autorajamille Jamille Sousa

Era uma manhã comum para Luiza, os cabelos não estavam em um dia bom, pelo contrário, mais revoltos do que nunca. Uma espinha horrenda surgira do nada em seu rosto e ela queria mais do que tudo esquecer que precisava levantar da cama. Porém, ao decidir parar em sua cafeteria preferida, Luiza viu seu humor mudar consideravelmente. Ao ouvir uma pergunta simples, mas que, naquele momento significou bem mais: Então, Luiza, açúcar ou adoçante?


#22 in Short Story All public.

#conto #romance #amor
Short tale
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Capítulo único

Aquele definitivamente não era o melhor dia para se levantar da cama, constatei assim que botei meus pés no chão e analisei a imagem que refletia do espelho gigante do guarda-roupa. Fios de cabelo apontavam para todas as direções, meus olhos inchados mal abriam e ainda tinha o prêmio maior, uma espinha gigante que surgiu bem no queixo, de uma hora para outra. Definitivamente era o fim. Aquela segunda-feira macabra prometia ser praticamente um filme de terror, contando que eu seria o personagem principal, claro.

Eu estava horrível!

Me sentia a própria reencarnação da noiva do Chucky, ou a Annabelle, como preferirem. Pois eu não sabia afirmar qual me representava melhor naquele instante.

— Você tá um bagaço — falei para mim mesma e soltei um grunhido nada feminino.

Minha autoestima era quase inexistente e eu nada podia fazer, além de tentar cobrir aquela espinha horrenda com maquiagem. Mesmo sabendo que pareceria um choquito branco, porque, obviamente a protuberância não sairia com maquiagem, no máximo camuflaria a vermelhidão. E isso não era nada animador.

Me arrumei como pude, molhei os cachos e tentei dar algum tipo de glamour ao meu cabelo. Mas era uma batalha perdida, ele não iria me obedecer. Meu cabelo tinha vida própria e fazia o que bem entendia, não era possível controlá-lo.

Por sinal, eu bem queria ter aqueles cachos de embaixadora da Salon Line; porém, eu estava mais para o que tiver de ser será. Assim sendo, resolvi fazer um coque alto, peguei meus óculos de grau — claro, desgraça pouca é bobagem, esse ser humano ainda precisava ser míope pra acabar com tudo de uma vez — e terminei de me arrumar como pude.

Torcendo para não encontrar nenhum conhecido nas ruas, era isso ou tirar os óculos e fingir demência. Tipo: Me perdoe, não te vi, sabe como é, estava sem óculos!

Entretanto, de nada adiantaria, visto que a pessoa continuaria vendo o estado deplorável que eu me encontrava naquela manhã.

Não havia para onde correr, era um daqueles dias que até Murphy se compadeceria de mim. Peguei minha bolsa e, resignada, saí de casa. Parando na padaria que tinha a caminho do meu trabalho. Era rotina, eu sempre tomava meu café da manhã no mesmo lugar, era barato e gostoso e eu não via o porquê trocar minha padaria preferida.

De modo que, entrei e me sentei em uma mesa mais afastada, torcendo para não encontrar ninguém por ali. Todavia, não demorou nem alguns segundos e alguém chamou minha atenção. Eu sempre era atendida por Patrícia, éramos quase amigas íntimas. Contudo, naquela manhã detestável, não foram os olhos acolhedores e gentis da minha atendente favorita que me fitavam curiosamente. Ousei levantar o olhar minimamente, para descobrir de quem se tratava o indivíduo, e meu queixo foi ao chão.

Olhos castanhos e amendoados, como duas avelãs suculentas me olhavam amorosamente. Enquanto a pele bronzeada contrastava com os cachinhos dourados do rapaz.

Uau!

Espera, de novo, uau.

— Bom dia, posso ajudar? — sua voz reverberou pela padaria e eu quase me encolhi na cadeira.

Qual é? Eu estava só o bagaço, o pó da rabiola, o fiapo do pão, a capa do Batman. Tinha dia melhor para um gato desses surgir no lugar super comfort que eu escolhia para tomar meu café?

Suprimi um gemido de tristeza e enfiei a cara no cardápio. Mesmo sabendo de côr o que eu queria. Afinal, eu fazia o tipo que pedia o de sempre. Patrícia saberia disso, mas aquele outro, com cabelos encaracolados e olhos questionadores não parecia entender que eu era cliente vip ali.

— Hã... — enrolei, tentando ganhar tempo. Aliás, para disfarçar meu estado de nervosismo. Se ele me visse horrível e com àquela espinha monstruosa na cara, eu nunca mais teria chances. — Acho que quero um café com pouco leite e uma rosquinha de creme.

— Tudo bem. — ousei espiá-lo por sobre o catálogo por alguns segundos, enquanto observava o estranho anotar meu pedido em seu caderninho.

Pior, o bendito ainda ostentava charmosas covinhas nas bochechas.

Era pra acabar!

Como percebi? Ele insistia em manter um sorrisinho de canto, como se me atender fosse extremamente divertido. O que não era. Eu estava um trapo, ora bolas.

— Mais alguma coisa? — ouvi em resposta.

— Só isso — informei e tornei a enfiar a cara no cardápio, apesar de ser bem mais interessante olhar o novo atendente da padaria.

— Açúcar ou adoçante? — quis saber e eu franzi o cenho em resposta.

— Açúcar — afirmei de pronto. — Mas, não costumavam adoçar o café antes, geralmente eu decido quando chega aqui — acrescentei e não consegui evitar o contato visual.

Eu estava curiosa sobre ele, meus olhos meio que adquiriram vida própria naquele momento.

— Eu sei — garantiu, sorrindo mais abertamente. — É que, pensei conseguir sua atenção perguntando algo fora do script.

— Ah! — senti minhas bochechas esquentaram. Por que o tal gatinho iria querer chamar minha atenção?

— Bom... — o bonito coçou a nuca. — Eu sempre te vejo aqui pela manhã, na verdade, eu ficava na cozinha, só que a Patrícia faltou e precisei cobrir. — começou a explicar demonstrando certo nível de constrangimento. — Eu nunca consegui falar com você, na real, eu que preparo seu pedido. O de sempre. — frisou sorrindo e eu não consegui evitar o riso, esquecendo completamente a espinha horrenda no meu queixo.

— Sério? — indaguei surpresa e nossos olhos se encontraram.

— Arrã — confirmou e senti meu estômago der um duplo twist dentro de mim. — Fiquei me perguntando, se você apareceria hoje por aqui, para eu ter a sorte de te ver pela manhã.

— Bem hoje que eu estou um caco — resmunguei baixinho.

Quero dizer, talvez nem tão baixo assim.

— Você está linda, é, aliás. — se corrigiu e eu quase afundei na cadeira.

— Você acha isso? — levantei o olhar, dessa vez um pouco mais segura de mim.

— Acho sim — reafirmou e quase me derreti toda, feito um picolé no verão. — Têm meses que ensaio te convidar pra sair, ou até pra tomar um café. — revelou e mordeu o lábio, desviando os olhos, como se tivesse cometido algum crime inafiançável.

— Quando? — exigi saber.

— Quando? — devolveu confuso.

— Quando quer tomar um café, um dolly, milk-shake, quando quer sair comigo? — certo, eu parecia uma desesperada.

Bom, eu estava mesmo.

Ele riu e o som de sua risada aqueceu meu coração naquela manhã insossa.

— Quando você quiser. — deu de ombros.

— Me empresta seu bloco de notas — pedi estendendo a mão.

Ele prontamente aceitou, na sequência eu anotei meu telefone e nome ali. Constatando que nem sabia o dele.

— Qual o seu nome?

— Dante, prazer. — se apresentou e quando eu ia dizer o meu, ele me cortou.

— Eu já sei o seu. Aliás, Patrícia me ouve todos os dias perguntando de você, não sei como não te contou sobre minha paixão platônica. — Dante corou e eu quase soltei um awn seguido de uma mordida naquelas bochechas vermelhas.

Eu iria matar Patrícia, como ela nunca havia me falado sobre a preciosidade que preparava meu café todo dia? Amiga da onça!

— Queria que a Pati tivesse me contado. — afirmei e sustentei o olhar por alguns segundos.

— Talvez eu seja o culpado, sempre implorei pra ela não falar nada. Afinal, como uma garota incrível como você se interessaria por mim? Eu nem sei como consegui te falar tudo isso hoje. — segredou e eu quase o estapiei por ser tão fofo.

— Ei, como assim? Você é uma graça! — protestei e notei quando um sorriso travesso surgiu em seus lábios.

— Você acha? — questionou e eu prontamente fiz que sim com a cabeça.

— Dante, libera a Lú pelo amor de Deus. — alguém o repreendeu e vi de escanteio se tratar do seu Afonso, o gerente da padaria.

— Tô indo seu Afonso. — Dante retrucou e soltou um muxoxo em seguida. — Posso mesmo te ligar?

— Pode sim. — eu abri meu sorriso mais encantador.

— Vou trazer seu pedido. — e vi um sorriso torto brincar em seus lábios. — Açúcar, certo?

Com certeza.

FIM.

Feb. 5, 2023, 4:48 a.m. 4 Report Embed Follow story
13
The End

Meet the author

Jamille Sousa apenas uma fanfiqueira que gosta de escrever sobre clichês.

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Post!
Samuel Araújo Palmeira Samuel Araújo Palmeira
Muito bom
December 26, 2023, 12:06
𝓘𝓼𝓪𝓫𝓮𝓵𝓵𝓮 𝓢𝓸𝓾𝔃𝓪 𝓸𝓯𝓬
𝓘𝓼𝓪𝓫𝓮𝓵𝓵𝓮 𝓢𝓸𝓾𝔃𝓪 𝓸𝓯𝓬
Adorei a história Jamille! Sou seguidora antiga e gosto de ver como você evoluiu! Que esse milagre caia sobre mim.
December 21, 2022, 15:22
CM Camille Manuella
Olá, eu me chamo Manuella Saldanha, vc me seguia antes, eu perdi minha conta no Inskipired, e agradeceria se começasse a me seguir novamente...
October 17, 2022, 16:41
Eve S. Eve S.
Olá, Jamille! Faço parte da embaixada brasileira de Inkspired e estou aqui para lhe parabenizar pela Verificação de sua história. Primeiramente, devo dizer que a sua escrita, de forma refinada e bem fluída, me cativou a um ponto que eu não conseguia desgrudar meu olhar durante a leitura, do início ao fim, de tão envolvente que a narrativa se torna. A maneira como você construiu a personagem Luiza e os pensamentos destacados negativamente a qual ela faz sobre si mesma, faz parecer que a protagonista é de fato uma pessoa tão real, com questionamentos tão comuns, como baixa autoestima e a frustração a qual ela lida consigo mesmo. Ela não conseguia se ver com clareza seus pontos positivos, e eu podia notar o quão doce, gentil e engraçada ela é, qualidades essas tão evidentes em sua personalidade, a um ponto que o outro personagem, Dante, se viu conquistado pela menina, e então se interessar romanticamente por ela, mesmo que ela não tivesse ideia disso e ela não soubesse quem ele é, já que ele nunca tinha se dirigido a ela até que a habitual garçonete a qual Luiza sempre estiveram acostumada em ser atendida, Patrícia, faltasse na lanchonete. A melhor parte ( e a mais fofa, por sinal) foi quando ele disse que ele sabia do que ela ia pedir a ele, já que o mesmo sempre preparava seu pedido. E claro, a reação de surpresa por parte da Luiza em ouvir isso, o que faz a personagem se sentir atraída pelo o gesto doce de Dante para com ela. Eu achei o máximo que a Patrícia, mencionada por ambos na narrativa, agiu como um cupido entre eles. E funcionou direitinho, já que a aproximação de Dante com a Luiza deu certo! Ainda bem que ela faltou ao trabalho, não é mesmo? Haha. Sua história encanta demais do início ao fim, e devo mencionar que não há erros gramaticais, bem como o uso da pontuação, coerência e coesão estão bem colocados de forma correta. O vocabulário presente na narrativa embora seja informal, é bastante enriquecido e há presença evidente de sinônimos — o que torna importante para que não haja repetição de palavras. Eu espero que a sua obra continue a encantar muitos leitores — assim como eu —, e que siga recebendo muitos comentários, pois sua história merece muito mais! Até mais, autora!
December 11, 2021, 14:42
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