Eu disse que era assexual,
Ele me perguntou se eu era uma ameba.
Com uma risada alta de ‘você não sabe o que fala.’
Eu observei os carros passarem da janela enquanto ele falava e falava.
Talvez seja uma ameba, um parasita que pode mudar de forma.
Estou sempre mudando de forma, me encaixando em cada espaço que me derem.
Estou lá, até me percebam e me expurguem.
Não é fácil, essa vida de ameba.
“Vem cá, mas me dá um beijo.”
Amebas não beijam.
Amebas observam de longe e se locomovem com seus pseudópodes.
Ameba imagina beijar ele como beijar o espelho de um banheiro,
troca de bactérias e frieza.
“Não, não leve pelo lado pessoal.”
“Vem cá, deixa eu segurar sua mão suada por alguns segundos e fingir que essa noite não é um trem descarrilhado.”
Ameba pensa quem foi a primeira pessoa que teve a ideia de enfiar a língua na garganta da outra.
Deve ter sido uma situação engraçada.
Ameba e ele pediram a conta em um silêncio desconfortável.
Mais um expurgo de uma ameba.
Ao chegar em casa eu tive um pesadelo em que me dividia em duas.
E ela tomava todo o meu café e não me sobrava nada.
Thank you for reading!
É uma coletânea de poemas maravilhosamente sublime. Cada poema tem sua leveza, suas dores, suas fraquezas. A autora sabe exatamente a hora de nós cativar, até parece que percebe a emoção que sentimos ao ler cada verso. Também é muito interessante notar a crescente do eu-lirico entre os poemas, saindo de uma ameba para alguém seguro de si. Com certeza um dos melhores livros de poemas do site.