tiatatu Tatu Albuquerque

Agora temia o deserto em se via, o frio que sentia sem seu abraço, sem sua proteção, sem ele. Respirou fundo, tentando sufocar as lágrimas, tanto quanto estava sufocando a si próprio. Ele não queria chorar, não mais, afinal, as lágrimas não o fariam voltar, não o trariam de volta, mas também não tinha a coragem de prosseguir, mesmo sabendo que era isso o que ele queria, não tinha a força de Lee, aliás, não tinha força alguma sem Lee, e foi por isso que se rendeu ao desejo de vê-lo novamente, de estar com ele, mesmo que sua atitude fosse fruto de uma vaga esperança, estava decidido, ela era a única forma de vê-lo mais uma vez. Songfic de Oceano - Djavan [DESAFIO FNS] [GaaLee]


Fanfiction For over 18 only. © Os personagens pertencem à Masashi Kishimoto, eu só boto pra chorar

#Gaara/Lee #GaaLee #Fns #BregaFNS #CachecolDoBrega
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Mar de Saudade

Mais uma vez via o dia amanhecer, assistia ao belo nascer do sol que nunca perdia a graça, o toque da quente luz dourada do astro celeste nas frias águas colorida em tons de azul do mar sempre era lindo, esplendoroso, sublime, romântico, aquecedor.

Essa era a parte boa da insônia, mas também havia a parte ruim, a parte doída que por mais que desejasse não conseguia seguir ignorando a existência e muito menos extirpar por completo. Não dependia de si.

Haviam tantas coisas que não estavam sob seu controle que lhe pesava pensar. Havia a dor, havia o amor, havia a saudade, havia o cheiro da maresia, havia o som das ondas do mar quebrando na costa, havia o sol, havia o calor, havia a preguiça, havia o sono que estava chegando após toda uma noite em claro. Havia tudo, só não havia ele e era isso que fazia-o pensar que não havia nada.

Não havia o cheiro másculo da mistura de suor e água salgada, não havia a energia, não havia a positividade, não havia a razão de sua insônia, não havia Lee e, se não havia Lee, não havia felicidade. Sem ele, não havia sequer chão sob seus pés para pisar e por isso sentia-se tão perdido, afundando cada vez mais em um infinito precipício.

Há dias não dormia, há dias não havia a bagunça em seus lençóis. Há dias não havia sua voz favorita chamando seu nome, há dias não havia o porquê sorrir. Ele já não estava consigo e isso lhe era uma tormento. Sentia-se só, sentia-se vazio, sentia-se culpado, abandonado.

— Será que ele onde está se lembra de mim? - perguntava a si, à brisa, ao sol, ao mar, às areias da praia, esperando que, com a ajuda do vento, sua pergunta chegasse até ele.

Esperar pela resposta que nunca viria doía. Suspirou sôfrego, conformado em saber que ele não o ouviria, desolado ao pensar que ele não viria, não pisaria mais naquela casa com os pés molhados e nem mesmo estaria ali apenas para dizer que estava. Lamentou, mais uma vez, mirando o mar.

Ao longe via o barco de pescadores em alto mar, os únicos companheiros de sua solidão, até mesmo a longínqua embarcação lhe fazia recordar daquele sorriso, daqueles olhos tão grandes e cheios de amor, daquelas mãos grossas e ainda assim suaves ao lhe tocar e acarinhar.

Olhava para o oceano que por vezes tinha o tom de seus olhos, mas ele era calmo e seus olhos mostravam as águas furiosas de seu oceano próprio, refletiam que a ressaca do amor confrontava as pedras de sua sanidade e, como dizia o velho ditado, as vencia, perfurava, arremessava longe com suas fortes ondas, o fazia rir inteiro, se bem que ele era inteiro ruína.

Gaara sequer podia dizer que desejava se reconstruir. Se não havia Lee, não havia porque estar inteiro.

...

O pouco sono se dissipou após o banho na água fria do chuveiro.

Entediado, ligou a velha vitrola e deitou-se na rede da varanda de casa, suspirando sôfrego ao ouvir a melodia favorita deles, lembrando das vezes em que haviam dançado aquela mesma canção.

Enfim de tudo o que há na Terra
Não há nada em lugar nenhum
Que vai crescer sem você chegar
Longe de ti tudo parou…
Ninguém sabe o que eu sofri!

Aqueles acordes que tantas vezes embalaram as noites de amor e agora embalavam apenas lembranças.

Chorou ao relembrar sua alegria que tanto dava à casa o calor da juventude, como ele gostava de falar, das festas que davam apenas para os dois. Das vezes em que ele voltava da pescaria animado por ter tido mais um bom dia de trabalho ou das vezes em que ele voltava animado por não ter tido um bom dia de trabalho, mas ainda ter fé que o dia seguinte seria melhor.

Agora a casa não tinha vida, não tinha ânimo, não tinha nada em canto algum, vazia como seu peito. Até mesmo do cheiro do peixe fresco que ele trazia em seu barco sentia falta, por mais incrível que fosse parecer e se arrependeu de cada reclamação.

Pensou nos planos, nos sonhos que haviam sido interrompidos quando ele se foi. Era como se a vida tivesse parado sem ele, só o tempo continuava em seu curso normal, tentando lhe mostrar que não pararia só porque Gaara havia perdido alguém, mas ele se recusava a continuar.

Que graça aquilo teria? Nenhuma! Sua vida havia parado longe dele, por mais que todos achassem que era um exagero seu, que ninguém lhe entendesse, apenas ele sabia o quanto estava sofrendo.

Era seu grande amor, o único que em 30 anos o amou como era, aceitando suas qualidades e defeitos, permitindo a ele amar também os seus, se completando de uma forma única.

Era com ele que enxergava a vida colorida e agora só conseguia ver o azul do oceano, agora turvo pelas lágrimas que aumentavam seu fluxo ao chegar no refrão da música.

Amar é um deserto e seus temores
Vida que vai na sela dessas dores
Não sabes voltar, me dar teu calor!

Não tinha mais Lee e nem mais seu calor. Tinha a água, ali tão próxima, mas ainda assim se sentia seco de amargura. Agora temia o deserto em se via, o frio que sentia sem seu abraço, sem sua proteção, sem ele.

Respirou fundo, tentando sufocar as lágrimas, tanto quanto estava sufocando a si próprio. Ele não queria chorar, não mais, afinal, as lágrimas não o fariam voltar, não o trariam de volta, mas também não tinha a coragem de prosseguir. Mesmo sabendo que era isso o que ele queria, não tinha a força de Lee, aliás, não tinha força alguma sem Lee, e foi por isso que se rendeu ao desejo de vê-lo novamente, de estar com ele, mesmo que sua atitude fosse fruto de uma vaga esperança, estava decidido, ela era a única forma de vê-lo mais uma vez.

Acariciou o retrato uma última vez, beijou-o bem na imagem de seu amado, depois encerrou o toque da música. Antes de ser desligada, a vitrola entoou o último verso:

Vem me fazer feliz porque eu te amo
Você deságua em mim, e eu, oceano,
Esqueço que amar é quase uma dor...

...

Amar alguém que já havia partido era de fato dor, machucava fundo, era um mar de angústia que desaguava em seu oceano próprio de saudade, a mesma saudade que o impediria de ser feliz, uma vez que por mais que pedisse e implorasse ele não voltaria.

Foi até a areia, sentiu de perto o cheiro do mar e em seus pés o calor da areia aquecida pelos raios de sol, recordando das vezes em que ali estivera o vendo partir e também o vendo retornar para casa.

Sentiu um arrepio ao olhar para o horizonte e não ver seu barco, era a mesma hora de sempre, porém, mais uma vez ele não voltaria. Uma vez naufragado, o barco não voltaria à superfície. A morte era um caminho sem volta, não havia retorno, apenas um caminho de ida que Gaara estava disposto a tomar.

Vagarosamente molhou os pés na gélida água, mas isso não o fez desistir, estava acostumado com o frio de sua alma, por isso continuou a caminhar em direção ao horizonte. As gotas de suas lágrimas se misturavam ao mar, o salgado da maresia ao amargo de sua boca, a imensidão da dor que sentia em seu peito à imensidão de água.

— Só sei viver se for por você! - cantou antes de ser atingido por uma forte onda que o derrubou.

Por instinto, se debateu, demonstrando o desespero de alguém que não sabia nadar. A água irritava seus olhos, sua visão turva aos poucos se tornava negra como os olhos de Lee.

Lee, num fio de loucura, talvez, viu o rosto do falecido pescador lhe sorrindo como sempre, por isso, mesmo submerso sorriu, se permitiu levar pela correnteza, as mesmas águas que lhe tiraram seu amor lhe levariam até ele, por isso ficou em paz, se permitiu ir.

O ar já não existia em seus pulmões, aos poucos sua consciência, assim como sua vida se esvaia, aos poucos, tal como Lee, se tornava uma vítima do mar.

A música na vitrola encontrava seu triste fim, se tornando silêncio, ao mesmo tempo que, enfim, Gaara se tornava oceano.

Feb. 27, 2018, 1:02 p.m. 6 Report Embed Follow story
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The End

Meet the author

Tatu Albuquerque Mãe de Konohamaru, madrinha de Hanabi, adepta da Fé do Sagrado KonoHana. Você tem 5 minutos pra ouvir a palavra da minha igreja? Kaiten no cu e gritaria, kore!

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Ariane Munhoz Ariane Munhoz
AAAAAAA EU SURTEI LENDO A PRIMEIRA VEZ E TO SURTANDO DE NOVO AQUI COM ESSA FIC PRECIOSA! E não pense que eu não vi o link de deserto perdido ali no meil! Eu to muito realizada! A estruturação da narrativa ficou bem mais gostosa de ler, eu vivo te dizendo isso, mas você evolui muito rapido! Adorei relembrar cada pedacinho da história. A gente tem que fazer mais fics complementares sim! Te amo, esposa linda!
September 13, 2018, 10:34
Fox Bella Fox Bella
E a Juliane destruidora decorações vem com Oceano.... Tinha que dar tiro assim? Na alma? Só não me comove mais pois eu gosto desse final. Mesmo ele sendo triste!
March 09, 2018, 21:40

  • Tatu Albuquerque Tatu Albuquerque
    TIRO FOI A CAPA QUE VOCÊ ME MANDOU AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA EU TÔ MUITO FORA DE MIM March 09, 2018, 22:04
  • Fox Bella Fox Bella
    AHHHHH! EU JURO QUE TENTO SER CARA DE PAU MAS AS VEZES EU FICO ENVERGONHADA! TIPO AGORAAAAA! March 09, 2018, 22:07
  • Tatu Albuquerque Tatu Albuquerque
    Coisa linda, pera que eu vou trocar aqui! March 09, 2018, 22:14
  • Fox Bella Fox Bella
    Juliane, não basta me quebrar o coração agora quer me fazer ficar envergonhada! Vê se pode! March 09, 2018, 22:26
~