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Quantas vezes não saímos procurando por refrões que se encaixem perfeitamente em nossa melodia, quando, na verdade, o que os faz perfeitos não é o que são e sim o que se tornam? E talvez essa seja a razão de as pessoas viverem constantemente frustradas ou mesmo com medo de apenas tentar. Não achamos o perfeito, nós o criamos.


Fanfiction Bands/Singers Not for children under 13.

#bts #yoongi #jimin #yoonmin #sugamin #minimini #suji #2min #minmin #sujim #2minpjct #fake-dating #namoro-falso #CebolaYM #Bangtan-Boys-BTS #boyslove #boyxboy #bts-fanfic #bts-fic #Cebolaym #gay #romance-gay #yaoi
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Se for Park Jimin, não beba

Escrito por: @scarisvancci / @scarisvancci

Notas Iniciais: Olá, pessoal! Essa é minha segunda história Yoonmin e a pegada é diferente da primeira, mas eu espero que gostem.

Essa história foi betada maravilhosamente por @Mimi2320ls/ @bebeh1320alsey com capa e banner por @trancyz

Agradeço imensamente pelo trabalho de vocês e espero que possamos trabalhar em conjunto novamente <33

Mais uma coisa: eu fiz uma playlist, porque sempre gosto de escrever ouvindo música, se vocês quiserem o link eu pretendo colocar nos comentários, mas vou deixar aqui também algumas músicas que eu escutei escrevendo esse e também que aparecem no enredo:

- Claire de Lune (Debussy) / Anything but ordinary (Avril Lavigne) / Metamorfose Ambulante (Raul Seixas)

Boa leitura!


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“O Inferno está vazio, e todos os demônios estão aqui.”

— William Shakespeare

O único “me leve à igreja” que saía da minha boca era aquele refrão de arrepiar, originalmente cantado por Hozier. Tirando isso, qualquer coisa que me levasse à literalmente pisar em um lugar como esse faria meu corpo entrar em combustão em menos de um minuto.

Definitivamente, entrar em uma igreja estava completamente fora de cogitação.

Infelizmente, para a minha absoluta desgraça e desprazer, lá estava eu: na bendita Igreja de São Sebastião e, ironicamente, a razão de estar lá estava longe de ser porque me interessava “seguir o caminho da luz”, o que era engraçado, no mínimo.

Na verdade, é seguro afirmar que ter ido à igreja naquele domingo de manhã, sob as condições impostas por mamãe, foi o ponto de partida para todos os problemas que surgiram depois. Não me limpou dos meus pecados, como ela esperava, apenas me fez afundar ainda mais na lama da pecaminosidade.

Mas estou me apressando.

E nada foi apressado. Na verdade, aquela manhã pareceu durar eternamente antes que finalmente acabasse, assim como todos os outros dias se arrastaram lentamente.

Ao estar em uma igreja, espera-se ouvir o alto sermão do pastor, gritando a plenos pulmões, mas aquele homem, jovem demais para parecer um pastor, não parecia se sentir tão feroz, pois seu longo discurso era proferido serenamente, como se as palavras sentassem em minhas pálpebras, obrigando-me a fechá-las.

— Filho!

Senti o ombro de minha mãe empurrar minha cabeça de volta para cima quando tombei em sua direção.

— Ahm? Amém! — falei por reflexo, despertando de vez quando um grupo de senhoras bancos à frente me acompanhou e uma delas acrescentou um “glória, aleluia!”. — Não era um pesadelo? — lamentei irônico ao passear meus olhos pelo local e ver que ainda estava ali.

A igreja de São Sebastião não era muito sofisticada. O piso era de uma madeira lisa onde quase escorreguei ao chegar; tinha bancos de madeira mais escura, todos enfileirados um à frente do outro, e um vasto corredor entre eles, com um tapete vermelho no chão. No final, havia o púlpito do pastor, o palco para o coral e os instrumentos de corda para a banda.

E era isso. Nada de estátuas de mármore e o teto não era digno da capela Sistina para que eu pudesse olhar enquanto fingia rezar devotamente.

— Deveria estar levando isso a sério! Ou se esqueceu do trato? — minha mãe questionou aos sussurros, tentando ser discreta, com aquela típica expressão brava. Na verdade, quando me olhava, aquela era uma de suas únicas expressões.

Ela deveria rever isso, vai ficar cheia de rugas.

É claro que me lembrava do trato, eu o apelidei carinhosamente de "tratado da borracha".

O infame episódio de algumas horas antes, quando ela me pegou pulando a cerca de casa quase às quatro da manhã após voltar de uma pequena confraternização, fora de mim, fedendo à cerveja e com uma tatuagem nova.

As memórias ainda estavam embaralhadas na minha cabeça, mas lembro de sua voz irritada ao me dar bronca e me proibir de continuar saindo nos finais de semana, justamente quando o próximo sábado era o aniversário de um dos meus amigos.

Era óbvio que faltar estava fora de cogitação, eu nunca faltava ao aniversário de ninguém.

Foi o que lhe disse, por isso, ironicamente, fiz um pacto com o diabo: ir à igreja ao menos uma vez, "dar uma chance", como ela disse, e em troca não receberia castigo.

Na hora, com o mal uso de minhas faculdades mentais, pareceu um bom acordo.

Agora? Estava implorando para ir para casa, principalmente quando, duas horas depois da discussão, ela me arrastou para fora da cama para vir.

— O trato, mãe, pelo que bem me lembro — comecei, bocejando —, era vir, não me comportar. Enfim, está frio, né? — observei, encolhendo-me e abraçando seu suéter rosa que ela me fez colocar ao sair de casa.

Lógica da senhora Park: antes afeminado do que tatuado.

“É só para evitar olhares tortos”, como se não tivessem olhado torto do mesmo jeito.

Pessoas me irritavam.

Só não me incomodavam mais que a tremenda dor de cabeça que eu estava sentindo.

Como queria estar no conforto da minha cama.

Esse culto não acaba mais?

Não aguentava mais ouvir a mesma música irritante junto do sermão.

— Você está bem, querido? — Minha mãe colocou a mão sobre meu ombro quando abaixei meu tronco e massageei as têmporas.

Eu não estava nada bem.

— ‘Tô ótimo. — Levantei, afastando seu toque sutilmente. — Você é quem não parece bem, para me chamar assim.

Já não nos tratávamos com apelidos há muito tempo, e eu não pretendia começar naquele momento.

Ela comprimiu os lábios e fechou os olhos, decepcionada.

Mais uma vez, outra das poucas expressões que direcionava a mim. Por isso, não deveria fingir ser carinhosa.

— É só um dia, filho, não vai te matar. Aliás, tem muitas outras escolhas que você tem feito na sua vida que, podem sim, te matar.

Revirei os olhos.

Aí estava: o tom julgador; a ofensa escondida nas entrelinhas, disfarçada de conselho.

— Certo, chega — disse, respirando fundo. — Não achei que eu fosse aguentar tanto, mas é isso, vou ‘pra casa. — Fiz que ia levantar, mas ela puxou meu braço, mantendo-me no lugar.

— Filho, espera. — Suspirou. — Você não entendeu o que eu quis dizer, eu me expressei mal, tudo bem? Desculpa. — Ela relaxou o aperto no meu braço e tentou descer a mão para apertar a minha, mas eu a afastei antes. — Tudo bem. Olha, já está acabando, o pastor Moon vai encerrar o sermão e abrir espaço para o coral, vou cumprimentar algumas amigas e podemos ir, ok?

Olhei em seus olhos e reconheci o brilho que havia neles: o seu desespero em querer me mudar.

Revirei os meus e me arrastei no banco, praticamente me deitando, cruzando os braços e batendo o pé, impaciente.

— Tanto faz — falei por fim.

Fechei os olhos, esperando, enfim, dormir quando o coral começasse a cantar.

Primeiro veio o suave som do piano, e já estava me preparando para o cochilo ao vir da primeira voz, mas me intriguei quando somente o piano continuou e abri os olhos para ver se era um erro ou coisa parecida.

Coisa parecida…

Apenas um garoto estava no palco, sentado, tocando o piano, com a expressão tão serena e parecendo tão preso no próprio mundo, que eu suspeitava que poderia estar dormindo.

— Você não disse que era o coral? — perguntei próximo ao ouvido da minha mãe, começando a achar que ela teria me enrolado para ficar.

Yejin balançou a cabeça negativamente, respondendo em seguida:

— Eu me confundi, esqueci que todo domingo o filho da Hye-eun toca depois do último sermão.

Dei de ombros, contanto que eu fosse embora depois, ele poderia tocar o que quisesse.

Meu plano era abaixar a cabeça e dormir, mas, ao voltar o olhar para o garoto, acabei me perdendo em pensamentos.

Ele devia ter minha idade, tinha cabelos pretos, ondulados nas pontas, usava jeans claros e um suéter branco.

Bonitinho.

Estava de olhos fechados, e acho que essa era uma das coisas que mais me intrigava. Meu melhor amigo tocava guitarra, mas não conseguia a não ser que olhasse para ela constantemente.

Tinha algo sobre aquele garoto, que eu não sabia explicar, mas mantinha minha atenção nele. Não sei se era a música, a forma como ele tocava ou seu rosto tranquilo, mas não conseguia desviar.

Fiquei tanto tempo imerso que sequer notei quando a música parou, eu me senti hipnotizado.

Quando notei que suas mãos já não se moviam, instintivamente aplaudi, percebendo só depois que era a única pessoa fazendo aquilo.

O pianista abriu os olhos, confuso, e os desviou em minha direção. Senti meu corpo gelar no mesmo instante, seus olhos escuros e expressivos me tiraram do eixo por um momento.

Ok, ele é lindo.

Por um segundo, ele pendeu a cabeça, mas desviou o olhar, olhando para baixo e rindo soprado, fechando a tampa do piano em seguida. Ele levantou, caminhou até o centro do palco e se curvou, agradecendo às pessoas que sequer o aplaudiram.

Vi-o descer as escadas do palco e, como se fosse uma deixa, todos começaram a se levantar dos bancos.

O culto havia, enfim, encerrado.

— Vamos? — A voz de minha mãe finalmente me despertou, fazendo-me levantar e segui-la igreja afora.

Quando Yejin disse "cumprimentar algumas amigas", eu esperava que fosse literalmente "oi” e “tchau", mas já parecia que eu estava em pé na calçada, esperando a conversa acabar, há horas.

— Pronto? — perguntei, cansado, quando ela se aproximou de mim outra vez.

— Ainda não, falta eu falar com mais uma pessoa. — Sorriu, e eu revirei os olhos. — Não faça essa cara. — Riu, ela estava claramente se divertindo com isso. — Lá está ela. Senhora Hye-eun!

Peguei meus óculos escuros, presos na blusa que vestia por baixo do suéter, para aliviar o forte sol batendo na minha cara e me deixei ser arrastado pela mulher.

Se dentro da igreja estava frio, do lado de fora parecia um iglu. Sentia meus dedos congelarem e o ar quente sair por minha boca; não estava tão frio quanto no começo do inverno, mas ainda era frio.

No final das contas, fiquei feliz por minha mãe querer esconder minhas tatuagens, pois graças a sua mente fechada e conservadora, eu não estava congelando até perecer enquanto a esperava.

Foi assim durante todo o começo da tarde: minha mãe me levava para conhecer uma amiga sua, eu ouvia o começo da conversa e depois me afastava sem interesse.

A senhora Hye-eun chegou e cumprimentou minha mãe, mas eu não poderia me importar menos, olhando para todos os lados, menos para as duas mulheres.

— Esse deve ser o seu filho. — Ouvi a senhora dizer.

Virei o rosto em sua direção e sorri cínico.

— Culpado.

Minha mãe soltou uma risada forçada.

— Bem, filho, esta é a senhora Kim Hye-eun e seu filho, Min Yoongi.

— Park Jimin — falei, ainda olhando para a mulher, curvando a cabeça sutilmente, por educação. — É um prazer.

Não era, na verdade. Prazer mesmo seria estar em minha cama.

Virei meu rosto para fazer o mesmo com seu filho, mas arfei surpreso ao dar de cara com o garoto do piano.

Agora sim, seria um prazer.

Tirei meus óculos lentamente e os coloquei na cabeça, olhando-o de baixo para cima, parando em seus olhos.

— E aí? — falei informalmente, sorrindo de canto, fazendo ele piscar atordoado.

— Ahm, oi? — disse, incerto.

— Quantos anos tem?

— 17, sou de março.

— Ah, eu sou de outubro. Nesse caso, prazer, hyung. — Curvei-me em sua direção e subi o rosto rapidamente, vendo que tinha causado a reação que queria: ele estava corado.

Estava me divertindo com isso, admito.

— Mandou bem lá dentro — disse, apontando para a igreja, referindo-me ao momento em que ele tinha prendido minha atenção ao tocar.

Ele me olhou confuso.

— Mas eu nem disse nada — contestou.

— Não. — Sorri. — Quis dizer que você tocou pacas — esclareci, mas pelo visto ele continuou sem entender, pois, em seguida respondeu:

— Era Debussy, na verdade.

Gargalhei, gírias não pareciam ser o seu forte.

— Bem, você tocou bem — falei, de um jeito que um avô entenderia.

— Ah… — Ele olhou para a igreja, parecia perdido nos próprios pensamentos. — Obrigado.

— Meu filho é uma benção — falou a senhora Hye-eun, interrompendo nossa troca de olhares silenciosa. — Toca desde pequeninho, é o melhor — disse orgulhosa. — Seu filho faz alguma coisa, Yejin?

— Eu como. — Virei o rosto para a mulher. — E durmo. Habilidades que considero muito importantes. Vitais, eu diria. — Sorri irônico, colocando meus óculos escuros de volta para poder revirar os olhos.

Nesse momento, pude jurar que seu filho riu baixinho ao seu lado. Quando o olhei, ele estava cabisbaixo, contendo um sorriso.

— Ah, não, eu não quis insinuar-

— Mas insinuou — interrompi, suspirando, impaciente. — Bom, foi um prazer conhecer vocês, mas se me dão licença, vou para casa agora.

— Mas já, filho? — Minha mãe parecia nervosa, do tipo que queria evitar uma "cena".

Felizmente, não tínhamos tanto em comum.

— Já sim, mãe. — Sorri, virei para a senhora Hye-eun e seu filho e curvei a cabeça, dei as costas e fiz que ia embora, mas então retornei com um sorriso travesso. — Eu quase esqueci — falei, já colocando minhas mãos na parte de trás do suéter rosa e o puxando para cima. O tecido cobria meu rosto, mas ri divertido ao sentir as mãos de minha mãe segurarem a blusa que eu vestia por baixo rapidamente, impedindo que subisse junto.

Tirei a peça, enfim, unindo minhas forças para não tremer com o frio; meu orgulho me aquecia o suficiente.

Sorri mais do que satisfeito ao ver o choque estampado no rosto da senhora à minha frente e minha mãe corada ao meu lado.

Era exatamente isso que ela queria evitar, e eu ficava mais do que feliz de nunca realizar seus desejos.

Chegava a ser cômico o contraste no rosto da minha plateia ao encarar as tatuagens e rabiscos feitos com caneta permanente espalhados pelos meus braços. Era meu divertimento diário, pois não era fácil dizer o que era só rabisco e quais as tatuagens reais.

Ao todo eu só tinha três: uma smiley face que fiz no dedo médio direito com meus amigos, youth no antebraço direito e, a mais recente, um treze na lateral do pulso direito.

Enquanto uma senhora estava em choque e a outra com vergonha, Yoongi olhava os desenhos segurando um sorriso, e eu daria qualquer coisa para saber em que ele estava pensando, pois lê-lo era difícil.

— Obrigado por me emprestar. — Entreguei o pano rosa à minha mãe. — Mas não vou mais precisar. Tenham um bom dia, senhora Hye-eun, hyung. — Curvei-me outra vez e agora sim me afastei, indo até a traseira do carro em que minha mãe nos trouxe e puxando Bibi, minha bicicleta amarela, do acesso.

Se pudesse ler a mente de Yejin naquela hora, teria certeza de que ela estava pensando em como se arrependia por não ter tirado Bibi dali antes de sairmos.

Bem, ela deveria saber que eu planejaria uma fuga a qualquer momento, era essa, afinal, a minha especialidade.

Subi na bicicleta e parti, antes que ela pudesse dizer alguma coisa, percorrendo o caminho de volta para casa.

Meus dedos tremiam e o vento forte estapeava meu rosto; mesmo assim, a sensação de ter ido embora da maneira como fui fazia tudo valer à pena.

O glorioso sabor de uma vitória.

Não me lembrava da ida para a igreja ter sido tão longa quanto foi a volta, mas não parei de pedalar nem só por um segundo até finalmente ver a fachada da minha casa.

Desci da Bibi e a joguei pela cerca antes de abrir a porteira e passar. Teria pulado se não estivesse tão cansado.

Suspeitava que não havia no mundo vizinhança mais monótona que a minha. As casas eram quase todas iguais, seguindo um padrão em suas construções: todas envoltas por cercas; do lado esquerdo da casa, ficava uma garagem, e, do outro lado, havia apenas um corredor de gramado, que a maioria aproveitava para estender roupas quando não havia mais espaço no quintal. A cerca tinha duas porteiras, uma era para a garagem e uma para o portão de entrada da casa.

Todas casas iguais para pessoas iguais que viviam de maneira igual, ou pelo menos fingiam igualmente.

Era difícil para mim conceber a ideia de que, na minha rua, viviam outras pessoas da minha idade. Era como se fosse uma simulação, pois eu sempre só via senhoras e senhores de idade, alguns adultos com cara de pais e os vizinhos e vizinhas fofoqueiros.

"Será que eu estou na anomalia Maximoff?", pensava e ria de mim mesmo por ver séries demais.

Entrei em casa praticamente me arrastando em direção à cozinha, passando pela sala e praguejando silenciosamente ao ouvir minha mãe chegar com o carro, como se tivesse me seguido após eu ter escapado.

Fui direto para o armário de remédios antes que ela viesse atrás de mim, o que eu sabia que faria. Peguei um comprimido para a dor de cabeça, enchi um copo d'água no bebedouro e engoli rapidamente, afastando-me do armário em direção à geladeira, procurando o que comer. Peguei uma soda de limão e uma torta de frango que guardei do dia anterior.

E esse seria meu glorificante jantar.

Vi-me preso em uma armadilha quando, assim que pus a torta no micro-ondas, Yejin chegou à cozinha.

E lá vamos nós…

— O que achou? — perguntou ao me olhar fixamente nos olhos. Seu semblante era indecifrável, e estar de braços cruzados escorada no batente da porta da cozinha também não me dizia muito.

Aquilo não estava no roteiro. Eu já esperava que ela chegasse reclamando pela forma como a deixei lá, mas estava errado. Talvez estivesse cansada demais para isso.

Dei de ombros, fechei o micro-ondas e me virei em sua direção, escorando-me no balcão do armário, ao lado do fogão. Então, simplesmente respondi:

— Não foi dessa vez.

Ela suspirou, não estava surpresa, na verdade, a forma como agiu demonstrava que aquela era exatamente a resposta que sabia que teria.

— Você pareceu interessado no final — observou, custando a dar o braço a torcer. — Se tentasse, tentasse de verdade, não sei, talvez…

— Essa não é a vida que eu quero para mim, mãe — interrompi, soando exausto, tanto pelo sono quanto pelo assunto repetitivo. — Não quero viver cercado de pessoas cujos valores vão absolutamente contra tudo o que há em mim. E principalmente, não vou me forçar a acreditar em coisas que não tem significado algum para mim.

Não tenho nada a ver com as pessoas e sua fé, assim como ninguém deveria ter com a ausência da minha.

Eu não acredito em nada — às vezes, nem em mim mesmo. Sei que isso soa muito pessimista, mas depois de um tempo chega a ser compulsório aprender a nunca esperar nada de ninguém, e aqueles que buscam expectativas em outrem, encontram apenas a frustração.

— Você se acha tão esperto… — Ela riu soprado e se virou, ainda encostada na porta, encarando o outro lado do batente. — Escapa todo fim de semana e vai para lugares que nem em sonhos eu sei onde ficam, como se isso fosse resolver todos os seus problemas.

— Meu único problema é ainda viver nessa casa — falei dolorido, vendo-a engolir em seco. — Fora isso, não há nada mais para ser consertado, então pare de tentar achar solução para algo que não precisa ser resolvido.

Abri a porta do micro-ondas quando ele apitou, tirei a torta e fechei com força, fazendo o barulho ecoar pela cozinha. Peguei o prato com a torta, meu refrigerante e passei reto por minha mãe, que, por um momento, pareceu não ter mais o que dizer.

Claro que isso não duraria, pois, quando eu pus o primeiro pé na escada, ela perguntou, referindo-se a tatuagem que fiz no dia anterior:

— Por que um treze?

Parei e suspirei, ainda de costas para ela.

Eu não me arrependia de nenhuma tatuagem que fazia e posso até considerar isso sorte, mas como tudo que é bom dura pouco, agora tenho algo no meu pulso que me lembraria constantemente da piada que minha vida é, e tudo isso porque tive a brilhante ideia enquanto eu e o exímio tatuador em ascensão estávamos completamente embriagados.

Pelo menos ficou certinha. Ainda assim, não a daria o gostinho de me ouvir dizer o porquê da tatuagem, então respondi, antes de continuar subindo os degraus rumo ao meu quarto:

— É o número de vezes que dei ontem.

Era assim que eu ganhava qualquer uma de nossas discussões, sendo verdade ou não, qualquer mera menção à minha sexualidade a deixava completamente muda, pois ela sempre evitava ao máximo o assunto desde o mês que seguiu o pior dia da minha vida.

O dia em que meus pais descobriram que sou gay.

Há coisas que são irreparáveis, coisas que certamente formam as piores memórias, daquelas que te dão calafrios e que jamais são esquecidas.

Essa era uma delas.

Entrei em meu quarto, coloquei a comida na mesa ao lado da minha cama e me joguei, suspirando longamente, apreciando o conforto do contato entre o colchão e minhas costas.

Se eu pudesse, jamais levantaria.

Meu quarto é meu porto seguro, é o único lugar do mundo onde me sinto completamente bem.

Aqui, entre essas quatro paredes, sinto que sou livre para ser e agir como eu quiser, pois sou o único aqui dentro que pode me julgar.

O cômodo era no fim do corredor, não era nem muito grande, nem muito pequeno. A última parede era ocupada por uma grande janela, a qual eu mantinha quase o tempo todo fechada por cortinas vermelhas, criando uma iluminação reconfortante no quarto quando o sol do entardecer batia contra ela.

Como agora.

Ao lado esquerdo da minha cama, ficava minha estante de livros; no lado direito, uma mesa onde eu deixava meu notebook, jogava meus cadernos embaixo e fingia que estudava.

Na parede oposta à janela, ficava meu guarda-roupa, e, na oposta à cama, uma televisão que ganhei quando tinha quinze anos, antes de toda essa bagunça começar.

Eram tempos menos complicados.

Resmunguei quando senti a tatuagem nova pinicar por baixo do plástico-filme que a envolveu durante toda a manhã.

Se o exímio tatuador ficasse sabendo que não o troquei o dia inteiro, certamente a arrancaria na faca.

Praticamente me arrastei para fora da cama em direção ao banheiro, do lado direito do corredor.

Removi o plástico e lavei a região, voltando, em seguida, para o quarto, pegando o celular do bolso quando o senti vibrar severamente.

Deitei na cama, rindo automaticamente ao abrir o grupo que bombardeava meu celular de mensagens:

Serelepe mudou o nome de "boys in the band" para "bandidos, tenebrosos e salientes".

Intelectual saiu do grupo.

Coroa adicionou Intelectual.

(04:45 p.m) Ranzinza: deixem de ser gays.

Soulmate: odeio gays.

Serelepe: você é gay.

Soulmate: consciência de classe.

Coroa: vocês são insuportáveis.

Soulmate: meça suas palavras, hyung, só tem eu pra cuidar de você na velhice.

Coroa: cala boca, Taehyung.

(04:46 p.m) Serelepe: puts, cadê o Jimin?

Será que ele morreu de vez?

Intelectual mudou o nome de "bandidos, tenebrosos e salientes" para "boys in the band".

Serelepe: mas que droga, deixa como tava!

Intelectual: Hoseok, o que você tem de tenebroso, a Terra tem de plana.

Serelepe: cala boca, Namjoon.

Ranzinza: pra que isso de mudar o nome do grupo do nada mesmo?

(04:47 p.m) Serelepe: porque o primeiro não tem nada a ver. Jin hyung e Jimin (descanse em paz) também estão aqui e eles não fazem parte da banda, e eu sou a favor da inclusão.

Intelectual: Seokjin é nosso assistente, e Jimin (descanse em paz) é a tiete do Taehyung.

Revirei os olhos, mas ainda assim ri.

(04:50 p.m) Eu: Parem de falar como se eu tivesse morrido!

Coroa: assistente é a vó!

Soulmate: ué, foi o que ele disse, não entendi o seu ponto.

Coroa saiu do grupo.

Soulmate adicionou Coroa.

Serelepe: parem de ficar saindo, caramba!

Eu: E para constar, Jeongguk é a tiete do Taehyung, não eu.

Ranzinza: vai se foder.

Eu: Já me fodi e não do jeito bom. Alguém tem vaselina?

Serelepe: pra quê? 3:D

Eu: pra enfiar no meu…

Ranzinza: eu tenho, te dou amanhã na escola.

Chiei desgostoso, lembrando-me de que o fim de semana havia acabado tão rápido quanto começou e que logo teria que enfrentar uma longa semana de aula.

(04:52 p.m) Ranzinza: hyung… Ficou muito feia?

Encarei a tela do celular confuso, custando a entender sobre o que Jungkook se referia, então ele continuou:

Ranzinza: estou me sentindo péssimo por ter te tatuado bêbado, fui muito irresponsável.

Suspirei. Era verdade que eu não estava contente por ter feito algo tão significativo como tatuagem de uma forma tão exposta, mas a ideia foi minha; uma hora eu teria que me arrepender de alguma tatuagem.

Eu: ficou ótima, Guk, não se preocupe, até de olhos vendados você faria um bom trabalho ;)

Eu não estava mentindo, certo que eu não pedi nada deveras elaborado, no entanto, mesmo faltando um parafuso ou outro, Jeongguk ainda assim conseguiu fazer um bom desenho que não ficou nem um pouco tremido.

Ele tinha talento para aquilo, e eu, assim como os outros, ficávamos felizes em ser suas cobaias.

(04:53 p.m) Serelepe: tá, mas por que ninguém tá falando sobre o Jeongguk dizendo que vai dar pro Jimin amanhã?

Soulmate removeu Serelepe.

Serelepe entrou usando o link de convite deste grupo.

Intelectual: amei a reparação histórica.

— Idiotas… — Ri soprado, perguntando-me quando Taehyung começaria a ser mais sutil...

As próximas mensagens que seguiram foram eles me perguntando por que eu tinha sumido e eu dando qualquer desculpa para não dizer a verdade — eles nunca parariam de me zoar se soubessem.

Conversamos mais alguns minutos enquanto eu me encolhia cada vez mais dentro dos lençóis, rendido pelo frio do fim de tarde, e sem perceber adormeci com o celular em mãos.

Quando acordei já devia ser tarde da madrugada, estava babando e meu celular estava na minha testa. Amaldiçoei a mim mesmo por me colocar naquela situação.

A partir de hoje, nunca mais vou beber.

Sentei e levantei da cama a contragosto, notando que minha comida ainda estava ali, intacta e agora fria.

Praticamente me arrastei para fora do quarto em direção à cozinha com o prato e o refri em mãos.

Para piorar a situação, ao chegar ao cômodo, logo percebi que ele estava ocupado, e eu não teria escolha a não ser ter que lidar com aquela situação.

Entrei sem dizer uma palavra sequer, ignorando completamente a outra presença ali, assim como ele mesmo fazia.

Abri a geladeira, pus gelo no refri, fui até o micro-ondas e pus a torta lá dentro, dedicando os próximos longos trinta segundos a encarar nenhuma região senão o prato rotativo onde minha comida estava.

Era engraçado como o tempo sempre passava mais devagar quando se estava em uma situação desprazerosa, enquanto que os bons prazeres da vida eram tão efêmeros que só percebíamos seu valor uma vez que eles passavam por nós. Acho que foi um cientista famoso que disse algo assim uma vez e, bem, ele estava certo.

Não poderia descrever o quão desconfortável e inseguro me sentia só por estar ali, como se tivesse que enrijecer minha postura e vigiar por cima do meu ombro a todo momento. E pensar que há alguns anos éramos os mais próximos do mundo, agora, eu mal podia me referir a ele.

O silêncio era tanto que eu ouvia cada gole dedicado que ele dava em sua água, como se estivesse tomando seu tempo para fazer aquilo, e eu sentia seu olhar queimar minhas costas.

Os segundos do painel pareciam correr sem pressa, como se rissem de mim, divertindo-se ao me ver implorar para que passassem logo sem que eu tivesse que responder a nenhuma pergunta que pudesse ser feita.

Não consegui evitar mostrar meu desespero, quando, enfim, o silêncio foi quebrado pelo alto alarme do micro-ondas, e tirei meu prato dali apressadamente, sequer me importando com o risco de queimar as mãos.

Praticamente voei para fora dali e, se não tivesse ido tão rápido, poderia jurar que tinha ouvido meu nome. Mas era impossível, já que ele também mal podia se referir a mim.

Percebi que hiperventilava só quando cheguei ao quarto, jogando-me novamente na cama e pegando meus fones enquanto tentava respirar adequadamente.

Eram poucas as vezes que nos esbarrávamos dentro de casa, mas, quando esses poucos momentos aconteciam, eu torcia para que fossem tão curtos quanto sua frequência.

Chequei o horário no telefone, tentando conter a vontade repentina de chorar enquanto colocava minha torta sobre os lençóis, percebendo só então que também estava tremendo.

Coloquei meus fones e os conectei à televisão, via bluetooth, procurando qualquer dos filmes que eu gostava, esperando encontrar conforto em algum deles enquanto jantava.

Acabei caindo no sono outra vez, acordando assustado ao perceber que já estava de manhã e eu não havia escutado nenhum alarme.

Peguei meu celular apressadamente, xingando-me mentalmente ao ver a bateria e perceber que não tinha o colocado para carregar, mas mais ainda ao notar a hora e ver que eu já estava atrasado.

— Droga! — praguejei, levantando de uma vez, quase caindo da cama.

Enfiei meus cadernos de qualquer jeito na minha mochila, praguejando quando caíram no chão e tive que apanhá-los.

Tudo, absolutamente tudo estava dando errado essa semana.

E ainda era segunda-feira!

Desci as escadas correndo, quase tendo uma queda digna de novela, e corri para a cozinha para beber água e comer qualquer coisa, parando de uma vez ao notar uma embalagem em cima do balcão com meu nome escrito.

Minha mãe tinha me preparado comida...

Não estava com cabeça para questionar aquilo, apenas enfiei o saco marrom na mochila, bebi água — molhando-me no processo — e corri para a frente da casa, onde havia deixado Bibi no dia anterior. Subi na bicicleta e comecei a pedalar o mais rápido que conseguia.

Os carros buzinavam para mim pelo caminho e tive que escutar alguns xingamentos bem justificados, afinal, quem em sã consciência avançaria tantos sinais vermelhos?

Mal olhava para onde conduzia a bicicleta, esquivando-me de qualquer coisa que aparecesse na minha frente, avançando até mesmo as calçadas.

Eu deveria ter prestado mais atenção e dirigido com mais calma, afinal, era melhor perder um dia de aula do que perder todos.

Se tivesse pensado assim cinco minutos mais cedo, teria tomado cuidado e desviado da pedra que provocou minha queda; uma queda digna de cena de novela.

A última coisa que ouvi foram gritos aleatórios e pessoas dizendo para me levar para dentro.

Nesse dia, Park Jimin aprendeu uma lição.

Eu, definitivamente e sem sombra de dúvidas…

NUNCA MAIS IRIA BEBER!

~~~~


Notas Finais: Gostaram? Por favor, comentem o que acharam, se amaram, odiaram, eu vou ler tudinho 😊

Bebam água, façam stream (deem fav no capítulo hihi) e até a próxima!

Jan. 2, 2022, 1:01 a.m. 0 Report Embed Follow story
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