2minpjct 2Min Pjct

Yoongi e Jimin estão para se separar, mas quase esquecem de que agora há uma terceira — e pequena — Min nada favorável a essa decisão. “— Uhum! Podemos fingir que reatamos até encontrar um momento melhor para contar — explicou a Jimin. — Está sugerindo que a gente minta para a nossa filha? — Não é mentir, Jiminnie. Vai ser somente uma omissão.” Onde os Mins descobrem que dois Mins são bons, e três são de mais. E, se um não quer, dois não brigam.


Fanfiction Bands/Singers For over 18 only.

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1- Rompimento

Escrito por: BreStoessel / BreStoessel


Notas iniciais: Oii docinhos! Essa é a minha primeira fanfic para o projeto e eu admito que estou nervosa como se fosse a primeira vez na vida postando algo que escrevo kkkkkk De toda forma, obrigada por estarem aqui. Espero que curtam e que se divirtam com a leitura sem medo, pois comigo só há amor e felicidade, quem diz o contrário mente.

Quero agradecer muito, muito ao @Erami4/Erami pela dedicação e super paciência para betar a minha nova filha. Agradeço também a gukxcviie/ gukxcviie, meu nível de cadelismo pela equipe de capistas do 2min só aumenta.

É isso, boa leitura!


~~


Casamento.

Afinal, qual o seu real significado ou utilidade? Aliás, ao menos existe uma interpretação correta sobre todas as outras?

Para alguns, não passa de um mero contrato resguardando direitos e responsabilidades entre duas pessoas mutuamente.

Para outros, é a legitimação de um sentimento que cresceu demais para caber apenas em palavras, trazendo a necessidade de transbordar para assinaturas delicadas pintadas num papel perante a justiça e de celebrar sob as bênçãos da religião que seguem.

Quem sabe o casamento seja também um meio obrigatório das partes envolvidas tomarem um tempo para esfriar a cabeça e repensar com mais cuidado sobre suas decisões. Afinal, após casados, somente uma despedida já não é mais o suficiente para romper um compromisso que não foi firmado apenas entre os dois, mas também no âmbito jurídico. Em alguns dos casos, colocar o cônjuge para dormir algumas noites no sofá pode ser mais eficaz do que tomar um longo chá de cadeira durante a providência de um pedido de divórcio.

Ou quem sabe seja um estado perfeito para que almas apaixonadas, mas perdidas na angústia do cotidiano, tenham tempo para se reencontrarem antes de se perderem completamente.

Era pensando nessa segunda chance que Yoongi se perdia no revirar do líquido já quente, que preenchia o copo de vidro em suas mãos úmidas pelo gelo derretido dentro do recipiente, misturando-se ao whisky caro, mas de valor completamente insignificante se fosse comparar a Park Jimin.

Yoongi era completa e incondicionalmente apaixonado por Min Jimin.

Por seu poder de encontrar um lado bom mesmo onde estava tudo ferrado, e até mesmo na sua forma de discutir perneando no lugar, como se fosse pequeno demais para toda a fúria que estivesse carregando, ainda assim sendo mínima perto de todo amor e encanto que constituíam Park Jimin.

Yoongi era apaixonado por como suas bochechas cediam um rosa intenso quando estava irritado, engrossando sua voz doce alguns decibéis tentando repassar a firmeza de seu posicionamento, como se não tivesse noção que, no fundo, Yoongi sempre lhe daria razão, porque Jimin teve razão no início quando disse que ainda se casariam um dia, e o Min não acreditava que seria diferente em algum momento.

Tanto era que agora, prestes a completarem cinco anos de casados, possuíam uma filha linda de seis anos.

Yuna era apenas um bebê de nove meses quando decidiram ingressar no processo de adoção, que ainda não fora nada fácil mesmo que já fossem casados há seis meses, formados e com casa própria — apesar de estarem pagando ainda as primeiras parcelas na época.

Foi quase um ano de constantes visitas, fossem no orfanato ou na casa dos Mins, onde uma assistente social aparecia com frequência por vezes, fazendo as mesmas perguntas de sempre, dando a sensação aos rapazes de que duvidava veemente de suas capacidades para cuidar da pequena.

Fora tudo um processo cansativo e doloroso, pois o medo de não conseguirem a guarda da menina era sufocante. Esse sentimento perdurou mesmo quando finalmente puderam assinar os papéis finais que lhes resguardavam a guarda de Yuna. Jimin ainda passou dias assombrosos com pavor de tentarem tomá-la de si em algum momento quando nos primeiros meses não paravam de ligar ou de continuar aparecendo em sua casa.

Mas apesar de tanta dificuldade, os Mins não poderiam se sentir mais completos e felizes, com toda a família unida e sem ninguém ter o direito de dizer o contrário.

E claro que aquela nova fase de vida adicionou novos encargos de responsabilidades, afinal, Yoongi e Jimin já não eram mais adolescentes. Agora tinham que trabalhar, cuidar da casa e de sua filha. Talvez fosse estranho não encontrar um “tempo a sós” entre as opções, mas, com o tempo, o casal acabou aceitando que mesmo o “estar em família” talvez já fosse o suficiente para considerar o proveito da presença um do outro.

Ao menos era o que parecia.

Até agora.

E não é que culpassem a filha pelo rumo que seu casamento vinha tomando, mas sim suas formas de lidar com tudo que advinha da vida adulta, bem como da vida em família.

Talvez fosse a mania do Min de ser sempre pacífico demais, ou seu costume imbecil de derreter-se pela pose irritadiça de Jimin demais para se atentar às suas reclamações. Ou fosse sua ansiedade por dar um fim aos conflitos para ter logo seu garoto em seus braços. Mas deveria, ao menos por uma vez, ter dado mais ouvidos ao que a voz tremida do marido lhe suplicava nas discussões.

Talvez Jimin tivesse mesmo razão quando dizia que Yoongi estava sendo superprotetor a nível sufocante quando ainda não permitia que a filha dormisse na casa de coleguinhas e quando reclamava que tanto doce faria imensamente mal à menina.

Yoongi, então, começou a pensar que, se tivesse escutado ao menos uma vez as reclamações de Jimin sobre a toalha molhada na cama, pela cueca jogada no canto do quarto ou o jeito suspeito com o qual a vizinha conversava consigo, incomodando o Park; se tivesse atendido logo os pedidos da filha para ir ao parque antes de chegar ao nível da menina ter de se isolar a tarde toda chorando no quarto, ou a levado no cinema para assistir ao seu filme favorito; se Yoongi tivesse ouvido realmente, ao menos uma vez, não teria chegado ao extremo de ter de ouvir o que ouviu.

— Eu quero o divórcio.

— O quê? — Levantou-se rapidamente do sofá, atônito. Seu coração batia tão rápido no peito que Yoongi temeu já ter chegado sua hora, e, por um momento, foi aquilo mesmo que desejou a ter que aceitar estar mesmo perdendo Jimin.

— Já não somos mais os mesmos de antes, Yoongi. Não aja como se estivesse surpreso. — Apesar da desenvoltura de suas expressões, o tom de Jimin era arrastado, parecia cansado.

— Eu… eu… Jimin, nós estávamos bem.

— Bem? Estou há horas reclamando do bilhete romântico direcionado a você que encontrei no pé da porta quando cheguei do trabalho, e você não fez nada mais que me encarar e não dizer nada. E é isso que você tem feito não só hoje, mas todos os dias: nada!

— Está sendo injusto comigo.

— Injusto, Yoongi? — exaltou-se. — E o que me diz do presente esquecido de Yuna?

— Não fale assim… — pediu com pesar. — Sabe que na semana do aniversário de Yuna eu estava em um momento difícil. A empresa estava enfrentando problemas sérios com investidores importantes. Além disso, depois a levei no parque, e ela se divertiu muito.

— E o que tem a me dizer sobre o meu aniversário em que você me deu somente um cartão idiota comprado na lojinha da esquina às pressas já no finzinho do dia? Você sequer se esforça, Yoongi!

— O quê? Mas eu pensei que gostasse dos cartões. Você sempre sorri bobo quando lê.

— Para não chatear você! — bradou.

— Bom, funcionou — admitiu baixinho, relutante demonstrando seu desconcerto no ato de coçar a nuca involuntariamente.

Jimin riu desacreditado.

— Funcionou para você, Yoongi. Mas não temos mais dezesseis anos. E talvez esse seja o problema — pontuou e recebeu um silêncio frustrante como resposta, dando-lhe, então, espaço para que prosseguisse. — Onde está o Yoongi que eu conheci, ahn? Que se interessava em saber até quantas refeições eu havia feito no dia, ou que dormia e acordava contando sobre o quanto me amava?

— Mas eu te amo, Jimin. Porra, eu te amo demais!

— Então por que eu não consigo mais acreditar nisso?

Yoongi nada mais conseguiu dizer. O que tinha de úmido nos olhos marejados de Jimin derramando-se em lágrimas grossas, faltava na garganta do Min, ruidosamente seca sem o deixar emitir nem uma palavra sequer do enxame de sentimentos entalados.

Ficaram algum tempo nesse silêncio ensurdecedor, só não sendo absoluto pelos movimentos de Jimin ao se virar de costas, respirar fundo e pentear os cabelos para trás em clara frustração, não estando assim tão diferente de seu marido, que, apesar de permanecer sentado, tinha o olhar distante como se guiado na velocidade com a qual batia seu coração, mesmo que o destino final estivesse extremamente próximo.

Yoongi amava Jimin demais, mas precisava admitir que não sabia como refutar as argumentações do loirinho. De repente, não só aquelas queixas como todas as outras de tantas discussões finalmente vieram à tona na mente leviana do Min, que ainda encontrava dificuldade até mesmo para se recordar do que havia jantado na noite anterior.

Mas não é como se estivesse convencido sobre aquilo. Yoongi sabia que possuía falhas, mas reconhecia também que Jimin estava sendo impulsivo demais, quase tanto quanto acreditava em sua melhora por ele. Faria de tudo que fosse preciso para não o perder e gostaria que o Park também tivesse confiado em si antes de tomar uma decisão tão radical.

— Se é assim, podemos sair para jantar fora. Quem sabe conhecer o restaurante novo que inaugurou no centro. Ouvi muitos elogios sobre o lugar.

— Não acha que já está muito atrasado? — respondeu em tom de escárnio, rindo somente para não acabar perdendo o controle e acabar se exaltando demais. Não podia esquecer que sua filha estava dormindo no cômodo ao lado. — Já faz mais de uma semana, Yoongi.

— Você passou toda a semana anterior reclamando de mal-estar. O que queria que eu fizesse?

— Fingir que se importa e insistir um pouco mais para variar.

— Jimin, eu não sou nenhum adivinha.

— Isso não parecia um problema para você antes.

— Está sendo infantil.

— Oh, sério? Me desculpe por ainda me importar com pequenas coisas como o quanto meu marido liga para momentos só nossos.

— Mas eu também me importo! — posicionou-se, agora finalmente se colocando de pé enquanto tocava o próprio peito, parecendo realmente ofendido com a insinuação do outro. — Acontece que todos os nossos momentos juntos são especiais para mim. Independentemente se é num jantar do outro lado da cidade ou em casa onde você gosta de usar a bermuda cafona de bichinhos que a sua mãe te deu no Natal.

Em um primeiro momento, Jimin permaneceu em silêncio e de sobrancelha arqueada, incrédulo com a colocação do outro que só podia estar muito desesperado para ditar tudo aquilo.

— São gatinhos, para ser mais específico. E essa mesma bermuda que você chama de cafona é muito confortável e me lembra você, se quer saber.

— Estamos mesmo brigando por conta de uma bermuda?

— Você quem começou.

— Não importa quem começou, Jimin. Isso não está certo. — Cedeu; estava tão cansado… — Eu não concordo com isso. Não quero me divorciar.

— Não é mais você quem decide.

— Você não pode tomar uma decisão dessas sozinho.

— Como não? Se todas as demais decisões desta casa sempre têm que partir de mim porque você sempre está muito ocupado para tudo.

— Jimin… — Tomou uma pausa para respirar fundo enquanto tornava a mexer no próprio cabelo, como se a pequena bagunça que estava fazendo nele fosse capaz de dispensar a tontura que sentia. — Vamos apenas conversar, sim? Sei que podemos chegar a algum consenso sem ter que alcançar medidas extremas.

— Apenas conversar? Para quê? Só para você ter a oportunidade de se encostar em qualquer canto e pegar no sono enquanto me deixa falando sozinho mais uma vez? — insinuou. — Eu já tomei a decisão. Vai ser melhor assim — disse, por fim, ao virar-se de costas, não pretendendo deixar muitas brechas para qualquer nova refutação por parte do outro.

Quanto mais discutiam sobre o assunto, menos sentido a decisão de Jimin parecia fazer. E não é que estivesse desprezando as angústias do marido, mas Yoongi continuava achando que a ideia de um divórcio assim, tão repentina, era sim uma providência muito impulsiva e tão logo errônea.

Sabia, no entanto, que aquele não era um momento para discussões. Conhecia o marido o suficiente para saber que, de cabeça quente, todas as suas contra-argumentações entrariam por um ouvido e sairiam pelo outro feito pó, que, ainda que pudesse ser sentido, era tão sutil que reação alguma causa.

— Eu acho melhor terminarmos essa conversa em outro momento. Yuna está dormindo e não quero acordá-la. Eu vou procurar um lugar para passar essa noite.

Jimin o respondeu somente com um aceno positivo de cabeça, os olhos pesando em mágoa e o corpo tão pesado em angústia que o loirinho quis acreditar que cruzar os braços pudesse ajudá-lo a segurar ao menos alguns cacos de seu coração.

— Bom, se precisar de alguma coisa, me ligue — foi o que disse antes de se debandar para o quarto em passadas rápidas, desesperado por fugir logo daquele ambiente tão tenso.

Pretendia ao menos pegar uma muda de roupas, já que pretendia voltar no outro dia para uma conversa mais amena ou, se as coisas dessem mesmo errado, se despedir adequadamente da filha. Quer dizer, se não fora bom suficiente sequer para cuidar de seu casamento, não se achava o homem mais indicado para tomar a guarda da filha. Além disso, não queria deixar Jimin sozinho.

Jimin aproveitou estar só para finalmente se sentar, tentando acreditar que as dores repentinas no corpo eram somente cansaço do dia longo de trabalho. Mas no fundo ele sabia; sabia que aquela dor tinha nome e logo teria também um novo endereço.

Há meses vinha pensando na possibilidade de uma separação. Seu casamento já não era o mesmo e não tinha como negar ou tentar reverter quando o esforço era unilateral. Para Yoongi, tudo estava sempre bom de qualquer jeito, então por que se esforçaria para mudar algo quando ele nem sequer enxergava algum problema?

Além dos constantes esquecimentos de Yoongi sobre datas importantes, até mesmo os passeios em família vinham se tornando escassos. O marido sempre estava cansado demais para fazer algo, e se fosse para algum programa fora, estava sempre sem dinheiro e não achava justo que o Park bancasse tudo sozinho. Portanto, sempre ficavam em casa fazendo um grande nada.

Seria compreensivo com as dificuldades do marido se Yoongi agisse de acordo, mas ao mesmo tempo que o via negando algo em casa, também o pegava ajudando os amigos financeiramente, como se todas as contas que havia citado para ele dias atrás tivessem desaparecido de repente.

Além disso, poderia estar soando babaca, mas uma das coisas que lhe feria — se não a maior delas — era a distância do Min. Os toques íntimos ou mesmo os singelos carinhos haviam deixado de existir quase que completamente. Yoongi raramente o tocava, sequer reparava quando algo estava errado consigo, como da última vez que pegou um resfriado e teve uma forte febre, não recebendo nada mais que um sermão do outro por ter pego chuva na volta do mercado próximo de casa ao invés de apenas esperar que a tempestade amenizasse.

Quando tentava conversar com o marido sobre, o simples fato de colocar aquelas angústias para fora fazia tudo parecer tão bobo que Jimin por um momento se perguntava se valia mesmo a pena importunar Yoongi sobre aquilo. Talvez fosse só carência.

No entanto, a falta de real atenção do outro fazia com que todas as palavras despejadas de Jimin fizessem um giro no ar tal como um boomerang, retornando com força total direto na sua cara. Por fim, acabava por deduzir que, se doía, se o machucava, não era besteira.

Grande ou pequena, uma ferida ainda era um machucado; ainda dói. E, se não fosse devidamente cuidada, inflamaria, causaria um estrago absurdo. E era bem assim que Jimin enxergava a situação de seu casamento.

Tanta distância e indiferença não demoraram a mexer com a autoestima de Jimin, que, sinceramente falando, nunca foi a pessoa mais segura do mundo, mas apreciava como Yoongi o fazia se esquecer disso quando estava por perto. E essa foi uma das razões pela qual se apaixonou.

Yoongi conseguia cegá-lo para todos os potenciais defeitos que encontrava em si sempre que encarava o espelho; conseguia ver encanto até mesmo em suas falhas e manias esquisitas, transformando cada trejeito seu em uma peça indispensável para quem era; nada menos do que incrível.

Em alguns minutos, Yoongi retornou do quarto com uma mochila apoiada em um dos ombros e permaneceu ali, no meio da sala, por minutos que pareciam passar devagar demais quando era torturante a espera por alguma palavra, qualquer coisa por parte do Park que o fizesse apenas largar aquela mochila ali e aceitá-lo em seus braços.

Mas nada foi dito.

Uma vez ouvira que até mesmo as plantas fazem valer as palavras bonitas que escutavam, crescendo mais fortes e bonitas na medida do carinho que lhes era dedicado em seu crescimento. Yoongi sempre achou isso uma completa bobagem, até agora.

Porque assim como a mais bela das rosas, Park Jimin também precisava e merecia ser cuidado e enaltecido; seu casamento deveria ser melhor nutrido. Mas Yoongi falhou.

Agora só restara a escuridão e amargor do líquido morno em seu copo, perdendo o gosto tal como todas as coisas na vida de Yoongi à medida que fragmentos de Jimin também se perdiam de si.

O travesseiro que ocupava o lado vago da cama não possuía o mesmo perfume das madeixas loiras recém-lavadas. Acordar não era a mesma coisa sem se sentir ser cegado pela claridade, fosse do sol que entrava pela janela ou do sorriso brilhante de Jimin ao abrir as cortinas desejando-lhe bom dia. Na bancada já não encontrava mais o pote de açúcar aberto depois de Jimin lotar sua xícara enquanto reclamava do intenso amargor do café que preparava. Chegar em casa no fim do expediente já não era mais reconfortante sem os abraços quentinhos de Yuna e os beijos do Park.

E Yoongi poderia passar toda a noite comentando sobre o quanto a falta de sua família o estava dilacerando, mas nem sequer conseguia pensar adequadamente sobre qualquer coisa que não envolvesse “eu o perdi”.

Como o planejado, aproveitou o horário em que Yuna estaria na escola para retornar para casa e tentar uma nova conversa com o marido, mas não obteve êxito.

O máximo que conseguiu foi um aperto de mão de Jimin, que estava fazendo um ótimo trabalho de fingir estar bem com toda aquela situação, pois cada sorriso impecável que dava transformava-se em um soco certeiro no peito de Yoongi, que repetia a todo momento a idade que possuía para si mesmo, como um mantra que pudesse impedi-lo de cair aos prantos ou até mesmo se ajoelhar na frente do outro pedindo perdão.

E para ser sincero, olhando de agora, deveria ter arriscado.

No final, acabou decidido que Yoongi quem cederia a casa que ainda estavam pagando, para retornar ao seu antigo apartamento que havia sido dado de presente pelos pais assim que ingressou na faculdade. Mesmo que aquela não fosse a atual residência dos Mins, foram aqueles móveis antigos que registraram os primeiros passos da relação bonita que construíram antes de decidirem formalizá-la. Foi naquele sofá de estofado desgastado que confessaram o envolvimento para além de uma atração enquanto terminavam mais uma transa.

Foi quando Yoongi mergulhou os dedos por entre os fios loirinhos de Jimin, repuxando-os para trás de forma a expor mais do pescoço clarinho, onde desenhou uma trilha de beijos até alcançar o ouvido, onde sussurrou com toda sinceridade do mundo que amava Park Jimin; daquele jeito, somente para dar uma investida mais forte e assistir o mais novo desfazer-se em lágrimas de cima a baixo; somente para vê-lo tão fraco e entregue por si, como era por ele.

Tudo ali lembrava Jimin. Desde a poltrona furada pela mordida de um vira-lata que Jimin adotou, mas a mãe não aceitou — sobrando para Yoongi —, até a marcação única a pincel na quina da parede quando o rapaz jurou que ainda cresceria alguns centímetros e poderia provar.

Exausto de seus pensamentos esvoaçantes, Yoongi jogou suas costas contra o encosto do sofá e repuxou seus fios escuros, encarando as laterais do cômodo com incredulidade sobre a situação em que se encontrava; a dor transbordando por seus olhos marejados, mas que jamais vazavam, tamanho era o orgulho do homem que ainda se negava a aceitar ter perdido o amor da sua vida.

O gesto de umedecer os lábios ajudou a trazer um tanto de cor para a boca seca e pálida. Ele não sabia há quanto tempo exatamente estava sem comer, sustentando-se apenas do líquido da bebida alcóolica que ingeria desde a noite anterior. E, considerando que já era início de uma nova noite, era realmente um milagre ainda estar consideravelmente bem.

De repente, o copo que segurava foi jogado contra a mesinha de centro, emitindo um ruído do vidro escorrendo sobre ele até a outra extremidade, quase caindo no chão, onde a garrafa ainda aberta foi chutada por Yoongi, que mal se importava com o restante da bebida derramando e manchando o chão.

Que se dane!

Jimin não estava mais ali para reclamar.

Jimin não estava mais ali.

— Inferno! — esbravejou ao passo que jogava novamente o corpo contra o sofá, apoiando a cabeça no topo do encosto de forma a poder encarar o teto e buscar na tintura neutra qualquer paz no meio de tanta angústia.

Tudo parecia girar e Yoongi não achava justo culpar somente a bebida quando exatamente tudo parecia fora do lugar desde que Jimin propôs o divórcio.

Detestava admitir, mas estava chorando e não havia como negar. Seus olhos agora ardiam como o inferno, assim como sua garganta, que ainda estava dolorida pelo nó do brado, que não demorou a sair arrastado e rouco com todo peso da dor que ele sentia no peito.

Não saberia viver sem Jimin e, para ser sincero, nem fazia muita questão de tentar, apesar de poder soar infantil e egoísta, visto que tinha uma filha.

É, talvez Jimin estivesse mesmo certo no ponto em que dizia que o Min precisava aprender a valorizar as pessoas de sua vida.

E tal como se o universo estivesse o ouvindo, o celular disposto na mesinha logo tocou, alarmando o homem que jogou o corpo com tudo em cima do móvel, acabando por deixar cair o copo que insistiu tão arduamente para manter-se íntegro. Mas não importava. Importava somente o nome de seu amado reluzindo na tela de seu aparelho celular.

— Por favor, tenha mudado de ideia. Por favor, tenha mudado de ideia… — repetia como um mantra antes de, enfim, atender a ligação, mal tendo paciência de se acomodar numa posição mais confortável.

— Alô, Yoongi?

— Sim? Está tudo bem? — indagou ao notar o tom aturdido do — ainda — marido.

Yuna não está bem, Yoongi. Eu não sei o que ela tem. Por favor, venha para casa, hyung! — suplicou aos prantos. Yoongi nem precisava estar por perto para notar que o outro estava trêmulo do outro lado da linha.

Chego em cinco muitos — foi tudo o que disse antes de jogar o celular contra o sofá e correr para o quarto, na desculpa de que pegaria um casaco.

A verdade era que ele aproveitou daquele tempo para tomar um banho rápido e escovar os dentes. Não queria que a filha o visse naquele estado, tampouco Jimin, que já tinha motivos de sobra para odiá-lo até a próxima encarnação.


[...]



— Onde ela está? — perguntou Yoongi, aturdido, assim que a porta foi aberta após as diversas vezes consecutivas que tocara a campainha. E ele nem sequer esperou alguma resposta, disparando em direção ao quarto da filha.

Yuna estava desacordada num sono pesado, mesmo que nem parecesse, porque a garota se remexia, revirando a cabeça de um lado para o outro, molhando ainda mais o travesseiro que já estava encharcado do suor que escorria de seus cabelos e rosto.

— Por que não levou ela ao hospital? — Agachado ao lado da cama da filha, Yoongi tocou a testa desta; suas sobrancelhas involuntariamente se elevando na medida de seu espanto.

Yuna estava fervendo!

— Você ficou com o carro, esqueceu?

— Hoje em dia existem motoristas por aplicativo. Quer que eu os apresente?

Em um primeiro momento, Jimin o respondeu com a expressão ultrajada e nem os braços cruzados pareceram o suficiente para segurar sua boca entreaberta em incredulidade tamanha a grosseria do outro. — Eu... eu não consegui pensar nisso, ‘tá bem? Eu estava desesperado, você foi a primeira coisa que me veio à cabeça.

Ao dedicar um olhar ao marido, Yoongi quase cedeu aos olhinhos perdidos e gestos descontraídos de Jimin, que nem sequer conseguia fixar a atenção num ponto exato quando até suas palavras estavam completamente desorganizadas na sua cabeça. Yoongi gostaria de poder confortá-lo com um abraço, mas acreditava que o Park não desejava o mesmo, então se controlou.

— Tudo bem, me perdoe. — Suspirou longo. — Me diga que ao menos chamou um médico até aqui.

Jimin acenou positivamente com a cabeça. — Ele está a caminho.

Com um assentir em conformismo, Yoongi se retirou do quarto para retornar instantes depois com uma bacia de água fria e um pano, puxando uma cadeira para o lado da cama onde se sentou.

— O que vai fazer?

— Vou tentar controlar a temperatura dela até que o médico chegue com o medicamento adequado. Nunca viu isso em novelas? — explicou ao passo que mergulhava o pano na bacia para depois torcê-lo e dobrá-lo antes de depositar sobre a testa de Yuna.

— Já, mas é engraçado. Não pensei que desse mesmo certo.

— Bom, ajuda um pouco. — Repetindo o processo por um bom tempo, sem ter chance de notar as encaradas de Jimin em sua direção.

Seria cômica a cena se não fosse trágica. Quer dizer, se Yoongi tivesse se preocupado tanto quanto parecia agora, nada daquilo estaria acontecendo e não precisariam estar molhando todo o chão e lençóis da cama tentando cuidar da filha adoentada durante a espera angustiante por um médico.



[...]


— Ela deve ter passado por alguma emoção forte demais — deduziu o médico durante o processo de tirar o estetoscópio pendurado ao pescoço para guardá-lo de volta em sua maleta.

De acordo com o que lhe fora dito, Yuna parecia irrefutavelmente saudável na manhã daquele dia, sem qualquer indício de gripe ou qualquer outro mal-estar que pudesse explicar o tão repentino estado febril intenso. E era claro que exames precisavam ser feitos para uma mais precisa apuração, mas, por ora, aquela foi a ideia mais aproximada que o médico poderia dar.

Os dois presentes nada disseram, o peso da culpa os calando como duas crianças que haviam quebrado o vaso preferido da mãe.

Sendo assim, o Dr. Hong prosseguiu: — Podem pensar que não, mas, assim como os mais velhos, as crianças também podem sentir quando algo está errado. Às vezes até mais.

— Entendo… — Jimin respondeu com pesar, nem sequer conseguindo levantar a cabeça para encarar o médico.

Yoongi também não disse nada mais, ocupando-se em sentar a menina, mesmo notando a dificuldade desta para sequer conseguir manter os olhos abertos enquanto engolia o comprimido e posteriormente a água oferecidos pelo médico.

— Acredito que, por ora, isto pode ser o suficiente, mas, se em pelo menos 40 minutos, a febre não baixar, recomendo que procurem o hospital mais próximo, sim?

— Muito obrigado, doutor. Eu não sei o que faríamos sem o senhor a essa hora.

— Não tem o que agradecer, só fiz o meu trabalho. — Sorriu cordial para o rapaz mais novo, que continuava se reverenciando respeitosamente em sua frente enquanto guardava o restante de suas coisas.

— Eu te acompanho até a porta.

— Escuta… — começou o homem já de idade ao estarem próximos à porta de saída e, portanto, numa distância segura da menina adoentada. — Eu não sei o que está se passando, mas acho importante levar em conta que a filha de vocês é ainda muito nova e não aprendeu a lidar com certas situações. Precisam tomar cuidado em como se resolvem ou em como passam isso para ela.

— Eu entendo, e o senhor tem razão. Acho que acabei sendo mesmo muito descuidado — admitiu pesaroso, coçando a nuca involuntariamente enquanto olhava para lugar nenhum, somente para não ter de enfrentar o sorriso espertalhão do senhor de idade em sua frente.

Aquele olhar de quem já sabia exatamente o que estava acontecendo, tão como se já pudesse enxergar o desfecho e, portanto, estivesse se divertindo com toda a cena. Aquele mesmo olhar que os mais velhos já bastante vividos faziam antes de discorrer todo seu diploma sobre a vida e suas diversas situações e desafios.

— Bom, de qualquer forma, fiquem de olho em como Yuna vai reagir ao remédio e me liguem ou a levem ao hospital. Estaremos a postos — avisou junto de um aperto de mãos com o Park, que sorriu amarelo, tamanho desconcerto.

Estando de volta ao quarto, Jimin se encostou no batente da porta, admirando de respiração mais leve o sono mais tranquilo da filha, sendo proximamente vigiada por Yoongi que jamais pausava o carinho em sua mãozinha, selando sua testa posteriormente, ignorando completamente os resquícios de suor ainda presente em sua tez.

Sua cabeça fazia um enorme corte desde o momento em que conversou com Yuna, após o café da manhã, até o presente momento.

Ainda estava fresco em sua memória o momento em que contou para a filha que iria se separar de Yoongi e explicou o que exatamente aquilo significava, bem como o fato de que a menina resumiu todas as horas de conversa em “você nunca mais verá o papai Yoongi” quando isso nunca foi o que Jimin realmente quis dizer com tudo.

Min Yuna já tinha seis anos de idade e era uma garotinha muito esperta, assim como Yoongi. Talvez fosse por isso que Jimin tivesse acreditado que ela seria capaz de compreender toda a situação, mas estava errado. Completamente errado.

Estava exigindo demais da filha.

Tal percepção começara a pesar em seus ombros quando teve de assistir a filha correr a passos pesados para o quarto, gritando para quem quisesse ouvir o quanto o odiava. No entanto, sabia que em algum momento a menina seria capaz de entender, ela precisava. Não tinha outro jeito.

— Papai? — chamou baixinho, coçando os olhinhos devido ao insistente sono, alarmando os outros dois presentes.

— Filha!

— Baixinha…

Pronunciam ao mesmo tempo; cada um ocupando um lado da cama e possuindo para si as mãos pequeninas da menina, que os olhou com confusão, mas aparentemente muito feliz, pelo sorriso que abriu aos pouquinhos.

— Como se sente, baixinha? — foi Yoongi quem perguntou, após receber uma permissão do olhar pacífico do Park.

— Estou com sono — respondeu, separando-se do pai para coçar o olho mais uma vez. — O que faz aqui? O papai disse que você foi embora.

— Não foi bem o que eu disse, meu amor — quis esclarecer, mas Yoongi o repreendeu com o olhar. Não era momento para discussões.

— Eu soube que você não estava muito bem, então vim correndo ficar com você.

— Isso quer dizer que vocês voltaram? Você não vai mais embora, papai?

Yoongi umedeceu os lábios que pareciam ter ressecado completamente de repente. Seu olhar pesou sobre Jimin enquanto respirava fundo prendendo ar em seus pulmões que clamavam por tal.

O que responderia? O médico havia sido bastante claro sobre evitarem conversas tensas demais, ainda mais num momento como aquele. Além disso, explicar adequadamente a situação para a filha carecia de uma compreensão e tranquilidade que ele mesmo ainda não possuía.

Jimin parecia encará-lo da mesma forma, abrindo a boca diversas vezes sem nada emitir. Não sabia o que responder, realmente não fazia ideia.

— Yuna, escuta, meu amor… — Jimin começou, notando que Yoongi não conseguiria dizer nada. — Eu e seu papai Yoon, nós-

— Jimin! — chamou de repente, em alto e bom som o suficiente para surpreender a filha e o marido, que o encararam ao mesmo tempo. — Desculpe — pediu desconcertado. — Podemos conversar?

O Park dividiu o olhar com a filha e então retornou para Yoongi antes de assentir positivamente, levantando-se.

— Eu já venho, amor — avisou, selando a testa da filha.

Yoongi já estava há alguns segundos o esperando do lado de fora do quarto, aparentando estar inquieto enquanto andava de um lado para o outro, estalando os dedos da mão, mal notando a presença atrás dele até virar-se, dando de cara com o Park.

— Do que queria falar? — indagou Jimin ajeitando a postura, cruzando os braços e olhando o marido no fundo dos olhos brilhando em toda sua escuridão, servindo de holofote para sua própria expressão impassível.

— Eu… eu acho muito cedo ainda para dizermos a verdade. Tenho medo que algo mais grave aconteça. Sabe o custo que foi para conseguirmos adotá-la, foram meses com assistentes sociais no nosso pé o tempo todo. Eu sei que já se passaram anos, mas eles ainda podem estar esperando o menor dos deslizes para tirá-la da gente. — Sua fala era apressada, banhada de desespero.

Jimin tentou e, por pouco, não falhou em conter um risinho pela ardileza do Min para tentar enganá-lo.

— O que propõe?

— Hm?

— Sim, deve ter alguma ideia do que fazermos se não contarmos logo a verdade. Ou o que pretende responder a ela quando procurar por você e não encontrar? — Estreitou o olhar.

— Bom, na verdade… — Umedeceu os lábios; estava tão nervoso… — E se… nós fingirmos?

— Fingir?

— Uhum! Podemos fingir que reatamos até encontrar um momento melhor para contar — explicou a Jimin.

— Está sugerindo que a gente minta para a nossa filha?

— Não é mentir, Jiminnie. Vai ser somente uma omissão.

— Omissão? — Riu.

— Sim. Ainda não assinamos os papéis do divórcio, então tecnicamente ainda estamos casados.

— Perspicaz.

— E então, você aceita? — Sorriu maior, balançando-se na pontinha dos pés tal como uma criança tentando a todo custo conter a própria empolgação.

Apesar de estar mesmo sendo sincero quanto à sua precaução sobre o atual estado febril da filha, para Yoongi, essa parecia também uma oportunidade perfeita para tentar reconquistar Jimin, ou — no pior dos casos — aproveitar adequadamente os últimos dias ao seu lado, como seu marido.

Já Jimin, continuou irredutível sobre sua decisão e achou absurda a ideia do Min, apesar de caber muito bem à atual situação. Dentro do quarto, havia uma miniversão do Min espertalhão aguardando por uma resposta imediata.

Mas, se foi capaz de suportar meses naquele casamento morno, ficar mais um pouco, pelo bem-estar da filha, não parecia um sacrifício assim tão impossível de aguentar. Seria por pouco tempo, afinal, já havia dado entrada nos papéis para o divórcio e, depois de assinados, não teria como voltar atrás, tampouco continuar com aquela farsa.

É por um bom motivo e por pouco tempo, está tudo bem.

— Eu aceito.

~~


Notas finais: Será que a mentirinha dos Yoonmin vai ou não dar certo? E quais serão as consequências?

Espero que tenham curtido. Até a próxima!

Dec. 11, 2021, 10:43 p.m. 0 Report Embed Follow story
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