melpomene Melpomene Arinne

Ele tem uma teoria. Depois de cinco tentativas de suicídio fracassadas Logan Howard concluiu que a morte não esta pronta para ele. O jovem rapaz se vê num impasse interminável entre sumir no mundo e matar seu irmão do coração, ou estar preso a ele, que ainda tenta ser seu peso de papel “até que a morte os separe”. Entre os confetes de festas e bebidas fortes que é a vida colorida do irmão, o garoto se mantem silencioso tentando ocupar o máximo que pode o buraco da invisibilidade, tentando não ser a triste mancha cinza em destaque, até que Dominic deixa a roda de amigos de Jonny e diz “Olá”. Alguém esta pronto para ter o seu coração partido.


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Prólogo



Logan era um cara cheio de teorias sobre a vida, como por exemplo, optar sempre pelo silêncio, principalmente quando suas palavras podem ser mal interpretadas e acredite as palavras de alguém que tentou se matar mais de uma vez são vistas assim quase que 99,9% do tempo. Muitas delas se aplicavam apenas a dele, como por exemplo, obter seu atestado de óbito mesmo que em vida sendo invisível. Essa parte se aplica exclusivamente a vida dele e não era tão fácil. Quando sua primeira tentativa de suicídio deu errada, ele estava no 9º ano do fundamental e muitas pessoas foram visitá-lo no hospital, isso incluía o grupo de jovens da igreja do bairro e até mesmo alguns “colegas” de classe, com quem ele nunca tinha trocado nenhum oi.


O mais “engraçado” eram as pessoas tentando ser amigáveis, enquanto ele se mantinha em silêncio ouvindo os pais dizerem que ele ainda estava em estado de choque, quando na verdade ele se perguntava quando as pessoas começariam a esquecer daquilo para que ele pudesse tentar um outra vez de maneira mais eficiente.


As pessoas de repente pareciam compadecidas do que ele havia feito, quando na verdade ele acreditava que era vergonhoso e seu nível de fracasso tinha atravessado as camadas de ozônio, afinal ele não tinha conseguido se matar. A questão era que todos queriam ser amigáveis com ele depois daquilo. Todos pareciam ter uma necessidade gigante de dizer “oi", de escolher ele por primeiro para integrar o time de vôlei, de fazer equipes para as aulas de química. Ele era o centro das atenções e isso era uma merda para quem queria ser invisível.


Seu primeiro e segundo ano foi praticamente todo assim, por que, como o péssimo suicida que era, tinha tentando uma segunda vez nas férias de dezembro, antes das aulas começarem, antes do gelo começar derreter. Ele meio que queria algo discreto, mas hipotermia foi uma ideia num nível de idiotice que ele não queria pensar e mal tinha se recuperado da patética tentativa de enforcamento, onde o galho podre da árvore cedeu e ele terminou com um nariz quebrado e a cara ralada.


Depois da terceira tentativa ele estava puto com a morte e as outras últimas tentativas pareciam apenas pirraça, por que ele queria que a morte o aceitasse goela abaixo e depois por que ele queria morrer. A quarta tentativa lhe rendeu um lavagem estomacal.


Quando as coisas começaram a se acalmar e Logan pensou que todos, menos os que compartilhavam o mesmo teto com ele, tinham esquecido suas tentativas de suicídio a coisa meio que piorou. Seu irmão acordou um belo dia convencido de que os amigos dele deveriam ser os de Logan também, e seus lugares preferidos deveriam ser os dele também, as bebidas, as festas, o quarto na faculdade, a faculdade. Jonny tinha trocado Oxford por London, não apenas para manter os olhos em Logan, mas para grudar nele como chiclete no asfalto do Texas. Isso foi na época pós quarta tentativa fracassada. Logan havia dito para os pais que tentaria algo em London com a desculpa de “Vou ocupar minha cabeça com outras coisas, talvez novas pessoas me deem uma nova perspectiva sobre a vida”, que traduzida ficava algo como “o olhar suplicante de vocês me implorando para não tentar me matar de novo me faz querer morrer, e sei que quatro tentativas fracassadas significam algo. Quatro é um numero grande”, mas logicamente isso não aconteceu. Ele tentou uma última vez no fim do ensino médio. O que lhe rendeu uma pele enrugada por algumas horas como a de um senhor de 70 anos e uma gripe fodida.


Ele poderia ter usado as atitudes do irmão como desculpa, mas talvez, só talvez ainda estivesse muito puto com morte. Depois disso ele desistiu e acabou com um emprego de repositor de estoque de um mercado em Londres e num apartamento dado pelos pais para ele e o irmão. “Vocês não conhecem ninguém na cidade, além dos garotos que estão indo para a mesma faculdade. Um apartamento é mais confortável, vocês vão ter privacidade” e foi assim que ele desistiu de cursar o que fosse na Universidade de Londres, afinal, ele nem mesmo queria fazer algo a não ser sair das vista de todos. Os pais eram o primeiro passo e depois o irmão, ele só teria que enfrentar um pouco de culpa por tudo, ou não.


Seus pais eram legais, seu irmão era legal, ele era a maça podre. Ele não se lembrava de ter vivido fora daquele limbo antes. Tinha vagas lembranças da infância, onde sua preferencia no intervalo, ou, na maior parte do tempo, era longe das outras crianças. Sempre “aéreo”, era o que os professores diziam, apesar das boas notas. Então enquanto ele estivesse mantendo-as assim tudo bem. Não podia haver nada de errado, não é? Bem, talvez ele se sentisse um pouco deslocado. Mas isso deixou de ser um problema quando na adolescência ele deixou de se importar. Ainda que, vez ou outra, as lembranças de seu aniversário rodeado de crianças com quem ele nem falava e mais adultos que crianças o fizessem se questionar varias coisas, como, por que ele? E por que não podia ter sido diferente? Ele havia deixado de se importar.


A morte não o queria, tudo que ele tinha de fazer era se arrasta vida adentro torcendo para que ela passasse o mais rápido possível. Então ele tinha um emprego, ajudava nas contas e às vezes caminhava pelo parque. Tinha um celular, com o número dos pais e de Jonny na lista de contatos. Também tinha o da emergência, mas isso antes de se mudar, só o tinha para felicidade de seus pais. Jonny era o contato de emergência agora.


Às vezes ia ao parque, às vezes comprava sorvete. Ele fazia as compras e às vezes ia à livraria. Não tinha redes sociais, mal usava o notebook. Foi um dia, entre os seus 15 e 18 anos algo próximo de “escritor” – mas na verdade só escrevia por causa da psicóloga e eram sempre coisas felizes para todos pensarem que ia tudo bem – Às vezes desenhava, pintava quadros, ele tinha que admitir que talvez gostasse disso e também às vezes gostava de caminhar pela vizinhança. Mas eram tão raras vezes que quase ninguém, além do porteiro, sabia que Jonny tinha um irmão com quem dividia o apartamento e isso era meio que bom. Ele era invisível afinal.


Logan repassava esses pensamentos em sua mente, enquanto observava as luzes na fachada do bar oposto ao que estavam. Ele estava sentando em um dos bancos do lado de fora. Tinha conseguido se dispersar do grupo de amigos de seu irmão. Era difícil conseguir não sair com o maior, ele era sempre tão pedante e insistente que cansava o rapaz muito fácil, fazendo-o ceder. Ele ia para os lugares que o irmão o convidava e esperava todos ficarem bêbados – o que não demorava muito – então se afastava, esperando a hora em que teria que dirigir de volta para casa deixando cada bêbedo em sua devida porta, como a cegonha com os bebês, nesse caso bebês um pouco-muito bêbados.


Foi entre o pensamento de que panquecas são realmente gostosas e o de que talvez ele devesse fazer algumas quando chegasse em casa que o “Olá” aconteceu, interrompendo o impasse em sua mente. E apesar de pensar que talvez não, ele conhecia aquela voz.


March 25, 2021, 1:45 a.m. 0 Report Embed Follow story
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