alicealamo Alice Alamo

Quem disse que seria fácil, não é mesmo?


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#Drama #Estudo #Vida #Pressão
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Capítulo Único


Com o despertador tocando as seis da manhã, você se levanta. O sol talvez já esteja entrando através das cortinas, e o vento as esteja balançado para te lembrar que se esqueceu, mais uma vez, de fechar as janelas durante a noite. É... Mas como lembrar? Não, não tinha como. Você foi dormir às duas, quase três da manhã, depois de se levantar da cadeira e rastejar até o quarto. A cama simplesmente te abraçou nesse processo e, ali, você adormeceu sem ligar para a luz acesa ou as janelas abertas.

O café desce pela boca, e você nem sente mais o gosto. A única coisa que te importa é acordar logo, embora sua real vontade fosse dormir.

Foco! Você não acordou às seis com aula só às nove para voltar a dormir. Não! Você tem que sentar na mesa, onde o seu material, o mesmo de horas atrás, te aguarda. Automaticamente, você liga o computador enquanto engole um pedaço de pão. A bagunça de papéis e canetas te irrita, mas você está cansada demais para se preocupar com isso.

As letras aglomerados no PDF talvez fizessem sentido para alguém, mas não para você. Ali, você só lê palavras sem sentido que podem, quem sabe, trazer alguma informação nova.

Seu estudo não rende, você está cansada, decide voltar a dormir até às oito. Quando acorda, amaldiçoa-se por ser tão preguiçosa e não ter realmente estudo. Que feio.

As buzinas ao redor do seu carro te irritam. Você dirige para a faculdade no automático, sem notar como o céu está azul e limpo. Não importa. Nada importa. Se algum acidente acontecesse, você seria mais um porque, imersa no piloto automático, não desviaria dele.

O estacionamento está à sua espera. Mesmo caminho, mesma vaga, mesmo som do alarme ao trancar o carro.

As escadas já te trazem desânimo. O corredor até a sala só te lembra que você estudou a matéria X, mas não revisou a matéria Y. Que feio. Seus amigos conversam ao redor sobre bobagens, sua mente se desliga enquanto tenta se divertir com aquele momento de folga.

Folga? Por que você não está aproveitando para estudar? Já não basta ter dormido de manhã? Agora vai perder tempo com conversas bobas? Que feio.

As aulas passam maçantes. Ou talvez seja seu cansaço que não te deixa assistir. Não importa. Nada importa.

Os slides lotados de conteúdo te impedem de copiá-lo. A fala do professor é rápida, você já não o acompanha e, de repente, não há mais nada ali para você. É um ouvinte, não um estudante.

Os ponteiros do relógio giram tão devagar que você tem vontade de, manualmente, girá-los e fingir, assim, que o tempo passou e que pode se levantar para ir embora.

Talvez se você fosse para a biblioteca... Para quê? Para estudar ouvindo música? Para, às vezes, abrir um site de entretenimento? Não, não, isso não é estudar! Fique na sala. Ouça a aula que não entende. Copie o slide pela metade. Seja mais um ouvinte e finja não invejar aqueles que estão agora dormindo.

O almoço te trás certo alívio. Você come sem pensar muito, permite-se rir e caminhar com os amigos, mas revira os olhos quando eles perguntam sobre o que é a próxima aula.

Aula até às 17. Só de imaginar, você sente preguiça. Que feio.

Ao dirigir para casa, uma onda de felicidade de atinge. Você aprecia a sensação de estacionar o carro na garagem e não estar mais na faculdade. Quer dizer, até entrar no apartamento vazio. Sozinha. Sem família para te receber, sem seu cachorro para latir, sem suas coisas para te fazer sentir-se em casa, sem ninguém para contar seu dia horrível.

Você caminha para o quarto e se joga na cama. A vontade de permanecer ali e não mais se levantar aumenta a cada segundo. Talvez, se você sumisse por um mês, se fingisse que não possuía vida por trinta dias, talvez tudo voltasse a ter cor, tudo deixasse de ser preto e branco com poucos momentos coloridos.

Mas não pode. Você tem um apartamento, certo? Sim. E isso quer dizer que tem contas a pagar. Então, você se levanta, prepara um café e se senta à mesa. Horas e horas trabalhando. Talvez, às nove horas da noite, você comece a estudar. É. Não, não, você primeiro toma um banho, engole uma maçã enquanto separa os livros e, só então, começa. Nisso já são quase dez.

Seu corpo chora, pede para que você descanse, para que mude essa rotina exaustiva, mas você tem prova naquela semana! Quatro provas! Então, nada disso, estude! Estude até que os olhos encham de lágrimas e a garganta se comprima porque você quer desesperadamente dormir, estude até que durma em cima do próprio computador e perca a hora na manhã seguinte para, então, se martirizar por isso também, estude para ouvir seus colegas que colam se vangloriarem por terem notas maiores, estude para o professor exigente te zerar porque faltou um ou outro detalhe na sua questão, estude para ouvir dos outros "mas você sabia que esse curso não era fácil".

Com isso, às três da manhã, você rasteja de volta ao quarto. Dessa vez, você se lembra de apagar a luz. Senta-se na cama, no cantinho, e aperta a coberta contra o corpo enquanto as lágrimas escorrem pelo rosto. Nem mesmo o choro é forte, ele é silencioso, como se até ele estivesse com preguiça de se exteriorizar.

E, assim, você dorme.

Quer dizer, dorme até que o celular te acorde novamente às seis para que todo esse inferno se repita de novo e de novo.

Feb. 26, 2018, 10:12 p.m. 1 Report Embed Follow story
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The End

Meet the author

Alice Alamo 24 anos, escritora de tudo aquilo em que puder me arriscar <3

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Artemísia Jackson Artemísia Jackson
Críticas: ADOOOOROON! Muito boa como sempre, MARAVILHOSA, que coisa essa Alice não erra uma... Como vou deixar de ser puxa saco desse jeito meu? Tá difícil parar de te bajular kkkkkk muito boooom, não sei como essas pérolas suas não tem mil curtidas... Parabéns e obrigada mais uma vez! PS: sempre parabenizo porque você merece, e agradeço porque acho importante agradecer quem faz um trabalho tão lindo como escrever e fazer as pessoas refletirem. É um trabalho nobre, com o qual me beneficio, então acho super justo agradecer!
July 04, 2019, 03:19
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