teffychan Lilith Uchiha

Elliot não entendia como Leo não parecia se importar com seu próprio aniversário. Ele mesmo parecia mais animado do que o garoto. Não sabia o que deveria comprar de presente para ele, mas será que deveria se dar ao trabalho? Leo não parecia nem sequer se lembrar da data, o que só tornava tudo mais irritante. A relação dos dois sempre foi um tanto conturbada. Eles eram completamente opostos mas, de alguma forma, sempre acabavam se entendendo. A única coisa que Elliot não compreendia era porque sempre se sentia tão agitado e nervoso quando Leo estava por perto. Por que a simples presença do garoto deixava seus pensamentos tão nublados? Bem… talvez ele encontrasse a resposta quando também conseguisse descobrir o que deveria dar de presente de aniversário para ele.


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#pandorahearts #yaoi #colegial #comédia #homossexualidade #oneshot #leobaskerville #elliotnightray
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Retrance: You Were Always More Than a Friend

Aquele dia estava chegando de novo. Elliot detestava aquela época do ano, mesmo sabendo que não havia motivo para isso, e também que não deveria fazê-lo. Para início de conversa, foi ele que inventou aquele dia, não foi? Agora precisava lidar com isso! Droga… por que ele foi inventar de dar uma data de aniversário para Leo?

Ele conheceu o garoto em um orfanato e, como muitos dos órfãos de lá, ele não se lembrava de quando era o seu aniversário. Então, depois de muito esforço para convencê-lo a se tornar seu Valete, Elliot decidiu que o dia em que os dois se conheceram seria o dia do aniversário de Leo. Até hoje não sabia se o garoto tinha acatado a decisão dele simplesmente porque foi uma ordem do seu Mestre ou porque realmente gostou da ideia, mas acabou concordando.

No entanto, sempre que aquele dia se aproximava, Elliot não sabia o que fazer. Ele deveria dar um presente para o garoto? O próprio Leo não parecia se importar com seu aniversario. E olha que Elliot tinha escolhido o dia para ele porque Leo não se lembrava da data verdadeira… não é todo Mestre que tem esse tipo de consideração!

Era domingo, então eles tinham voltado para a mansão dos Nightray, mas continuavam enfurnados na biblioteca, como costumavam fazer no colégio. Leo havia dito que queria ler um dos livros do acervo da família de Elliot, então passou boa parte da tarde lá. Tinha pegado um dos livros para folhear e acabou lendo em pé no canto onde o livro estava. Elliot não se importava, aquela tinha sido uma das condições para que o garoto se tornasse seu Valete afinal. Francamente, como ele era folgado.

— Elliot — Leo chamou, sobressaltando o garoto — Por que está tão agitado?

— Hein? — Elliot piscou, quase caindo da cadeira onde estava — Eu não estou agitado!

— Claro que está — ele discordou — Você tinha dito que ia compor uma nova música, mas não escreveu nenhuma letra até agora. Ao invés disso, está tamborilando os dedos, fica me olhando toda hora e fazendo caretas engraçadas… no que você está pensando?

— Em nada — Elliot virou o rosto emburrado — E você, hein? Pensei que estava lendo.

— Não consigo me concentrar com você me encarando desse jeito — Leo fechou o livro — Se estou atrapalhando sua concentração, é só dizer que eu saio e vou ler em outro lugar.

— Na verdade sou eu quem estou tirando a sua concentração, não é? — Elliot resmungou. Francamente, não importa quanto tempo se passasse aquele garoto nunca ia mudar. Lembrava-se bem das duas condições que Leo impôs quando aceitou ser o seu Valete. Que Elliot o deixasse ter livre acesso ao acervo de livros de sua família e lhe desse um par de óculos, o que acabava escondendo parcialmente seu rosto, ainda mais com aquele cabelo comprido.

Ah, sim… ele também não tinha mudado aquele jeito desengonçado desde que se conheceram. Era verdade que o cabelo de Leo era um pouco mais comprido quando ele vivia no orfanato, mas continuavam desleixados e caindo sobre os ombros. Parecia até que ele simplesmente acordava e começava a fazer suas tarefas diárias sem se pentear. Bom, pelo menos tinha aprendido a se vestir apropriadamente… ou quase. A gravata estava torta, como acontecia algumas vezes, e… ah, céus, que vergonha…

— Leo. O zíper da sua calça está aberto.

— O que? — o garoto olhou para baixo e viu que Elliot tinha razão — Ah. Obrigado — ele largou o livro e o fechou — Mas, me diga Elliot, por que motivo você estava olhando para essa região?

Elliot ficou sem palavras por um momento. Percebeu lentamente como aquilo era constrangedor e gaguejou algo incompreensível enquanto sentia seu rosto queimar. Demorou alguns segundos para conseguir formular uma frase que fizesse sentido.

— Eu apenas olhei na sua direção e percebi usando a visão periférica! Foi só isso!

— Se foi só isso então por que você está tão nervoso? — Leo inclinou a cabeça para o lado. Parecia estar se divertindo com aquilo.

— Isso não importa! Eu não te devo satisfações — ele cruzou os braços e virou o rosto, ainda vermelho, para o outro lado — Não se esqueça de que eu sou o Mestre aqui, não tente inverter os papéis!

— Humm… você deveria ter deixado mais explícito o que exatamente estava incluído na relação Mestre/Servo — Leo coçou o rosto pensativo — Se eu soubesse disso, não teria te aceitado como meu Mestre.

— O que? Do que está falando?

— É que eu não sabia que você tinha um lado pervertido — ele se afastou alguns passos. No fundo, Elliot sabia que o garoto só fazia essas cosias para irritá-lo e que não deveria dar atenção, mas… céus, como Leo conseguia mexer com ele assim?

— Eu não sou pervertido, seu idiota! — ele exclamou — E você, trate de aprender a se vestir direito! Você é um servo dos Nightray, então não pode andar todo desleixado por aí, não se esqueça disso — ele deu meia-volta e se dirigiu até a porta.

Francamente, que perda de tempo. Passou esse tempo todo encarando Leo porque estava pensando no que deveria dar a ele de aniversário, mas talvez nem valesse a pena comprar um presente para um servo tão petulante assim. Pensando bem, ele mesmo tinha parado de pensar no que deveria comprar de presente em algum momento e nem percebeu. Seus pensamentos começaram a vagar para longe sem que se desse conta enquanto observava Leo. Por que aquele garoto mexia tanto com ele? Era apenas um menino insolente e desengonçado que se recusava a se arrumar direito, mesmo servindo a uma família importante como a dos Nightray. Estava sempre discutindo com Elliot e quase nunca obedecia as ordens dele… na verdade, era uma completa negação como servo. Às vezes Elliot se perguntava por que o tinha escolhido para ser o seu Valete.

E logo se lembrava. Todos ao seu redor o enxergava apenas como "um dos herdeiros dos Nightray", um nobre a quem deviam respeitar, mas de quem falavam mal pelas costas. Leo era o único que era sincero com ele e que o via como uma pessoa como qualquer outra, independente de ser um nobre ou uma pessoa comum. Foi essa sinceridade que cativou Elliot.

— Leo — Elliot chamou à porta, agora mais calmo — Você sabe que dia está chegando, não sabe?

— Segunda-feira — Ele respondeu, vasculhando uma estante — Odeio segunda-feira. Vamos ter que voltar para a escola.

— Bem, sim, mas… não era disso que eu estava falando…

— Elliot, vocês não têm a continuação de "The Queen of Hearts" aqui? — o garoto mudou bruscamente de assunto — O último volume saiu já faz alguns meses.

— Não, acho que minha família não comprou — Elliot respondeu, surpreso com a repentina mudança de assunto.

— Tsc. E eu que pensei que o acervo dos Nightray tinha de tudo — Leo reclamou — Bem, o jeito é vasculhar a biblioteca da escola. Talvez eu dê mais sorte lá.

— Você é mesmo muito folgado — Elliot resmungou, deixando a biblioteca. Como aquele garoto podia ser tão insolente? Ele era um servo e ainda ficava insultando a biblioteca da mansão de seu Mestre!

Mas… aquilo tinha lhe dado uma ideia.




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Eles tiveram que voltar para a Academia Latowidge na segunda-feira para o início das aulas e, quanto mais o tempo passava, mais Elliot ficava irritado. Não pelo fato de precisar assistir às aulas, e sim porque Leo não parecia dar a mínima importância para o próprio aniversário. Será que ele tinha esquecido? Mas quem se esquecia do próprio aniversário? Talvez ele não se importasse com a data porque era um servo e pensava que servos não tinha o direito de comemorar o próprio aniversário… sim, aquela era a única conclusão a qual Elliot conseguia chegar. Embora isso não fosse do feitio de Leo. Bem, não importava. Ele descobriria a resposta naquela tarde.

Depois que as aulas acabaram Elliot voltou para o dormitório na frente de propósito. Tinha inventado uma desculpa qualquer para voltar na frente e deixou que Leo fosse até a biblioteca procurar pelo livro que Elliot sabia que não estava lá. Ele ficou remexendo em um embrulho que tinha escondido no fundo de seu armário, mas logo se cansou e foi se sentar na cama. Sabia que Leo demorava quando ia até a biblioteca, mas francamente, hoje ele estava demorando demais.

— Elliot? — uma voz calma chamou seu nome e ele se levantou bruscamente. Leo tinha adentrado o dormitório que os dois dividiam e ele nem tinha visto. Olhou pela janela e viu que o sol já estava se pondo lá fora. Droga, será que tinha dormido? — Vão servir o jantar daqui a pouco. É melhor você se apressar e tomar um banho.

— O que? — ele olhou para os lados, piscando com força em uma tentativa de acordar mais rápido — Eu… por acaso eu cochilei?

— Estava roncando alto — Leo informou. Antes que o garoto pudesse discutir, ele pegou o embrulho que tinha caído aos pés de sua cama — O que é isso?

— Ah… não é da sua conta! —Elliot arrancou o embrulho das mãos dele em um impulso e se arrependeu quase que imediatamente. Mas o que raios estava fazendo? Pretendia dar aquilo para Leo, então por que estava tomando dele?

— É mesmo? — Leo abaixou as mãos. Sua voz não estava calma como de costume, soava fria e um pouco distante — Bem, suponho que até mesmo você tenha os seus segredos. Então, é melhor ir tomar logo o seu banho, "Mestre".

Elliot odiava quando Leo o chamava assim. Era o correto a se fazer, ele sabia que a etiqueta mandava que um servo se dirigisse ao seu Mestre com o devido respeito, mas Elliot detestava aquilo. Antes de se tornar seu servo, os dois eram amigos. Leo foi a primeira pessoa que o enxergou como um semelhante, como um ser humano como qualquer outro, e não apenas como "o filho dos Nightray". Droga, tudo isso porque ele ainda estava com sono demais para pensar direito e acabou fazendo besteira.

Não… não era o sono que não o deixava pensar direito. Era Leo que sempre embaralhava seus pensamentos. Elliot sempre foi uma pessoa impulsiva, ele sabia disso, mas acabava tomando mais atitudes imprudentes quando Leo estava por perto, simplesmente porque perdia o controle sobre si mesmo. Aquele garoto era irritantemente calmo. E, consequentemente, sempre acabava por corrigir seu Mestre. E por ser Leo a sempre apontar a direção correta, Elliot não sabia o que fazer quando magoava o amigo.

— Leo — ele chamou, buscando as palavras certas — Você sabe que detesto quando você me chama assim. Me chame pelo meu nome.

— É uma ordem?

— Por que tudo para você se resume nisso, seu teimoso? — Elliot exclamou — Não adianta dizer que é uma ordem porque você não as obedece de qualquer jeito, então… é um pedido. Me chame pelo nome.

— Então era para ser uma ordem — Leo deduziu — Que você resolveu transformar em pedido porque concluiu que eu não iria obedecer.

— Escuta aqui, seu…

— Estou brincando, Elliot — Leo interrompeu, incapaz de segurar a risada por mais tempo — Até parece que eu iria passar o resto da minha vida te chamando de Mestre.

— Hunf… você é mesmo muito insolente — ele jogou o embrulho para Leo.

— Por que está me dando isso?

— Abra — Elliot mandou.

— Pensei que não fosse da minha conta…

— Apenas abra! — Elliot cruzou os braços emburrado.

Leo abriu o embrulho sem rasgar o papel, revelando um livro dentro dele. Leo o encarou em silêncio durante alguns instantes.

— É o último volume — ele murmurou.

— Você o queria, não é? — Elliot lembrou, saltando da cama. Ele ficou de frente para o garoto, tentando ver sua expressão, mas era difícil como sempre, os óculos e os cabelos compridos escondiam boa parte do rosto — Pode até não ter na biblioteca da minha família, mas agora você tem um só para você.

— Não precisava ter feito isso, Elliot.

— Não foi nada de mais — o garoto riu — Foi uma sorte terem entregado a tempo…

— É sério, você não precisava ter feito isso — Leo repetiu. Estranhamente não parecia feliz com o livro novo — Hoje não é o meu aniversário.

— O que? Claro que é! — Elliot exclamou — Não me diga que esqueceu que escolhi essa data para comemorarmos o seu aniversário?

— Lógico que não esqueci. Mas esse dificilmente é o dia do meu aniversário de verdade — Leo depositou o livro sobre a própria cama — Eu não me lembro quando eu realmente faço aniversário, mas não é hoje — ele voltou a encarar Elliot. A voz estava mais séria do que de costume e havia alguma outra coisa que Elliot não sabia identificar — Hoje é aniversário do dia em que nós nos conhecemos. É uma data muito importante para mim, mais do que um aniversário que eu nem sei quando é. Sei que você teve boas intenções quando decidiu que esse dia seria o meu novo aniversário e aprecio o seu gesto, mas essa data tem um significado diferente para mim. É aniversário do dia em que eu conheci o meu primeiro amigo de verdade, que me tirou daquele orfanato. Mesmo eu precisando me tornar seu Valete… mas ainda é melhor do que viver naquele lugar.

— Leo… — Elliot não sabia o que dizer. Nunca imaginou que fosse esse o motivo do garoto nunca mencionar o próprio aniversário. É claro que o fato de ter conhecido Leo era extremamente importante para Elliot, mas jamais imaginou que o amigo se sentisse da mesma forma. Talvez até mais, considerando que dava mais importância a data em que os dois tinham se conhecido do que ao próprio aniversário — Você tem razão. Foi mal, eu não devia ter inventado essa data sem pensar.

— Está tudo bem. Sei que você teve boas intenções.

— Certo. Então, a partir de hoje, esse dia não é mais o seu aniversário! — Elliot decidiu.

— De acordo — Leo respondeu. Em seguida agarrou subitamente o livro que tinha deixado em cima da cama — Ah, mas eu ainda quero ficar com o livro. Obrigado pelo presente.

— O que? — o queixo de Elliot caiu — Mas você disse que não…

— Não me diga que você o quer de volta? — Leo perguntou — É muito feio dar as coisas para as pessoas e depois tomar delas, Elliot.

— Seu nanico atrevido!

Elliot deu uma voadora no garoto, que desviou por pouco, mas acabou derrubando o livro. Tentou pegá-lo antes que atingisse o chão, e como consequência, escorregou no tapete e tropeçou. Tentou segurar-se no próprio Elliot, agarrando-o pelo colarinho da camisa, mas acabou arrastando- junto com ele. Acabou que os dois caíram no chão. Elliot estava esparramado em cima do garoto, que tinha caído sentado. Os óculos caíram de seu rosto no meio da queda.

— Ah… meus óculos… — Leo arregalou os olhos claros ao sentir falta das lentes em seu rosto e cobriu a face com uma das mãos enquanto tateava em volta com a outra.

— Pare com essa besteira — Elliot mandou, segurando o braço dele que escondia o rosto e puxando para longe.

— Pare você, Elliot — ele rebateu, puxando o braço de volta — Sai de cima de mim.

— Ei, você não manda em mim! — Elliot exclamou. Estava prestes a se levantar de qualquer jeito, mas decidiu ficar naquela posição só de birra. Ele era o mestre afinal, e não Leo!

— Eu sabia, os nobres são todos iguais. Não passam de oportunistas imorais — o menino suspirou

— Ei, eu não sou oportunista! — Elliot queixou-se.

— Mas não negou que é imoral — Leo observou.

— Também não sou imoral! — ele apressou-se a dizer — Você não está em posição de me ofender, seu insolente!

— Certo… então o que pretende fazer a seguir?

Elliot não tinha pensado nisso, então apenas o encarou em silêncio. Fazia tempo que não observava Leo assim de tão perto. Ele tinha cortado os cabelos rebeldes a pouco tempo então, sem os óculos, o rosto não ficava tão escondido quanto gostaria. Ele mesmo cortava, já que detestava que outras pessoas tocassem em seu cabelo, e justamente por isso o corte sempre ficava desalinhado e muito curto ou continuava muito comprido. Dessa vez, tinha ficado muito curto. Elliot se lembrava que, quando o conheceu, o garoto mantinha o cabelo muito mais comprido e ele pensava que era porque Leo era muito feio, mas estava redondamente enganado. Leo tinha a pele pálida e delicada, e um rosto lindo.

— Elliot? — o garoto o chamou, despertando-o de seus pensamentos — Está tudo bem? Você está me encarando a um bom tempo.

— É claro que estou bem! E é lógico que não vou fazer nada. Somos amigos afinal, certo? — ele lembrou.

— Tem razão. Somos amigos — Leo concordou.

Era como Elliot havia dito. Eles eram apenas "amigos". Fora isso, havia apenas a relação Mestre/Servo. Esse era o principal motivo para esconder seu rosto. Uma tentativa tola e infantil de não ver aquilo que não podia ter. Leo tinha a pessoa que desejava tão próxima a ele e, ao mesmo tempo, tão distante… completamente inalcançável. Elliot realmente estaria sempre ao seu lado, como seu Mestre e amigo. Bom, algumas coisas não tem jeito.

— Talvez… não existam apenas nobres oportunistas no mundo afinal — ele ergueu a mão e tocou o rosto de Elliot. O garoto olhou para o lado direito da face onde o amigo o tocava, sentindo a mão quente dele em seu rosto misturar-se com o calor que começava a aflorar da sua própria pele — Afinal, você é um nobre, mas é uma boa pessoa. Não é como os outros nobres que se aproveitam do poder e influência de suas famílias para alcançar seus próprios objetivos mesquinhos e cruéis. Você pode até ser impulsivo, resmungão, afobado, imprudente, pavio curto…

— Você está tentando me elogiar ou me ofender? — Elliot interrompeu entredentes.

— Desculpe, eu perdi o foco — Leo tentou conter uma risada — O que eu quero dizer é que… mesmo tendo os seus defeitos, você é uma pessoa com boa índole, Elliot. Foi por isso que aceitei viver ao seu lado, mesmo você sendo um nobre. Porque você tem um bom coração.

Ah… era isso. Finalmente a confusão que nublava os pensamentos de Elliot começava a se dissipar. Era por isso que ele se sentia tão agitado quando estava perto de Leo. Porque, embora a origem de Elliot representasse tudo que Leo detestava, o garoto conseguia enxergar os sentimentos individuais dele e separá-los do "rótulo" que a sociedade lhe impôs. E continuou ao lado de Elliot mesmo que todos os outros membros da família Nightray fossem contra um órfão desajeitado como ele se tornar o servo pessoal de Elliot. Leo o entendia tão bem… estava sempre ao seu lado, nas piores situações, até quando ele mandava o garoto fugir para que não se machucasse, ele desobedecia suas ordens e continuava ao seu lado, ajudando no que pudesse. Era a pessoa mais importante para ele.

Era… a pessoa de quem mais gostava.

Antes que percebesse o que estava fazendo, antes que pudesse sequer pensar, Elliot terminou com a curta distância que os separava e selou seus lábios nos dele. Moveu os lábios devagar, em um beijo um tanto desajeitado. Sentia o coração batendo forte, tanto por medo de ser empurrado para longe a qualquer momento agora que tinha se dado conta do que tinha feito quanto pelo que estava fazendo. Céus, ele tinha beijado Leo! Ou melhor, estava beijando… como pôde demorar tanto para perceber que o motivo para o garoto deixá-lo tão agitado era tão óbvio assim? Um turbilhão de emoções o invadia, todas ao mesmo tempo. Estava feliz por ter finalmente descoberto o motivo por ficar sempre tão agitado e confuso quando estava perto de Leo (ou seja, o tempo todo). Estava nervoso porque não sabia muito bem o que estava fazendo naquele momento, e nem como se fazia aquilo. Estava com medo de Leo o rejeitar e passar a odiá-lo. E também estava um pouquinho esperançoso pelo garoto não ter feito isso ainda. Os lábios dele eram quentes e surpreendentemente macios. Elliot sentia seu coração disparar cada vez mais rápido à medida que tentava se aproximar mais dele.

Ele não era o único que estava com o coração disparado. O primeiro instinto de Leo foi empurrar o garoto para longe. Ele chegou a segurar Elliot pelo colarinho da camisa, mas por algum motivo não o fez. Sua segunda reação foi medo. Não esperava que Elliot fosse investir tanto e se encolheu até sentir suas costas bater contra a cama. Sentiu um arrepio quando Elliot deslizou a mão esquerda pelo seu corpo até sua cintura. E então Leo finalmente se rendeu. Já que tinha sido Elliot quem começou com aquilo, ele é que não iria se segurar. Ele deslizou a mão que ainda tocava o rosto do garoto até sua nuca, agarrando seus cabelos curtos com as unhas e trazendo-o para mais perto de si. Sentiu a mão direita de Elliot deslizar pelo seu ombro enquanto ele segurava o colarinho da camisa do garoto com mais força, meio que indecisos e deveria ou não puxá-lo para mais perto. Se o fizesse, seus corpos ficariam praticamente colados um no outro. Talvez não devesse ousar demais.

Antes que pudesse decidir, Elliot encerrou o beijo contra sua vontade e afastou-se. Surpreendentemente foi ele quem ficou sem oxigênio primeiro e começou a inspirar com força. Uma pena, Leo teria aguentado um pouco mais.

— Ora… eu acabo de falar que você é um nobre com boa índole e você vai e rouba o meu primeiro beijo? — Leo ergueu uma sobrancelha — Parece que eu errei feio, hein.

— O que? — Elliot o encarou confuso, ainda um pouco ofegante — Esse… esse foi o seu primeiro beijo?

— Eu ainda era muito novo quando você me conheceu no orfanato, Elliot. Acha mesmo que eu já tinha beijado alguém naquela época?

— Ah… tem razão… caramba, me desculpa — uma onda de culpa invadiu o garoto. Não tinha apenas roubado um beijo do amigo, mas também tinha sido o primeiro — Bom, se serve de consolo, esse também foi o meu primeiro beijo.

— Não, não serve.

— Como assim, "não serve"? — Elliot exclamou, enfim colocando-se de pé — Além do mais, que tipo de reação é essa? Escuta aqui, eu só te beijei porque finalmente percebi que gosto de você, entendeu? A culpa é sua por sempre me deixar tão agitado e confuso! Você está sempre emanando essa aura bondosa e tranquila… sem falar no seu jeito irritantemente calmo — Elliot gesticulava enquanto falava — Isso sem falar que você é o único que me enxerga como outra pessoa qualquer, e não como "o herdeiro dos Nightray", a quem todos devem respeito. Quero dizer, isso é o que eu mais gosto em você, mas só fez com que eu demorasse ainda mais para perceber que te amo!

— Você está falando sério?

— É lógico que estou! — Elliot exclamou — Acha que eu iria brincar com uma coisa dessas?

— Duas coisas — Leo suspirou, levantando-se também. Ele recolheu os óculos do chão e os recolocou no rosto, escondendo os belos olhos claros por trás das lentes outra vez. Em seguida ergueu um dedo no ar — Primeiro: Você deveria dizer para a pessoa que gosta dela antes de sair beijando desse jeito. E segundo — ele ergueu outro dedo — Essa é a pior declaração de amor que eu já ouvi na vida.

— Como é que é? — Elliot sentiu o rosto queimar de raiva e vergonha misturadas — Como é que você se atreve…?

— Eu detesto isso — Leo suspirou.

— Nossa, não pensei que você me odiaria tanto por gostar de você — Elliot virou o rosto para o lado, sem saber o que fazer dali para a frente.

— Não é isso — Leo respondeu — É que é tão clichê. Um servo apaixonado por seu Mestre… nossa, que coisa mais sem graça.

— Sem graça é voc… espera, o que? — Elliot interrompeu-se — Não me diga que você…?

— É — o garoto disse apenas.

— "É" o que? — Elliot irritou-se — Diga com todas as letras!

— O que você quer ouvir, Elliot? Eu te amo? Estou perdidamente apaixonado por você? Você é o amor da minha vida? Somos almas gêmeas? — a cada frase que Leo dizia o garoto corava mais e mais — Desculpa — Leo encolheu os ombros, as bochechas levemente coradas —Também sou péssimo com declarações de amor. Mas é por aí.

— Você não tem moral para falar de mim, Leo — Elliot resmungou — E do que você estava reclamando antes afinal?

— Ah, é que você sabe como eu odeio clichê — Leo respondeu — Um servo se apaixona pelo seu Mestre… tem coisa mais clichê do que isso?

— Amor à primeira vista, casamento arranjado onde os noivos se apaixonam de verdade depois, a mocinha bondosa que se apaixona pelo cara rebelde e faz ele se tornar um cara legal…

— Foi uma pergunta retórica — Leo interrompeu — Céus, você anda lendo livros demais, Elliot — ele suspirou.

— Por que você nunca me contou?

— Para quê? — Leo falou — Sou seu Valete. No máximo, seu amigo. Não iria ganhar nada te contando isso — ele respondeu — O maior presente que já ganhei nessa vida foi ter te conhecido, Elliot. E isso é melhor do que qualquer presente de aniversário — ele deixou escapar um sorriso — Mas parece que eu estava enganado no fim das contas. Jamais imaginei que você pudesse sentir o mesmo. Ou você é só um pervertido? Eu estava bastante vulnerável na posição em que estávamos afinal — ele abraçou o próprio corpo.

— Eu não sou um pervertido! — Elliot exclamou, voltando a corar de raiva e vergonha misturadas — E a culpa foi sua por ser tão desastrado a ponto de tropeçar e me levar junto com você.

— Certo, então você gosta mesmo de mim — Leo deixou escapar uma risada. Adorava ver aquela expressão embaraçada de Elliot. Em seguida suspirou longamente — O que vamos fazer com isso agora, hein Elliot?

— Agora você vai ter que viver esse clichê que virou a sua vida — Elliot sorriu, aproximando-se do garoto. Ele abaixou um pouco os óculos de Leo, para que pudesse ver parte dos olhos claros do menino — E não ouse fingir que não está vendo isso, ouviu? Não importa se os seus óculos escondem metade do seu rosto ou o quanto o seu cabelo seja comprido, não use isso como desculpa para não ver o que está bem diante dos seus olhos.

— Certo… como quiser — Leo não pôde evitar de sorrir. Havia muitas maldades no mundo. Muitas injustiças cometidas por nobres arrogantes e egocêntricos. Mas, se Elliot estivesse ao lado dele, Leo poderia esquecer tudo isso. Ele queria viver cada instante ao lado de Elliot e não perdê-lo de vista jamais. Afinal, estar ao lado dele era o melhor presente que Leo poderia desejar, e não precisava de nenhum aniversário para comemorar isso. E faria questão de viver aquele clichê que tinha se tornado sua vida.



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Notas Finais:

Essa história também foi postada no Nyah! Fanfiction, Spirit e no Ao3.


April 27, 2021, 3:19 p.m. 0 Report Embed Follow story
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The End

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