rareri39 Rafa Ribeiro

Uma história inacabada de alguém despreparado para se tornar um X-man goiano.


Cuento Todo público.

#poderes #universidade #341 #343 #332
Cuento corto
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Kronos e Hipnos

As coisas mais estranhas acontecem nas menores cidades, e nem sempre nos Estados Unidos.

Me chamo Samanta e moro numa cidade pequena em Goiás, estado brasileiro conhecido pela música sertaneja, fazendas e pela Cora Coralina.

Como todos, tenho grandes aspirações, mas nem tão grandes oportunidades ou força de vontade, então estou fazendo um curso mediano numa faculdade mediana local, o que, inclusive, me deixa um pouco para baixo às vezes.

Não sou um ícone na faculdade e como um bom aluno preguiçoso, não suporto quem é assim, a não ser em época de prova. Toni e sua turminha são desses.

Um aluno exemplar, que sai para beber com professores no fim de semana e não deixa de marcar presença em um Inter, um daqueles que vai passar em concurso público de primeira ou abrir a própria empresa porque o pai vai dar todo o dinheiro.

Antes eu só tinha nojo de longe, mas ultimamente ele parece estar prestando atenção em mim, de um jeito ruim. Se inscreve para os mesmos projetos de extensão que eu e sempre dá um jeito de interferir nas minhas apresentações ou áreas de pesquisa, como se estivesse doido para me fazer sentir uma aluna pior do que já sei que sou.

_ Talvez seja paranoia, eu sei. Como eu ofereceria perigo para ele? - comentei com Bárbara - Mas minha cabeça não consegue convencer meus sentidos disso.

_ Quem sabe ele esteja interessado?

Olhei para Bárbara com incredulidade.

Eu definitivamente não era o tipo do Toni. E não estou dizendo isso como uma excluída de um colegial norte americano que sempre acaba com o atleta popular no fim (elas dizem que não fazem o tipo deles, mas vocês já viram algum garoto popular realmente ficar com a menina popular no filme?), estamos numa faculdade no Brasil, e aqui as coisas são menos grosseiras e mais bem definidas.

Toni era o raro, mas caricato, branquelo filho de papai. Tinha olhos claros, corpo esbelto e um cabelo quase branco, encaracolado como o de um anjo, faz resenhas em casa, leva os veteranos para os melhores bares da cidade e não transa com meninas do mesmo ano. Eu era a parda do grupo de estudos sociais que pintava o cabelo e desenhava cartum no fichário, sem interesse em latifundiários e bolsominions disfarçados de comunistas. Em resumo, mundos diferentes, línguas diferentes, espécies diferentes.

Mas eu descobriria em breve o porquê do interesse repentino.

Depois de uma noite muito esquisita em casa, (minha chave de energia caíra no meio de uma briga com Bárbara no celular carregando e o eletricista dissera que a carga poderosa e misteriosa destruíra a fiação inteira do apartamento, mas por algum motivo não causara nada de dano a mim), um cansaço físico e psicológico anormal e uma péssima noite de sono, a faculdade era o último lugar para o qual eu queria ir, mas o seminário estava marcado há um mês e nenhum dos meus eletrônicos estava funcionando para eu poder avisar o professor do imprevisto.

Pus minha jaqueta sobre a roupa mais descuidada que nunca, coloquei os papéis com as anotações dentro do fichário e me despedi do meu pai comendo misto frio na cozinha.

Passei a manhã toda evitando encarar Bárbara e Gustavo.

Minha energia caíra antes de resolver as coisas na noite anterior, mas eu não estava com cabeça para discutir. Os dois estavam namorando há dois meses, o que significava que nosso trio já era. Eu havia sido bem paciente no início porque sabia como era início de namoro, mas eles estavam parecendo crianças; não sabiam diferenciar o tempo com os amigos do tempo juntos e me deixavam de lado sem hesitar sempre que podiam.

É claro que eu fora a primeira a encorajar que ficassem juntos, mas não sabia que não estavam prontos e não eram capazes de equilibrar as coisas. Se queriam ficar sozinhos, então ficariam sozinhos, eu não tinha mais nada para discutir.

Depois do seminário, Toni esbarrou em mim na porta e abriu um sorriso esquisito.

_ Muito bom, Samanta. Eu sabia que você tinha potencial. Nos vemos por aí.

Pisquei, tive a impressão que ele não estava elogiando meu seminário, mas então, do que estava falando?

Enquanto me encaminhava para o restaurante universitário vi Bárbara e Gustavo e praguejei baixo quando percebi que estavam me procurando com os olhos. Caminhei um pouco mais rápido e emparelhei com um garoto alto e negro de óculos.

_ Oi? - ele me olhou, confuso. Sorri de lado.

_ Oi, e-eu… - olhei para trás no momento em que me perceberam e desviei os olhos rápido - Você se importa se eu me sentar com você? Estou tentando despistar umas pessoas.

O menino riu, divertido. Tinha um sorriso muito bonito.

_ Não me importo, desde que não tenha que ligar para a polícia para te denunciar se descobrir que é uma fugitiva…

Também tive que sorrir com a frase, surpresa.

_ Eu não te pediria para fazer isso.

_ Tenho certeza que não.

Sorrimos um para o outro e eu senti meu rosto esquentando enquanto mostrávamos nossas carteirinhas e entrávamos no restaurante.

Conversamos um pouco e tanto Bárbara quanto Gustavo ficaram longe de mim.

_ Quem está evitando? Posso saber? - perguntou enquanto saíamos - É algum coronel? Matador?

_ Não. - paramos num quiosque e nos sentamos enquanto Gil (o garoto que eu acompanhara no almoço) pedia um café. Pus minha jaqueta no banco alto - Meus amigos começaram a namorar e querem ficar sozinhos, mas são péssimos em fingir que não. Não quero ser vela - toquei na máquina de café, distraída - e não quero brigar, minha semana não está muito boa.

Para confirmar minha frase com um aspecto dramático, como numa série barata, a máquina em que eu estava tocando fez um barulho e começou a soltar fumaça depois de desligar. Afastei minha mão, rápido, estranhamente fraca.

_ Ei, menina! - o atendente arqueou as sobrancelhas - O que você fez?

Todos os olhares se voltaram para mim imediatamente, inclusive o de Bárbara, Gustavo, Toni e o de uma menina que estava com ele. Pisquei e meu coração acelerou. Aquilo de novo?

_ E-eu, não sei. - fitei Gil, que estava surpreso e depois a máquina - Eu só toquei nela…

_ Então não toque mais! - o atendente grunhiu, batendo na minha mão para afastá-la - Saia daqui já.

Morrendo de vergonha e com a cabeça girando levantei-me e saí, andando pelo corredor com pressa. Gil me alcançou.

_ Como fez aquilo?

_Eu já disse que não sei, ok?! Eu só encostei na máquina por alguns segundos…

_ Mas já tinha feito algo parecido antes?

_ Não, eu… - estaquei no lugar e meu coração falhou uma batida - Na noite passada a fiação da minha casa toda queimou enquanto eu mexia no celular. - encarei Gil, assustada - Ele estava carregando e eu não me machuquei nem senti nada.

_ Talvez você tenha causado o curto. - o rosto dele se iluminou. Franzi o cenho.

_ Está dizendo que sou o Super Choque? - soltei uma risada amarela, a maioria das pessoas já perdera o interesse e voltara a suas próprias atividades - Acho que não. Essas coisas não existem, devem ter sido coincidências em uma semana realmente ruim.

_ Não acho. Eu também posso fazer.

Parei de novo e arregalei os olhos para ele.

_ O quê? Você também destrói aparelhos eletrodomésticos?

_ Não. - Gil chegou mais perto. Senti o cheiro de café forte no hálito dele e tentei não olhar muito para sua boca - Presta atenção na faca que está na mão do atendente.

Gil fechou os olhos e eu precisei de um pouco de força de vontade extra para migrar minha atenção dele para o cara do café, que agora lutava, assustado, com a faca de manteiga descontrolada que tentava se desvencilhar dele Deus sabe para quê.

Eu teria sorrido se não fosse tão assustador. Encarei Gilberto enquanto ele abria os olhos.

_ Devo te chamar de Eleven ou de Jean-Grey?

Gilberto sorriu.

_ Talvez você seja um de nós, nem acredito que encontramos mais uma - ele parecia animado enquanto voltava a caminhar - conheço outras pessoas assim, posso te apresentar.

_ Vocês são super-heróis? Vamos fazer uma força tarefa para salvar Goiás do Rei do Gado, do fantasma da Tereza Bicuda ou alguma coisa assim?

_ Não. - Gilberto sorriu - Ninguém precisa disso aqui. Somos mais um grupo feito para nos ajudarmos. Como você viu, passamos por algumas situações complicadas às vezes.

Logo depois de aceitar conhecer essas outras pessoas estranhas e pegar o telefone de Gil, (eu não queria pensar que tinha poderes ou qualquer coisa assim, achava mesmo que precisava mais de ajuda do que a que eu poderia dar) percebi que esquecera minha jaqueta preferida na cafeteria e voltei correndo para buscar antes de seguir Gil. Foi então que as coisas ficaram esquisitas.

Quando me virei para voltar com a jaqueta na mão, percebi que ninguém estava se movendo ou falando. Alguém tinha dado pause na cena e só eu parecia estar imune.

_ Mas que merd…

No fim do corredor um homem alto e louro de blazer cinza começou a vir na minha direção com muita calma e uma expressão indiferente.

_ Hum, o senhor sabe o que está acontecendo aqui?

_ Sei.

Mas não se explicou, continuou andando na minha direção. Olhei em volta, tensa.

De repente algumas pessoas começaram a se mexer. Toni foi o primeiro, em seguida seus amigos, um a um, Gil um pouco à minha frente e por último a menina com quem Toni estava conversando. O menino louro virou-se para mim de longe e deu um meigo sorriso misterioso antes de voltar-se para a menina outra vez, que parecia confusa.

Arqueei as sobrancelhas para o senhor de terno enquanto ele parava na minha frente com os braços nas costas:

_ Quem é você?

_ Pode me chamar de Kronos. Vim oferecer a vocês minha academia.

Gil caminhou de volta, passando por ele, até me alcançar. Pendurei a jaqueta na mochila para ficar com as mãos livres.

_ Oferecer? - perguntou Gilberto, desconfiado.

_ Vocês têm talento, meu Toni viu. - Kronos apontou Toni, que acenou para nós com a mão no ombro da menina e seus amigos de braços cruzados dos seus lados - Podem ser muito úteis para sua comunidade, se receberem treinamento e forem acolhidos do jeito certo.

_ Não estou afim de me matricular no seu instituto, Professor Xavier, - balancei a cabeça - ou Magneto, seja lá qual for o seu propósito.

_ Tudo bem. - ele começou a se afastar - Mas pense bem na minha proposta, Samanta. Ela não costuma ser recusada 2 vezes.

Um rugido alto veio do canto do pátio chamando toda a atenção. Um enorme urso pardo se erguia nas duas patas no lugar onde antes estivera a menina que conversava com Toni, cujos olhos estavam brilhando sem pupilas, como o do urso.

Agarrei a mão de Gil enquanto o urso corria na nossa direção com toda a velocidade, rugindo e ignorando as pessoas ao nosso redor, que continuavam paradas no tempo.

Fechei os olhos com força, sem saber o que fazer e o rugido ficou distante. Abri os olhos, ofegante e me sentei na cama, aliviada, bocejando e afastando a coberta. Peguei meu celular na cabeceira (desligado? Sem bateria?) e percebi dois papéis saindo do bolso da minha jaqueta, com números de telefone, um com o nome de Gil e o outro sem nome.

15 de Agosto de 2020 a las 20:50 0 Reporte Insertar Seguir historia
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