Ei, doutor, poderia me ajudar? Algo não está certo.
O senhor me diagnosticou com saudade crônica. Disse-me que não era algo fatal, mas que, se não fosse tratado o quanto antes, poderia se tornar algo sem cura e, mesmo sem me matar, consumiria tudo de mim.
O caso é que eu já comecei a ser âncora de mim mesmo, mas é tão fundo agora que é como se houvesse desprendido a nadar. A superfície já está longe, doutor, e sinceramente, já não sinto vontade de chegar lá.
Doce enfermeira, não me olhe desse jeito. Te assustei por não ter medo de morrer?
Não há o que temer, nós já somos bons amigos, eu e ela. Ela não me apavora, senhora. Acho que meu medo, de verdade, é que ela não me abrace apertado o quanto antes. Eu temo alcançá-la e não agarrá-la há tempo.
Conselheiro, me dê alguns conselhos, Diga-me o quão duro eu vou cair se eu viver uma vida dupla. Me ajude, tenho medo mesmo é de viver.
Ei, doutor, desculpe-me incomodar essa hora da noite, eu só queria desmarcar aquela nossa consulta de amanhã e agradecer por ter me receitado algo que tinha princípio ativo de abandono do que não volta mais e me recomendar doses homeopáticas de esquecimento.
Segundo o senhor, se pensar em eu e ele, separados como o outro preferiu, uma hora apaga o nós e da saudade tira a voz.
(in)felizmente isso não deu certo. E eu queria poder te contar se é realmente mais leve lá do outro lado.
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