Terça-feira, 20 de julho de 2015. Eu tinha 22 anos e ainda morava com os meus pais. Era uma madrugada chuvosa, eu estava me revirando de um lado para o outro em minha cama; tentativas frustradas de arrumar uma posição boa para dormir. Depois de inúmeras falhas tentativas e algumas xeretadas em meu celular, eu estava finalmente prestes a dormir, quando ouço um leve barulho vindo da janela do meu quarto. O medo momentâneo e um arrepio na espinha fizeram com que meu sono fosse imediatamente embora. Meu primeiro pensamento foi de que alguém estava tentando entrar em minha casa. Quase como um reflexo, liguei a lanterna do celular e apontei para a janela, para ver o que estava ali. Nada. “Deve ser o vento”, pensei eu, aliviado. Voltei a me deitar e procurar uma posição confortável para dormir.
7h da manhã e, infelizmente, toca o meu alarme. Mais uma manhã de quarta-feira onde eu criava coragem para levantar da cama e ir trabalhar. Nada como mais um dia tedioso na vida de um ser humano monótono e sem graça, não é mesmo? Após o trabalho, eu pegava o trem para ir à faculdade e, depois da aula, voltava para casa. Era basicamente isso que acontecia na minha vida de segunda à sexta. 23h marcando no relógio e, como de costume, estou deitado em minha cama novamente. Desta vez consegui dormir sem muito esforço, mas acabo acordando de madrugada após ter um pesadelo. Não me recordo exatamente, apenas me lembro de estar caindo em um lugar que parecia não ter fim. Me levanto para ir tomar água e logo volto para cama.
3:13 da manhã. Preciso dormir logo para não acordar mais cansado do que o de costume e ficar o dia inteiro como um zumbi. Assim que estou quase dormindo novamente, aquele barulho na janela novamente. Exatamente igual ao da madrugada anterior, mas não consigo me lembrar se foi no mesmo horário. Um barulho como se alguém tivesse dado um peteleco na tranca da janela, aquele barulho de um pequeno pedaço de ferro batendo numa madeira. Novamente aponto a lanterna do celular para a janela e nada. Mas ao piscar meus olhos, sinto uma onda de calor no meu lado esquerdo, como quando alguém se aproxima demais de você. Ao olhar, torcendo ser apenas uma sensação ruim, me deparo com um vulto, olhando diretamente para mim, com olhos grandes e esbugalhados e um sorriso cínico. “Olá, meu amigo”, disse ele. E desapareceu.
Com o coração acelerado e cabelos de pé, corri para o quarto dos meus pais, gritando para acordá-los. Tomaram um susto e, assustados ao me ver gritando e desesperado, perguntaram o que houve. Quando digo que acabara de ver um espírito, os dois reagiram de maneiras diferentes: meu pai, o cético, me disse que foi apenas um pesadelo. Por outro lado, minha mãe ficara pálida como eu, me perguntando onde ele estava e como ele era. Mas eu não sabia quem era aquele ser de olhar amedrontador, não sabia se voltaria e não sabia se o que eu tinha visto fora realidade. Talvez meu pai estivesse certo, mas tudo pareceu ser muito real. Mesmo com dúvidas, resolvi assumir que eu não estava louco e que o tal espírito voltaria. Eu sempre gostei de assistir filmes e séries e ler livros sobre fantasmas, demônios e outras coisas sobrenaturais, então comecei a me lembrar de cenas, episódios e capítulos que explicavam como lidar em situações como esta. Meus pais estavam um tanto sem reação, afinal, eles acabaram de ver seu filho assustado dizendo (ou melhor, gritando) que viu um fantasma. Ficaram sentados em sua cama, apenas me observando, estarrecidos.
Lembrei de algo que vi em um seriado e corri para a cozinha em busca de sal grosso e algo feito de ferro puro. Há algo nesses dois itens que, supostamente, repelem seres malignos, por serem minerais naturais ou algo desse tipo. De qualquer forma, esse tipo de detalhe não era importante no momento, o importante era voltar para o quarto de meus pais “armado”, antes do espírito. Abri a estante da cozinha e peguei um pacote de sal grosso. Olhei para o lado e vi nossa lareira. As ferramentas que tinham lá são de ferro puro; corri e peguei a primeira que vi em minha frente e corri para o quarto. Quando me viram com um pacote de sal grosso e um atiçador de fogo, pensaram que eu tinha enlouquecido. Abri o pacote e comecei a colocar carreiras de sal na janela e na porta do quarto. Após alguns segundos, engolindo seco, minha mãe pergunta:
- Filho... O que você está fazendo?
- Sal e ferro puro são úteis contra fantasmas. Eu acho.
- Olha aqui, se isso for alguma brincadeira de mal gosto...
- MÃE, NÃO É BRINCADEIRA! - acredito que essa tenha sido a primeira vez que levantei a voz para minha mãe - Ou eu estou ficando louco ou eu realmente vi um fantasma. Eu não sei qual das duas opções é a pior.
Minha mãe não conseguiu nem retrucar, pois na hora que terminei de falar, ele apareceu dentro do quarto, dizendo:
- “De nada adianta o sal se eu já estou aqui dentro, garoto. Mas tenho que admitir que foi divertido ficar aqui vendo o medo tomando conta de vocês, hahahaha!”
Sua voz e sua risada combinadas me deixaram com a pior sensação que já tivera em toda minha vida. Fiquei imóvel, petrificado, sem reação alguma. Assim que ele terminou de rir da minha cara, como um valentão de escola pegando o dinheiro do lanche do nerd em um filme americano, ele começou a caminhar em minha direção. A cada passo, seus olhos e sua boca ficavam cada vez maiores e mais assustadores. Quando ele ficou a um passo de mim, quando pensei que esse seria o momento de minha morte, ele desapareceu. Olhei para o lado e vi meu pai, ainda com um resto de sal na mão, com os olhos arregalados, olhando fixamente para onde o vulto estava anteriormente. O vulto, fantasma, espírito, criatura maligna ou quaisquer que seja sua nomenclatura, parecia ter ido embora de vez.
Corremos para o carro e fomos para um hotel. Seria impossível dormir em nossa casa após o ocorrido. Antes de chegarmos ao hotel, paramos em uma loja de conveniência para comprar um pouco de comida e bebida (repelir espíritos dá fome, sabia?). Agora imaginem o seguinte: você está trabalhando de madrugada na loja de conveniência de um posto e, de repente, uma mulher e dois homens entram de pijama, suando frio, pálidos como papel e com olhos maiores do que os de uma coruja. Acho que dá pra imaginar a cara que a atendente fez; já na recepção do hotel, dissemos que estávamos em uma festa à fantasia fora de época. Ele não pareceu acreditar muito nessa história.
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