saaimee Ana Carolina

Naquela noite o céu estava em chamas, ao nosso redor havia mais corpos caídos do que em pé e a nossa frente nada além de mais inimigos sedentos por sangue. Nós, cansados e feridos, continuávamos sem olhar para trás erguendo as armas e ouvindo o estalo do metal de novo e de novo. Não sabíamos se iriamos conseguir e mesmo assim não podíamos parar. Eu estava cansado até mesmo amedrontado vendo ele gritar a cada novo golpe que dava ignorando a dor de todos aqueles que recebia. Sempre soube da força que ele tinha, mas nunca imaginei que viveria para me levantar por ele. Espadas são forjadas no fogo com a única razão que tem para existirem: proteger. Mesmo alguém como eu sabia disso, mas eu era capaz? Eu poderia fazer isso mesmo assim? Naquela noite, eu descobri a resposta.


Fanfiction Games All public. © Os personagens desta estória pertencem a Touken Ranbu. Todos os direitos sobre eles são reservados a © DMMゲ―ムズ/Nitroplus. Capa feita por mim com itens gratuitos. Fonte utilizada: Black Olives por Huse Design.

#Shokudaikiri-Mitsutada #Ookurikara #kara #Shokudaikiri-Mitsutada-Ookurikara #shounen-ai #touken-ranbu #tourabu #angst #drama #bl #boys-love
Short tale
2
5.8k VIEWS
Completed
reading time
AA Share

Capítulo Único

Já fazia mais de meia hora que estava sentado com os joelhos encolhidos e os braços abraçando apertado o moletom da calça. O chão de madeira era o mesmo de sempre: liso e tão limpo que daria para ver reflexos. A grama a frente bem cuidadas com as árvores ao longo que sempre espalhavam suas folhas quase como se tentassem decorar tudo. Hasebe sempre foi muito histérico sobre manter tudo em ordem pelo Mestre, mas algo me fazia pensar que aquilo tinha mais a ver com outra espada.

Aquela tarde de céu sem nuvens estava fria mesmo com os raios de sol ainda refletindo o brilho nas paredes. Havia uma brisa gentil, porém forte suficiente para balançar as folhas e os lençóis nos varais. Era mais uma dia comum.

Um caminhar suave e quase silencioso chamou minha atenção. Virei o rosto encontrando um gato de pelagem preta e olhos tão grandes quanto duas bolas de gude. Suas patas suavemente tocavam a madeira se aproximando lentamente de mim. Ele parou ao meu lado e sem nem me dar atenção deu início a um banho preguiçoso.

Estiquei o braço para tocá-lo, mas parei quando cheguei perto. Meus dedos se encolheram e meus olhos se apertaram. No antebraço a tatuagem do dragão doeu como agulhas em minha pele assim que apareceu na luz.

Eu sempre lutei pelo meu orgulho, por mim. Um espada sem dono não tinha motivo para querer se aproximar de alguém. Tudo o que eu fazia era problema meu e sempre deveria fazer o possível para resolver sozinho. Nunca quis que ninguém se colocasse a minha frente, que tomasse um golpe por mim e menos ainda quis que alguém dependesse da minha ajuda. Eu estava sozinho.

O gato se sacodiu e pulou na grama. O observei partir sem nem olhar para trás. Sem dono, sem nome e ainda assim tão despreocupado. O que o fazia ser assim? Uma criatura perdida poderia entender o significado do amor? Meus pensamentos foram interrompidos pelos sons suaves vindo de trás de mim.

Ainda na mesma posição virei a cabeça o encontrando ali. O homem alto de cabelo preto-azulado e franja longa estava de costas para mim em frente ao fogão concentrado. Eu não conseguia ver o que fazia, mas pelos movimentos circulares em seu braço direito e o som da colher de metal batendo contra a leiteira de ferro eu podia imaginar. Inclinei a cabeça para o lado a apoiando sobre o joelho enquanto assistia a cena.

Ele se mexia silenciosamente no mesmo ritmo e de repente parou virando o rosto para a direita. Seu olho dourado procurava por algo e assim que encontrou seus pés o guiaram até a mesa de madeira. Vi suas costas se curvarem e o som de uma tampa de plástico soltar logo seguida do som de outra colher. Não demorou muito e já estava de volta no fogão, porém dessa vez trazendo uma vasilha junto a ele. O som do polvilhar do pó dentro da leiteira me intrigava.

Eu estava ali há tanto tempo e mesmo assim ele nem reparava em minha presença. Sempre foi um homem que dava o melhor de si independente do que fazia, colocando todo seu foco para alcançar o ideal. E apesar disso era muito gentil. Afinal, para ele, o ideal era exatamente fazer os outros se sentirem bem.

O cheiro doce invadiu minhas narinas. Era chocolate. Dali da porta consegui sentir o calor do ar e percebi que meu corpo estava frio. Ele se virou elevando a colher até a boca assoprando duas vezes antes de provar. Uma pausa. Sua cabeça mudou a direção deixando à mostra o tampão preto no olho esquerdo e com um suspiro assentiu para si mesmo. Estava satisfeito. A situação me fez sorrir sozinho.

Virei para frente vendo a grama se mexer e ouvindo o som de armários e canecas no fundo. Meus olhos cansados encaravam o chão enquanto me perguntava sobre quanto tempo exatamente havia passado. Olhei para o lado e vi o gato voltando com o mesmo caminhar despreocupado de antes. Parando em minha frente me encarou. Era como se questionasse o motivo de eu ainda estar ali. Não me movi, nem tentei respondê-lo apenas fitei seus lindos olhos dourados quase como se conseguisse ver um universo inteiro ali dentro.

Pês pararam ao meu lado. Não mostrei reação, apenas permaneci. Ele se sentou ali com sua caneca nas mãos cobertas pelas luvas pretas. Fumaça se levantava tocando levemente o rosto longo dele enquanto o mesmo suspirava pacifico. O gato piscou e caminhou até ele que, gentil como sempre, estendeu uma mão acariciando a cabeça do felino enquanto sorria.

Meus olhos acompanharam tudo enquanto meu rosto, contra minha vontade, se contorcia tentando expressar algo além do que qualquer palavra pudesse dizer. Abraçando os joelhos me inclinei apoiando a cabeça no ombro dele. Ele não sentiu. Eu não senti.

O felino se aconchegou entre os pés dele encolhendo seu corpo já se aprontando para uma soneca confortável. Ali, mordendo os lábios, eu assisti suas mãos apertarem a xícara enquanto observava o animal. Ele sorriu. Era um sorriso que eu conhecia, algo que sempre fazia comigo. Seu rosto se levantou observando o céu límpido enquanto o meu se abaixou fitando o chão.

— Kara.

A voz gentil me surpreendeu fazendo meus olhos se arregalarem. Já fazia tempo que não o ouvia chamar meu nome. Apertei os joelhos sentindo seu tom ecoar em minha cabeça agitando sentimentos que eu sempre quis esquecer. Ele riu. Meus olhos desesperados procuraram seu rosto encontrando o sorriso e algo mais. Eu queria ver seus olhos, mas não tive coragem de me mover.

— Onde está agora?

Sua pergunta foi o suficiente para trazer aquela sensação de chamas frias dentro do peito. Meus lábios tremeram e antes que conseguisse pensar afundei meu rosto em seu ombro tentando fugir da dor.

Eu nunca quis que ninguém dependesse de mim e sempre lidei com meus problemas sozinhos, mas naquele noite as coisas mudaram. Quando ele se distraiu, eu me coloquei sobre suas costas. Foi a última vez que nossos corpos se tocaram.

Eu sabia que ele não podia me ouvir, nem ver ou sentir agora, mas eu queria que soubesse. Engolindo as lágrimas que nunca puderam sair, respondi em silêncio com a garganta e olhos ardendo:

— Bem aqui. Sempre ao seu lado.


July 11, 2018, 4:13 p.m. 0 Report Embed Follow story
1
The End

Meet the author

Ana Carolina Mãe de 32 personagens originais e outros 32 adotados com muito carinho, fanfiqueira nas horas vagas e amante das palavras em período integral. Apaixonada demais e, por isso, sou tantas coisas que me perco tentando me explicar. Daí eu escrevo. ICON: TsukiAkii @ DeviantArt

Comment something

Post!
No comments yet. Be the first to say something!
~