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Jasmin/Jazz-min (ou je t'aime mon coeur)

Jasmin/Jazz-min (ou je t'aime mon coeur)



Eram seus olhos cor de amêndoa, seus brincos dourados de argola ou sua alma e fala castelhana? Não sei, mas algo nela me fisgava de uma forma indescritível. Eu sonhava acordado pensando no que exatamente havia me feito morrer de amores por ela, até que seus lábios vermelhos, sujos de vinho, se abriam para dizer algo que certamente iria me maravilhar. Ela olhou para o céu escuro da noite e apontou para um conjunto de estrelas que brilhava alto longe, sem tirar seus olhos do céu me perguntou se eu sabia o que era aquele conjunto de estrelas, respondi lhe dizendo que não sabia, ela rapidamente mirou meus olhos e explicou "aquelas são as três Marias, elas formam o cinturão de Órion e fazem parte da constelação de Órion, aquela bem ali" disse enquanto apontava para cada estrela no meio daquela noite digna de um paraíso onírico. Nem em meus mais belos sonhos eu imaginaria aquele cenário, a mulher mais linda que já tinha transpassado minhas pupilas ao meu lado após bebermos vinho enquanto conversávamos e olhávamos as estrelas. Nada mais bonito que isso. Não, minto, há sim algo mais bonito que isso, ela em sua mais pura essência. Para te ser sincero eu nem sabia se era digno daquele momento, algo lá nos céus, talvez em meio àquelas estrelas havia tomado a decisão de que nessa noite, eu viveria algo tão singelo mas ao mesmo tempo tão bonito, que jamais escaparia da minha mente. E muito era por causa dela.


Nosso amor era novo, e talvez justo por causa dessa novidade, cada instante que passávamos juntos era incrível e valia o mundo, cada pedaço de tempo que gastávamos um perto do outro era cheio de beleza, como ler poesia no cair da noite. Como é belo um amor no início, as fagulhas de uma paixão recém construída, a novidade que ainda existe de forma potente no outro, ilustrada naqueles momentos em que você decide mostrar uma música que gosta para a pessoa e espera que ela também goste, em que ela te apresenta a um novo artista, em que vocês assistem um filme novo juntos, as longas conversas, os olhares enamorados, tudo, tudo, tudo. Minha memória é muito boa, sempre foi, as vezes isso é bom mas as vezes é terrível pois certos eventos traumáticos jamais se despedem de mim, eles sempre retornam, mas se tem algo vívido e cristalino na minha memória, além de seu olhar lancinante, é seu aroma, o perfume dela que lembrava flores de jasmim. É o tipo de coisa que jamais se esquece, dessas coisas simples mas que sempre se mantém vivas dentro de nós. Tenho certeza que em minha velhice poucas coisas poderão ser de fato lembradas, mas é certo que terei o toque introspectivo do violão de João Gilberto, o som do saxofone de Coltrane, o vibrante trompete de Miles Davis e o cheiro de jasmim dela marcados em minha mais longínqua memória.


Aquela noite, em que sentávamos na grama e mirávamos o céu repleto de estrelas também ficará gravada em minha mente, a noite era bela mas ela estava muito mais linda, do jeito que nenhuma outra mulher na Bahia de São Salvador pensou em estar, naquele dia nada reluzia mais que ela, nem mesmo as três Marias, a constelação de Órion ou qualquer estrela lá em cima, pois ali, ela tinha luz própria, uma luz incandescente, uma luz poética, uma luz que me deixava vidrado. Eu não era um grande conhecedor das constelações e dos astros, diferente dela que cresceu sabendo tudo que podia sobre essa área, o máximo de conhecimento que eu tinha era sobre músicas velhas, livros empoeirados e futebol, (esse último ítem era muito por causa da minha família) mas aquela mulher era uma verdadeira fonte de saber. Eu confessei que não sabia muita coisa sobre astronomia, astrologia ou qualquer coisa envolvendo astros, mas eu tinha algum pouco conhecimento sobre outras coisas, ela riu e questionou "e sobre quais coisas você sabe?" Eu então lhe disse que há poucos meses tinha começado a fazer um curso de idiomas, mais especificamente de francês (tudo porque queria entender algumas músicas que eu escutava, Manu Chao não facilitava tanto em suas letras), o assunto de idiomas muito interessava ela, afinal havia passado um tempo morando na Andaluzia na Espanha, e além disso também sabia falar inglês muito bem, e eu sabia de tudo isso naquele momento, ela fez uma expressão de leve surpresa e perguntou "olha só hein, já sabe falar francês, então por quê não me fala uma frase em francês?" Eu abri um sorriso largo e vi ali a oportunidade de mostrar uma frase especial, uma das poucas que eu sabia de fato sem dificuldade, (e que Manu Chao havia me ajudado a aprender) olhei dentro de seus olhos cor de amêndoa e ainda meio envergonhado disse "je t'aime mon coeur". Um silêncio se estabeleceu por alguns poucos segundos após minha frase em francês, eu não sabia se ela tinha entendido ou não, o que ela tinha pensado, quando ela perguntou "e quer dizer...?" Respondi "eu te amo meu coração". Então pude perceber um sorriso pequeno que ela até tentou disfarçar mas não foi capaz de esconder, o sorriso foi crescendo e fomos nos aproximando, talvez tudo fosse pelo vinho que havíamos tomado, talvez não, mas naquela noite senti da forma mais intensa o sabor de seus lábios ainda levemente melados pelo vinho, e foi sublime, como jamais poderia imaginar. Em uma noite repleta de estrelas, em um paraíso onírico.

Aug. 16, 2022, 6:46 a.m. 0 Report Embed Follow story
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The End

Meet the author

Diego Fernandez Um rapaz do sul da América, com sonhos e aspirações. As vezes punk, as vezes beatnik, as vezes marginal mas sempre poeta.

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