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Meus olhos que capturam você

Havia algo encantador na ideia de eternidade que uma foto proporcionava. Para ele era como se ele se transformasse em um mago e seu poder de capturar momentos preciosos com uma polaroid ou mesmo com a câmera de seu celular era excitante, a experiência inebriante da caça por uma cena perfeita e então a habilidade de saber o momento certo para clicar, para prender as emoções, os pensamentos, a alma daquele passageiro momento em algo que você pode tornar eterno, algo que você pode tocar e sempre revisitar quando quisesse. Não podia ser nada além de magia para Jungkook.


Ele era um rei e suas fotos eram seu povo.


Jungkook gostava de tirar foto de quase tudo, não era como se ele escolhesse exatamente aquilo que capturaria sua atenção, ele só olhava para o lugar certo e ali estava, a coceira em seus dedos, o calor em sua barriga, o pulsar animado em seu peito e Jungkook apenas sabia que era o momento de fazer mágica. Era um talento nato, como Namjoon gostava de dizer.


“Você deve se orgulhar disso.” Ele havia dito um dia, quando Jin havia brincado com a mania do maknae de tirar fotos mesmo em seu dormitório. Era como uma obsessão, Hoseok havia comentado sem real intenção de criticar, mas Jungkook se sentiu envergonhado porque ele não fazia aquilo conscientemente. Mas Namjoon havia aprovado as fotos que o mais novo havia tirado da pequena joaninha na janela do seu quarto, da cozinha bagunçada após o café da manhã moldada com o brilho suave do sol lá fora, das pernas desnudas de Jimin jogadas no colo de Taehyung enquanto eles conversavam. Namjoon passaria pela galeria de seu celular com curiosidade e até mesmo orgulho para então dizer “Essas são realmente boas. Talvez se você não tivesse se tornado idol, você pudesse ter cursado fotografia na faculdade.”


Jungkook negaria essa possibilidade sem hesitação. Não por nunca ter pensado em ser algo além de um idol na sua vida, mas porque seu interesse por fotos nasceu graças à suas experiências com o grupo. Suas viagens a outros países o mostrando formas diferente de encarar a vida, seus ensaios fotográficos para os álbuns lhe permitindo ter contato com o mundo profissional da fotografia, os estilos de música diferentes que ele conhecia por causa de seus hyungs, tudo isso uma mistura de sensações que inspiravam Jungkook a experimentar coisas novas, coisas que ele nunca teria se permitido querer antes.


Era como se ele ganhasse muito e desse tão pouco, mas Jungkook não pensaria sobre isso, o buraco negro em que ele poderia cair com essas duvidas era muito profundo e possivelmente sem fim.


Mas de todas as coisas que Jungkook gostava de capturar através de uma lente, havia duas que o fascinavam. O céu e Park Jimin.


O primeiro era fácil de explicar porque era tão simples: Jungkook gostava da forma como o céu era mutável. Como não importa quantas vezes você olhasse para ele, quantas fotos você tirasse, o céu sempre seria diferente, sempre teria algo novo na grande manta que cobria o mundo como se alguém tricotasse um novo desenho à cada dia, um novo significado, uma nova linha intricada de belos tons variantes de azul, cinza, roxo, amarelo, vermelho, laranja. E existia diferentes céus para diferentes cantos no mundo. O céu de Seoul não era o mesmo céu de Nova Iorque e esse então não era o mesmo que o céu em Estocolmo.


O céu significava novidade, algo sempre brilhante e quente, Jungkook nunca se cansava dele.


Já o segundo alvo de seu fascínio era mais como um crescimento gradual dos próprios sentimentos de Jungkook em relação a Jimin. Ele sempre havia gostado de Jimin, mas era difícil conciliar isso com a imagem ideal de si mesmo. Jungkook tinha uma ideia sobre o que era ser um idol em um grupo se hip hop e o constante apego de Jimin por ele se tornava constrangedor quando demonstrado na frente das câmeras, ele não estava acostumado a deixar os outros verem um lado seu que ele reservava para a intimidade e isolamento do dormitório. Mas foi fácil se afastar da pressão auto-imposta com o passar do tempo e de carreira. Jungkook aprendeu que suas fãs preferiam ele sendo sincero de qualquer forma.


Jimin era uma parte sincera da vida de Jungkook.


Ele admira, respeita e gosta de todos os seus hyungs, mas Jimin era fácil de lidar. O outro garoto gostava de paparicar Jungkook com presentes e pequenos agrados, pagar a carne quando eles saiam para comer, comprar uma camisa que Jungkook tivesse visto ou comentado sobre, deixar que ele devorasse toda a torta de limão favorita de Jimin mesmo que o mais velho não quisesse dividir. Era fácil lidar com seu hyung de coração mole e mesmo que Jimin se irritasse toda vez que Jungkook fosse mais ousado com suas brincadeiras ou com as mordidas em seu pescoço, ele ainda iria rir com qualquer uma das suas palhaçadas. Jungkook amava a risada de Jimin e era obrigação tirar fotos dela.


Outra obrigação era tirar fotos de Jimin dormindo, seu rosto quando dormia era uma das coisas favoritas de Jungkook porque era um dos poucos momentos em que Jimin não estava constantemente alerta sobre, bem, praticamente tudo. Sempre preocupado, seja consigo ou com os outros, sempre muito exposto, ele sabia que no grande coração que Jimin possuía havia pequenos buracos pretos, muito parecidos com os do próprio Jungkook, e mesmo que eles tenham diminuído com o passar do tempo, eles sempre estariam ali. Ele gostava de guardar os momentos em que Jimin estava descansando porque era uma paz rara que o rapaz tanto necessitava e que Jungkook valorizava como se fossem seus. Como se a paz de Jimin fosse sua também.


Jungkook adorava tirar fotos com Jimin também, mesmo as fotos tiradas nos ensaios eram especiais porque eram deles, seus, dele. Pronomes se misturando e sendo eternizados nos mínimos detalhes que compunham suas vidas dentro de milhões de pixels, o fragmento de uma história secreta que só eles sabiam. Era divertido quando ele pegava um Jimin distraído e o puxava para seu colo antes de estender o braço com a polaroid.


“Sorria hyung!” ele diria ignorando os protestos contrariados e ficando satisfeito com o sorriso que já estava ali muito antes dele dizer qualquer coisa. Jimin sempre sorria para ele.


E havia tantos momentos de Park Jimin que ele gostava de envolver na proteção eterna da sua magia. Momentos cronometrados, momentos não esperados, momentos singelos, momentos que em suas entrelinhas era escrito a canção de Jungkook, mas provavelmente as fotos favoritas dele eram as que ele podia juntar suas duas coisas favoritas para se fotografar.


Porque o céu e Park Jimin eram como um só aos olhos de Jungkook.


“Seu pirralho.” Jimin resmunga enquanto Jungkook se levanta do seu lugar no chão – ele havia se deitado para tirar uma foto de baixo de Jimin, o céu brilhante e azul um contraste bonito com seu moletom vermelho e o cabelo preto. “Você precisava mesmo deitar no chão? Todo mundo está nos olhando agora.”


“Você tá exagerando.” Jungkook zomba enquanto limpava a parte de trás da calça. Havia uma ou duas pessoas que o encararam por mais tempo que o necessário, mas como a maioria dos estrangeiros e dos europeus, eles não se importavam com a loucura dos turistas asiáticos. Jungkook apreciava muito essa habilidade de ignorar a vida alheia de pessoas que nunca importariam. “E eu precisava de um melhor ângulo. O céu não estava aparecendo direito.”


“Eu nem quero saber o porquê que o céu deveria aparecer na foto porque é provavelmente algo absurdo e ridículo.” Ele revira os olhos tomando um pouco do café que os dois haviam comprado pouco tempo atrás, o seu já tinha acabado. Aquele era um dia só para eles e Jungkook tinha que aproveitar para tirar todas as fotos possíveis de Jimin, então claro que ele aponta a câmera justo na hora que o moreno se distrai mexendo em seu celular tirando uma foto de Jimin com a cabeça baixa, cabelos brilhando com o sol morno da Noruega e então mais uma quando ele olha para cima com o barulho da câmera. “Sério?”


“O quê? Você é bonito hyung, eu gosto de tirar fotos de coisas bonitas.” Jungkook sorri com todo seu charme e mesmo que Jimin ainda esteja fazendo careta para ele, o leve rosado em suas bochechas redondas vale a pena. É quando ele se lembra que eles não estão na Coréia, não estão em Seoul, então Jungkook se aproxima e abraça a cintura do rapaz menor e o puxa para mais perto para sussurrar em sua orelha. “Você está bonito hoje, Jimin.”


“Jeon Jungkook!” Jimin sibila baixinho enquanto olha em volta procurando por olhares escandalizados e reprovadores, ataques indignados e ignorantes de pessoas que não podem aceitar o amor. Ele não encontra nada, crianças continuam a correr atrás de uma bola no parque próximo deles e velhinhas continuam a conversar no banco da varanda do café, pessoas passando entre eles sem um segundo olhar muito distraídas consigo mesmas para se importar com dois coreanos se abraçando na rua. Suas orelhas estão agora vermelhas, Jungkook morde o lóbulo porque é tentador demais para suportar. “Jungkook me solta! Alguém vai nos ver!”


“E daí? Ninguém aqui liga.”


“Nossos hyungs ligam!” Jimin esbraveja e Jungkook revira os olhos. “O que vai acontecer se algum membro ou hyung nos ver? Eles não são ocidentais lembra, seu idiota?” Jungkook se abstém de dizer que provavelmente Hoseok e Namjoon já sabiam porque um Jimin histérico não é um Jimin divertido.


“Eles não vão nos ver aqui, é um dia de folga das gravações e um dia de folga de interagir um com o outro.” Jungkook sorri afastando a franja que caia nos olhos assustados e tímidos do mais velho. “Hoje é um dia seguro, só nosso, ninguém vai nos ver ou nos atrapalhar, essa cidade é grande, Jimin-hyung.”


Jimin ainda parece hesitante, mas ele relaxa em seus braços. “Mas-”


“Você vai me beijar de uma vez ou vai ficar ai arranjando desculpas?”


“Seu pirralho mal-educado.” Jimin bufa, mas abraça a cintura de Jungkook distribuindo beijos em seu rosto até finalmente lhe dar um selinho carinhoso. “Você anda muito mimado. Eu devia te deixar de castigo.” Jungkook geme com aprovação quando Jimin finalmente o beija, primeiro apenas a pressão fria de seus lábios, um choque de antecipação atravessando o corpo do mais novo, mas então Jungkook pede passagem com sua língua e Jimin se abre instantaneamente para ele. É uma dança preguiçosa, sem medo de serem pegos no ato e com uma liberdade muitas vezes invejada de levarem o seu tempo para apreciarem um ao outro, a boca de Jimin é como uma sauna quente, ele sente seus músculos relaxarem com o poço de calor transbordando em sua barriga e correndo pelo resto do seu corpo na satisfação úmida de explorar o céu da boca, atrás dos dentes, cada espaço escondido da boca de Jimin, o gosto do café é horrivelmente doce em suas bochechas. Os braços de Jimin apertam em sua cintura, a pressão leve do copo de café na lateral do seu corpo e o peito agasalhado de Jimin colado no seu, corações vibrando em sincronia, é maravilhoso o fato deles não terem pressa.


Tudo é quente e Jungkook suspira antes de se afastar por causa da falta de ar o obrigando a largar o porto seguro que ele encontrou no mais velho. De qualquer forma, é difícil não sufocar ao ver o sorriso bobo e satisfeito de Jimin. Jungkook deseja por um segundo tirar uma foto dele agora, mas existem coisas que ele quer guardar para si mesmo, então ele vai eternizar esse momento em seu coração.


“Desde quando você ficou bom nisso?”


Jungkook ri beijando a bochecha de Jimin antes de se afastar. “Eu sempre fui bom, Jiminnie.”


“Eu não tenho tanta certeza disso.” O menor zomba antes de segurar a mão do mais novo e tomar outro gole do seu café. Jungkook faz um som de protesto ofendido e é a vez de Jimin rir. É algo alto e bonito, que ilumina todo o rosto corado do outro rapaz e Jungkook o perdoa pela mentira descarada.


“Tudo que te faça dormir melhor a noite.” Jungkook zomba e rouba o copo de café de Jimin antes que ele possa dar outro gole e o mais velho o cutuca dolorosamente com o cotovelo enquanto eles se afastam pela rua de pedra ensolarada.


“Nesse caso você quer dizer você né?” Jimin resmunga desistindo de recuperar o seu café. A careta de Jungkook com o excesso de açúcar é uma punição merecida.


“Claro.”


Jimin ri de novo e Jungkook o puxa para mais perto dando um beijo carinhoso na sua bochecha.


Havia algo encantador sobre eternizar os momentos preciosos do mundo em uma foto, um poder quase sobrenatural em capturar o momento perfeito para a cena perfeita com o significado perfeito ali contado. Era arte e Jungkook se esforçava para ser um bom artista, um bom escritor e um bom narrador. Ele também tentava ser um bom ouvinte, mas ele não era tão bom nisso, esse era um dom reservado para pessoas como Namjoon.


Mas existem certas coisas que nem mesmo o mais habilidoso fotografo conseguiria prender em uma foto, o calor da mão na sua, um sorriso cheio de formas e significados diferentes, um espirro ou um engasgar em um momento de surpresa ou diversão, a risada viva que abrangia todos os espaços frios e obscuros da vida e os enchia com luz divina. Um fotografo poderia ver os pequenos detalhes talvez, até mesmo transmiti-los, mas nunca com a essência completa da experiência real.



Jungkook se fascinava por duas coisas nessa vida, o céu e Park Jimin. O primeiro era simples de explicar o porquê, algo tão grandioso e incontrolável que não importava quantas vezes ele tirasse fotos do céu, ele sempre seria diferente. Sempre um desafio.


O segundo era um quebra-cabeças com tantas peças ainda não descobertas que Jungkook tentava achar seu caminho no mistério que era Jimin através das suas fotos, mas o significado dos seus momentos um com o outro sempre fugiam de suas mãos como a incontrolável maré no mar revolto. Um grão de areia na praia infinita que era a composição de sua vida, da vida dele, da vida deles. E todo o seu quebra-cabeça era espalhado ao seu redor novamente em um embaralhar mais confuso do que quando ele havia começado a montar. Sempre difícil de entender.


Ambos eram incontroláveis, maravilhosos e para ele Jimin e o céu eram a mesma coisa na grande concepção do seu universo. Ele queria captura-los, mas nunca conseguiria porque você ama o que não pode ter. Talvez um dia ele tocasse os céus como ele toca a mão quente de Jimin no agora e talvez um dia, quando ele pudesse finalmente voar, esse toque se estendesse para a alma de Jimin também.


Por enquanto Jungkook não pensaria sobre isso e apreciaria o café que não era seu.



✿♥✿♥✿♥✿♥✿♥✿

Notas Finais:


Isso surgiu graças aquela foto do Jimin dormindo (aquela que ele tá ruivo e que tá no twitter) que o Jungkook tirou.


De repente eu só me vi pensando "cara, o Kookie ama tirar foto do Jimin" e pronto, nasceu isso.


Eu nem sei de onde venho tanta metafora para algo tão simples como uma foto, mas eu adoro que Jikook se resume muito bem nas fotos tiradas deles. Foi algo que eu sempre pensei.


Espero que vocês não estejam com chateados com tanta melação, eu às vezes exagero no fluffly.


Uma fic tão doce quanto o café do Jimin lol


Comentários e Criticas sempre são bem vidas ;3

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March 16, 2018, 1:55 p.m. 0 Report Embed Follow story
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The End

Meet the author

LiNest Meu nome é Aline, também conhecida como Linest e eu estou realmente feliz por poder compartilhar meu trabalho com tanta gente agora!!! Você só precisa saber 3 fatos sobre mim: Amo Angst. Sou Nerd. Sou Army.

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