E talvez você estranhe ao me ouvir, não costumo me comunicar assim...
Essa é a primeira vez que começo um diálogo contigo, não é? Depois de um ano estou sentado ao pé da sua cama te olhando dormir como gostava de fazer sempre. As coisas têm sido complicadas por aqui, na verdade tudo tem sido tão difícil em relação aos acontecimentos recentes que sinceramente não sei por onde começar.
Me perco em minhas palavras e acabo ignorando qualquer pensamento desconexo que tenho quando te vejo se movimentando dessa forma e inevitavelmente acabo sorrindo por me recordar de como foi difícil me adaptar a dividir a cama com você. Como alguém tão pequena conseguia ocupar um espaço tão grande? Confesso que te abraçar no meio da noite era a maneira de lhe prender em meus braços para que de fato tivesse um sono tranquilo.
Isso era o que dizia a mim mesmo tentando me enganar, na realidade era mais uma tentativa de provar que você é real e não um genjutsu. Era bom te ter, e é melhor do que mereço. Sua doçura, calma e responsabilidade definitivamente coloca um pouco de juízo em minhas constantes utopias. Me mantém no chão, porém nunca me impediu de sonhar alto e ter meus idealismos.
Minha atenção agora se volta para a maneira como abraça o travesseiro ao seu lado de um jeito afoito e meu peito acaba se enchendo de angústia por saber que era para ser eu. Deveria ser.
Acabo suspirando pesado ao vê-la tremendo na cama após um trovão ecoar pelo céu e me preocupo por saber do seu temor por tempestades. Nesses momentos eu gostava de desfazer seus coques e te trazer para os meus braços.
Mas preste atenção quando a chuva cair, você vai me ver...
Ao menor sinal de chuva eu parava tudo que estava fazendo, as minhas obrigações ficavam para segundo plano quando me recordava que você estava sozinha em casa. Corria em sua direção o mais rápido que podia. Às vezes você estava bem, não ouvia nada...se lembra da maneira como entrava por nossa porta? Quase tropeçando, chamando seu nome e te abraçando forte.
E você ria da minha preocupação exacerbada, porém ao mesmo tempo se aninhava ao meu peito, me chamava de seu Hokage e dizia ser a mulher mais sortuda do mundo por me ter. Se soubesse que a realidade quem deveria agradecer sou eu por tê-la ao meu lado. Por ser minha. Por completo.
Achava engraçado quando me associava com a chuva. Dizia que era o segredo para me ter por perto, que de certa forma isso obrigava-me a voltar para a casa e ficar contigo. De fato, era realidade. A ideia de vê-la assustada me deixava péssimo, como cuidaria da vila se não tivesse sucesso em apoiar a minha esposa e mulher da minha vida?
Já tentei ser mais do que eu sempre fui, mas esqueci que é impossível crescer.
Te ver assim tão frágil acaba comigo. Já deveria ter passado, deveria ter mudado toda essa situação. Era para estar cicatrizado sua dor. Tento ser suficiente de minha maneira a você, Mito. Mas o que posso fazer? Vamos, me diga o que está ao meu alcance para acabar com essa dor que aflige a nós dois.
Pois todo o sangue que nas minhas veias flui, ainda não conseguiu aquecer meu coração...
Coloco as mãos em meu peito tentando ouvir qualquer batida em meu coração. Minhas mãos estão geladas, minha boca seca e meus sentimentos todos confusos. Nada coopera, se quer nossas lembranças que sempre me aqueciam de todas as formas quando precisava de algo para me apegar.
Ainda me recordo de suas palavras duras naquele dia de chuva, sabe...aquele que te faz chorar a noite sozinha. Me dizendo que jamais me perdoará pelo que fiz. Talvez também não vou conseguir te perdoar por me deixar aqui sozinho, porém te compreendo. Sei que você tem razão de me odiar, eu não cumpri a promessa que fiz a você.
Inabalável, não há como fazer você parar pra pensar como eu tenho agido nos últimos dias... Em que eu lhe vi...
A nossa cama vazia, a ausência de barulho de nossos corpos se misturando enquanto nos estregávamos um ao outro. Não consigo me recordar do gosto da sua boca, Mito. Como é possível? Te odeio por me privar dos seus lábios pressionados em meus, sinto raiva por me deixar sem o toque de suas mãos por tanto tempo.
Te vejo indo de um cômodo ao outro após perder seu sono por causa de algum pesadelo. Você acorda chamando por meu nome, mas não me procura. Não me deixa cuidar de suas dores como antes. Por quê, Mito. Por que? O que fiz de tão mal para ter sua indiferença dessa forma?
Seu olhar já não me encara mais, nunca mais ousou parar para perder um tempo tentando desvendar a cor de minhas íris como tentava fazer sempre.
Você não merece tudo que eu ouso sentir e dói demais...
Seu orgulho me machuca, a falta de vontade sobre me procurar também. Fico observando você olhando para nossa foto em seu criado-mudo ao lado daquele livro de jutsus e te vejo chorando. Por que não me chamar? Deveria me deixar te abraçar, consolar e pedir perdão mais de uma vez por ser um péssimo marido.
Um ano Mito Uzumaki Senju, um ano dessa sua maldita arrogância que me fez perceber que talvez eu não sou suficiente para ti como antes.
E dói demais ter você assim. Nunca há paz pra você nem pra mim, por isso eu quero saber o que fazer...
Não consigo descansar sabendo que nós estamos assim, que finalmente existiu silêncio entre nós. As nossas gargalhadas não invadem nosso quarto, a conversa se findou e os gemidos quando fazíamos amor se tornaram extintos. Me esqueci da textura de sua pele, de como é o toque de suas mãos.
Por Kami, queria experimentar por tudo isso de novo...nem que fosse uma última vez.
Porém eu não te culpo, quem te deixou fui eu. Quem morreu naquela tempestade fui eu. Não pude cumprir a nossa promessa de ficarmos juntos o resto de nossas vidas e ver nossos netos se tornando ninjas incríveis.
Entendo você não me perdoar, também não consigo parar de me culpar por falhar dessa maneira. A morte nunca me assustou tampouco me fazia perder noites de sono sabendo que a minha vida como shinobi poderia ser ceifada de uma hora para a outra. Entretanto, me machuca não ter sua presença ao meu lado.
Dói ter me esquecido da sensação de ter você em meus braços.
Agora o que me resta é te observar assim sabendo que não pode me ver, tentando compreender que precisa seguir sua vida sem mim; que correria para meus braços se pudesse em todas as horas possíveis.
De que adianta ter todo meu poder se a única coisa que desejo não posso possuir? De que me serve estar em um paraíso se na realidade ele é o seu corpo?
A verdadeira recompensa era me entregar a você, ouvir sua voz doce sussurrando todos os dias o quanto me ama. E eu sou egoísta por desejar que os anos passem e finalmente nós podemos nos encontrar. Sou um grande idiota por querer tanto te ter novamente a qualquer custo.
E nada mais parece te abalar e nada mais te faz rir ou faz chorar...
Você não chora mais por mim como antes, não me chama na calada da noite todas as vezes. Se tornou uma rocha, alguém fria por causa da perda. Ainda é recente de certa forma, porém me preocupa vê-la tão inerte e estranha. Quero te ver sorrindo, mesmo que doa saber que não sou o responsável por isso. E não quero te ver chorando por minha causa. Odeio ser o motivo do seu sofrimento.
Odeio te amar tanto e não poder demonstrar como sempre fiz.
Me perdoe por te deixar, querida.
Não há ninguém aqui pra você provar que existe...
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