fonsecaigor Igor Fonseca

O Novo Chris traz o filho do Todo-poderoso em um incrível drama adolescente de ensino médio. E se um novo Cristo voltasse hoje em dia? Porém, esse não é um Cristo qualquer. Mas um adolescente de 16 anos que além de lidar com os hormônios em ebulição, deve enfrentar a enorme responsabilidade de ser o novo Messias. Em O Novo Chris, acompanhamos a jornada, as dúvidas e as inseguranças de um jovem que observa seu importante destino se materializando na sua frente. E quando se vê obrigado a usar seus poderes latentes num caso de vida ou morte na escola, passa a ter o grande segredo da sua origem ameaçado. As incertezas de Chris em ser o novo Messias ficarão evidentes. Afinal, ele quer ser apenas um adolescente comum. O que é impensável para quem é, nada mais nada menos, que o filho do Todo-poderoso. Exploramos os caminhos e as difíceis escolhas que Chris precisa tomar, para se transformar na pessoa que ele nasceu para ser. Tudo isso no meio do turbilhão de hormônios, e das típicas experimentações da puberdade; que acabarão refletindo nos seus poderes, os quais ele agora, começa a entender e dominar. Transformando o Colégio Coração Imaculado num grande palco para: descontrole, emoções à flor da pele, adolescentes se descobrindo e enormes barracos. O Novo Chris é o primeiro livro da série de drama de ensino médio, cheia de humor e sagacidade, que discute religião, puberdade e sexualidade no Brasil; perfeita para os fãs de Sex Education e SKAM. Em seu livro de estreia, Igor Fonseca faz um recorte contemporâneo e inovador da juventude de um novo Cristo. Pegando o maior ícone pop, e o inserindo no maior gênero pop: o drama adolescente de ensino médio. Uma incrível história de formação na qual as forças da religião e adolescência estão em seu cerne. Trazendo assuntos sérios para discutir e refletir, mas sem deixar o bom-humor de lado. Que emociona e faz rir na mesma proporção. Acompanhe a jornada completa de Chris na Amazon.com.br e no Kindle Unlimited


Teen Fiction Not for children under 13.

#sexeducation #puberdade #religião #sexualidade #messias #adolescência #lgbt #lgbtqiap+ #crescimento #milagres #romance #descobertas #barracos #skam #brasil #escola #ensinomédio
0
1.0k VIEWS
Completed
reading time
AA Share

A Cura

Christiano observa as árvores que passam como um borrão. Sua mãe, Esther, dirige com uma inquietante tranquilidade, numa constância que ele nunca consegue compreender. Como ela pode não estar apreensiva com tudo que pode acontecer dali em diante, como ela pode sempre manter o equilíbrio? Uma complexa fusão de sentimentos, sinuosos como a estrada que o automóvel margeia, borbulha dentro de seu mirrado ser adolescente de dezesseis anos. Christiano sabe que a partir daquele momento tudo pode mudar, é um caminho sem volta.

Nesse ínterim, na casa de Raquel, suas duas filhas, Maria Clara e Maria José, banham o corpo inerte da mãe, passando um pano úmido em todas as reentrâncias, com a destreza de quem está acostumada com o complexo ritual. O quarto de Raquel é austero, desprovido de luxo, com antigos móveis de madeira e uma grande cama de casal. Um solitário crucifixo adorna a parede branca, dando ao local uma aparência quase monástica.

Maria Clara estende mais um grosso cobertor sobre o corpo magro da mãe, deixando apenas seu rosto do lado de fora, um semblante que ela conhece tão bem, numa eterna expressão de serenidade, há quase seis anos. Desde o terrível acidente que mudou suas vidas e deixou Raquel naquele estado vegetativo. Uma mão branca e esquálida escapa por debaixo dos cobertores. Maria José senta-se ao lado da mãe e toca seus dedos magros e imóveis. Do outro lado da cama, sua irmã gêmea a observa com uma mistura de ansiedade e preocupação. As duas abaixam a cabeça e rezam.

Christiano contempla a casa através da janela fechada do carro, é uma bonita construção de dois andares no arborizado subúrbio daquela cidadezinha do interior. Esther se agiganta na frente do filho, tapando sua visão. Sua voz chega abafada.

— Vamos — ela diz.

Christiano sabe que a mãe já está no seu modo altivo e imponente, uma conduta que sempre utiliza com pessoas que possuem o mínimo de conhecimento da sua história. Ele também entende que esse é o seu mecanismo de defesa, ela precisa disso para lidar com tudo que já aconteceu e que pode acontecer. O menino sai do carro e direciona-se para a entrada. A noite está atipicamente amena para o verão escaldante que costumeiramente faz no começo de fevereiro, uma brisa fria lambe seu rosto e seus cabelos cacheados.

Parada em frente a porta da casa, Esther observa o filho, que abre e fecha a mão junto ao corpo, numa tensão evidente. — Fica calmo, você sabe o que fazer. Eleva seus pensamentos.

Ele aquiesce com seriedade e Esther o tranquiliza. — Você já fez isso e você–

— Nasceu pra isso. Eu sei, mãe.

Christiano olha para a mãe e abre um leve sorriso, num ínfimo momento de cumplicidade. Ele se vira para a casa e respira fundo, com uma confiança vacilante. Chegou a hora, não tem como voltar atrás. Esther aperta o botão da campainha, e um som cadenciado ecoa até o quarto no segundo andar. Maria José troca olhares ansiosos com a irmã, e retira a mão que repousava sobre a mão de Raquel. Ao sair do quarto, Maria Clara dá uma última olhadela na mãe.

A porta da frente da casa se abre, o sorriso duro de Maria Clara denuncia seu nervosismo. Seu olhar, inevitavelmente, vai de encontro ao adolescente. Ela demora um segundo para verbalizar o que está pensando, apreensiva com tudo que está acontecendo.

— Boa noite, Esther. Podem entrar.

Esther coloca as mãos nos ombros do filho e o guia através da entrada. Christiano abaixa a cabeça, envergonhado; e ao passar por Maria Clara, rapidamente encara o rosto da mulher, que em nenhum momento tirou os olhos dele.

Na sala, Christiano se depara com uma parede repleta de crucifixos, uma horrenda composição que parece ter saído direto de um filme de terror. Ele olha para mãe com alarme, e Maria José se precipita numa saudação. A mulher é a cópia perfeita da irmã, e assim como ela, está usando um simples vestido estampado com um cardigan insosso. Juntas, elas provocam a estranha sensação de gêmeas que estão velhas demais para se vestirem de maneira parecida. — É um enorme prazer te conhecer, Christiano — ela fala.

A excitação das mulheres é palpável, elas olham para o adolescente com uma mistura de espanto e admiração.

— Chris. Vocês podem me chamar de Chris.

Maria José abre um sorriso para o jovem. — Estamos muito gratas por tudo que você está fazendo por nossa mãe, Chris.

— Eu ainda não fiz nada.

Uma tensão se instaura com a resposta direta do adolescente, e todos se entreolham com um sorriso amarelo. Percebendo a situação, Esther rapidamente se interpõe. — Vamos então.

Ela coloca novamente as mãos nos ombros do filho, mas agora, ele vacila com o súbito toque da mãe. Os dois seguem as gêmeas por um lance de escadas.

No soturno corredor, Maria Clara gentilmente abre a porta do quarto da mãe. Um facho de luz recaí sobre o olhar atendo de Chris, que tem um vislumbre do corpo de Raquel pela primeira vez. Conduzido por Esther, Chris adentra o quarto. A mulher deitada na cama parece morta, o rosto macilento marcado pelos prolongados anos do estado de coma. Esther solta os ombros do filho e aproxima-se da mulher doente.

— Filho, essa é Raquel, você não se lembra, mas ela o conhece desde criança. — Esther demora-se observando o rosto envelhecido da amiga. Quando ela se vira, fala com a altivez e certeza habituais. — Agora é com você. Você consegue e eu te amo. — Esther abraça o filho e passa a mão em seus cabelos cacheados.

Acompanhada pelas gêmeas, Esther se direciona para a saída do quarto. Maria José aquiesce esperançosamente para Chris, antes de deixa-lo sozinho com a mãe moribunda.

Naquele momento, naquele quarto estranho e com aquela mulher desconhecida, Chris se sente desamparado e indefeso. Ele volta o olhar para a modesta cruz de madeira acima da cama, e espera inutilmente por um sinal.

As mulheres descem as escadarias e aguardam no sofá da sala. Maria José se levanta, angustiada, e vai em direção a escada.

— Não entra — alerta a irmã gêmea.

Chris aproxima-se de Raquel e senta-se em uma das cadeiras adjacentes a cama. De perto, ele perscruta as minúcias da mulher. Ela deve ter mais de cinquenta anos, mais velha que sua mãe com certeza, ou talvez esteja apenas abatida pelas desfavoráveis circunstâncias na qual se encontra. Pela primeira vez, Chris sente uma pontada de pena. Quem é essa pessoa tão importante pra minha mãe que é capaz de fazê-la se arriscar tanto assim? Arriscar o grande segredo que compartilhamos.

O jovem nota a mão esguia da mulher para fora dos cobertores. Ele respira fundo, esfrega as palmas das mãos nas coxas cobertas por um jeans desbotado, e coloca a mão sobre o membro ossudo de Raquel. Ele sente o calor que emana do corpo da mulher. Chris olha para cima e sussurra. — Por favor.

Um inquietante silêncio perdura na sala, apenas interrompido pelo intermitente som do relógio de parede. Maria Clara olha em direção ao quarto da mãe no segundo andar, a mulher vira-se para Esther e dá um sorriso carregado de preocupação. Esther apieda-se e segura a mão de Maria Clara com carinho.

Enquanto isso, Maria José anda de um lado para o outro no corredor em frente ao quarto da mãe, e por vezes, detém-se em frente a porta fechada. Ansiosamente esperando por uma resposta que demora a chegar.

A maçaneta do quarto gira com um rangido, e um Chris sério sai para fora da porta. Maria José olha para o semblante do menino com uma expectativa que não cabe dentro dela.

Chris desce as escadarias acompanhado de Maria José, ele está cabisbaixo e não consegue disfarçar a decepção estampada na cara. As gêmeas se entreolham e Maria José faz uma leve negação com a cabeça. Isso é tudo que sua irmã precisa para compreender o que acabou de suceder.

Esther abre os braços para o filho, num abraço mais que necessário, e, por um fugaz momento, Chris se aproxima. Mas o orgulho fala mais alto, e no último instante ele hesita. Isso é culpa dela. Ela que o obrigou a entrar nesse tipo de situação desagradável, com a perpétua certeza e confiança inabalável de saber quem ele é. No entanto, ela está enganada. É isso o que Chris anseia acima de qualquer coisa, que sua extraordinária existência seja um enorme equívoco, que ele não seja, verdadeiramente, o novo Messias.

Jan. 20, 2022, 7 p.m. 0 Report Embed Follow story
0
Read next chapter O Primeiro Dia

Comment something

Post!
No comments yet. Be the first to say something!
~

Are you enjoying the reading?

Hey! There are still 2 chapters left on this story.
To continue reading, please sign up or log in. For free!