moonna Lua Baldonado

Nyra é descendente de uma família de bruxos e feiticeiros, mas somente ela despertara a magia por completo dentre os irmãos. Descobre, ainda pequena, ser parte de uma grande profecia que será responsável por guiar os principais acontecimentos de sua vida.


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Capítulo I - O Presente

Uma forte geada anunciava a chegada do inverno rigoroso, as plantações dos pequenos agricultores da região eram castigadas pelos ventos naquela época do ano e tornava o futuro incerto para muitos. O sol nasceria dentro de algumas horas, mas Nyra se encontrava em pé próxima a janela de seu quarto, o olhar fixo no horizonte. Permitiu que os seus pensamentos vagueassem de encontro a Yve, temeu por anos pela chegada do dia em questão. Havia rezado aos deuses para impedir a existência daquela manhã, pediu para punirem a ela, com receio do futuro de Yve. Porém, não existia qualquer possibilidade que pudesse impedir tal situação.

Nyra descendia de uma linhagem antiga de bruxos e feiticeiros verdadeiramente prestigiados e temidos. Seus antepassados lutaram ao lado de reinos e impérios, com o intuito de um dia conquistar a sonhada liberdade prometida pelos soberanos. Humanos sentiam medo do que não podiam controlar, sendo assim, muitos de seus familiares foram caçados e mortos por considerá-los perigosos para o restante da civilização. Os poucos que sobreviveram conseguiram fugir para outras localidades, onde construíram uma das cidades que Nyra vivia atualmente.

Ainda recordava com exatidão o dia em que ganhara Yve, mas revisitava as lembranças ao sentir que as memórias estavam se tornando escassas e se extinguindo de sua cabeça, como agora. Tinha sete anos quando decidiu infringir a regra de seus pais para não visitar a floresta de Ramenth sozinha, pois animais selvagens e pessoas mal intencionadas poderiam cruzar o seu caminho. Ouvira sobre uma criança chamada Abernard, fora raptada por humanos que vagueavam por uma região na qual o garoto alcançou após cruzar o limite entre o nosso mundo e o deles, a nossa magia não fora capaz de protegê-lo. Contudo, Nyra acreditava que o mesmo não poderia ocorrer com ela, pois teria mais cuidado que o garoto.

Sua casa era próxima a uma parte da floresta onde cresciam muitos frutos, lembrava-se de sempre caminhar até o local com a mãe e, naquele dia, pensara não ser uma má ideia realizar o trajeto sozinha. Se lembrava de ter agarrado uma manta antes de se esgueirar pela porta dos fundos de encontro a floresta, correra a plenos pulmões para o local onde crescia uma grande quantidade de sua fruta preferida. Assim que chegara, Nyra respirara fundo por longos segundos para recuperar o fôlego, olhara por um momento na direção em que viera a fim de verificar se alguém a seguira. Após constatar que estivera de fato sozinha durante o trajeto, se aproximara da plantação de morangos e sorrira em admiração. Agarrara o maior fruto que encontrara, o levara próximo ao nariz e inalara o forte aroma. Sua boca salivara e fechara os olhos para apreciar o momento seguinte, porém, sentira uma estranha aproximação. Olhara em volta, mas não conseguira enxergar nada a sua volta.

— Nyra? — Uma voz feminina a chamara assim que a menina mordera o grande fruto, quase engasgara com o susto. Nyra tossira e levara a mão a boca, desejara um pouco de água para cessar o que a súbita interrupção causara. — Tome.

Nyra olhara confusa para a pessoa que se materializara a sua frente: uma mulher alta e esguia com longos cabelos brancos, usara um vestido negro encoberto por um manto encapuzado que cobrira sua cabeça. Não conseguira distringuir as feições em seu rosto por pouco. A mulher estendera um copo em sua direção, Nyra olhara com desconfiança e o tomara de suas mãos.

— Quem é você? Como sabe o meu nome? — Nyra perguntara e observara o líquido, aparentemente a mulher entregara apenas água para ela. Tornara a olhar na direção da estranha e aguardara por sua resposta.

— Eu sou Taethi. Você é Nyra, não é? — A mulher retirara o capuz e Nyra constatara que elas não residiam nos mesmos mundos, não soubera explicar como tivera tanta certeza sobre tal afirmação, apenas sentira. — Eu estou aguardando por você há anos, Nyra.

A garota observara o líquido novamente e erguera o olhar para o rosto enrugado da mulher, ela parecera feliz por encontrá-la. Entretanto, Nyra não soubera dizer quem era a mulher que encontrara. Desviara os olhos dos dela e analisara o ambiente ao seu redor: o dia estivera ensolarado e pássaros entoaram uma canção harmoniosa, apenas naquele momento percebera o motivo do calor que sentira. Ali também não era o seu mundo.

— Onde estamos? Dificilmente vemos um dia ensolarado de onde eu venho, estamos no inverno atualmente. — Nyra se afastara da mulher, temera que fosse raptada como Abernard e arremessara o copo para longe.

— Eu não tenho muito tempo, Nyra. Entretanto, eu garanto que um dia nos encontraremos novamente e eu explicarei tudo a você. Eu sou uma mensageira e o meu dever é informá-la sobre uma pequena parte da sua vida. Você faz parte de uma grande profecia e é importante de tantas formas que mal deve imaginar… — A mulher sorrira e observara Nyra com admiração — Ah! Eu também preciso lhe entregar um presente. — A mulher examinara ao redor e se aproximara dela. — Eu preciso que cuide dela. Você conseguirá me prometer que fará isso?

A garota ficara ainda mais confusa, não entendera sobre o que a mulher falara. Até o momento em que retirara um enorme ovo azul-celeste de dentro de suas vestes, Nyra se encantara no mesmo instante e sabia do que se tratara.

— Meus deuses! Isso é um ovo de dragão! — Nyra estendera uma das mãos para tocar o ovo, mas Taethi o afastara.

— Prometa, Nyra. Eu preciso que você prometa. — A mulher a olhara com seriedade.

Nyra possuíra inteligência o suficiente para entender o que era uma profecia, mas como fora possível isso ocorrer com ela? Soubera que não tivera tempo para pensar, então apenas concordara.

— Sim, eu prometo que cuidarei dela. Mas por que eu faço parte de uma profecia? E como? — Nyra ouvira um barulho próximo e se assustara.

— Eu preciso que você corra de volta para casa, Nyra. Imediatamente! Mantenha-a próxima ao fogo, tenho certeza que ela agradecerá se a mantiver dentro de uma lareira por algumas noites. Ela está destinada a ajudá-la em sua jornada. — Taethi olhara ao redor e continuara. — Agora vá! E não olhe para trás. Você terá respostas em breve.

Nyra hesitara e, no mesmo instante, ouvira mais um barulho do outro lado da floresta. Tomara o ovo das mãos de Taethi e correra rapidamente em direção a sua casa, sentira os pulmões arderem em contato com o ar gélido. Após alguns minutos, chegara em segurança a porta dos fundos. Olhara para os braços e o ovo azul-celeste estivera protegido durante o percurso, admirara com calma os pequenos detalhes e sorrira: parecera desenhado pelas mãos de um artesão habilidoso, pequenas escamas prateadas enfeitaram ao redor da casca dura. Nyra notara um tom de azul mais escuro na parte debaixo do ovo, o que o tornara ainda mais belo. Arriscara um último olhar na direção em que viera: apenas árvores encobertas pela neve. Nyra nunca mais conseguira encontrar a imensidão frutífera em que estivera.

Piscou os olhos e abandonou o devaneio que emergira, olhou ao redor de seu quarto e cogitou deitar-se novamente. Porém, seus pensamentos estavam presos a Yve. Tornou a olhar através da janela e foi invadida pela culpa. Pensava na possibilidade de ter negado o presente daquela mulher, provavelmente não teria que batalhar em uma arena para arriscar a vida do dragão que tanto amava. Nyra precisaria fazer a transição da adolescência para a vida adulta, mas, para isso, seria necessário batalhar junto a Yve na presença de um oponente à altura: outro dragão. Se formou um nó em sua garganta e sentiu os olhos marejados, temia pela vida de sua companheira e jamais se perdoaria caso o pior acontecesse.

Nyra descobriu, após o nascimento de Yve, que dragões eram criaturas tão belas e protetoras quanto raras. Os afortunados presenteados com ovos, além de destinados a serem acompanhados pelos animais majestosos pelo resto de suas vidas, também poderiam estar confiantes de que eles possuiriam um propósito essencial em suas trajetórias. Esta era a única maneira de se conectar com os dragões verdadeiramente: era uma dádiva a ser recebida como uma oferta, e não ativamente conquistada. Tinha consciência da importância de Yve para a sua história e não permitiria que um ritual de passagem tirasse a sua vida. Continuariam as suas trajetórias juntas, mesmo que precisasse manchar suas mãos com o sangue do combatente adversário.

Agarrou um par de botas e um pesado casaco de lã, vestindo-o por cima das vestes de dormir. O frio que enfrentaria a congelaria em questão de minutos se não estivesse bem protegida. Ao sair pelas portas dos fundos, sentiu o vento cortante açoitar sua pele e bagunçar seus cabelos, desejou que o verão chegasse com rapidez. No entanto, os invernos eram rigorosos naquela região e, por muitas vezes, longevos. Marchou com rapidez em direção ao abrigo que construíra para Yve anos antes, temia que outros pudessem atacar seu dragão indefeso na calada da noite. Protegera o local com magia antiga, permitira que somente ela fosse capaz de encontrar o refúgio de Yve. Não poderia confiar em ninguém. Por mais que amasse sua família, não saberia dizer com exatidão sobre a índole dos moradores próximos. Tinha conhecimento sobre a magia suja e os rituais macabros que ali eram praticados, não poderia arriscar.

Ao alcançar o local demarcado, proferiu o encantamento em uma língua desconhecida para permitir a sua entrada. Nyra atravessou o portal e encontrou uma Yve adormecida com a ajuda de um feitiço lançado por ela. O dragão era jovem e elegante, não havia alcançado a totalidade de seu tamanho e a cada ano estava maior. O mesmo tom azul-celeste de sua casca perdurou até atingir pouco mais de um ano de vida, após isso, sua couraça adquirira uma mescla de tons azuis-escuros conforme o tempo passara. Suas escamas possuíam sutis detalhes prateados que davam a impressão de que Yve fosse uma pequena parte de um céu estrelado. E, por isso, era conhecida por um apelido inconfundível: Dama da Noite.

Nyra se aproximou e depositou uma das mãos na pele dura e morna de Yve. Não sabia o que aconteceria nas horas seguintes, mas não desejava estar em outro lugar a não ser ali, ao lado de sua melhor amiga. Se sentou e abraçou o enorme animal, permitiu que as lágrimas finalmente encontrassem o seu caminho ao rolarem tristemente por sua face. A angústia crescente em seu peito fez com o que o choro de Nyra se tornasse ainda mais audível e doloroso, despertando Yve de seu sono calmo.

— Eu não posso perder você… — Nyra sussurrou com a boca encostada na couraça de Yve, apertava o seu corpo com maior intensidade a cada soluço.

E quem lhe disse que isso acontecerá, Nyra? Se trata de uma batalha, somente. Não há o que temer!

Yve se comunicou com Nyra e esfregou a lateral de sua cabeça no corpo frágil da garota, que a abraçou ainda mais forte. Desejou sair do local que as abrigava para ir de encontro aos céus ao lado de sua amiga. No mesmo instante, Yve emitiu um barulho baixo, como se concordasse com a ideia. Nyra encarou o belo animal e sorriu, enxugou as lágrimas com os dorsos das mãos e se pôs de pé, pronta para a pequena aventura que as aguardava.

Nyra estava do lado de fora do abrigo acompanhada de Yve, olhou ao redor para se certificar de que ninguém as espreitava entre as árvores. O enorme dragão grunhiu em sua direção, demonstrando seu claro descontentamento com a preocupação excessiva da garota. Nyra franziu o cenho e fez um gesto com as mãos para que Yve permitisse que ela subisse em suas costas.

— A minha preocupação te irrita? — Perguntou ao montar em Yve, o dragão rugiu baixo para Nyra.

Você se preocupa exageradamente, Nyra. Se esqueceu qual criatura eu sou?

— Não, eu não esqueci. Porém, nós não sabemos como será… — Nyra interrompeu-se ao notar a inquietação de Yve, sabia que ela não daria ouvidos ao que estava dizendo. — Tudo bem, você venceu. Vamos!

Yve ergueu a cabeça e rugiu alto para os céus, quase derrubando Nyra com sua empolgação. A garota riu e agarrou as grossas escamas com firmeza, observou o momento seguinte com admiração: Yve abriu suas enormes asas, fazendo com que tocassem levemente o topo de árvores próximas; a luminosidade de suas várias escamas prateadas foram um deleite. Ganhou impulso antes de ir de encontro aos céus e alçou vôo. Nyra olhou para baixo e examinou o chão tornar-se cada vez mais distante e as enormes árvores diminuírem conforme se afastavam. O dragão planou no ar após alcançar determinada altura, o ar cada vez mais frio causou calafrios em Nyra, que se aproximou ainda mais do corpo quente da criatura.

Após um tempo, decidiram pousar no topo de uma montanha e admiraram o deslumbrante nascer do sol. Nyra se surpreendeu com as variadas colorações de laranja e dourado, como se os deuses tivessem ateado fogo aos céus naquela manhã. Olhou de soslaio para Yve e lembrou-se do encontro que tivera com a misteriosa mulher que entregara o majestoso ovo azul-celeste para ela. Prometera proteger Yve e seria exatamente isso o que faria naquele dia, por mais que a sua própria vida fosse colocada em risco.

Nov. 9, 2020, 11:35 p.m. 3 Report Embed Follow story
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Herrera,  Andressa Herrera, Andressa
Eu amei!!!! Que escrita sensacional, amando nyra e yve
January 31, 2021, 17:53
Gabriel Amaro Gabriel Amaro
como não amar essa relação linda da nyra com a yve??? quero ler o resto logooooo
November 11, 2020, 02:43

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