SMR403B Follow story

Aquela segunda-feira parecia um dia normal.

Apenas parecia.

Era o tão aguardado – pelos demais – dia da Seleção. Não que eu me importasse realmente com o acontecimento, mas era a única forma dos trainees – como eu – debutarem, então haviam muitas expectativas. Muitos daqueles garotos tinham por volta dos 15 a 17 anos e sequer faziam ideia de tudo o que significava os termos “Seleção” e “Mentor”.

Aquela seria minha quinta vez participando do evento, e provavelmente a última, já que em menos de dois anos faria meu 25º aniversário e seria descartado por extrapolar a idade, então eu estava nervoso, mesmo que não me importasse realmente em me tornar idol.

Durante o último trimestre todos nós trainees pré-selecionados havíamos recebido uma espécie de tratamento especial, com treinos menos desgastantes, tratamento dermatológico e até mesmo uma dieta diferenciada, para que estivéssemos o mais apresentável possível no dia de hoje.

Eu havia acordado cedo o suficiente para tomar um banho demorado e me preparar psicologicamente para o dia desgastante que teria. Até mesmo os cosméticos do dormitório haviam sido trocados para uma qualidade superior e enquanto aplicava uma das loções em minha pele acabei por visualizar no espelho do banheiro o colar em prata que adornava meu pescoço e indicava no pingente quem eu era ali, SMT403B.

O relógio negro em meu pulso esquerdo conseguia se passar facilmente por um adorno – escondendo sua real função de monitorar cada uma de minhas ações e emoções – mas o colar carregava o peso do que eu realmente era naquela empresa, Trainee 403 – apenas mais um número entre tantos outros.

Sem me importar com a roupa que vesti – afinal ela não faria diferença – deixei o dormitório, sem sequer tomar café da manhã, já que o nervosismo não me permitia, rumando em uma lenta caminhada até o prédio da empresa. Eu ainda tinha um tempo livre, e precisava espairecer – mesmo que as míseras três quadras de distância nessas horas parecessem próximas demais.

Já quase chegando ao destino acabei por ouvir meu nome – não SMT403B, mas Hansol, nome que usava apenas fora da empresa – sendo chamado, me deparando com SeungWan, um colega que frequentava o mesmo estúdio de dança que eu nas horas vagas, me perguntando se eu estava indo para lá e se poderia me acompanhar. Rapidamente desconversei, dizendo que tinha compromisso na empresa e não poderia treinar, o nervosismo não me permitia manter uma conversa com ninguém, então me despedi e segui meu caminho.

Já em meu destino, dirigi-me ao elevador, pressionando o botão que me levaria ao subsolo, local especialmente preparado para o evento de hoje. Alguns dos trainees que participariam já haviam chegado e rumavam aos vestiários dali. Haviam dois ou três staffs instruindo os mais novos ao procedimento padrão, que consistia apenas em procurar o armário com nosso nome, pegar o roupão e pantufas guardados ali, seguir para a ala das duchas para um banho rápido, deixar o mesmo trajando unicamente o fornecido e guardar todos os itens pessoais em nosso armário, seguindo então para a sala de espera.

Enquanto rumava ao vestiário não pude deixar de notar duas garotas ali perto, aparentando serem muito novas, comentando empolgadamente o quanto seria maravilhoso serem escolhidas para serem treinadas por algum daqueles garotos.

A inocência delas me deixou enojado.

Não demorei mais que 3 minutos sob a ducha morna, afinal, nem ela agora era capaz de acalmar o nervosismo que se apossava de mim, e eu nem precisava olhar em meu pulso para saber que o relógio responsável por me monitorar estaria com as luzes em neon alteradas. Já devidamente pronto segui até o staff responsável pela remoção dos relógios, armazenando meus pertences no armário, e rumando até a antessala onde aguardaríamos até sermos chamados. Ali não haviam conversas paralelas, o clima era de apreensão e ansiedade e tudo o que eu podia fazer para passar o tempo – e tentar falhamente me acalmar – era cantarolar baixinho uma música aleatória qualquer.

O evento certamente já havia começado, mas nossa presença só era necessária ao final do mesmo. Os membros do NCT 127 eram os idols da vez, cada um daqueles garotos – praticamente todos mais novos que eu, e incluindo alguns que haviam chegado a treinar comigo – iria escolher um trainee como seu aprendiz, ensinando-lhe sobre o mundo do entretenimento e treinando diretamente as habilidades do mesmo. Esse trainee só poderá debutar caso seu mentor autorize, e é por isso que a Seleção é tão importante.

Na teoria.

Eu estava naquela empresa a tempo suficiente para saber de muitos dos pormenores daquele projeto. De fato, os idols auxiliam os trainees em seu treinamento, mas isso é de longe o principal motivo para se ter um aprendiz. A começar pelo fato de os trainees não poderem ter tido qualquer tipo de relação sexual antes de entrarem na empresa e serem contratualmente proibidos de manter qualquer relação intima, seja entre eles ou com terceiros.

Basicamente os trainees são o prêmio que os idols recebem para descontar todo seu desejo sexual, e por almejarem veemente debutar, não se importam em se submeter a esse tratamento.

Enquanto divagava entre as consequências de ser ou não selecionado nessa Seleção um staff irrompeu a grande porta branca notificando que havia chegado nossa hora. Dos mais novos aos mais velhos fomos sendo levados aquela sala branca demais para agradar aos olhos.

Lá dentro havia uma espécie de vitrine em semicírculo, com um total de 25 plataformas circulares, para onde nos dirigiríamos. Nessa edição da Seleção éramos em 18 trainees, sendo 10 garotas e 8 garotos.

Já dispostos cada um atrás de sua plataforma precisávamos passar pela situação deveras constrangedora a qual o evento se resumia. Cada um removia seu próprio roupão deixando-o sobre as pantufas e subindo a plataforma, enquanto um staff recolhia todas as vestimentas. Não importa quantas vezes eu já tenha feito aquilo, eu nunca me acostumaria a expor a nudez a tantas pessoas.

Quando todos ocupavam seus respectivos lugares a grande porta branca se abriu, e por ela entraram os 7 garotos do NCT acompanhados pelo próprio CEO da empresa, posicionando-se no centro do semicírculo. Aquela exposição durava apenas algo entorno de 5 minutos, porém ter aqueles olhares cravados em si – como se quisessem lhe devorar – era aterrorizante.

Os visitantes conversavam entre si, mas sempre em tons muito baixos tornando impossível ouvir qualquer coisa de onde estávamos. Apenas quando eles se retiraram é que recebemos permissão para recolocar o roupão, enquanto do lado de fora daquela sala os idols faziam suas escolhas e preparavam os documentos necessários. Eles retornaram à sala com os novos contratos em mão, chamando os escolhidos por seu código de identificação para assinarem os documentos, e anunciando a cada um seu mestre.

Eu não esperava ter sido escolhido, ainda mais sendo um dos primeiros a ser chamado, muito menos que teria como mentor Nakamoto Yuta – o mais próximo de um amigo que já tive um dia naquela empresa – e, pelo sutil sorriso de canto que adornava sua face, eu sabia estar completamente encrencado.