Short tale
1
1.0k VIEWS
Completed
reading time
AA Share

Foi no pagode que surgiu a proposta. Ela e uma amiga, Cláudia*, receberam o convite tentador de Rosana, uma mulher que conheceram nos bailes. Elapropôs que as amigas fossem para Israel, trabalhar como garçonetes em um restaurante brasileiro. O salário: US$ 1.500 por mês. “Era muito mais do que eu poderia ganhar com as minhas faxinas”, diz Luísa. “Se eu ficasse lá um ano, daria pra juntar o dinheiro para realizar o sonho de comprar uma casa. Aceitei.”

Antes de embarcar, Rosana mandou Luísa e Cláudia comprarem roupas longas e discretas. “Ela falou pra gente levar bastante saia comprida, porque em Tel Aviv não se podia andar muito à vontade, então ”, diz Luísa. “Não desconfiamos de nada.” Tiraram passaporte, receberam a passagem de ida e algum dinheiro adiantado. As duas não sabiam dizer nem meia dúzia de palavras em inglês, tampouco de hebraico. Nunca tinham saído do Brasil, mas não se intimidaram. No aeroporto, diante dos cartazes da Polícia Federal que alertavam para o crime de tráfico humano, nenhuma das duas se identificou com a mensagem. “Naminha cabeça, eu estava indo trabalhar fora para conseguir o melhor para os meus filhos. Nunca imaginei encontrar aquela cena que encontrei quando cheguei”, diz Luísa.

Ao sair do aeroporto em Israel, as amigas tiveram que entregar seus passaportes para os israelenses e foram separadas.Luísa foi imediatamente levada para um prostíbulo. “Olharam para mim e me disseram: ‘Troca de roupa e vai trabalhar’. Comecei a chorar, desesperada. Mas as outras brasileiras que já trabalhavam na boate me disseram para não me recusar, porque eles iriam me bater, me deixar com fome, ou até sumir comigo. As meninas me maquiaram. Coloquei um shortinho e um sutiã e fiquei no sofá do salão, exposta como mercadoria.”

Sentada naquele sofá de cabaré,Luísa começava a entender que Rosana não era uma colega de danceteria. Era aliciadora de uma das muitas quadrilhas que, todos os anos, levam centenas, mesmo milhares, de brasileiros para o exterior, iludidos pela promessa de trabalho garantido e bem remunerado. Para ganhar os US$ 1.500 mensais que lhe foram prometidos, ela teria que fazer sexo com 20 homens por noite. “Eu nunca tinha sido garota de programa, era tudo muito nojento. A boate abria até aos sábados, que é um dia santo para os judeus. No primeiro mês, eu fazia programa com 6, 7 homens por noite e tudo o que consegui foi 600 dólares, que enviei para minha mãe”, diz Luísa. “Eu e Cláudia só pensávamos em dar um jeito de escapar dali.”

Feb. 6, 2022, 7:54 p.m. 2 Report Embed Follow story
0
The End

Meet the author

Paulla Oliveira Sou a Paulla , desing de interiores e escritora nas horas vagas ! Carioca e aquariana sempre se inspirando em algo que me envolva profundamente .

Comment something

Post!
No comments yet. Be the first to say something!
~