lara-one Lara One

Existe maior enigma que o amor? A ciência o explica? Como ele começa, onde termina, por que ele acontece? Existem almas gêmeas? Há um destino traçado, ou como diz o dito popular, um pé torto para um chinelo velho? Há como escapar? Conheça um pouco mais sobre os corações de vidas que você desconhecia. Porque Mulder vai tocar cada uma delas...


Fanfiction Series/Doramas/Soap Operas For over 18 only.

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S06#15 - LOVE STUFFS


INTRODUÇÃO AO EPISÓDIO:

Fade in.

[Som: Bee Gees - How Can You Mend a Broken Heart]

Tela abre num parque. Dia de sol. Início de primavera.

Crianças que correm pela grama. Pássaros cantando. Casais passeiam de mãos dadas. O banco de cor branca. Atrás dele, arbustos de flores lilás.

Mulder sentado no banco, de terno e gravata, observa as pessoas, segurando um jornal. Olhar em Victoria, que corre atrás de Cookie, tropeça na grama, se levanta e corre de novo, rindo alto. Curiosa, corre atrás de borboletas, analisa as flores, se distrai com as outras crianças que brincam. Mulder sorri. Apoia os braços sobre as pernas, observando a filha.

As três velhinhas se aproximam. A Velhinha #1 senta-se no banco. Mulder afasta-se cedendo lugar pra elas, ficando na ponta do banco. Entre todas, Mulder olha para a Velhinha #3 que lhe chama atenção. Ela sorri feliz pra Mulder. Mulder lhe sorri num gesto de simpatia. A Velhinha #3 senta-se ao lado dele. A Velhinha #2 senta-se entre as outras duas. Mulder volta a atenção para Victoria.

MULDER (OFF): - As pessoas me dizem para seguir adiante. Para viver. Estou vivendo dos meus restos, das minhas lembranças... Eu não quero mais ter alguém ao meu lado. Eu tive tudo com você, como poderei me acostumar com outra mulher? Acho que perdi a inocência que eu tinha, aquele brilho nos olhos... Eu não acredito mais no amor.

A Velhinha #1 puxa o tricô da sacola, admirando empolgada a cor vermelha da linha.

VELHINHA #1: - Essa cor me atrai. Não acham a coisa mais linda?

VELHINHA #3: - Sim. Acho. Pena que logo você trocará o vermelho pelo azul, por ser novidade. E depois o azul pelo amarelo e assim sempre. Você nunca se atém a uma coisa só.

A Velhinha #2 retira pipocas da bolsa e atira apenas um punhado para os pombos. Mulder as observa, curioso.

VELHINHA #3: - Por que só isso, sua sovina?

VELHINHA #2: - Não é o suficiente?

VELHINHA #3: - Não. Poderia atirar mais. Mas você e sua mania de tudo ser rápido, pouco e passageiro.

VELHINHA #2: - Vamos continuar o que falávamos. Sobre o que vocês falaram eu tenho a certeza absoluta de que eu nunca faria isso. Não sou volúvel.

VELHINHA #3: - Você? Claro que faria isso! Você fica tremendo suas pernas, admita, quando vê duas pessoas juntas que chega a suspirar.

Mulder disfarça o riso, virando o rosto pro lado.

VELHINHA #1: - Ela faria sim. Sei que você faria. Admita pra você mesma, que você é completamente pele.

VELHINHA #2: - Quem é você pra dizer que sou completamente pele? E você que se incendeia toda pela aparência?

Mulder abaixa a cabeça, rindo, incrédulo. A Velhinha #3, sentada ao lado de Mulder, boceja.

VELHINHA #3: - Vocês duas me cansam! São volúveis. Comigo tudo é eterno. Tudo é questão de uma eterna descoberta, de trabalho árduo, de aprendizagem. Nada é passageiro ou apenas sedução momentânea.

VELHINHA #1: - Você está por fora!

VELHINHA #2: - Completamente desatualizada! É muito melhor você se entregar por causa de um momento.

VELHINHA #1: - Não. Por causa da atração.

VELHINHA #3: - Nunca! O durável e eterno sempre é o que todos querem.

VELHINHA #1: - Acha que as pessoas querem relacionamentos duradouros? Não mesmo! Elas querem apenas sexo. Atração.

VELHINHA #2: - Não exagere. Algum tempo juntos é bom. Depois cansa. É isso o que as pessoas querem. Fugacidade.

VELHINHA #3: - Não. Elas não querem isso. Elas querem ser dois. A eternidade. O que é estável, duradouro. Pode ser mais difícil, mas é o que elas querem. Apostam?

A Velhinha #3 vira-se pra Mulder.

VELHINHA #3: - Meu rapaz, diga a mim o que interessa ao seu coração: desejo, paixão ou amor?

MULDER: - ... Bem... Acho que pode haver todos os três no amor.

VELHINHA #3: - (CONVENCIDA) Viram?

MULDER: - Pena que eu não acredite mais no amor. Suas amigas têm razão.

As velhinhas #1 e #2 começam a rir. A Velhinha #3 olha pra Mulder, o censurando.

VELHINHA #3: - Como diz isso?

MULDER: - Devo ter motivos pra dizer isso, vovó.

As velhinhas #1 e #2 se levantam e saem rindo alto. A Velhinha #3 olha pra Mulder.

VELHINHA #3: - Por que me deu lugar a seu lado neste banco, meu jovem?

MULDER: - Porque sou educado.

VELHINHA #3: - Tem certeza? Ou me deixou sentar ao seu lado porque simpatizou comigo mais do que com aquelas outras duas desmioladas? Por que você sorriu pra mim, me convidando a sentar ao seu lado?

MULDER: - (INCRÉDULO) Vovó, não está pensando que sou um tarado!

VELHINHA #3: - Você acredita no amor. Está sendo rude consigo. Não desista dele, mas entenda que amar não significa que tem que abaixar a cabeça pra tudo. O amor é rebelde. Ele é debochado, ofende a quem não ama e causa inveja em quem deseja. Ele provoca, perturba, instiga. O amor não é algo passivo.

MULDER: - Vovó, estou tentando entender qual é a sua...

VELHINHA #3: - A minha? Vou dizer qual é a minha.

A velhinha põe a mão no ombro de Mulder. Aproxima-se do ouvido dele.

VELHINHA #3: - Me magoou que você tenha dito que não acredita mais no amor, na frente daquelas duas volúveis. Por castigo o amor vai ficar a sua volta por alguns dias. Você vai despertar o amor que as pessoas escondem e temem. E com um simples toque!

Mulder olha incrédulo pra ela. A Velhinha #3 se levanta. Sai caminhando pelo passeio de concreto. Mulder a acompanha com os olhos.

Foco no arbusto florido. Todas as flores caem sobre a única mudinha de amor-perfeito.

VINHETA DE ABERTURA: THE ONLY TRUTH COMES FROM THE HEART



BLOCO 1:

Washington - 8:23 P.M.

Scully, toda produzida, vestido preto, cabelos arrumados, observa o homem sentado com ela à mesa do restaurante chique. Scully sorri, entediada.

HAROLD: - ... Sobre as quedas na bolsa. Você já se perguntou como o mercado anda instável nos últimos anos e esse governo nos prometeu menos instabilidade? Vivem de guerra com o Iraque e isso não me beneficia!

SCULLY (OFF): - Acho que vou atirar bem no meio da testa dele... Ou vou devolver o jantar todinho dentro da bolsa... Quem sabe um chute por baixo da mesa? Liga, Ellen, me liga...

O celular toca. Scully pede licença e se afasta.

SCULLY: - Fala.

ELLEN: - E aí? Esse é o que a propaganda diz: aqui você encontrará sua alma gêmea?

SCULLY: - Hum... Empresário, 37 anos, estou tendo aulas sobre a bolsa de valores desde que cheguei aqui. Divorciado, três filhos que moram com ele, quer uma mulher que fique só dentro de casa... Furada! Te conto depois.

Scully desliga. Volta pra mesa.

SCULLY: - Harold, me desculpe, mas... O FBI me chama.

HAROLD: - Algum problema?

SCULLY: - Sim. Tenho alguns cadáveres para necropsiar.

Harold leva a mão à gravata, disfarçando a repulsa.

SCULLY (OFF): - Essa nunca falha!

HAROLD: - Case comigo, Dana. Vai poder ficar em casa o dia todo, fazer compras, ter uma vida menos doentia.

SCULLY (OFF): - Quem ele pensa que é pra achar que minha vida é doentia? E a dele?

HAROLD: - Vai ter uma vida de princesa. Vamos viajar juntos pra Grécia, tenho negócios por lá também...

SCULLY (OFF): - Aposto que cria ostras. Porque é uma ostra!

HAROLD: - Vamos nos ver de novo?

SCULLY: - Olha, Harold... Eu... Eu acho que não. Lamento muito, mas... Não combinamos.

HAROLD: - Claro que combinamos, Dana. Ambos estamos querendo viver o que não vivemos, viajar por aí, curtir a vida.

SCULLY: - Harold... Seja sincero. Que tipo de vida você vai curtir se vive preso no trabalho? Se sua vida é completamente movida por seus negócios? Que tempo terá pra isso?

HAROLD: - Certo, Dana. Mas conhece algum homem que por acaso largaria seu trabalho, sua vida, apenas em função de uma mulher?

SCULLY: - (SORRI SAUDOSA) Conheço.


Motel Springs – 10:22 P.M.

Scully abre a porta do quarto. Mulder parado ali, olha pra ela, preocupado.

MULDER: - Por que me chamou até aqui? Que assunto urgente e confidencial você tem pra me dizer num motel de beira de estrada? Ellen botou você pra fora e...

Scully o puxa pela gravata, devorando os lábios de Mulder num beijo de língua. Mulder arregala os olhos, não consegue se afastar, ela o segura pela gravata e empurra a porta. Fica beijando o pescoço de Mulder. Mulder tenta se desvencilhar inutilmente.

MULDER: - (MURMURA) Isso não tá certo... Não vamos repetir o fracasso de novo...

SCULLY: - (MURMURA) Quero você.

MULDER: - (MURMURA) Scully, já transamos umas cinco vezes depois que nos separamos e não estou achando isso nada sadio, entende?

SCULLY: - (MURMURA/ MORDENDO A ORELHA DELE) Se eu não transar hoje vou ter um infarto... Estou subindo pelas paredes.

MULDER: - (MURMURA) Eu vivo subindo pelas paredes todos os dias... Te liguei mais cedo, onde estava?

Scully começa a abrir as calças de Mulder. Mulder se afasta. Scully o empurra pra cima da cama, sentando-se sobre ele. Começa a abrir a roupa dele com pressa. Mulder não reage. Vira o rosto, angustiado. Scully sobe sobre ele, mordendo-lhe o pescoço, praticamente o violentando. Mulder mantém os olhos num ponto de fuga, triste. Fecha os olhos, humilhado.


Washington Daily – 1:39 A.M.

Barbara Wallace sentada em frente ao computador na imensa sala cheia de jornalistas. O editor se aproxima, segurando uma folha de papel.

EDITOR: - Wallace, o que pensa que está fazendo?

BARBARA: - (OLHOS NA TELA/ DIGITANDO) Trabalhando na matéria sobre outro animal aquático estranho que apareceu perto de Long Island, em Montauk Beach. Que por coincidência fica perto de Camp Hero. Sabe, não é? Aquelas instalações militares que abrigam o Projeto Montauk, onde fazem experimentos mentais nas pessoas com terapias indutivas de comportamento aplicando o MK-ULTRA, onde criaram os tais ratos robôs, estudam a invisibilidade, fazem experimentos de viagem no tempo, como o Experimento Filadélfia... Se eles usam humanos, por que não usariam animais também?

EDITOR: - Não estou falando disso! Já pedi pra não se envolver com política! Se continuar a colocar comentários sobre conspirações do governo em suas matérias, estará na rua, me entendeu? Você agora é jornalista da editoria policial, não da política! Atenha-se a assaltantes, estupradores, traficantes, bandidos e a frequência do rádio da polícia! Quero você na rua, farejando sangue por aí, feito um abutre faminto, isso sim vende jornal!

BARBARA: - (OLHOS NA TELA/ DIGITANDO) Este é um país livre, todo cidadão americano tem o direito de manifestar sua opinião política. Vivemos numa democracia.

EDITOR: - Pode colocar sua opinião, contanto que a sua opinião não crie problemas para o jornal. Eu vou deixar passar essa última matéria porque preciso fechar a edição. Mas não vou mais tolerar.Pessoas que falam verdades atraem problemas nos corredores.

BARBARA: - (OLHOS NA TELA/ DIGITANDO) Está falando dos corredores dos prédios governamentais ou estamos falando do Corredor Polonês?

EDITOR: - Aonde pensa que vai chegar? Acha que algum dia vai desbaratar um Nixon? Acha que vai ter um informante como Garganta Profunda?

BARBARA: - (OLHOS NA TELA/ DIGITANDO) Eu estou ótima de informantes, se você quer saber. E tudo o que aqueles dois me disseram se comprovou.

EDITOR: - Como pode confiar em dois informantes que se chamam Rato e Raposa?

Barbara vira-se pra ele com a cadeira.

BARBARA: - Deixe meus bichinhos linguarudos em paz, Charlie! E admita que eles sabem do que falam, tanto que a Casa Branca veio pra cima de vocês e vocês me censuram, Rockfell deu um esporro homérico em você e me tirou das frentes das câmeras me jogando atrás de uma mesa da redação do jornal! E você, acha que isto aqui algum dia chegará a ser um Washington Post? Quem de nós dois está sonhando muito alto? O Rockfell não tem compromisso com a verdade, ele e as redes de comunicação dele e seus acionistas dormem com a Casa Branca e você sabe disso! E se duvidar, já compraram ações e se infiltraram no Washington Post!

EDITOR: - (IRRITADO) De onde tem bases para levantar suspeitas de encobrimento de experiências genéticas realizadas entre o governo e uma suposta raça alienígena? Acho que seu Rato e sua Raposa estão desviando você da verdade e rindo da sua cara. E quer saber? Pare de beber energético, está criando asas e elas estão ficando longas demais! Não vai demorar muito e pensará que pode voar!

O editor abre os braços debochado, simulando que voa e se afasta.

EDITOR: - (IRRITADO) Rato, Raposa e tudo o que peço é pra ela ser um abutre e ela acha que é uma pata selvagem! Isso virou um zoo!!!

Barbara volta a digitar.

BARBARA: - (OLHOS NA TELA/ DIGITANDO) Ahn, pata selvagem... Quem me dera ter asas! Meus gastos no cartão de crédito com passagens aéreas estariam resolvidos...

Barbara se levanta. Serve uma caneca de café. Jimmy, um jovem, aproxima-se, arrastando um saco enorme de cartas e um pacote. Jimmy entrega o pacote pra Barbara.

JIMMY: - Isto é pra você. Se não fosse tão leve, eu diria que andou comprando mais romances pela internet... Algum admirador apaixonado?

BARBARA: -O Superman. Deve ter me mandado a sunga dele. Pra que tanta carta?

JIMMY: - Promoção 'junte os cupons impressos em seu jornal e troque por um prêmio exclusivo'.

BARBARA: -Que tipo de gente coleciona cupons de jornal pra trocar por um jogo de facas assinado pela Martha Stewart? Já viu as facas? Tem letrinhas miúdas nelas dizendo Made in Korea!

Jimmy se afasta. Barbara observa o pacote. Não tem remetente. Barbara pega o estilete a abre com cuidado. Olha pra dentro da caixa. Arregala os olhos.


4:11 A.M.

Pânico entre jornalistas espalhados pela rua. Carros de polícia estacionados em frente a sede do Washington Daily. Homens do esquadrão anti-bombas entrando e saindo do prédio, policiais mantendo a área isolada, agentes do FBI.

Barbara parada na entrada do prédio, mantém o casaco sobre os ombros, olhos vermelhos, segurando o choro. Mulder e Krycek saem do prédio.

BARBARA: - (LÁGRIMAS/ NERVOSA) Deus! Eu podia não estar mais aqui... Eu podia ter morrido!

MULDER: -Já desarmaram a bomba. Tinha alcance limitado. Era pra matar você.

KRYCEK: - Essa bomba foi um aviso. Nós vamos ficar de olho em você, ok? Isso já passou de ameaça há muito tempo!

MULDER: -Lamento muito que Krycek e eu tenhamos colocado você em risco...

BARBARA: - Eu entrei nessa porque quis. Não se culpem pela minha tolice. Entrei porque pensei que podia mudar o mundo. Sou ingênua demais! Eu ainda acredito que palavras mudam corações. Ainda acredito na verdade e na ética... Eu sou burra! Não tem mais ética e verdade no jornalismo. As grandes corporações compraram toda a ética e a verdade! Ou você faz o que Byers faz escrevendo pra uma revista própria e expondo a canalhice do governo ou termina deprimida ou morta por uma bomba.

Krycek abaixa a cabeça. Mulder suspira. Toca no ombro de Krycek. Krycek ao mesmo tempo, ergue a cabeça e dirige o olhar pra Barbara. Fica olhando pra Barbara, hipnotizado, num sorriso bobo.

MULDER: - Desgraçados! (OLHA PRA KRYCEK) Eu não apostaria meu pescoço a dizer que aqui tem mão do Strughold e daquele Alberthi. Não acha?

KRYCEK: - (OLHANDO PRA BARBARA) ...

MULDER: - Não acha?

KRYCEK: - (SE ACORDANDO) Ahn?

MULDER: - Pelo amor de Deus, estou falando com você, em que planeta está?

Krycek sacode a cabeça, tentando se acordar, meio fora de órbita. O editor se aproxima.

EDITOR: - Desarmaram aquela porcaria. E você, pegue suas coisas. Está demitida! Não quero mais problemas aqui, me entendeu?

Barbara ajeita o casaco sobre os ombros e sai caminhando pela calçada. Mulder olha pro editor.

MULDER: - Não pode fazer isso com ela!

EDITOR: - Ah não posso? Quem você pensa que é, agente do FBI, para me dizer o que posso ou não fazer no meu jornal?

Krycek acompanha Barbara com os olhos.

KRYCEK: -(SUSPIRA) Pobrezinha...

MULDER: - (INCRÉDULO) ... Rato? O que está havendo com você? Tá com febre?


Residência dos Mulder – 6:36 A.M.

Mulder, segurando o blazer, entra no quarto de Victoria. Olha pra filha dormindo. Sorri. Sai, encostando a porta. Percebe a luz de velas por baixo da porta do quarto de Baba. Mulder se aproxima, receoso. Bate.

MULDER: - Baba?

Mulder abre a porta, com medo. Arregala os olhos.

Geral do quarto. Chás e ervas pendurados, velas, cristais, amuletos e um crucifixo na parede. Baba sentada no tapete, de olhos fechados.

MULDER: -(IRRITADO) Que diabos está acontecendo aqui?

BABA: - Psiu! Estou em sintonia com as vibrações do cosmos...

MULDER: - (IRRITADO) Olha aqui, sua doida, que ideia é essa de transformar esse quarto na casa da Bruxa de Blair?

Baba olha pra Mulder.

BABA: -Que Bruxa de Blair o quê! Você não tem moral alguma pra me chamar de doida. E não tem nada que cause mal aqui dentro. Eu não gosto do mal.

Mulder observa as ervas secas, um baralho de tarô sobre a cômoda, uma bíblia aberta.

MULDER: - Olha aqui, quem diabos você é? Ahn? Eu não sei como permiti que ficasse aqui cuidando da minha filha. Se fosse por mim você não ficava, porque eu não confio em estranhos...

BABA: - Sua filha me quis aqui. Melhor confiar nela. Você não sabe de nada. Quem sabe uma hora acorda e enxerga a realidade?

MULDER: - Quem é você? Alguma maluca? Pratica vodu?

BABA: -Tá maluco? Eu sou uma bruxa do sul dos Estados Unidos. Portanto, não brinque com essas mamas sulistas.

MULDER: -(IRRITADO) Tô bem arrumado! A babá bruxa! Espero que não tenha colocado nenhuma magia no presente que dei a Scully. Eu não quero nenhum tipo de magia aqui dentro dessa casa, ok?

BABA: -Aquela corrente com um coração? Coloquei para protegê-la e pelo visto, alguma coisa ruim tirou dela porque não quer que ela a use. E a minha magia está salvando você, seu ingrato. Portanto cale sua boca e me deixe meditar. O cosmos conspira a seu favor, você tem uma tarefa divina a cumprir aqui, mas ainda é cego demais pra perceber. Fique cego, se humilhando atrás da Scully, pra ver se não vai perder tudo, incluindo ela e a sua filha. Vire homem, Mulder!

MULDER: - (INCRÉDULO) Quê?Você não sabe de nada, tá legal? Eu não estou me humilhando, estou tentando tê-la de volta! Fizeram uma lavagem cerebral nela! Estou lutando contra esses homens!

Mulder sai, batendo a porta do quarto. Baba fecha os olhos.

BABA: -(MURMURA) Eles até fizeram, mas o problema maior nem é esse! Não quero nem ver quando ele souber quem é o verdadeiro inimigo e que está lutando contra algo que não é humano...


6:53 A.M.

Baba sai do quarto, vestida num robe. Sobe as escadas de acesso ao sótão. Vê as luzes acesas por baixo da porta.

[Som: Elvis Presley – You're Always on my Mind]

Baba recosta a orelha na porta. Escuta a música. Abre a porta lentamente. Vê Mulder sentado no sofá de couro, chorando. Baba abaixa a cabeça, enchendo os olhos de lágrimas. Fecha a porta.

BABA: - Pobre menino! Sofre calado... Finge que ri, mas não tem mais nada dentro de si para achar graça...


Maryland – Virginia – 10:11 A.M.

Byers caminha pela calçada com as mãos no bolso. Mulder ao lado dele. Langly com a mochila pendurada no ombro. Frohike entre os dois.

FROHIKE: - Eu sei que fui grosso com você, Mulder. Mas quando se trata da Scully...

MULDER: - É, eu sei bem como você fica quando 'se trata da Scully'.

BYERS: -Ah, vamos parar com isso! Foi tudo um mal entendido, Mulder já explicou tudo, nos pediu pra ficarmos fora disso e vamos fazer as pazes.

LANGLY: - E na verdade, o Frohike não estava preocupado com Scully. Estava é com ciúmes de você com Krycek.

MULDER: - (DEBOCHADO) Sério, baixinho?

FROHIKE: - Parem com isso! Eu não estava com ciúmes não!

LANGLY: - Claro que estava. 'Agora o Mulder só fala com aquele russo'.

Frohike fica sério. Langly cutuca Mulder, os dois rindo.

FROHIKE: - Transistores... Não acredito que não vamos encontrar transistores! Nem que eu tenha que andar por toda essa cidade, mas nós vamos encontrar!

MULDER: - Não quero dizer nada... Mas acho que chegamos na parte mais nobre e se encontrarem transistores aqui serão em televisões velhas, em antiquários, vendidas por preços que faria a altura do Aconcágua parecer besteira.

Byers para. Os olhos dele se fixam em alguma coisa do outro lado da rua. Langly, Mulder e Frohike continuam caminhando.

FROHIKE: - Eu tinha uma televisão de válvula até poucos dias lá em casa. Foi quando esse idiota aí jogou fora.

LANGLY: - Não, eu não joguei fora. A troquei por um chip que me garantiram ser de inteligência artificial.

MULDER: -Langly, você nem tem inteligência natural pra detectar inteligência artificial. O seu cérebro ainda funciona a válvulas!

LANGLY: - Uma vez eu tive um amplificador de válvulas. Era a coisa mais pesada que já vi na minha vida. Se ficasse ligado mais de uma hora só funcionava com o ventilador atrás.

FROHIKE: - Onde está o Byers?

Eles param. Viram-se. Byers continua parado olhando para o outro lado da rua. Os três dirigem o olhar para a loja do outro lado da rua, pra onde Byers olha. Susanne Modesky conversa com um homem, segurando sacolas. Despede-se e entra num carro. Mulder fecha os olhos.

MULDER: - Não acredito! É quem estou pensando?

FROHIKE: - Em carne, osso, roupas finas e pernas bonitas.

LANGLY: - Pobre Byers... Isso é demais pra ele!

MULDER: - Não tem mais volta... (OLHA PRA BYERS/ APIEDADO) Esse bichinho quando começa a coçar no peito... Termina fazendo você brincar de casinha pro resto da vida.

LANGLY: - Se você Mulder, que era esquisito, foi atacado pelo vírus 'I love you', imagina o Byers que é todo sonhador!

MULDER: - (OLHANDO PRA BYERS) ...

FROHIKE: - Ela está indo embora. É sempre assim. Ele não tem coragem e ela foge. Mulheres...

MULDER: - (RECORDANDO ALGUMA COISA) ...

LANGLY: - E o que uma mulher dessa classe toda vai querer com o falido do Byers?

FROHIKE: - Mulheres solteiras e inteligentes não se interessam por caras doidos, à margem da sociedade.

Mulder olha angustiado pra Byers. Byers não reage, olhando pra Susanne como quem admira um diamante que não pode comprar. Mulder olha pro carro de Susanne. Olha pra Byers que continua sonhando acordado. Num ímpeto, Mulder atravessa a rua correndo, fazendo os carros frearem em cima dele.

FROHIKE: - O que deu no Mulder? Ficou louco???

LANGLY: - Vai ver quer fazer parte do índice de pessoas mortas por atropelamento.

Mulder se põe na frente do carro de Susanne, que quase o atropela. Mulder se aproxima da janela, ofegante.

SUSANNE: -(SURPRESA) Mulder?

MULDER: - Preciso falar com você. É sério.

SUSANNE: -Me liga. Não quero ficar muito na rua, sabe que eles estão atrás de mim e...

MULDER: - Quer desaparecer definitivamente do mundo?

SUSANNE: - ???

MULDER: - Quer se sentir a mulher mais segura e protegida, amada e cuidada desse universo?

SUSANNE: - (OLHA DESCONFIADA PRA MULDER/ SÉRIA) Mulder...

MULDER: -Então me escuta. Tem um cara ali do outro lado da rua que levaria você pra onde você quisesse. Ele faria tudo por você, bastando apenas o seu sorriso. Ele faria milagres, daria a própria vida, tudo por apenas um pouquinho do seu olhar. Ele sabe que não é nenhum rei, não tem reinos pra oferecer. Tudo o que ele pode oferecer é um abraço, carinho e a certeza de que você será a mais amada das mulheres. Porque você é a única beleza que ele vê no mundo.

SUSANNE: -Mulder, está curtindo com a minha cara? Estou estranhando você com esse assunto e...

MULDER: - Nunca falei tão sério, Susanne. E você me conhece. Sabe que eu desconfio de todo mundo, mas esse cara... Ele é confiável. O problema é que ele é muito tímido e não tem coragem. Então pediu pra eu dizer a você que ele gostaria muito de marcar um encontro. Por isso estou aqui tendo essa conversa com você.

SUSANNE: -(CURIOSA) Mas quem é, sai da frente, deixa eu ver!

Mulder se afasta da janela do carro. Susanne olha pela janela. Vê Byers. Sorri e acena pra ele. Byers sorri tímido, retribuindo o aceno.

SUSANNE: -(SORRI) O John? Tem certeza? Não, vocês dois estão brincando comigo! É uma pegadinha, não é? Cadê o Langly e o Frohike? Estão escondidos pra rir da minha cara?

MULDER: -Sem compromisso. Só pra sair um pouco, relaxar, se divertir... Ah, o que você tem a perder? Sabe que ele é um cara legal, inteligente, tem bons assuntos, não vai importunar, ser chato...

SUSANNE: -Mulder... Quando me envolvi com vocês e Scully, com a vacina, com toda aquela loucura, eu convivi mais com o John. Eu sei que John gosta de mim e gosto do modo como ele me trata. Sei todas as qualidades dele, porque uma mulher nota a classe de um homem. E John tem classe. Ele é um cavalheiro gentil. Não diga nada a ele, mas... Eu também gosto dele. Só não posso envolvê-lo mais ainda nessa minha vida de fugitiva. Não creio que um homem como John mereça uma vida maluca como a minha, não posso dar o que ele realmente merece e...

MULDER: - Só um encontro. Pra conversar. Sim ou não? O que digo pra ele?

Susanne olha para Byers, que a admira. Então suspira num sorriso triste. Mulder toca no braço dela, esperando uma resposta. Susanne olha para Byers, como que hipnotizada, num sorriso bobo.

MULDER: - Então? Hum?

SUSANNE: - (SORRINDO) Diga ao John pra me ligar. A gente pode sair hoje.

Mulder se afasta do vidro. Susanne parte. Mulder no meio da rua, gritando e pulando.

MULDER: - (FELIZ) Yes! Yes! Yes!

Os carros param, formando uma fila enorme. Barulho de motores, som de buzinas. Mulder põe as mãos em forma de concha na boca.

MULDER: - (GRITANDO) Byers!!!!!!!!!!!!

Byers olha pra ele do outro lado da rua. Os motoristas espiam pra fora do carro. Os pedestres ficam olhando.

MULDER: - (GRITANDO) Ela quer se encontrar com você hoje à noite!!!

Byers abre um sorriso enorme. Leva as mãos ao rosto. A rua inteira para, olhando pra Byers, que fica corado. As pessoas começam a assoviar e buzinar pra ele. Frohike e Langly atravessam a rua.

FROHIKE: -Mulder... Você é muito cara de pau, sabia?

MULDER: - No jogo do amor, Frohike, você tem que apostar tudo. E além do mais... Eu aprendi na vida que os caras malucos também podem ter as boas garotas.

FROHIKE: - Você está esquisito, Mulder...

LANGLY: - É, bem mais do que de costume!


Washington D.C. – 2:38 P.M.

Scully caminha ao lado do sujeito ruivo e alto.

KARL: - Sei que sair de um casamento nunca é fácil, mas a gente precisa começar de novo.

SCULLY: - (SORRI) É verdade. A gente precisa começar de novo.

KARL: - Por que se separou?

SCULLY: - Dúvidas... Eu tinha tudo com ele, mas... Algumas incertezas começaram a acontecer na minha vida, eu já não sabia se acreditava em mim ou nele... E preferi acreditar em mim. E você?

KARL: - Eu queria filhos. Ela não queria. Ela tinha razão quando dizia que eu era obcecado por crianças, mas eu quero filhos. Não conheço homem algum que aceite uma mulher que não lhe dê filhos.

SCULLY: - (SORRI SAUDOSA) ... Eu conheço.


Residência dos Mulder – 4:19 P.M.

Mulder ao telefone, na cozinha, mexendo uma panela. Baba entra, com pacotes de compras.

MULDER: - Faz isso Langly. Manda o Byers tomar um bom banho, colocar a melhor roupa... E não o deixe usar perfume demais!

Baba larga os pacotes. Põe as mãos na cintura, encarando Mulder.

MULDER: - ... Sim, certo. Não, eu já fiz as reservas pra ele naquele restaurante. Depois me fala como foi tudo... E não dá palpite furado. Deixa o Byers ser ele mesmo. Essa é a regra. Mulher não gosta de cara que diz ser o que não é e menos ainda de conquistador barato. E manda o Byers ajeitar aquela barba!

Mulder desliga o telefone. Coloca a panela no fogão. Olha pra Baba.

MULDER: - O que foi?

BABA: - (DEBOCHADA) Você? Conselheiro amoroso? Pago pra ver esse filme: Fox Mulder, o cupido atrapalhado! Deve ser a comédia do ano!

MULDER: - Ao contrário do que pensa, "Oda Mae", eu sou um cara romântico. (CANTANDO) Ohhhhh, my love... My darling... I'm hungry for your... Bife na caçarola. (PIDÃO) Diz que vai fazer bifinho pra mim.

Baba olha debochada pra ele.

BABA: - Sabia que cara de cachorrinho pidão não funciona comigo, Mr. Red Shoe Diaries?

MULDER: - (PIDÃO) Tem certeza?

BABA: - Absoluta! Se você fosse o Denzel Washington com aquele sorriso maravilhoso, eu até pensaria. Então aumente meu salário e daí eu faço o bife.

MULDER: - (DEBOCHADO) Interesseira!

Mulder vira-se pra trás. Victoria dormindo no carrinho.

MULDER: - Será que demorei tanto assim? Tá bom... Já que Pinguinho não quer...

Mulder começa a comer o mingau na panela.

BABA: - (INCRÉDULA) Saia já da minha cozinha, você só faz sujeira e confusão!

Mulder sai rindo com a panela e vai pra sala. Liga a TV. Come o mingau, em pé, atento ao jogo de basquete.

NARRADOR: - É... Se Morgan continuar nessa ótima fase talvez seja contratado pelos Knicks...


Apartamento de Ellen – 6:37 P.M.

Scully sentada no sofá, braços cruzados, fisionomia de frustração. Ellen sai da cozinha trazendo uma bandeja com suco e sanduíches. Coloca sobre a mesa de centro.

ELLEN: - Vai um suco de melão? Bem geladinho?

SCULLY: - (SUSPIRA) ...

ELLEN: - Calma, Dana. O príncipe encantado vai aparecer. Você só saiu com quatro até agora, tem mais uns seis na lista da agência... E ainda tem o "Mr. Jaqueta de Couro e Brinco na Orelha" ou deveria dizer o "Rato Fujão dos Olhos Verdes e Sorriso Safado"?

SCULLY: -Nem me fala do Alex! Ele sumiu, nunca atende meus telefonemas e nem liga pra saber como estou. Acredita que eu descobri que ele passa mais tempo com o Mulder do que comigo?

ELLEN: - Acredito. Mulder é mais divertido que você. Eu disse que nesse triângulo você é quem ia sobrar!

SCULLY: - Como pode? (INDIGNADA) Ellen, o que há com os homens? Você sabe?

ELLEN: -O mercado tá difícil, minha filha. Eu sei!!!! O que presta com a nossa idade já está casado e o que não presta está divorciado. E nem tente os solteiros mais jovens. Eles querem segurança financeira da "coroa" pra ficar em casa jogando videogame e tuitar com as gatinhas o dia todo!

SCULLY: -Um só quer trabalho, o outro só quer uma chocadeira elétrica, outro quer peitos grandes, outro quer mulher mais alta... O que eles querem? Aparência? Até agora nenhum deles se interessou pela minha mente, pelo que penso, pelo que faço, pelo que acredito, pelo meu conhecimento. Ou querem corpo, ou querem só sexo. E ambas as coisas estão relacionadas. E eu não quero nada disso!

ELLEN: - Dana, você não vai encontrar homem perfeito. Tire a ideia da cabeça. E até agora eu não consigo entender o que você tá procurando! Pra saber o que eles querem, tem que saber o que você quer! Quer um marido?

SCULLY: - Não! Não agora.

ELLEN: - Ótimo. Quer diversão?

SCULLY: - Olha pra minha cara se estou com idade de querer diversão!

ELLEN: - Então o que quer?

SCULLY: - Ellen, eu quero um homem que me respeite! Um homem que me dê rosas! Um homem que seja gentil, romântico, apaixonado, que me trate como uma rainha, que seja meu amigo, meu cúmplice, meu parceiro, que faça amor, mas saiba quando fazer sexo, que me leve café na cama pela manhã, que me diga coisas bonitas, que seja doce, mas que seja também um guerreiro, me proteja, me aceite como eu sou...

ELLEN: -Impressão minha ou você tá procurando o Mulder?

Scully olha irritada pra ela.

SCULLY: - Não dá pra falar com você, Ellen! Não dá! Tem sempre que falar no Mulder. Eu não quero mais o Mulder! Eu estou em outra! Para de lembrar dele!

ELLEN: - Aiiiiii, não me morda! Tá bom, esqueçamos do Mulder...

SCULLY: - (SUSPIRA) Ninguém faz sexo como ele.

ELLEN: - Quem?

SCULLY: - O Mulder...

ELLEN: - Ah, agora eu não falei nada, foi você! Mas há de convir comigo que você ainda é apaixonada pelo Mulder, porque não conheço mulher que faça sexo sem pelo menos sentir alguma coisa pelo cara, nem que seja atração física!

SCULLY: - Não! Não estou!

ELLEN: - Então por que ainda transa com seu ex-marido? Isso é patético! Você se separa, vai embora de casa, resolve morar com o amante, o amante bota você pra correr e foge de você, aí você tenta uma agência de namoros, mas nenhum homem que aparece você gosta e daí corre pra transar com o ex-marido?

SCULLY: - É só sexo... Admito, gosto de sexo. E Mulder é um homem bonito, sexy, atraente.

ELLEN: - Então por que não transou com o Franklin? Aquele que você esmurrou quando ele convidou você pra transar? Ele era bonito, sexy e atraente. E era só sexo também.

SCULLY: - Tá bom, você vai ouvir o que quer ouvir! Eu transo com o Mulder porque tenho atração sexual por ele! Mas é só isso! Mulder é apenas um colega, um amigo.

ELLEN: - Tá. É só isso. Mulder faz sexo gostoso, é bem dotado, te leva às alturas, aceita seus fetiches, enfim, ele é um corpo, não é isso? Na falta de outro, vai ele mesmo, afinal, amigo é pra essas coisas, pra quebrar o galho das amigas... Patético, Dana. Você é patética! Não sei como Mulder suporta isso! Eu se fosse homem dava um pé no seu traseiro!

Scully se levanta enfurecida. Vai pro quarto e bate a porta.

ELLEN: - Você nem sabe o que quer Dana!!! Na verdade está procurando homens pra comparar com o Mulder!

Scully volta pra sala.

SCULLY: - Você está louca, Ellen?

ELLEN: - Você é quem está, Dana! Não vê que é inconsciente? Está procurando o Mulder em caras que jamais serão o Mulder! Nunca ninguém será igual a ele. Você está com raiva do Mulder e quer substitui-lo por outro igual a ele, desde que não seja ele. Até o gostosão da jaqueta de couro entra nessa! Por isso você se frustou com Alex e com todos, porque nenhum deles é o Mulder e nem vai tratar você como ele a trata. Sabe como se chama isso?

SCULLY: - (BEIÇO) ...

ELLEN: - Se chama "amor".

Scully volta pro quarto e bate a porta. Ellen suspira.



BLOCO 2:

Virgínia – 8:16 P.M.

Byers sentado à mesa do restaurante, nervoso. Terno, gravata, olhos apreensivos pra porta, enquanto amassa o guardanapo nas mãos. O garçom se aproxima.

GARÇOM: - Gostaria de beber alguma coisa enquanto espera por sua companhia, senhor?

Byers leva um susto, olha nervoso para o garçom.

BYERS: -Acho melhor não beber...

O garçom se afasta. Byers tenso. Brinca com os talheres na mesa, mudando eles de lugar.

SUSANNE: - John?

Byers leva um susto, quase derrubando o arranjo de flores. Susanne rapidamente segura o arranjo ao mesmo tempo que ele. As mãos deles se tocam. Byers afasta as mãos. Susanne ajeita o arranjo. Byers levanta-se rapidamente, puxando a cadeira pra ela.

SUSANNE: - (SORRI) Obrigada John.

Susanne senta-se. Byers fica parado, em pé, a admirando, catatônico.

SUSANNE: - Não vai sentar-se?

BYERS: - Ah! Sim... C-claro.

Susanne disfarça o riso. Byers senta-se, quase caindo da cadeira.

SUSANNE: - Está bem, John?

BYERS: - Não foi nada...

SUSANNE: -Parece tenso.

BYERS: - Um pouco, e-eu... E-eu não costumo sair para encontros...

SUSANNE: -Eu também estou nervosa. Há muitos anos não tenho um encontro, nem sei mais como isso funciona.

BYERS: - (MAIS CALMO) Quer saber? Nem eu!

Os dois sorriem.

SUSANNE: - Obrigada pelo convite. Estava precisando sair um pouco. Me sentir uma pessoa comum, com uma vida normal... O que é bem difícil no meu caso. Me acompanha num vinho?

BYERS: - Sim... Eu vou pedir o vinho. O que você gosta?

SUSANNE: - Que tal um branco?

Byers chama o garçom.

SUSANNE: - Que bom falar com você. As coisas estão tão monótonas... Como anda o seu trabalho? E os rapazes?

BYERS: -Tudo bem. A editora vai bem, a revista está melhorando... E você?

SUSANNE: - Eu não me sinto bem, pra dizer a verdade. Desde que meu trabalho com a Scully terminou, estou sem fazer nada. Gostaria de procurar um emprego fixo, mas... Eles ainda estão de olho em mim.

BYERS: - Não se preocupe, Susanne. Se eles machucarem você, eu machuco eles.

O garçom se aproxima. Susanne se cala. Byers abaixa a cabeça.


Motel Springs – 12:18 A.M.

Mulder deitado nu, entre os lençóis. Olhar perdido ao longe.Scully sai do banheiro, ajeitando o cabelo.

SCULLY: - Boa noite. Vejo você no trabalho.

Scully sai, fechando a porta. Mulder se vira na cama, enchendo os olhos de lágrimas.


Residência dos Mulder – 8:49 A.M.

Mulder sentado no sofá, catatônico, olhando pra TV. Victoria sentadinha no chão, brinca com um quebra-cabeças, montando a figura do patinho. Cookie cheirando as peças. Baba se aproxima trazendo uma cerveja.

BABA: - (DEBOCHADA) Posso encomendar o caixão? Vai morrer agora, sentado aí ou quer que eu coloque veneno de rato na sua comida pra agilizar as coisas?

Mulder olha atravessado pra ela. Pega a cerveja.

MULDER: - Respeite a minha dor! Eu tô sofrendo, e tenho direito de ficar aqui, sentado, catatônico, sofrendo e pensando nela por quanto tempo eu quiser!!!

BABA: -É, tem razão. Você fica bem fingindo ser uma múmia olhando pra TV. Mando retirar seu corpo desse sofá daqui algumas semanas? Quer o veneno de rato no almoço ou no jantar?

MULDER: - Quer me deixar quieto? Você é mais debochada do que eu! Vai fazer seus feitiços e me deixa em paz!

Baba estende a mão. Mulder olha pra ela.

MULDER: - O que foi?

BABA: - Se não sabe, a comida não se materializa na geladeira.

Mulder pega a carteira. Entrega alguns dólares.

BABA: - Só isso? Eita judeuzinho miserável! Trabalhar pra judeu só podia dar nisso!

Mulder suspira irritado. Entrega mais alguns dólares.

BABA: - Sabe por que judeus têm nariz grande?

MULDER: - (INCRÉDULO)

BABA: - Porque o ar é de graça!

Baba sai da sala. Mulder olha invocado pra TV. Baba volta.

BABA: - Posso dar um conselho?

MULDER: - Não! Não quero os seus conselhos! Nada que venha de você é algo confiável. Você é bruxa. E faça o favor de tirar aquelas macumbas que pendurou no seu quarto.

BABA: - Não são macumbas. São ervas secas. E não me provoque ou compro um caldeirão e coloco lá em cima! Devia criar vergonha nessa sua cara com nariz grande, levantar esse traseiro daí e ir arrumar uma mulher pra você!

MULDER: - Não quero mais saber de mulher! São todas problemáticas e loucas!

BABA: -Ótimo! Então levante daí e arrume um homem!

MULDER: - (IRRITADO) Por que gosta de me irritar?

BABA: - Não estou irritando. E não me incomode, porque vou comprar veneno de rato.

MULDER: - Você é folgada, sabia? Folgada e debochada! Eu contratei uma babá e não uma humorista!

BABA: - Impossível olhar pra sua cara de 'tô sofrendo' e não começar a rir. Um homem desse tamanho todo chorando pelos cantos! ... Vou ganhar extra pelas minhas piadas?

MULDER: - Vai. Vai ganhar roupa extra pra lavar.

BABA: - Ótimo! Assim eu posso manchar uma meia dúzia de camisas com alvejante.

MULDER: - Pinguinho, você ouviu isso? Vou demiti-la! Agora eu faço os mingaus por aqui.

VICTORIA: - Nahhhhh!!!!!!!!!!!! Nahhh é mama!!!!!!! Nahhhh é a Baba!!!!!!

MULDER: -(IRRITADO) Só eu e o cachorro de macho aqui dentro e ninguém nos respeita! Nem a babá! Nenhuma mulher me respeita nessa vida. Nem a minha filha, nem a Scully... A Molly tá me olhando atravessado pelo aquário e nem essa droga de coelha não me respeita porque agora começou a fazer xixi nos meus chinelos.

BABA: - ... Posso saber o que Scully aprontou dessa vez?

MULDER: - Nada. Eu é que sou um idiota. Só isso. Ela chama e eu vou feito cachorrinho. Depois acabo com a sensação de ser apenas um objeto usado.

BABA: - De novo?

MULDER: - ... Me lembro de uma frase neste momento: Deus deu ao homem duas cabeças, mas sangue suficiente para fazer funcionar uma por vez. Esse é o problema!

BABA: - Ainda bem que percebeu.

Baba vai pra cozinha. Mulder soca a almofada na cara.

MULDER: - (MAL HUMORADO) Eu me odeio! Eu devia me matar!

BABA: - (GRITA) Tem gilete no banheiro. Quer ajuda?

O telefone toca. Mulder morde a almofada com raiva. O telefone insiste várias vezes, até que Baba atende.

BABA: - Impressionante, eu não sou babá! Eu sou a mucama dessa casa! ... Residência dos Mulder... Sim, ele está em casa... Não sei se Mulder pode atender, ele está ocupado mastigando uma almofada...

Mulder se levanta irritado e pega o telefone das mãos de Baba. Olha atravessado pra ela.

MULDER: - Mulder... Ah, oi Ellen...

Baba cruza os braços e observa.

MULDER: - (TENSO) Isso é... Sério? ... Só um momento.

Mulder coloca o telefone contra o peito e encara Baba.

MULDER: - Que tal ir pra cozinha que é o seu lugar, ahn?

BABA: - Na próxima vez não coma almofadas. Coma capim que é a sua comida!

Baba sai. Mulder volta a falar.

MULDER: - (INCRÉDULO/ COCHICHANDO) Como assim Scully procurou uma agência de encontros? Ela tá saindo com alguém??? ... Ah, mas isso não vai ficar assim!


Arquivos X – 4:31 P.M.

Scully digitando um relatório. Mulder a observa com o rabo dos olhos, irritado, enquanto atira lápis no teto. O celular dele toca. Mulder olha para o visor e sorri malignamente. Joga-se pra trás na cadeira, coloca os pés sobre a mesa e atende.

MULDER: - (TODO SORRISO/ FRISANDO PALAVRAS) E aí KRYCEK? Que bom que SEMPRE RETORNA minhas ligações...

Scully, incrédula, desvia a atenção pra Mulder.

MULDER: - (PROVOCANDO)Tem compromisso pra hoje? ... É, eu pensei que a gente podia sair com umas amigas suas... Sim, ainda tô no FBI... Humhum... É, tá sim... Com certeza... É, aquelas suas amiguinhas russas que querem conhecer o que a America tem de melhor... Sério que elas ficaram impressionadas com o tamanho do Monumento de Washington? Ah, é que elas ainda não viram o tamanho do meu obelisco...

Scully cerra o cenho, enciumada. Fecha o notebook com força. Mulder disfarça o riso.

MULDER: -Ok. Até mais, Rato.

Mulder desliga. Scully séria e de beiço mexe nas gavetas. Mulder pega o paletó. Scully olha pro relógio na parede.

SCULLY: - (ENCIUMADA) Algum programa interessante na sexta-feira?

MULDER: - Por quê?

SCULLY: - Está saindo cedo...

MULDER: - Tenho compromisso.

SCULLY: - Vai caçar aliens, por aí? Ou...

MULDER: -O que quer saber? Se eu tenho alguma mulher, é isso? Vai direto ao assunto porque eu detesto essas coisas de atirar verde pra colher maduro.

SCULLY: - Não me interessa sua vida particular. Só estou tentando ser amiga.

MULDER: - Pois eu tô cheio de 'amigas'! E você anda se moendo de ciúmes! Pode confessar, porque eu conheço você, Dana Scully.

SCULLY: - Eu com ciúmes de você, Mulder? Tenho é pena de você, isso sim, que não sabe o que é sair numa sexta-feira pra namorar.

MULDER: - Ah é? E por acaso você sabe?

SCULLY: -(PROVOCANDO) Sei. Tenho um encontro hoje.

MULDER: - Leve camisinha!

Mulder sai irritado, batendo a porta. Scully fica num olhar incrédulo. Mulder volta.

MULDER: - Desistiu do seu amante? Por que não sai com ele, já que não quer sair comigo?

SCULLY: - Eu? Quem sou eu pra atrapalhar o seu romance com o Alex? Vivem grudados agora, ele só atende as suas ligações. Sejam felizes, tem a minha bênção. Ah! E leve camisinha!

Mulder sai batendo a porta irritado.


Residência dos Mulder – 5:28 P.M.

Na cozinha, Baba fritando bolinhos. Victoria na cadeirinha ansiosa olhando pra Mulder em expectativa, enquanto ele tira pedacinhos do bolinho e vai dando pra ela. Krycek entra.

KRYCEK: - Scully estava lá, não estava? Por isso você veio com aquele papo de amigas russas...

MULDER: - Eu sabia que você ia sacar. Mas não adiantou muito. Ela sempre faz uma cesta de três pontos no final.

KRYCEK: - Oi, Baba! Scullyzinha, minha parceira de dança!

Victoria sorri e estende os braços.

MULDER: - (ENCIUMADO) Ei, tire suas mãos da minha filha, ok? Ela só dança com o pai dela.

BABA: - Bom, sem dúvida alguma, os melhores bailarinos são os russos.

Krycek faz careta pra Mulder.

KRYCEK: - Os russos são melhores em tudo. A gente faz, os americanos copiam. Tem bolinho pra mim?

Mulder faz careta pra Krycek. Baba coloca um prato de bolinhos na mesa. Krycek senta-se.

MULDER: - Ela tem um encontro hoje, Rato. Vou descobrir aonde e vou atrás.

KRYCEK: - Mulder, você definitivamente perdeu todo o seu orgulho!

BABA: - Que ele perdeu todo o orgulho isso não é novidade.

KRYCEK: - Tá vendo?

BABA: - Quer uma cerveja?

KRYCEK: -Eu quero é socar a cabeça do Mulder contra a mesa até os parafusos dele voltarem pro lugar!

BABA: - Boa sorte! Amanhã ele continua igual e você fica me devendo uma mesa...

MULDER: - Vocês não entendem que eu tô sofrendo!

BABA: - Meu Deus! Começou a sofrência de novo!

Baba ergue as mãos e sai da cozinha, levando Victoria com ela. Krycek se levanta.

KRYCEK: -Levanta daí agora, Mulder! Pega o seu casaco e vamos sair. Eu vou ensinar pra você como chamar a atenção dela. Você se acomodou, sabia? Conquistou e se acomodou. Agora reclama que perdeu.

MULDER: - Ah, ok! Se você ao menos fosse meu amigo de verdade, atenderia as ligações dela e fingiria que se importa com ela, ia enrolando até ela voltar ao juízo e ela não teria ido atrás de outros!

KRYCEK: - Mulder, está se escutando? Quer que eu dê em cima da sua mulher para que ela não procure outros caras? Mulder, realmente você é estranho! Levanta daí!

MULDER: - Rato, eu confio em você, sei que não vai tocar na Scully! Mas nos outros eu não confio!!!

KRYCEK: - Levanta agora esse traseiro dessa cadeira, Mulder! Eu estou cansado de ver você se arrastando por aí mendigando carinho! E realmente, parece um mendigo com esses mesmos ternos, camisas... Sempre do mesmo jeito. Até eu já ando enjoado de ver você! Anda, ou vou chutar você até o carro!

Krycek tira as chaves do carro do bolso. Mulder se levanta.

KRYCEK: -Vamos dar uma volta. Realmente você está precisando de companhia masculina! Amar demais a Scully está afetando seu juízo, sua vaidade e seu orgulho próprio como homem!

MULDER: - Pra onde vamos?

KRYCEK: - Leve seu cartão de crédito e confie em mim. Anda!


Shopping Center - 6:12 P.M.

Mulder sai do provador, usando um terno moderno e alinhado. Krycek acena negativamente com a cabeça. Mulder volta pra dentro.

Corte.


Mulder sai do provador, com uma calça rapper caída, camiseta larga, tênis e um boné com a aba virada pra trás. Krycek mete um tapa na testa e empurra ele pra dentro do provador.

Corte.


Mulder sai do provador com jeans, camisa azul de listrinhas, solta por cima das calças. Krycek faz um gesto de "mais ou menos".

Corte.


Mulder sai do provador, já irritado. Calças jeans, camisa, gravata e uma jaqueta de couro. Krycek sorri e sinaliza positivo.

Corte.


Mulder sai do provador, jeans rasgados, camiseta branca colada e uma bandana na cabeça. Krycek bate palmas.


11:43 P.M.

Baba assistindo TV na sala. Mulder entra. Cabelos repicados e com gel, alguns fios caídos pela testa, cheio de sacolas, fisionomia triste. Baba olha surpresa. Mulder se atira no sofá.

BABA: - Você? Gastando dinheiro? O que andou aprontando com seu amigo policial? Notei que cortou e arrumou esse cabelo. Ficou bem melhor... Os moços foram às compras?

MULDER: - Se as mulheres podem, a gente também pode... Pra isso servem os amigos, para ter aquela conversa franca que você não quer ter, mas sabe que precisa... Ele me deu uns conselhos. E jogou verdades na minha cara.

BABA: - E isso deixou você com essa cara triste?

MULDER: - Não. O que me deixou com essa cara foi a conversa que tivemos depois. Eu me achando cheio dos problemas, reclamando da minha vida, do meu passado, da minha infância, das merdas todas que fizeram comigo... Se soubesse as merdas que ouvi dele... Tive vergonha de mim mesmo! Vergonha de ficar reclamando! Fui feliz e não sabia!

BABA: - É, Mulder... Muitas vezes pensamos que somos desafortunados, mas quando ouvimos outras pessoas... Sempre tem alguém que passou por bocados bem piores.

Mulder inclina-se pra trás e fecha os olhos.

MULDER: - Sabe o que é ver um homem chorar na sua frente? Não é fácil um homem abrir seu coração e chorar na frente de outro homem. Eu nunca pensei, nem sequer imaginei que ele tivesse passado por coisas que... (PÕE AS MÃOS NO ROSTO) O que eu podia fazer a não ser escutar e me segurar pra não chorar junto?

BABA: - Eu notei que Krycek há muito tempo quer abrir alguma coisa com você, mas nessa confusão toda da Scully... Ele não tá legal, né?

MULDER: -Krycek está naquela fase de reavaliação da vida. Eu passei por isso, mas pelo menos na época eu já estava com a Scully. Eu tive a sorte de ter alguém nesse momento para me ajudar a superar, pra me erguer... Mas o Rato... Ao mesmo tempo em que me sinto triste por ele, me sinto feliz e nada arrependido de tê-lo perdoado. Muitos me criticaram por isso, afinal ele assassinou meu pai. Mas não me arrependo. Meu pai colheu o que plantou. Eles criaram esse jogo. Eu e Krycek entramos nisso como marionetes. Nada tá certo nesse mundo, sabe?

BABA: - Sei. E como sei... A vida nos ensina. Nunca devemos julgar os outros, isso é fato. Se quer julgar alguém, coloque-se na pele da pessoa. E julgue a si mesmo antes. Aquela coisa que o Nazareno disse sobre atirar a primeira pedra.

MULDER: - Eu... Baba, eu não quero mais sentir ódio. Eu sei o que é ter ódio no coração. Não é um sentimento bom. Ele até pode impulsionar você para agir, mas o gosto é amargo demais. Atrai muita coisa ruim e mais ódio ainda. Scully me fez conhecer o amor, Victoria o perdão... Pode falar, estou ficando velho, é isso.

BABA: - Não. Está amadurecendo e isso é muito bom. Traz entendimento e sabedoria e deixa a vida mais leve. Eu não tiro sua razão de considerar Krycek. Eu não sei como ele era, mas eu gosto da energia dele agora.

MULDER: -Ele é quem está segurando essa barra comigo, eu sei que em parte porque ele está envolvido no rolo todo, mas ele não precisava se preocupar comigo e com a minha filha... Bom, confiei no instinto do Rato quanto a Scully e ele acertou. Quero ver se o instinto pra roupas ele também vai acertar.

Mulder se levanta.

MULDER: - Eu vou passar a noite fora com Krycek. Vamos vigiar a Barbara... Ele tá preocupado com ela. Se ele pode me ajudar a vigiar minha mulher, posso ajudá-lo a vigiar a dele. Embora o Rato ainda acha que não tem chances...

Mulder pega as sacolas.

MULDER: - E a partir de hoje sou um novo homem. Se Scully pode, eu também posso!

BABA: - Do que está falando?

MULDER: -Ela está saindo com outros, acredita? Também tenho direito! Agora vou comer todas! Se prepare porque o 'Terror da Virgínia' está à solta!

Baba arregala os olhos.

MULDER: - Vou arrumar uma namorada. Ah eu vou! Vou mesmo! Não vou ficar o resto da vida sozinho. Tem muita mulher interessante por aí.

BABA: - ... Sei, "Terror da Virgínia"... De acordo com a peçonhenta da sua vizinha, você já é o terror da Virgínia!

Mulder larga as sacolas.

MULDER: - Não estou pensando na Scully. É por mim mesmo. Estou cansado, carente, confuso... E mereço namorar!

BABA: - Acredito... Afinal todo homem que se divorcia e acha que merece nova vida costuma ficar com a aliança no dedo e chorando pelos cantos escondido.

Mulder esconde a mão.

MULDER: - Tá na cara, né?

BABA: - Não. No dedo. Se eu percebo, Scully percebe.

Mulder tira a aliança e coloca no bolso.

MULDER: - Obrigado por estar aqui. Eu já teria enlouquecido sem alguém pra conversar nessa casa. Você tem sido uma amiga com quem eu posso contar.

BABA: - Ou com quem pode brigar?

MULDER: - (DEBOCHADO) É. Brigar com alguém me mantém vivo.

BABA: - (DEBOCHADA) Acha que não sei disso?

Mulder senta-se ao lado dela.

MULDER: - Baba... Por que ela ainda me prende se não me quer mais?

BABA: - Porque ela quer você, só não quer enxergar isso.Mulder, aprenda que pensar com o coração não significa demonstrar amor. Quando o ódio cega, o amor não é visível. Vocês estão numa guerra de quem provoca quem, usando qualquer arma disponível! O pobre do Krycek é que tem sido a arma favorita de vocês dois, e isso não é justo com ele também. Você e Scully vão se machucar se continuarem a se digladiar desse jeito, entende? Feridas profundas não cicatrizam. E pelo que sei de vocês dois, isso é passado, não tem mais justificativa nem graça ficar se provocando o tempo inteiro.

MULDER: - ... Graça ainda tem. Adoro quando ela fica irritada comigo.

BABA: -Meu Deus, isso é coisa de libriano mesmo! Mulder, dê tempo pra Scully, deixa ela apanhar da vida, ela precisa disso agora. Tenha pena da cegueira dela, mas tenha mais pena de você. Está se acabando de tanto amar e ser rejeitado, está mais cego do que ela! Se permite comer migalhas quando e como ela quiser. Que tipo de homem você é? Aquele que se contenta com as sobras, sem amor próprio? Aquele que cede a vida toda? O que está disponível quando ela precisa, mas que quando precisa dela, não tem nada? Me diga, quando ela voltar pra você restará um homem nessa casa ou um ser amargurado a esperando?

MULDER: - (ABAIXA A CABEÇA) ...

BABA: - Tudo o que acontece na vida é para o nosso próprio crescimento pessoal. Deus não dá um fardo maior do que você possa carregar. Tire lições boas de situações ruins. Aquele ditado do limão e da limonada. Olha, você tem bons amigos. Pessoas que amam você, estão ajudando você a se erguer, e acredite, não tem muita gente disposta a ajudar os outros nos dias atuais. Você me disse que Scully adora o menino, mas ela também gosta do homem. Entretanto, você não está agindo como homem. Está confuso, debilitado, eu entendo. Mas precisa aproveitar o que aconteceu para crescer. Como homem e como pessoa. Porque ela certamente está tendo as lições dela e vendo que as coisas não são como ela acreditava. Então aproveite as suas lições também. Ame-se mais. Valorize-se mais. Transforme-se. Porque se ela ama você, quando ver que o seu amor próprio cresceu, vai atrair o amor dela mais ainda.

MULDER: - ... Você e o Rato têm razão. Estou confundindo as coisas. Nunca vou tê-la de volta se ela não perceber que amo a mim mesmo... A partir de hoje, quando Scully ligar, você não sabe onde fui, com quem estou e o que ando fazendo. E quando atender pergunte se é a Pamela.

BABA: - (CURIOSA) Quem é Pamela?

MULDER: - Não tem Pamela. Mas ela não sabe.

BABA: - (RINDO) Mulder... Eu desisto! Ainda quer guerra com a Scully?

MULDER: - Não. Mas ela precisa apanhar um pouco, antes que a minha paciência acabe. E eu preciso ter um pouco de dignidade. Meu superego ficou pra me divertir, mas meu ego sumiu e deixou o id tomando conta da casa. E isso não tá dando certo. Freud já dizia...

O telefone toca.

MULDER: - Atenda. Tenho certeza que é a Scully. Ela está curiosa por eu ter saído cedo. E sabe, não adianta eu mostrar pra ela que sou apenas dela. Isso não vai evitar que Scully me traia se quiser. Não é? Se tiver que me trair vai fazer sabendo que sou dela ou que estou com outra.

BABA: - Com certeza. Agora você disse uma coisa de homem crescido! Você não pode controlar a vida da outra pessoa.

Baba atende.

BABA: - Residência dos Mulder... (SEGURA O RISO/ OLHANDO PRA MULDER) Não, ele não está, quem deseja? ... Amiga? Quer deixar recado, 'amiga', porque ele não volta hoje... Não, ele foi pra casa da Pamela. (OLHA PRO FONE/ DEBOCHADA) Hum... Por que ela desligou?

Mulder começa a rir.


3:11 P.M.

Mulder sentado dentro do carro, observando o prédio do outro lado da rua. Semblante triste e sério. Krycek ao lado dele lendo uma revista. Silêncio completo. Krycek olha pra Mulder.

KRYCEK: - Estão de aviso... Aposto que vão dar um tempo antes de tentar mata-la de novo... Olho por olho...

MULDER: - É... Olho por olho e o mundo acabará cego.

Krycek volta os olhos pra revista.

KRYCEK: - O judeu estava conversando com uma prostituta: - Quanto é pra transar com sadomasoquismo? - É pra bater ou pra apanhar? - pergunta a prostituta. - É pra bater - responde o judeu. - E você bate muito? - Não, disse o judeu. Só até você devolver o meu dinheiro!

Mulder continua quieto, olhando pro prédio. Krycek percebe.

KRYCEK: - Vamos fazer diferente da próxima vez. Nos revezamos pra vigiar a Barbara. Você se tornou uma péssima companhia. Nem piadas de comunista você conta mais.

MULDER: - ...

KRYCEK: - Fala Mulder. O que aconteceu? Não gostou das roupas? Do visual novo? Eu só me inspirei na sua mulher e na amiga doida dela aquele dia num shopping. E você tá precisando renovar esse visual e sair um pouco dessa coisa entre agente do FBI e pastor de igreja evangélica.

MULDER: - (SORRI) Gostei. Não é nada não.

KRYCEK: - Ah não vem com essa! Estou provocando você com piada de judeu e você nem falou nada. Já atirei chicletes pela sua janela e você não disse nada. Passou uma velha gorda e eu disse que era sua namorada e você ficou quieto. Chamei os Knicks de timinho burro e você nem esmurrou o volante. Estamos sentados há mais de horas aqui e tudo o que você falou foi 'ai, ai' seguido de uma inspiração peitoral profunda.

MULDER: - (SUSPIRA)...

KRYCEK: -Espero que minha conversa com você não tenha deixado você pior... Eu me senti melhor colocando tudo pra fora do peito. Eu nunca falei sobre minha vida com ninguém. Apenas o Fumacinha sabe, mas não sabe tudo, entendeu? E a Barbara sabe algumas coisas que eu nem sei como conseguiu descobrir. Devo quanto pela consulta?

MULDER: -Irmãos de armas não precisam retribuir uma ajuda.

Krycek fecha a revista.

KRYCEK: - Mulder... Eu sei que seus amigos não entendem a sua amizade comigo. Não os culpo. Eu não entendia direito até aquele dia em que você me perguntou se eu tinha um avô que morreu em Auschwitz, major do exército russo, de nome Yuri Krycek... Aquilo quebrou minhas pernas. E enquanto você me explicava como sabia disso, eu fiquei arrependido mais ainda de todas as merdas que eu fiz contra você, porque nossos avôs... Eles eram amigos. E dentro de um campo de concentração nazista! Ler sobre meu avô nas anotações do seu avô, sabendo como ele viveu lá, as coisas que conversava e como morreu, me encheu de culpa ao mesmo tempo que de alegria, pois eu pouco sabia quem foi o pai do meu pai. Meu pai morreu e nem sabia nada sobre o pai dele.

MULDER: -Nem o meu.

KRYCEK: - O seu pai morreu sem saber por minha culpa. Ele poderia estar vivo.

MULDER: - Rato, não vamos retomar esse assunto, ele acabou. Meu pai não estaria vivo. Se você não apertasse aquele gatilho, outro ia apertar. A gente já entendeu a droga toda, naquela época nem eu sabia e nem você sabia o que era aquela merda em que eles estavam nos metendo. Ninguém ali era inocente. Apenas o idiota aqui atrás da irmã dele e o idiota aí querendo sobreviver pensando que um dia ia conseguir sair dessa ileso e cantar profissionalmente. E a vida seguiu, eu tentando descobrir a verdade e você tentando me ferrar sob as ordens deles. Nem eu ou você sabíamos realmente quem o outro era.

KRYCEK: - (CULPADO) ...

MULDER: - O que conversamos sobre nossos avôs, daquela guerra desgraçada que cortou famílias, deixou sequelas irreversíveis, ali foi o ponto de partida pra nossa geração se fuçar com essa conspiração toda. E isso que ainda não perguntei ao Fumacinha se ele sabe que o pai dele e o pai de Strughold andavam juntos. Se ele sabe que foi criado pela família de Strughold.

KRYCEK: - Isso ele sabe, porque me contou. Não sabe do pai dele, mas sabe que foi criado pelos Strughold. E que foi jogado nessa merda toda também porque como filho adotivo não tinha muito direito nas coisas deles, empurraram ele pra isso o fazendo abandonar seus sonhos de escritor se quisesse sobreviver.

MULDER: - Quer saber? Acho que todo mundo foi vítima dessa guerra. Meus genes, meus avós, meus dois pais, eu, minha filha, seus avós, seu pai, você... E os únicos a se darem bem com isso foram os Strughold! Olha, ninguém precisa saber porque você e eu nos tornamos amigos e ninguém tem nada a ver com isso, ok? Nem Scully sabe que eu contei pra você sobre Auschwitz. Bom, Scully já tava ficando meio doida, eu nem quis falar nada pra ela, mas um dia, se for preciso, pra ela eu contarei e somente pra ela.

KRYCEK: - ...

MULDER: - E depois veio essa confusão toda querendo nos colocar um contra o outro, jogando Scully no meio, o que prova que realmente a gente deve permanecer juntos como uma força porque é tudo o que eles não querem. E pelo jeito é uma força histórica, vem de outra geração. Então ninguém precisa saber do nosso segredo sobre os nossos avôs. E bem como as coisas que me contou do seu passado, isso tudo vai comigo pro túmulo, eu jurei pra você. Ouvir você me fez ao menos pensar que reclamo da vida de barriga cheia. Só um conselho de amigo. Se um dia se apaixonar por alguém e a coisa ficar séria mesmo... Precisa contar pra ela. Tudo... Tudo mesmo. Por mais doloroso que seja.

KRYCEK: - Acho que não. Não sei nem como consegui contar essas coisas pra você. Melhor nem falar de passado, deixar quieto, evitar... Muitos caras fazem isso.

MULDER: - Precisa contar. Sabe por quê? Não adianta esconder seu passado, seus erros, suas culpas, a vida desregrada e a violência que sofreu... Não da pessoa que vive com você. Se ela realmente for a pessoa certa, ela vai ajudar você a superar tudo isso. Sabe que falo por experiência própria. Scully e eu não temos segredos um com o outro. E isso é muito importante numa relação. Quando ela perguntar dos seus pais, vai dizer o quê? Quando perguntar por que você não tem fotos de quando era criança, como foi sua adolescência, quem foi sua primeira namorada, o que fazia pra se divertir... No que trabalhou a vida toda... Isso vai acontecer cedo ou tarde. E se você ficar criando um monte de mentiras, uma hora ela descobre. E tudo pode acabar por mais belo que seja. E nem você vai se sentir bem mentindo a vida toda. Ou se sentia bem quando fazia isso?

KRYCEK: - Nunca me senti bem, mas encarava a mentira como parte do trabalho. E você sabe que mesmo assim, muitas vezes eu não menti pra você.Agora na vida pessoal...Acho que minhas chances de redenção se acabaram. Não dá, Mulder. Tem muito sangue na minha vida, não dá pra empurrar pra baixo do tapete. Então melhor seguir do jeito que puder. E sozinho.

MULDER: - O pior de tudo é que você canta bem. Acho que canta melhor do que o Fumacinha escreve.

Krycek abaixa a cabeça rindo.

MULDER: - Fico pensando... Hitler era um artista. Péssimo, mas era o sonho dele ser pintor. Acho que os caras lá do topo, tipo o Moedinha, que investe na indústria artística, e faço uma ideia do porquê... Esses caras sabem que os artistas são os tipos mais sensíveis. Sabe que eles tem sonhos, vontade de serem reconhecidos por seu trabalho, são lutadores e possuem sempre algum tipo de transtorno psicológico. E graças ao transtorno, é que são artistas. Eles não tiveram uma vida fácil. E sabem que sobreviver de sua arte, conquistar um espaço nesse meio não é algo simples. Então ofereça uma oportunidade irrecusável para eles terem como sobreviver financeiramente, tire aos poucos a arte deles e coloque em suas mãos uma arma. Terão o mais perfeito dos assassinos.

KRYCEK: -(PENSATIVO) ...

MULDER: - Platão acreditava que havia uma "loucura divina" que era a base fundamental de toda a criatividade. Edgar Allan Poe divagava sobre o limite entre a arte e a loucura. Não é de agora que se faz essa ligação. Você pode ver na história uma lista enorme de artistas, quase sempre portadores de transtornos. A criatividade dos caras parece estar ligar na "loucura", na instabilidade psíquica, manias, variações de humor, dependência química ou alcoólica... Todos atormentados. Vincent van Gogh, Lord Byron, o próprio Poe. Seus conterrâneos Tolstoi e Tchaikóvski, e não vamos esquecer de Mozart. E nem precisa voltar muito no tempo. Pegue alguns artistas de diversas formas de arte e verá traços de transtornos psíquicos, emocionais, leves ou graves. Pode ler nas revistas de fofocas. Está ali, estampado com uma manchete, invisível para os tolos perceberem, mas perceptível para os que entendem a alma de um artista... Sabe que isso daria uma ótima tese de doutorado em Psicologia?

KRYCEK: - E dentro dessa ótica toda que você falou, qual a sua arte, Mulder?

MULDER: -(RINDO) Fica entre nós dois?

KRYCEK: - Levarei para o túmulo se quiser.

MULDER: - Puxei ao "papai". Eu gosto de escrever.

Os dois riem. Krycek se recosta no banco.


4:21 P.M.

Krycek observa o prédio. A rua vazia. Mulder comendo sementes de girassol.

MULDER: - ... Rato... Posso perguntar uma coisa?

KRYCEK: - Pergunte.

MULDER: - Eu sei que você entende de mulheres. O que as mulheres esperam de um homem?

Krycek olha pra Mulder, incrédulo.

KRYCEK: - Eu? Se eu entendo de mulheres? Tanto quanto entendo de ogivas nucleares! Aliás, ogivas nucleares são menos perigosas! Eu disse que ia ajudar você a provocar ciúmes na Scully, a chamar a atenção dela, mas eu não entendo as mulheres mesmo. Pensei que você fosse o especialista no assunto!

MULDER: - ... Scully teve um encontro hoje... Ela disse que sairia com alguém.

KRYCEK: - Agora entendi onde anda seu pensamento e porque está quieto demais essa noite...

MULDER: - Eu não entendo mais nada, sabe? Estou sendo quem sou, ela está percebendo a realidade das coisas, mas... (RESPIRA FUNDO) Nós transamos algumas vezes, desde que fui pra Bluesville.O problema é que pensei que por isso estar acontecendo, que as coisas se tornariam mais fáceis, que ela estava novamente gostando de mim. Mas a verdade é outra. É só sexo. Como ela mesmo disse. E eu não quero apenas sexo. Eu saio de lá me sentindo usado e não gosto dessa sensação de ser apenas um objeto de satisfação dela.

KRYCEK: - Sabe o que eu acho engraçado entre você e Scully? Você é a mulher na relação e ela é o homem. Você se magoa fácil, fica todo sentimental, enquanto que pra ela é só aventura. Por isso você atrai mulheres! Você pensa, age e é passional como uma mulher. Ela quer sexo, você quer amor. Até nos papéis de homem e mulher vocês são diferentes!

MULDER: - (SORRI) É... Mas eu amo a minha Scully... Não consigo tira-la da cabeça por um momento sequer. Só queria entender por que com todos, menos comigo.

KRYCEK: - Eu sei qual é o seu problema, Mulder. Você não sabe mostrar quem é o homem. Eu já disse isso pra você. Você nunca teve voz ativa com as mulheres. Veja a Scully. Ela manda em você, faz o que quer e você sai arrastando o traseiro, feito cachorro escorraçado. Mulder, você precisa ser macho! Precisa botar ordem no galinheiro. Parar de ficar emburrado, chorando pelos cantos. Isso não é atitude de macho.

MULDER: - E o que é atitude de macho? Bater nela?

KRYCEK: - Tá maluco? Isso é atitude de machão. É diferente. O problema é que você respeita, compreende e é amigo demais! Mulder, presta atenção. O que mais causa dor numa pessoa? O que mais irrita uma mulher?

MULDER: - (SUSPIRA) O desprezo.

KRYCEK: - Ótimo! Entendeu agora? Se faz de difícil. Não liga mais pra nada do que ela faça, não se importe com ela. E se não gosta de transar assim, não apareça. Mulder, você tem que mostrar pra Scully que ela não faz falta. Criar a necessidade dela por você, entendeu?

MULDER: - ... Tirei a aliança.

KRYCEK: - Agora sim! E seja macho com ela. Seja grosso, estúpido, destrate, se imponha e cada vez que ela gritar, grite mais alto e engrosse a voz. Não seja mais um cavalheiro agora. Ela já conheceu o Mulder cavalheiro, não tem mais surpresas nisso. Então despreze, ela que se dane, saia na frente, entre e deixe a porta fechar na cara dela, não puxe a cadeira. Você vai ver que rapidinho ela vai começar a babar. Elas casam com os bonzinhos e cavalheiros, mas elas ficam olhando na rua é pros tipos maus e cretinos. Quer conquistá-la de novo? Deixe de ser marido e seja amante! Mostre que você também pode ser o cafajeste que... Desculpe dizer isso, tá? Mas mostre o cafajeste que ela pensava que eu sou. E certamente pensava que você era com toda a lábia que você tem. Seja cretino com ela. Quando transarem, goze e vá embora! Ah, e exija preservativo. Ela vai perder noites de sono tentando entender. Depois você deixa claro que não sabe com quem ela anda!

MULDER: - (PÂNICO) Eu não consigo fazer isso!

KRYCEK: - Tá vendo? Acho que nessa coisa de hibridação enfiaram mais um cromossomo X em você, por que sinceramente eu não entendo como pode ser tão vulnerável! Existe um lado tarado, cretino e mau caráter em você. Põe pra fora de verdade e não apenas em piadinhas irritantes pra ela. Mulder, seja homem. Por que acha que as mulheres ficam doidinhas por mim?

MULDER: - Ah como vou saber? Nem me interessa!

KRYCEK: - Pelo meu jeito. Falo pouco sobre mim, não prometo nada, deixo sempre as coisas no ar, vou direto ao assunto, chego atacando quando quero e que se danem se não me quiserem. Lembre-se, Mulder, mulher tem de sobra! Homem não. Portanto, quando a oferta é maior do que a procura... Sabe as leis de mercado. Aplique-as.

MULDER: - Você diz isso porque ainda não encontrou a que vai fazer você de cachorrinho. Eu vou morrer de rir quando isso acontecer! Pode apostar!

KRYCEK: -(IRRITADO) Nunca vai acontecer! Eu não sou idiota pra mulher nenhuma. Por isso eu digo que nasci pra ser amante e você nasceu pra ser marido. Você é otário de mulher! Scully tem razão, você é um alien mesmo. Tem que ficar levando na cara. E o pior é que nunca aprende.


Residência dos Mulder – Virgínia - 10:21 A.M.

Mulder parado na frente do espelho. Se observa, fazendo caras e bocas. Falando sozinho. Ajeita o terno. Caminha pelo quarto, em gestos malandros.

MULDER: - Agir como homem... Você tem que agir como homem...

Victoria, sentada na cama, olha pra Mulder, curiosa. Mulder para na frente do espelho.

MULDER: - (BATE NO COLDRE) Macho, entendeu? (DOBRA O BRAÇO ANALISANDO OS MÚSCULOS) Eu sou macho! Eu posso tudo.

Victoria dá um sorriso misturado com suspiro, colocando as mãos sobre as perninhas, observando Mulder.

MULDER: - (ENGROSSANDO A VOZ) Macho! Olha aqui, Dana Scully, eu dirijo, eu sou o macho por aqui, não me provoque ou vai tomar porrada, mulher!

Baba entra no quarto com uma pilha de roupas. Para, observando Mulder, incrédula.

MULDER: - (DISCUTINDO COM O ESPELHO/ ARRUMA A GRAVATA) É, eu sou o macho por aqui, tá legal? Ahn? Me entendeu? O que foi, ahn? Vai me encarar é?

Baba olha pra Victoria. Segura o riso. Mulder coça o saco, cospe pro lado e encara o espelho.

MULDER: - E aí, Scully? Hum? O que foi, gatinha? Ahn? Onde eu estava? O que você tem com isso?

Baba começa a rir. Victoria ri junto. Mulder vira-se em pânico.

MULDER: - (FRUSTRADO) Eu não consigo!!!! Eu não consigo ser cafajeste! Qual o problema comigo?

BABA: - Posso sugerir?

Mulder senta-se na cama, frustrado.

MULDER: - Por favor, sugira.

BABA: -Não precisa agir como um cafajeste no sentido visual da coisa. Entende?

MULDER: - Como assim?

BABA: - As palavras. As palavras e as atitudes. Você tem um cafajeste aí dentro, cheio das piadas cretinas, sorriso sacana e tiradas sexuais. Esqueceu? Use-as!

MULDER: - Isso é fácil, o problema é a atitude!

Baba larga as roupas.

BABA: - Levante-se. Você é Scully e eu sou você.

Mulder se levanta. Baba pigarreia. Começa a imitar Mulder. Aponta o dedo na cara dele.

BABA: - (ENGROSSA A VOZ) Chega, Scully, tá me entendendo? Se você acha que pode se aproveitar de mim, isso me dá liberdade pra me aproveitar de você.

MULDER: - (ARREGALA OS OLHOS)

BABA: - O que está olhando, hein? Me deixe em paz! Daqui à pouco vai estar urinando ao meu redor pra marcar território! Se quer sexo, faremos sexo. É agora ou depois? Ahn? Dá ou desce, minha filha, porque tem mais um monte pra eu atender hoje.

MULDER: - (DEBOCHADO) Interessante minha versão afro...

BABA: - (DEBOCHADA) Precisa me ver caçando discos voadores. Agora, rapaz, imponha-se um pouco pra ela, que não vai ser machismo não. É questão de impor respeito. Se valorize. Fique por cima.

MULDER: - (DEBOCHADO) Sempre.

BABA: - Ah, tá vendo? As tiradas de cafajeste já começaram. Agora haja como um!


Apartamento de Barbara Wallace – 1: 36 P.M.

Barbara, de meias brancas e vestido, cabelos presos no alto da cabeça, pega o taco de beisebol de dentro do armário. Ergue o taco em posição de ataque e aproxima-se da porta. Resvala no chão de madeira encerado, segurando-se na fechadura. Respira fundo, coloca a mão no peito. Batidas na porta. Barbara ergue o taco novamente, pés firmes pra não escorregar. Abre lentamente uma fresta. Arregala os olhos. Abaixa o taco e abre a porta.

BARBARA: - Você me assustou!!!

KRYCEK: - Vai me acertar com isso?

Krycek entra. Barbara fecha a porta, o acompanhando com os olhos. Coloca o taco sobre o sofá.

KRYCEK: - Bonito seu apartamento (OLHA PRA CIMA) Legal. Quarto suspenso...

BARBARA: - É, sobra mais espaço.

Krycek fica parado, observando pela janela.

BARBARA: - (ESTRANHANDO) ... Quer uma vodca?

KRYCEK: - (OLHA PRA ELA/ SORRI) Por que eu iria querer uma vodca?

BARBARA: - Sei lá! Não é isso que os russos bebem?

Krycek respira fundo, sorrindo.

KRYCEK: - Pelo menos algum comentário pra me animar.

Barbara vai pra cozinha, observando ele, desconfiada. Pega a garrafa e coloca sobre o balcão que divide a cozinha da sala. Coloca os copos.

BARBARA: - O que aconteceu? Eu perco o emprego e você é quem fica desse jeito?

KRYCEK: -Eu preciso falar com você. Esclarecer umas coisas.

BARBARA: - Que coisas?

Krycek senta-se no sofá. Coloca as mãos no rosto. Barbara se aproxima com os copos e a garrafa. Senta-se. Entrega um copo pra ele.

KRYCEK: - Encha.

Barbara enche o copo.

BARBARA: - (INCRÉDULA) Só por favor, não quebre o copo. Sei que é costume russo e...

KRYCEK: -Eu estou metido no meio de um casal e...

BARBARA: - Sei. Vocês três estão...

KRYCEK: - Não tem três. Não tem nada. E isso está me deixando maluco, afetando a minha vida e eu já estou com problemas o suficiente! Mas não posso abandonar Mulder, ele me tira pra irmão mais velho e se eu não ajudá-lo, aqueles cretinos vão vencer de novo.

BARBARA: - Acho que não estou entendendo...

KRYCEK: - Eu preciso desabafar com alguém. Alguém que está por fora da coisa toda. Aquele desgraçado do Alberthi sabia que eu me sentia atraído pela Scully e usou isso a seu favor com intenção diabólica... Eu... Eu não aguento mais essa merda de conspiração, sabe?

Krycek empina o copo de vodca como se fosse água. Barbara arregala os olhos. Entrega a garrafa.

BARBARA: - Pode me explicar isso, Al? O que está havendo realmente entre vocês três?

Corte.


2:04 P.M.

Barbara anda pela sala, pensativa. Krycek já bebeu metade da garrafa, jogado no sofá, olhar fixo no teto.

KRYCEK: - Desculpe, eu não deveria envolver você. É que estou com isso trancado na garganta, o único amigo que me resta é o Mulder, e ele está no meio desse rolo todo.

BARBARA: -Olha Alex... Fica difícil dizer qualquer coisa. Mas a única certeza de tudo, você já sabe: ao final disso, quem vai ficar sofrendo é você. Já está sofrendo. Se acostumou com a companhia de alguém, mas teve que se livrar dela. Por sorte seu amigo confia em você. Poderia ter perdido a amizade do Mulder também. Entendo que quase se apaixonou por ela, e fez o certo expulsando Scully de lá... É, você tem caráter. E eu nunca pensei que você fosse gay. Pensei que no máximo fosse bissexual, porque Mulder leva mais jeito pra isso.

Os dois riem.

KRYCEK: - Deixa o pobre do Mulder em paz, ele tá vivendo no inferno. Eu mereço isso, sabia? Eu passei minha vida pisoteando as mulheres. Eu as usava como quem usa um objeto. Nunca consegui ter relacionamentos estáveis. Meus relacionamentos eram por sexo, nunca por amor. Nunca senti o que senti pela Scully. E isso me incomodou, entende? Nem pela Marita eu sentia isso. Eu não vou mentir que por várias vezes pensei em trair Mulder. Pensei em toca-la, em tê-la pra mim... Mas ainda bem que acordei. Aquilo era uma tentação pra me fazer cometer mais besteira. E acho que tudo isso veio justamente num momento em que eu comecei a amadurecer, perdi meu filho e perdi a única amiga que eu tinha, a mulher pra quem eu estava disposto a mudar de vida. E agora... Agora eu me sinto como quem não tem mais nada.

BARBARA: - ... Acho que entendo.


Residência dos Mulder - 2:10 P.M.

Trovoadas. A chuva começa a cair. Mulder desce as escadas, com Victoria no colo. Baba sentada no sofá.

MULDER: - Onde está Ellen?

BABA: - Já foi.

Mulder olha pra Victoria.

MULDER: - E eu vou fazer um lanche pra essa pobre criaturinha que vive morta de fome.

VICTORIA: - Nahhh!!!!!!!!!

MULDER: - É sim! Você é comilona!

VICTORIA: - Nahhhhh!!!!!!!!!

MULDER: - Ah tá discutindo com o seu pai é? Pois eu vou te ensinar a não discutir com o seu velho...

Mulder mordisca ela pelo pescoço. Victoria grita a risos altos.

VICTORIA: - Pala!!!!!!!! Pala!!!!!!

MULDER: - Não "palo" não. Vou devorar o pescoço dessa menininha gulosa!

VICTORIA: - (RINDO) Naaaaaaaahhhhh!!!!!!! (SACODE AS PERNAS) Babaaaaaaaa!!!!!!!!!!

Mulder a coloca no chão. Ela sai caminhando pra perto dos brinquedos, quase caindo.

Batidas na porta. Mulder abre a porta. Skinner olha pra ele. Mulder fica surpreso.

MULDER: -A que devo a honra da sua ilustríssima visita, senhor diretor assistente Skinner?

Skinner retira do bolso uma moeda de ouro e mostra pra Mulder.

SKINNER: - Encontrei isso em minha casa.

MULDER: - (FECHA OS OLHOS) ... Me dá isso.

Mulder pega a moeda.

SKINNER: - Mulder eu... Eu andei pensando certas coisas e devo desculpas a você pelo péssimo amigo que eu fui.

MULDER: - Por que? Por não ter acreditado em mim? Eu disse que pouco me importava se acreditasse ou não em mim. Pelo menos tive a certeza de que se algum dia eu estivesse louco, você salvaria Scully por mim.

SKINNER: - ... Me desculpe.

Skinner dá as costas. Mulder põe a mão no ombro dele. Skinner ergue o rosto, hipnotizado.

MULDER: - Entra aí, Girafão. Não posso condenar você ou estaria me condenando. Eu fiz coisas rudes no passado que hoje poderiam muito bem serem coisas no presente. Portanto, não o condeno por pensar que eu batia na Scully.

Skinner vira-se pra Mulder, meio tonto.

SKINNER: - Não, eu... Eu preciso ir, Mulder. Novamente me desculpe as coisas que disse contra você.

MULDER: - Que coisas? (SORRI) Skinner, todos nós fomos peças de um jogo de estratégia manipulado pelo Moedinha... Aliás, Moedinha, Fumacinha e esses diminutivos perigosos da conspiração.

SKINNER: - Tomei conhecimento de que Carter e Kersh se reuniram a portas fechadas para tratar da morte de Patterson, revirando papéis, sua ficha pessoal, falando com pessoas relacionadas a você, procurando algo que pudessem usar contra você, Mulder. Querem jogar a culpa da morte de Patterson em você, se duvidar vão colocar suas digitais em alguma arma, qualquer coisa pra tirarem você do jogo. Você ainda atrapalha Mulder. Você e sua mania de abrir a boca aos quatro ventos. Não tem noção do jogo em que está inserido? Mulder, lá fora é uma selva! Você se acha uma raposa, mas tem leões famintos doidos pelo seu sangue! Escute meu conselho, caia fora disso, enquanto resta algo de bom dentro de você.

MULDER: - Eles nunca vão tirar o que há de bom em mim, Skinner.

SKINNER: - É, mas tiraram o caso da minha responsabilidade, sumiram com arquivos... Eu... Eu falei com Scully sobre isso. Mulder, ela sabe que fizeram algo com ela, eu só não entendo porque ela não assimila!

MULDER: - Não vamos estragar a tarde de sábado falando na Scully.

SKINNER: - Mulder, precisa convencer Scully a ver a realidade!

MULDER: - Skinner, o que você tem hoje que está estranho?

SKINNER: - Eu não sei... Fiquei esquisito de repente. Acho que estou cansado, Mulder. Cansado desse jogo. Eu não quero mais brincar de diretor assistente.

MULDER: -Impressão minha ou todo mundo anda cansado e sofrendo? Skinner, entra aí. Acho que você não tá legal.

SKINNER: - Não, eu preciso realmente ir. Amanhã é dia de me encontrar com meu filho.

MULDER: - Como ele está?

SKINNER: - Bem. Max é mais esperto e tem mais cabelo do que o pai dele.

Mulder sorri. Skinner sorri. Os dois trocam um abraço. Skinner sai na chuva, em direção ao carro. Mulder o acompanha com os olhos. Olha pra Victoria.

MULDER: - O que essa gente tem que anda estranha? Primeiro me descem os cachorros, agora...

Victoria sorri e mostra uma peça do quebra-cabeças com um coração.

BABA: - Tá vendo? Questione a sua filha, a única que tem juízo no meio desse bando de doidos!



BLOCO 3:

2:19 P.M.

Trovoadas. Skinner dirige. A chuva cai forte, dificultando a visibilidade.

SKINNER (OFF): - Deveria ter pego outra estrada... Como fui errar o cruzamento? Acho melhor trocar as lentes dos óculos...

Skinner suspira, indignado consigo mesmo. Dirige o olhar para os faróis que surgem no acostamento. Vira o rosto acompanhando o carro parado na beira da estrada.

SKINNER (OFF): - Pobre do infeliz ficar sem carro numa chuva dessas... O que eu tenho a ver com isso? Eu não vou parar... Nunca se para... (ESMURRA O VOLANTE) E se fosse eu?

Skinner diminui a velocidade e toma o acostamento. Engata a ré. Para. Verifica a arma no coldre. Olha pra chuva.

SKINNER: - Não acredito que vou fazer isso!

Skinner desce do carro. A chuva cai forte, o molhando rapidamente. Skinner se aproxima do carro parado, com os faróis acesos. Fica com a mão no coldre. Bate ao vidro.

SKINNER: - Ei, amigo, precisa de ajuda?

O vidro desce lentamente revelando Ellen. Os dois se olham. Abrem um sorriso.

SKINNER: - Você não é...

ELLEN: - Diretor? O que faz nessa chuva?

SKINNER: - Ia fazer a mesma pergunta... O que aconteceu?

ELLEN: - Não sei. Simplesmente parou de funcionar. Ia ligar pra Dana, mas esqueci meu celular em casa. Estava esperando a chuva diminuir pra encarar uma caminhada até algum telefone público.

SKINNER: - Vem, eu dou uma carona pra você.

Skinner abre a porta. Ellen desce, colocando a bolsa na cabeça.

ELLEN: - Como se isso adiantasse!

Ellen tira a bolsa da cabeça. Fecha a porta do carro. Os dois saem correndo em direção ao carro de Skinner. Entram. Skinner liga o carro.

ELLEN: - Desculpe pelo banho inoportuno.

SKINNER: - Não costumo nunca vir por esse caminho.

ELLEN: - Então tive sorte. Uso esse caminho sempre porque é mais curto.

SKINNER: - Uso o outro por ser mais longo. Demora mais pra chegar em casa. Também não costumo parar na estrada. Foi muito acaso.

ELLEN: - Eu realmente tive muita sorte, diretor.

SKINNER: - Ah, não me chame de diretor. Me chame de Walter.

ELLEN: - Obrigado. A palavra diretor me lembra do diretor da minha escola, o sr. Philis, um velho baixo e gordo, tinha um bigode igual ao do Grouxo Marx.

SKINNER: - (RINDO) Deveria ser uma figurinha...

ELLEN: - Era um chato! Diretor é um termo que remete a alguém sério e chato.

SKINNER: - Me acha sério e chato?

ELLEN: - Não. Acho que você é um sujeito que sabe como se comportar em diversos ambientes. Você tem discernimento das coisas, das suas responsabilidades. Mas não vejo você sério 24 horas por dia. Aposto que canta no chuveiro.

SKINNER: - (SORRI) Não canto no chuveiro.

ELLEN: - Então acho melhor chamar você de diretor...

Os dois riem.


Apartamento de Barbara Wallace - 2:34 P.M.

Krycek estirado no sofá, completamente bêbado. Brinca com a garrafa vazia. Barbara sentada no chão, recostada no sofá, segurando outra garrafa.

KRYCEK: - Quer saber? Você agiu certo. Eu faria isso também. Eu acho que esganaria o infeliz desgraçado que se atrevesse a fazer isso. Não, eu não esganaria. Eu atiraria nele, bem no meio da testa. Pra fazer companhia pro diabo. Quer que eu mate ele pra você?

BARBARA: - (SUSPIRA/ LEVANDO A GARRAFA À BOCA) Não, deixa que ele se mate sozinho nas mãos do Rockfell... Eu queria ter dito mais desaforos pro Charlie. Mas o fato de ter perdido meu emprego me deixou deprimida. Perdi toda e qualquer reação. Eu não merecia isso depois de tudo o que fiz! Eu subi aos poucos, me tornei a maior repórter do telejornal deles, dei a maior audiência pra eles. Quando fui falar sobre a prisão de Mulder e as investigações que deveriam ser feitas no sistema de justiça americano, principalmente no FBI, acabei virando repórter policial naquela droga de jornal!

KRYCEK: - Desculpe por meter você nisso.

BARBARA: - Está desculpado. Byers é quem vai se ver comigo, afinal a ideia foi dele. Acho que vou pegar minhas malas e ir embora daqui. Vou pro México.

KRYCEK: - Fazer o quê no México?

BARBARA: - Jornalismo social. Investigativo. Denúncia. Ou simplesmente comer tacos.

KRYCEK: - Quando isso acabar vou voltar pro meu país. Acho que vou me exilar na Sibéria. Uma cabana, cortar lenha, andar de trenó, caçar... Ficar junto com os Thukcha, criando renas no gelo e ser motivo de piada do povo russo. Me casar com uma garota da tribo, ter dois filhos e batiza-los de Brezhnev e Andropov.

BARBARA: - (RINDO) Não faria isso com as crianças!

KRYCEK: - Por que não? Stalin já está manjado!

BARBARA: - Sim! Frio, pouca gente e solidão total. Você tá certo.

KRYCEK: - Ou morar em algum lugar chamado 'Lamskaia Sloboda'. Toda cidade na Rússia tem um lugar pobre e abafado chamado 'arrabalde dos cocheiros'. É pra lá que eu vou. Aqui nunca mais. A vodca é horrível. Me passa essa garrafa.

BARBARA: - (RINDO) Não. O nosso Hoover ensinou as pessoas a não beber.

KRYCEK: - Grande coisa! O nosso Stalin ensinou as pessoas a não comer! Dá isso aqui!

BARBARA: - (AFASTA A GARRAFA NO AR) Não, você bebeu demais!

KRYCEK: - Nunca diga a um russo que ele já bebeu demais.

BARBARA: - Não mesmo, camarada. Chega de vodca.

KRYCEK: - Olha aqui, camarada, se não me passar essa garrafa eu desço e compro mais duas.

Os dois riem. Krycek pega a garrafa de Barbara.

BARBARA: - Sempre tive fascínio pela Rússia.

KRYCEK: - (LEVA O DEDO A BOCA) Psiu! Pode haver escutas por aqui diretamente ligadas ao gabinete do presidente. Vai ficar enrascada se admitir que nossa tecnologia espacial foi precursora a americana.

BARBARA: - (RINDO) ...

KRYCEK: -(CURIOSO) Por que tem fascínio pela Rússia?

BARBARA: -Minha avó paterna tinha uma amiga que era soviética. E essa senhora me emprestou o livro 'Dr. Jivago'. Eu devorei o livro. Depois eu assisti o filme muitas vezes e gastei horrores de lenços de papel! Hoje, como adulta, penso na coragem de Boris Pasternak em escrever um romance histórico como aquele, expondo o horror do regime e lançar ao mundo numa época em que a Rússia era totalitarista.

KRYCEK: - Verdade.

BARBARA: - Também chorei em 'Os Girassóis da Rússia', adoro a Sophia Loren... Amo os poemas deMaiakovski... "Não acabarão nunca com o amor, nem as rusgas, nem a distância. Está provado, pensado, verificado. Aqui levanto solene minha estrofe de mil dedos e faço o juramento: Amo firme, fiel e verdadeiramente".

KRYCEK: -(SORRI) "Brilhar sempre, brilhar em todo lugar até os últimos dias do guerreiro brilhar – e sem desculpa nenhuma! Eis o meu lema – e do sol".

BARBARA: -Ah, você também gosta dele! E pra não achar que eu sou uma romântica viciada, amo Tolstoi e Dostoiévski. Também o Circo de Moscou e o Balé Bolshoi... O humor russo... A balalaica... Aquela coisa romântica dos czares russos, embora isso seja mais ficção que a realidade, porque eram um bando de sanguinários sanguessugas... Pobre Princesa Anastásia... Ah, e o Rasputin! Ô figurinha controversa! Assistiu Rasputin com o Alan Rickman?

KRYCEK: -Não.

BARBARA: - Ah, ele estava ótimo no papel! E gosto também do idioma, embora não entenda nada. (SORRI) Só sei algumas palavras básicas de guia de viagem.

KRYCEK: - (SORRI) Tê mnye nrávichsya.U tebiá krassívaia ulíbka. Ti krassívaia*, Barbara Wallace.

(*Eu gosto de você. Você tem um belo sorriso. Você é bonita, Barbara Wallace.)

BARBARA: - O que significa?

KRYCEK: - (ENIGMÁTICO) Já esteve em Moscou?

BARBARA: - (RINDO) Não muda de assunto! O que você falou em russo?

KRYCEK: -Falei que hoje vai chover.Já esteve na Rússia?

BARBARA: - Nunca. Mas eu quero conhecer Moscou. Acho linda a arquitetura da Catedral de São Basílio, as cúpulas coloridas... A Praça Vermelha... Dizem que São Petersburgo também é uma cidade linda! E tem as músicas, as danças, as festas... Aquelas lutas que vocês fazem no gelo, sem camisa, ou aqueles banhos gelados em temperaturas absurdas!

KRYCEK: - Ah! Você gosta do Dia do Perdão... E de vodca?

BARBARA: - (RINDO) Também! Essa amiga da minha avó, depois que elas ficaram viúvas, viviam grudadas. E ela fazia cada comida maravilhosa! Frango a Kiev, salada russa... Meu Deus, engordei dez quilos só em lembranças! Ela fazia uns bolinhos achatados de maçã com cenoura, umas massas recheadas, sopas...O que tem mais na União Soviética?

KRYCEK: - (SE ENGASGA COM A VODCA/ QUASE SE CUSPINDO DE RIR) ... Judeu. Mas isso você encontra até no porão do FBI!

BARBARA: - (RINDO) Mulder não é judeu, é americano!

KRYCEK: - Mas tem o sanguezinho do Ariel Sharon, me acredite... Nada contra, descendo de judeus. Minha mãe falava idish.

BARBARA: - Não deve ter sido fácil pra vocês saírem de um regime político pra outro... Aposto que se perguntou "como viver agora"?

KRYCEK: - Nunca. Nós russos nos perguntamos "para que viver"?

BARBARA: - Admiro seu povo. Acho que poucos países tentam entender os russos.

KRYCEK: - Acho que Vladimir Putin também tenta.

Os dois começam a rir. Krycek se levanta. Entrega a garrafa pra ela. Barbara se levanta. Os dois ficam se olhando.

KRYCEK: - Obrigado por me ouvir. Eu precisava rir um pouco. Mas preciso ir.

BARBARA: - Também precisava rir um pouco.

Krycek aproxima os lábios dos lábios dela. Barbara fecha os olhos. Krycek lhe dá um beijo.

KRYCEK: - Costume russo.

BARBARA: -...

Krycek rapidamente toma Barbara nos braços e a empurra contra a parede, devorando seus lábios, levando as mãos pelo traseiro dela.

Barbara empurra Krycek e acerta um tapa no rosto dele. Krycek recua, assustado, passando a mão no rosto. Barbara, indignada, abre a porta. Krycek sai de costas, olhando pra ela.

BARBARA: - Eu não sou o tipo de mulher que você pensa!

Barbara fecha a porta, se escorando com as costas na porta, tensa.


Residência dos Mulder – 8:21 P.M.

Mulder desce as escadas. Cabelos arrepiados com gel, alguns fios caindo na testa, jaqueta e calças de couro, botas com fivelas, brinco discreto na orelha. Extremamente sexy, parecendo um roqueiro. Victoria e Baba olham pra ele, impressionadas. Mulder abre os braços e dá um giro.

BABA: - Ok, ok, ok, Elvis! Vou ter que admitir que seu amigo russo está levando você pro mau caminho. Aliás, você está um mau caminho! Nem parece aquele idiota engravatado! Nem sabia que você era um cara bonito!

VICTORIA: - Indo! Papai indo!

MULDER: - É, Pinguinho? Papai tá lindo? (DEBOCHADO)Vou ganhar umas lebres.

BABA: - Pelo amor de Deus! Nem eu mais me lembrava dessa gíria! Há quanto tempo você não sai pra fazer festa? Um século? Precisa se atualizar! Agora são gatinhas, não lebres.

MULDER: - (RINDO) Vou ganhar umas gatinhas então.

BABA: - Percebe-se... Dá pra sentir o perfume do outro lado da cidade. Tem certeza de que consegue respirar dentro dessa calça?

MULDER: - Não sei que horas volto, vou cair na festa!

BABA: - Espera aí, Senhor Crise dos Quarenta...

Mulder para. Baba ajeita a gola da jaqueta.

BABA: - Ok, Elvis. Pode sair agora. Siga o plano. Mas siga o plano mesmo, porque se desistir e for pra farra, a mulherada vai esfolar você vivo!

Mulder sai rindo. Baba olha pra Victoria.

BABA: - Sinceramente tenho pena de você. Se é filha de loucos, qual o seu destino?

VICTORIA: - (RINDO) Loca?


Apartamento de Ellen – 9:05 P.M.

Mulder, mascando chicletes, bate à porta. Ellen abre a porta. Arregala os olhos.

MULDER: - (SUSSURRA) E aí? Segue o plano.

ELLEN: - (CATATÔNICA) ...

Mulder a questiona com os olhos.

ELLEN: - (SUSSURRA) Confesso que até me esqueci qual era o plano...

MULDER: - (SUSSURRA) Os ingressos!

ELLEN: - Ah! (FALA ALTO) Olá, Mulder! Espera aí. Vou procurar minha bolsa!

Ellen pega a bolsa às pressas e esconde debaixo das almofadas. Finge procurar.

ELLEN: - (FALANDO ALTO) Não sei onde coloquei... Dana!!!!!!!! Não viu minha bolsa?

Scully entra na sala. Ao ver Mulder daquele jeito, fica boquiaberta, o devorando com os olhos.

MULDER: - Oi, Scully.

Mulder apoia o braço no marco da porta, vira o rosto olhando pro lado, indiferente. Scully, ainda de boca aberta, analisa Mulder de cima a baixo.

MULDER: - Então, Ellen?

ELLEN: - (PROCURANDO) Só um momento Mulder, eu sei que deixei minha bolsa por aqui.

Scully ainda boquiaberta olhando pra ele. Mulder disfarça sem olhar pra ela, olhando para o relógio, depois passando a mão na jaqueta de couro, mostrando que não tem mais a aliança, usando anéis de roqueiro.

ELLEN: - Eu deixei na sala! Tenho certeza e... (ERGUE AS ALMOFADAS) Ah! Encontrei.

Ellen tira dois ingressos da bolsa e entrega pra Mulder.

MULDER: - Valeu, Ellen. 'Dois'? (SORRI) Você tem 'dois'? Beleza! Melhor ainda!

ELLEN: - Ah, eu não ia usar esses 'dois' ingressos mesmo. Divirtam-se no show!

MULDER: - Se me conseguir 'dois' pra aquela festa no Rave 571, eu te agradeço.

Mulder dá as costas. Ellen fecha a porta. Scully enlouquece.

SCULLY: -(IRRITADA) Que show? Aonde ele vai daquele jeito? Como assim 'dois' e 'divirtam-se'? Que festa 'rave'? Desde quando Mulder vai em festa rave?

ELLEN: - Não é festa rave. É o nome do clube, Rave 571. Na semana que vem vai ter uma festa bem descolada. Hoje ele vai num show de rock. Eu te convidei, você não quis ir.

SCULLY: - (IRRITADA) Não mesmo! Você não me convidou não! Por que deu os ingressos pra ele? Ahn?

ELLEN: - Ele não conseguiu ingressos e me perguntou se eu conhecia alguém que vendesse ingressos e... Qual o problema? Pra que tanta explicação?

SCULLY: - (IRRITADA) Por nada, é bom saber que a minha própria amiga fica dando ingressos pro meu ex! E dois ainda por cima!

ELLEN: - E daí? O que tem de errado? Ele é seu ex, como você mesma disse.

SCULLY: -(EMBARAÇADA) E-eu queria ir ao show!

ELLEN: -(SEGURANDO O RISO) Mas você acaba de dizer que nem sabia que tinha show!

SCULLY: - (IRRITADA) Não me confunda, Ellen! Show... (ENCIUMADA/ CRUZA OS BRAÇOS) Desde quando ele vai em show de rock? E daquele jeito? Com aquele perfume? Você viu? Até com calças de couro! Justas...

ELLEN: - Claro que vi, acha que sou cega?

Scully corre pra janela. Afasta as cortinas e olha pra baixo.

SCULLY: - (ENFEZADA) Eu não acredito!

ELLEN: - O que foi?

Ellen se aproxima da janela. Vê Mulder aproximando-se do carro e da loura alta, cabelos longos, de mini-saia e jaqueta de couro. A loura abraça Mulder. Mulder abre a porta pra ela. A loura ajeita os cabelos e entra no carro.

SCULLY: - (ENLOUQUECIDA) Quem é aquela cadela? É a tal de Pamela?

ELLEN: - Como vou saber? Não sou enxerida. Quem é Pamela?

SCULLY: - Vagabunda! Olha só a roupa da vadia!

ELLEN: - Ah, ela tá vestida a caráter pra um show.

SCULLY: - Tá vestida a caráter pra bater ponto, essa vaca louca, loura e burra! Uma loura? (INCRÉDULA) Ele nunca disse que gostava de louras! Aposto que é falsa!

ELLEN: - (APIMENTANDO) Não parece ser loura falsa... Viu o tamanho dos peitos dela? Enormes! Ela é alta, atlética, sexy...

Scully vai pro quarto enfurecida e bate a porta. Ellen segura o riso.

Corte.


Dentro do carro, Mulder coloca o cinto. Tira os ingressos do bolso.

MULDER: -Pode ficar com eles. Divirta-se com a sua amiga. Obrigado.

A bela loura olha pra ele.

JULIET: - E eu posso fazer mais alguma coisa por você, Mulder? Hum?

MULDER: - Agradeço, mas não.

JULIET: - Tem certeza? Na amizade, ok? Acho que você é muito gato e tá bem carente.

MULDER: - (SORRI) É tentador, mas não, Juliet.

Mulder puxa a carteira.

JULIET: - Não mesmo! Você é amigo do detetive Checov. Eu devo isso pra ele. Checov já me safou muitas vezes da cana e também as minhas amigas... Quando a gente tem problemas com clientes violentos, ele é o único tira que responde nossas ligações. E sem cobrar nada em troca, se é que me entende. Foi a primeira vez que Checov me pediu um favor. E nem exigiu muito. Não entendo porque ele se importa com a gente, mas...

MULDER: -Eu entendo. E acho justo recompensar você. Vou me sentir melhor, acredite.

Mulder entrega o dinheiro pra ela. Ela guarda no decote.

JULIET: - Nunca saiu com uma prostituta né?

MULDER: - Está tão na cara assim?

JULIET: -Eu posso te fazer uma pergunta? Essa mulher vale tanto a pena?

MULDER: -(SORRI) Vale.

JULIET: -Sexo?

MULDER: -Amor.

JULIET: -Que inveja dessa sortuda!

MULDER: -Quer ficar aonde?

JULIET: -Me deixa no centro, onde você me pegou. Vou pegar minha amiga. Vamos curtir um rock'n roll...

Juliet abre a bolsa. Pega uma caneta e um papel. Anota rapidamente. Entrega pra Mulder.

JULIET: - Se precisar de alguma coisa, me ligue. Nem que seja apenas pra tomar um café e conversar... Vai pra onde agora?

MULDER: - Pra casa. Amanhã é domingo, o dia dedicado pra minha filha.


Arquivos X – 8:34 A.M.

Mulder sentado à escrivaninha. Terno novo, cabelos com gel. Scully entra, cara de poucos amigos.

MULDER: - Bom dia, parceira.

SCULLY: - ... O que tem de bom hoje? Ahn?

MULDER: - Yhaaaaaaa!!!!! Mais um pouco e sua ferradura acertava o telefone.

SCULLY: - Não enche!

MULDER: - ... Como foi seu encontro?

SCULLY: - Ótimo! E o seu?

MULDER: - Perfeito. Pamela é uma pessoa incrível.

SCULLY: - Que bom pra você, não é?

MULDER: - (SEGURA O RISO) Vamos nos casar.

SCULLY: - Já? Pra quem estava sofrendo, que recuperação rápida! E eu não dei o divórcio ainda.

MULDER: - Está repensando sua decisão?

SCULLY: - Não.

MULDER: - Então precisamos resolver logo isso.

SCULLY: - Ando ocupada. Não tenho tempo pra advogados agora.

Mulder se levanta e sai, fechando a porta. Escora-se na parede do corredor e sorri bobo.

MULDER: - Ela ainda me ama...


5:37 P.M.

Scully sai do prédio do bureau, cabisbaixa, carregando uma pasta. Ed vem cabisbaixo, segurando uma valise e fumando. Os dois se esbarram. Recuam. Os dois se olham. Scully arregala os olhos.

SCULLY: - Ed? Edward Jersey, da Filadélfia, da tatuagem?

ED: - Dana? Dana Scully?

SCULLY: - O que faz aqui?

ED: - Eu... Por aquela loucura, saí, mudei de cidade... Estou trabalhando de corretor ainda...

SCULLY: - (SORRI) Você me parece bem.

ED: - Dana, não estou bem. Por anos fiquei me culpando do que fiz com você, do que fiz com... Sabe o que um homem abandonado é capaz de fazer.

SCULLY: - E seus filhos?

ED: - Ela não me deixa vê-los... Não consigo mais equilibrar a minha vida desde aquilo tudo... Quem sabe saímos pra jantar?

SCULLY: - Ed, não acho que...

Scully percebe que Mulder sai do prédio e olha pra ela. Scully disfarça, olhando pra Ed.

SCULLY: - Eu topo!

ED: -Que bom! Preciso falar com você, Dana. Muitas coisas ficaram pendentes desde aquele incidente e... Preciso pedir desculpas pelo que houve.

SCULLY: - Podemos jantar. Conheço um restaurante legal.

Os dois saem lado a lado. Mulder fica parado, intrigado e enciumado.

MULDER: - Eu conheço aquele cara... Ah, eu conheço... Mas de onde?


Residência dos Mulder – 6:36 P.M.

Mulder na cozinha. Anda de um lado pra outro, pensando em voz alta. Victoria o observa, com o rosto sujo de comida, enquanto Baba dá sopinha pra ela.

BABA: - Quem é Ed Jersey que deixou você completamente fora de si?

MULDER: - Ela vai sair com ele... Eu não acredito que ela vai fazer isso... De novo não!

BABA: - Não vai sair hoje pra 'ganhar umas gatinhas', 'Terror da Virgínia'?

MULDER: - Ela vai jantar com ele, depois de tudo... De novo esse cara atrapalhando o meu lado!

BABA: - (OLHA PRA VICTORIA) Seu pai é surdo?

MULDER: - Eu não vou deixar barato. Da outra vez foi por causa do Elvis que eu quase perdi ela. Por causa de uma maldita escrivaninha! O que ela quer dessa vez? Outra tatuagem?

BABA: -(OBSERVANDO MULDER) ...

O telefone toca. Mulder corre e atende.

MULDER: - ... Fala Ellen... Espera.

Mulder pega uma caneta e anota na mão.

MULDER: - Sei... Sei onde fica esse restaurante... Ok, oito da noite... Valeu Ellen!

Mulder desliga. Baba olha pra ele.

BABA: - Não é da minha conta, mas... O que está armando?

MULDER: - Me aguarde.

Mulder sai da cozinha. Baba olha pra Victoria.

BABA: - Morro de medo quando ele diz isso... Vem confusão por aí.


Ristorante Bella Donna - 8:11 P.M.

Scully sentada à mesa do restaurante italiano praticamente vazio. Ed sentado com ela.

ED: - Depois que saí da instituição de queimados, como não havia alucinógeno suficiente no meu sangue pra provar que eu estava sob efeito de drogas, me levaram preso pelo assassinato da minha vizinha. Cumpri cinco anos, peguei um bom advogado e saí em condicional... Tudo por causa de uma simples tatuagem!

SCULLY: - Eu lamento que as coisas tenham dado erradas pra nós dois. Lamento mesmo, Edward... Ed... Você é um bom homem.

ED: -Ainda está sozinha?

SCULLY: - Muita coisa mudou desde aquela época. Me casei com Mulder.

ED: - O que sufocava você?

SCULLY: - É. Me casei com ele, nos divorciamos... Ele continua me sufocando. Tudo que eu disse a você, repito agora. Mulder parece meu pai, minha vida chegou a um ponto em que me sentia incomodada pelo fato da busca do Mulder ter se tornado a minha busca. Eu queria uma mudança, minha vida estava estagnada...

ED: - Nada mudou então.

SCULLY: - Não. Nada.

ED: - Quem sabe a hora de mudar é agora, Dana? Quem sabe não começamos da maneira correta? Quem sabe podíamos tentar de novo?

Mulder se aproxima da mesa, irreconhecível: cabelos longos e claros presos num rabo de cavalo, touca na cabeça, barba enorme, lentes de contato, vestido de garçom italiano com um avental, segurando uma caneta e a caderneta de anotações. Disfarça a voz puxando um sotaque italiano.

MULDER: -Buona sera! O que desejam beber?

ED: - O que você quer Dana? Que tal vinho?

SCULLY: -Sim, você escolhe.

ED: - O melhor vinho que tiver.

MULDER: -Sim, signore.

Mulder se afasta.

SCULLY: -Quero mudar minha vida. Não estou buscando um marido ou uma aventura... Estou procurando um namoro, um relacionamento. Um homem que me deixe respirar. Não quero mais nada, além disso.

ED: -Estou começando minha vida de novo. Acho que temos muitas coisas em comum.

SCULLY: - Mas me prometa, sem tatuagens dessa vez!

ED: - (SORRI) Nada de tatuagens, Dana. Que tal um piercing?

Mulder se aproxima com o vinho tinto. Abre a garrafa quase na orelha de Scully, que dá um pulo quando a rolha estala. Mulder serve um pouco de vinho na taça de Scully.

MULDER: -Signora...

Scully leva a taça à boca, sem olhar para Mulder.

SCULLY: - Está ótimo. Pode servir.

Mulder serve a taça dela. Começa a servir a taça de Ed.

ED: - Quero enlouquecer de novo, Dana. Mas do modo certo. E gostaria muito que você enlouquecesse comigo.

Mulder desvia a garrafa da taça, fingindo olhar pra trás e vira todo o vinho tinto nas calças de Ed. Ed se levanta. Scully levanta-se incrédula.

MULDER: -(LEVA A MÃO A BOCA) Oh, signore, scusa sono un pazzo! Eu lamento que tenha acontecido, va bene?

Scully olha incrédula para Mulder, que vira o rosto disfarçando. Ela não o reconhece.

ED: - (SE LIMPANDO COM O GUARDANAPO) Tudo bem, tudo bem... Acidentes acontecem.

MULDER: - Ma io vou buscar algo pra limpar essa bagunça, capisce?

Mulder sai. Scully ajuda Ed.

SCULLY: - Você está bem?

ED: - Um pouco molhado. Mas sente-se, não vamos deixar que isso estrague nossa noite.

SCULLY: - Com certeza. Que garçom atrapalhado!

ED: -Ok, vamos voltar ao assunto... Estou morando em Maryland, consegui um emprego, aluguei um apartamento...

SCULLY: - Estou morando com uma amiga aqui em Washington. Ela é corretora de imóveis também e...

Mulder se aproxima com a bandeja. Coloca o prato de macarrão na frente de Scully.

ED: - E ainda continua no FBI?

SCULLY: - Infelizmente.

ED: - Trabalhando com aquele que sufoca você?

SCULLY: - Bingo!

ED: - Acho que não deveria mais ficar perto desse otário que tanto machuca você.

Mulder derruba o prato de espaguete em cima da camisa de Ed. Ed olha incrédulo pra ele.

MULDER: - Ma scusi! Che porca miseria!

SCULLY: - (INDIGNADA) Eu não acredito!

Ed olha assustado pra Scully.

ED: - Dana, acalme-se, não é pra tanto... Foi um acidente...

SCULLY: - Que tipo de serviço é esse? Conheço bem o lugar e nunca aconteceu isso!

Mulder se afasta. Ed limpa a roupa, olhando com receio pra Scully. Mulder se aproxima com um guardanapo.

MULDER: - Scusi, signore! Estou molto nervoso, é meu primo dia neste ristorante. Deixe-me ajudar...

Mulder esfrega o guardanapo sujando mais ainda a roupa de Ed.

ED: - Não, tudo bem, deixe que eu faço isso.

MULDER: -Vou buscar mais spaghetti...

SCULLY: - Não! Não queremos mais espaguete!

ED: - Dana, o sujeito está tenso, é o primeiro dia de emprego... Traga-nos alguma coisa pra comer, por favor.

Mulder sai. Ed cabisbaixo limpa a roupa.

ED: - Dana, você anda muito estressada. Não era assim quando nos conhecemos...

SCULLY: - Tem razão, não vou me estressar. (RESPIRA FUNDO) Onde estávamos?

ED: - Nem lembro mais.

SCULLY: - ... (SORRI) Está gostando de morar em Maryland?

ED: - Pra dizer a verdade, preferia a Filadélfia... Mas... Não posso mais viver lá, entende?

SCULLY: - Entendo. E eu não posso mais viver na Virgínia.

ED: - Eu continuo o mesmo. Gosto das coisas do jeito mais simples, não gosto de nada muito turbulento, prefiro tudo andando numa linha reta e não costumo me arrepender do que faço. Dana, quando passamos por um momento ruim, devemos tentar fazer algo para se lembrar desse momento para que ele não aconteça outra vez. Portanto, tatuagens nunca mais!

Scully sorri. Mulder se aproxima empurrando um carrinho. Segura uma garrafa de conhaque.

ED: - Dana... Quero fazer amor com você.

Mulder ergue a garrafa. Aponta para o carrinho. Tira o isqueiro do bolso.

MULDER: - Sugestão do Chef: Salsiccia flambada!

Mulder acende o isqueiro. Ed se levanta da mesa, apavorado.

ED: - (ASSUSTADO) Pra mim não precisa. Olha, Dana... Eu sou supersticioso e acho que o que está acontecendo é um sinal de que a coisa não vai dar certo. Eu não quero mais queimaduras, ok? Foi bom ver você, mas... Adeus!

Ed apavorado sai do restaurante. Scully suspira indignada. Pega a bolsa e sai do restaurante. O Dono do restaurante se aproxima de Mulder.

DANTE: - Espero que tenha conseguido o que queria. Ma bene que mio primo Giovanni de Nova Iorque disse que você é encrenca das grandes, federal!Agora pode sair daqui. Ma io quero a garantia de que vai cumprir o que me prometeu em troca disso, va bene?

MULDER: - (DEBOCHADO) Não se preocupe. Não vou incomodar você sobre aquela importação clandestina de vinho italiano. Mas não me referi as anchovas, va bene?



BLOCO 4:

Apartamento de Ellen – 10:07 P.M.

Scully entra furiosa, batendo a porta.

ELLEN: - O que houve? Não era o príncipe encantado?

SCULLY: - Você não vai acreditar! Tudo deu errado! Um garçom idiota acabou com o encontro!

ELLEN: - (DISFARÇA) Sério? Que coisa, não?

SCULLY: - Estragou tudo! Ed foi embora. Não quer mais me ver, disse que aquilo era sinal de que as coisas não dariam certo. (SENTA-SE) Droga! Ed é um bom homem, uma pessoa gentil... Ia dar certo.

ELLEN: - Lamento muito... Bom, ainda tem mais alguns candidatos da agência...

SCULLY: - Não quero mais saber de homem! Desisto! Pra mim chega!

Scully entra no quarto e bate a porta. Ellen segura o riso.


Pistoleiros Solitários – 10:34 P.M.

Mulder sentado, cabisbaixo, ao lado de Langly. Frohike parado num canto, preocupado.

LANGLY: - Mulder, você sempre conseguiu se entender melhor com as mulheres. Fale com ela como um homem.

MULDER: - Mas acho que esse é o problema. Como vou falar coisas de homem? Mulher tem um tipo de sentimento, homem tem outro...

LANGLY: - Mentira. É tudo a mesma coisa, todos os dois sofrem e sangram. O homem até mais do que a mulher. Veja o índice de maridos que se suicidam quando as esposas se divorciam. É muito maior do que de mulheres. As mulheres partem pra luta, amargam aquilo pro resto da vida. Em compensação os homens se destroem nas primeiras semanas e depois esquecem tudo.

MULDER: - Caindo no mesmo erro com outra vinte anos mais nova... Homem não sabe viver sozinho. Essa é a realidade. Homem precisa de uma mulher por perto ou não sabe nem se localizar em latitude e longitude.

FROHIKE: - Fico preocupado de ver você se preocupando assim com a felicidade dos outros, sabia?

MULDER: - É que algum tempo atrás essas coisas me pareciam alienígenas e nada interessantes... Mas agora eu sei que existe vida fora da palavra solteiro. E estou triste e preocupado com o Byers... Se Scully não estivesse furiosa comigo, podia pedir uma ajuda, ela é perita nessas coisas de relacionamentos... Eu sou meio rude pra isso e não tenho muita experiência.

FROHIKE: - Você tem. Você teve experiências horríveis em sua vida e isso pode ajudar outras pessoas a saberem o que não devem fazer.

MULDER: - Não sei... Scully e eu não nos enquadramos com nenhum casal que eu conheça... Meu Deus! A gente era tão difícil assim?

FROHIKE: - Ao meu ver o único problema é que Susanne tem medo de envolver Byers. Ela é uma mulher que foge do governo, que está ameaçada de morte... Mas no fundo, ela quer ter uma vida. Ela quer ter um homem ao lado dela. Ela quer ser amada, adorada... Qual mulher não quer isso?

Mulder levanta-se. Olha pra Frohike empolgado.

MULDER: - Já sei o que vou fazer.

Mulder sai batendo a porta. Frohike olha pra Langly.

FROHIKE: - O que eu falei?

LANGLY: - Não sei. Mas espero que Mulder evite que Byers vá embora.

FROHIKE: - Mulder não evitou nem que a mulher dele fosse embora! Acha que Mulder tem algum dom de cupido?

Byers entra na sala, trazendo a mala.

BYERS: - Vou embora.

FROHIKE: - Tudo isso porque ela disse não? Vai nos deixar aqui, os seus amigos, porque uma mulher disse não?

BYERS: - Não é uma mulher, Frohike. É Susanne. E não posso mais viver pensando nela todos os dias e no quanto eu gostaria de faze-la feliz.

Frohike abaixa a cabeça.

LANGLY: - Você sabe o melhor pra você. Mas eu ainda acho que isso tudo tem a ver com aquela coisa de energia...

FROHIKE: - Lá vem você de novo! Quando vai parar de sair com aquela maluca esotérica que enfia coisas na sua cabeça? E tire todos esses malditos sininhos de vento, pedras e incensos dessa casa! Tenho problema de renite!

LANGLY: - Vocês não acreditam em mim, não é? Ela tem razão quando diz que alguém colocou alguma coisa negativa nessa casa. Alguém carregado de coisas ruins colocou coisas ruins aqui, por isso brigamos com Mulder!

FROHIKE: - Ah certo. O capeta entrou aqui, usando alguém pra isso e semeou energias negativas pra que ficássemos contra o Mulder. Que tal a Scully? Ela entrava aqui sempre.

LANGLY: - Tá certo, vocês não acreditam. Mas que droga era aquela moedinha dourada debaixo do nosso sofá?

BYERS: - Eu acredito. Desde que a sua garota fez uns rituais aqui dentro as coisas melhoraram... Enterrar aquela moeda foi ótima ideia. Até Mulder é nosso amigo de novo. Mas a Susanne...

LANGLY: - Quem sabe um banho de rosas ajudaria você a...

FROHIKE: - Desisto! Quem vai embora sou eu se o Langly não parar com essas idéias doidas! Deixem o diabo em paz, ele tem mais o que fazer!


Apartamento de Susanne Modesky - 11:55 A.M.

Susanne abre a porta. Mulder entra.

MULDER: - Oi.

SUSANNE: - Oi. Recebi seu recado.

Mulder percebe as malas.

MULDER: - Está indo embora?

SUSANNE: - Sim... Vou tomar o voo das quatro. Tenho uma amiga na Suíça, ela tem um chalé nos Alpes... Acho que não serei perturbada... Mulder, sinto que fiz o que podia por você, Scully e sua filha, pelos rapazes, pela causa... Acho que não precisam mais de mim. Agradeço e obrigada pela confiança.

MULDER: - ...

SUSANNE: - Mulder, eu sei o que veio fazer aqui. E me sinto agradecida por você estar perdendo seu tempo que já é pouco se preocupando comigo e com John. Mas eu não quero mais me enganar. Por duas vezes eu voltei pra ver o John. Um dia você foi atrás de mim na Itália, precisando da minha ajuda, e não vou mentir que apenas a sua causa me fez voltar. Mas desta vez eu decidi que colocaria tudo em pratos limpos e tiraria John da minha cabeça.

MULDER: - Susanne, me escuta. Por duas vezes. Você mesma disse. Se você arriscou sua própria segurança só pra vir até aqui ver John... o Byers... Susanne, pense bem. Acha que se for pra Suíça vai esquecer dele? Você poderia ir pra qualquer lugar do universo, mas nunca o esqueceria se realmente gosta dele.

SUSANNE: - ... Eu não estou indo pra Suíça pra esquecer John. Estou indo por questões de segurança.

MULDER: - Susanne, você poderia ir até pra Marte! Se esses caras quiserem encontrar você, eles conseguirão. Ou como acha que eu e o Rato chegamos em você na Itália? Você só está salva aqui porque o Canceroso está se sentindo ameaçado em seu reinado. Ele só está quieto porque essa é a vingança dele. Conhece o dito: Mantenha seus amigos por perto, e seus inimigos mais perto ainda!

Susanne senta-se no sofá, desanimada. Mulder senta-se ao lado dela.

MULDER: - Pensa comigo: Você está na mesma que eu estou. Não há pra onde correr. Você só pode é manter a trincheira no seu quintal e ficar de olhos abertos em vigia eterna. Você sabe que só vai poder fechar seus olhos em paz quando morrer.

SUSANNE: - ...

MULDER: - E acha que por isso deve ficar esperando a morte chegar?

SUSANNE: - Não, eu...

MULDER: - Susanne, esses homens destruíram sua vida! Eles usaram seus conhecimentos científicos a favor deles. Ameaçaram você de morte. Depois você se envolveu com um sujeito que acabou enganando você também. Não pense que é a única em perigo. Eu nem vou entrar na lista masculina, vou apenas citar as mulheres. Scully vive em perigo, eles ferraram com a mente da minha mulher, fizeram com que ela fosse embora de casa deixando até a filha. Agora Barbara Wallace está sendo ameaçada e quase morreu porque mandaram uma bomba pelo correio. E as duas não fugiram. Elas continuam aqui, lutando pra viver.

SUSANNE: - (ENCHE OS OLHOS DE LÁGRIMAS) Mas eu não posso ficar aqui, eu tenho medo, não sou forte como a Scully e nem corajosa como a Barbara! Mulder você não entende! Eu... Eu vou fazer o quê por aqui? Continuar escondida do mundo? Não é vida pra mim! Eu preciso trabalhar, preciso sair, fazer compras, ter uma vida normal como todo mundo tem!

MULDER: - Vou dizer uma coisa pra você.

Mulder pega um lenço de papel da caixa sobre a mesa e entrega pra Susanne. Ela seca as lágrimas.

MULDER: - Uma vez uma mulher que tinha uma vida normal como você tinha, se envolveu com o cara errado. Era apenas uma colega de trabalho. Por um acaso do destino, eles se apaixonaram. E ela tomou a causa dele. E se a droga está feita mesmo, pelo menos você sabe que tem alguém pra dividir isso quando está cansado de lutar contra tudo e todos. Não encare o que vou dizer como machismo. Pelo menos Scully tem um homem pra defendê-la, pra cuidar dela. E nem me diga que as mulheres não gostam disso, porque esse é o mínimo dever de um homem.

SUSANNE: - (SORRI EM LÁGRIMAS) ...

MULDER: - Eu não tinha nada a oferecer pra Scully? Só confusão, um apartamento bagunçado e um peixe no aquário? Não. Eu tinha uma coisa pra oferecer: meu coração. Meu abraço. A lei da balança.

SUSANNE: - Que lei da balança?

MULDER: - Quando um lado pesa demais o outro sobe. E os dois lados tentam lutar pra ficarem no mesmo nível. Quando um cai, o outro puxa. E essa é a mágica da vida a dois.

SUSANNE: - ...

MULDER: - Aquele cara não tem nada material pra oferecer. Mas ele tem um coração. Ele tem amor. Ele quer ser o seu peso da balança. Você é uma cientista foragida. Ele é um jornalista, ex-funcionário do governo, cassado, ferrado. Vocês dois são inteligentes, só tiveram a desgraça de se envolverem nessa conspiração. E será que foi desgraça? Por que se não fosse por isso vocês nunca teriam se conhecido. É o que sempre digo pra Scully. Aqueles canalhas cometeram o maior erro de suas vidas: nos uniram e nos tornaram mais fortes.

SUSANNE: - ...

MULDER: - Vocês dois precisam refazer suas vidas. Juntar cacos e tentar cola-los. Eu não sou nenhum conselheiro sentimental pra dizer isso, mas...

Susanne olha pra ele.

MULDER: - Byers é meu amigo. No entanto, você se parece mais comigo. Vive sem destino, querendo expor essa gente toda... Susanne, não perca mais seu tempo. Você não vai poupar Byers, ele já está no jogo. Como eu não posso poupar Scully. Então por que você vai perder sua vida? Se precisar lutar, lute com alguém do seu lado. É muito mais fácil. Pelo menos você vai ter com quem comemorar a vitória ou chorar a derrota.

SUSANNE: - ...

Mulder levanta-se. Olha pra ela.

MULDER: - Se pensa que só você está sozinha nesse jogo, você não sabe de nada. Se até Alex Krycek está com a gente...

SUSANNE: - Sério?

MULDER: - Sério. E muitos mais. E sabe o que a gente faz? Protegemos um aos outros. Sozinha você não pode se proteger. Mas tendo amigos numa mesma causa... E tendo alguém pra esquentar os pés no frio... Acho que viver a vida pode ser uma coisa muito divertida.

Mulder abre a porta e sai. Susanne abaixa a cabeça, chorando.


Residência dos Mulder – 1:13 A.M.

Baba observa Mulder, Byers e Krycek sentados no sofá, bebendo.

BABA: - Acho que vou dormir... Uma aura muito esquisita está nesta sala!

Baba sobe as escadas, olhando pra eles.

KRYCEK: - Quem ela pensa que é? Um tapa. Dá pra acreditar nisso? Um tapa bem na minha cara!

MULDER: - Foi agarrando o que não é seu.

KRYCEK: -A ideia foi sua, Mulder! Eu só fiz porque sei que elas gostam!

MULDER: - Achou enfim uma que não gosta. E digo mais. Isso prova que eu estava certo, ela gosta muito de você e não quer apenas sexo. Então desiste se não quer mais algo dela. Não brinca com os sentimentos de uma mulher.

KRYCEK: - Isso só prova que você estava enganado. Prova que Barbara não está a fim de mim.

MULDER: - Rato, você realmente não entende nada de mulheres. A não ser como causar ciúmes e se vestir como elas gostam.

BYERS: -(INCRÉDULO) Você agarrou a Barbara? Sorte sua que foi apenas um tapa. Não sabe o que ela fez com um colega nosso da faculdade, ela quebrou um vaso na cabeça dele. Estávamos estudando juntos pra uma prova e o idiota resolveu passar a mão nos peitos dela. Tive que levar o imbecil para a emergência, levou cinco pontos na cabeça.

Krycek arregala os olhos.

MULDER: - (DEBOCHADO) É, Rato. Foi só um tapa. Sinal que ela gosta de você, ou teria pego o taco de basebol.

BYERS: - É, você não a conhece mesmo! Só porque uma mulher sorri pra você não quer dizer que esteja dando liberdade pra você. A Barbara é uma pessoa alegre, sempre sorri, tem aquela casca dura por fora, mas ela é uma mulher romântica.. Eu só queria saber o que há de errado comigo.

KRYCEK: - Idem.

MULDER: - Ok, nem eu sei o que há de errado comigo! Por que vocês agora me tiraram pra conselheiro sentimental? Ahn?

BYERS: - Tudo o que eu podia fazer eu fiz pra conseguir Susanne.

KRYCEK: - Eu não fiz e nem farei. Se a Barbara acha que estou um pouquinho ferido por causa daquele tapa está enganada. Eu não gosto dela, só queria sexo. Afinal de contas, Mulder, qual é o seu segredo pra que Scully não desista de você?

MULDER: - (DEBOCHADO) Tamanho e eficiência?

KRYCEK: - Ah, Mulder! Você sabe de nada! Pensa que só você é o cara, é? Sorte sua que eu sou seu amigo, porque se eu tivesse dormido com a Scully, ela desistiria de você pra sempre!

Mulder faz cara de pânico enquanto Byers começa a rir da cara dele.

BYERS: - Será que é só isso o que elas querem? Apenas sexo? Não acredito, sabe?

KRYCEK: - Querem sexo sim, porque as mulheres de hoje estão completamente doidas! Elas acham que são homens, querem se igualar aos nossos instintos. É isso! E por isso estou confuso com aquela maluca... Um tapa! Que mulher dá um tapa na cara de um sujeito que tá a fim dela?

MULDER: - Perderam a feminilidade e a atratividade... Aquelas coisinhas frágeis, de olhares meigos... Agora são monstros agressivos que devoram você.

Krycek suspira e põe as mãos no rosto.

KRYCEK: - ... É... Eu vou admitir que me surpreendi. É a primeira vez que eu agarro uma mulher e ela se sente ofendida.

MULDER: - Não me leve a mal, mas também, por onde você andava na sua vida, com aqueles velhos caquéticos do Sindicato, nunca encontraria uma dama! Onde anda o dinheiro andam as oportunistas. Elas vão pra cama com qualquer cara poderoso que possa dar uma vida pra elas. Nada delas é sincero, venderiam seu pescoço se um poderoso maior oferecesse mais do que você. Veja Diana Fowley!

KRYCEK: - Tá falando isso pra mim? Eu sei bem disso! Depois quando eu vendi o pescoço dela, ainda se fez de vítima... Ah, não vamos falar mau dos mortos. Eu queria que Marita estivesse viva. Eu gostava dela.

MULDER: -Você encontrou uma garota difícil. Essas são as interessantes... Exige muito pra se conquistar... Você não as têm fácil. Tem que lutar por elas. Agora eu vou rir de você, Rato. Vai entender como nunca o que eu tô passando!

KRYCEK: - Percebi que ela tem classe. Admito... Mudei meu conceito com ela. Fiquei o final de semana todo pensando naquele tapa. E acho que agora eu fiquei interessado pra valer.

BYERS: - É. Existem as damas ainda. São raras, mas existem... E eu me apaixonei por uma!

MULDER: - Pior é quando uma mulher só gosta de você pelo seu corpo. Isso sim é uma ofensa! Você ser objeto sexual!

BYERS: - Não dá pra entender. Nós homens é que nos interessamos em corpos...

MULDER: - Quer saber, Rato? O seu problema é nunca admitir que está errado, sabia? Ao invés de agredir, deveria levar flores! E você, Byers, deveria parar de ficar se humilhando. Troca umas ideias com o Krycek. Ele me ajudou.

O telefone toca. Mulder atende. Krycek e Byers se levantam.

KRYCEK: - Eu vou pra casa dormir. Isso é o que vou fazer. Estou tentando entender que bicho me atropelou.

BYERS: - Lontras?

Mulder desliga.

MULDER: - Preciso sair.

BYERS: - Aonde vai?

MULDER: - Ser macho! Agora eu quem estou indignado! Vou mostrar pra Scully quem é o homem! E vocês dois, tem mais uísque no armário da cozinha.

Mulder sai, batendo a porta. Byers e Krycek se entreolham.

KRYCEK: - Barbara foi sua colega de faculdade?

BYERS: - Sim. Nos formamos juntos, nossa amizade permaneceu. Chegamos a trabalhar juntos por um tempo, mas depois eu passei no concurso do governo. Ela me ajudou muito a elaborar o projeto da nossa editora A bala Mágica.

Krycek senta-se.

KRYCEK: -Se me contar a ficha da Barbara, eu dou a ficha da Susanne. Eu sei algumas coisas sobre ela por causa do Sindicato. Eu tive que vigiá-la de perto.

BYERS: - Sério?

KRYCEK: - Sério, então vamos trocar figurinhas. Você começa ou eu?


Apartamento de Ellen – 2:34 A.M.

Ellen deitada na cama. Skinner nos braços dela, de olhos fechados, num sorriso. Ellen faz carinhos no braço dele.

SKINNER: - Por que me sinto bem com você, Ellen?

ELLEN: - Por que eu deixo o volume da TV baixinho?

Skinner sorri.

SKINNER: - Ellen, eu quero dizer algo pra você... Eu tenho medo. Já tive um casamento, já sei como a vida dá errado, já sei o que é sofrer, não sou mais um adolescente... Isto tudo é uma loteria.

ELLEN: - Eu tenho que dizer algo a você também, Walter. Eu já tive um casamento, já sei como a vida dá errado, já sei o que é sofrer, não sou mais uma adolescente... Isto tudo é uma loteria.

Skinner olha pra ela. Ellen olha pra ele. Os dois sorriem. Trocam um beijo.


Motel Springs – 2:38 A.M.

Mulder no quarto do motel. Anda de um lado pra outro. Batidas na porta. Mulder abre a porta. Scully olha pra ele. Entra.

SCULLY: - Estou um caco.

MULDER: -(SÉRIO/ INDIFERENTE) ...

SCULLY: - Ellen me botou pra fora do apartamento e me disse pra não voltar hoje. Nem me deu explicações, mas acho que ela está com alguém. Por isso liguei... Posso dormir com você?

MULDER: - Dormir ou trepar?

SCULLY: - (INCRÉDULA) Como pode ser tão insensível?

MULDER: - Sou um alienígena, esqueceu?

SCULLY: - (GRITA)Eu não sei por que ainda perco meu tempo com você, Mulder!

MULDER: - (GRITA) Olha aqui, Scully!!!

Scully recua, olhos arregalados.

MULDER: -Não se preocupe, porque se eu batesse em você como me acusa, você já teria tomado umas porradas bem merecidas. Eu vou dizer uma coisa. E presta atenção! Grave isso no seu maldito cérebro!

Scully olhos arregalados, bem quietinha.

MULDER: - Eu não sou seu objeto sexual! Entendeu? Você me usou, foi isso o que você fez! Você feriu meus sentimentos, você simplesmente está interessada na droga do meu pau e não em mim!

Scully arregala mais ainda os olhos.

MULDER: - O que está olhando, hein? Me deixe em paz! E a partir de hoje, Dana Scully, quando estiver "sofrendo", vá se coçar num maldito cactos! Vá se esfregar até na torneira da banheira! Porque aqui não tem mais nada pra você. Nadinha. Não pensa que vai me tomando assim como e quando quiser. Eu sou um homem e tenho sentimentos. Não sou um vibrador com pernas!

Mulder abre a porta.

MULDER: -Você magoou meus sentimentos. Você me usou, abusou e depois me chutou. Eu não vou permitir que seja cruel comigo! E tem mais, mulher! Eu não sou sentimental e passional não! Daqui à pouco vai começar a urinar ao meu redor marcando território! Quer sexo? Tudo bem. Se você acha que pode se aproveitar de mim, isso me dá liberdade pra me aproveitar de você. Mas vamos fazer sexo só quando eu quiser e seu eu quiser! E hoje eu não quero.

Scully abre a boca, mas Mulder sai batendo a porta. Caminha até o carro.

MULDER: - (RESMUNGANDO) Vou botar rédeas em você, mulher, você vai ver só. Eu vou mostrar quem é o homem por aqui. Você vai aprender a baixar essa sua crista! Megera indomada!!!! Posso subir nas paredes, mas você não me pega de novo. Nem que eu fique com as mãos calejadas, mas eu me aguento!!!


Apartamento de Ellen – 6:33 A.M.

Scully entra. Larga a bolsa sobre a poltrona. Respira fundo. Caminha até o quarto. Abre a porta. Arregala os olhos, levando a mão à boca, doida pra rir. Fecha a porta e volta pra sala. Ellen sai do quarto, vestindo um robe.

ELLEN: - Eu não disse pra dormir fora?

SCULLY: -(RINDO) Posso saber o que o meu chefe faz dormindo na sua cama?

ELLEN: - Bem, eu... Ah, que interessa! Rolou um clima...

SCULLY: -Por que não me disse antes? Ellen, eu... Estou feliz de ver vocês dois juntos! Skinner é uma pessoa maravilhosa e eu torço pra que tudo dê certo!

Scully se abraça em Ellen. Ellen sorri.

ELLEN: - Ele é... Incrível. Temos gostos semelhantes, passamos experiências duras em nossas vidas... Ele quer uma pessoa ao lado dele, eu quero um homem que me ame, que seja sério... Enfim... Quem sabe? Deixa rolar!

SCULLY: - (SORRI) Felicidades. Que tudo dê certo. Vocês dois merecem.

ELLEN: - E o Mulder? Não rolou nada?

SCULLY: -Sabe que ele gritou comigo? Mulder me acusou de estar usando ele como objeto sexual. (COMEÇA A RIR) Mandou eu me coçar num cactos! Acredita que ele não quis nada? Dormi sozinha no motel.

ELLEN: - O Mulder? O cachorrinho pidão, caladinho e tarado??? Recusando sexo e gritando com você?

SCULLY: -Ellen, sabe de uma coisa? Quando Mulder gritou comigo, algo dentro de mim veio como se quisesse saltar pela garganta.

ELLEN: - O quê?

SCULLY: - Eu não sei, mas... Tenho certeza de que Mulder nunca me machucou. Não aquele Mulder... Não esse homem que eu vi hoje. Ele seria incapaz de tocar um dedo em mim. Porque teve todos os motivos... Entretanto, parecia que o meu ato ia faze-lo chorar. Que homem cruel choraria? Faz sentido?

ELLEN: - (SORRI) Não faz sentido, Dana. Ele não é cruel. Ele jamais machucou você. Espero que tenha visto essa verdade.

SCULLY: - Eu vi, Ellen... (SORRI) Sabe de uma coisa?

ELLEN: - Diga.

SCULLY: - Adorei o lado machão do Mulder.

Scully se deita no sofá, olhos perdidos, num sorriso. Ellen sorri pra ela.

ELLEN: - E eu posso dizer uma coisa?

SCULLY: - Claro.

ELLEN: - Mulder nada, minha filha! É que você não conhece alanterna do diretor-assistente!

As duas riem.


Aeroporto 6:21 A.M.

Byers segura a mala e passagem. Frohike e Langly olham tristes pra ele.

BYERS: - Eu volto. Preciso só de um tempinho pra... Vocês sabem.

Os três se abraçam. Frohike disfarça as lágrimas e sai andando ao lado de Langly.

FROHIKE: - Uma mulher ergue um homem. Mas quando quer destruir faz isso rapidinho...

Byers olha pro portão de embarque. Em uma esperança, ainda olha pelo aeroporto. Então entra no embarque.

Corte.


[Som: Billy Joel - Uptown Girl]

Dentro do avião, Byers sentado, olhando pela janela, num ar triste.

SUSANNE: - Posso me sentar aqui?

Byers olha pra ela, incrédulo. Susanne senta-se.

BYERS: - O que faz aqui? Não ia pra Suíça? Morar nos Alpes...

SUSANNE: - John eu... Eu devo tantas desculpas a você, tenho tanta coisa pra falar, mas a mais importante de todas elas é que eu menti quando disse que não amava você. Pode me perdoar? Você ainda tem aquele presente que você me deu anos atrás e a tola aqui devolveu por medo do amor enorme que sentia estar se apossando aos poucos de seu coração?

Byers sorri tímido. Leva a mão no bolso e retira a aliança. Susanne estende a mão. Byers, trêmulo, põe a aliança no dedo dela. Susanne sorri. Olha emocionada pra Byers. Byers olha apaixonado pra ela.

BYERS: - Eu não posso dar a você as coisas materiais aos quais está acostumada... Sou apenas editor de uma revista de quintal sobre conspirações governamentais...

Susanne toma o rosto de Byers em suas mãos e leva os lábios aos lábios dele. Os dois trocam um beijo apaixonado.

Apartamento de Barbara Wallace – 6:29 A.M.

[Som: The Police - Every Breath You Take]

Barbara abre a porta, ainda sonolenta. Krycek segura um buquê de flores do campo.

KRYCEK: - Sei que não é hora, mas eu... Há duas noites que eu não durmo direito pensando no que fiz pra você. Me desculpe pela minha atitude impensada. Eu estava bêbado sim, mas... Eu não sabia quem era você.

BARBARA: - ...

KRYCEK: - (ENTREGA AS FLORES) Espero que não perca sua amizade por isto.

BARBARA: - ...

KRYCEK: - Não se preocupe, eu... Estarei observando você sempre, onde estiver. Estará segura.

Krycek sai. Barbara coça a cabeça. Sorri apaixonada.

BARBARA: - Esse aí era aquele mesmo bad boy durão que eu conheci??? Bizarro, não???


9:34 A.M.

[Som: Queen - Crazy Little Thing Called Love]

Mulder, sentando no banco da praça, observa as pessoas.

MULDER (OFF): - Não há sentido algum no amor... Mas e precisa haver sentido? Amor é amor... E ele existe sim. E nós passamos parte das nossas vidas buscando uma pessoa. Por quê?

A Velhinha #3 senta-se ao lado dele.

VELHINHA #3: - Porque o ser humano precisa de outra asa pra voar. Ele só tem uma.

MULDER: - De onde caiu, vovó? Do céu?

VELHINHA #3: - Ouvi você me chamar. Então... Percebeu que uniu seis vidas diferentes? Não se sente pleno por ter ajudado? Não é divertido e gratificante unir as pessoas?

MULDER: - Eu? A senhora está enganada. Eu fiz isso quando? Vovó, quem é você?

VELHINHA #3: - Eu? Eu sou grande, eterna e verdadeira. Cometo loucuras, sou piegas, grito e choro, mas nunca desisto. Ainda não me reconhece? Eu estava aqui alguns dias atrás quando você dentre três velhinhas olhou para mim com um sorriso. Me permitiu ficar a seu lado. Não quis que as outras duas ficassem perto de você. Escolheu a mim.

MULDER: - Simpatizei mais com você. Isso me torna um tarado?

VELHINHA #3: - Não. Isso diz que você prefere a mim entre as outras duas, porque você me conhece.

MULDER: - E conheço suas amigas?

VELHINHA #3: - Sim. Você as conheceu em sua vida. Mas optou por mim. Uma delas se chama Desejo, a outra se chama Paixão. Agora você sabe a diferença. Portanto, sabe o meu nome. E continuará sempre a me espalhar entre os outros. Porque você me conhece e luta ainda por mim.

A velhinha sai, sorrindo, passando entre as pessoas, que se viram pra ela, encantados. Mulder acompanha a velhinha com os olhos.

MULDER: - (SORRI) Prazer em conhecer você, Amor...



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01/10/2002

Oct. 7, 2019, 4:03 a.m. 0 Report Embed Follow story
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The End

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Lara One As fanfics da L. One são escritas em forma de roteiro adaptado, em episódios e dispostas por temporadas, como uma série de verdade. Uma alternativa shipper à mitologia da série de televisão Arquivo X.

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