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Quando a noite mais longa do ano chega, Jimin está na janela de sua casa em Busan, apoiando-se no parapeito e observando o céu escuro como o poço mais profundo. Ao seu lado, um delicioso prato cheio de patjuk está servido, borbulhando de tão quente. A cor arroxeada da comida é apenas um dos aspectos que Jimin mais gosta, o sabor delicioso vindo em seguida. Mas o que o deixa completamente intrigado é a lenda de que, especificamente no dia do Dongji, comer patjuk afasta os maus espíritos. E, sim, Park Jimin acreditava com todas as forças nessa crença que era carregada consigo desde que nascera. O estranho foi que, ao terminar de comer e olhar mais uma vez pela janela, ele viu um homem com olhos vermelhos como fogo parado em seu jardim. E se, ao invés de espantar os maus espíritos, o tal patjuk trouxesse um para dentro de sua casa?


Fanfiction Bands/Singers Not for children under 13.

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When the longest night, turns the darkest one

Escrito por: @mindokyu

Notas Iniciais: Olá, amores da Mari! Tudo bom com vocês? Espero que sim!!

Essa fanfic é muito especial para mim porque escrevê-la foi uma vitória, de verdade. Eu passei por momentos de bloqueio criativo, problemas pessoais, tudo junto e, mesmo assim, consegui tirar forças de algum lugar para escrever. Então, agradeço desde já quem está lendo e, principalmente a Noh (minie_swag/minie_swag) por ser tão maravilhosa e compreensiva!

Obrigada Liv (@sweetjimin) por ter betado minha bebê e obrigada Bea (@yoonckyn) pela capa maravilhosa! Vocês são incríveis!

Boa leitura!


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Em um bairro bem afastado de Seul, morava a família Park, uma das famílias mais tradicionais e queridas daquele subúrbio. Park Sang era a matriarca, a pessoa que mantinha, não só a família, mas, também, todas as tradições de anos ainda vivas. A senhora Park tinha dois filhos, Park Sungjin, o mais velho, e Park Jimin, o caçula querido. Sungjin já havia se mudado para a cidade grande para trabalhar no emprego que sempre sonhou, mas voltava sempre que possível para dar aquele abraço apertado em sua mãe. Park Jimin era adorado por todos os moradores do bairro, o menino de ouro das velhinhas que ele ajudava a atravessar a rua. Todos amavam Park Jimin. Diferente de seu irmão, Jimin não tinha planos de se mudar para um bairro maior, ele amava toda a calmaria de onde nasceu e cresceu. Cursou a faculdade de Letras em um lugar pequeno e prestigiado, conseguiu um emprego em uma cafeteria e por enquanto é isso que ele quer: uma vida tranquila ao lado de seus amigos e família.

— Jimin, querido, o almoço está pronto. — Era sua mãe o chamando, aparecendo pelo vão aberto da porta, os olhinhos pequenos iguais aos dele sendo as únicas coisas que podiam ser vistas.

— Já vou, mãe — respondeu, largando o livro que tinha em mãos, marcando exatamente a página onde parou a leitura. O livro estava bom demais e logo queria finalizá-lo.

Desceu as escadas, pé ante pé, sendo agraciado logo de cara pela senhora Choi sentada no sofá, uma cena bem cotidiana.

— Boa tarde, senhora Choi — cumprimentou com um aceno de cabeça.

— Boa tarde, menino Jimin, como está?

— Muito bem, e a senhora? — O sorriso estampado no rosto era uma das marcas registradas do menino, sempre alegre e bondoso. O encanto do bairro, literalmente.

— Vou bem também. Animado para o Dongji? — perguntou a pequena mulher, encaminhando-se para a cozinha junto a si.

Ao ouvir a pergunta, Jimin arregalou os olhos. Como pôde se esquecer que em menos de uma semana seria o festival de Donji?

— A-ainda não, Ajumma! Ommo, quase me esqueci! — espantou-se o menino, levando as mãos aos lábios.

— Como assim, Jimin? É seu festival favorito. — Riu casualmente, parando ao lado da amiga de anos para ajudar a pôr a mesa. — Deve estar com a cabeça nas nuvens para esquecer. — Jimin riu, sem graça, sentando-se para almoçar junto das duas senhoras.

Não é que Jimin tivesse esquecido da data, ele só estava tão atarefado no trabalho e perdido em suas leituras que nem parou para ver a data no calendário. O fim do ano se aproximava e junto a isso chegavam suas festividades favoritas: Natal, Ano Novo e, a mais querida de todas, Donji.

Dongji acontecia na noite mais comprida do ano, também conhecido como solstício de inverno, e só essa informação já era algo para fazer Jimin amar o festival logo de cara. Park Jimin amava a noite, ele era praticamente uma corujinha curiosa que amava ficar empoleirado na janela lendo ou escutando músicas.

Mas não era apenas isso que deixava a data tão especial. Uma das melhores partes era o patjuk, prato tradicional comido neste dia que ele e sua mãe — e algumas amigas dela, claro — se uniam na cozinha com os vizinhos para prepará-lo. A sopa de feijões vermelhos era conhecida por trazer ótimas energias e, principalmente, espantar os maus espíritos. Esse era o toque mágico do Dongji. Jimin adorava o clima frio, a festividade e rezar para o universo só trazer coisas boas para ele e sua família.

Naquela tarde, antes de finalizar o livro que estava lendo, abriu sua agenda da semana, fazendo uma enorme demarcação no dia onde aconteceria o Dongji. Colocou luas ao redor de onde tinha escrito e frases positivas que adoraria atrair para si em suas preces.

Pegou o celular, tirando uma foto da página toda enfeitada e produzida, e enviou para seus amigos, Hoseok e Taehyung.

Ele tinha grandes planos para a noite mais longa do ano.

-x-

O sol brilhava alto no céu, o vento frio de quase inverno balançando os galhos das árvores. Um clima agradável para sair, ler um livro na varanda de seu quarto, andar de bicicleta e aproveitar que o vento ainda não está cortando as maçãs do rosto. Ele poderia fazer literalmente qualquer coisa, mas Park Jimin teve a brilhante ideia de começar com os preparativos antes de sua mãe chegar do mercado, afinal, o grande dia havia chegado.

E, bem, não deu muito certo.


— Mãe, onde está o arroz? — perguntou Jimin, virando-se assim que percebeu a mãe e a senhora Choi entrando pela pequena cozinha de sua casa, carregando algumas sacolas de compras. — Não estou achando.

— Está no armário, querido. — Apontou para a porta à direita do menino, olhando com aquela cara de “se eu olhar e achar, esfregarei na sua cara”. Largou a compra feita em cima da mesa e aproximou-se do filho. — O mesmo lugar de sempre — finalizou ela, abrindo o armário e achando facilmente o arroz que Jimin passou pelo menos cinco minutos procurando.

— Er… Desculpa, mãezinha... — resmungou, levando um bico nos lábios. — Eu sempre esqueço onde ficam as coisas nessa cozinha.

— Isso é um sinal de que você deveria vir mais para ela, não é mesmo, Sang? — comentou senhora Choi, intrometida que só.

— E que não seja para comer, porque, olha, esse menino sai do quarto para cozinha apenas para se estufar de guloseimas — complementou a mãe do menino, não ligando a mínima para a cara de emburrado que ele estava. Ficava até mais fofo ainda com o avental e o rostinho bravo, pensou ela.

— Essas crianças nunca mudam.

— Eu não sou criança! — bradou Jimin, cortando senhora Choi com toda a falta de educação do mundo. — Tenho 25 anos, minhas queridas senhoras.

— E o respeito, enfiou onde? — bradou senhora Park, batendo o pano de prato no ar, na intenção de acertar o menino.

Eomma! — choramingou Jimin, tirando o avental que usava para cozinhar, ou melhor tentar cozinhar. — Não me bate!

Aigo, eu não ia te bater. — Gargalhou a pequena senhora, chegando perto de seu filho e o abraçando. — Só passa esse avental para cá, você não é o melhor cozinhando. Não saber onde fica o arroz é a maior prova disso.

Jimin tinha apenas que concordar com os fatos.


O dia passou bem mais rápido do que Jimin esperava, a movimentação em sua casa era sempre grande em dias festivos. Mais três vizinhas, pelo menos, se juntaram para ajudar com os preparativos durante a tarde. Quando a noite chegou, fria e aconchegante, a sopa de feijão vermelho já estava pronta, fumegante e muito saborosa.

A pequena sala da família Park estava abarrotada de gente, todos os mais próximos da família se juntaram para comemorar o Dongji e colocar a conversa em dia. Os dois melhores amigos de Jimin também foram para o jantar, Taehyung e Hoseok. Conheceram-se na faculdade de Artes e Dança, e mesmo depois de formados continuaram sendo muito amigos.

— Eu amo o patjuk da sua mãe! — A boca de Hoseok, mais conhecido como Hobi, estava cheia, mas mesmo assim não conseguiu nem mesmo terminar de engolir para elogiar a sopa deliciosa.

— Pelo amor de Cristo, Hobi! Engole a sopa primeiro, depois fala — reclamou Taehyung, que ainda estava na metade do prato.

— Exatamente, Hobi! É um dia muito especial, você tem que comer com calma e se concentrar em coisas boas! — comentou Jimin, a voz saindo em um sussurro. Todos na sala de jantar conversavam baixo, mantendo um clima ameno e pacífico. Hobi destoava um pouco com sua energia alegre e contagiante, mas Jimin o amava do jeitinho que ele era.

— Mas a verdade precisa ser dita, Jimin-ssi! A sopa está divina! — Levantou as mãos, balançando-as de um lado ao outro, fazendo a senhora Park e as outras mulheres do lugar rirem com o ato.

— Você é um palhaço, Hobi-ah! — falou Taehyung, dando leves batidinhas no ombro do amigo. — Mas agora foca nas coisas boas! — retrucou Tae, fazendo uma carinha de concentração e comendo uma colherada da sopa.

— Que o meu vizinho gostoso me note, por favor! — sussurrou Hoseok, alto o suficiente para que apenas seus amigos escutassem.

A sopa que Jimin tinha acabado de colocar na boca quase saiu voando por seus lábios, o riso alto fazendo-o engasgar.

— Hobi hyung! — gritou ele, reparando nos olhares, agora bravos, que sua mãe lançava para onde estavam sentados. — Fala mais baixo! E quem é esse vizinho que nunca ouvi falar?

— Ele não te contou? — perguntou Taehyung, também se recuperando de um quase engasgo. — É um menino que se mudou para lá faz pouco tempo.

— E qual é o nome dele?

— Ainda não sei — respondeu Hobi, bebendo um pouco de água que a senhora Park tinha deixado ali. — Eu só fico observando de longe, mas ele é muito lindo.

— Precisa saber pelo menos o nome, hyung! — disse Jimin, terminando de comer sua sopa.

— Depois desse meu super pedido no Dongji, com certeza ele vai bater na minha porta amanhã e se declarar para mim. — Mais uma onda de risos abafados foi ouvida pela sala.

— Mas hoje é apenas para espantar espíritos maus, tem que manter pensamento positivo para atrair boa energia — comentou Jimin quase como um mantra. Ele sempre parava para explicar tudo sobre essa data comemorativa para qualquer um que encontrasse.

— E eu não posso pedir para uma alma boa, especificamente uma alma deliciosa, bater à minha porta? — zombou o menino, arrancando mais risadas dos amigos.

— Continua com o pensamento positivo então, Hobi! Quem sabe o dia de hoje atrai alguma coisa ao invés de espantar, né? — comentou Taehyung, brincando com o amigo.

— Por favorzinho, deuses do Dongji. — Hobi juntou as palmas das mãos, como se fosse rezar. — Tragam meu vizinho gostosão!

— Vocês são impossíveis! — Jimin apertava a barriga de tanto que ria do amigo. — Não sei se isso funciona, mas se der certo, por favor, me avise.

[...]

A casa estava silenciosa depois que todos foram embora, muito diferente de horas antes, onde todos comiam e rezavam, aproveitando junto uma noite cheia de significados. Jimin ajudou sua mãe a limpar a sala e cozinha, deixando um beijo em sua testa quando foi para o quarto. Claro, toda a festividade e boas energias que emanam do jantar e do patjuk era o que mantinha a tradição do Dongji viva. Mas, para Park Jimin, a melhor parte estava por vir.

O menino abriu a porta que dava passagem para a pequena varanda que tinha em seu quarto, deixando o vento frio entrar. Pegou uma coberta, enrolando-se bem quentinho juntamente com seu chá e sentou-se na varanda, as pernas bem próximas a seu peito. Essa era a parte favorita de Jimin: observar o céu escuro e cheio de estrelas. A noite era fascinante aos olhos de Jimin, e era nesse momento que ele literalmente sentia toda a energia boa o rodear.

— Que esse inverno nos traga coisas boas e felicidade — falou para si mesmo, bebericando um gole de seu chá. Os olhos sempre fechados, os lábios carnudinhos apenas deixando com que seu coração falasse. — Que a felicidade nos abrace como merecemos! — Mais um gole em seu chá. — E, por favor, espante os maus espíritos — finalizou a prece com mais um gole de chá, seus olhos ainda fechados, apenas sentindo o frio tentar penetrar seu cobertor.

Abriu os olhos, coçando um deles com as costas da mão, deixando a xícara de chá ao seu lado e focando sua visão no quintal de sua casa, no andar de baixo. Assustou-se ao ouvir, de repente, um galho se quebrando como se alguém tivesse pisado no graveto, folhas começaram a se mexer em meio à escuridão de seu quintal.

— Qu-uem… quem está aí? — perguntou amedrontado, o corpo congelado no lugar sem responder ao ímpeto repentino de correr.

Sua respiração ficou mais descompassada ainda quando voltou a ouvir o farfalhar das folhas caídas abaixo de si. Apertou a coberta ao redor de seu corpo e fechou os olhos, entoando a primeira reza que vinha em sua mente. Os lábios se moviam tão rápido quanto sua mente mandava, os dedos tremiam embaixo do cobertor felpudo. Sentiu um vento aumentar em torno de si, como um pequeno vendaval, e, de repente, tudo parou. Seu corpo tremia, o coração palpitava, os olhos não queriam se abrir, mas ele tinha que sair dali de algum jeito, não tinha escolha. E foi o que ele fez: Park Jimin abriu os olhos, ainda sentado sem reação em sua varanda, na noite mais longa do ano. E lá estava ele, de olhos vermelhos e dentes ferozes, parado nas sombras, olhando Jimin visceralmente.

O grito preso na garganta não saiu por algum motivo, mas as pernas de Jimin voltaram a funcionar quando ele correu para dentro, trancando a porta de vidro e se jogando na cama. Chorava e tremia de medo, não entendendo nada do que estava acontecendo. Era a imagem de um homem de olhos vermelhos e dentes estranhos, mas o medo era tanto que ele não tinha certeza se estava delirando ou não. Estava encolhido na cama, a coberta envolvendo até mesmo sua cabeça, o ar fazendo-se escasso, o medo o sufocando. Jimin escutava o coração batendo em seus ouvidos, ouvia o ar falho saindo de seus lábios, sentia as lágrimas descendo por sua face. Até que uma voz grossa e fria preencheu o quarto.

— Está com medo, Jimin?

Com as mãos, Jimin tapou a boca para conter o grito que, dessa vez, quase saiu. Seu corpo quase se fundiu a si mesmo de tanto que encolhia, parecendo uma bolinha indefesa debaixo daquela coberta quentinha.

— Não precisa ficar com medo, Jimin. Eu não vou te machucar. — Uma pausa. — Ou talvez eu vá — foi o que a voz horrenda disse antes de gargalhar.

Jimin não sabia o que fazer a não ser chorar e rezar, a cada segundo que passava, parecia estar mais perto da morte, então ele rezava. E para piorar, a coisa sabia seu nome. Mas que merda que estava acontecendo?

— Vai, saia daí debaixo, não seja chato — entoou a voz. — Não me faça te tirar daí a força. — E nessa hora, a voz ficou ainda mais profunda e sombria.

— Pelo amor de Deus, eu imploro, não me mate! — gritou Jimin ainda debaixo da coberta.

— Eu não vou te matar, longe disso — sussurrou a voz bem ao pé do ouvido de Jimin, parecendo que estava ali, debaixo do cobertor junto a si. E isso foi o suficiente para fazer o grito preso na garganta sair como um foguete saindo de órbita. Jimin jogou a coberta para o lado, ainda assim encolhido na cabeceira da cama. Seus olhos não conseguiam ver nada que não fosse outro par de olhos vermelhos e uma sombra ao redor.

— Que-em… quem é você? — perguntou Jimin, a voz trêmula de segurar o choro. Na verdade, ele estava, sim, chorando, mas era tanta coisa acontecendo que isso era apenas um mero detalhe.

— Eu sou o mau espírito, oras — respondeu a coisa.

— M-mas… como assim? — Jimin estava com medo, muito medo, mas, ao ouvir o que era… aquilo, não pôde deixar de sentir uma pontinha de curiosidade.

Park Jimin era muito ligado às coisas místicas desde pequeno. Adorava ouvir as lendas que os mais velhos contavam por horas e horas. Parava na pequena biblioteca da vila para ler todos os livros de bruxas, magos, espíritos e tudo mais o que rondava esse tema fascinante. Então, ao ouvir que ali, bem na sua frente, estava um mau espírito “em pessoa”, foi impossível não ficar curioso.

— Um mau espírito, é assim que vocês chamam, né? — perguntou os de olhos vermelhos.

— S-sim… É… tem também coisa ruim, espíritos malignos, demônio…

— Mas eu não sou um demônio, menino. Sou apenas um espírito, só que do mal — cortou o que o outro dizia antes mesmo dele terminar de falar.

— Ah, okay… É… — Jimin ainda tremia de medo, mas a curiosidade começava a se sobressair. — E por que está aqui?

— Como assim? — questionou a voz, parecendo estar muito confusa com a pergunta que lhe foi feito.

— Ué, porra, por que você está no meu quarto? — O tom de voz de Jimin subiu algumas oitavas, quase fazendo-o parecer bravo. — Aliás, por que você não aparece?

— Você não vai gostar de me ver, menino — respondeu simplório.

— Como se eu tivesse escolhas! — bradou o menino loiro. O medo, às vezes, mostrava um lado desconhecido das pessoas. — Você está no meu quarto, dizendo que é um mau espírito, com esses olhos vermelhos e nem me diz o porquê!

— Você me chamou — respondeu a contragosto.

— O quê? — Jimin rezava para que estivesse ouvindo coisas, estivesse maluco ou algo assim.

— Você me chamou, por isso que eu apareci no seu quintal. — O vulto se moveu para a porta, os olhos vermelhos nunca desgrudando de Jimin. Com o movimento do espírito, Jimin sentiu o quarto ficando ainda mais gelado, como se a neve estivesse caindo dentro de sua alma.

— Eu não… Eu não te chamei! Muito pelo contrário, querido espírito.

— Querido?

— Não mude de assunto, por favor — falou Jimin, sentindo o rosto esquentar por ter chamado um espírito, ainda por cima do mal, de querido. Ele estava ficando louco mesmo.

— Você me chamou, simples assim. Eu apareci porque você quer algo de mim. — E no segundo seguinte, a luz foi acesa.

Os olhos de Jimin demoraram para se acostumar, pois havia ficado por muito tempo com os olhos fechado e no breu de seu quarto. Apertou as mãos contra os olhos, sentindo seus dedos trêmulos massageando as pálpebras para que estas se acostumassem com a claridade. Devagar, abriu os olhos. E na sua frente estava o ser que antes só ouvia a voz, que antes só via os olhos, no máximo o sorriso macabro. Na sua frente, estava um jovem, aparentemente da sua idade, um pouco mais velho no máximo. E ele era bonito; na verdade, ele era lindo. Cabelos pretos e pele muito branca, mostrando que sim, ele não estava vivo de modo algum, mas que já estivera algum dia. Os olhos eram realmente vermelhos e o sorriso realmente macabro, mas o conjunto tinha sua beleza. Sem perceber, deixou escapar um sorriso no lugar de um grito amedrontado.

— Está gostando do que está vendo? — perguntou a alma ruim.

Será que tinha nome? Foi a primeira coisa que passou por sua mente assim que viu o ser estranho em sua frente. E não conseguiu calar-se diante de tal pensamento.

— Tem nome? — perguntou, ignorando completamente a pergunta que lhe foi feita anteriormente.

— Por que isso te importa? — retrucou o outro, cruzando os braços em cima do peito coberto pela jaqueta de couro preta.

— Porque você está no meu quarto, claro — respondeu Jimin, desfazendo-se da posição bolinha que estava anteriormente.

Por mais ridículo que fosse, quase não estava mais com medo. A curiosidade e, se é que podia chamar assim, o encanto estavam muito mais presentes em sua feição curiosa.

— Meu nome é Yoongi. Min Yoongi.

— Prazer, Min Yoongi. Eu sou Park Jimin — concluiu o menino loiro ainda sentado na cama, mas muito mais relaxado.

— Eu sei seu nome, menino. Já te disse, você que me chamou. — Apesar de não aparentar mal algum, o espírito mantinha um tom frio em sua voz. — Quero saber o que quer de mim.

— Mas eu não te chamei — respondeu Jimin, finalmente levantando-se da cama e pondo-se de pé na frente do espírito. — Aliás, se teve uma coisa que eu fiz, foi rezar para te espantar. Hoje é o Dongji, e, veja bem, é o dia em que rezamos para espantar os maus espíritos.

— E mesmo assim eu estou aqui… — Yoongi pensou alto, deixando a frase solta no ar como o vento que os rodeava.

A porta que dava para a pequena varanda ainda estava aberta, a lua podia ser vista de dentro do quarto em torno de toda a escuridão do céu. Jimin olhou para a lua, tentando achar alguma resposta.

— Sim, e você está aqui.

O silêncio preencheu o quarto mais uma vez, porém agora não era envolto de medos, e sim, de uma curiosidade tremenda. Jimin não sabia o que havia para que o espírito estivesse em seu quarto e, pelo visto, nem o próprio maligno em si sabia.

— Talvez… talvez alguma coisa tenha te mandado aqui — tentou Jimin, de algum modo, fazer a conversa ter um rumo. — Porque, se nem com a minha reza você se manteve longe, talvez tenha outro motivo.

— Isso é muito estranho — respondeu Yoongi, o olhar caindo no corpo do menino à sua frente —, pois eu ouvi o chamado.

— Que chamado?

— O chamado da morte.

E com isso Jimin calou-se. Chamado da morte? Como assim? Ele não tinha feito chamado da morte nenhum, pelo amor de Deus. Os olhos de Jimin se arregalaram em medo, mas, mesmo assim, aproximou-se ainda mais do corpo gelado do outro. Sim, Jimin conseguia sentir um frio saindo do outro. Estava a poucos passos dele quando disse:

— Mas eu não fiz chamado de morte nenhum. — Jimin observava cada parte do outro, com curiosidade. Tinha um espírito em seu quarto, oras!

— Ta-talvez eu tenha me enganado então, a-acabei vindo parar no lugar errado — gaguejou, desviando o olhar do curioso Jimin.

— Mas você disse meu nome! Não tem como estar errado. — Jimin deu mais um passo para a frente, fazendo Yoongi dar um passo para trás. — Você veio atrás de mim!

E como num passe de mágica, o corpo do espírito se materializou do outro lado do quarto, perto da porta da sacada. Claro, ele era um espírito, não de corpo matéria. Não teria como Jimin encurralar ele na parede. Park riu de nervoso com o mero pensamento de encurralar Yoongi na parede.

— Você está escondendo algo de mim, não está? — E naquele momento foi a vez de Yoongi arregalar os olhos em espanto, pois Park Jimin estava certo.

-x-

A primeira vez que Yoongi viu Jimin foi logo depois de morrer e ir parar no purgatório. Não, Yoongi não conheceu Jimin em sua vida terrestre, infelizmente não teve essa sorte. Mas, assim que estava vagando, já com destino ao inferno, acabou “trombando” com o pequeno menino ainda de madeixas escuras e muito jovem. Este ainda era uma criança, mais ou menos com uns 8 anos de idade, havia acabado de entrar para a escola “de gente grande” — era assim que Jimin falava, escola de gente grande. Desde pequeno era muito amável com todos, carinhoso com os amigos e conhecidos.

Yoongi ficou encantado com toda a fofura da pequena criança assim que o viu, queria cuidar dele como um irmão mais velho, mesmo que isso fosse quase impossível por sua condição de espírito. Esse amor fraternal só foi crescendo com o passar dos anos. Yoongi não conseguia se aproximar muito de Jimin, já que este vinha de uma família deveras religiosa, então o pequeno sempre tinha consigo algum objeto que Yoongi denominava de proibido. Mas, nem mesmo isso foi capaz de impedir Yoongi de vê-lo crescer, mesmo de longe, juntamente com seu amor pelo pequeno modificando-se a cada ano que passava.

Porém, obviamente estava ferrado, claro, já que seu destino já estava traçado há tempos. Mas, esperto como só ele, conseguiu fazer um pacto com o Diabo em pessoa. Ele conseguiu ser tão bom no que fazia que pôde escolher onde iria assombrar, e claro que escolheu o pequeno subúrbio de Seul, onde Park Jimin morava, para poder ver, mesmo que de longe, o humano que roubou seu coração de formas que nem mesmo ele conseguia entender.

Yoongi acompanhou cada fase de Jimin, até ele se tornar um homem lindo, e todo o amor fraternal que sentia teimou em querer mudar de rota.

Todo final de ano, assim que o Dongji se aproximava, ficava ainda pior ter qualquer contato que fosse com Jimin, já que a união das pessoas para um único fim deixava quase impossível com que ele andasse livremente. Ainda mais quando o motivo era literalmente espantar os espíritos maus. Porém, para a surpresa de Yoongi, um dia antes do solstício de inverno, uma voz invadiu seu sono:


Venha a mim, por favor.

Venha a mim, eu imploro.

A porta está aberta, venha

na noite mais longa de todas, eu clamo.

Minhas palavras dizem o contrário

do que meu coração pede.


Yoongi reconheceria aquela lamúria em qualquer lugar da face da terra. Era a voz de Jimin suplicando em seu ouvido.

-x-

— Você está escondendo algo de mim, não está? — perguntou mais uma vez, olhando o espírito pronto para sair pela janela. Por que apareceu para si se pretendia sair? Agora que a curiosidade de Jimin estava no topo, ele não podia ir embora.

— Estou. Eu estou… Mas… acredite, de algum modo você que me chamou, e… — Yoongi respirou fundo mesmo que não precisasse daquilo para viver. Pegou a mania de inspirar dos humanos e funcionava bem quando estava nervoso e precisava pensar.

— Eu acredito, mas como? — E Jimin realmente acreditava. Ele acreditava no céu, na Terra e no que tinha para além delas. Jimin acreditava em seu medo, assim como acreditava em sua coragem. Assim que o baque inicial de ser assustado do nada no meio da noite passou, sentiu em seu peito que, sim, havia sido ele quem havia chamado pelo espírito.

— Eu não sei… mas eu vim.

O plano inicial de Yoongi era apenas observar o menino dormir, já que nem isso era permitido quando uma reza tinha acabado de ser feita. Assim que o menino o viu e se assustou, percebeu que tudo o que tinha sido dito em seu ouvido na noite anterior foi fruto de um sonho de Jimin, algo para além de seu consciente, então, resolveu brincar com as crenças do outro e tirar-lhe um susto ou dois. Mas, quando viu a curiosidade e a ternura no olhar do outro, tudo o que tinha planejado caiu por terra.

Jimin estava na sua frente pela primeira vez em uma eternidade, por algum milagre de alguma força maior, se é que uma alma penada poderia dizer que um “milagre” aconteceria consigo. Mas ele estava ali. E pela primeira vez, seu coração morto se alegrava de verdade.

-x-

Park Jimin era uma criança curiosa. Sempre tinha uma pergunta na ponta da língua pronta para ser feita. Não importava a ocasião ou o lugar, Jimin sempre fazia as perguntas mais inusitadas de todas, colocando seus pais em uma saia justa. A curiosidade se espalhava para diversas áreas de sua vida, um buraco na terra, por exemplo, virava a maior exploração de todas. Um barulho vindo do vizinho era o começo da história mais mirabolante que a mente de criança conseguia criar. Esse era Park Jimin quando pequeno, arteiro, curioso e amoroso com todos.

Assim sabido, fica fácil descobrir o que aconteceu quando Park Jimin, no alto de seus 8 anos de idade, achou uma entrada secreta na escola onde estudava, em Seul. Era bem estreita e cheia de folhas em volta, mas, por ser pequeno, cabia certinho. O medo também se fazia presente na essência do menino, fazendo com que a curiosidade não agisse sozinha, por impulso. Então, até ter a coragem de passar pelas folhas densas que cobriam a passagem, demorou um pouco. Mas, quando ela chegou, não parou de contar os minutos para o recreio e, assim, poder se aventurar na passagem secreta.

Jimin correu para fora, andando a passos muito mais longos que suas pernas, chegando em minutos no lugar misterioso. O coração acelerava enquanto, bem devagar, tirava as folhas da passagem, uma por uma. Ali, para sua surpresa, encontrou um jardim. Pelo menos era o que ele achava ser com a pouca idade que tinha, seus olhos conseguiam apenas focar nas árvores altas que nunca vira no colégio, árvores que quase tocavam o céu. Algumas pedras estavam espalhadas no local, em fileiras, o que Jimin achou muito estranho. Nenhum jardim que ele já vira na vida era daquele jeito.

— Deve ser um jardim especial — comentou para o vento, andando pela grama verdinha que tinha daquele lado.

Um dia ouviu sua avó dizer que as pessoas achavam que a grama do vizinho era mais verde. Jimin não entendeu e começou a reparar na grama das casas de seu bairro, mas nenhuma era mais verde do que a sua. Ah, mas ali sim! Naquele jardim a grama era muito mais verde e cheirosa, muito mais cuidada.

Jimin passou a andar dentre as pedras grande, como tampas retangulares, sentindo o vento bater em seu cabelo preto. Até que entre um pulo e outro, um barulho o assustou. Olhou para trás, quase caindo da pedra onde estava, quando viu um menino, muito mais velho do que si.

— Oi, quem é você? — perguntou assim que se recuperou do quase tombo. Os dedos de sua mãozinha brincavam com a barra da blusa de seu uniforme.

— Oi, você consegue me ver? — foi exatamente o que o menino perguntou de volta, os olhos espantados de medo, como se fosse impossível Jimin o ver.

— Claro que te vejo, seu bobo — brincou a criança, fazendo um movimento brusco para pular a pedra e chegar perto do moço bonito. Automaticamente o habitante daquele jardim deu um passo para trás.

— Então…

— Qual seu nome? Eu acabei de achar esse lugar aqui atrás do colégio, nunca tinha visto antes — desatou a falar, andando de um lado para o outro. — Eu gostei muito daqui. Você mora aqui? Claro que não, né, não se pode morar em um jardim cheio de pedra.

— Er… Eu moro perto — falou, com medo de falar algo que não devia. Bagunçou um pouco os cabelos, olhando o menino que sempre viu correr por ali bem na sua frente. — Meu nome… meu nome é Min! — contou uma meia-verdade, não querendo que o menino soubesse do seu nome inteiro.

— Min! Gostei! Prazer, eu sou Park Jimin.

“Eu sei!”, pensou Yoongi, ainda vendo a criança correr de um lado para o outro, subindo e descendo das lápides como se fosse o brinquedo mais legal de todos.

— Eu acho que você deveria voltar — ordenou para a criança que não parava de o olhar com ternura.

— Eu não quero! — esbravejou Jimin.

— Sua aula já vai começar, menino. Você precisa ir. — Não sabia mais o que fazer para que a criança saísse dali e o deixasse em paz. Não estava tão acostumado a essa “vida” nova, ainda mais quando alguém conseguia o ver.

— Por que você é tão branco? — Ignorando completamente a pergunta do outro, Jimin desatou a falar. — Você precisa tomar mais sol, ou vai ficar doente. Você não pode ficar doente, Min!

Assim que Yoongi ia responder, o sinal da escola tocou ao longe, indicando o fim do recreio.

— É melhor você ir, Jimin-ah! — falou Yoongi, ainda com medo do que poderia acontecer caso o menino resolvesse tocar em si. Ele não sabia o que acontecia.

Olhando para trás, de onde vinha o som, Jimin respondeu com um bico triste nos lábios:

— Sim, Min, eu tenho que ir. Mas amanhã eu volto aqui, tá?

— Tá.

— Promete que vai estar aqui?

O coração de Yoongi queria contar a verdade, falar que eles nunca mais poderiam se ver, mas, fácil demais, ele respondeu:

— Sim, claro.

— Combinado então! — Jimin esticou a mão para que Min a segurasse, mas o menino mais velho apenas deu um passo para trás, fazendo um sinal de não com a cabeça. Talvez ele fosse muito tímido, pensou Jimin. — Tudo bem, até amanhã, Min hyung!

E com a esperança no olhar, Jimin deu meia volta nas pedras, voltando para a área verde da escola.

Nunca mais Jimin viu seu amigo branquelo, Min.

-x-

Nunca mais até aquela fatídica noite de Dongji, onde no seu quarto se encontrava Min Yoongi, a alma ruim, o espírito mau que apenas invadiu seu quarto.

— Min? — Assim que tal palavra saiu por seus lábios, o coração errou um salto. Seus olhos automaticamente encheram de lágrimas. Ele se lembrava.

— Você lembrou? Você lembrou de mim? — perguntou ainda incrédulo com tudo o que acontecia. Não estava em seus planos, não estava.

— Min! O menino do jardim. É você! — exclamou Jimin, levando as mãos para o rosto, espantado. — O menino! É você!

Lentamente a realidade veio a Jimin, ele começou a se recordar daquele dia, a se recordar do menino que ele vira naquele jardim, as pedras… E agora ele entendia! Ele entendia que aquilo não era um parque, aquilo era um mausoléu. E Min Yoongi estava morto.

— Aquele dia foi a primeira vez que você me viu, Park. E eu me senti especial — confessou Yoongi, sem conseguir olhar para o outro. — Eu me senti especial porque eu tinha acabado de morrer, sabe? Sozinho, eu morri sozinho. Eu vivi sozinho. Parece a minha sina, talvez.

— N-não… Eu… Yoongi!

— Não fale nada, por favor. Não fique com pena de mim. Eu mereci — continuou a falar. — Eu não acreditava que você, dentre todas as pessoas, estava me vendo, Park.

— Você… você me conhecia?

— Sim, eu… A primeira vez que te vi foi na sua escola, no primeiro dia de aula, naquele ano.

— Pouco antes de eu te encontrar então.

— Sim, pouco antes. — Percebendo que a conversa seria longa e nada convencional para si, resolveu sentar-se na cama do menino, que o seguiu. — Eu sabia que você era especial. Eu… peguei um apreço por você que só foi crescendo com o passar dos anos.

— Você me observava? Desde que eu era pequeno? — perguntou espantado, olhando para o corpo do outro tão perto do seu, mas cheio de receio de tocá-lo.

— Sim, mas eu nunca pude me aproximar de você, por conta de toda a religiosidade que ronda sua casa. — Fez uma pequena pausa, observando as feições delicadas do outro. — Principalmente em noites como esta.

— Como esta? Por quê? — questionou Jimin, voltando a encarar o menino de olhos vermelhos.

— Por conta do dia de hoje e o que ele significa para você, Jimin-ssi. Você adora esse dia e vive ele ao máximo, sempre rodeado de gente e boas energias. Eu não consigo viver em lugar com boa energia — confessou Yoongi, suspirando pesado mais uma vez.

— E como você está aqui? Digo… já debatemos isso, mas… ainda é estranho, você aqui, logo depois de eu ter rezado e…

— Eu já te disse, você me chamou. Você clamou por mim.

— Mas eu nem te conhecia! — rebateu Jimin, elevando um pouco o tom de sua voz.

— Em algum lugar dentro de você, Jimin! Em algum lugar, você sabe quem sou, você me conhece, você se lembra.

Park Jimin não sabia o que falar após ouvir o que o outro tinha a dizer. Talvez ele tivesse razão, talvez ele fosse um louco pregando a maior pegadinha de todas no menino loiro. Mas, por algum motivo bizarro, Jimin acreditava.

— Eu posso te tocar? — perguntou Jimin receoso, depois de longos minutos em silêncio. Sentiu o ser ao seu lado se remexer, incerto. Não sabia o que aconteceria caso se tocassem, ele era uma alma, caramba! Jimin estava prestes a tocar uma alma.

— Eu não sei, Jimin…

— Mas eu quero, Min! — falou como nos velhos tempos. — Eu quero te tocar desde a primeira vez que te vi e não fazia ideia do que estava acontecendo.

— Mas e se eu fizer mal a você? — questionou Yoongi, sem perceber todo o cuidado que tinha para com o menino a seu lado. Ele era criado para fazer mal, não era para estar se importando com a vida de algum humano. Mas ele estava.

— Eu não ligo, quero correr esse risco.

E assim que terminou de falar, levou sua mão devagar ao rosto de Yoongi. Assustou-se quando realmente tocou em algo que parecia matéria viva. Era muito mais gelado e muito mais maciço do que uma pele normal, mas era Yoongi. E ele estava amando a sensação.

— Você é gelado! — Riu sem graça com a constatação.

— Claro, eu estou morto faz anos, Jimin-ah! — E pela primeira vez Yoongi soltou uma risada, por menor e mais fraca que ela fosse, era uma risada.

— Você sente meus dedos em sua pele? — perguntou Jimin, já levantando sua outra mão para segurar o rosto do menino. Sentaram-se de frente um para o outro, facilitando o acesso de Jimin a seu corpo.

— Não muito, eu sinto algo muito leve, como o vento, passando em meu rosto. — Yoongi não conseguia desgrudar os olhos do menino lindo por quem sempre foi apaixonado.

— É bom?

— O seu toque?

— Sim.

— É perfeito!

Jimin era alguém que seguia o coração, ele agia por impulso muitas vezes em sua vida. Mas, nada se comparava a deliciosa decisão que foi laçar os lábios gélidos dentre os seus, matando a vontade de beijar Yoongi. Vontade esta que sempre esteve presente, mesmo que ele não tivesse consciência disso.

O beijo aconteceu calmo, lento e delicioso. As línguas se encontraram mansas e apetitosas, em uma dança de perfeita sincronia. Os lábios de Jimin se abriam cada vez mais, acomodando tudo o que a alma penada tinha a lhe oferecer. Pensar em Yoongi como uma alma penada o fez rir em meio ao beijo, desconcentrando ele e o menino de lábios saborosos.

— O que foi? Fiz algo de errado? — perguntou Yoongi, assustado. Se ele já não fosse branco como uma folha sulfite, com certeza estaria agora.

— Não, é só… é só que eu estou beijando uma alma penada, sabe? — zombou Jimin, caindo na gargalhada, tacando-se no colchão.

— Eu vou fingir que não ouvi isso. — Yoongi segurou o riso, levando as mãos até sua têmpora, fingindo uma dor de cabeça. — Pelo bem de nossa amizade que mal começou, vou relevar o que acabou de dizer.

— Amizade, é?

— Ou você não quer ser meu amigo?

— Por ser um fantasma?

— Pelo amor de qualquer deus que você acredita, não me chama de fantasma! — reclamou Yoongi, sua voz saindo como um choro. — Me chama de alma penada, de alma ruim, coisa ruim, qualquer coisa, mas fantasma não.

Jimin caiu na risada mais uma vez ao ver a cara de desolado do ser a sua frente.

— E que tal…

— Não! Não ouse me chamar de Ga…

— Gasparzinho!! Você é meu Gasparzinho!!

— Se eu gostasse um pouco menos de você, eu juro que te descia na porrada — resmungou Yoongi, virando-se de frente e ignorando o surto de risadas que Jimin estava tendo atrás de si.

— Desculpe, Min! — Secou as lágrimas de riso que rolava por sua face, abraçando o corpo gelado pela cintura. — Eu não falo mais assim, você é meu Min e é assim que vou te chamar.

— Promete?

— Prometo!

[...]

O resto da noite foi cheia de beijos e amassos na cama de lençol branco com Yoongi. Por mais frio que Jimin sentia ao tocar o corpo do outro, não se importava de ficar abraçadinho ao seu querido fantasminha camarada — não, ele nunca falaria isso para Yoongi.


Em pensar que Park Jimin adorava o feriado de Dongji principalmente por todo o misticismo de “espantar os maus espíritos” que rondavam nesta data. Em pensar que ele ia para cama todo ano, nesta noite, rezando para se manter livre de todo o mal que pudesse o abater. Ah, se ele soubesse que, na verdade, o mau espírito era o que ele precisava para completar sua vida.

Um mau espírito que de mau não tinha nada.

~~~~


Notas Finais: Chegamos ao final de mais uma fanfic da Mari, dessa vez com metade das palavras que eu normalmente escrevo (hahaha perdããão), mas espero que tenham gostado mesmo assim! Obrigada para todos que leram até aqui, espero vocês na próxima!

beijoos <3

Aug. 22, 2021, 11:33 p.m. 1 Report Embed Follow story
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The End

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Post!
giiviiana Lima giiviiana Lima
Essa daqui é tããão fofinha hihi
August 22, 2021, 23:59
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