Quando comecei a pensar nessa história pela primeira vez, foi excruciante. Ela apareceu na minha cabeça faz anos, mas eu não conseguia avançar muito rápido em descobrir como ela era. Tudo o que eu ganhava eram lapsos tão rápidos de cenas desconexas, e eu não conseguia entender bulhufas do que estava acontecendo na história.
Eu escrevia as cenas quando elas vinham, várias páginas, mas sempre faltava o impulso. O tema, a motivação principal dos personagens, o porquê de eles estarem ali, interagindo.
A montagem da história remete a ela mesma. Fui de pedaço em pedaço caçando pequenos fragmentos de ossos e tentando juntá-los para ter uma peça inteira. Assim como o faz a Trapeira, eu procurava despertar a alma da história, tentava chegar ao crânio falante e fazê-lo me contar tudo.
Foram justamente as duas lendas que seguem essa nota que me ajudaram a conseguir montar meu esqueleto. A primeira eu esbarrei despretensiosamente enquanto lia "mulheres que correm com os lobos", e passei dias extasiada por ter conseguido achar a Trapeira e fazê-la me contar uma história. A segunda me foi contada por uma amiga, e por muito tempo eu neguei que ela fizesse qualquer sentido em relação à história, mas quanto mais eu avançava na montagem do meu esqueleto mais aquela cabeça falante ficava nos meus ombros dando palpites, e tive que, por fim, aceitá-la na família.
Ambas as lendas são verdadeiras, embora se ache pouca coisa sobre elas.
A primeira possui uma fonte mais fidedigna, que pode ser encontrada no livro de Clarissa Pinkola Estés. A segunda apareceu-me escrita em um blog, da mesma maneira como minha amiga me contou, mas não consegui achar nada mais específico.
Dizer que uma lenda é "africana" é tão vago quanto dizer "aquele Fulano de Tal, que tem dois olhos". Sabemos onde fica a África, assim como sabemos que a maioria das pessoas possuem dois olhos, mas, mesmo assim, isso não nos diz nada. Ficaria feliz se alguém que soubesse mais do que eu – o que não é difícil – a respeito da lenda, viesse me dar um pouco de conhecimento.
Coloquei ambas as lendas conforme as achei, sem adaptações, para não as distorcer à minha vontade. Elas se relacionam à história, mas também são histórias por si mesmas, e assim elas têm o direito de ser exatamente como são.
Ambas as lendas são o pano de fundo para a minha história. Como pano de fundo, elas não serão retratadas fielmente no desenvolvimento da narrativa. Elas serão como o vento que sussurra ao pé do ouvido quando você está caminhando sozinho. Serão como o clima que se segue depois do tio fazer uma piada sem graça no natal. Serão como aquela intuição que cutuca a boca do estômago e diz para você fazer isso, não aquilo.
Elas serão como os animais de poder, os guias xamânicos. Sempre ali, mas não exatamente tangíveis.
Espero que isso explique alguma coisa.
Espero que gostem da história!
Carinhosamente, a autora.
Gracias por leer!
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