— Ah, Baek, o Kai chegou hoje e ele é simplesmente lindo! Fiquei tão feliz em conseguir essa edição limitada que nunca vou tirá-lo da caixa — Chanmi tagarelava feliz com a melhor amiga ao telefone, observando a caixa com o boneco em sua escrivaninha. Kai era tão bonito que deixava até mesmo o ambiente conceitual.
— Eu não duvido, Chan. Agora vem logo pra cá que eu preciso de ajuda com a matéria — Chanmi desviou o olhar de Kai para voltar a prestar atenção em Baekhee.
— ‘Tá bom, em cinco minutos eu ‘tô aí. Beijinhos — e com isso a ligação foi encerrada.
Chanmi era aficionada por bonecos masculinos, possuindo vários em uma estante destinada somente para eles. O preferido era um boneco de dar corda vestido com roupas da década de 30. Dyo era tão charmoso mesmo sendo um brinquedo, que Chanmi o deixava em sua penteadeira para assim poder admirá-lo todos os dias.
Baekhee morria de medo de bonecos e só gostava de Dyo pelo formado bonito de sua boca. Ela jurava ser um coração desenhado certinho! Então, a estante de Chanmi era coberta por um lençol todas as vezes que a garota ia até lá.
Será que Baekhee iria gostar de Kai quando o visse? Chanmi acreditava que sim. Por isso, se arrumou de forma animada, planejando trazer a melhor amiga consigo quando terminassem as tarefas para dormir em sua casa. Era só atravessar a rua, afinal.
Já com isso em mente, cobriu a estante com o lençol e observou mais uma vez o boneco Kai, divagando sobre talvez ele se tornar seu preferido. Se assustou com os próprios pensamentos, tinha Dyo há tanto tempo, seria traição uma coisa dessas.
— Baekhee tem razão. Sou tão fissurada que daqui a pouco vou ficar louca — negou com a cabeça sutilmente e pegou sua mochila colocando uma das alças no ombro. Pensou como Kai ficaria sozinho, e com essa ideia um tanto infantil, sorriu e agarrou Dyo, colocando-o ao lado do novo brinquedo. — Pronto, agora você tem companhia — e com isso a garota alta saiu a caminho da casa da melhor amiga.
O silêncio reinou no local por poucos minutos, até que Dyo ouviu um resmungo de dentro da caixa do recém-chegado. Curioso como só ele, tratou de dar metade de uma volta em sua chave para que pudesse levantar e dar poucos passos até o novato.
Dyo sabia que seu nome era Kai, já que Chanmi só falava desse boneco nas últimas semanas. Rodeou até estar de frente com a caixa, se deparando com um dos bonecos mais bonitos que já havia visto. A pele morena, o porte másculo somado a altura elevada. Aquele Kai parecia um modelo de tão bonito.
Dyo estava encantado.
E ficou ainda mais quando o brinquedo lhe sorriu amigável.
— Oi, eu sou Kai — o boneco cumprimentou, esperando que Dyo fizesse o mesmo, mas o pobre boneco de corda estava desnorteado ainda preso na cor bonita que usaram para colorir o corpo alheio. — Olá…?
— Oh, que indelicadeza a minha. Sou Dyo, o boneco de corda — estendeu a mão, só então notando que Kai jamais poderia apertá-la de volta. — Me desculpe… — o outro boneco sorriu.
— Está tudo bem. Estou aqui dentro desde sempre, então já estou acostumado — Kai respondeu, mas isso não exatamente tranquilizou Dyo. — Deve ser legal poder andar fora de uma caixa.
— Na verdade, é sim. Só não muito quando, para isso, você precisa se dar corda algumas, talvez muitas, vezes — o boneco modelo gargalhou, mas mesmo de forma abafada, Dyo achou aquele som adorável e engraçadinho. Gostaria de poder ouvir com mais precisão.
— Você é um brinquedo bacana, Dyo — Kai espalmou as mãos no plástico transparente de sua caixa cor de rosa. — Me diga, essa garota que me comprou… ela é legal? — seu tom era receoso, o que fez Dyo se aproximar um pouco mais até estar bem próximo a Kai. Os olhos de vidro dele eram lindos.
— Chanmi é sim. Ela cuida muito bem de todos aqui e não deixa as crianças pequenas nos pegarem — Kai assentiu, sorrindo para Dyo. — E-ela tem uma amiga que vem aqui sempre, Baekhee… ela gosta da Chanmi, mas é segredo — contou baixinho, atraindo a atenção de Kai.
— Dyo, como você sabe? — se aproximou ainda mais do plástico, deixando o boneco de corda um tanto quanto abobalhado. Por Woody! Kai era mesmo muito bonito. Piscou, voltando a si.
— Baekhee me contou — bateu o indicador no queixo, lembrando da vez em que aconteceu. A garota sentia-se tão frustrada no dia, que até conversando com o boneco de Chanmi, estava. — Ela me disse que gostava da Chanmi, mas tinha medo porque era errado — Kai franziu o cenho.
— Errado?
— Sim, ela me disse que por conta das duas serem meninas, jamais poderiam ficar juntas.
— Dyo, isso é muito triste! — Kai tinha uma carinha tão chorosa que Dyo quase suspirou. Só não o fez por ser um brinquedo.
— Sim, é. Mas, eu não penso que é errado. Se elas se gostarem, não há nada de errado em ficarem juntas — Kai sorriu, desestabilizando Dyo mais uma vez.
— Eu concordo totalmente com você. Se duas pessoas se amam, não devia existir nada para impedir isso — Kai viu o boneco de corda sorrir e assentir tímido, achando-o uma verdadeira graça. — E… acho que o mesmo serve para todas as outras coisas — Dyo ergueu os olhos no mesmo momento e sendo agraciado com o sorriso estonteante do mais alto. Kai era mesmo uma edição limitada. Talvez única. — Espero que um dia Chanmi mude de ideia e me tire da caixa. Eu adoraria poder te ver e falar com você sem nada nos impedindo — Dyo piscou surpreso.
— Kai, eu- — porém, com todo o azar do mundo, Chanmi chegou justamente nessa hora, obrigando-os a voltar as posições que estavam quando a garota saiu. Baekhee estava com ela.
— Vem, Baek! — a mais alta puxava a melhor amiga pela mão, parando em frente à escrivaninha e apontando para a caixa onde Kai estava. — Ele não é lindo? — perguntou a menina de forma animada.
— Ele é sim — respondeu a menina mais baixa, um pouco triste ao pensar que talvez um garoto como Kai pudesse ganhar o coração de Chanmi sem muito esforço. Mas ao olhar para Dyo, percebeu uma coisa que não conseguiu se refrear. — Ele combina com o Dyo — sorriu, só então percebendo que havia dito tal coisa em voz alta. — Q-quero dizer…
— Você tem razão! — para a surpresa da menina, Chanmi tinha um sorriso enorme no rosto, como se tivesse encontrado o El Dorado ou coisa parecida. — Eles formam um casal bonito.
— Mas, Chan… tecnicamente, eles são dois homens… — Baekhee sentia seu peito doer de tão forte que seu coração pulsava.
— E daí? — a garota respondeu, surpreendendo Baekhee. Chanmi sorriu. — Se eles se gostam, não tem porquê não ficarem juntos — Baekhee sentiu as bochechas arderem. Talvez se reunisse a coragem para confessar os sentimentos, com sorte Chanmi não a odiaria.
— Chan- — Baekhee foi interrompida pela voz da mamãe Park chamando as duas para o lanche da tarde. Chanmi ficou esperando, mas Baekhee perdeu a coragem. — Deixa pra lá…
— Nada disso! Depois desse lanche você vai me falar tudinho — Baekhee engoliu em seco, assentindo sem olhar nos olhos da mais alta. — Agora vamos! — e com isso puxou a garota para fora do quarto.
Dyo olhou para Kai de onde estava e sorriu ao perceber que o boneco modelo fazia o mesmo.
— Ah! — ficaram imóveis com a entrada repentina de Chanmi no quarto.
A garota pegou a caixa cor de rosa onde Kai estava e o tirou lá de dentro, apreciando o boneco por breves segundos antes de colocá-lo ao lado de Dyo, com as mãos de plástico uma sobre a outra, como um casal.
Chanmi sorriu, olhando para Dyo e sussurrando baixinho “Me deseje sorte!”, para logo sair do quarto. Quando Dyo olhou para Kai, seu sorriso era o mais bonito que o boneco de corda já havia visto, e agora sem a caixa os dois estavam livres para fazerem o que quisessem juntos.
Claro que só até Chanmi entrar novamente no quarto.
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