Não escrevo num bom momento!
A cabeça está pesada; a sensação é de que algo força passagem entre os olhos, na coalizão das sobrancelhas; o nariz se faz presente, esforçando-se para dar passagem ao ar, por entre caminhos congestionados; o dorso reclama pela noite mal dormida e a inspiração parece difícil de buscar, neste início de manhã de domingo.
Lembro-me de alguns sonhos agitados que me fizeram companhia; ouço ao longe os primeiros avisos sonoros de galos que eu nem sabia existir aqui na vizinhança; há algumas boas horas os gorjeios de passarinhos já vem anunciando a alvorada. Agora (06h23min) lá vem subindo ruidosamente a rua o primeiro ônibus do dia. Quantos outros terão comigo compartilhado esta longa noite de insônia? Espero que bem poucos...
Dormir deveria sempre ser um ato natural, assim como comer ou respirar. Deveríamos nos desligar automaticamente, assim como se desliga um aparelho eletrônico: aperta-se off e pronto! Ou então copiar o sono de uma criança cansada de suas brincadeiras de fim-de-dia, dormindo o sono dos justos.
A verdade é que nosso sono consiste em vários estágios; se bem me lembro 6 ou 7, que sucedem-se do superficial ao mais profundo, indo e vindo durante a noite, como o descer ou subir de uma montanha-russa; às vezes sonhamos e nossos olhos acompanham estes oníricos pensamentos, num festival de movimentos sob fechadas pálpebras.
Se observares alguém dormindo sob estas circunstâncias, prestes bastante atenção à sua expressão facial, antes de acidentalmente acordá-lo: pode ser que nosso privilegiado protagonista esteja maravilhosamente entretido com a dama dos seus sonhos, ou passeando em Paris; mas se perceberes alguma angustiada expressão, não tardes em poupá-lo de prováveis travessuras de sua adormecida mente.
O problema é que com alguma frequência não conseguimos descer às profundezas requeridas para um sono repousante. Ficamos vagando nos estágios iniciais, com a mente recusando-se a deixar de funcionar, meio que em stand by, estimulada que foi pelos problemas, conflitos e boas ou más notícias do dia que deveria ter ficado no ontem, mas insiste em se fazer presente; tal como um livro, cuja página não pode ser virada. A má notícia é que todos nós, cedo ou tarde, passaremos por algum distúrbio do sono. Quem já não o teve?
Bom, não adianta voltar à cama e torturar-me mais, ouvindo o monótono som do relógio. Se passares por uma situação semelhante, aconselho-te a não tentares adentrar pela manhã, a fim de recuperar teu sono perdido. Levanta-te e faças algo inusitado, como molhar o jardim (se é que o tens) ou caminhar bem cedo, fazendo companhia a outros insones ou então aos bem-aventurados que bem dormem e iniciam logo cedo o dia. A ironia é que todos se encontram pela manhã, mas torna-se fácil distingui-los: basta procurar pelas olheiras!
Vou calçar meu par de tênis...
Obs: texto escrito em período pré-pandemia. Agora está mais difícil, pois não aconselho ninguém a sair por aí, inadvertidamente. Oremos todos...
Thank you for reading!
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