lara-one Lara One

Você acredita que um sonho possa ser uma premonição? O que poderia mudar na vida dos nossos agentes? O que poderia ser a pior verdade a ser revelada? E ela seria revelada a tempo?


Fanfiction Series/Doramas/Soap Operas For over 18 only.

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S02#20 - MORPHEUS

INTRODUÇÃO AO EPISÓDIO:

Fade in.

Estrada 45 – Lago Champlain – Maine – 4:14 A.M.

Mulder acorda-se assustado, sentando-se na cama. Scully dorme ao lado dele, nua, sob o edredom. Mulder olha para o relógio, são 4:14 da manhã. Respira aliviado. Levanta-se, caminha até a sala. Liga a TV. O número 36 aparece no lado direito da tela, um filme de terror está passando. Mulder caminha até a janela. Olha pra rua. O vento agita as folhas das árvores. Mulder vê seu reflexo no vidro. Por um momento fica se observando, notando semelhanças suas com o velho Fumacinha. Mulder abaixa a cabeça. Senta-se no sofá e assiste o filme. Seu olhar se perde na TV, mas sem prestar atenção.

Mulder volta pro quarto. Escora-se na porta, observando Scully. Caminha até a cama e deita-se ao lado dela. Fica olhando pro teto. Mulder percebe pontos verdes de luz caindo sobre a cama. Dá um sorriso.

MULDER: - Efeito visual provocado pelos pixels da TV...

Mulder olha pro outro lado do quarto. Mas não vê os pontos verdes caindo. Mulder olha pra cima da cama. Há pontos verdes. Mulder percebe que os pontinhos de luz verde caem apenas sobre a cama.

Mulder assustado tenta se mover, mas uma força invisível o segura contra a cama. Mulder está paralisado. Sente como se um vento forte soprasse dentro de seu ouvido esquerdo. Mulder tenta gritar, mas não consegue. Uma luz forte invade o quarto. Mulder continua lutando contra aquilo, mas sem sucesso. Então percebe que Scully, dormindo ainda, flutua em direção à porta do quarto. Mulder se desespera. Tenta gritar, reagir, mas é em vão. Eles estão levando Scully, do mesmo jeito que levaram Samantha, e ele não pode fazer nada.

VINHETA DE ABERTURA: A VERDADE ESTÁ LÁ FORA


BLOCO 1:

Mulder acorda-se nu, deitado sobre uma superfície gelada.

[Câmera subjetiva, imagem difusa, como se fosse os olhos de Mulder tentando identificar o lugar aos poucos]

A luz é intensa. Mulder tenta distinguir onde está. Percebe vultos ao seu redor. A imagem começa a surgir. Mulder vê um alienígena cinza, olhando pra ele. Tenta se mover, mas seu corpo está inerte. Mulder vira a cabeça para o lado. Vê Scully, deitada nua sobre uma plataforma branca, com vários seres acinzentados ao redor dela. Mulder tenta gritar, mas a voz não vem. Um dos alienígenas afasta-se de Scully, segurando um pequeno tubo entre seus dedos grandes. Mulder tenta levantar, mas o ser aproxima-se dele e toca em sua testa.

[Corte]

Mulder acorda-se assustado, sentando na cama e gritando por Scully. Scully acorda-se assustada.

SCULLY: - Mulder, o que houve?

Mulder olha pro relógio que marca 4:14 A.M. Respira aliviado.

SCULLY: - Mulder, está bem?

MULDER: - Foi... Foi um pesadelo, Scully.

SCULLY: - Você me assustou! O que sonhou, Mulder?

MULDER: - Nada, Scully. Apenas manifestações inconscientes de medo.

Mulder a abraça. Scully não compreende nada.


FBI – Gabinete do Diretor Assistente – 3:21 P.M.

Três semanas depois...

Skinner entrega uma pasta pra Mulder. Scully está com o olhar longe. Os dois sentados de frente pra mesa de Skinner.

SKINNER: - Sei que não é um Arquivo X, mas sabe a política do Bureau.

MULDER: - E sei que agora tenho que lamber os pés deles se quiser continuar aqui. Tudo bem, Skinner. Pelo menos não está nos designando pra limpar os banheiros.

SKINNER: - Mulder, leve isso como um elogio. Eles os designaram pra esse caso pela competência de vocês.

MULDER: - (DEBOCHADO) Acho que alguém do último andar está apaixonado por mim. Mas diga que ele não faz o meu tipo. Se ainda fosse parecido com o Stallone, assim, fortão, musculoso e másculo, eu pensaria a respeito.

Skinner abaixa a cabeça e ri.

SKINNER: - Mulder, temos pouco tempo pra pegar o cara. Ele é esperto. Não o subestime.

MULDER: - Tá. O que acha, Scully?

SCULLY: - ... (LONGE)

MULDER: - Scully?

SCULLY: - Ahn?

MULDER: - Atenção piloto, por favor retorne à base, câmbio...

SCULLY: - Me desculpem, eu... eu estava distraída.

[Corte]

Mulder e Scully saindo da sala de Skinner. Entram no corredor. Mulder olha debochado pra Scully.

MULDER: - Hum... “eu estava distraída”... Você fica distraída na presença do Skinner.

SCULLY: - (INCRÉDULA) O que está insinuando, Mulder?

MULDER: - Isso é paixão recolhida. Pegou o homem errado no FBI?

Scully aperta o botão do elevador, olhando debochada pra Mulder.

SCULLY: - Não, Mulder. Só há dois homens no mundo pra mim.

MULDER: - (INCRÉDULO) Dois?

SCULLY: - (DEBOCHADA) É. Você e o Bryan Adams.

MULDER: - Não acho aquele cara quente. Não faz meu tipo.

SCULLY: - (RINDO) Mulder, você não presta mesmo.

Os dois entram no elevador. Mulder aperta o botão do térreo.

SCULLY: - O que acha de sexo a três, Mulder?

Mulder olha pra Scully.

MULDER: - (EMPOLGADO) Scully? Você? Você me propondo isso?

Scully segura o riso, atrevida.

MULDER: - Sério? E onde vai achar a sua amiguinha?

SCULLY: - (INCRÉDULA) Amiguinha?

MULDER: - É. Onde vai conseguir uma garota pra nós?

SCULLY: - Quem está falando de garotas, Mulder?

MULDER: - (PÂNICO) Não brinco mais com você!

Scully ri.

MULDER: - Não! Definitivamente eu não brinco mais com você!

SCULLY: - Ah, Mulder... Hum? Eu, você e algum gostosão sarado?

MULDER: - Não! Eu faria qualquer coisa por você, mas isso não!

Scully fica rindo. Mulder fica sério.


Richmond – Virgínia – 5:31 P.M.

Mulder estaciona o carro na frente de uma casa. Tira um papel do porta luvas. Scully o observa.

MULDER: - É aqui. Emma Roberts, a próxima vítima da lista.

SCULLY: - Mulder, por que um assassino serial daria uma lista de suas vítimas ao FBI?

MULDER: - Você não ouviu nada do que eu estava falando com o Skinner, não é mesmo?

SCULLY: - ... (DEBOCHADA) Não. Eu estava pensando no quanto ele deve ser quente.

MULDER: - ... (ENCIUMADO) Scully, a CIA está atrás do cara também. Ele é um “blowback”, um ex-agente nosso que está disposto a tudo pra matar. Torna-se nossa responsabilidade tirar o cara de circulação antes que crie mais encrenca.

Scully pega a pasta. Lê a ficha.

SCULLY: - Agente Larry Collins... Seção de Crimes Violentos?

MULDER: - ... Era meu parceiro, Scully. Entende agora?

SCULLY: - Mulder, ele não é mais seu parceiro. Não tente convencê-lo de nada, entendeu? Ele é perigoso. Ele tem o mesmo treinamento e pode usar isto contra você!

MULDER: - Não sei o que deu no Larry. Ele era ótimo com assassinos seriais e de repente... Vira um deles. Ele era obcecado por crimes assim, estudou tudo o que podia, colecionava fotos de assassinos como se fossem figurinhas de futebol. Acho que entrou tanto na cabeça deles que agora está confuso, numa crise de identidade...

SCULLY: - ...

MULDER: - Não quero machucá-lo, Scully. Vamos pegá-lo, mas eu quero conversar com ele.

SCULLY: - Mulder...

MULDER: - Scully, ele é um agente do FBI, é um colega nosso! Não posso sair por aí o caçando como se fosse um criminoso comum!

SCULLY: - Ele não é um criminoso comum! Ele sabe dos procedimentos do Bureau! Mulder, ele vai agir sempre em cima do que fizermos, ele conhece as táticas!


7:11 P.M.

Os dois continuam observando a casa. O celular de Scully toca. Ela atende.

SCULLY: - Scully? ... Certo, estamos indo.

Scully desliga.

MULDER: - O que foi?

SCULLY: - Vão nos substituir, Mulder. Precisamos ir até o necrotério. Acharam um corpo e querem confirmar se é ou não de Larry.

Mulder abaixa a cabeça. Liga o carro. Scully olha pra ele, triste.


Necrotério Municipal - 7:43 P.M.

Scully entra, Mulder a segue. Um homem de terno e gravata os recebe. Puxa uma credencial, com arrogância.

BRADLEY: - Sou Bradley, da Inteligência.

Mulder, com uma fisionomia de irritação, puxa sua credencial.

MULDER: - Agentes Mulder e Scully, FBI.

BRADLEY: - Achamos um corpo, mas não pudemos fazer a identificação. Encontramos os documentos dentro do carro.

MULDER: - Não é ele.

BRADLEY: - Preciso ter certeza disso. Sua parceira é médica, não?

MULDER: - Tenho certeza de que não vão pegar o Larry.

BRADLEY: - Ah, tem? Amigo, quando um homem tem sua foto pendurada no mural da CIA, pode se considerar um homem morto.

MULDER: - Amigo, quando um palhaço como você se mete num assunto particular do FBI, pode se considerar um desafortunado.

SCULLY: - (CORTANTE) Posso ver o corpo?

MULDER: - Se pode? Você deve, agente Scully. Isso é assunto do FBI. Não da Inteligência.

Mulder pega Scully pelo braço e passa pelo cara da CIA.

MULDER: - Odeio esses caras, Scully. Estão sempre com aquele ar arrogante, de que são os tais, porque são da CIA.

SCULLY: - Ciúmes?

MULDER: - Não tenho ciúmes. Eu trabalho pra polícia, pra justiça, não pra espionagem e a contra-informação!

SCULLY: - Hum... Xerifes e policiais também odeiam nossa arrogância. Se acham inferiores ao FBI, eles nos odeiam, Mulder!

MULDER: - Mas pelo menos somos do mesmo time.

Scully aproxima-se do corpo. O cheiro de queimado está presente na sala toda. Mulder fecha o nariz.

MULDER: - O que tem aí?

Scully tira o lençol que cobre o defunto, revelando um corpo carbonizado, com algumas lacerações onde percebe-se a cor vermelha da carne sangrando. Scully põe as mãos nos lábios e sai correndo da sala. Mulder olha pra ela, sem entender nada.


8:02 P.M.

Scully sai do banheiro. Pálida.

MULDER: - Está bem?

Scully afirma que sim com a cabeça.

MULDER: - O que houve, Scully? Já viu coisas piores e...

SCULLY: - Não posso fazer isso, Mulder. Não estou me sentindo bem.

MULDER: - ... Certo. Quer que te leve pro hospital?

SCULLY: - Não, eu... eu só preciso de ar. Acho que o cheiro revoltou meu estômago.

Scully sai. Mulder vai atrás dela.


FBI – Arquivos X

Duas semanas depois...

Mulder caminha de um lado pra outro, irritado. Scully entra na sala.

SCULLY: - O que foi?

MULDER: - Acharam outra vítima. Droga, Scully! Em dois meses o cara já matou 10 e não conseguimos pegá-lo!

Scully suspira. Mulder está nervoso.

MULDER: - Estou me sentindo como um idiota!

Mulder esmurra a mesa. Scully se assusta.

MULDER: - Tudo o que eu penso ele está à um passo na minha frente!

SCULLY: - Mulder... Os dois melhores agentes da seção de crimes violentos foram você e o Collins. Você saiu, ele ficou. Ele se especializou nisso. Não pode querer acreditar agora que vai...

MULDER: - (GRITA) Isso nunca aconteceu comigo!

Mulder chuta a lixeira, enfurecido. Scully suspira.

MULDER: - (ENFURECIDO) Eu traço perfis de assassinos, e por que, mesmo conhecendo Collins, eu não consigo pegá-lo? Já estou virando a piada do Bureau: O Estranho Mulder não consegue pegar humanos, só alienígenas!

Scully apóia-se com a mão na parede. Mulder olha pra Scully.

MULDER: - Scully, está bem?

Scully desmaia, caindo no chão.


Apartamento de Scully – 7:18 P.M.

[Som: Diana Ross – Do You Know Where You're Going To (Theme from Mahogany)]

Mulder abre a porta. Scully entra, abatida. Mulder entra e fecha a porta. Scully senta-se no sofá.

MULDER: - O que há com você, Scully?

SCULLY: - ...

MULDER: - Nas últimas semanas tem ficado desse jeito, desmaiando por aí!

SCULLY: - ... (CHORA)

Mulder vai até ela. Senta-se a seu lado. Scully abraça-se nele e chora.

SCULLY: - Eu tô com medo, Mulder.

MULDER: - Medo de quê?

SCULLY: - Alguma coisa está errada, eu sinto isso... Acho que... O câncer está voltando.

Mulder fecha os olhos. Abraça-a com força.

SCULLY: - (CHORANDO) Não sei se aquele chip ainda está me ajudando... E se não estiver?

MULDER: - (TENTANDO CONSOLÁ-LA) Scully, isso é absurdo. Você...

Scully afasta-se de Mulder. Está pálida, com os olhos vermelhos de chorar.

SCULLY: - Olhe pra mim, Mulder!

MULDER: - ...

SCULLY: - Não notou que estou diferente?

MULDER: - (CABISBAIXO) ... Eu... Eu não queria lhe dizer isso pra não preocupá-la, mas você está estranha, Scully.

SCULLY: - ... (SEGURA AS LÁGRIMAS)

MULDER: - ... Talvez eu devesse te levar ao médico. Eu... Você não acredita nisso, não adianta.

SCULLY: - No quê, Mulder? No quê eu não acredito?

MULDER: - Naquela noite em que acordei assustado, eu tive um pesadelo com você. Sonhei que eles haviam nos levado e que estavam te estudando.

SCULLY: - ... Mulder, não me venha com esse assunto de novo! Eu não quero acreditar!

MULDER: - ...

SCULLY: - ...

MULDER: - E se não foi um sonho, Scully? E se eles retiraram seu chip?

Scully levanta-se. Olha pra Mulder, entre ódio e lágrimas.

SCULLY: - Sai daqui, Mulder! Eu não quero ouvir mais nada!

Scully pega a bolsa e abre a porta.

MULDER: - Onde vai?

SCULLY: - Vou pro hospital.

MULDER: - Eu vou com você, Scully.

SCULLY: - Isso é problema meu!

Mulder fecha a porta. Scully está nervosa, fora de si. Mulder perde a calma.

MULDER: - (GRITA) Problema seu? É problema meu também porque eu te amo, sua egoísta!

SCULLY: - (GRITA/CHORANDO) Nunca foi e nunca será!

Mulder a abraça. Scully tenta se desvencilhar, mas se rende. Abraça-o, enquanto chora convulsivamente.

SCULLY: - Eu não quero morrer! Eu não quero! (CHORA) Eu não quero, Mulder!

Mulder chora calado, abraçando a parceira. Beija os cabelos dela. Scully chora, desesperada.


Hospital Memorial – 9:37 P.M.

Mulder está sentado no corredor, olhos inchados de tanto chorar. Abaixa a cabeça, coloca as mãos no rosto. Sente a mão que lhe toca o ombro. Ergue a cabeça. Margaret lhe sorri, amável.

MARGARET: - Fox...

Mulder levanta. Abraça-se em Margaret chorando como criança. Margaret acaricia os cabelos dele, segurando as lágrimas.

MULDER: - Eles fizeram de novo... Eu não a defendi!

Mulder afasta-se de Meg. Está nervoso, confuso, aos prantos.

MULDER: - Seu filho Bill tem razão, Meg. Eu só trago desgraça pra ela!

MARGARET: - Fox...

MULDER: - Eu torno a vida dela o pior de todos os infernos!

Mulder senta-se, abaixa a cabeça sobre os braços, chorando e soluçando. Margaret senta-se ao lado dele, e acaricia suas costas, tentando reconfortá-lo.

MARGARET: - Onde está a Dana, Fox?

MULDER: - Está lá dentro há mais de uma hora, fazendo exames.

MARGARET: - ...

MULDER: - Ela acredita que o câncer voltou.

MARGARET: - (FECHA OS OLHOS) ...

MULDER: - Eu sou um imprestável, Meg. Eu não impedi que isso acontecesse.

MARGARET: - Fox, não fique se culpando.

MULDER: - Eles levaram minha irmã. Eu não fiz nada. Eles levaram a Scully. Eu não fiz nada. Agora a levaram de novo, e eu de novo, não fiz nada! Que tipo de cara eu sou? Eu digo que a amo mas não consigo nem cuidar dela!

Mulder chora.

MULDER: - (DESESPERADO) Eu não quero que ela morra! (REVOLTADO/ CHORANDO) Por que não fazem isso comigo? Por quê? Eu não mereço viver! Por que tem que ser com ela? Por quê?

Meg o abraça.

MULDER: - Por quê?... (CHORA) Por que, meu Deus, por quê?


12:11 A.M.

Meg entrega um copo de café pra Mulder, que está sentado, com os olhos mais inchados ainda de chorar.

MARGARET: - Beba, Fox...

MULDER: - ...

MARGARET: - Minha filha sempre disse que você era o único amigo que ela tinha. Não quero ver você aí, se culpando por coisas que não pode deter. Você não pode ser Deus, Fox.

MULDER: - Eu tenho que ser Deus, Meg. É ela que eu tenho que proteger e nem isso eu faço. Ela é tudo o que tenho na vida. Se ela se for dessa vez, eu vou com ela.

MARGARET: - (TENTANDO CONSOLÁ-LO) Fox, pare de carregar uma cruz maior do que seu peso suporta. Nem tudo acontece por sua culpa. Não sofra por antecipação. Talvez a Dana esteja com outro problema, talvez não seja câncer.

Scully sai da sala. Olhos vermelhos, pálida, nervosa. Mulder levanta-se. Scully olha pra Mulder. Olha pra Meg. Scully está confusa. Aproxima-se de Meg. A abraça, chorando.

SCULLY: - Mãe... O que está fazendo aqui?

MARGARET: - O Fox me ligou... Dana, está bem?

SCULLY: - ... Eu...

Scully seca as lágrimas e afasta-se de Meg.

SCULLY: - Mãe, eu... Eu preciso falar em particular com o Mulder.

MARGARET: - (PREOCUPADA) Tá.

Mulder olha pra Scully. Já começa a chorar, assustado com o que vai ouvir. Meg afasta-se deles. Scully olha pra Mulder. Abraça-se nele e chora. Mulder afaga seus cabelos.

MULDER: - ... Eu só quero dizer que estou aqui com você, pro que der e vier. Você não está sozinha... Eu amo você.

Scully afasta-se dele. Olha pra Mulder, emocionada, confusa. Sorri chorando.

SCULLY: - Eu...

MULDER: - (NERVOSO) Eles tiraram o chip, não foi?

SCULLY: - ... Mulder, eu não estou com câncer.

MULDER: - ???

SCULLY: - Estou grávida...

Mulder olha pra Scully, com um sorriso misturado com lágrimas.

SCULLY: - Eu... Eu não sei como, Mulder, mas... Mas eu estou grávida!

Os dois abraçam-se. Choram como duas crianças. Meg os observa de longe.


BLOCO 2:

Apartamento de Mulder – 6:13 A.M.

Sete semanas depois...

[Som: Diana Ross – Do You Know Where You're Going To (Theme from Mahogany)]

Mulder termina de fazer o café, fazendo muita bagunça na cozinha. Está nervoso. Caminha até a sala, pega o paletó. Vai pro quarto. Scully tenta em vão, na frente do espelho, abotoar a camisa. Mas a barriga já é bem visível.

SCULLY: - Mulder, não vai dar pra esconder mais.

Mulder abre o guarda roupa, tira um blazer dela.

MULDER: - Tenta colocar este. Comprei ontem, acho que vai disfarçar.

SCULLY: - Mulder, as pessoas estão notando que eu estou usando roupas mais largas! Estão perguntando se engordei!

MULDER: - ... (NERVOSO)

SCULLY: - Eu vou dizer ao Skinner, Mulder. Ele já disse que manterá seu sigilo.

MULDER: - ... Scully...

SCULLY: - Mulder, já falamos sobre isso. Estou tendo um caso com um homem que mora em Los Angeles, mal nos vemos, eu fiquei grávida. Você não tem nada a ver com isso.

MULDER: - Scully, isso não é justo! Não pode ficar me protegendo desse jeito.

SCULLY: - Eu vou dizer isso ao FBI, Mulder! Pouco me importa se é justo ou não! Eu não quero que eles nos afastem! Eu não quero que você perca os Arquivos X! Aquilo é a sua vida, Mulder! Podem pensar o que quiserem de mim, pouco importa! Eu sei quem é o pai do meu filho, sei a verdade, mas eu preciso escondê-la!

Scully senta-se na cama. Acaricia a barriga.

SCULLY: - Ele tá crescendo, Mulder... E ele vai crescer mais a cada dia. E não vai mais adiantar ficar comprando roupas largas.

Mulder olha pra Scully. Ela sorri.

SCULLY: - É seu filho, Mulder. Vai ser alto e grande como você.

Mulder sorri. Senta-se ao lado de Scully e a abraça.

MULDER: - Scully, eu não queria que fosse assim... Você sempre quis passar por este momento, ele é tão importante pra você, mas você não consegue aproveitá-lo! Está nervosa, tentado me proteger... Scully, cuida dele e me deixa fazer o que é certo.

SCULLY: - O certo é isso, Mulder. Até ele nascer, nós teremos tempo pra decidir o que faremos.

Mulder levanta-se.

MULDER: - Eu não vou deixar você ser motivo de riso dentro do FBI. Não. Eu vou assumir. Você não vai ficar nessa sozinha! Sempre é você que me salva. Agora eu vou caminhar com meus próprios pés, Scully.

SCULLY: - Mulder...

MULDER: - Ele é meu filho também, Scully! E eu não vou negá-lo! Nem que isso custe a carreira que tenho! Ele é mais importante pra mim do que qualquer coisa!

SCULLY: - Mulder, já pensamos nisso, por favor. O melhor a fazer é ficar de fora. Você não está negando seu filho, Mulder. Nós estamos juntos, mas precisamos mentir pra eles!

Scully fica nervosa. Mulder aproxima-se dela. Coloca a mão sobre sua barriga, a acariciando.

MULDER: - Que tipo de pai eu vou ser se negar meu filho? O mesmo pai que tive?

SCULLY: - ...

MULDER: - Não, Scully. Meu filho vai ter orgulho do pai dele. Eu não sou um covarde!


FBI – Gabinete do Diretor Assistente – 8:31 A.M.

Skinner abre a porta. Mulder e Scully entram. A secretária fica olhando pra Scully, desconfiada. Skinner olha pra secretária.

SKINNER: - Anote recados, estou em reunião.

Skinner fecha a porta. Scully senta-se. Skinner olha pra ela, sorri amavelmente. Scully sorri, tímida.

MULDER: - ... (NERVOSO) Me ajuda, Skinner! Por favor, me ajuda!

SKINNER: - Sente-se, Mulder. Precisa se acalmar.

Os dois sentam-se. Scully ajeita-se na cadeira.

SCULLY: - Senhor, quero informar ao Bureau que entrarei em licença apenas no final da gravidez. Estou grávida do meu namorado, ele mora em Los Angeles, nós nos amamos e em breve vamos nos casar. Daqui algum tempo, se perguntarem, direi que o covarde foi embora e me deixou. Assim não suspeitarão de porquê continuo morando sozinha.

Mulder levanta-se, irritado. Olha pra Scully.

MULDER: - Não! Eu vou assumir o meu filho!

SCULLY: - Já falamos sobre isso, Mulder! É o melhor a ser feito, não complique.

MULDER: - (INCRÉDULO) Melhor a ser feito? E eu? Eu não tenho nada a ver com isso não? Impressão minha ou está tomando as decisões por aqui sozinha?

Skinner os observa.

SCULLY: - (DESESPERADA) Eles vão tirar você dos Arquivos X!

MULDER: - Não, eu peço pra sair e você fica com os Arquivos X.

SCULLY: - Mulder, o que vai fazer longe do FBI? Sua vida está naquele porão e...

MULDER: - Vou montar um consultório, lidar com loucos, sei lá! Minha vida agora está aí, dentro da sua barriga. É essa vida que me importa, se ainda não percebeu!

SCULLY: - Eu posso ir pra Quântico, você fica. Os Arquivos X são mais importantes pra você do que pra mim.

MULDER: - E se não te mandarem pra Quântico? E se te colocarem pra fora do Bureau?

SCULLY: - E se colocarem nós dois pra fora? Mulder, a minha solução é a melhor. Eu posso pedir afastamento depois e tudo vai continuar como era. Você pode achar outra pessoa pra trabalhar com você. O que interessa é que estará lá, buscando a verdade.

Skinner os observa. Mulder está tenso.

MULDER: - Eu não me importo mais com isso. Há muitos meios de buscar a verdade.

SCULLY: - Mulder, está sendo presunçoso e cruel! Você pode buscar a sua verdade e a minha justiça! Sabe que eu não tenho competência alguma pra ficar sozinha naquele porão! Eu não conseguiria enxergar nada a dois palmos do meu nariz! Mulder, por que não fica quieto e deixa as coisas como estão? Que diferença vai fazer se os outros souberem ou não que eu espero um filho seu?

MULDER: - Pouco me importa os outros! Eu só não quero negar meu filho como fui negado!

SCULLY: - Isso é egoísmo, Mulder. Puro egoísmo. Não pensa que seu filho ficará melhor se mentirmos?

MULDER: - Mentirmos? Até quando? Até ele fazer 18 anos e olhar pra mim dizendo: Velho, você é um covarde? Não, Scully, não mesmo!

SKINNER: - Agentes...

SCULLY: - Mulder, vamos continuar juntos, você é pai dele, ele vai saber disso. Ficaremos cada um na sua casa e...

MULDER: - Tá brincando! Quer dizer que você fica com ele e eu fico lá sozinho? Scully, você é a egoísta por aqui, sabia? Acha que ele é só seu filho? Eu não tenho nada a ver com isso? O pateta aqui só serviu na hora H, agora pode cair fora? Sem graça, Scully, completamente sem graça!

Skinner suspira.

SKINNER: - Me sinto como um terapeuta de casais. Posso me intrometer?

Mulder senta-se. Scully vira a cara. Mulder também. Os dois emburrados. Skinner olha pra Mulder.

SKINNER: - Mulder, nem todas as decisões são eternas. Acho que a Scully está certa. Por hora, é o melhor a fazer.

MULDER: - Ahá! Advogado de defesa dela! Você joga no mesmo time, Skinner!

SKINNER: - Mulder, não é isso. Precisamos ser racionais.

MULDER: - Eu nunca fui racional nem na frente de fatos científicos! Não vai ser agora, diante de um fato sentimental, que eu vou ser racional! É o meu filho que está em jogo aqui.

SKINNER: - Não. Os Arquivos X estão em jogo.

MULDER: - Quer saber por qual deles vou optar? Quer ouvir isso da minha boca? Pois fique com os Arquivos X, minha arma, minha credencial! Estou pouco ligando pra essa droga!

SKINNER: - Mulder, seja razoável. Vamos falar de regras.

MULDER: - Não quero falar de regras, Skinner. Estou farto de regras!

SKINNER: - Mulder, estou falando como seu amigo, não como seu chefe. Esta não é a primeira vez que isso acontece aqui dentro. Vocês não são os únicos por aqui que saem do trabalho e vão assistir TV debaixo do edredom. Vá com calma. Deixe seu filho nascer, até lá vai ter tempo pra decidir. Case-se com ela. Não há lei aqui dentro nem na constituição que proíba duas pessoas de se casarem! Vou fazer o que puder pra deixar você nos Arquivos X. A agente Scully tem outras habilidades, ela pode exercer sua carreira em Quântico.

MULDER: - Mas vamos ficar longe um do outro!

SKINNER: - Mulder, por favor! Das 8 às 5, excluindo a hora do almoço?

MULDER: - Fala como se eu trabalhasse das 8 às 5! Eu sou escravo aqui dentro, nem final de semana eu tenho!

SKINNER: - Porque você quer! Você aceitou isso. Foi você quem optou pelo FBI, não o FBI que te pegou à força! Mulder, relaxe. Você está estressado e eu posso entender o motivo. Mas se não agir com racionalidade, pode tornar isso um pesadelo.

MULDER: - ...

SKINNER: - A Scully precisa de você agora. Talvez nunca tenha precisado tanto! Mas ela precisa de você calmo, raciocinando. Não de um maluco nervoso! Pense no seu filho, Mulder. Aproveite o tempo. Não crie tumultos à toa.

MULDER: - À toa? Skinner, é você quem está falando?

Mulder levanta-se. Aproxima-se de Skinner e olha-o nos olhos.

MULDER: - Ei, tem alguém aí dentro dessa cabeça careca?

SKINNER: - Tem, Mulder. Sei que a situação é um caos completo, mas vai adiantar ficar nervoso? Eu não sei de nada, uma de minhas agentes está grávida do namorado e é isso.

MULDER: - Acha que não vão desconfiar? Skinner, é o Fumacinha que me preocupa! Ele vai relacionar e vai levantar suspeitas aqui dentro!

SKINNER: - E daí? Até a criança nascer não podem provar nada. Mulder, acho que a paternidade está deixando você nervoso. Vá pra casa, tome um banho, relaxe. Vá comprar brinquedos pro seu filho e pare de me criar mais problemas! Já está resolvido. Assunto encerrado.

Mulder suspira.


Apartamento de Scully – 10:14 P.M.

Mulder, sentado no chão do quarto, lê um papel. Perdido entre pedaços de madeira coloridos. Scully entra com um copo de suco. Usando um vestido bem largo.

SCULLY: - O que foi?

MULDER: - Não consigo montar esse berço. Por que fazem coisas tão difíceis!

SCULLY: - Mulder, quer se acalmar? Beba isso.

Mulder pega o copo. Scully senta-se na cama, segurando a barriga.

SCULLY: - Ei, meu filho, tá vendo? Aquele idiota ali é seu pai. Culpa minha. Ele está perdendo de 10 a zero pra um berço de madeira.

MULDER: - Filho, essa doida aí é a sua mãe. Ela parece ser uma pessoa normal, mas não acredite nisso.

SCULLY: - Hum... (ESPREGUIÇA-SE) Coisa boa usar roupas folgadas. Estava começando a passar mal.

MULDER: - Quero ver a cara das pessoas amanhã quando entrarmos juntos no FBI.

SCULLY: - Não vamos entrar juntos, nunca entramos.

MULDER: - ...

SCULLY: - Devíamos estar curtindo isso, Mulder. É tudo o que eu mais quis na vida mas... Mas só temos brigado, como dois malucos e eu estou sensível e eu... (BEIÇO) ... eu quero chorar!

Scully começa a chorar. Mulder senta-se ao lado dela e a abraça.

MULDER: - Desculpe, Scully. Eu estou dificultando tudo. Eu prometo que não vou mais me intrometer. Siga sua racionalidade. Minha insensatez não tá ajudando nesse caso.

SCULLY: - Promete que vai parar de ficar assim?

MULDER: - Prometo.

SCULLY: - (SECA AS LÁGRIMAS/ SENSÍVEL) Tá.

Mulder a beija na testa. Scully se abraça nele.


FBI – 9:47 A.M.

Scully e Mulder saem do elevador. Scully vestida como grávida, com a barriga bem saliente. Todos ficam olhando pra ela. Scully disfarça. Mulder pára.

MULDER: - O que estão olhando? Nunca viram uma mulher grávida?

Todos disfarçam, o burburinho começa.

SCULLY: - Me sinto como se tivesse roubado um banco. Eles me olham como se fosse uma criminosa.

MULDER: - Eu não te falei? Eu queria te poupar disso.

SCULLY: - ... Acha que me pouparia? As piadas continuariam e seriam referentes à você também.

Os dois entram na sala de Skinner.


10:11 A.M.

Mulder sai da sala de Skinner. Caminha pelo corredor. Alguns agentes olham pra ele, enquanto cochicham. Mulder fica irritado, aperta o botão do elevador com força. O Agente #1 pára ao lado dele, com as mãos no bolso.

AGENTE #1: - Então, Estranho?

MULDER: - Então o quê?

AGENTE #1: - As más línguas estão dizendo que você se atrasou.

MULDER: - Me atrasei? Como assim me atrasei?

AGENTE #1: - Bobeou, chegaram ali antes.

Mulder o agarra pelo pescoço, encostando-o na parede.

MULDER: - Faça só mais uma piada sobre minha parceira e vai se entender comigo!

Mulder o solta. O Agente #1 ajeita a gravata. O elevador chega. Mulder entra. Há dois agentes ali. Começam a folgar.

AGENTE #2: - É... Dizem que foi um alienígena.

AGENTE #3: - Pensei que fosse o Espírito Santo.

AGENTE #2: - Não, isso não existe. Alienígenas é que existem.

Mulder tenta controlar a raiva.

AGENTE #3: - Se eu trabalhasse com ela, já teria notado que mulher maravilhosa e quente ela é. Mas tem gente que vive no mundo da lua...

AGENTE #2: - Talvez não goste de mulheres, já pensou nisso?

AGENTE #3: - Boa teoria. Acho que não gosta não. Por isso prefere ‘homenzinhos’ verdes...

AGENTE #2: - Eu tenho uma teoria. Me parece que ninguém por aqui sabe o que acontece atrás daquelas caixas no porão... Talvez ela tenha achado alguma coisa ‘estranha’ por lá...

AGENTE #3: - Um alienígena?

AGENTE #2: - Talvez. Mas quando nascer vamos trabalhar com duas hipóteses. Se for verde, é alienígena. Se for narigudo...

Mulder desce na primeira parada do elevador. Furioso, atropelando todo mundo. Os agentes ficam rindo.


Arquivos X – 4:38 P.M.

Mulder entra na sala. Scully olha pra ele. Mulder está abatido.

MULDER: - Pegamos o Collins, Scully.

SCULLY: - ...

MULDER: - Ele reagiu.

Scully levanta-se. Caminha até Mulder e o abraça.

MULDER: - Por que aquele idiota tinha que reagir?

SCULLY: - Não quer ir pra casa?

MULDER: - Não, estou bem.

Mulder escora-se na parede. Scully senta-se. Mulder aproxima-se dela, fica de joelhos e a abraça pela barriga. Sorri.

MULDER: - Sabia que tenho um apelido novo no Bureau?

SCULLY: - Hum... E qual é?

MULDER: - Mulder, o ‘Espírito Santo’.

Scully ri.

MULDER: - Eu disse, Scully, vão desconfiar, é óbvio demais!

SCULLY: - Podem desconfiar, mas não podem provar. Ah, Mulder, pro inferno com eles! Hoje já escutei coisas como “safada, ela pegou o gostoso do porão com esse truque velho”... “De puritana e quietinha ela não tem nada”... “Carrega aquela cruz no pescoço e pensa que é santa com essa barriga”

Mulder sorri. Beija a barriga de Scully.

MULDER: - Deixa o povo falar, Scully. Eu estou acostumado com isso. Sempre fizeram piada de mim aqui dentro. Você é que deve estar chocada.

SCULLY: - Não, muito pelo contrário. Eu peguei ‘o gostoso do porão’. Eu vou ter um filho dele, elas não. São só um bando de invejosas, Mulder.

Os dois trocam um beijo.

SCULLY: - Mamãe me ligou. Quer fazer um jantar pra comemorar o netinho.

MULDER: - Ah, não...

SCULLY: - Mulder, por favor! Eu estou com desejo de comer a comida da minha mãe.

MULDER: - Você tá é ficando espertinha, usando o meu filho como pretexto pra seus prazeres!

SCULLY: - Falou bem, seu filho. Porque acho que não é meu. A Meg disse que ia comemorar o netinho dela, o filho do Fox.

MULDER: - Tá com ciúme?

SCULLY: - Acho que ela é sua mãe agora, ela não me ama mais.

MULDER: - Estamos tão emotivas e desconfiadas ultimamente, não?

SCULLY: - (BEIÇO)

MULDER: - Tá certo, eu vou enfrentar o Bill.

SCULLY: - Ele ainda não sabe de nós, Mulder. Nem que estou grávida.

MULDER: - Tudo bem. Quando ele ver o estado em que te deixei, eu sei que vou parar no hospital. Mas eu encaro a barra.

SCULLY: - (SORRI) Eu te amo, sabia?

Os dois trocam um beijo.


BLOCO 3:

Apartamento de Mulder – 12:41 A.M.

Mulder abre a porta. Scully entra. Mulder entra atrás dela. Os dois vão pra sala. Scully abre um sorriso ao ver o enorme pacote de presente sobre o sofá.

SCULLY: - Hum, Mulder! O que é isso?

MULDER: - Isso o quê?

SCULLY: - Eu sou curiosa.

Scully senta-se e começa a abrir o embrulho. Mulder olha sem entender nada.

MULDER: - O que isso faz aí, Scully?

Scully desembrulha um enorme urso de pelúcia.

SCULLY: - Ah, Mulder! Seu filho vai adorar isso.

MULDER: - Scully, eu... Eu não comprei isso.

Os dois se olham assustados. Scully vê um envelope sobre a mesa de centro. Pega-o. Abre-o. Há um cartão.

SCULLY: - Mulder...

Mulder fecha os olhos.

SCULLY: - Ainda assinou ‘com os cumprimentos do vovô’.

Mulder pega o cartão e o urso.

SCULLY: - O que vai fazer?

MULDER: - Queimar!

SCULLY: - Mas ele é tão bonitinho!

MULDER: - Veio daquele homem e eu não quero nenhuma ligação dele com o meu filho! Esse urso fuma, Scully! Eu não quero meu filho viciado em nicotina!

SCULLY: - Que horror, Mulder!

Scully tira o urso dele. O abraça.

SCULLY: - O ursinho não tem culpa! Ele é do seu filho, não vai queimá-lo!

MULDER: - Eu não quero aquele homem encostando um dedo nessa criança! Eu mato ele antes disso acontecer!

SCULLY: - Mulder, por favor! Ele é seu pai, é um imbecil, um mentiroso, um canalha! Mas ele tem direito de presentear o neto dele.

MULDER: - (PÂNICO) Não posso estar ouvindo isso de você! Deve ser um sonho! É, acho que isso é um sonho e estou dormindo.

Scully o belisca. Mulder grita.

SCULLY: - Viu? Não está dormindo não. O urso fica. O Canceroso sai.

Mulder fica emburrado. Scully abraça o urso.

MULDER: - Mulheres... Emotivas... Blargh!

SCULLY: - ...

MULDER: - Eu compro um urso maior do que esse!

SCULLY: - Não quero. Esse é bonitinho.

MULDER: - Esse é o legítimo ‘amigo urso’, Scully. Por isso ele nos deu um urso!

SCULLY: - Mulder, deixe o ursinho em paz! Você é chato, sabia?

MULDER: - Eu mereço... Aguentei seu irmão latindo a noite toda no meu ouvido e agora isso.

Mulder vai pro banheiro.


5:19 A.M.

[Som: Diana Ross – Do You Know Where You're Going To (Theme from Mahogany)]

Mulder acorda-se. Scully não está na cama. Mulder vê a luz da sala acesa. Vai até lá. Scully está dobrando roupinhas de bebê. Mulder escora-se na porta e a observa, admirando-a.

MULDER: - Tá feliz, não tá?

Scully vira-se.

SCULLY: - Você me assustou.

MULDER: - Desculpe.

Mulder caminha até ela. Senta-se a seu lado. Pega uma mamadeira que está sobre a mesa de centro. Scully o observa.

SCULLY: - E você tá nervoso, não é?

MULDER: - Tô, Scully. Muita coisa nova está acontecendo. Nos casamos, agora temos um filho chegando... É muita novidade pra um cara que vivia na rotina.

Scully mostra um casaquinho azul.

SCULLY: - O que acha? Mamãe diz que vai ser menino. Ela nunca erra.

MULDER: - (SORRINDO) Adoro ver você boba desse jeito...

Mulder pega um sapatinho.

SCULLY: - Foi a Tara quem fez.

MULDER: - Desse tamanho? Isso não vai entrar no pé do meu filho!

SCULLY: - Mulder, é um bebê, tudo é pequenino.

MULDER: - Não, meu filho vai ser enorme! Vai ter um pé enorme e vai jogar basquete!

SCULLY: - Tudo bem, Mulder. Contanto que não cace alienígenas...

MULDER: - Vou comprar um disco voador pra ele.

SCULLY: - Se fizer isso eu mato você.

MULDER: - Vou comprar livros de Ufologia pra ele e...

SCULLY: - Mulder, eu menti. Ele é filho do padeiro da esquina.

MULDER: - Não tente escapar dessa, Scully. O que é isso?

SCULLY: - Um babador.

MULDER: - (INDIGNADO) Babador? Meu filho não vai babar!

SCULLY: - Seu filho vai babar, vai fazer xixi nas fraldas e coisas piores!

MULDER: - Não, meu filho não vai ser babão! O que sua família tá pensando?

SCULLY: - (SORRINDO/ OLHOS BRILHANTES) Mulder... Adoro ver você assim, sabia?

MULDER: - ...

SCULLY: - Aquele dia, no hospital, eu demorei mais de uma hora pensando em como daria a notícia pra você. Achei que ficaria chocado, triste...

MULDER: - ...

SCULLY: - Pra dizer a verdade, achei que me deixaria.

MULDER: - Puxa vida, Scully! Eu sou mau, mas não exagera!

SCULLY: - Você sempre disse que queria tudo planejado e que comigo isso seria possível. Mas não foi.

MULDER: - Scully, esqueça o que eu disse. Eu tô muito feliz por ter esse Scullyzinho aí.

Scully sorri.

MULDER: - Agora, acho melhor você ir dormir. Precisa descansar, o dia foi cheio. Emoções demais pra você.

SCULLY: - (RINDO) ... Bobo! Mulder, você é bobo.

MULDER: - Scully, como isso pode acontecer?

SCULLY: - (DEBOCHADA) Não sabe? Nem faz idéia?

MULDER: - (RINDO) ... Só não entendo. Não diante das circunstâncias.

SCULLY: - E o que importa? Importa é que ele está aí, Mulder.

Mulder beija-lhe a barriga.

SCULLY: - Ei, onde está o cara que dizia que não era digno de ter um filho?

MULDER: - Continuo não sendo digno, mas eu tenho. E tô adorando a idéia.

SCULLY: - Sério? Ou só está tentando me deixar menos nervosa?

MULDER: - Acha que mentiria pra você?

SCULLY: - Mulder...

Mulder levanta-se e a beija suavemente na boca.

MULDER: - Eu te amo, mamãe Scully. E amo esse brilho de felicidade em seus olhos.

SCULLY: - Hum... Eu tô ficando gorda, feia...

MULDER: - Você tá ficando linda, com aquela luz especial que as mulheres possuem quando esperam um filho. Que inveja, sabia?

SCULLY: - Sério?

MULDER: - Sério. Deve ser legal saber que tem uma vida nova dentro de você... O que você sente?

SCULLY: - Como assim?

MULDER: - Não sente nada aí dentro?

SCULLY: - Claro que sinto... Mulder, acho que ele está se mexendo.

Mulder senta-se e encosta sua mão na barriga de Scully.

MULDER: - Tá, eu senti! Ele tá se mexendo!

Os dois ficam ali, como dois bobos, curtindo o filho.


Arquivos X – 8:33 P.M.

Scully pega sua bolsa, olha pra Mulder.

SCULLY: - Vai ficar aí até tarde?

MULDER: - Me ligue quando chegar.

SCULLY: - Tá... Mulder, desculpe, é que prometi a mamãe que iríamos sair pra conversar e...

MULDER: - Vá, Scully. Acho que precisa falar com sua mãe. Sabe, né? Conselhos que marinheiros de primeira viagem precisam...

Scully sorri. Beija-o. Sai. Mulder senta-se em sua cadeira. Abre o laptop sobre a mesa.


8:47 P.M.

Mulder está compenetrado, olhando pro laptop. Ouve barulho na porta.

MULDER: - Scully?

Mulder puxa a arma e a segura sobre a perna. O Canceroso entra.

CANCEROSO: - Trabalhando até tarde?

Mulder guarda a arma. Levanta-se.

MULDER: - O que quer aqui?

CANCEROSO: - (CÍNICO) Parabenizá-lo. Afinal, agora vai saber o que é ser pai. Vai saber as coisas que passei. Vai ter mais alguém pra se preocupar na vida...

Mulder o agarra pelo paletó e o encosta na parede, com raiva.

MULDER: - Se tocar um dedo nele, eu mato você! Pegue seu ursinho de pelúcia e caia fora da minha vida.

CANCEROSO: - Mas eu tenho direito de ver meu neto.

MULDER: - Direito? Seu neto? Olha aqui, desgraçado, eu juro que vou acabar com você antes que meu filho abra a boca pra te chamar de avô!

CANCEROSO: - Isso que está fazendo é uma crueldade, sabia? Uma verdadeira ingratidão.

MULDER: - Ingratidão?

Mulder olha perplexo para o Canceroso, que acende um cigarro, na maior calma.

CANCEROSO: - Eu ajudei o sonho a ser possível e você se recusa aceitar um urso de pelúcia?

Mulder fica catatônico. Incrédulo.

CANCEROSO: - Acha que sua amiguinha poderia te dar um filho, de maneira natural, sem minha intervenção?

MULDER: - Aquilo não foi sonho, não é? Aquilo aconteceu! Eles nos levaram, não foi?

CANCEROSO: - (SOPRA A FUMAÇA) Aquilo foi um presente, embora você não mereça.

Mulder avança nele. O Canceroso recua.

MULDER: - Eu vou te matar, desgraçado! O que fez com ela? O que colocou dentro dela! Um alienígena?

CANCEROSO: - Não, que besteira! Ele é seu filho. Os Ets deram uma ajudinha no processo... Ele é seu sangue e sangue dela. Como falei, é o sonho que queria.

Mulder o encosta contra a parede, olhando-o nos olhos.

MULDER: - Sai daqui! Agora! Mente podre e asquerosa! Se contar isso pra Scully, eu arrebento essa sua cara cínica e debochada!

CANCEROSO: - Eu não vou contar nada pra ela. Não vou tirar a ilusão dela. Deixe-a pensar que é uma mulher normal novamente.

O Canceroso ameaça sair. Mulder o detém.

MULDER: - O que quer em troca?

CANCEROSO: - ...

MULDER: - Você nunca dá nada sem entregar o preço.

CANCEROSO: - Um dia eu cobrarei. Mas ainda é cedo.

O Canceroso sai. Mulder fica parado, incrédulo. Abaixa a cabeça. Chora.


Apartamento de Mulder – 11:37 P.M.

Scully entra. Mulder está sentado no sofá, com uma garrafa sobre a mesa de centro. Ele olha pra Scully derrubando lágrimas. Scully olha pra ele, nervosa.

SCULLY: - Espero que esteja comemorando o fato de que teremos um filho.

MULDER: - Scully, eu... Eu preciso te dizer uma coisa, mas eu não sei se devo dizer.

SCULLY: - Mulder, fale logo. Está me assustando.

MULDER: - Não posso mentir pra você.

SCULLY: - Mulder...

MULDER: - Scully, aquele homem. Aquele desgraçado está por trás disso.

Scully senta-se na poltrona. Olha pra Mulder, segurando as lágrimas. Fecha os olhos.

SCULLY: - ... Mulder, eu não quis falar antes pra você, mas por favor, me escute, antes de prosseguir esse assunto.

MULDER: - ...

SCULLY: - Eu fecho meus olhos e me vejo deitada num lugar frio, com alguma presença que eu não sei o que é. Não sei o que significa, Mulder, mas agora tenho medo de que tenha algo a ver com o que vou ouvir de você.

MULDER: - ...

SCULLY: - Está me dizendo que não estou esperando uma criança? Que eles estão me usando como uma incubadora de alienígenas?

Mulder vai até Scully. Olha em seus olhos.

MULDER: - Não, Scully. Ele é nosso filho e vai ser uma criança normal... Apesar de ter um pai maluco. Ele é nosso. O que eu não queria dizer é que... Ele ajudou.

SCULLY: - ...

MULDER: - Ele pediu aos alienígenas que ajudassem. Não sei porque fez isso, mas ele o fez.

SCULLY: - Quer dizer que eu não fiquei grávida... por que eu posso?

Mulder a abraça. Scully segura as lágrimas e o abraça também.

SCULLY: - Tudo bem, Mulder. Não importa o meio, mas sim o fim. Temos nosso filho, isso é o que importa. O nosso filho único.

Scully levanta-se e vai pro quarto. Mulder fica na sala. Ele consegue ouvir nitidamente o choro dela. Fecha seus olhos.


FBI – Arquivos X – 7:21 A.M.

Mulder, sentado em sua cadeira, virado pra parede. Olha pro pôster. Está com olheiras nos olhos. Skinner entra.

SKINNER: - Não foi pra casa?

MULDER: - Não, cheguei cedo.

Mulder vira-se com a cadeira. Skinner ao olhar pra ele, percebe a gravidade do assunto.

SKINNER: - Mulder, o que queria me falar?

MULDER: - Skinner, nos conhecemos há muitos anos. Você sabe quem eu sou e eu sei quem você é. Quando faço alguma coisa, você sempre desconfia do real motivo. Por isso, pelas vezes que me livrou de situações em que eu estava perdido, pela amizade que temos, pelas suas palavras amigas na hora certa...

SKINNER: - (DEBOCHADO) Não está me pedindo em casamento? Está?

MULDER: - (RINDO) Não. Estou dizendo que não quero que faça perguntas.

Mulder abre a gaveta. Entrega um papel pra Skinner.

SKINNER: - O que é isso?

MULDER: - Minha demissão.

SKINNER: - (TRISTE) Mulder...

MULDER: - Precisa aceitá-la, Skinner. Dessa vez você não vai me convencer do contrário, nem com suas histórias de paranormalidade.

SKINNER: - Por quê? Pode ao menos me dizer o porquê?

MULDER: - ... Preciso ir embora daqui.

SKINNER: - E a Scully?

MULDER: - Quando eu contar a ela o que fiz, vai pedir demissão também. Vou embora de Washington com ela.

SKINNER: - ... Do que tem medo, Mulder?

MULDER: - Agora, tenho duas coisas importantes na vida pra perder. Não quero perder nenhuma, ou ser forçado a escolher uma delas.

SKINNER: - ...

MULDER: - Ele ajudou, Skinner... Eles a abduziram de novo.

Skinner fecha os olhos.

SKINNER: - Tem certeza de que é filho de vocês, Mulder?

MULDER: - Tenho. Agora só quero ir embora, porque vai vir alguma cobrança pelo correio.

SKINNER: - ...

MULDER: - E acredito que a cobrança será a devolução da minha irmã pra ele. Eu não farei isso, Skinner. Eu vou embora, antes que isso aconteça. Dei metade da minha vida pela minha irmã, procurando por ela. Não vou viver feliz pensando que a troquei por meu filho.

SKINNER: - ...

MULDER: - E eu quero viver em paz, Skinner. Já achei minha irmã. Tenho minha mulher e meu filho. Chega. A minha verdade já encontrei. A dos outros, que se danem.

SKINNER: - ...

MULDER: - Ninguém, além da Scully, vai meter a cara por mim, vai tomar um tiro por mim... Se ela sofre hoje por não ter filhos da maneira como queria, o culpado sou eu... Ela fez muito por mim, e hoje eu vejo realmente que sou culpado pelas desgraças que aconteceram na vida dela. Agora basta. Eu vou pensar nela e no meu filho. Não vou pensar nos outros. Fico triste porque você vai ter de arranjar dois agentes novos. Talvez não possa confiar neles, como confiava em nós. Mas amigo, eu escreverei pra você. Quero que vá nos visitar, conhecer nosso filho.

Skinner fica emocionado. Abaixa a cabeça.

MULDER: - Você foi amigo de verdade. Você nos aproximou. Você me deu ela. De certa forma, você fez de mim um ser humano normal.

SKINNER: - Me culpo por isso, Mulder.

MULDER: - Não se culpe. Estou feliz.

SCULLY: - E já pensou no que vai fazer?

MULDER: - Sou ótimo professor de inglês, sabia?

Skinner sorri.

SKINNER: - Vá, Mulder. Eu sei que não devia encorajá-lo, como diretor assistente, mas... Como amigo, eu digo pra você pegar a Scully e ir embora. Vá ser feliz! Faça isso enquanto pode.

MULDER: - ...

SKINNER: - Não perca sua felicidade por nada. Ninguém merece isso. Conselho de quem jogou sua felicidade num buraco e atirou terra por cima.

Skinner abre a porta. Mulder vai até ele. Entrega sua credencial, seu crachá e sua arma.

MULDER: - Leve. Não quero mais precisar disso.

SKINNER: - ...

MULDER: - Vai, anda! Não me deixe pensar duas vezes.

SKINNER: - ... Não me escreva. Eu encontro vocês.

Skinner sai.

[Som: Diana Ross – Do You Know Where You're Going To (Theme from Mahogany)]

Mulder levanta-se. Olha pra sala. Olha pros Arquivos. Olha pro pôster. Retira-o da parede e o enrola. Olha pro mural. Há uma foto de Scully com Hamurabi e o camelo, com a esfinge ao fundo. Mulder sorri. Retira a foto e põe no bolso.

MULDER: - É... (SUSPIRA) Foi bom enquanto durou. Vou ter saudades desse porão sujo e escuro. Eu fui feliz aqui. Fui triste, fiquei caído, tive boas risadas... (SORRI) Conheci você... Foi nessa porta que a felicidade bateu. Foi por essa porta que a vida veio me encontrar. Essas paredes têm muitas histórias... Boas e ruins. Mas as ruins ficarão aqui. As boas, eu levarei comigo.

Mulder pega o pôster. Dá uma última olhada na sala. Sai, fechando a porta.


BLOCO 4:

Apartamento de Mulder – 10:13 P.M.

Mulder abre a porta. Scully entra de vestido e casaquinho. Ela fecha o casaco com as mãos, sentindo frio.

SCULLY: - Esqueci as chaves.

Scully olha pra sala. Há várias caixas empilhadas. Mulder olha pra ela.

MULDER: - Pedi aos Pistoleiros pra ficarem com algumas coisas...

SCULLY: - Mulder, eu... Tem certeza do que está fazendo?

MULDER: - Tenho. E você.

SCULLY: - (SORRI) Tenho.

MULDER: - Arrumou tudo?

SCULLY: - Minha mãe está ajudando. Está levando coisas pra casa dela. Só podemos levar o básico, não acha?

MULDER: - É.

SCULLY: - ... Entreguei minha demissão ao Skinner... Chorei a tarde toda.

MULDER: - ... Vamos superar isso, Scully. Temos um ao outro, temos lembranças... Tudo vai ficar em ordem. Vamos começar do zero... Num lugar onde ninguém nos conhece, ninguém saberá de nós...

SCULLY: - Fugindo, você quer dizer.

MULDER: - Que seja! Fugindo de tudo, fugindo de todos, do nosso passado... Deixando tudo enterrado aqui, tudo o que não nos serviu. O que nos magoou, o que nos fez chorar.

SCULLY: - ... Gosto da ideia, Mulder. Gosto mesmo.

MULDER: - Scully, nós dois nunca pudemos escolher, nunca ninguém nos salvou de nada. Nós só temos um ao outro. Vamos fugir, vamos salvar o nosso filho. E a nós mesmos... Tudo tem um preço, Scully. E essa é a oferta. Se ficarmos aqui, vão cobrar um couvert muito caro pra festa.

Mulder a abraça. Scully abraça-se nele, reconfortando-se em seus braços.

MULDER: - Sua mãe, ela tá legal?

SCULLY: - Ela nos dá apoio, Mulder. Disse que se precisarmos de uma babá, ela pode morar conosco.

MULDER: - (DEBOCHADO) Morar com a sogra? Scully, estou deixando os perigos todos para trás e você quer que eu more com a minha sogra?

SCULLY: - (SORRI)

MULDER: - Tá, minha sogra é boazinha. Ela é da espécie de sogras não-venenosas, tem a cabeça chata e não rouba minha cerveja escondida no fundo da geladeira.

SCULLY: - Que maldade, Mulder!

Mulder a beija na testa.

MULDER: - Vamos ficar bem, Scully, já sobrevivemos a coisas piores.

SCULLY: - ... Está fazendo isso por você?

MULDER: - Estou fazendo isso por nós três, Scully. Agora eu sou pai e marido, tenho que ter responsabilidades, não acha? (SORRI) Agora tenho um família... Só pra mim.

SCULLY: - Mulder, você está realmente ficando mais e mais ‘estranho’.

MULDER: - Você me transformou... é como dizem: basta uma boa mulher pra erguer um homem. Ou uma má para destruí-lo...

Mulder a beija. Olha nos olhos dela.

MULDER: - Você é meu alicerce. Meu Deus. Minha vida. Minha crença e minha verdade. Nada mais me importa. Só você e o nosso filho.


2:39 A.M.

Os dois estão dormindo. Scully vira-se na cama, agitada. Mulder acorda-se. Olha pro relógio que marca 2:39 já mudando pra 2:40 A.M. Mulder olha pro teto, pensando longe. Vira-se pra Scully. Deita a cabeça sobre sua barriga e conversa com o filho.

MULDER: - (COCHICHA) Ei, garotão, tá acordado? ... Amanhã nós vamos embora desse lugar... Vamos pra algum lugar onde só exista natureza, um lugar grande e bonito pra você brincar, correr...

Mulder afaga a barriga de Scully. Ela continua dormindo.

MULDER: - (COCHICHA) Sabia que eu amo você?

Mulder beija a barriga de Scully. Scully se mexe na cama.

MULDER: - (COCHICHA) Ops... Não vamos acordar a mamãe... Ela tá muito cansada, e eu não tenho feito muita coisa pra ajudar... Agora vamos ter tempo. Eu e você. Vamos brincar juntos... Vou te ensinar a jogar basquete... Vamos comer sorvete, vamos assistir jogos... O mundo aqui é fora é bonito. Você precisa ver quando chega a primavera... Flores, pássaros cantando... Sei que ai dentro você está bem protegido, mas aqui fora nós dois vamos proteger você.

Mulder afaga a barriga de Scully, com lágrimas nos olhos.

MULDER: - (COCHICHA) Eu... Eu quero ser um bom pai. Acho que você vai me ajudar a superar o medo que eu tenho... Na verdade, eu tenho medo porque sou filho daquele homem. E eu não quero fazer nada de mal pra você, como ele fez pra mim. Pode parecer bobo, mas eu confesso, só pra você: é um trauma que eu tenho. Por isso me assusto com você. Só por isso. Porque eu quero que você seja feliz, desde agora... Eu não quero que você passe pelas coisas que passei... Não quero que sofra torturas mentais... Quero que se sinta amado, seguro, mas acima de tudo: livre... Eu... eu quero cuidar de você, acompanhar tudo o que você faz... Eu nunca tive isso na vida, um pai que me pegasse pela mão e me levasse pra passear... Não sou muito bom com crianças... Ainda me sinto uma criança... Mas vamos crescer juntos... Vamos aprender um com o outro... (SUSPIRA) ... Estou acordando você, né? Aposto que está dormindo e nem escuta o que estou dizendo.

Mulder sente o bebê se mexer na barriga de Scully. Lágrimas caem de seus olhos. Mulder fecha os olhos e chora, abraçado na barriga dela.

MULDER: - (MURMURA) Eu te amo, meu filho. Eu te amo.


3:59 A.M.

Mulder dorme, abraçado em Scully. Percebe que ela se afasta dele. Abre os olhos. Vê três seres acinzentados dentro do quarto, segurando Scully. Mulder tenta se mover, mas está paralisado. Não consegue gritar. Vê o corpo de Scully flutuar. Mulder chora. Um dos seres aproxima-se dele e toca em sua testa. Mulder dorme.

Mulder acorda-se. Está deitado sobre a mesma superfície gelada, que agora ele distingue como uma mesa cirúrgica. Percebe a sala branca. Tenta se mover, mas só consegue virar a cabeça e ver Scully deitada ao lado dele, nua. Mulder olha apreensivo pra ela, mas ela dorme profundamente. Angustiado, ele tenta gritar. Consegue.

MULDER: - Scully!

Scully continua dormindo. Mulder olha pela sala. Vê alguns seres aproximarem-se dela.

MULDER: - (DESESPERADO) Não! Não toquem nela! Pelo amor de Deus não toquem nela!

Mulder, agitado, tenta se mover. Desespera-se. Vê os seres ao redor de Scully, mas não sabe o que estão fazendo. Mulder grita, nervoso. Eles estão indiferentes.

MULDER: - (GRITA) A deixem em paz! Por que não fazem isso comigo? Me entupam de chips seus desgraçados, mas não toquem nela!

Um dos seres vira-se pra Mulder, olhando-o curioso. Aproxima-se de Mulder.

MULDER: - (GRITA) Desgraçados! Vocês são todos uns desgraçados! Entende o que eu falo?

O ser olha pra Mulder, inclinando a cabeça, como se tentasse entender.

MULDER: - (GRITA) Desgraçado! Isso significa dêem o fora do meu planeta! Não terão boas vindas por aqui!

O ser passa a mão no rosto de Mulder, o observando, analisando com curiosidade. Mulder vira o rosto.

MULDER: - Vai fazer piadas sobre o meu nariz, cabeça grande? Um dia eu vou fazer isso com vocês! Vou pegar um por um e vou dissecá-los vivos como se fossem animais!

Scully grita. Mulder vira o rosto pra ela. Scully está olhando pra ele, chorando, gritando como desesperada. Mulder tenta se mover. O ser afasta-se dele.

MULDER: - Scully!!!

SCULLY: - (DESESPERADA) Mulder, me ajuda!

Scully não consegue mover-se. Mulder se desespera. Quer ajudá-la, mas não consegue. Scully fecha os olhos.

MULDER: - Scully!!!

Mulder percebe que um dos seres afasta-se de Scully. Ele carrega um enorme recipiente transparente, onde Mulder vê um feto. Mulder começa a chorar.

MULDER: - Não... (GRITA DESESPERADO) Não!!!

Mulder tenta se mexer, mas só consegue bater com a cabeça contra a mesa. Scully acorda-se novamente e chora, pedindo por socorro. Mas ele não pode fazer nada. Está além de suas forças. E isso o deixa mais desesperado ainda.

Mulder, em transe, sem noção de tempo e espaço, como se estivesse submerso num vácuo profundo. Ainda deitado sobre a mesa. A única sensação que tem é de impotência e de raiva. Sente as lágrimas correndo por seu rosto. Ergue a cabeça. Vê cientistas parados no fundo da sala. Vê o Canceroso se aproximando, enquanto fuma um cigarro, calmamente.

MULDER: - Desgraçado! Era esse o seu pagamento?

CANCEROSO: - Eu disse que cobraria mais tarde.

MULDER: - ... (CHORANDO) Devolve o meu filho! Por favor, eu te peço, eu faço tudo o que quiser, mas devolve o meu filho!

CANCEROSO: - Ele não é mais seu filho. Agora ele é meu filho. Vou cuidar pra que ele não me dê o desgosto que você me deu na vida.

MULDER: - Não o maltrate, pelo amor de Deus! Não o entregue pra esses alienígenas! Entregue a mim! Eu mereço, ele não!

CANCEROSO: - ...

MULDER: - O que vai fazer com ele? (CHORANDO) É só um uma criança, que ainda não pode se defender...

CANCEROSO: - Não vou entregar ele pra ninguém. Ele será tratado com tudo o quiser. Darei à ele coisas que você nunca poderia dar. Ele é meu sangue, Mulder. Afinal é seu filho. Cuidarei dele melhor do que você cuidaria. Ele herdará meu império. Estou ficando velho, e já que meu filho não quer colaborar comigo...

MULDER: - Devolva-o! Eu faço o que quiser. Eu te ajudo.

CANCEROSO: - Não, Mulder. Já teve sua chance, mas não me deu ouvidos. Agora é tarde.

Mulder chora. Olha pra Scully, que está adormecida.

MULDER: - (CHORANDO) Por favor... Não por mim, mas faça por ela. Ela não merece isso.

CANCEROSO: - Ela não significa nada. Isso aconteceria com a Diana, já tínhamos combinado, mas... Infelizmente ela me traiu. Não queria correr o risco. Afinal, sua coleguinha tem bons genes. Ela não gosta de traições. Nisso eu concordo. Ela é a mãe ideal.

MULDER: - (IMPLORANDO) ... Me dá o meu filho. (CHORA) Eu te dou a Samantha de volta. Eu digo onde ela está. Eu trabalho pra você. Nunca mais olho pra Scully, abandono tudo e sigo a sua causa... Faço tudo, mas devolve o nosso filho!

O Canceroso dá as costas.

MULDER: - (CHORANDO) Por favor... Pai.

O Canceroso pára. Vira-se pra ele. Mulder olha pro Canceroso, derrubando lágrimas.

MULDER: - (IMPLORA) Pai, por favor...

O Canceroso olha pra ele com indiferença.

CANCEROSO: - Você não é mais o meu filho. Seu filho será o meu filho.

O Canceroso afasta-se, sumindo numa névoa branca.


Mulder acorda-se. Senta-se na cama assustado. Olha pro lado. Não vê Scully. Olha pro relógio: 3:41 A.M. Mulder pula da cama. Corre pra sala. Scully, cabisbaixa, está sentada no sofá, dobrando as roupinhas do bebê, enquanto chora. Mulder olha pra ela. Ela ergue o rosto, banhada em lágrimas. Levanta-se. Não está mais grávida. Mulder fecha os olhos e percebe que tudo não foi um sonho. Scully olha pra ele com ódio, chorando.

SCULLY: - Eu te implorei, eu te pedi pra me ajudar, mas você deixou que eles levassem o meu filho!

MULDER: - ...

SCULLY: - Mulder, eu... (ÓDIO) Eu odeio você!

Mulder escora-se na porta e chora, deixando o corpo cair no chão. Chora como criança. Scully olha pra ele com o pior olhar que alguém poderia dar a uma pessoa. Está magoada, com raiva.

SCULLY: - Você não queria que eu acreditasse? Agora eu acredito, Mulder. Está feliz? Eu vi, eu acredito! Mas paguei pelo preço da pior maneira possível!

MULDER: - (CHORANDO) Eu queria te ajudar, Scully, mas eu não podia me mover...

Scully olha pra ele, chorando. Cai de joelhos ao lado dele, abaixando a cabeça. Desesperada, gritando.

SCULLY: - Minha alma dói! Dói! Isso dói muito! (CHORA) Eu nem pude tê-lo nos meus braços... Nem pude vê-lo, tocá-lo, amamentá-lo... Eles o tiraram de mim, como covardes! ... Como um bando de covardes! ...

Scully esmurra o chão com as mãos. O ódio e a revolta crescem dentro dela. Ela encolhe-se ao lado dele, chorando.

SCULLY: - Me abraça, Mulder! Você não é o único culpado... Eu não fiz nada pra evitar que eles o levassem! Estava além de nossas forças... (CHORA) Além... Eu quero o meu filho, Mulder! Eu quero ele de volta, aqui, dentro da minha barriga!

Mulder a abraça, chorando com ela.

SCULLY: - (MURMURANDO) Eu quero o meu filho... Eu quero o meu filho...


Arquivos X – 7:35 A.M.

Scully, sentada no chão, revira várias pastas de casos não solucionados. Mulder, sentado em sua cadeira, pesquisa algo no laptop. Scully levanta-se.

SCULLY: - Achei diversos casos iguais... (RELUTA) ao nosso.

MULDER: - Nenhuma aparição de OVNI na noite passada foi registrada...

SCULLY: - (SEGURANDO AS LÁGRIMAS) Mulder, pra onde levaram nosso filho?

MULDER: - ... Scully, isso vai ser duro pra nós dois. Acredite, eu já tive de fazer isso uma vez e foi muito dolorido.

Mulder abre a gaveta. Tira uma pasta. Coloca sobre a mesa.

[Som: Diana Ross – Do You Know Where You're Going To (Theme from Mahogany)]

Scully olha chorando. Pega a caneta. Pega a pasta.

SCULLY: - Eu faço isso, Mulder. Eu preciso fazer isso.

Mulder fecha os olhos, derrubando lágrimas. Scully escreve na pasta.

Close do cabeçalho da pasta: Arquivo X 33.467.

Scully escreve no espaço onde está reservado para um nome: Our baby.

Os dois olham um pro outro, naquele silêncio que só eles entendem o significado. Scully levanta-se. Caminha até a porta e sai. Mulder olha pra porta. Scully entra novamente, olhando para o parceiro, segurando as lágrimas.

SCULLY: - Agente Mulder?

MULDER: - ...

SCULLY: - Sou a agente Dana Scully. Fui designada pra trabalhar com você nos Arquivos X.

Mulder tenta sorrir, mas não consegue. Scully se aproxima e senta-se na cadeira. Segura as mãos de Mulder por sobre a mesa.

SCULLY: - Eu acredito em extraterrestres e estou aqui pra ajudar você com a pseudo-ciência e a ciência, caso esta seja necessária. Sou médica, posso obter provas científicas que o ajudem a comprovar a verdade.

Mulder chora com Scully.

SCULLY: - Agora, Mulder, temos uma nova busca... E eu confio em você. Você encontrou sua irmã, um dia vai encontrar o nosso filho. Nem que pra isso tenhamos que perder toda a nossa vida nesse porão. Eu agora tenho um motivo.

Mulder abaixa a cabeça, chorando, segurando as mãos de Scully com força.


Estrada 45 – Lago Champlain – Maine – 4:14 A.M.

Mulder acorda-se assustado, sentando-se na cama. Scully dorme ao lado dele, nua, sob o edredom. Mulder olha para o relógio, são 4:14 da manhã. Respira aliviado. Levanta-se, caminha até a sala. Liga a TV. O número 36 aparece no lado direito da tela, um filme de terror está passando. Mulder caminha até a janela. Olha pra rua. O vento agita as folhas das árvores. Mulder vê seu reflexo no vidro. Por um momento fica se observando, notando semelhanças suas com o velho Fumacinha. Mulder abaixa a cabeça. Senta-se no sofá e assiste o filme. Seu olhar se perde na TV, mas sem prestar atenção.

Mulder volta pro quarto. Escora-se na porta, observando Scully. Caminha até a cama e deita-se ao lado dela. Fica olhando pro teto. Mulder percebe pontos verdes de luz caindo sobre a cama. Dá um sorriso.

MULDER: - Efeito visual provocado pelos pixels da TV...

Mulder tem um insight. Pega a arma. Puxa Scully pelos braços. Scully, acorda-se, assustada.

SCULLY: - Mulder, o quê?

Mulder a arrasta pra fora da cama, nervoso. Scully puxa o lençol, enrolando-se nele. Mulder corre, puxando-a pelo braço. Abre a porta da casa, correndo pra fora como um desesperado. Scully está confusa, meio dormindo. Não consegue soltar sua mão da mão de Mulder, pois ele a segura com força.

Mulder corre com Scully pra bem longe. Pára. Cansado. Ofegante. Scully, tremendo de frio, olha indignada pra ele.

SCULLY: - O que foi? Esse tipo de ataque maluco no meio da madrugada eu ainda não conhecia! Esperou casar pra depois revelar isso?

Mulder olha pra cima da casa. Percebe uma luz intensa.

Scully está incrédula, olhando pra ele. Mulder olha na direção da casa. Scully não. Fica olhando irritada pra Mulder. Mulder vê a luz dissipar-se aos poucos até sumir. Mulder olha pra Scully que está furiosa. Mulder começa a sorrir. Scully olha pra ele, assustada, mas Mulder continua rindo sozinho, enquanto derruba lágrimas.

SCULLY: - O que está acontecendo com você, parece um maluco agindo desse jeito? Mulder, está ouvindo o que estou falando?

MULDER: - (RINDO) Vamos embora, Scully.

SCULLY: - Embora? No meio da madrugada? Mas eu estava dormindo! Mulder, o que está acontecendo com você, enlouqueceu de vez?

Mulder sorri, feliz.

MULDER: - Foi um pesadelo, Scully. (RI) Foi só um pesadelo! Tudo não passou de um pesadelo. Você não acredita em extraterrestres, e eu nem quero que acredite!

SCULLY: - ??? Mulder, o que...

MULDER: - Nada, Scully. Deixa pra lá. Foi um sonho. Uma premonição.

SCULLY: - ??? Mulder, do que está falando?

MULDER: - Estou lutando contra o futuro, Scully. Um futuro muito infeliz que não nos interessa... Só estou te protegendo. Apenas te protegendo...

Mulder olha pro céu. Respira fundo. Abraça-a. Scully continua sem entender nada.

MULDER: - Só te protegendo...


X

21/04/2000

June 17, 2019, 11:11 p.m. 0 Report Embed Follow story
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The End

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Lara One As fanfics da L. One são escritas em forma de roteiro adaptado, em episódios e dispostas por temporadas, como uma série de verdade. Uma alternativa shipper à mitologia da série de televisão Arquivo X.

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