Com a arma na mão, ainda quente, sentia meu corpo tremer, eu tinha puxado o gatilho, atirei em um homem, acertei no peito do covarde líder dos Suburbanos, um grupo de homens, caminhoneiros, sujos, que sequestraram mulheres e as estupravam até a morte e as últimas vítimas eram amigas e esposas de membros do Moto Clube Alcateia, que meu marido era membro fundador e presidente. Há duas semanas, estava saindo da minha editora e jornal. Chegando perto da minha moto quando senti uma paulada na minha nuca e desmaiei, acordei em um porão escuro, não enxergava nada, estava nua, meus seios doíam e senti uma dor profunda na minha vagina e ânus, tentei me mexer mas não pude, estava amarrada nas mãos e pés. Gritei, por horas, chorei, me desesperei, sabia que o maldito do Charles Twins, o líder dos malditos caminhoneiros tinha me pegado. Estava exausta, meus ossos doíam, meu corpo estava todo chicoteado em carne viva, há quanto tempo eu estava lá, o que ele fez comigo me aterrorizava, eu chorava mais, pelo sol que nasceu duas vezes, dois dias acordada e a quatro vezes diárias e noturnas era estuprada e apanhava mais por um homem encapuzado usando uma máscara de papai Noel, bem sugestivo, estávamos há duas semanas do natal. Então quando o sol apareceu no terceiro dia eu vi que ele tinha ido embora e comecei a tentar me desamarrar, ele voltava e eu parava pra ele abusar e sair sorrindo da minha cara, continuei assim e consegui me soltar, e saí me arrastando, a porta estava trancada, peguei um ferro e forcei até conseguir, tinha um armário que eu abri e peguei uma camisa vesti, e continuei pelo corredor que dava em uma cozinha, em cima da pia tinha uma pistola, peguei chequei se estava carregada e engatilhei, quando abri a porta dei de cara com o Charles que se assustou e gritou, foi quando puxei o gatilho e acertei no coração do desgraçado. Congelando com os pés na neve fui até o corpo dele e tirei o celular do bolso dele, digitei o número e tocou, ouvi a voz que significava segurança e amor desde que eu tinha 17 anos, na faculdade, conheci meu marido e melhor amigo e parceiro, meu cumplice.
- Amor, socorro... Eu estou na fazenda do Charles amor, ele me violentou, socorro Thomas, me ajuda, por favor!
- Alana, meu amor, como é bom te ouvir, estou a caminho meu amor, a polícia e os bombeiros estão a caminho...
Fiquei lá, congelada, sentido dor e sangrando, ainda segurava a arma e não tinha entrado. Os bombeiros chegaram e junto ouvi o motor da Harley do Tom, ele parou do meu lado e desceu já chorando, parecia anos mais velho, seu olhar estava triste, sofrido, suas mãos tremiam quando me tocaram e então eu desmaiei, estava segura, eu e todas as mulheres da nossa cidade.
No hospital acordei devagar a dor tinha sumido, mas o horror ainda estava lá, o Tom estava sentado na cadeira ao lado:
- Thomas, amor.
Admirei o motociclista que esbarrou em mim na festa da faculdade, cabelos longos na altura do ombro cacheados loiros, os olhos verdes claros, o nariz afilado, e os lábios desenhados, a barba loira e a covinhas na bochecha, o corpo grande atlético, a pele branca, alto 1,86 alt, sempre usava jeans e botas pretas, camisas e o colete de couro do clube, quando não estava com o uniforme de chefe de polícia civil da única delegacia do condado de Winchester, na cidade de Manchester.
- Ahn meu amor, minha Alana, eu estava desesperado, já não sabia mais o que fazer mais um dia longe eu morreria.
Falou se sentando ao meu lado, segurando minhas mãos, e me dando beijos no rosto, senti minhas lágrimas se juntarem as dele. Ficamos assim por uns minutos.
- Tom, aquele desgraçado, ele me tocou, ele me estuprava várias vezes por dia, amor quantos dias eu fiquei lá?
- 4 dias Lana, 4 dias, todo mundo estava te procurando, até aquele filho da puta. Você matou ele, e agora nenhuma mulher mais vai passar por isso, anjo meu.
Ele me contou tudo que aconteceu nos dias que estava no cativeiro, os irmãos de clube me procurando, a cidade tinha parado novamente, e ele como chefe de polícia, precisou ser afastado pois era pessoal e não seria profissional. Então ficou de espectador, mas sempre liderando buscas com os irmãos. Meus leitores e funcionários não deixaram de publicar e postar diariamente, investigando e desvendando, já estavam quase provando que era o Charles quando eu liguei pra ele. Nossos afilhados, e nossos filhos estavam desesperados sem a mãe e madrinha deles.
Conversamos muito, e o médico entrou no quarto:
- Alana, vamos conversar, você foi abusada sexualmente inúmeras vezes, tanto vaginal quanto anal, teve uma costela trincada, sinais de estrangulamento e uma concussão na cabeça devido a paulada que levou, tem marcas de chicote por todo seu corpo, seus seios estavam em carne viva, é uma sorte você está viva, pois estava desidratada e sem comer a seis dias, fizemos transfusão de sangue, seu marido doou, e te medicamos, agora você só precisa descansar e mudar o quadro de desidratação, em dois dias pode voltar pra casa, fizemos todos os exames de DST, e todos deram negativos, você não estava nos dias férteis, então não há perigo de gravidez, agora só repousar.
Ele saiu do quarto e o Tom estava chorando deitado no meu ombro segurando minha mão, eu fiquei em choque e não derramei nenhuma lágrima.
Dois dias em repouso no hospital, não aceitei nenhuma visita, estava constrangida, envergonhada, não tive coragem de encarar meus filhos, recebi a alta, coloquei a calça jeans, suéter e casaco, calcei as botas e coloquei meu colete. Fomos na moto dele, chegamos em casa e todos estavam lá, o Luc, nosso filho mais velho 15 anos, a cor dos cabelos eram vermelhos iguais os meus, a pele branca e cheia de sardas, as covinhas e os olhos do pai, era alto e forte. A Liz, nossa caçula, 10 anos, loira igual ao pai, mas os olhos cinzentos iguais os meus, pequena, mas alta e saudável, tão branca quanto a neve, linda. O Michael nosso afilhado, 17 anos, um rapaz alto e magro, usava óculos e era bem o estilo nerd, era um nerd, inteligente, cursando jornalismo na faculdade da capital em Winchester, e suas irmãs as gêmeas Clarissa e Cléo de 5 anos, cabelos pretos e pele branca, pareciam bonecas, vieram morar conosco depois que seus pais, minha prima irmã e cunhado morreram num acidente há dois anos atrás, nossos irmãos, o capitão do mato Alex, o diretor Filipe, o vice presidente Wilson, e suas respectivas esposas, a Lia, a Julie e a Cíntia. Meus pais já eram falecidos, e naquela hora eu senti mais falta deles, meus sogros, Timothy e Gabriela estavam lá também acalmando meu coração, numa versão mais velha do Tom, eram muito parecidos. Eu chorei muito e todos me abraçaram juntos. Conversamos, e subi para o quarto, onde deitei e dormi, sonhei com aquele filho da puta. Acordei gritando, já era madrugada, e o Tom me abraçou, chorei tremendo nos braços dele. Ele não sabia que aquele era o acontecimento que viria para mudar toda a nossa vida, inclusive nossa realidade, que será testada.
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