johnathan-silva-oliveira Johnathan Silva Oliveira

Uma mulher e dois homens_ três amigos, três irmãos. Mas um deles quis algo mais, arruinando tragicamente a bela relação. Um conto separado que compõe, juntamente com outros capítulos, um compêndio de crônicas intitulado 'A noz dourada'. Tonka e Azhola são as primeiras sementes de uma árvore que ninguém faz idéia do quanto vai adquirir proporções gigantescas.


Romance Romantic suspense For over 18 only.

#tales #erotic #love #poetic
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A esposa de Nigrus

Uma cena de aspecto constrangedor, desenrola-se à beira da lagoa, onde outros membros do clã da noite ainda dormiam. Tratava-se de Tonka, Avellana e Nigrus. Este último observa ao seu lado o casal de amantes trocando olhares, que ele julga acertadamente serem motivados pelo calor das paixões internas. A mulher, de perfil sensual e tímido, alfinetou-lhe o coração contra a sua vontade, pegando-lhe de surpresa. Ele se vê injustiçado por desejar um prêmio que não mostrara chances iguais de poder ser seu. Assaltado por um repentino conflito interno, a dor do orgulho ferido fala mais alto, impelindo Nigrus a se retirar antes de presenciar algo mais.


A formosa negra que espreguiçava-se sobre as pernas dobradas, dirigi-se ao jovem do seu lado:


— Minha pele queima. A tua também?


— Sim! Sinto-me seco e quente.


Ambos olham à frente e notam as estrelas espelhadas em um corpo d'água. O mancebo estava até então abraçando as pernas cruzadas à frente do peito, mas o estimulo que o brilho da água lhe dava fez com que se levantasse e, estendendo a mão para a moça, lhe sugere:


— Precisamos nos aguar. Tu vens comigo?


A virgem esquadrinha todo o corpo viril daquele alazão. Tudo nele era aprumado: desde as longas e flexíveis pernas aos ombros largos e pescoço firme. Ela aceita o suporte daqueles braços e os dois seguem ao lago, aonde outros parecem também se dirigir.


O casal começa a brincar com a água, espirrando-a com as pontas dos pés e, consentindo mutuamente com a brincadeira, eles refrescam um ao outro. O varão abaixa-se um momento e colhe um pouco da lama, para logo após umedecer timidamente os braços dela.


— Passa-me mais para abrandar meu calor.


Ele atende rapidamente, juntando uma boa porção naquelas mãos espalmadas de dedos longos. Ela nota que, embora seus músculos fossem tesos, o seu toque era brando e seu olhar amável.


— Parece que nossas árvores estão na estação dos frutos maduros, pois as polpas estão inchadas de sumo, e o talo já está seco e rígido...


As mãos dele logo se deixam guiar pelas dela, cujo seio reage e encrespa ao acolher os grandes palpos do moreno. Um leve sono ainda está encerrado em seu íntimo, mas sua derme acorda percorrida por um calafrio estranho. A pequena ruga dos largos frutos retesa completamente, e nem sequer oscilam com o vigor daquele tato gentil. A pupila dos olhos, já imensamente dilatada, parece apagar as luzes, prefigurando a intimidade. Ele inclina-se sobre ela como uma esbelta palmeira arreada de beijos, que meigamente caem-lhe no submisso pescoço. Em retribuição, ela começa a assimilar o relevo dos moldes masculinos: as ondulações das costas, os dois nacos de músculo no fim do lombo, o ventre contraído, a propulsão dos quadris, as fibras retesadas da coxa, os braços que seguramente a envolvem. Tudo comunica amor aos dedos dela, principalmente o inflamado acúleo inaugurando o abrigo da carne feminina. Por fim, a erupção das estrelas conclui o enlace dos amantes.


O jovem, ainda arfando, faz essa observação:


— Teu cheiro continua abrindo meu apetite.


— Tu tens o mesmo cheiro e o mesmo efeito sobre tua irmã.— torna-lhe a mulher ofegante.


Não chegam sequer a recuperar o fôlego e logo mergulham nas águas, numa troca de frescor com a lagoa, em que doam e perdem fluidos.


A aurora rompe as pálpebras descansadas, fazendo-o virar a face ao encontro do sorriso dela. Sob o estímulo dos afagos, ele recosta novamente a cabeça no colo da mulher.


Outros pares adormecidos também se remexem nos tufos de grama, mas o aconchego dos ninhos não cede ao hálito da manhã que ainda orvalha seus corpos.


Posteriormente, Tonka e Avellana tornam-se muito amigos daquele que, nem sequer imaginam, tem ressentimento e ciúmes deles dois. Nigrus de algum modo, conseguia assustadoramente esconder os sentimentos hostis que sentia por Tonka, e disfarçava com tensão amarga os impulsos apaixonados que nutria por Avellana.

O casal estabelece publicamente o laço conjugal, debaixo da árvore de castiro que deu nome à raça. Nigrus chega no exato e momento e profere um inesquecivel discurso, felicitando e abençoando a união do casal.


A impressão que a deferência de Nigrus causou, deixou no coração de Tonka e Avellana, no mínimo, um sentimento de gratidão e amizade. Isso criou entre os três um forte vínculo, que para muitos era bonito de ver, mas não para todos. Geode, por exemplo, comentou com a esposa sobre a curiosa conversa que ele teve com uma flor.

_ Que estranho! E você viu que planta era?

_ Não deu pra ver. Tinha muito mato em toda volta. Mas de uma coisa te garanto: esse tal de Nigrus parece ser muito solitário, eu diria até amargurado. O porquê, eu não sei.

_ Então, talvez seja até bom, que Tonka e Avellana acolham ele dessa maneira. Pode ser que esses sentimentos de solidão desapareçam com o tempo.

Ela pouco adivinhou sobre o assunto. Por outro lado, Geode, no íntimo do subconsciente, deduzia algo que chegava perto da verdade. Pois ele ouviu pessoalmente o tom da voz de Nigrus e viu o olhar de suas expressões. Guardava, no entanto, seus palpites apenas para si. Sendo forasteiro, não queria parecer ingrato à recepção que todos lhe deram calorosamente.

A união entre os três amigos cresceu tanto, que faziam quase tudo juntos, incluindo as refeições. Tonka e Nigrus criaram um forte hábito de sempre irem caçar e fazer a coleta das provisões em companhia um do outro. Avellana ficava com as outras mulheres, com quem fez amizade, tecendo objetos de palha de carnaúba, a mesma palmeira que Geode usou para fazer suas roupas. Inclusive, foi uma das primeiras coisas que quiseram aprender dele. Dessa mesma palha, também aprenderam a construir taperas, depois de uma chuva fora de estação. As cabanas de Tonka e Avellana, eram previsivelmente, ao lado da cabana de Nigrus.


Em um dia costumeiro, em que os dois amigos saíram à caça de alimentos, Avellana chamou algumas amigas para nadarem no lagoa. Tratavam-se de Aysha, Attalea e Azhola, que junto com Avellana, formavam os 'As', como Geode as apelidou. As quatro gostavam muito de nadar, e tornaram-se muito boas na prática, especialmente Azhola, que recebeu o nome em vista disso. A lagoa era mais precisamente um igapó de formato indefinido, pois era enredado de ilhotas e montículos de terra, onde cresciam uma vegetação variada, além de muitos braços que vinham da floresta ou que desciam para o extremo oeste. Em uma dessas porções de terra, no meio do alagado, elas resolvem descansar e conversar um pouco.

_ Quando tu vai levar a todas nós nesse lugar onde Geode te deu essa pedra?_ pergunta Avellana, querendo provocar Aysha.

_ Vocês irão começar de novo? Não tem mais pedra nenhuma lá. Se tivesse, ele não teria quebrado a dele para me dar esta. _ responde Aysha, tocando o pedaço de pedra incrustado de quartzo.

_ De onde mesmo tu disseste que ele veio?_ dessa vez foi Attalea a provocar.

_ Encontrei ele perambulando pelas redondezas. Já cansei de lhes dizer. Vocês tiraram o dia mesmo pra me provocar? Vão catar cocos!_ encara Aysha com humor, espirrando água nas outras. Por falar em catar cocos, hoje é nosso dia de quebrar cocos._ lembra Aysha.

_ Se teu marido e amigo não demorassem tanto, já estaríamos de cuias cheias._ diz Attalea.

_ Não seja chata Aysha. Acho que Geode te influenciou. Cadê aquela mulher afoita que me arrastou para a lagoa, mal eu tinha me dado por gente? Além do mais, se não fosse as saídas demoradas deles, não teríamos esse tempo para descontrair._ fala Azhola.

_ Te arrastado? Deixa de ser dramática e mentirosa! Tu que quase nem deixou eu sentir que estava viva._ corrige Aysha, no meio das gargalhadas de Azhola.

_ Meninas, já descansamos demais. Vamos voltar? Afinal, já é quase meio-dia, e meu marido já deve estar voltando._ comenta Avellana.

_Queres recebê-lo, enquanto ele te enche de mimos, não é? Eu quero ficar mais. Ninguém vai ficar comigo?_ debocha Azhola.

_ Eu vou contigo Avellana. Não sou livre e desimpedida como Azhola. _ responde Aysha, fazendo careta para Azhola.

_ Nigrus me dispensou._ explica Azhola, tentando parecer casual.

_ Eu te quero! Vou ficar contigo, sua piaba afoita._ diz Attalea, abraçando a amiga e estalando-lhe um beijo no ouvido, que Azhola tenta devolver._ Nigrus não quer ninguém, amiga. Acho que ele se contenta com a amizade de Tonka e Avellana.

_ Mas seria bom ele ter uma ajudadora, caso os varões elejam ele o chefe. Geode comentou que boa parte está propensa a aceitá-lo como o líder da tribo._ justifica Aysha.

_Pois vão conversar sobre liderança lá na aldeia. Eu e Zhó vamos só mais tarde. Não é Zhó?

_ Já é a segunda vez que cobrimos vocês nas tarefas diárias. Depois escolheremos dois dias para vocês nos substituírem e folgarmos com nossos maridos. Vamos Aysha!_ dessa vez é Avellana quem faz careta para as duas que ficavam.

As outras ficam rindo e implicando uma com a outra. Azhola, sem se importar com as censuras sobre responsabilidades, dá um salto e mergulha entre as plantas que levam seu nome.


Avellana e Aysha, ao chegarem à aldeia, encontram uma aglomeração debaixo da árvore central. Elas encostam em Alcea, a fim de averiguar a causa da agitação.

_ O que houve?

_ Os varões estão decidindo a escolha do líder. Mas as opiniões estão divididas, metade prefere Tonka e a outra, Nigrus._ responde Alcea.

_ De qualquer modo, não posso opinar. Marido e amigo… Sou suspeita. _ as outras riem.

_ Mas por que justamente hoje? Não disseram que anunciariam o dia antes?_ pergunta Aysha. Ao que Geode, que escuta a conversa ao se aproximar, responde:

_ Toda a aldeia entrou em alvoroço, quando viram os magníficos animais que os dois traziam. Os varões prontamente se dispuseram em fazer um curral para conter os belos animais, que chamaram de Kavaju. Estão lá, um macho, uma fêmea e seus dois filhotes._ apontava para o curral, além do limite do terreiro.

Entre os varões, Safu adianta-se e toma a palavra:

_ Todos nós valorizamos a presteza de ambos os irmãos. Então por que não elegermos os dois, já que nada há que façam, que não seja acompanhado um do outro. Uma liderança dupla, efetuada com os laços de uma amizade forte como a deles, certamente será de muito mais proveito para toda a aldeia.

Os homens discutem entre si por uns instantes. Então, desta feita, é Nypa quem se pronuncia:

_ Visto que agora a decisão é quase unânime, optamos pela terceira sugestão dada por Safu. Eles tem a palavra.

Tonka ficou procurando a esposa com os olhos, enquanto agradecia e falava ao povo. Ao encontrar com o luzente olhar de sua amada, enche o peito e abre seu sorriso largo e alvo. Nigrus percebe a reação e também ri, mas seus olhos faíscam, imperceptívelmente, outro brilho.


Terminados os discursos, o par de amigos vêm de braços abertos para Avellana. Tonka dá-lhe um beijo, erguendo-a pelos braços. Mas Nigrus dá apenas um beijo seco em sua cabeça. Os dois pegam pelas mãos dela, levando-a ao curral para lhe mostrar os animais. Avellana, por sua vez, puxa pela mão de Aysha, chamando os demais que estavam presentes na conversa.

Elas, que ainda não tinham visto a espécie, ficam contemplativas, admirando a sua forte compleição e cores pungentes iguais às suas. Nesse momento, chegam Azhola e Attalea, a espevitada, que vai logo subindo e sentando no curral. O rapaz que cuidava das criaturas, achou graça do temperamento de Attalea. Mas continuou quieto, cumprindo seu trabalho. Ambas são atualizadas sobre as novidades, e então Attalea, muito perspicaz, deduz em cheio:

_ Então era isso que os atrasava e fazia demorarem tanto?

_ Tonka foi quem descobriu os animais, pastando nos prados do norte, além da floresta. _ confirma Nigrus.

_ É, mas a idéia de domesticar, inclusive a sugestão do nome kavaju, foi dele._ completa Tonka, censurando com o olhar a modéstia do amigo.

Depois de passada a empolgação do momento e cada um se debandar para suas casas e ocupações, Tonka e Avellana tem um tempo a sós. Ele passa a relatar como e onde descobriram os animais.

_ Eu e Nigrus, tínhamos nos afastado um pouco um do outro, para acelerarmos a coleta. Foi então, que rumando muito para o oeste, eu cheguei em um platô colossal… Tu precisa ver Avellana! É majestoso, de um jeito que eu não posso explicar. Me sentir mais próximo do céu e das estrelas. Faz a gente ter a sensação de estar voando. Tenho que te levar lá.

_ Pois leve-me. Tenho dois dias livres das tarefas da aldeia. Azhola e Attalea estão devendo, a mim e Aysha. Preferiram ficar banhando no igapó, por isso se atrasaram e não ouviram os discursos.

_ Desse jeito elas não vão achar maridos nunca. Que varão vai querer elas como esposas? Só se for para passarem fome enquanto elas nadam nos rios.

_ Não deixe elas ouvirem isso. Azhola estava nos dizendo que investiu em Nigrus, mas que ele não a quis. Fiquei com pena de Zhó. Mas não pude falar nada, não é… Nigrus é nosso amigo também.

_ E bom que continue assim. Cada qual sabe o que quer. Não devemos nos meter ou dar palpites. Não queres estragar tua amizade com Aysha, nem eu a minha com Nigrus. Mas vamos então combinar nosso passeio… Que tal amanhã?

_ Acho que dá certo, sim. Vou avisar a Zhó e Attalea. Antes de dormir eu vou preparar um cofo com alguma comida pra levarmos.

_ Eu trouxe alguns buritis, para tu fazeres um suco pra mim, do jeito que sabes fazer.



Jan. 10, 2022, 4:40 p.m. 0 Report Embed Follow story
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The End

Meet the author

Johnathan Silva Oliveira Sou apenas uma criança caipira e autodidata brincando de inventar historinhas, com a seiva nordestina pulsando nas veias e transpirando em minha obra o sentimento por tudo o que tem raízes profundas, flores e frutos dignos de ecoarem. Esperando um benfeitor patrocinar a publicação dos meus livros.

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