zephirat Andre Tornado

Uma porta está fechada e no interior de um quarto trancado desenvolve-se uma rivalidade combativa entre duas… perdão, três mulheres com um espírito forte e inquebrável. Quem vai ceder?


Fanfiction Anime/Manga Not for children under 13. © Dragon Ball não me pertence. História escrita de fã para fã.

#Dragon-Ball #Pan #Launch #Presos-em-um-Quarto-Fechado #sala
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Capítulo Único


Abriu os olhos e soergueu-se alarmada, apoiando-se nos braços.


Sentiu nas palmas das mãos a superfície peculiar de uma alcatifa nova.


- Onde estou?!


E cheirava a alcatifa nova. Estava num lugar acabado de estrear – decoração impecável, tinta fresca, móveis chegados da loja, peças exclusivas de design ultramoderno. Pelo menos foi o que conseguiu ver na penumbra. Não havia luz e as eventuais janelas, ocultadas por pesados reposteiros de veludo, estavam fechadas.


Voltou a cabeça de um lado para o outro.


- O que faço aqui? E porque está tudo às escuras? Masaka!!


Começava a irritar-se. E quando alguma coisa irritava Pan, a filha de Videl e de Gohan, a neta de Mr. Satan e de Son Goku, havia destruição pela certa.


Esfregou os olhos a afugentar os restos de sono que ainda lhe condicionava os movimentos e lhe encolhia o raciocínio. Precisava absolutamente de recuperar as suas funções vitais, o ânimo, as forças, pôr-se de pé e sair daquele sítio asséptico, um quarto de laboratório para experiências com cobaias humanas. Foi o que pensou do sítio, asséptico e cada vez mais assustador por ser tão perfeito!


Tinha muitos mistérios para desvendar.


Porque estava ali, era o principal. Mas também por que a tinham adormecido, por que a tinham largado naquele quarto desconhecido, qual era o objetivo, por que estava a pensar todas essas coisas no meio do escuro e se a porta que lhe devolveria a liberdade estaria trancada. E essa dúvida tornou-se, apesar de surgir no fim da lista de mistérios, a mais importante e a que urgia responder! Se saísse do quarto, pensaria melhor e poderia, livre e dominada pela irritação de ter despertado no meio de uma situação incómoda, vingar-se de quem tinha sido o engraçadinho que lhe quisera pregar uma tal partida.


E só podia ser aquele idiota do Trunks!, pensou Pan rangendo os dentes.


Ajeitou o lenço laranja na cabeça, puxando-o até às orelhas. Um gesto de indignação e de fúria. Oh, sim! Estava para lá de indignada e de furiosa, alguém iria pagar por aquilo que lhe tinham feito!


E o que lhe tinham feito? Pensando bem, ainda não sabia exatamente onde estava e o que significava aquele estado… Prisioneira? Desorientada? Cobaia humana?


Escutou um rumor algures naquela penumbra.


Não estava sozinha! Um arrepio congelou-lhe o corpo, ficou como uma estátua a simular um passo em frente.


Os olhos negros moveram-se lentamente para a esquerda, de onde tinha vindo o rumor. Viu um vulto esguio, coroado por uma cabeleira encaracolada e farta, mover-se rente à parede que apalpava com algum desespero, soltando pequenos gemidos de aflição. Semicerrou as pálpebras observando a mulher a esfregar-se pela parede, às apalpadelas mais ou menos aflitas, não desmanchando a sua pose petrificada.


Nisto, teve de fechar os olhos completamente. Uma luz intensa encheu todo o compartimento como um relâmpago súbito. As pupilas, habituadas à escuridão quase total, tiveram de se proteger. Escutou um aliviado:


- Ah!!...


Voltou a esfregar os olhos, desta vez para limpá-los de lágrimas e desanuviar as manchas brancas que lhe baralhavam a visão, por causa da luz que tinha aparecido sem ela estar à espera.


O vulto revelou-se. Era mesmo uma mulher, de cabelos fartos azuis apanhados por um laço vermelho, de rosto bondoso onde cintilavam uns olhos cor violeta, que lhe sorria com simpatia. Vestia uma blusa justa, de alças, e uns calções curtos, desfiados nas bainhas. Usava umas elegantes botas de cano alto, enfeitadas com atilhos brancos.


Ela conhecia aquela mulher, pensou Pan estranhando tão inusitada companhia num quarto desconhecido. Era uma das amigas da tia Bulma e da avó Chichi chamada Launch. Não era visita muito frequente, aparecia de vez em quando nas festas da Capsule Corporation. Sempre com aquele aspeto cândido, aqueles ares apagados, uma vozita débil e sorrisos frequentes… Nunca lhe dera muita importância, nem lhe despertara grandemente a atenção. Era uma mulherzita tão aborrecida que, se ela não estivesse nas festas, também não fazia falta nenhuma, porque não se fazia notar, nem tinha qualquer característica que a fazia sobressair no grupo. Tinha um corpo fantástico, no entanto, para alguém da idade dela… Era mais velha do que a tia Bulma, um ano ou dois, pensou Pan com desdém.


- Ah – suspirou novamente Launch. – Assim está melhor.


Pan perguntou-lhe não disfarçando a sua irritação:


- O que é que está melhor? Onde estamos?


- Fui eu que acendi a luz.


- Onde estamos? – insistiu.


- Não te lembras?


- Não! – exclamou Pan subindo o tom da sua irritação.


Launch perdeu o sorriso e entristeceu.


- Eu também não…


Pan respirou fundo, congregando toda a calma que conseguia ainda repescar no lago de raiva que se agitava dentro dela. Estariam na Capsule Corporation, dizia-lhe a lógica. Só via aquela Launch quando aconteciam festas na Capsule Corporation, pelo que alguma coisa tinha acontecido, não se lembrava o quê, para ter ido parar ao mesmo quarto que ela. Teria bebido refrigerante a mais? Teria comido doces ao ponto de lhe ter parado a digestão? Teria escorregado e batido com a cabeça? Levantou os braços, mostrando as palmas das mãos.


- Bem, tu encontraste o interruptor e iluminaste ao quarto. Eu irei encontrar a porta e sairemos daqui!


- Mas eu…


Pan girou sobre os calcanhares, enfrentando a mulher, punhos cerrados.


- Mas tu… o quê?


- Foi a primeira coisa que fiz.


- Que coisa?


- Tentar abrir a porta. Estava caída junto à porta. Quando acordei, levantei-me e como descobri a maçaneta, agarrei-me a ela, rodei… Mas não consegui abrir a porta. Depois pensei que poderia haver outra saída e comecei por tentar acender a luz para procurá-la. Agora, estamos a conversar as duas.


- Espera lá… – Pan engoliu a saliva que tinha na boca. – Quer dizer que nos fecharam dentro deste quarto, depois de nos porem a dormir?


- É o que parece, Pan-chan!


Pan pestanejou.


- Eh… Sabes o meu nome?


- Oh, claro que sim! – exclamou Launch sorridente.


Não suportava aqueles modos tão airosamente cordiais. Começou a suar.


Circunvagou o olhar por ali. O quarto era espantosamente asseado e perfeito. Demasiado perfeito, daquelas perfeições criadas por uma mente tortuosa. As suas primeiras impressões estariam, por muito estranho e assustador que fosse, corretas. Era um quarto de um laboratório para cobaias humanas. Alguém estava a fazer uma experiência ao fechá-la com aquela mulher insonsa no mesmo lugar. Pan esticou o pescoço, verificando cada detalhe do quarto, à procura de orifícios dissimulados onde estariam as câmaras escondidas que filmavam toda a cena.


Só podia ser ideia daquele desmiolado do Trunks! Nas perversões teria puxado ao avô cientista, o Dr. Briefs. Mas com que objetivo?


O motivo do crime era sempre crucial em qualquer caso misterioso!


Não encontrou nenhum orifício, nem o indício de que ali havia câmaras a filmar às escondidas…


Pan esfregou os braços caminhando em volta, olhando o quarto que estava disposto como uma pequena sala, falsamente acolhedora. Sofás, poltronas, tapetes, móveis baixos de cantos arredondados, candeeiros e quadros. Um rádio e um ecrã de televisão preto. Livros em prateleiras suspensas em escada na parede. Janelas com os tais reposteiros de veludo. Quando afastou os reposteiros, os vidros eram pretos devido aos taipais corridos. Não eram uma saída. Pan correu para a porta, puxou a maçaneta. Deu-lhe um pontapé.


- Eu disse-te que estava fechada – observou Launch pacientemente.


Aquilo não era normal! Pan olhou para o pé, para a porta. Não empregara muita força, mas sabia que era mais forte que as meninas da sua idade e aquele golpe tinha de ter rachado, pelo menos, a porta teimosamente trancada. No entanto, não acontecera nada. Nem sequer tremera ou abrira uma fenda onde o trinco se enfiava na parede. Fechou um punho.


- O que vais fazer?


- Vou rebentar com a porta! – anunciou Pan.


- Acho que não podes!


- Porquê? – gritou furiosa para Launch que unia as mãos no peito. – Podes dizer-me por que estúpida razão tenho de estar fechada aqui neste quarto contigo?!


- Eu não te estou a fazer mal…


A resposta desconcertou-a. O punho fechado começou a tremer. Pan arreganhou os dentes.


- Eu não quero estar aqui! E, sobretudo, não faço nada aqui!


- Não podemos esperar?


- Esperar?!


- Que alguém venha e abra a porta? Se a destruíres…


- O meu avô Mr. Satan é um dos homens mais ricos do mundo. Com certeza que poderá pagar a miserável de uma porta de um quarto qualquer da imensa Capsule Corporation, que por acaso é a casa de uma das famílias mais bem-sucedidas e ricas do mundo!


- E como sabes que estamos na Capsule Corporation?


Aquela mulher mexia-lhe com os nervos de uma maneira que se podia considerar, no mínimo, perigosa. Pan baixou o punho. Carregou as sobrancelhas sobre os olhos negros.


- E não estamos na Capsule Corporation, Launch? Onde poderemos estar, por kamisama?


- Eu não me lembro de ter vindo hoje para a Capsule Corporation.


Pan deu um passo atrás.


- Eu… eu também não…


- Ah! Viste? Ias partir a porta sem necessidade! – disse Launch feliz por ter feito uma espécie de boa ação.


Aquela mulher ingénua, simplesmente, não existia… Pan bateu com a mão na testa, abanando a cabeça.


- E se batêssemos na porta e pedíssemos por socorro? – sugeriu Launch pensativa, com um dedo no queixo e a cismar com a porta branca fechada. – Talvez não saibam que estejamos aqui e assim, alertando alguém, venham finalmente abrir a porta e tirar-nos deste quarto.


Mas aquela mulher teria miolos naquele crânio, sob aquela imensa cabeleira azul, para que soubesse pensar?


Se a mulher era desprovida de cérebro, ela não o era. Pan raciocinou depressa, olhando rapidamente em seu redor, crendo que percebia o que se estava a passar. Travou a mão de Launch que se precipitava para a porta para pôr o seu plano em prática. Bater e pedir socorro.


- E se estamos aqui… Porque eu fui raptada?


- Nani, Pan-chan?


- Sim, raptada! – frisou Pan arregalando os olhos, como se falasse para uma idiota. – Eu sou a neta de Mr. Satan, sou muito importante e valiosa. Se fosse raptada, podem pedir um resgate de milhões de zeni!


- E eu fui raptada contigo, Pan-chan? Que interesse terão em mim?


Excelente pergunta! Pan apertou a boca, apanhada na ratoeira do seu próprio raciocínio.


- Não sei… Porque estavas comigo…?


- E estava?


- Ah!! – gritou Pan esbracejando. – Não estavas? Agora, pelo que vejo, estás comigo!


Tornou a fechar o punho e enfrentou a porta.


- Vou rebentar com a porta e acabar com isto, de uma vez por todas!


- Não, Pan-chan! – gritou Launch alarmada. – E se tivesses sido mesmo raptada, os bandidos não vão gostar que faças isso!


- Se eu fui mesmo raptada, ao evadir-me pela força vou surpreender os bandidos e terei uma hipótese de me escapar sem que eles se apercebam do que está a acontecer. Quando forem atrás de mim… de nós… – Teria de a levar com ela, pensou Pan contrariada. A tia Bulma e a avó Chichi nunca lhe perdoariam por ter fugido sem salvar aquela mosquita morta. Emendou a frase, desde o início: – Quando forem atrás de nós, já teremos conseguido ganhar umas boas milhas de avanço.


- Ah!...


Aqueles suspiros aumentavam a raiva que sentia. Ótimo! Ajudava-a a congregar toda a força possível e imaginária no seu punho.


Com um potente grito de frustração, Pan socou a porta.


Movimento seguinte, agarrou-se à mão a gemer com a dor que tinha nos nós dos dedos.


- Shimata!! – queixou-se.


Launch inclinou-se sobre ela.


- Pan-chan, ficaste mal? Está a doer-te?


- Diz-me que furei a porta, onegai shimass! – exigiu Pan de olhos fechados a sentir a mão dorida a palpitar e a inchar.


- Eh…


- Furei a porta, ou não?


- Pan-chan, a porta… parece-me igual.


Pan, que se tinha agachado quando se agarrara à mão, para proteger instintivamente a parte do corpo ferida, endireitou-se e fixou a porta que continuava tão branca e imaculada como antes do seu murro.


- Mas… que sítio é este que tem portas à prova da força de um saiyajin?!


- Fomos raptadas! – concluiu Launch em completo terror.


- Devemos estar dentro da nave de um qualquer extraterrestre louco que conhece os saiyajin e sabe como os conter e dominar.


- Um… um extraterrestre?


- É estranho para ti? – admirou-se Pan. – Pensava que estavas habituada, levando em conta os amigos que tens…


- Eu não… tenho convivido muito com o Goku depois daquele torneio de artes marciais… – desculpou-se Launch corando.


Pan passou a mão latejante pelo rosto. Agora, a mulher punha-se a corar!


Bem, não podia contar com o expediente de Launch, era mais néscia do que ela julgava. E não tinha poder de espécie algum, apenas uma bondade e uma ingenuidade que não serviam para mais nada do que ornamentar as festas da tia Bulma com os seus sorrisos e olhares delambidos.


Passou os dedos pela porta. Ao toque parecia uma porta absolutamente normal, mas seria feita nalgum material resistente, desconhecido na Terra. Se a força física não fora suficiente, iria tentar um ataque energético. Puro fogo, a ver se ainda assim a porta se aguentava enfrentando um saiyajin!


Fez-se silêncio. Excelente! Precisava de se concentrar e afastar da mente o pânico de se saber encerrada num lugar esquisito.


Um cheiro qualquer esquisito entrou-lhe pelas narinas e fez-lhe arder o canal nasal. Uma espécie de perfume agressivo, com um composto qualquer ao qual seria alérgica… Não que ela tivesse alergia ao que quer que fosse, seria um tormento para alguém como ela que vivia em plena Natureza, em contacto direto com todas as substâncias proibidas para as pessoas mais sensíveis. Olhou para o teto. Estariam a querer adormecê-las novamente? Mas não viu nenhum tubo suspeito a aspergir gás.


Escutou um espirro violento. Seguiu-se uma fungadela profunda e um pigarreio.


- Saúde! – exclamou Pan instintivamente.


- Onde raios estou? E que faço aqui contigo, pirralha?!


A voz atrás de si era diferente, mais profunda, quase rouca. Ameaçadora se ela não se lembrasse que estava com a inofensiva da Launch morena. Pan olhou por cima do ombro e largou um grito. Encostou-se a tremer à porta que pretendia destruir. Olhava para uma loira selvagem de olhos verdes, com o mesmo laço vermelho nos cabelos e a mesma roupa escandalosamente jovem que usava Launch.


- Quem… és tu?


- Ora, pirralha, não me conheces? Sou a Launch!


Pan piscou os olhos várias vezes. Sentiu uma gota de suor escorrer-lhe pela têmpora.


- Ahn? A Launch?... Mas a Launch não é… diferente?!


- Não me ouviste espirrar? – Antes que ela pudesse responder, ela acrescentou ríspida: – Mas ainda não nos conseguiste tirar daqui? Olha que eu não gosto de estar fechada durante muito tempo!! Afasta-te dessa porta!


Aquela mulher estava a dar-lhe ordens? Pan franziu uma sobrancelha que fez um ziguezague na testa. A loira Launch retirou duas cápsulas do bolso dos calções. Acionou-as e no meio de uma nuvem de fumo surgiram duas imponentes metralhadoras.


- O que vais fazer… com isso? – estranhou, ainda colada à porta.


A loira Launch engatilhou as duas metralhadoras com uma destreza incrível.


- Eu disse-te para te afastares!


Pan só teve tempo de dar uma cambalhota apressada e foi assim que se escapou da saraivada que a loira Launch despejou contra a porta trancada e a parede que a rodeava. O barulho era ensurdecedor. As balas matraqueavam ininterruptamente o alvo, enquanto a mulher que disparava ria-se às gargalhadas. Pan tapou os ouvidos com as mãos, boquiaberta com o que estava a presenciar. Não sabia que a Launch tinha… uma dupla personalidade!


Não que isso fosse alguma coisa boa, considerou petulante, espetando os cotovelos e mirando os novelos de fumo que se evolavam da porta atingida pela pontaria da atiradora ensandecida. Se não tinha grandes afinidades com a pacatez da morena, a sua personalidade chocava claramente com a impetuosa loira.


Quando esvaziou os carregadores de munições, quando os canos de ambas as metralhadoras fumegavam, Launch levantou as armas que colou aos ombros, calou as risadas e olhou a porta fixamente. Que deveria surgir totalmente retalhada, ao ponto de lhes proporcionar a fuga, mas não foi isso que apareceu. A porta continuava… intacta! Sem uma arranhadela, buraco, fenda ou beliscadela.


Launch resmungou:


- Pelas barbas de Munteroshi! Não é possível!


- Agora, deixas avançar quem pode resolver este problema! – anunciou Pan impaciente.


Varreu o ar com um braço, como que a lançar a mensagem de que não queria interferências. Estava na altura de terminar com aquilo de uma vez por todas e com um ataque energético.


- O que vais fazer, pirralha?


Pan susteve a respiração, crispando os lábios e fechando os olhos. Sentiu o corpo estremecer de indignação e, quando deu por si, estava de bicos de pés, braços esticados ao longo do corpo, voltada para a porta, de costas para a loira, numa pose que antecedia uma birra.


- Ouviste-me, pirralha?


- Olha aqui, sua louca! Eu sou Pan e sou saiyajin! Vou rebentar com a porta!


- Só agora? Por que não o fizeste antes?


- Porque tu!... – Dando meia volta, espetou um dedo no nariz de Launch. – Porque tu tens estado no meu caminho com as tuas ideias estúpidas e os teus ataques mais estúpidos ainda!


Ao mexer-lhe no nariz, a loira teve em estremecimento.


Espirrou e como num passe de mágica, transformou-se na sua versão morena.


Ao ver-se com duas metralhadores a escaldar nas mãos, largou-as com um grito de aflição. O que valia era já não terem munições, pois com o estrondo e a pancada que fizeram ao chegar ao chão, teria havido disparos involuntários.


Pan gaguejou, ainda de dedo espetado a tocar no nariz de Launch:


- Vais… vais deixar-me tentar… agora?


- Ahn?!


- O que foi? Não… te lembras do que fazes quando estás loira?


- O que se passou aqui? Cheira a pólvora! Que horror!!


Pan baixou o braço, apontou com o polegar para a porta situada atrás de si.


- É a minha vez. Vou atacar a porta com o meu ki.


- Cheira tanto a pólvora! – continuou Launch a lamentar-se, a agitar uma mão diante do rosto contorcido. – A pólvora… faz-me espirrar!


E espirrou mesmo! Pan deu um salto quando viu a loira aparecer novamente.


Launch fitou-a zangada.


- Vá, despacha-te, pirralha! Ou entro novamente em cena. Tenho mais munições, sabias? E até um lança mísseis portátil que não hesitarei em usar se falhares… Irá fazer porcaria, mas que se dane. Aqui dentro é que eu não fico!


Pan protestou, virando-se para a porta, abrindo e fechando o punho da mão direita:


- Não me chames pirralha. Tenho nome, sabias?!


- E isso que me interessa?


A filha de Gohan contraiu os músculos.


- Como podes ser amiga da tia Bulma e da avó Chichi?! Onde te encontraram elas? Na selva? No deserto? Em qualquer lugar onde não havia civilização e onde não convivias com ninguém? És intratável!...


- E olha que tu não és um exemplo de simpatia, pirralha!


Pan espreitou-a e viu-a sentada no chão, entre as duas metralhadoras, um joelho dobrado e um braço assente neste. Sorria-lhe trocista. Encarou a porta, que era menos perturbadora, mesmo que indestrutível, que aquela mulher com quem estava fechada num quarto.


- Não me interessa ser simpática com quem não merece a minha companhia.


- Igualmente, pirralha! – devolveu Launch provocadora. – Anda lá depressa com essa tua ideia saiyajin, que eu não tenho o tempo todo.


- Ah, sim? Não sabia que havia relógios no buraco de onde saíste…


- Tem cuidado com a língua ou ainda te encho de chumbo, pirralha!


- Para tua informação... Sou mais forte que esta porta! – vociferou.


- Então, quero ver-te a acabar com ela!


Pan reuniu energia amarela na mão direita que abriu em forma de garra, palma voltada para o teto. Congregou uma esfera faiscante que lançava pequenas faíscas e um halo de calor. Encheu-a com mais energia e depois enviou-a contra a porta. A onda de choque, que a explosão provocou, projetou-a para trás. Aterrou nos braços de Launch, que também foi empurrada pela mesma onda e espetaram-se as duas na parede oposta.


Tossiram afogadas no fumo branco criado pela explosão da pequena esfera. Pan esfregou os olhos lacrimejantes e ergueu-os para verificar os estragos, esperançosa de que finalmente tinha conseguido vencer aquele adversário. Crispou a testa numa tentativa de melhor focar a visão embaciada.


Com as tossidelas e fungadelas, alguma coisa entrou no nariz de Launch.


- Masaka


Com novo espirro, a Launch morena regressou.


- Oh, tanto fumo!


- Não me digas que também espirras com o fumo! – cortou Pan aborrecida. Mas depois concluiu num murmúrio: – E se espirrares, que diferença faz? Morena ou loira, serás sempre intratável…


A porta continuava impecável.


Pan arrancou o lenço da cabeça, a gritar histérica.


- Não!!!!


Launch começou a choramingar.


- Nunca mais vamos sair daqui…


- Vamos, sim! – Pan levantou-se, afastou as pernas, juntou as mãos no flanco. – Vou usar o famoso ataque do meu avô Goku. Vou usar um Kamehame!


- Oh! Isso não será perigoso?


- E como sabes que não é perigoso estarmos aqui dentro?


- Tens razão…


Pan descaiu os ombros.


- Vais deixar-me tentar, mais uma vez, tirar-nos deste quarto fechado?


- Oh, sim! Tenho tando medo! – lamentou-se Launch cada vez mais inquieta.


Clangores e estalos surgiram do nada, Pan e Launch entreolharam-se confusas. Depois, acrescentaram-se, aos primeiros sons, apitos e rangidos, pancadas metálicas e assobios. A morena levantou-se e gritou histérica:


- A nave dos extraterrestres vai descolar e vai levar-nos!


- Eu… não sei se será mesmo uma nave! – justificou-se Pan.


- Oh, eu não quero viajar pelo espaço!


- Admira-me como nunca o fizeste, se és amiga da minha tia Bulma…


- Eu estava esquecida no tempo dessa aventura.


- Aposto que a tua amiga loira haveria de ter gostado de visitar outros planetas e estoirar com tudo o que lá houvesse, com as suas magníficas metralhadoras!


- Qual amiga loira?


Pan arrepanhou os cabelos desgrenhados.


- Não posso perder mais tempo! – decidiu, retomando a posição para o Kamehame.


Os ruídos estranhos calaram-se de repente e apareceu uma voz:


- O que estás a fazer? Afasta-te imediatamente dessa consola!!


Pan volveu os olhos para o teto.


- Tia… tia Bulma?!


- ‘Kaasan, foi uma brincadeira, inocente.


Reconhecendo a segunda voz, Pan rugiu:


- Trunks!


A decoração da sala dissolveu-se e os móveis, as tapeçarias, os quadros e os reposteiros, outrora tão sólidos, tremeluziram, chiaram e esfumaram-se porque não passavam de hologramas. Ficou uma sala despida, iluminada por grandes lâmpadas de halogéneo que zuniam numa atmosfera tépida. Uma câmara metálica arredondada e espaçosa, sem qualquer característica especial, mas o lugar, naquela configuração simples, não era inteiramente estranho a Pan.


- É… é a sala gravitacional onde o tio Vegeta se treina! – balbuciou.


Isso explicava muita coisa, principalmente a porta invulnerável à força imensa de um saiyajin. O material com que a sala fora construída, incluindo paredes, chão, teto e saídas, era único pois destinava-se a aguentar forças gravitacionais superiores às normais e ímpetos de um treino desregrado de um guerreiro poderoso como um saiyajin. Só não explicava o aspeto de quarto artificial que tivera antes…


Os fumos e todos os cheiros estranhos foram sugados pelo sistema de exaustão, composto por grelhas situadas junto ao teto e conseguiu-se respirar melhor. Pan sentiu-se aliviada por, finalmente descobrir onde se encontrava e não duvidava que a morena Launch também sentia o mesmo, pois o seu ki já não estava tão agitado.


Estavam na Capsule Corporation, no interior da sala gravitacional.


A porta também perdeu o seu encantamento de porta branca e transfigurou-se naquela que ela sempre conhecera: um maciço pedaço metálico de forma oval com uma pequena vigia no cimo, como uma porta de uma nave espacial. A teoria do veículo extraterrestre fazia algum sentido… A porta entreabriu-se e a cabeça de Bulma apareceu.


- Vocês estão bem?


Pan penteou os cabelos desajeitadamente.


- Claro que sim, tia Bulma. Não era uma coisita destas, sem importância que me iria assustar – completou cheia de bravata, a esconder, nos bolsos das bermudas, as mãos que tremiam.


Bulma escancarou a porta e ela saiu da sala numa corrida. Launch seguia-a num passo normal, imperturbável. Quando se viu no corredor da Capsule Corporation, Pan percebeu que estava definitivamente livre daquele pesadelo. Mas não o iria confessar a Bulma, que lhe explicava que fora tudo uma brincadeira de Trunks, que as tinha adormecido com um gás experimental que se estava a produzir nos laboratórios da companhia e que apagava as memórias mais imediatas, uma encomenda do governo para os serviços secretos. Depois, tinha-as metido na sala gravitacional e utilizara uma aplicação informática que simulava, nessa sala, as comodidades de um vulgar apartamento terrestre. Um pequeno capricho que Vegeta exigira quando morava ali. Pediu-lhes desculpa, mil perdões por tudo o que tinha acontecido.


- Têm o nosso perdão, obviamente. Oh, não foi nada! – disse Launch conciliadora. – Foi apenas uma brincadeira…


Trunks apareceu no fim do corredor, para verificar se as suas cobaias – sempre tinham sido cobaias humanas naquela trapalhada toda! – estavam bem, mesmo que ele sempre o soubesse, pois monitorizara a “experiência” durante o tempo todo.


- Trunks! Maldito! Vais morrer! Eu sabia que não passava de uma das tuas ideias destrambelhadas!!!


Pan correu atrás do filho de Vegeta aos berros, vomitando ameaças e injúrias.


Bulma entrelaçou o braço de Launch com o seu e convidou:


- Vamos a uma bebida nos jardins? Acho que precisas de te acalmar.


- Oh, sim! – concordou a morena Launch com um suspiro. A seguir, piscou o olho com um sorriso travesso. – Não me importo de beber algo mais forte que sumo de laranja. Não me divertia tanto desde… desde os gloriosos tempos dos torneios de artes marciais!


As duas mulheres riram-se uma para a outra e a festa que abria mais um verão de dias magníficos de lazer prosseguiu na Capsule Corporation.


Pan não chegou a apanhar Trunks, que sempre correu mais que ela…

March 26, 2018, 2:50 p.m. 0 Report Embed Follow story
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The End

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Andre Tornado Gosto de escrever, gosto de ler e com uma boa história viajo por mil mundos.

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