Aquela era uma casa velha, talvez, em seus tempos áureos tivesse sido lar de uma família, lar de sonhos, felicidade e tudo o que se espera de uma casa, mas ela já não era nada daquilo. Ouso dizer que nem mesmo a mais vaga lembrança de felicidade existia mais ali, não, tudo o que restava era abandono, uma densa e alta vegetação e ruínas que tinha um forte odor de mofo que tornava difícil respirar, até mesmo o próprio ar parecia toxico e carregado. O lugar estava localizado longe o suficiente de qualquer sinal de vida, e até mesmo as pessoas não costumavam passar por perto dela. Seja devido ao seu mal aspecto ou boatos de que talvez espíritos do que um dia viveram nela ainda estivessem ali para afugentar curiosos, com certeza aquela velha casa emitia muito mais que mal agouro, não iria vir ninguém por eles.
Não, a ajuda não iria chegar, ninguém sabia onde eles estavam, ninguém iria entrar naquele lugar por eles, ninguém iria salva-los, todo e qualquer sentimento de expectativa foi desaparecendo com o passar do tempo. Àquela altura, a esperança já os havia abandonado.
A noite estava fria, uma gélida e mórbida escuridão repousava sobre aquele fantasmagórico lugar e nem mesmo as estrelas brilhavam naquele lugar imundo, como se a luz se recusasse a entrar ali. Ratos costumavam passar por ali com certa frequência, volta e meia caminhavam perto dos cativos, sem medo, eles estavam ali por tempo demais para soarem como inimigos. O som de seus pequenos passos, e ruídos que eles faziam era o único som que havia ali, além da respiração ofegante de seus novos habitantes. Aquele local era quase como uma ruína morta e desolada, uma cripta, uma tumba, se não fossem, talvez, pela presença de duas pessoas, um rapaz gordinho e uma moça magra demais, amarrados uma de costas para o outro à espera do inevitável. Eles estavam feridos e presos, como animais que esperam a hora do abate, sem esperanças e fracos de mais para sequer fazer algo além de respirar e choramingar.
Mesmo depois de lutarem contra seus algozes eles foram tão facilmente dominados e subjugados que todo e qualquer esforço de escapar havia se tornado inútil, talvez por que o peso da traição os tivessem aleijado, ou quem sabe eles não fossem tão fortes o suficiente. Como pássaros numa gaiola, seja lá quem fosse que os havia feito cativo, não tinha intenção de os manter bem, ou vivos por muito tempo....
Já estavam ali há quanto tempo? Talvez dois ou três dias, ou quem sabe mais, seus olhos estavam vendados o que dificultava obter alguma noção de tempo, a temperatura constantemente fria e úmida tornava o clima ainda mais espectral, exaurindo suas forças.
Nada daquilo deveria acontecer, nada daquilo era certo!
Sequestro, tortura, qual era o proposito disso? Pensou a moça, a única acordada até então, que entre desmaios de desidratação buscava se manter lúcida, revirando em sua mente tudo o que havia lhes trazido até ali. Não fazia muito tempo, eles haviam sido enviados em uma missão comum de reconhecimento, para investigar um traço de energia suspeito que havia aparecido no mapa celeste. Tudo aconteceu de repente e sem sinal de gatilho e agora tudo estava pálido, quieto e fúnebre, eles nem perceberam que estavam numa armadilha até que fosse tarde demais. Ela tentava incansavelmente buscar em sua mente algo que pudesse explicar aquele ato, era a única coisa que lhe cabia fazer àquela altura, talvez alguma pista em suas memórias, mas a dor lancinante do ferimento de sua cabeça a impedia de pensar. Uma sensação de abandono e impotência a invadia, ela não poderia fazer nada.... Não iria poder se salvar ou salvar seu colega, um estranho aperto na garganta lhe dizia que aquilo estava longe de acabar....
Foi então que ele ouviu passos, vários, mais de uma pessoa caminhava até eles, passos firmes e decididos, seria ajuda? Não, ela estava ali tempo demais para pensar em algo assim, muito embora, no fundo de seu coração ele queria pensar que aquilo seria ajuda ele sabia que ali seria seu final.
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