ariane-munhoz Ariane Munhoz

Um ano após a morte de Tadashi, a tristeza ainda assolava Hiro, inundando seu coração, sufocando-o pela saudade. Mas Baymax tinha um jeito especial para que Hiro extravasasse essa tristeza. “Hiro está triste. E quando nos sentimos tristes, precisamos extravasar isso de alguma forma. Talvez suas palavras não cheguem a Tadashi, mas Tadashi está aqui.” Baymax não podia estar mais certo.


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#BigHero6 #Operação-Big-Hero #Baymax #Hiro #Tadashi #family #familia #fluffy #spoilers
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Saudade


Baymax sentiu que algo não estava certo naquela manhã. Embora os sinais vitais de Hiro estivessem perfeitos, havia algo nele que não estava. Quando perguntou se ele sentia alguma dor, Hiro negou com a cabeça.

− Lembra-se daquilo que conversamos, Bay? – perguntou Hiro. – Sobre aquela dor invisível que sentimos no peito? Que arde feito joelho ralado, mas que não há nada que possamos fazer para aplacar?

O grande boneco inflável coçou a bochecha. Aproximando-se de Hiro, abraçou-o.

− Um abraço quentinho pode curá-lo? – A pergunta inocente fazia com que os olhos de Hiro ardessem em lágrimas. Lembrando-o ainda mais do irmão mais velho. E hoje fazia um ano desde sua morte.

− Não cura, mas ajuda. – E era verdade mesmo. Pois lembrava-se que quando os dois haviam tido essa discussão, Baymax fora incisivo ao dizer que Tadashi estava ali. Apontando para o próprio peito. E embora Baymax tivesse falado isso a respeito do vídeo, a verdade é que ele estava certo. Pois aquele robô que se tornara seu melhor amigo era muito mais do que isso. Era alguém que carregava consigo todo o amor que Tadashi um dia possuíra por Hiro. E isso era algo que não podia ser apagado.

Quando Baymax afastou-se, levando consigo embora a sensação do abraço quentinho, Hiro sentiu que as lágrimas escapavam por seus olhos sem que de fato conseguisse freá-las.

− Chorar faz bem. – Baymax limitou-se a dizer, fazendo um cafuné na cabeça de Hiro. – Você ainda sente a falta do Tadashi? Quer que eu passe o vídeo novamente?

− Sim. Não e sim. – Limpou as lágrimas dos cantos dos olhos, sentindo o coração inundado pela tristeza e sufocado pela saudade. Pois o irmão jamais veria seus grandes projetos. Mesmo que no fundo Hiro soubesse que ele sempre acreditara em si. O que não o livrava dos pesadelos com o dia daquela explosão que arruinara tudo o que ele mais amara. Mas que ao mesmo tempo havia lhe dado seu melhor amigo. Quisera ele, no entanto, ter conhecido Baymax em circunstâncias mais atenuantes do que após a morte de seu irmão.

Baymax, mesmo com certas limitações a respeito dos sentimentos humanos, compreendeu. Buscando em seu banco de dados tudo a respeito do luto. E concluindo que, embora Hiro tivesse passado por todas as fases, a aceitação às vezes regredia para a negação novamente. Não era esse o caso, mas se Hiro se sentia mal por alguma razão, era dever de Baymax ajudá-lo.

− Meu banco de dados online diz que se você sente falta de alguém, deve conversar com essa pessoa de alguma forma. – Baymax sugeriu.

Hiro sentiu a garganta fechar e o choro querendo retornar. Já havia dito a Baymax que Tadashi não voltaria. Como poderia conversar com ele? Havia uma linha específica e exclusiva para o Além que desconhecia? Sabia que Baymax não fazia isso propositalmente, mas o magoava que às vezes o amigo não pudesse perceber certas coisas.

− Ele não...

− Tadashi está aqui. – Baymax foi enfático. Mas desta vez apontou para o coração de Hiro. – Diga para ele como se sente. Como fazemos com o Papai Noel quando queremos um presente, Hiro.

Hiro estava prestes a dizer para Baymax que Papai Noel não existia quando finalmente compreendeu o que o robô queria lhe dizer.

− Quer dizer como escrever uma carta? – perguntou. – Uma carta que nunca será entregue?

− Hiro está triste. E quando nos sentimos tristes, precisamos extravasar isso de alguma forma. Talvez suas palavras não cheguem a Tadashi, mas Tadashi está aqui. – Apontou novamente para o coração de Hiro. – Então ele saberá.

Aquilo era ridículo de tantas maneiras que Hiro sequer conseguia enumerar. E, no entanto, aquele sentimento continuava inflamando seu peito. Dolorosamente. Como um câncer que se espalhava.

Um ano.

Havia tempo o suficiente para deixar de sentir a falta de alguém?

X

O problema é que a ideia simplesmente não o abandonou. Tentou trabalhar em um novo projeto para a faculdade, mas não conseguiu. A cabeça estava a mil. E ter Baymax encarando-o o tempo todo também não ajudava.

Era isso. Escreveria a carta não porque precisava disso. Mas para que Baymax se tranquilizasse! Ele se preocupava demais às vezes!

Sentou-se na escrivaninha, pegando um bloco de papel e um lápis. Encarando a folha em branco por um momento. Sem conseguir pensar no que realmente queria dizer. Apontou o lápis. Nenhuma ideia. Sentiu a movimentação de Baymax ao seu lado. Ele fez sombra sobre Hiro.

− Arh! Assim não consigo me concentrar, Bay! – Hiro cobriu o bloco de papel em branco.

− Chocolate meio-amargo e café, quando dosados da maneira certa, podem ser usados para aumentar a concentração. Você gostaria de algum desses itens, Hiro?

Hiro não estava especialmente tentado a doces ou café naquele dia, mas imaginou que lhe permitiria alguns minutos de paz.

− Chocolate, Bay, por favor. – pediu com um sorriso dócil, cheio de dentes brancos.

− Isso vai te fazer feliz, Hiro? Porque chocolate também é responsável pelo acréscimo da produção de serotonina. – pontuou Baymax. Hiro achava uma graça.

− Me fará feliz, Bay.

Baymax não questionou mais. Tudo o que queria era que Hiro sorrisse novamente.

X

Então ele tornou a encarar a folha em branco, como se fosse um inimigo pior do que o Mascarado, pois sequer conseguia imaginar como enfrentar aquele sentimento que o atormentava.

“Hiro está triste. E quando nos sentimos tristes, precisamos extravasar isso de alguma forma.”

Fechou os olhos, respirando fundo. Evocando em sua mente todas as memórias boas que tinha com o irmão, desde seus primeiros passos até o momento em que ele havia lhe tirado da batalha de robôs de rua.

Tadashi era mesmo incrível! Era impossível não amá-lo, admirá-lo e respeitá-lo.

− Okay, Hiroshi, você pode fazer isso. – Deu um tapa em cada uma das próprias bochechas com ambas as mãos. Sentindo o sangue correr ali por conta do ardor. Mas queria dizer a si mesmo que as lágrimas que queriam escapar de seus olhos eram por isso e não pela saudade.

Deixou o lápis deslizar pelo papel. Não querendo pensar muito nisso. Apenas se deixando levar pelos próprios sentimentos. Como Baymax havia dito. Deixando a tristeza extravasar na forma das palavras que não podia entregar a Tadashi.

Querido irmão,

Sei que parece bobagem escrever esta carta para você, quando sei que, pela lógica, ela nunca chegará a você. Ainda assim, Baymax disse que esta é uma forma de me fazer sentir melhor. Acho que ele também.

Sabia que Bay é meu melhor amigo? Não apenas por ser um pedaço de você, criado por suas próprias mãos, mas por tudo o que ele representa. Bay é como a cura do mundo para todos os males que nos afligem, não só no corpo mas também na alma. E a ideia de escrever essa carta foi dele, exclusivamente dele.

Às vezes, acho que Baymax é mais sensível que eu aos sentimentos humanos. Mas às vezes também acho que ele também não sabe de nada. Vai entender.

Mas o que eu quero dizer, é que sinto sua falta, Tadashi. Sinto falta de te ter como o exemplo que nunca segui enquanto você estava vivo. Sinto falta de não ter sido o irmão caçula que você merecia, esforçado e dedicado a um ofício para te ver orgulhoso. Mas estou fazendo isso agora, irmão, será que você pode me ver? Será que olha por mim?

Sei que isso é uma bobagem sem tamanho. Como você poderia se agora está com papai e mamãe? Imagino que esta seja a parte boa de você ter partido. Espero que eles estejam bem e que vocês sejam novamente uma família e esperem por mim.

Por aqui, está tudo bem. Continuo com a tia Cass, que sempre se preocupa demais comigo e diz que estou em fase de crescimento, mas acho que ela só quer me engordar para a Ação de Graças!

[Risos]

Entrei para a faculdade que você tanto queria, irmão, e agora eu ajudo pessoas com um grupo de heróis que é explicitamente formado por todos os seus amigos. Porque Baymax não foi a única herança que você me deixou, mas o aprendizado valioso de observar as pessoas ao redor e sentir empatia por elas. Colocar-se em seu lugar.

Confesso que essa foi a parte mais difícil, pois quis matar Robert Callaghan com todas as minhas forças. Ao ponto de quase ter corrompido Baymax por conta de um desejo egoísta. Acho que se não fosse por todos os amigos que fiz graças a você e ao Baymax, eu certamente estaria com as mãos manchadas de sangue agora. E sei que você jamais me perdoaria por fazer isso a Baymax. Pois ele foi feito para curar e não para ferir.

E ele faz bem esse trabalho, Tadashi. Baymax tem curado meu coração dia após dia com suas ações singelas, como esta de me pedir para escrever uma carta a você. Talvez eu faça isso mais vezes se estiver tudo bem para você.

Sei que não terei nenhuma resposta, mas posso imaginar em minha mente que você se sentiria satisfeito com os passos que venho dando para avançar na carreira acadêmica e para melhorar o mundo com a ajuda da ciência.

Ainda tenho muito a aprender, irmão, e embora você não esteja mais aqui para me ensinar, guardo dentro do meu coração a sensação do seu abraço quentinho, dos seus cafunés e de todas as histórias que me contava antes de dormir. Guardo cada boa lembrança para que você nunca se apague em minha mente. E sei que Baymax também lembra de você.

Porque você vive aqui, Tadashi, dentro do meu coração. E em cada lembrança e em cada pequena coisa que o Baymax faz. Vou garantir que seu legado passe adiante, irmão, e que ninguém jamais se esqueça da pessoa maravilhosa que você foi.

Cuide bem da mamãe e do papai e dê um beijo neles por mim.

Eu amo você, Tadashi,

Hiro.

Hiro não conseguiu frear as lágrimas quando elas vieram, borrando a escrita à lápis ao atingirem o papel. Sentiu quando os braços de Baymax envolveram seu corpo, trazendo aquele calor confortável que lhe aquecia por dentro.

− Tadashi está aqui. – Baymax repetiu. Hiro apertou os braços ao redor do robô.

− Sim, Bay, Tadashi está aqui. – murmurou. – E você também.

Pois enquanto vivesse, se lembraria do irmão. E passaria seu legado adiante. Junto com Baymax.

Notas:

Operação Big Hero é o meu filme favorito das animações da atualidade, tendo ganhado espaço no lugar de Rei Leão, que encabeçava esse título desde os meus três anos de idade, quando ele foi lançado.

Mas aí o Baymax veio e ganhou meu coração. E não podia deixar de prestar minha homenagem aqui. Espero que vocês gostem!

Até a próxima!

April 30, 2018, 9:21 p.m. 2 Report Embed Follow story
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The End

Meet the author

Ariane Munhoz Dona de mim, escritora, louca dos pássaros, veterinária e mãe dos Inuzuka. Já ouviram a palavra Shiba hoje?

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Inial Lekim Inial Lekim
Meu deus Ari, você tocou meu coração tão profundamente com essa fic, que não consigo nem mesmo te xingar por me fazer chorar. Ficou uma coisinha muito preciosa, nem mesmo tenho palavras pra descrever o quanto eu amei <3 But, ME DÁ TADASHI VIVO ARI, NÃO DEIXA MEU CORAÇÃO SOFRENDO ASSIM ;-;
April 30, 2018, 22:09

  • Ariane Munhoz Ariane Munhoz
    Eu sofro muito com a morte do Tadashi, mas quem não? Depois de Rei Leão, eu não achei que fosse existir um filme que me fizesse sentir assim tão mal pela morte de uma animação, mas Tadashi está aqui para provar o contrário. Eu amo essa animação e vou protegê-la! TE DOU TADASHI VIVO SIM, ME AGUARDE! April 30, 2018, 22:44
~