com ele.

Mulder volta.

MULDER: - Ah, esqueci. Naquela sacola ali que eu trouxe, tem um presente pra você e outro pro camundongo Elvis.

Barbara ri.

MULDER: - (DEBOCHADO) Pra você não dizer que só o seu "Ratoncito" traz "presentito". Me poupa!

BARBARA: - Obrigada. Mas não pulo no seu colo nem em sonho!

MULDER: - (DEBOCHADO) Bom, com o Dimi nos meus braços fica difícil, eu entendo. Beijo na boca então, nem pensar?

BARBARA: - Ai Mulder, vai dormir e para de torrar a minha paciência, porque se eu tivesse saco, já tinha explodido! Andale, andale, andale!!! Você não vai ganhar essa guerra não!

Mulder sai rindo da cara dela.


Terceiro dia.

Residência dos Krycek -2:31 P.M.

Mulder entra na cozinha e liga a cafeteira. Começa a assoviar. Barbara entra na cozinha com Dimi no colo.

BARBARA: - Bom dia, ahm... Boa tarde!

MULDER: - Dimi deu um baile em você hoje de manhã.

BARBARA: - Você acordou toda vez que ele chorou?

MULDER: - Eu volto a dormir fácil. Fiquei com pena de você. Barbara, você vai ter que se adaptar aos horários normais. É um sacrifício, mas você se acostuma e é pelo seu filho.

BARBARA: - Eu coloco Dimi do meu lado, ligo a TV, tento dormir, mas ele está crescendo e quer folia, quer algo além de mamar e fraldas limpas, ele quer atenção. Vou ter que conversar com Alex. Vamos nos ver menos ainda. Ele dorme de dia e eu vou dormir de noite. Mas é pelo Dimi. Ele precisa mesmo ter horários normais. Eu que vou ter que abrir mão e trocar horários, adaptar uma rotina voltada ao Dimi. Ai, Alex vai ficar aborrecido.

MULDER: - O Krycek não vai ficar aborrecido. Vocês têm um filho, as coisas mudam. É mais fácil pra você adaptar sua carreira para o dia do que ele. E com o tempo, Krycek não vai aguentar mais a noite toda acordado, pode acreditar. Ele vai acabar pedindo um turno diurno.

BARBARA: - Quer torradas?

MULDER: - Cubanas. Já tô me acostumando. Não são as panquecas da Scully, mas... Que saudade dos meu filhos. Aquela casa fica barulhenta quando amanhece, não tem como ficar na cama e nem ouvir seus pensamentos. Victoria me fazendo companhia no escritório, me pedindo ajuda com o dever de casa, fazendo mil perguntas... Bryan resmungando por colo e atenção, querendo brincadeiras... E a Scully... Brigando comigo pela minha bagunça, discordando das minhas teorias, resmungando que está cheia de coisas pra fazer. Aqueles pezinhos gelados nas minhas costas quentes na hora de dormir, só pra me sacanear...

Barbara sorri. Mulder pega Dimi no colo. Barbara pega o cesto de pães.

BARBARA: - Eu abro as gavetas e armários e encontro minhas bagunças. Você chega e atira suas coisas e elas ficam ali porque não me importo. A casa está limpa, mas desorganizada, tudo espalhado, e você não briga comigo por causa disso... O cestinho perto da porta nunca ficou tão vazio. (SUSPIRA) Quando amanhece fico olhando pra porta e ele não chega. Acordo meio dia, pra fazer o almoço pra ele poder dormir um pouco mais e ter algo pra comer quando acorda, mas ele nem está aqui, eu nem precisava acordar cedo, como fiz hoje. Não tem camisa pra passar, pensando em deixar meu marido bonito pra trabalhar. Não tem lanchinho pra fazer agrado pra ele... Não tem ele na cozinha fazendo comidinha pra me agradar, nem presentinhos. De manhã me deito cansada, mas custo a dormir, porque não tem carinho no cabelo, não tem abraço, um corpo quente atrás do meu. Eu quero meu Ratoncito de volta, Mulder! Aquela cara amarrada e séria dentro dessa casa, que eu tenho que sacudir pra ver se sai um sorriso. Alex me motiva a ser melhor, porque ele é um desafio que eu gosto. Sem ele, que desafio eu tenho?

MULDER: - Entendo, eu também gosto do meu desafio do outro lado da rua, porque Scully me faz crescer, me faz ser melhor, me faz agir. Eu preciso que ela coloque um sorriso no rosto e eu vivo pra fazer isso, seja provocando ou fazendo piadas. Meu prazer maior é fazer aquela mulher sorrir e ser feliz.

BARBARA: - Isso mesmo! Você definiu. O prazer que dá arrancar um sorriso de felicidade do outro. Isso não tem preço! Aquele homem sério quando sorri me dá satisfação, porque sinto que estou fazendo o meu melhor e sinto que ele está feliz. E eu quero que ele seja feliz.

MULDER: - Esse lance de troca de marido está sendo um belo aprendizado. Está me servindo pra refletir muitas coisas.Sabe que você e eu somos parecidos. Você é mais parecida comigo que a minha própria irmã. Se um casamento desse certo por compatibilidade de gênios, sem contar o sentimento, você deveria ser minha esposa e Scully deveria estar casada com Krycek. Só que iguais não se atraem, Barbara. Não ia dar certo. Um sufocaria o outro.

BARBARA: - Concordo. Tudo tem sua medida certa, seu equilíbrio perfeito, aquela coisa do yin e yang. Eu ontem estava pensando nisso que você está dizendo agora. Pensando que se eu estivesse fora da coisa toda e analisasse você e Scully, Alex e eu, certamente diria que os casais não se fecham, são formados por opostos, os iguais funcionariam melhor. Mas não. Nunca funcionaria. Você não pode ser feliz com alguém igual a você, porque não cresce, não há contribuição, desafios... E nem tô considerando o amor que é o mais importante. Essa coisa de alma gêmea não dá certo. Eu não aguentaria viver com alguém assim como eu, nem eu me aguento algumas vezes!

Os dois riem.

MULDER: - Você tem razão em tudo, menos nas almas gêmeas. Eu me apaixonei pela Scully porque ela é a minha alma gêmea. Almas gêmeas não são iguais, nem irmãos gêmeos são. Almas gêmeas são opostos que se completam.

BARBARA: - Nossa, Mulder! Que coisa linda que você disse! Eu pensava o contrário, mas faz muito sentido o que você falou. Nunca vi o Alex como minha alma gêmea... Mas sabe que você tem razão? Ele é a minha alma gêmea! Ai meu Deus, tô passada agora! Eu casei com minha alma gêmea e nunca suspeitei disso!

Os dois riem.


3:25 P.M.

Dimi dormindo no carrinho. Mulder e Barbara sentados à mesa com os notebooks abertos, canecas de café, pacotes de biscoitos, uma bagunça só. Os dois compenetrados no trabalho. Mulder leva as mãos atrás da cabeça, olhando pra tela.

MULDER: - Barbara, eu posso manter os nomes originais desses crápulas na história?

BARBARA: - Não, Mulder, você vai ter problemas com processos se colocar nomes reais até pra falar bem de uma pessoa. Imagina pra falar mal? Utilize pseudônimos, até mesmo o que eles usavam no Sindicato, porque isso não é de conhecimento público e não vai chamar a atenção pra cima deles e nem a atenção deles pra cima de você. Quando você está escrevendo algo visando publicação com retorno financeiro, meu amigo, dar nome aos bois vira problema. Ainda mais se fizer sucesso com o livro. Vão querer arrancar uma fatia do lucro do seu trabalho num tribunal e até fama com isso. O que não é o caso desses aí. Esses aí vão é querer matar você! E os que já morreram certamente tem filhos que vão se sentir prejudicados e acusar você de difamação.

MULDER: - Verdade.

BARBARA: - Convém usar pseudônimos, abreviações ou até mesmo nomes falsos pra não ter esses problemas. Trocar Coca-Cola por refrigerante de cola, entendeu? Conrad Strughold por Conrat Stut Old, jogadas assim, que possam fazer quem os conhece entender de quem se trata, mas não pode servir como prova num processo porque o nome escrito é diferente.

MULDER: - Essas coisas que estão me atrapalhando e me fazendo demorar mais ainda.

BARBARA: - Bem vindo a parte chata de ser escritor. Tem o lado jurídico e uma urubuzada toda esperando pra ganhar carona em cima de você. Ninguém quer ralar, Mulder, só colher louros. Poucas pessoas são legais pra entender que serem citadas num livro é publicidade gratuita pra elas. O que não é o caso aqui. A publicidade que você daria seria negativa.

MULDER: - Barbara você vai ser minha agente né?

BARBARA: - Já sou sua agente.

MULDER: - Isso me deixa mais calmo.

Barbara sorri. Se levanta.

BARBARA: - Vou pegar mais café pra nós. Mulder, escreva. Coloca tudo pra fora, deixa o resto comigo. Eu vou ler, vou sinalizar o que você precisa mudar, fica tranquilo, nada que possa prejudicar você vai passar pelo meu crivo de editora. Essas preocupações aí estão atrasando você. Apenas escreva. Eu conserto o resto. Conta toda essa história triste e linda da sua família, do jeito que você contou pra mim, porque Girassol & Canela vai estar na lista dos best sellers mais vendidos, pode apostar nisso. Ninguém resiste a uma história de amor que venceu a morte.

Residência dos Mulder - 3:26 P.M.

Som do aspirador de pó.

Scully sentada à mesa da cozinha, estudando. Então olha pra cozinha toda limpa.

SCULLY: - Impressionante como a casa está brilhando! Tudo limpo e organizado como eu gosto.

Som do alarme do forno.

Scully se levanta e vai até o forno. Veste a luva e retira o bolo, colocando sobre a pia. Krycek entra na cozinha, usando um avental e carregando Bryan no colo.

KRYCEK: - Você tem lustra móveis?

SCULLY: - Na lavanderia, no armário da esquerda, junto com os produtos de limpeza, na última prateleira de cima.

Krycek vai pra lavanderia. Scully olha triste para o bolo. Krycek volta com o produto na mão. Scully suspira.

SCULLY: -... Mulder adora esse bolo... Ele sempre disputa os pedaços com Victoria, ficam brigando e dando risadas, fazendo uma bagunça nessa cozinha...

Krycek olha apiedado pra ela.

SCULLY: - Tenho que levar o cachorro ao petshop e ir ao mercado. Cookie está precisando de uma faxina completa. Ele não para quieto e eu não consigo limpar direito as orelhas dele e começam a cheirar mal, problemas comuns de um cocker spaniel. Não sei como ele deixa o Mulder limpar as orelhas dele e fica bem quietinho.

KRYCEK: - Eu disse que estou de folga hoje. Faz a lista que levo o cachorro e vou ao mercado.

SCULLY: - É, mas hoje é o meu dia de pegar as crianças na escola e a Angela vai se atrasar, o Darius vai ficar aqui até umas sete da noite...

KRYCEK: - Eu deixo o Cookie no petshop, pego as crianças na escola, vou ao mercado com elas, tomamos um sorvete e depois pego o Cookie e voltamos pra casa.

SCULLY: - Quer casar comigo? Hum?

KRYCEK: -Perdeu a chance, Scully.

SCULLY: - Você teve a chance, mas não quis.

Os dois riem.

KRYCEK: - Você viveria sem o Mulder? Ahn? Porque eu não sei viver mais sem a Barbara. Estou estranhando a casa sem música, as coisas todas nos lugares certos, ninguém me esperando ou me espreitando cedo da manhã pra pular em cima de mim. E nem tô falando dos biscoitos pra lanchinho, daquele jeito de gata manhosa quando quer alguma coisa e nem do "Ratoncito". (SUSPIRA) Sinto falta do Ratoncito...

SCULLY: - O pior de tudo é que sinto a falta do Mulder. Tudo está muito certinho e comum nessa casa. Você me deixa quieta, faz as coisas todas sozinho, eu não tenho com quem reclamar, não tem nada pra brigar para que seja consertado, nenhuma piadinha boba pra me provocar... Até as crianças estão comportadas!

KRYCEK: - Tenho saudades do Dimi.

Scully olha pra ele com piedade.

KRYCEK: - Vou terminar e sair pra rua. Se você quiser arrumar o Bryan, eu levo ele junto. Assim você adianta aí os seus estudos.

Krycek volta pra sala. Scully põe as mãos no rosto.

SCULLY: -Essa coisa já foi longe demais. Eles estão sofrendo longe dos filhos e as crianças também não tem culpa. Amanhã vou falar com a Barbara.


Residência dos Krycek - 6:41 P.M.

Mulder lava o carro na frente do pátio, mas de olho na rua. Olha pra sua casa, olha pra van parada na rua e fica resmungando.

MULDER: -(MURMURA) Filhos da mãe, é vigilância pesada mesmo! Aquela van não sai dali. E se eu levasse um lanche com laxante pro Jeová sair do meu pé? Assim podia atravessar a rua.

Krycek entra com a picape na casa de Mulder.

MULDER: -(MURMURA) Rato safado com a minha família... Ok, Mulder. A ideia foi sua. E você também está com a família dele.

Krycek desce da picape. Abre a porta traseira. Cookie sai correndo, latindo e feliz, com o pelo cor de caramelo brilhando e uma gravata azul borboleta.

MULDER: -(MURMURA) Cachorro traidor! Comigo esse pulguento não faz festa!

Darius desce e Victoria também. Mulder suspira.

MULDER: -(MURMURA) Meu Pinguinho, pedaço de mim... "Bob Marley" medroso...

Krycek tira Bryan do carro. Mulder franze o cenho pra chorar.

MULDER: - (MURMURA) Meu irlandês resmunguento e bagunceiro... Minha ruiva quente como o inferno... Minha casa, minha cama, meu sofá, minha vida...

Victoria ao ver Mulder acena e manda beijos. Mulder manda beijos pra ela. Victoria faz um coração com as mãos. Mulder repete o gesto. Krycek suspira, olhando pra Mulder. Acena sem vontade.

KRYCEK: -(MURMURA) Raposa com ideia de jerico, me enfiou de graça nessa. Agora tá lá com a minha Malyshka caliente, o meu filhote lindo e o meu cachorro preguiçoso. E gastando a minha água!

Victoria pega Bryan e entra em casa, Darius atrás dela. Krycek fica parado olhando pra Mulder. Mulder solta a mangueira e fica parado olhando pra Krycek que aponta pra van. Depois faz um binóculo com as mãos. Mulder afirma com a cabeça e vai pra rua. Krycek fica cuidando a van. Mulder caminha pela rua, fora da visão dos retrovisores. Krycek olha para todos os lados. Mulder se agacha e caminha pelo lado da van. Então espia pra dentro, tentando ver alguma coisa, mas o vidro é escuro. Mulder bate no vidro e volta correndo pro pátio, com medo do Jeová.

Os dois conversam em lados opostos da rua por gestos.

Krycek gesticula "e aí" e Mulder gesticula "não vi nada". Krycek fica irritado. Aponta pro chão indicando o túnel e faz um V invertido, com os dedos indicador e médio, simulando pernas caminhando. Mulder leva o dedo ao olho e imita um cinegrafista com a câmera. Krycek solta o ar pelas narinas, aponta pra Mulder e passa o dedo indicador no pescoço. Mulder ergue o dedo médio pra Krycek. Krycek cerra os punhos e simula um soco na sua cara e aponta pra Mulder. Mulder irritado aponta pra Krycek e dá um pontapé no ar.

Nancy, curiosa, vem pra frente da casa com uma vassoura e observa os dois.

NANCY: -(GRITA) Só tem maluco e depravado nessa rua!!!! Agora trocam mensagens de amor por códigos na calçada, publicamente, perderam a vergonha na cara!!! Seus sodomitas pecadores, vocês vão queimar no fogo do inferno!!!

Mulder ao ver Nancy abre um sorriso sacana. Aponta pra Nancy, depois pra van e junta as mãos em oração ao céu. Krycek arregala os olhos e faz que não com a cabeça, mas Mulder começa a criar confusão, tirando a camiseta. Nancy arregala os olhos.Krycek põe as mãos no rosto.

MULDER: -(GRITA) Ei "amorzinho"!!! Na sua casa ou na minha? Posso comer o seu lanchinho hoje?

Krycek fulmina Mulder com os olhos.

KRYCEK: - (GRITA) Sou eu quem vai comer o seu lanchinho!!!!

Nancy fica incrédula.

MULDER: - (GRITA) Nancy, gosta de sanduíche? Você cai bem no recheio!

Mulder ameaça atravessar a rua, levando a mão ao cinto das calças. Nancy entra em pânico.

NANCY: - (GRITA) Geoorrrrgeeeeeee!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Nancy começa a gritar histérica.

NANCY: - (AOS GRITOS) Socorro!!!!!!!!!!!!!!! Seu tarado, safado, sem vergonha, indecente!!!! Depravado!!!!!!! O Comitê da Moralidade Cristã vai saber disso!!!! Socorro!!!!!!!!!!!!!

Os vizinhos assustados saem pra rua. Isaac sai de casa com um taco de beisebol. Byers e Susanne correm pra rua. Scully e Barbara saem nervosas, Scully com a arma na mão. Quando Scully vê Mulder, solta o ar pelas narinas, furiosa, baixando a arma e retorna pra dentro de casa.Isaac abaixa o taco de basebol e volta para o quintal, rindo alto. Byers olha pra Susanne e os dois riem voltando pra casa. Barbara coloca as mãos na cintura, dá uma olhada gelada pra Krycek e volta pra dentro. Nancy dispara pra casa dela. Mulder veste a camiseta e atravessa a rua. Krycek furioso o encara.

MULDER: - Depois desse estardalhaço da cascavel, todo mundo saiu pra socorrê-la. Mas não saiu ninguém daquela van. Isso significa que estão nos enganando. Não tem ninguém nos observando.Nem Jeová e nem o capeta.

KRYCEK: - (IRRITADO) Não seria melhor ter continuado a bater no vidro da van até o cara sair? Não, você prefere fazer escândalo, me enfiar no meio e me difamar publicamente na vizinhança!

MULDER: -(IRRITADO) Por que você não foi lá bater no vidro da van então? Ahn? Deu medinho?

KRYCEK: - (IRRITADO) Medinho deu em você, que parecia um garoto tocando a campainha e correndo!

MULDER: -(IRRITADO) Medroso! Você tá com medo do Jeová!

KRYCEK: -(IRRITADO) Eu? Não sou eu quem está provocando aquele armário de porta aberta que só com um espirro derruba meia dúzia de caras grandes!

Mulder imita uma galinha, batendo as asas e cacarejando. Krycek surta. Agarra Mulder pela camiseta, leva um braço de Mulder pra trás, torcendo, e o prensa com a cara na picape. Aproxima os lábios da orelha de Mulder.

KRYCEK: - E agora, amorzinho? Hum? Como é inverter os papéis?

Mulder tenta se soltar e não consegue.

MULDER: -(IRRITADO) Estou sentindo o seu bafo muito perto e não tô gostando disso! Desencosta daí!!!! (PÂNICO) Que droga dura é essa atrás de mim?

KRYCEK: -Calma, Mulder, é a minha arma. Puxa vida, eu tinha que gostar do seu bafo no meu cangote e de você encostando na minha bunda com uma arma na minha cara, geralmente amassada por um "carinho" seu. Relaxa, Mulder. Relaxa e goza. Não vou estragar o seu rostinho lindo com um soco.

MULDER: -(IRRITADO) Rato, eu tô falando sério! Vou socar você até voltar ao juízo!!!! Me solta!!!

KRYCEK: - Mulder, agora eu bato e você apanha quietinho. Será que eu algemo você e levo preso por perturbação da ordem, atentado ao pudor, desrespeito a um policial e resistência à prisão?

MULDER: -(IRRITADO) Rato filho da mãe! Me solta! Isso não tem graça!!!!

KRYCEK: - Sério? Por que você achava muito engraçado fazer isso comigo. Viu como as coisas mudam? Você é um civil agora e eu um policial muito, mas muito irritado com você.

MULDER: - (DEBOCHADO) Aprendeu isso na polícia? É, aprendeu bem mesmo!

Krycek puxa as algemas do bolso de trás enquanto mantém Mulder dominado. Mulder fica assustado.

KRYCEK: - Tem o direito de permanecer calado ou tudo o que disser poderá ser usado contra você num tribunal. Tem direito a um advogado... Ah, você conhece seus direitos, foi agente do FBI.

Krycek algema Mulder. Se afasta, com cara de bravo. Mulder vira-se pra ele, incrédulo. Krycek então tira a cara de bravo e dá um sorriso sacana com o canto da boca.

KRYCEK: - Peguei você! Levou medo não? Ótimo! Xeque-mate! Um a zero pra mim! Fica pela fria de um maldito reality show em que você me meteu!

MULDER: - (IRRITADO) Seu Rato desgraçado, me solta!!!! Eu vou encher você de porrada!!!! Isso não teve graça nenhuma!!!!

KRYCEK: -(RINDO) Pois eu achei muito engraçado ver a sua cara assustada. Na próxima, eu te dou um beijinho russo no rosto. Boa noite, Mulder! Agora cai fora do "meu" quintal, "amorzinho". E nem ouse reclamar. Você anda pedindo por isso há muito tempo!!!

Krycek dá as costas e entra no quintal. Mulder algemado com as mãos pra trás arregala os olhos.

MULDER: -(IRRITADO) Rato filho da mãe!!! Me solta se você é homem!!!!! Vamos resolver isso na porrada!!!

Krycek sem olhar pra trás faz um sinal obsceno com o dedo médio e entra na casa de Mulder.

Corte.


Scully na cozinha preparando o jantar. Krycek entra.

SCULLY: - Acaba de fazer o que eu andava com vontade de fazer há muito tempo! Admito, eu teria dado um soco, você até foi bonzinho com ele!

KRYCEK: - Pensei que ia ficar brava comigo.

SCULLY: - Conhece aquela expressão "quem assusta é assustado"? Pois então, Mulder tem que tomar um susto pra parar com tanta palhaçada! Está ficando pior que criança! Adora pregar peças nos outros, mas quando ele é vítima fica uma fera. E ele está me devendo aquela história do boliche ainda!

Krycek puxa a cadeira e senta-se.

KRYCEK: - Acho que nunca mais vou jogar boliche, não vale o estresse. Eu não quero me meter na briga de vocês dois, eu sei apenas da minha realidade com a Barbara. E ela exagerou e foi muito injusta comigo. Eu saio da delegacia pra casa, todo o santo dia, e quando chega na única sexta-feira do mês em que posso jogar um boliche com os amigos, ela tem um piti porque me atrasei. Logo ela que dizia que detestava mulher chiclete, agora virou uma. Eu não posso sair com os amigos? Preciso viver colado nela? Uma noite ao mês eu não tenho esse direito?

Scully se vira pra ele, pega o pano de prato e seca as mãos.

SCULLY: - Não é nada disso que você está pensando.

KRYCEK: - Então me diga o que devo pensar. O que ela falou pra você?

SCULLY: - Alex, o motivo que deixou Barbara zangada com você, e eu com o Mulder, é o mesmo: Preocupação.

KRYCEK: - Ah, Scully! Não alivia pra Barbara só porque vocês duas são amigas. Preocupação... Ahn! Somos homens, adultos, maiores de idade, armados, vacinados...

SCULLY: - Sim. E jurados de morte por conspiradores que não mandam aviso. Uma ligação para a esposa custava? Só pra avisar que iam ficar mais um pouco. Não é a diversão de vocês que nos incomoda, nem o fato de terem amigos, isso é bom, faz bem, precisam se divertir e terem tempo pra vocês mesmos. O que nos deixou furiosas é a falta de consideração para comigo e com a Barbara, que ficamos acordadas e preocupadas a noite toda, pois vocês dois não voltaram na hora combinada. Ficamos nervosas porque ligamos e vocês não atendiam. Já estávamos imaginando se não tinham matado vocês e olhando aflita para os nossos filhos. Isso é o que nos aborreceu. Uma ligação de vocês e teríamos ido dormir tranquilas.

KRYCEK: - Sério que foi só por isso? Você não achou que Mulder estivesse com outra mulher?

SCULLY: - Alex, acha que outra mulher nesse mundo aguentaria o Mulder? O Mulder só late, baba e faz cara de pidão, quando as outras vem pra cima, ele sai correndo! Cachorro que só ladra, mas não morde! Ele sabe a qualidade da ração que tem em casa.

Krycek abaixa a cabeça rindo.

KRYCEK: - Não acredito que toda essa briga por... Ok, concordo com você, Scully. Mas não somos irresponsáveis.

SCULLY: - Como não?

KRYCEK: - Vocês nem deixaram a gente explicar porque não ligamos!

SCULLY: - Então explica. E não alivia pro Mulder!


Residência dos Krycek - 7:56 P.M.

Mulder em pé na sala de estar íntimo. Barbara atrás dele.

MULDER: - E aí?

BARBARA: - Calma, tô quase abrindo... Sorte sua que tenho a chave disso... Ratoncito pegou pesado com você.

MULDER: - É, mas "Ratoncito" me paga. A casa de queijo dele vai cair.

BARBARA: - Pronto.

Mulder tira as algemas e esfrega os pulsos. Atira-se na poltrona.

MULDER: - Tudo isso por um atraso! Tudo por ciúmes doentio! Tudo porque você e a Scully são duas loucas de pedra!

BARBARA: - Ei, ei, ei! Louca de pedra é a falecida sua mãe! Vocês são dois irresponsáveis que saem pra se divertir com os amigos, dizem que voltam tal hora, não voltam e chegam no meio da madrugada com a maior cara de pau e ainda querem beijinho por isso? O Byers chegou na hora! Aí ficamos mais nervosas ainda!

MULDER: - (IRRITADO) A gente se atrasou porque não foi ao boliche. O Rato, eu e os rapazes estávamos num clube de stripper. Depois saímos com umas prostitutas e fomos farrear num motel!

BARBARA: - (DEBOCHADA) Ha... Ha... Ha. Se tivesse sido isso, o pau ia comer frouxo, mas seria menos pior do que Scully e eu estávamos pensando!

MULDER: - Então, o que é pior do que a gente trair vocês com prostitutas? Hum? Trair vocês com mais prostitutas?

Agora é Barbara quem surta e tira o tamanco de salto alto do pé. Mulder pula o sofá e sai correndo. Barbara atira o tamanco nele. Tira o outro tamanco, pula o sofá e sai caçando Mulder pela casa, dando tamancadas nele.

BARBARA: -(IRRITADA/ AOS GRITOS) ¡Hijo de una vaca sucia! ¡Ven aquí, cabrón! ¡Si su esposa no lo desenreda, yo lo enderezaré! ¡Idiota! ¡Egoísta! ¡Solo Dios sabe lo que sufrí esa noche! ¡Pensé que estaba viuda, con un hijo pequeño en mis brazos y mi esposo asesinado por algún mercenario de la Unión de la Sombra o la Orden del 13!

MULDER: -(PÂNICO) ¡Tranquila mujer! Tranquila! Vamos conversar! Fica "sussa"! Eu não entendo espanhol quando falam rápido demais!!!

Os dois correm ao redor da mesa.

BARBARA: -(IRRITADA/ AOS GRITOS) Vou te mostrar "sussa"! Volta aqui pra apanhar como um homem! Morrerem! Entendeu? Isso sim seria o pior! Receber um telefonema da polícia nos chamando para reconhecer os corpos dos nossos maridos no necrotério! Mortos por algum pistoleiro do Sindicato das Sombras ou da Ordem dos 13! Os pais dos nossos filhos, os homens que nós amamos! E que mereciam é uma puta de uma surra nos cornos!!!!

Barbara senta-se no sofá, coloca as mãos no rosto e começa a chorar. Mulder olha com piedade e arrependido. Se aproxima com cautela.

MULDER: - Barbara, me desculpe.

BARBARA: - (CHORANDO) Tá perdoado, Mulder. Eu só fiquei uma noite inteira sem fazer nada, acordada, ligando de minuto em minuto pra Scully, preocupada porque vocês não voltavam. A gente tava achando que tinham armado uma emboscada e assassinado vocês dois. Eu tremia aqui dentro dessa casa, chorava com meu bebê nos braços, impotente sem poder fazer nada, já me imaginando de preto olhando pro meu marido morto num caixão! O meu Ratoncito! O meu tudo! Me diz como vou viver sem o amor da minha vida? Isso dói!!!

Mulder se ajoelha na frente dela, Barbara se abraça nele e chora. Mulder afaga os cabelos dela.

MULDER: - Desculpe, tá?

BARBARA: -(CHORANDO) Pouco antes de vocês chegarem, a Scully já tinha me ligado pra eu pegar o Dimi e ir pra casa de vocês ficar com as crianças, porque ela ia sair pra procurar vocês dois. Scully chorava no telefone.

Agora é Mulder quem derruba lágrimas, quase chorando. Toma o rosto de Barbara e olha pra ela que está em lágrimas.

MULDER: - (EM LÁGRIMAS) Sério que a Scully estava chorando?

BARBARA: - (EM LÁGRIMAS) Acha que a Scully não chora por você? Pois ela chora! Como eu choro por aquele rato cretino! A gente ama vocês! Perder nossos maridos não faz parte dos nossos planos!

MULDER: - (EM LÁGRIMAS) Pensei que ela já estava cansada das minhas palhaçadas e dando graças à Deus quando não tô em casa...

BARBARA: - (EM LÁGRIMAS) Mulder, uma mulher apaixonada nunca cansa do seu homem. Por que não atenderam o celular? Por que não ligaram? A gente sabe que estavam no boliche se divertindo, podiam ter bebido mais que de costume, mas nada justificava não atenderem ou ligarem pra avisar. A única coisa que justificava isso é estarem mortos, entende? Foi o que pensamos!

Mulder senta-se na frente dela, cabisbaixo, secando as lágrimas.

MULDER: -Naquela noite, eu peguei carona com o Rato. Entrei na picape e...


FLASH BACK:

Noite do boliche - 9:21 P.M.

[Som:Simply Red - Sunrise]

O prédio do FBI. Do outro lado da rua, a picape de Krycek estacionada.

Krycek sentado dentro da picape. Batuca no volante ao ritmo da música, se embalando. Mulder entra, vestido de terno e gravata. Fecha a porta e coloca o cinto de segurança. Krycek dá a partida.

KRYCEK: - Gosta de Simple Red, Mulder?

Krycek manobra a picape e toma a rua.

MULDER: - Uma das minhas bandas favoritas. Eu curto música romântica.

KRYCEK: - Adoro música romântica. Não irrita meus ouvidos. Se não tem melodia, não me agrada. Pode ser rock, metal, punk, qualquer coisa, mas precisa ser melódico. Sabe essas coisas barulhentas que chegam a ressoar no cérebro?

MULDER: - (SORRI) ...

KRYCEK: - Pra mim é como estar sentado no meio de uma construção. Entende? Zoeira, pancada e martelada o tempo inteiro. Me deixa nervoso e irritado.

MULDER: -Valeu ter passado aqui pra me pegar. Eu não quis vir de carro, peguei um táxi. Não estava em condição emocional pra dirigir. Como estão as coisas na delegacia?

KRYCEK: -Aumentando a taxa de homicídios e a de policiais continua estabilizada. No próximo mês, curso de atualização anual. Cabeças vão rolar. Estou pensando em pedir pra Scully umas aulas de primeiros socorros, eu ainda me atrapalho com isso.

MULDER: - E como detetive você precisa de prática? Não basta a teoria? Você não é policial, não tá na linha de frente da coisa toda.

KRYCEK: - Noite dessas entrou um casal desesperado na delegacia com o bebê sufocado. Não tinha um policial pra ajudar, apenas o Bishop e eu. O Bishop medrou, foi chamar a emergência, mas a criança já não respirava, não ia dar tempo. Peguei o bebê e apliquei meus conhecimentos no desespero, podia ser o meu filho. Funcionou. A menina começou a chorar e foi um alívio. E se eu não soubesse como fazer? Que policial seria pra ajudar?

MULDER: -(SORRI) Você tá apaixonado mesmo pela profissão!

KRYCEK: - Tô Mulder. Amo o que faço. Nunca imaginei na minha vida ser um policial de verdade. E digo pra você, o FBI não me serviria nem que eu quisesse. Eu gosto das ruas, da ação, do contato direto com todo o tipo de gente, de ajudar, sabe? Criar minhas fontes nas ruas, investigar os crimes, seguir os caras, prender... Eu me sinto útil, sabia?

MULDER: - (SORRI) Até pra tirar gatinhos de árvores?

KRYCEK: - (SORRI) Se preciso for, eu tiro gatinhos de árvores.

MULDER: - Alex Krycek de bandido a policial. Quem diria!

KRYCEK: - Parece piada, né? Agora entendo porque Norris não quer se aposentar. Acho que nem eu quero! E a agência?

MULDER: -Mais trabalho do que posso suportar. Falta um investigador. Estou praticamente sozinho. Scully precisa ficar com o Bryan.

Krycek olha pra Mulder.

KRYCEK: -Eu sei que você me quer nesse negócio desde que abriu as portas, mas Mulder, algumas vezes isso termina em gente ruim que conhecemos, e eu não quero mais olhar pro meu passado.

MULDER: - Eu entendo você. Você evoluiu. Eu não.

KRYCEK: - Por que diz isso? Por que ainda se importa com os Arquivos X? Mulder, você tem todo o direito de insistir e levar isso adiante, é praticamente uma cria sua! Os Arquivos X são você!

Mulder tira o celular do bolso.

MULDER: - Droga, quase sem bateria.

KRYCEK: - Coloca pra carregar aí no carro. Pode tirar o meu celular, ele já tá carregado.

Mulder tira o celular de Krycek e conecta o dele. Coloca o celular de Krycek no painel.

MULDER: - Eu não tô desistindo, estou só pensando em mudar de tática. Eu já falei pra você. Sabe quando um homem passa a sua vida toda envolvido num casamento? Separar nunca é fácil, entende?

KRYCEK: - Claro que entendo, passei por isso, mas no meu caso, o divórcio me fez bem.

Mulder sorri. Krycek desliga o som. Mulder tira sementes de girassol do bolso e começa a comer.

KRYCEK: - Mulder, você não tá legal hoje.

MULDER: - Impressão sua.

KRYCEK: - Eu conheço você, Mulder. O suficiente pra dizer que esse seu encontro no FBI foi uma merda frustrante que deixou você deprimido. Não mente pra mim. Não fica engolindo problema sozinho, desabafa, eu sou seu amigo e sempre estou aqui pra ouvir e ajudar você.

MULDER: - Não tô deprimido.

KRYCEK: - Você até agora não fez uma brincadeira sacana comigo, "amorzinho". Está quieto e sorrindo sem graça. Você foi ver o Skinner lá dentro do Bureau. Entrou no meu carro e não falou nada sobre esse encontro. Então, Mulder, não precisa ser gênio pra saber que você está abalado com alguma coisa. Skinner queria o quê? Hum? Abre o coração, desembucha pro seu irmão aqui. Ou volto lá e dou umas porradas naquele careca.

MULDER: - ... Acho que tem uns 5 anos que eu não pisava no Bureau. As coisas mudaram lá, Krycek. Tanta gente que nem conheço. E eu fui entrando, sabe? Junto com outros agentes, e foi quando o segurança me parou pedindo identidade e automaticamente eu levei a mão ao bolso pra tirar o crachá de agente federal. Que não estava mais lá. Eu não sou mais um agente, eu sou um visitante.

Krycek olha pra Mulder.

MULDER: - Tantos anos e eu ainda tinha o hábito. Entende? Foi sinistro, eu ri de mim mesmo. Depois entrei no elevador e levei o dedo ao botão do porão, instintivamente. Então percebi o que estava fazendo e levei o dedo ao andar da diretoria.

KRYCEK: - ... Mulder, isso acontece quando você faz a mesma coisa por muitos anos. Charles Chaplin já satirizava isso em Tempos Modernos, você vira um escravo da máquina do sistema. Eu passei anos com pesadelos, acordando assustado sem saber aonde estava, procurando a minha arma e me enfiando debaixo da cama quando acordava com barulhos... Pobre da Barbara, levava cada susto! O quê o Skinner queria com você?

MULDER: - Quando cheguei na frente da sala da diretoria... Recordações ruins vieram daquele lugar, sabe? A secretária quase me empurrou pra dentro do gabinete, porque eu travei e só consegui sorrir ao ver a plaquinha na mesa: W. S. Skinner - Diretor. Fiquei sentado ali, esperando por ele, observando o escritório e até a foto do Obama na parede. Tudo era diferente, mas o nome Skinner era a única coisa que me causava conforto ali dentro.

KRYCEK: - ...

MULDER: - Skinner... O velho Girafão conseguiu finalmente ser o diretor do Bureau! A justiça finalmente chegou pra ele. Não é legal você ver uma pessoa chegar aonde ela sempre sonhou chegar?

KRYCEK: -Gosto disso. É tipo um tapa nas estatísticas de que só os malandros e canalhas chegam ao topo. Carter dançou! Mas não foi a promoção do Skinner que incomodou você.

Mulder respira fundo.

MULDER: - ... Skinner propôs que eu voltasse pro FBI. Com a Scully.

Krycek olha pra Mulder.

MULDER: - Nada de porão. Um departamento num andar melhor, com mais agentes, eu seria o chefe da seção. Ele reabriria os Arquivos X com outro nome, algo maior e mais sério. Ganhou carta branca pra isso, por causa dos constantes escândalos envolvendo verbas para projetos secretos com empresas privadas. O governo não está vendo com bons olhos o tanto de relatos ufológicos e mentiras surreais que a Força Aérea tem pregado, a opinião pública está em cima. Os europeus estão abrindo publicamente os seus arquivos sobre o assunto, desde russos a ingleses. Até o Canadá e o Chile estão fazendo isso. E eu poderia escolher os agentes que queria no meu departamento, da minha confiança. Com o tempo, Skinner me nomearia diretor-assistente se eu quisesse.

KRYCEK: - O que você respondeu?

MULDER: - Eu respondi que não.

KRYCEK: - E a Scully? O que ela pensa sobre isso?

MULDER: - Não tive coragem de dizer a ela.

KRYCEK: - Medo de que Scully aceitasse?

MULDER: - Não. Medo de disparar nela toda a mágoa que eu também senti. Isso estragou meu dia, sabe? Não ia permitir que estragasse o dela também. Eu sei que deveria estar empolgado, sempre foi tudo o que eu sonhei! (SEGURA AS LÁGRIMAS) Ser respeitado lá dentro, mostrar a verdade, ter carta branca pra chegar aonde não queriam que eu chegasse e tendo a diretoria do FBI do meu lado, sem censurar, sem atrapalhar... Sem fumaça pelos cantos. Até porque Skinner tem jogo de cintura pra lidar com os bastidores do poder. E tem caráter.

KRYCEK: - Eu imagino o que está sentindo, Mulder. E deve doer. Se tivesse acontecido há anos atrás, você não teria passado por tanta coisa, não teria jogado sua aposentadoria fora e ainda estaria lá dentro sendo o agente competente que você era.

MULDER: - ... (SECANDO AS LÁGRIMAS) É uma mágoa que não sai de dentro de mim, Rato. Eu tenho mágoa do FBI. Mágoa daquele lugar. Scully chorava calada depois que saiu. Não chorava de saudades não, chorava de mágoa por ter sido humilhada, destratada como profissional. Eu sei que Skinner pensou que nos faria feliz, a intenção dele era outra. Ele queria os amigos com ele, gente da confiança dele e sei que queria fazer justiça pra gente. Pobre Skinner, ele entendeu meu lado, mas deixou em aberto o convite. Ele ainda tem esperanças que a gente volte.

KRYCEK: - Mulder, propostas sempre vão aparecer na sua vida, para voltar ao que era. Apareceram na minha, ok? O Fumacinha não ficou me tentando pra voltar? Eu nunca ia voltar pra aquela merda da qual me livrei, não fiquei nenhum pouco tentado, mas fiquei incomodado e aborrecido, só em recordar tudo o que passei!

MULDER: - Você entendeu. Incomodado e aborrecido. É como estou me sentindo, lembrando das coisas que passei lá dentro.

KRYCEK: - Não importa se as oportunidades são para o bem ou para o mal, por melhor que possam parecer. O que importa mesmo é que se você aceitar, vai retroceder um passo da caminhada que você seguiu adiante.

MULDER: - ... É o que eu penso.

KRYCEK: -O agente Mulder que prestava contas dos seus atos não existe mais. Existe o livre detetive, escritor e pesquisador Fox Mulder. E ele faz o que quiser, do jeito que quiser e não deve explicação alguma a não ser pra ele mesmo.

MULDER: -(SORRI) Quando eu digo que você me entende como se fosse um irmão...

KRYCEK: -Mulder, nós dois tivemos uma vida louca e de merda. Quem sai da bosta sempre vai ficar fedendo pra se lembrar de não voltar pra ela. Somos dois fedidos e fodidos no final das contas. O Sindicato me fodeu e o FBI fodeu você. Voltar pra eles é querer sofrer de novo. Lideranças mudam, homens caem e voltamos a mesma merda que era antes. Só louco pra voltar pra merda. Deixa a merda para os novatos. Já estamos calejados disso tudo.

Mulder sorri. Krycek estaciona o carro na frente do boliche.

KRYCEK: -Mulder é sexta-feira, dia de boliche, vamos acertar umas bolas nuns pinos, beber cerveja e dar risada com os rapazes. Relaxar é a ordem da noite, certo? Nada de minhocas na cabeça. Foi você quem me ensinou, então pratique, Dr. Fox.

MULDER: - Sou a pior companhia hoje. Eu nem deveria ter vindo. Tô querendo desabar...

KRYCEK: - Eu não vou deixar você desabar. Nada que uma conversa, alguns lenços de papel e meia dúzia de cervejas não resolvam. Depois delas você fica falante e conta até piada de papagaio e viadinho. Desde que o viadinho não seja eu, "amorzinho".

Mulder solta uma gargalhada. Krycek ri junto.

KRYCEK: - Vamos lá, Mulder. Desça já desse carro. "Bora" pra vida, meu irmão. Vou te contar umas piadas russas bem sujas, vou te distrair tanto que nem vai mais lembrar dessa merda toda.

Os dois descem do carro. Esquecem os celulares.


TEMPO REAL:

Residência dos Mulder - 8:20 P.M.

Scully sentada à mesa, olhando culpada pra Krycek.

KRYCEK: - Aí o Mulder chorou no meu ombro, desabafou mais ainda, o Frohike baixou mais umas cervejas, a gente jogou boliche, bebeu, contou piada, deu risada, eu e os rapazes nos concentramos em animar o Mulder. O Byers bebeu mais que devia e caiu na pista, o Langly folgou nele e nem vimos o Byers ir embora. Quando demos conta das horas é que voltamos correndo pra casa. O Mulder e eu esquecemos realmente do horário e dos celulares. Isso acontece com qualquer um.

SCULLY: - ...

KRYCEK: - Se não acredita em mim, liga pro Frohike.

SCULLY: - Acredito. Típico dos homens, esquecem até das horas.

KRYCEK: - Foi apenas esquecimento. Não deixamos os celulares no carro de propósito.

SCULLY: - Quer dizer que o Skinner...

KRYCEK: - Eu não ia contar pra você, quem deveria contar é o Mulder, mas diante da situação...

SCULLY: - Acho que vou dar banho no Bryan. Já volto.

Scully sai da cozinha. Tira o celular do bolso rapidamente e sobe as escadas.

SCULLY: - Atende, Barbara, atende...


Residência dos Krycek - 8:25 P.M.

Barbara fecha a porta do quarto e se escora nela, falando ao celular.

BARBARA: - (AO CELULAR) O Mulder contou a mesma coisa pra mim! (AFLITA) Droga, Scully, a gente tá ferrada! Exageramos na dose! E agora? Não tem reality, não tem programa de verdade e como vamos admitir que sacaneamos os dois por apenas um esquecimento sem maldade? (INCRÉDULA) Como assim eu tive ideia de jerico? Você topou!!! Não vai pular fora não, você é tão culpada quanto eu!!!


Café Girassol & Canela - Washington D.C. - 10:27 A.M.

Movimento de funcionários na cozinha, decorando e produzindo doces, bolos e salgados. Ao fundo, Ellen decora um bolo de casamento, de ouvido na conversa de Barbara e Scully, que entre mordidas em doces e goles de café, discutem com os filhos nos braços.

SCULLY: -(IRRITADA) Eu não sei aonde estava com a cabeça de aceitar a sua ideia maluca! Eu me esqueci que você é o Mulder de calças! Sempre termina em mais confusão!

BARBARA: - (IRRITADA) Você é chata como o Alex, sabia? Não sabe brincar! Vocês dois fazem mesmo uma dupla! Aceitam uma coisa e depois ficam empurrando a culpa toda em cima do outro!

Bryan leva a mão ao bolo de Scully, que coloca o bolo na boca dele, ele tira um pedacinho ficando com a boca suja de cobertura.

SCULLY: -(IRRITADA) Eu não estou empurrando a culpa em cima de você! Sou tão culpada quanto, por ter aceitado essa ideia estrambólica da sua mente doentia!Admita que não passou pela sua cabeça que eles tivessem esquecido os celulares no carro? Ahn?

Dimi leva a mão ao bolo que Barbara morde, agarrando e sujando a mão. Lambe a mão e passa a mão no cabelo de Barbara, que nem percebe.

BARBARA: - (IRRITADA) Claro que não! E pela sua não passou?

Bryan leva a mão ao bolo na mão de Scully, que afasta o bolo. Bryan insiste.

SCULLY: -(IRRITADA) Não! Porque você sempre pensa em catástrofe! Típico de jornalista. Aí me liga e eu passo a ver o que você vê e já fico com o coração na mão! Bryan, chega de bolo!

Dimi leva a mão ao bolo de Barbara, amassando e depois passando na roupa dela.

BARBARA: - (IRRITADA) Nem vem porque você também já pensou em desgraça, coisa típica de policial. E depois eles não podem nos culpar por pensarmos que estão encrencados, eles procuram encrencas como criança procura doce! Dimi, para! Mamãe tá conversando.

SCULLY: -Agora como vamos sair dessa e ter nossos maridos de volta? Precisamos encerrar essa coisa e não tem programa algum pra ir ao ar! Bryan, por favor!

BARBARA: - Isso é o de menos. O programa foi cancelado. Pronto. Leva o seu traste pra casa e devolve o meu traste... Dimi, dá um tempo!

SCULLY: - Não é tão simples assim, Barbara. Eles confessaram a verdade. Eu não vou guardar uma mentira.

BARBARA: - Pior que confessaram só agora!

SCULLY: - A gente não deu chance pra eles falarem! Nisso sim somos culpadas. E somos culpadas por revidar! A brincadeira agora virou culpa!

BARBARA: - Culpa? Para, Dimi, deixa meu cabelo! Culpa nenhuma! Olha, Scully, eu não me sinto culpada se o seu marido guarda segredinhos de você! Se Mulder tivesse dito pra você que estava pra baixo e contado a história do Skinner, você não ia estranhar a demora dele naquela noite e quando eu ligasse você diria que Alex estava atrasado porque certamente estava dando o ombro pra Mulder!

SCULLY: - Ah, agora o Mulder é o culpado? Mulder estava pra baixo, mas seu marido não! Ele quem devia ter ligado e avisado você! E quando eu ligasse preocupada com o Mulder você me diria que tudo estava bem! Bryan, eu disse chega de bolo!

BARBARA: - Ah, então Skinner é o culpado! Pronto!

ELLEN: - Epa! Não coloquem a minha girafa no meio de confusões de ratos e raposas. Ele quis ajudar o Mulder. Me deem essas crianças aqui! Pobrezinhos querem bolo e vocês querem discutir.

Ellen pega Bryan e Dimi.

ELLEN: - Assumam a palhaçada que fizeram. E na próxima vez, me incluam nessa troca de maridos. Eu empresto o meu pra Dona Raposa, mas quero o da Dona Rata, com jaqueta de couro e brinco na orelha.

BARBARA: - Tô louca é? Confio na Scully, mas você é altamente suspeita porque vivia olhando pra bunda do meu Alex!

ELLEN: - E como você sabe disso?

Scully morde os lábios e disfarça.

ELLEN: - Legal! Onde tem mulher, tem fofoca e confusão. Sempre rola um barraco cor-de-rosa! E vocês duas são a prova fiel disso!

SCULLY: - Até parece que você é muito santa! Eu conheço você de longa data, Ellen, não se faz de louca!

ELLEN: - É, mas admitam que os homens gostam de sair com os amigos pra conversar coisas particulares que não querem conversar com as mulheres, porque sempre vai dar um barraco! Mulder não falou nada pra você sobre o FBI pra evitar magoar você. O Krycek não falou nada pra Barbara que estava consolando o Mulder pra Barbara não fazer um interrogatório, totalmente curiosa e querendo avidamente saber o que estava acontecendo. Ou tô errada?

As duas se calam.

ELLEN: - Pensem nisso. Agora vou dar bolo pra raposinha e o ratinho que eles não tem culpa de nada. Estão sem os pais por perto, por conta de vocês duas. Né, bebês lindos da tia Ellen? Cada qual mais "cute-cute". Um louro e um moreno. A mulherada que se cuide quando vocês dois crescerem, ainda mais se forem gatos como os pais de vocês. Vão sair juntos e cair matando na mulherada. E eu espero que deem bastante trabalho pra essas mães loucas que vocês têm!

Barbara e Scully olham irritadaspra Ellen.

ELLEN: -Agora sossegaram a passarinha? Acalmou a TPM? Eu posso dar uma sugestão?

BARBARA: - Pode.

SCULLY: - Deve.

ELLEN: - Confessem o que fizeram, expliquem porque fizeram, peçam desculpas, engulam o orgulho com um copo de água, comprem lingeries sexys e compensem no sexo sem negar nada pra nenhum deles, porque aqueles dois vão ficar umas araras quando descobrirem a verdade! E só tem um jeito de amansar homem: na cama. Num caso desses nem sobremesa resolve!

Scully suspira. Barbara solta os ombros.

ELLEN: - E vou sugerir mais ainda. Dona Raposa, pra você sugiro algo bem sensual e inocente de coelhinha, já que o Mulder adorava a Playboy e raposa gosta de caçar. E pra você, Dona Rata... Hum, algo gatinha com couro, já que Krycek é mais canalhão, algo estilo mulher gato, porque você é a gata que comeu o rato.

Ellen gargalha alto e sai, levando os bebês.

SCULLY: - (SUSPIRA) Acho que vou ter que comprar uma roupa de coelhinha, com rabinho de pompom e tudo!

BARBARA: - Nem reclame! Você tem sorte, porque o Alex nem com sexo vai me perdoar. Ele é capaz de fazer greve e ir dormir na sala. Você não conhece o genioso. Não se dobra por nada.

Scully puxa um banco e senta-se, desanimada. Barbara pega outra fatia de bolo.

BARBARA: - Vou me empanturrar porque tô nervosa!

SCULLY: - Perdi o apetite porque estou nervosa...

BARBARA: -(ENCHE OS OLHOS DE LÁGRIMAS/ BEIÇO) Não quero perder o meu Ratoncito! Eu não vou resistir se ele for embora!

SCULLY: -Posso dar um conselho, amiga?

BARBARA: - Diga, amiga.

SCULLY: - Alex é homem, mas ele é parecido comigo. Vive com culpas, tem medo de perder o que ama e não dá a si mesmo a importância que tem na vida do cônjuge. Mulher gato não vai funcionar, mas tenta abrir seu coração pra ele e expor seus medos, suas inseguranças e vale até chorar. Fala do quanto ele é importante pra você, o que ele significa na sua vida. Mulder me quebra assim, quando vira um cachorrinho pidão e coloca todo o amor dele pra fora. Talvez você consiga quebrar Alex da mesma maneira, bancando a gata manhosa e pidona.

BARBARA: - Vamos contar pra eles a verdade, Scully. Hoje à noite. Você conta ao Mulder e eu conto ao Alex. E seja o que Deus quiser! Já atiramos a caca no ventilador, agora vamos ter que aguentar a merda toda!

SCULLY: - (SUSPIRA DESANIMADA) Por via das dúvidas, vamos passar no sex shop antes?


Delegacia de Polícia - Virgínia - 10:46 A.M.

Krycek serve um café. Bishop entra com a revista TV Guide e senta-se. Abre a revista.

BISHOP: - Até tentei tirar um cochilo na sala de provas, mas o caras ficam zoando a todo momento. Derrubam caixas de propósito e atiram bolinhas de papel pra acordar você. Só tem folgado nesse distrito.

KRYCEK: - Eu já desisti, não dá pra fechar o olho nesse lugar. Da última vez acordei com uma calcinha na cabeça. A detetive Ross acha até hoje que fui em quem pegou a calcinha dela no vestiário.

BISHOP: - Cobrir turno dos outros depois de uma madrugada inteira é cruel. A gente devia ter pelo menos uma televisão aqui pra ficar acordado. Um sofá também cairia bem.

KRYCEK: - Os caras da Narcóticos tem uma. Assistimos os campeonatos lá.

BISHOP: - Basebol?

KRYCEK: - Todos. Eu prefiro futebol e hóquei no gelo. Joga alguma coisa?

BISHOP: - Jogo nada. Nem basquete! Só engano porque sou preto e alto. E você?

KRYCEK: - Não é meu talento, admito. Mas arrisco futebol e hóquei. Acho que sou melhor no hóquei. Basebol nem pensar. Basquete e futebol americano então...

BISHOP: - (RINDO/ LENDO A REVISTA) Ah, olha só! Adoro isso aqui, cara! Quando tô em casa eu não perco um programa. Já assistiu o Joke Party?

KRYCEK: - Não. Nem conheço, eu não sou muito de assistir televisão.

BISHOP: - Krycek, você não tem noção do quanto você pode rir até conhecer esse programa de pegadinhas. Tá vendo esse cara aqui? O Billy Jan? Cara, esse negão é sensacional!


X-Files Investigations - 11:27 A.M.

Krycek entra na recepção, com uma cara de poucos amigos. Baba sentada à mesa, abaixa os óculos e o encara.

BABA: - Que cara é essa? Dormiu com o traseiro nu e pra fora do lençol?

KRYCEK: - Ele tá aí? Sozinho?

BABA: - Tá.

Krycek bate na porta e já entra, fechando a porta atrás de si. Mulder analisando umas fotos com a lupa.

MULDER: - Que cara é essa?

KRYCEK: - (IRRITADO) Mais um? É a única cara que eu tenho! Se me disser que dormi com o traseiro nu e pra fora do lençol...

MULDER: - (DEBOCHADO) Não sei de nada, isso é problema seu, amorzinho. Comigo que não foi, porque tudo o que eu sei é que você me algemou, me deixou empolgado, fez aquela palhaçada toda e nem rolou beijinho...

KRYCEK: - (IRRITADO) Mulder, por favor, para de gracinhas que a coisa é séria! Esquece as algemas! Você já fez pior comigo! Aquelas... Aquelas nanicas folgadas, vingativas e perversas!

MULDER: - Tá falando das nossas mulheres?

KRYCEK: - (IRRITADO) E você conhece outras nanicas folgadas, vingativas e perversas? Sabe por que não tinha ninguém na van?

MULDER: - Sei! Porque esses caras da televisão sacaneiam no susto! Deixam a van ali pra gente pensar que tem alguém vigiando e não atravessar a rua e...

KRYCEK: - (IRRITADO) Para e me escuta! Ontem eu limpei toda a sua casa!

MULDER: -(DEBOCHADO) Quanto eu devo pelo serviço? Foi antes ou depois de me algemar?

KRYCEK: - (IRRITADO) Foi antes e não limpei por bom samaritano não! Por isso eu sinalizei pra você dar uma olhada na van, e se você não tivesse começado aquela palhaçada toda com a Nancy Fuinha, eu teria dito uma coisa que descobri! Mas você não foca no que deve, Mulder, você só arruma confusão em cima de confusão e me deixa mais estressado!

Mulder atira-se na cadeira. Cruza os braços.

MULDER: - (DEBOCHADO) Fala, estressadinho.

KRYCEK: - (IRRITADO) Limpei tudo para disfarçar porque eu queria saber aonde estavam as câmeras e microfones escondidos que eles colocaram. E quer saber aonde estavam?

MULDER: - Aonde?

KRYCEK: - (IRRITADO) Não estavam! Não existem! Você não procurou na minha casa?

MULDER: - E lá eu vou limpar a sua casa? Quanto você vai me pagar? Você tá dizendo que os caras não estão gravando?

KRYCEK: - (IRRITADO) Eu tô dizendo que fomos enrolados! Não tem reality, não tem câmera, não tem vigilância alguma! Aquelas duas aprontaram pra nós por causa da noite do boliche!

Mulder fica incrédulo. Krycek puxa o TV Guide do bolso. Atira na mesa. Mulder pega.

KRYCEK: - Página 3. Joke Party. Olha aí o Jeová, que não é Jeová! É um ator de pegadinhas.

Mulder olha pra revista e arregala os olhos.

MULDER: - Tem razão, é o cara. Espera... Eu não tô entendendo nada. Estamos numa pegadinha então?

KRYCEK: - É, Mulder, mas não numa pegadinha da televisão, mas numa pegadinha das nossas mulheres! Olha aí a programação matinal. Conhece a produtora do M de Mulher? Não parece aquela que esteve em nossas casas?

Mulder solta uma respiração tensa, quase fumegando pelo nariz.

KRYCEK: - São da emissora da Barbara. Isso te diz alguma coisa?

MULDER: - (IRRITADO) A Scully foi longe demais por um erro!

KRYCEK: - (IRRITADO) A Scully? Você acha que só você tem ideia de jerico? Isso é coisa da Barbara! Scully entrou de gaiata como eu entrei com você! São colegas da Barbara, ela conhece tudo de televisão, arrumou uma amiguinha feminista de um programa feminino pra nos enrolar, se passando por produtora de um programa que nem é do canal deles! Com Jeová e tudo!

MULDER: - (IRRITADO) Se a Scully concordou é tão culpada quanto a mentora do plano maligno. Assim como você quando topou a coisa do Troca de Maridos. Aquelas duas nanicas malignas... Pintoras de rodapé... Isso não vai ficar assim.

KRYCEK: - (IRRITADO) Não mesmo e dessa vez você vai me escutar! Chega das suas ideias idiotas e seus ataques histéricos e impensados, ou eu vou ficar morando por anos na sua casa e você na minha, enquanto as duas se divertem às nossas custas!

MULDER: -(IRRITADO) Por mim eu pego as minhas coisas da sua casa agora e o barraco vai começar!

KRYCEK: - Chega de barraco, Mulder! Você não sabe jogar! Precisa inverter o placar a nosso favor. Seja diplomático e frio. Sangue quente não resolve nada. Muita calma nessa hora, esperteza e jogo de cintura pra deixar a adversária sem pernas. Você não tem o direito de brigar com a Barbara como eu não tenho o direito de brigar com a Scully. Depois quando chegar em casa vocês se acertem que eu vou me acertar com a Barbara. Agora quem vai dar uma ideia sou eu. Tenho um plano. Nós vamos fazer o seguinte...

Corta pra recepção.


Frohike entra com uma mochila. Baba sentada à mesa lendo o jornal.

FROHIKE: - O Mulder tá aí?

BABA: - Tá e muito ocupado. Ele e Krycek estão há quase uma hora aí dentro de cochicho feito duas comadres saídas da lua de mel. Acho que tem bicho pegando.

FROHIKE: - Vou esperar.

Mulder sai da sala, Krycek atrás dele. Os dois com fisionomias sérias e irritadas.

MULDER: - (IRRITADO)Não tô pra ninguém. Anota recado, não volto mais hoje.

FROHIKE: - Não vai nem me atender?

BABA: - Vai pra casa?

MULDER: -(IRRITADO) Que casa?

Mulder e Krycek saem quase soltando fumaça pelas narinas.

BABA: - Eu, hein? O bicho pegou mesmo! E pelo jeito vai morder!

FROHIKE: - Que tal almoçar comigo? Hum? Eu pago.

BABA: - (DEBOCHADA) Você é o Denzel Washington?

FROHIKE: - Acho que o bicho tá pegando mesmo!


Residência dos Mulder - 12:30 P.M.

Scully termina de dar almoço pra Bryan.

SCULLY: - É lógico que não está com fome, a Ellen entupiu você de bolo! Vem com a mamãe. Vamos ficar sentadinhos no carrinho até o sono aparecer.

Scully pega Bryan e o coloca no carrinho. Krycek entra pela porta dos fundos com um buquê de flores. Scully olha pra ele.

SCULLY: - Deixei almoço pra você, deve estar cansado e com sono... Hum, lindas flores.

KRYCEK: - (SORRI CHARMOSO) São pra você.

Scully fica desconfiada.

SCULLY: - Acha que isso não... Não soa mal?

KRYCEK: - Flores de um amigo pra uma amiga. Você merece, Scully.

Scully pega as flores, culpa visível no rosto.

SCULLY: - Obrigada, Alex... Não precisava.

KRYCEK: - Claro que precisava. Você merece muito. No teatro costumamos dar flores para as atrizes que desempenham otimamente um papel. E você merece o Oscar pela performance.

Scully vira-se e leva a mão à cabeça, nervosa. Krycek tira o TV Guide do bolso traseiro das calças e coloca sobre a mesa. A foto de Jeová estampada na página. Scully arregala os olhos. Krycek sem dizer nada vai pra sala. Scully olha pra revista, pras flores, pra sala e fica confusa.


Residência dos Krycek - 1:11 P.M.

Barbara entra na sala de jantar, sonolenta. Mulder terminando de fazer o almoço.

MULDER: - Dormiu bem?

BARBARA: - Não eu... Eu tive pesadelos a noite toda e saí pra resolver uns problemas de manhã, cheguei e fui cochilar um pouco... Hum, que cheiro delicioso!

MULDER: - Pesadelos? Geralmente pesadelos são problemas ou culpas que levamos pra cama.

BARBARA: - É, eu ando tensa com umas coisinhas.

MULDER: - Sou seu amigo, quer falar sobre os problemas?

BARBARA: - Não. Deixa pra lá.

Mulder coloca um refratário todo decorado na mesa. Barbara fica impressionada.

MULDER: -Quando eu quero fazer alguma coisa, eu capricho com vontade.Vem almoçar.

BARBARA: - Nossa, isso cheira bem! O que é?

MULDER: - Risoto de camarão a la Mulder.

Mulder puxa a cadeira pra Barbara, que senta-se olhando desconfiada pra ele. Mulder senta-se na frente dela. Serve um prato e entrega pra Barbara.

MULDER: - Então, quer falar sobre os problemas?

BARBARA: - Não é nada não.

MULDER: - Tem certeza? (PISCA O OLHO) Sou psicólogo. Posso ser útil. Sou ótimo em ouvir, principalmente confissões de segredinhos sujos.

BARBARA: - Eu não tenho segredinhos sujos. Minha vida é um livro aberto.

MULDER: - Tem certeza? Porque eu sei um segredinho sujo sobre você.

BARBARA: - Que segredo?

MULDER: - Ok, vamos jogar as cartas na mesa. Há dias estou pensando se deveria dizer ou não, mas... Se está preocupada pelo fato de achar que está mentindo pra mim sobre um programa de televisão, saiba que eu sei disso desde o primeiro dia em que pisei nessa casa.

Barbara se engasga e leva o suco à boca.

MULDER: - Então, gostou do arroz?

BARBARA: - (BUSCANDO AR COM AS MÃOS) ...

Mulder sorri pra ela e leva o garfo à boca. Barbara olha assustada pra ele.

BARBARA: - Do que você tá falando?

MULDER: - Do Troca de Maridos.

BARBARA: - Como assim você sabia? Como soube?

Mulder empurra o prato.

MULDER: - Agora, que você confirmou.

Mulder se levanta da mesa. Barbara fecha os olhos, tensa.

MULDER: - Vou arrumar a minha mala e voltar pra casa. Em alguns minutos seu marido vem pra cá. Se resolva com ele, porque eu vou me resolver com a Scully.

Mulder sai. Barbara coloca os cotovelos na mesa e as mãos no rosto.

BARBARA: - Sua burra! Ele jogou! E diplomacia e calma não é coisa do Mulder... (PÂNICO) Isso é ideia de... Ai, meu Deus! Ratoncito descobriu tudo!

Barbara se levanta e pega o celular, apertando uma tecla, tremendo.

BARBARA: - (AO CELULAR/ PÂNICO) Scully, eles já sabem!!!!!


1:47 P.M.

Mulder atravessa a rua com a sua mala, cruzando com Krycek que atravessa com a mala dele. Os dois param no meio da rua. Nancy varrendo a calçada, olhando para eles.

MULDER: - Tenta pegarleve com a sua mulher, ela está chorando desesperada.

KRYCEK: - Tenta pegar leve com a sua. Scully está nervosa. E se lembre, a ideia não foi dela. Depois eu pego a picape.

MULDER: - Depois eu pego o meu carro. Nancy tá olhando pra nós.

KRYCEK: - (IRRITADO) Que se dane! Não provoca, Mulder, que hoje eu não tô pra aguentar essa linguaruda!

MULDER: - (GRITA) Fazendo faxina, Nancy?

NANCY: - (GRITA) Não! Admirando dois sodomitas sem vergonha na cara!

Krycek surta. Vira-se pra Nancy e leva a mão entre as pernas, agarrando as partes íntimas. Mulder arregala os olhos.

KRYCEK: - (GRITA IRRITADO) Vem aqui que vou te mostrar quem é gay!

Nancy corre pra dentro de casa. Mulder começa a rir.

KRYCEK: -(IRRITADO) E você também sai da minha frente, "amorzinho", porque se me chamar de gay, eu soco a sua cara!

MULDER: - (DEBOCHADO) Bissexual pode?

Krycek ergue o dedo médio pra Mulder e vai pra casa dele. Mulder vai pra sua casa, rindo baixinho.


Residência dos Krycek - 1:49 P.M.

Krycek entra pela porta dos fundos com a mala. A mesa ainda servida. Barbara na varanda, de braços cruzados, em pé, de costas e sem conseguir olhar pra trás. Dimi no carrinho, ao ver o pai, abre um sorriso, agitando os braços. Rasputin vem correndo e pulando ao redor de Krycek, que larga a mala e faz carinhos nele.

KRYCEK: - E aí, Rasputin? Hum? Cuidou da casa, camarada?

Rasputin faz festa, latindo e pulando e lambendo Krycek no rosto. Krycek se levanta e vai até o carrinho, pegando Dimi e o erguendo no ar.

KRYCEK: - E aí, carinha? Essa felicidade toda é pro seu pai?

Dimi sorri mordendo as mãozinhas e se babando, soltando sons de bebês. Krycek o abraça, enchendo o filho de beijos.

KRYCEK: - Saudades de você, meu garotão! Nossa, que saudade!

Krycek sacode o filho, o ergue, brinca com ele. Barbara entra, com os braços cruzados, olhos inchados de chorar.

BARBARA: - ... Alex.

KRYCEK: - (SECO) Depois conversamos. Agora tô matando a saudade do meu filho.

Barbara abaixa a cabeça e vai pra sala. Krycek continua brincando com Dimi.


Residência dos Mulder - 1:49 P.M.

[Som: El Pasador - Amada Mia, Amore Mio]

Scully na cozinha, recostada no balcão, mordendo o polegar e nervosa. Mulder entra pela porta dos fundos com a mala. Scully olha pra ele. Mulder larga a mala, sem olhar pra ela. Bryan ao ver o pai dá um grito, se agitando no carrinho, querendo sair. Mulder sorri e faz careta pra ele. Bate palmas, olhando pro filho.

MULDER: - Cadê o Irlandês bagunceiro do papai? Cadê?

Bryan ri alto. Se agita mais ainda. Mulder o pega no colo, Bryan se abraça no pescoço de Mulder, que o beija e o abraça forte.

MULDER: - E aí Campeão? (DEBOCHADO) Sobreviveu entre as fêmeas psicopatas dessa casa e saiu ileso? Hum? Pobre do meu garoto! Seu pai não estava aqui pra defender você, mas agora voltei pra botar ordem nesse galinheiro.

Scully lança um olhar incrédulo de "o quê?". Cruza os braços, encarando Mulder.

SCULLY: - Mulder, eu errei, mas você errou também. Errou por não ter me contado sobre a proposta do Skinner, errou em ter esquecido o celular e eu errei por não ter escutado você na noite do boliche, ter ficado furiosa, ter sido passional e ter feito essa brincadeira de mal gosto.

Mulder solta Bryan no carrinho. Coloca as mãos na cintura e encara Scully.

SCULLY: - Nós dois erramos. Mas admita, foi engraçado no início. Depois perdeu a graça porque envolveu nossos filhos. Eles sentem a sua falta.

MULDER: - Sabe de uma coisa, Scully? Pela primeira vez na sua vida você conseguiu me enganar e tirar sarro da minha cara. E isso não é pra qualquer um! Você conseguiu me sacanear a altura! Você sabia desde o início que era uma armação e se fez de séria naquela sala, bancando a pobre vítima que sofreu uma injustiça, como se tudo fosse real. E eu acreditei! Me senti até culpado pela brincadeira idiota de inscrever você num reality show.

SCULLY: - ... Mas essa experiência serviu pra alguma coisa, pelo menos pra mim, Mulder. Um marido organizado e colaborador como Alex, é muito bom, mas é chato demais viver com alguém que concorda em tudo comigo. Essa casa fica sem vida, comum demais sem você, suas piadas, sua bagunça e eu fico deprimida por não ter com quem brigar, fazer cara feia e implicar. Eu sinto falta de você. Pronto. Falei.

Mulder leva a mão à orelha, num deboche, se fazendo de surdo.

MULDER: - Quê? Não ouvi direito.

SCULLY: - Eu sinto falta de você!

Mulder limpa o ouvido com o dedo.

MULDER: - Pode repetir? Acho que não ouvi.

SCULLY: - (JÁ SE IRRITANDO/ GRITA) Eu sinto a sua falta, Fox Mulder!

MULDER: - A minha falta? Mas eu sou um cachorro, imprestável, bagunceiro, folgado, irônico e maluco.

SCULLY: - ... Mas eu amo você do jeito que você é, Mulder.

Mulder se aproveita da situação.

MULDER: - Hoje eu tô surdo, realmente não estou ouvindo nada. Pode repetir?

Scully fecha os olhos, cerrando os lábios, se contendo pra não voar nele e engolindo o orgulho.

SCULLY: - Eu disse que amo você do jeito que você é! E se me disser que não ouviu, eu vou pegar um cotonete e enfiar no seu ouvido!

MULDER: - Sabe de um coisa? A Barbara é louca demais pra mim. É horrível viver com alguém que compete com você em ironia o tempo inteiro e revidar se torna um esforço cansativo.

SCULLY: - E agora? Como fica essa situação?

MULDER: - Como acha que deve ficar?

SCULLY: - Eu não sei. Me sinto culpada por algumas coisas e vítima em outras. Você merecia um susto e eu também.

MULDER: - Concordo com você. E quer saber?

Mulder a agarra pela cintura, a erguendo.

MULDER: - Faça amor, não faça guerra. Esse é o meu lema.

Mulder começa a beijar o pescoço dela. Scully sorri, envolvendo os braços nele e as pernas.

MULDER: - (ENTRE BEIJOS)Eu tava morrendo de saudades da minha ruiva sacana que resolveu fazer pegadinha comigo. Hum... Meu cheirinho de canela.

SCULLY: - Não tá furioso?

Eles se olham nos olhos.

MULDER: - Até estava, mas quando entrei aqui, vi você, o nosso filho... Quer saber, Scully? A gente se merece!

Os dois riem.

MULDER: - Sem sombra de dúvida, sua baixinha sacana e folgada, a gente se merece!

Eles trocam um beijo, longo.

SCULLY: - Bryan precisa tirar uma soneca.

MULDER: - Ok, vamos tirar uma soneca com o Bryan. Mas eu ainda não perdoei você.

SCULLY: - Não?

MULDER: - (DEBOCHADO) Não. Vamos ter que negociar esse perdão.

Scully ajeita a gola da camisa dele, num sorriso.

SCULLY: - E vai custar muito caro, Mulder? Hum?

MULDER: - Ah vai! Muito caro mesmo, porque Scully, eu tô sofrendo muito!

Scully solta uma gargalhada alta. Se abraça nele.

SCULLY: - Mulder, meu Mulder... Dá pra viver sem você? Nem em sonhos!

MULDER: - Estou preocupado com a Barbara e o Krycek. Acha que eles vão se entender?

SCULLY: - Vão, Mulder. Só que eles ainda não têm a nossa experiência de casal. Eles ainda vão passar por muitas guerras até chegarem ao nosso nível. Maturidade na relação leva tempo. Lembra da gente?

MULDER: - (SORRI) E como esquecer, Scully? Quando olho pra trás e lembro das nossas brigas, os ciúmes doentios, eu só posso rir do quanto éramos doidos!!!

Os dois riem juntos.


Residência dos Krycek - 2:11 P.M.

[Som: El Pasador - Amada Mia, Amore Mio]

No quarto, Barbara sentada na cama, segurando um lencinho. Krycek entra sério.

KRYCEK: - Só vim direto pra casa por causa da saudade que eu estava do Dimi. Pensei em voltar pro meu depósito, dormir lá e ir pra delegacia e só vir aqui amanhã cedo.

BARBARA: - ...

KRYCEK: - Eu estou furioso, tá? E tenho todo o direito de estar assim! Isso que você fez não tem nome! Fiquei três dias longe do meu filho por uma brincadeira idiota sua! Eu sou tão ruim assim pra você? Ahn? Espero que tenha adorado ter outro marido!

BARBARA: - (RAIVA) É, adorei! Adorei ter o Mulder como marido! A gente bagunça junto, se provoca e se instiga o tempo todo! Mulder desconhece cestinhos de organização, roupas no cabide e abridores de lata na gaveta! E pra meu azar, ele não caiu nas minhas investidas porque eu estava doida pra dar pra ele!

Barbara se levanta furiosa.

BARBARA: - Você banca o adulto, mas faz a infantilidade de não me ligar avisando que se atrasaria, me deixando aqui com o coração na mão, achando que o Sindicato tinha matado você!

KRYCEK: - Não vem falar de infantilidade quando você arma um circo desse tamanho por causa de um atraso!

BARBARA: -E quem começou? Ahn? Dormiu na rua e resolveu nos inscrever num reality show por pirraça? Queria me trocar por uma mulher melhor? Eu só revidei dando a mulher dos seus sonhos!

KRYCEK: -Scully não é a mulher dos meus sonhos, nem de longe! E eu não queria trocar você, queria é que você convivesse com outro pra aprender a dar valor pra esse idiota aqui!

BARBARA: -Nem vem, Alex Krycek! Scully é sim a mulher dos seus sonhos! Organizada e perfeita! E magrinha... Vocês dois juntos deve ser um tédio! Broxante, eu diria! Mas você gosta de rotina e tédio, então pode voltar pra casa da frente e tentar se incluir, vai que vire um triângulo novamente. Aviso: você vai perder! Ah, mas acho que você já sabe disso por experiência!

KRYCEK: -Isso foi cruel e infantil, sabia?

BARBARA: -É, eu sou cruel, sou infantil e mais um monte de coisas falhas porque eu não sou perfeita, senhor perfeito! Eu sou humana, passional e louca!

KRYCEK: -Eu sei! E eu não sou perfeito, muito pelo contrário. E se minha mania de organização incomoda você, daqui pra frente deixo essa casa virar um chiqueiro, não tô nem aí!

BARBARA: -Tá me chamando de porca? É isso? Eu não sou porca, eu limpo tudo aqui! Eu sou bagunceira, isso eu sei! Mas eu tento ser esposa, mãe e jornalista! Tento tudo isso ao mesmo tempo, em horários insanos, só pra acompanhar o trabalho do meu marido e poder ter tempo pra ele quando ele está em casa! Mas não, Scully é melhor. Vai pra Scully e me deixa em paz!

KRYCEK: -Não vai inverter o jogo! Eu não disse que Scully é melhor e nem chamei você de porca! Você é louca de pedra, bagunceira, doidinha e vive nas nuvens, essa é a verdade e você sabe disso. Porca... Eu nunca chamaria você de porca!

BARBARA: -Por que não? Tô engordando feito uma! Melhor você ir embora agora porque está furioso comigo, do que ir embora daqui à um tempo porque me despreza como mulher.

Barbara começa a chorar. Se atira na cama. Krycek suspira.

KRYCEK: - Tá vendo como você desvirtua totalmente o assunto? Como você liga o ponto A ao Z, faz um enrosco todo no que devia ser uma reta e acaba sofrendo com isso? Você é passional como o Mulder, vocês vivem de encrenca e também é exagerada como a Scully, já sai tirando conclusões antes do cara abrir a boca! Não era mais fácil ter me ouvido aquele dia em que cheguei tarde? Não, me atirou um tamanco na cabeça, pegou a frigideira e me botou pra correr antes que eu pudesse me defender!

BARBARA: -Eu estava nervosa e errei, tá certo? E você errou também! Dá pra admitir?

KRYCEK: -Eu admito, não estou negando que esqueci o celular no carro porque estava concentrado em ouvir e aconselhar o Mulder e me esqueci de que deveria me preocupar também com a minha mulher! Errei sim. Você errou, eu errei. Nós dois erramos. E agora isso é motivo pra divórcio? Caramba, Barbara, se a cada briga que um casal tem for motivo pra divórcio, ninguém mais vai viver casado!

BARBARA: -Não vai embora?

KRYCEK: -Eu não disse que ia embora. Você quem disse! Quer que eu vá? Não tá satisfeita comigo? Eu vou de coração doendo e sofrendo, mas eu vou por amar você e respeitar o seu direito de ser feliz.

BARBARA: -(CHORANDO) Não vai mesmo?

KRYCEK: -Não. Precisa mais do que isso pra me colocar pra fora daqui. Talvez um reality trancado numa casa, sozinho com o Mulder por um mês, me torrando a paciência, fazendo bagunça e me chamando de amorzinho. Isso sim me faria pedir o divórcio pra você.

BARBARA: -(CHORANDO) Me perdoa?

KRYCEK: -Eu queria esganar você, sabia? Saí da agência com o Mulder e a gente veio quente pra cá, os dois doidinhos, eu mais ainda. Aí começamos a falar sobre vocês e por fim achamos graça desse plano maluco das duas. Tivemos que admitir que casamos com mulheres inteligentes, que respondem à altura. E se brigam com a gente, é porque nos amam de verdade, se preocupam e querem que a gente cresça.

BARBARA: -Você me perdoa?

KRYCEK: -Barbara, quem sou eu pra não perdoar? Foi pelo perdão que recebi, que sou quem sou hoje e tenho você e aquele garoto lindo cochilando no quarto dele. Me perdoa você. Eu vou ser menos chato.

BARBARA: - Eu gosto que seja chato. Gosto da sua organização. Eu gosto de encher o seu saco por isso. Você fica bravo e aí a piada fica mais engraçada, porque você é muito sério e isso me faz rir. Eu sou moleca, cabeça de vento e bagunceira. Mas eu te amo como você é. E não quero outro marido não, eu tenho o melhor. Ele faz comidinha gostosa pra mim, me esquenta na cama, me traz presentinho e me atura!

KRYCEK: -Nem eu quero outra mulher. Eu tenho a melhor. Eu amo você pelo que você é, do jeito que é. E para por favor com essa coisa de "estou gorda" e ficar se apertando com corpetes, essas neuras suas. Eu não ligo pra medidas, estrias, celulites, eu não me casei com uma atriz de filme pornô plastificada pra garoto acreditar que aquilo é mulher, eu sou um homem e me casei com uma mulher de verdade. Com um ser humano, que assim como eu, vai ficar velha também. Você acabou de me dar um filho, uma coisa que sequer eu pensava ter algum dia. Então, tudo que existe no seu corpo são impressões de momentos e experiências da vida. Eu amo você, sua vida e essas marcas, ok? O que importa não é o corpo, o que importa é o que você tem dentro do seu coração, a sua alma. O resto o tempo envelhece e por fim a terra leva.

BARBARA: -Tá dizendo isso pra me agradar?

KRYCEK: -Não. Tô dizendo isso pra garantir que quando eu ficar velho, o que vai acontecer antes de você, para que se lembre disso antes de me dar um pé na bunda e arrumar um garotão da sua idade. Olha pra mim, Barbara! Eu tenho cicatrizes no peito, na cabeça, nas costas, nos braços, já levei tiros e facadas e você se achando feia?

Barbara sorri. Krycek se deita na cama, ao lado dela. Fecha os olhos.

KRYCEK: - Malyshka... Me chama de Ratoncito, vai. Eu tô com saudade do Ratoncito.

BARBARA: - (SORRI)Meu Ratoncito.

Krycek sorri. Barbara deita a cabeça no peito dele. Ele a envolve nos braços. Barbara fecha os olhos.

BARBARA: -A gente se merece, Ratoncito.

KRYCEK: -É. A gente se merece, Malyshka... Precisamos conversar sobre nossos trabalhos. Não tá dando mais. Saio eu do turno da noite ou sai você. Dimi precisa de rotina de gente normal.

BARBARA: - Eu só tenho que entrar ao vivo às nove da noite, de resto, posso mudar meu horário de escrever as matérias. Ruim é que quando você for dormir, eu estarei acordando. Vamos ter menos momentos juntos.

KRYCEK: - A gente aguenta. É por uma boa causa. E tem as minhas folgas um final de semana sim e outro não.

Dimi começa a chorar. Os dois riem.

KRYCEK: -Faz parte.

BARBARA: -Faz.

KRYCEK: - (SORRI) Eu gosto. Quero outro.

BARBARA: -(SORRI) A gente tem que praticar.

KRYCEK: -Sem problema. Mas pode ser depois? Eu virei a noite, cobri hora do Chambers de manhã e até agora não preguei o olho e tenho que voltar pra delegacia às seis.

BARBARA: - Me contento com uma rapidinha hoje e uma bem gostosa e demorada amanhã cedo, quando você chegar.(SACANA) Só uma pergunta, Ratoncito: Você gosta da mulher gato?



X


No quarto, Mulder sai do banheiro só com as calças do pijama.

MULDER: - Ah, nada como dormir na cama da gente e...

Mulder arregala os olhos e abre a boca, incrédulo.

Scully deitada de bruços na cama, mudando os canais no controle remoto. Usando uma calcinha fio dental com um pompom no traseiro, corpete de renda e uma tiara de pelúcia com orelhas de coelho.

Mulder leva a mão ao peito.

MULDER: - Scully, a que horas a gente pode brigar de novo amanhã, hum? Você começa a briga ou eu começo?



16/09/2020

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Fin

Conoce al autor

Lara One As fanfics da L. One são escritas em forma de roteiro adaptado, em episódios e dispostas por temporadas, como uma série de verdade. Uma alternativa shipper à mitologia da série de televisão Arquivo X.

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