carolmqs Ana Carolina Marquês

Para Bruno, a vida não merecia mais uma segunda chance. Valentina, sua melhor amiga, estava decidida a fazê-lo mudar de ideia. Por isso, ela lhe faz uma proposta um tanto quanto desafiadora: lhe dar motivos para viver. Seria o desafio suficiente para mudar a vida de Bruno?


Ficción adolescente Sólo para mayores de 18.

#depressão #amizade #drama #superação #borderline #239
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Reflexo

Eu vejo meu reflexo no espelho
Porque estou fazendo isso comigo mesmo?
Perdendo a cabeça por um pequeno erro.
- Who You Are (Jessie J)

❌❌❌❌❌

Vou morrer hoje, decidi pela manhã. Numa bela e nublada segunda-feira. Não quero algo trágico demais, que choque a todos, só quero morrer. Uma morte indolor, se possível. O reflexo que vejo no espelho é como me sinto: uma casca pálida, de olheiras profundas e ações automáticas. Vazio, sem alma. Acorde. Escove os dentes. Coma. Bom dia. Vá para aula. Boa tarde. Vá para casa. Tome banho. Jante. Boa noite. Durma. Acorde...

Me sinto como um robô obrigado a obedecer às leis da vida, tentando ser normal, tentando sobreviver. Não me entenda mal, a vida não é ruim, ela só não faz sentido para mim. Na escrivaninha onde estou, há dois papéis manchados de café; minhas mãos tremem um pouco enquanto começo mais um. Todos são os "famosos" bilhetes suicidas, uma forma de nos sentirmos menos egoístas e confortar um poucos os que ficarão. Quando alguém se mata, na maioria das vezes, deixa um desse para tentar aliviar a dor causada como se palavras de conforto servissem nesse momento.

Mais uma vez a caneta pesa entre meus dedos. Respiro fundo, dessa vez preciso ir até o fim. Os tremores também estão nas minhas pernas e o melhor que posso fazer é levantar e me concentrar, antes que tenha alguma crise de ansiedade e estrague tudo. É estranho olhar o quarto agora; ele parece de um estranho, com seus pôsteres de bandas indies pendurados em quase todas as paredes, as várias coleções de CD's e Vinis perfeitamente catalogados na estante perto do guarda-roupa, e próximo a escrivaninha, um violão. Apesar de ser visível o pó acumulado sobre ele, passo os dedos pelo instrumento. Algumas cordas estão soltas e com certeza ele deve estar desafinado. Nada disso é mais o quem eu sou. A música, as fotos e até mesmo os pincéis espalhados são de um estranho que se foi a muito tempo.

A única coisa desse quarto que ainda é minha é o mural de fotos, pendurado desajeitado e torto na parede bem em frente minha cama. Foi um presente de Valentina feito a mão, que está em quase todas as imagens. Na maioria estamos em algum evento de música fazendo careta e mostrando a língua, a mais antiga é uma no jardim da escola e sorrimos timidamente para a câmera. Minha mãe que tirou essa. Foi nosso primeiro passeio juntos, no meio do ensino fundamental; e onde apresentei as duas. A minha favorita é uma de Val sozinha, tirei enquanto ela pintava as unhas e estava com a cara cheia de máscara verde. Bem escondida entre todas essas lembranças existe a foto da minha família antes de tudo; Carlos no meio abraçando eu e minha mãe enquanto exibe as chaves do carro novo. Val me deu esse mural dizendo que era para ajudar: "Toda vez que estiver triste é só olhar essas fotos e vai melhorar porque vai se lembrar de mim e de como amo você"

Me jogo na cama. A parte mais difícil de partir é magoar quem se ama. E só de pensar que o responsável por achar o corpo será Carlos... Um nó na garganta se forma. Ele está no trabalho agora, frustrado com o filho que largou os estudos e mal sai do quarto, mas com certeza não se sentirá melhor quando chegar em casa.

E não é só Carlos que vai ficar infeliz. As coisas que consegui escrever até agora não agradarão minha melhor amiga, talvez ela não entenda todos meus segredos e porque os guardei por tanto tempo, mas não é algo que eu possa mudar agora. Não mais. O celular toca tão alto perto de mim que dou um pulo, fico olhando a tela por uns segundos até ter coragem de pegá-lo e meus ouvidos latejam por causa do coração acelerado.

̶ Valentina?

̶ Onde você tá? ̶ Encaro as cicatrizes no meu pulso tentando achar uma resposta que a satisfaça, mas ela não me dá oportunidade. ̶ Espero que esteja no seu quarto, porque eu...

E assim, sem completar a frase, ela entra no quarto. A boca entreaberta segurando o celular centímetros longe das orelhas; os olhos vão direto de mim para os papéis e voltam para mim. Ela já esteve nessa situação antes e sabe o que significam.

̶ O que você pensa que vai fazer?

Ela joga o celular de qualquer jeito na cama e coloca as duas mãos na cintura, as sobrancelhas grossas franzidas e a boca cheia de gloss apertada. Coço a cabeça, não dá para mentir quando se é pego em flagrante.

̶ Você sabe...

Não preciso terminar de falar e nem quero. Valentina solta um grunhido de frustração daqueles que arranha a garganta e vai até a escrivaninha, pegando todos os papéis, inclusive o mais recente. O meu coração, antes acelerado, agora se descompassa. Não quero que ela leia agora.

̶ Bruno, isso vai tudo para o lixo e você vai parar com isso, entendeu?

E como se aquilo não significasse nada ela os rasga em pedacinhos bem na minha frente. Apesar da vontade de impedi-la, lá no fundo eu não me importo tanto assim. Balanço a cabeça que já começa a doer, fecho os olhos e me deixo cair na cama. Ela não tem esse direito de jogar minhas coisas fora, mas...

̶ Por quê ? ̶ Insiste ela.

Sinto a cama afundar ao meu lado e o perfume doce e enjoativo de Valentina piora ainda mais minha cabeça. Não quero ver a decepção no rosto dela, então abro os olhos e foco em uma roupa suja que está jogada no chão.

̶ Porque isso não é para mim. A vida.

Ela ri, sem um pingo de humor na risada.

̶ Voar não é para você. Respirar embaixo d'água não é para você. Mas viver é para você, sim, e não vou admitir que pense o contrário, Bruno.

̶ Isso não é uma escolha sua.

̶ Você tem razão, mas também não é sua. Deixou de ser quando você parou de pensar nas pessoas ao seu redor.

E no fim é sempre sobre isso: quem fica. Ninguém parece se importar com como estou me sentindo e que ficaria melhor se morrer de uma vez, é tudo sobre como eles ficarão mal porque não conseguem salvar um adolescente deprimido. Não digo nada, porque se disser vai ser pior, e ela também fica em silêncio. Ficamos assim por segundos ou alguns minutos, nenhum de nós conta.

Valentina estala os dedos e começa a mexer nos brincos de argola, ela abre a boca algumas vezes antes de falar, a voz baixa e arrastada com o sotaque mais forte do que o de costume.

̶ Eu também já pensei nisso, em me matar... Mas, e se lá fosse pior? Se existir algo depois de tudo isso?

Minha raiva cede a sua voz chorosa. Não quero mais que ela vá embora nem atacá-la. Eu a abraço pelos ombros e beijo o topo da sua cabeça; em resposta, ela segura minha camisa e enfia o rosto no meu peito.

̶ Não me deixe... ̶ Ela pede em um sussurro e me aperta mais um pouco.

Só de pensar em Valentina se machucando de propósito um arrepio atravessar meu corpo. Ah, se você soubesse como eu quero ter vontade de ficar aqui, mas... Fico parado cheirando seus cabelos.

̶ Tive uma ideia! ̶ Ela diz, se livrando dos meus braços enquanto limpa as lágrimas que escorrem junto com a maquiagem pesada. ̶ E se eu te der novos motivos para viver?

̶ Você o quê?

Quase não consigo a acompanhar enquanto começa a andar de um lado para o outro do quarto, hora balbuciando frases que não escuto direito, hora rindo. Quando ela para, está com um sorriso enorme no rosto, do jeito que faz todos seus dentes aparecerem e suas bochechas grandes ficam ainda maiores.

̶ Vou te dar motivos para não dizer adeus.

̶ E como exatamente vai fazer isso?

Como alguém pode me dar bons motivos para continuar aqui depois de tudo? E como alguém se acha capaz de mudar alguém assim? O controle que ela acha ter sobre mim me incomoda, mas, mesmo assim, não digo nada. Não quero estragar sua felicidade, mesmo que nada possa mudar o que sinto.

A garota batuca nos lábios com a ponta dos dedos por uns instantes, tentando formular um plano, mas logo desiste. Ela se joga ao meu lado de novo. suspirando.

̶ Ainda não sei, mas vou descobrir... certo?

Agora ela morde os lábios até arrancar a pelinha deles; e a ver assim... Ficar ao lado de Valentina me deixa em estado de alerta, totalmente confuso.

̶ Não sei...

̶ Por favor, Bruno... Me dá essa chance.

Como posso dar isso a ela? Quando falhar, e nós dois sabemos que isso vai acontecer, as coisas só serão mais difíceis de aceitar... Ela segura e aperta minha mão, e dentro do vazio no meu peito, algo acontece. Em algum lugar, bem lá no fundo, existe um sentimento mais forte e puro que toda a minha confusão; não sei decifrar se é bom ou ruim. É diferente, algo para preencher o vazio, e isso basta para mim. Por isso, mesmo sabendo que me arrependerei deixo as palavras saírem num sopro:

̶ Tudo bem, mas se nada der certo...

̶ Obrigada! Não vou deixar você ir embora para sempre sem lutar.

O arrependimento é instantâneo. Será que ela diria isso se tivesse lido tudo que escrevi sobre ela... sobre nós?

❌❌❌❌❌❌

Oi gente! Bom, eu espero muito que vocês gostem desse livro, porque ele é o mais íntimo de mim, se você se identifica com o Bruno, por favor, fale comigo ou com alguém próximo de você. Procure ajuda, não está sozinho nessa e nem precisa estar. Você vale a pena!

Espero que tenham gostado desse pequeno capítulo e que continuem acompanhando. Qualquer sugestão ou crítica construtivaserá aceita de todo coração, obrigada por tirar um tempinho e ler o que escrevi.

🎃💚

17 de Agosto de 2020 a las 12:28 4 Reporte Insertar Seguir historia
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𝓘𝓼𝓪𝓫𝓮𝓵𝓵𝓮 𝓢𝓸𝓾𝔃𝓪 𝓸𝓯𝓬
𝓘𝓼𝓪𝓫𝓮𝓵𝓵𝓮 𝓢𝓸𝓾𝔃𝓪 𝓸𝓯𝓬
Aí meu deus! Uma vontade de chorar logo no primeiro capítulo! A gente já vê de cara que é história de qualidade! Tô começando a shippar Vitória e Bruno! Já vejo que Vitória vai ser um dos motivos para ele viver
October 19, 2022, 14:12
Bd Beatriz da Silva
essa história é simplesmente.. É tão boa q eu nem consigo esplicar, é incrivel
October 03, 2022, 23:17
faithcookiekaneda. faithcookiekaneda.
Está maravilindo
November 15, 2020, 23:21
Milena dos Milena dos
Boom
September 13, 2020, 21:16
~

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