ageha_sakura Ageha Sakura

Desde o princípio deuses surgem em nosso meio, nascendo de crenças mitológicas e sobrevivendo até a atualidade, temendo apenas uma coisa: o esquecimento. Isso antes de surgir um deus completamente desconhecido, tratado de imediato como um inimigo e sentenciado ao isolamento perpétuo. Centenas de anos depois, o nascimento de uma criança devolve a todos os seres místicos o medo daquele que havia desaparecido, pois ela carrega o selo dourado, o sinal de que Kim TaeHyung renascerá como um novo deus.


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O deus esquecido

Bom dia / Boa tarde / Boa noite


Sejam todos bem vindos a "Young God"!


Essa é uma nova longfic que criei inspirada na belíssima capa da @ainoseiza espero que gostem e possam desfrutar de uma boa leitura 💞


Usem a tag: #DeusDouradoTK


____________________


Deuses, criaturas mitológicas que começaram a surgir durante os primórdios da sociedade humana, movidos pelas crenças de povos distintos, com uma visão diferenciada do mundo em que viviam.


Para muitos eles são seres fantasiosos, apenas criaturas com histórias absurdas que foram criadas pela fértil imaginação humana, apenas como forma de enfrentar e temer os fenômenos que naquele período não poderiam ser explicados.


Entretanto, de fato todos eles existiram, alguns ainda estão vivos nas lembranças e nos mitos repassados por gerações, alimentando-se da pouca crença que ainda existe nesse mundo. Enquanto outros deixaram o mundo, evaporando como poeira sendo levada por uma forte ventania, abandonados no enorme vazio entre as infinitas estrelas do Universo.


Um deus esquecido jamais pode ser lembrado, pois uma vez que sua alma desaparece, nem mesmo os dados históricos mais verdadeiros poderiam trazê-lo de volta a vida. Uma vez esquecido, permanece no esquecimento.


E ser esquecido é o medo de todos aqueles que habitam o glorioso Palácio Dourado. Todos os deuses que vivem ali temem o esquecimento, as memórias apagadas e os seus feitos serem excluídos de um mundo perfeito como aquele.


Nenhum deus pode nascer por acaso, pois todos nascem com algum propósito, mas principalmente pelo desejo de um ser humano.


Orações são o que movem e fortalecem esses seres mitológicos, reforçando que a existência deles não seja excluída e muito menos que a fé deixe de habitar naquele mundo.


E assim os tempos seguiriam, todos lutariam pela sua sobrevivência, se dedicariam em serem amados e adorados pelas criaturas viventes no centro. Todavia, algo inesperado ocorreu em meio aquele mar de pura perfeição, um bebê nasceu em meio ao nada, sem possuir um nome e muito menos ter um fiel adorando a si.


Como era possível alguém nascer sem ser adorado? Sem possuir templos em seu nome ou ter um único fiel lembrando de si?


As perguntas incessantes atormentavam a mente de todos os poderosos deuses que habitam aquele lugar. Era inaceitável a existência daquela criatura de cabelos e olhos tão dourados como o ouro.


Nenhum deles estavam dispostos a aceitar a existência daquela pobre e pequena criança, desprezando totalmente a sua origem como um deus desconhecido, apenas buscando respostas e soluções do próprio Universo.


Naquele mesmo dia, onde o tempo não existia e o sol sempre brilhava intensamente, os deuses oraram pela primeira vez em milênios. Todos juntos ao redor da mesa de pedra, o lugar onde imploravam pela a mísera atenção do soberano que dominava e regia o mundo, o poderoso Universo.


Atenas, como uma nobre deusa grega da sabedoria, segurava o bebê em seus braços com tamanha frieza, recebendo uma risada baixa de Ísis, a deusa egípcia da natureza. Colocou o pequenino sobre a mesa, fechou seus olhos e pediu em silêncio por uma explicação clara para a existência daquela criança.


Em seguida, os demais deuses ali presentes repetiram sua ação, de mãos dadas ultrapassavam as suas barreiras carregadas de orgulho para se unirem naquela causa, pois temiam o fim do mundo perfeito que viviam por causa da existência de um novo deus.


O choro alto e assustado da criança conseguia atrapalhá-los naquele momento de fidelidade as suas orações, nem mesmo os anjos em todo o seu esplendor conseguiriam impedir aquele feito.


Então uma fenda escura surge no chão, a tenebrosidade despertando toda a atenção dos deuses, a maioria já posicionada para um possível ataque. Uma criatura surgiu das chamas em tom azulado, Hades havia chegado acompanhado de Perséfone, sua adorável esposa.


— O que faz aqui, Hades? – Questiona Hórus, o deus egípcio da guerra.


— Querendo ou não ainda possuo um cargo como deus, guardando o Tártaro a quem também chamam de Inferno. – Respondeu Hades, a voz rouca pronunciando cada palavra carregada de um venenoso tom de ironia.


— Chegou em mal momento, irmão. – Comentou Poseidon, deus grego dos mares — Estamos tentando nos comunicar com o poderoso Universo, pois em nosso meio nasceu esta criança sem nome, mas possuidora de um grandioso poder.


Hades voltou o seu olhar para a pequena criatura chorosa colocada sobre a mesa, seu olhar medonho fazendo-a cessar o choro e olhar para si com tamanha intensidade, como se não temesse ao poderoso deus do Submundo.


— Então cheguei em um bom momento, Perséfone estava certa em virmos. – Disse Hades por fim, sinalizando para que a deusa se aproximasse da criança.


— O que pretende fazer? – Questiona Freya, a deusa nórdica da luxúria.


— Apenas irei acalmar o coração dessa criança assustada, pois acredito que o nosso poderoso guia não iria aprovar o choro do novo deus. Respondeu Perséfone, em seguida aproximou-se da criança e começou a tocar suavemente os fios dourados como o sol, sorrindo pequeno e imperceptível aos outros.


Os demais observaram toda a cena em silêncio, a criança desconhecida fora se acalmando, sentindo-se bem e segura com a deusa do Submundo ao seu lado. Encerrado o momento de afeto, Perséfone voltou para o lado de Hades e juntos aos demais prosseguiram com o ritual de chamado.


Luzes de infinitas cores começaram a iluminar toda a sala, as vozes tornaram-se mais altas e o clamor carregava apenas o único pensamento de dúvida em relação ao deus desconhecido.


A mesa de pedra começou a ganhar um brilho intenso, a cor prateada como as estrelas foi se tornando cada vez mais forte, anunciando que poderoso guia estava prestes a surgir no meio deles. O bebê olhava tudo aquilo sem conseguir compreender, apenas sorrindo animado pelas luzes brilhantes que o cercava, sentindo-se abrigado em meio aquele arco íris de tonalidades.


As nuvens começaram a surgir, a luz prateada tornou-se incandescente, chegando ao ponto de incomodar a visão dos deuses, apesar de seus olhos fechados. Uma voz começou a soar como o barulho estrondoso de um trovão, o medo de rever o guia nunca tinha sido tão assombroso como naquele momento.


Quem ousa me perturbar? Não sabem que o nosso contato só deve ocorrer em casos de emergência? – A voz questionou em um tom grave e alto, assustando até os mais fortes dos deuses.


— Poderoso guia, é um caso de extrema emergência. – Começa Atena, sua voz tentando se manter firme em meio a situação — Este bebê disposto sobre o teu altar é motivo de nosso chamado, pois a existência dele não deveria ocorrer já que não existe fiel que tenha desejado o seu nascimento ou um templo para adorá-lo. Explicou a deusa da sabedoria, ganhando completa atenção do Universo que encontrava-se sem palavras para responder aquele fenômeno anormal.


— Não é possível a existência de uma criança tão desconhecida em nosso meio, o senhor em toda a sua sabedoria deve nos explicar sobre a origem dessa criança. – disse Bastet, a deusa egípcia da fertilidade, seu olhar raivoso como o de um gato expressava tudo o que sentia de uma forma transparente.


Todos estavam revoltosos pelo silêncio do esplendoroso guia que permaneceu em silêncio, sua aparência nunca sendo mostrada para aqueles que seguiam suas ordens desde o início dos tempos.


— Pretende ficar em silêncio? – Questiona Hades em um tom carregado de irritação, seus nervos estavam a flores da pele — Então quer dizer que o poderoso guia não sabe o motivo desde pequenino bebê ter nascido. – Comentou por fim em um tom sarcástico, despertando ainda mais a ira dos deuses ao redor do altar.


Hades! Exclama Hefesto, o deus grego do fogo e da forja — Não é hora de incitar a discórdia entre nós! Temos um caso sério e precisamos estar unidos para decidir o que faremos sobre essa criança desconhecida.


— Diga mais uma coisa exilado, apenas mais uma e irei te lançar para as chamas do Tártaro. Ameaçou o deus do Submundo, tendo o seu braço segurado por sua esposa, Perséfone, que decide impedir que o pior aconteça.


Calem-se, seus deuses tolos! Pela primeira vez o Universo ousou se pronunciar — Causar a discórdia entre vós não irá extinguir o fato de que um ser poderoso está no meio de vocês!


— Então afirma que ele é perigoso, guia? – Perguntou Apolo, deus grego da luz e das artes.


Dependendo da forma como utilizar o seu poder, que até mesmo para mim é um completo mistério. – Respondeu a voz do Universo, seu ar preocupado não passou despercebido por todos os deuses presentes naquele meio.


— Existe algum maneira que possa impedir que o novo deus caía e devaste todo o mundo? – Em meio aquela confusão de vozes Iansã, a deusa africana dos ventos e das tempestades, pergunta. Seu questionamento conquistou toda a atenção da legião de deuses, todos esperando por uma resposta positiva para lidarem com o pequenino ser ainda disposto sobre o altar.


O guia permaneceu em silêncio, parecendo pensar nos prós e contras da situação enquanto suas estrelas pareciam brincar com o recém nascido de fios e olhos dourados. O Universo se aproximou da pequena criatura, transformando a nuvem em uma pequena mão capaz de tocar aquela criança tão sorridente, carregando consigo uma inocência que contradizia com a situação turbulenta daquela sala.


Tratem de educá-lo como um de vocês. – Respondeu o guia após um longo período de pensamento, prosseguindo logo em seguida — Deixem que ele cresça em vosso meio, aprenda sobre si mesmo e quando atingir a maior idade tomaremos a decisão definitiva de acordo com o seu comportamento.


A decisão do Universo estava feita, contudo, muitos deuses estavam desgostosos com a ideia de uma criança totalmente desconhecida e considerada perigosa no meio deles. De fato era cedo demais para considerá-lo uma ameaça, portanto ficariam de olhos bem abertos para comprovar o quão ruim aquele pequeno bebê se tornaria no futuro.



Algum tempo depois, Palácio Dourado



O tempo para os habitantes do Palácio Dourado é completamente adverso ao tempo na terra, por isso não era possível saber quanto tempo havia se passado de fato, mas julgaram ser o suficiente para que o mundo humano evoluísse e o deus desconhecido crescesse o suficiente.


Com o tempo de convivência eles decidiram dar um nome para aquela pequena criança, chamando-a de Kim TaeHyung. Seu nome carregava a origem coreana, pois seus traços físicos aparentavam pertencer aquele continente humano, conseguindo assim mais uma pista sobre a origem do deus dourado nascido no meio dos demais.


Estava em um corpo de aparência adulta, com traços realçados a delicadeza e rigidez que o tornavam ainda mais belo. Seus cabelos eram longos e dourados, arrastavam pelo chão esbranquiçado do glorioso palácio. Seus olhos pareciam duas joias preciosas, tão brilhantes e douradas como os seus fios. Seus lábios um pouco carnudos eram avermelhados, entravam em contraste com a sua pele amorenada que parecia ter sido abençoada pelos raios solares.


TaeHyung é a própria definição de deus em meio aos demais deuses.


Seu sorriso é extremamente belo, carregando uma forma única e peculiar que formava um retângulo largo que reforçava os seus traços marcados. Usava joias da cabeça aos pés, o que permitia a si uma gloriosidade absurdamente bela, ganhando mais atenção do que o próprio sol.


Olhando de longe nem parecia que o Kim era temido por todos os outros deuses, tratado como uma possível arma que seria utilizada pelo próprio guia do Universo para dizimá-los.


Talvez, só talvez, aqueles anos de convivência com o bebê tenha trazido a loucura para os impiedosos e soberanos deuses de todo o mundo humano. Não existia um que não temesse as suas ações futuras, o que deixava óbvio o quanto TaeHyung não era bem vindo ali.


O jovem deus apenas queria ser amado e adorado como os outros, queria entender sua origem e o motivo de todos carregarem tanto ódio assim de si. Apenas queria uma chance de provar que não era ruim, que não carregava a destruição em seu corpo, mas quem ele poderia enganar? Não conhecia a si mesmo para conseguir prová-los que não iria machucá-los e, muito menos, ferir o mundo humano.


Nada TaeHyung poderia fazer senão aceitar a devida sentença daquele fatídico dia; o exato dia em que o Universo jurou definir a sua sentença para todo o sempre.


Pegou a sua capa dourada que lhe foi dado a alguns dias atrás por Perséfone, como se ela tivesse prevido que ele iria precisar para não fitar os olhares de desgosto dos demais deuses. Escondeu o seu rosto e os seus cabelos longos e reluzentes como o sol, tratando de andar em direção ao Santuário do Universo.


O capuz dourado arrastava no chão junto aos seus cabelos escondidos pelo tecido, suas roupas brancas brilhavam intensamente e sua aparência triste não era revelada para os deuses que assistiam toda a sua dura caminhada em direção ao Santuário. Ousou levantar um pouco os olhos para enxergar o que estava a sua frente, foi quando fitou longos fios avermelhados como as chamas em brasa, era possível sentir o calor e o poder de um deus pertencente naquele rapaz de aparência sofrida, como se estivesse lutando a muito tempo.


Tempo. Um fenômeno complexo e que sempre despertou a atenção de muitos, sejam eles deuses ou humanos.


O tempo é o maior inimigo de um ser humano, pois sua vida se esvai rapidamente diante dos olhos divinos mas para eles ela durou tempo suficiente.


A relação entre o tempo humano e o místico é quase inexistente, são contraditórios em todos os sentidos e mesmo assim são totalmente dependentes um do outro para sobreviver. Assim como os deuses dependem dos humanos, eles também dependem das divindades presentes no céu.


Permaneceu a caminhar tranquilamente, acabando por esbarrar acidentalmente no misterioso ser de cabelos vermelhos, pedindo por desculpas logo em seguida, apesar de estar absorto pela beleza do rapaz e a sensação estranha que se alastrava pelo seu peito naquele mesmo momento.


— Desculpe-me, foi um acidente. – Pediu o jovem da capa dourada, recebendo apenas um sorriso peculiar como resposta.


Não conseguiu ver direito o rosto daquele rapaz, mas resolveu sorrir de volta e seguir o seu rumo para o santuário, deixando que a lembrança do rapaz de cabelos ardentes como o fogo jamais fosse apagada de sua mente.


Diante do portão gigantesco em um tom marfim, TaeHyung engoliu em seco temendo pelo que poderia acontecer a si no exato momento em que encontrasse com o temível guia do Universo. Seja como for o seu destino estava nas mãos deles e, após tanta espera, não fugiria por causa do seu medo e sim enfrentaria a todos se assim for necessário.


Os arcanjos que guardavam o portão fitaram-lhe uma última vez, em um sussurro mudo sobre o que poderia acontecer. Seus olhos eram penetrantes e perigosos, capazes de cegar os homens em nome da justiça que seguiam fielmente. Abriram os grandiosos portões e TaeHyung entrou, abaixando o seu capuz dourado e deixando que o seu rosto sério fosse totalmente reconhecido pelos deuses ali presentes.


Seja qual for a decisão do Universo, um dia iria prová-los que não veio a esse mundo para trazer o mal, mas para salvar aqueles que precisarem de si. Irá prová-los que alguém sabe sobre a sua existência, que orou por ele mesmo sem ter lhe dado um nome.


Kim TaeHyung é o deus desconhecido, o deus que veio para mudar o mundo, eles somente não tinham consciência disso.



1 de setembro de 1997, Busan, Mundo Humano



Aquela era uma manhã gloriosa e estonteante, regada pelas luzes do sol e o canto dos pássaros. O cheiro da grama atraía a atenção do pequeno bebê que estava deitado sobre o bercinho do hospital.


Seus pais estavam mimando o garotinho que acabara de nascer a algumas horas atrás. Contundo, em meio ao adorável momento fraternal, notaram algo estranho no braço de seu filho.


Ao analisarem com mais calma parecia uma espécie de tatuagem, como uma marca antiga e desconhecida naquele mundo, mas que lembrava o famoso yin e yang, a representação chinesa da união entre o bem e o mal, dois opostos que dependem um do outro para que o universo permaneça em equilíbrio.


Antes que pudessem analisar mais a estranha marca tatuada no braço direito do bebê, o tempo foi paralisado. Kairos, o deus grego do tempo, surgiu naquele pequeno quarto hospitalar e aproximou-se do bebê, pegando-o em seus braços e observando que ele conseguia enxergá-lo como se fosse um ser humano normal.


Kairos. – A voz grossa de Osíris, o deus egípcio do julgamento, assustou o deus que o olhou raivosamente — Está criança está carregando o que tanto tememos?


Sim. O pequeno Jeongguk tem o selo dourado. Respondeu o deus do tempo, ainda segurando o bebê risonho em seus braços.


— Como ele conseguiu deixar sua marca depois de tanto tempo? – Osíris perguntou irritado ao outro deus, não conseguia compreender como o deus exilado havia conseguido se intrometer no mundo humano daquela forma.


— Pelo que sei em todo o meu tempo de conhecimento, o deus esquecido não está envolvido nisso e sim algo maior. – Informou Kairos, seu olhar afiado na criança de cabelos escuros em seus braços.


— Acha possível que o outro esteja envolvido nisso desde o princípio? – Pergunta o deus egípcio, seu medo pelo que poderia acontecer consumindo todo o seu corpo.


— Tudo no mundo em que vivemos é um completo mistério, então não vou deixar de duvidar nem de mim mesmo. O Tempo é imprevisível, mas o Universo é ainda mais. disse por fim, devolvendo o bebê aos braços dos pais e apagando a imagem da marca de suas cabeças.


— Vamos esperar pelo que o selo dourado irá nos proporcionar. – disse Osíris, desaparecendo logo em seguida antes de Kairos permitir que o tempo voltasse ao normal.


Volte de acordo com o seu tempo, deus dourado. Após a sua última mensagem, o deus do tempo desapareceu e permitiu que a pequena criança lembrasse de tudo o que presenciou, mesmo que demorasse anos para que sua memória infantil associasse isso ao seu devido destino.


Após a notícia sobre a marca dourada se espalhar por todo o mundo, os deuses se tornaram ainda mais temerosos mesmo que tivessem a plena certeza de que TaeHyung estava isolado no ambiente vazio, excluído de tudo e todos como um traidor que ameaçava a vida do mundo perfeito que regiam.


Todavia, se o seu selo havia aparecido em uma criança inocente com a capacidade de ver seres místicos e espirituais, então era possível prever que o deus dourado iria voltar e dessa vez desejando vingança para aqueles que desde o princípio o desprezaram.


Seja como for todos os deuses estavam dispostos a enfrentar aquela guerra, nem que para isso fosse necessário colocar milhares de vidas humanas em risco.



31 de agosto de 2020, Busan, Mundo Humano



— Pela segunda vez nessa manhã – começou, aproveitando o pequeno intervalo para buscar um pouco mais de oxigênio — Não vou ficar com você! – Exclamou o rapaz de fios pretos, o tom irritado chamou a atenção das pessoas sentadas próximas dos dois rapazes.


— Mas eu te amo, Jeongguk! – Rebateu o garoto de fios esverdeados, seu olhar clamava pela atenção do mais novo.


— Olha só, você tem que entender que não é não. – O Jeon soltou um fraco suspiro, exausto de toda a cena que o rapaz estava fazendo — Só ficamos uma vez na festa do Mark, mas fui claro que não estou interessado em compromisso, respeite a minha escolha.


— Você é quem me deve respeito aqui! – Exclamou a plenos pulmões, sua testa franzida em ódio fitava o rapaz que parecia não temer a sua expressão de pura irritação — Se me fez apaixonar por você agora tem que honrar os meus sentimentos.


Jeongguk fechou os olhos e partiu os finos lábios em uma risada baixa, realmente se divertindo com todo o drama do rapaz completamente desesperado a sua frente. O Jeon já tinha ficado com pessoas malucas, mas o rapaz a sua frente estava se superando.


Levantou-se e pegou sua mochila, bateu na mesa com força para chamar a atenção do garoto e dos demais ao redor deles, aproveitando para olhar em direção ao rapaz com sangue nos olhos.


— Eu não devo nada a você. – disse de forma curta e grossa, buscando ar para prosseguir — Não vou ficar ao lado de um garotinho mimado que acha que pode ter tudo o que deseja nas mãos. Seu truque pode ter funcionado com os outros, mas comigo é totalmente diferente.


Saiu esbarrando propositalmente o ombro do rapaz que, por um instante, pensou ter se livrado, isso até sentir uma mão segurando o seu pulso com força e o empurrando em direção ao chão.


— Você acha que pode tudo, que vai sempre sair por cima dos outros, mas não é assim que a banda toca. – O olhar sanguinário do rapaz fez o Jeon engolir em seco, prevendo a surra que levaria naquele dia.


Tantos momentos para apanhar, mas o meu azar sempre vai me sacanear. Pensou o rapaz antes de sentir a sua bochecha arder pelo tapa que havia levado.


Tentou proteger o seu rosto para evitar novos ferimentos, ouvindo as pessoas rirem e os flashes das câmeras registrando aquele momento humilhante. Mesmo no século vinte e um as pessoas continuam agindo de forma grotesca, não respeitando as escolhas dos outros e levando em conta apenas o seu próprio ego.


Enquanto sentia as pontadas de dor perfurando a sua pele como agulhas afiadas, só restava a Jeongguk amaldiçoar todos os deuses existentes naquele mundo, pois em vez de punirem os maus, apenas permitem que as pessoas boas sofram pela arrogância dos outros.


Em situações como essas Jeongguk sempre pensava se existia motivo para aturar tudo aquilo, pois não passava de uma grande injustiça e ninguém se prontificava de impedir que o pior continuasse ocorrendo, permitindo que o mal se alastrasse cada vez mais.


Em alguns momentos ele pensava que no fim era como alguns diziam aos quatro ventos: o fim está próximo.


Ao soltar um último suspiro cansado de toda aquela situação, apenas conseguiu sentir o alívio em seu corpo quando o peso do rapaz foi retirado de cima de si. Sorriu pequeno com as últimas forças que lhe restavam naquele instante, sentindo todo o seu corpo latejar e a visão borrar em meios as lágrimas e a tontura que abatia a sua cabeça.


Por um momento tudo apagou e ele entrou em um mundo de sonhos.



[.☁.]



Sentiu o seu braço direito arder como se estivesse em chamas, a tatuagem ganhava um tom dourado tão intenso que seria capaz de cegar a qualquer ser humano que estivesse por perto.


Olhou ao seu redor e notou estar em um lugar vazio, perdido em meio as estrelas do universo e os planetas a anos luz de distância. O lugar carregava um sentimento avassalador de solidão. Era triste e sombrio, frio e isolado do todo. Aquele lugar era um ambiente que jamais gostaria de estar, pois exalava a mesma tristeza que aos poucos ia tomando o seu corpo mesmo sem lhe pertencer.


Virou de costas e notou existir um ser com uma luz chamativa, mas que aparecia apagada por causa do ambiente que não lhe permitia brilhar como uma estrela. Jeongguk sentiu o seu coração doer em seu peito, a tristeza estranha aumentando gradativamente e parecia o consumir em uma esfera obscura, aprisionando-o para longe do ser de aparência celestial semelhante a um anjo ou até mesmo um legítimo deus.


E foi no exato momento em que os olhos dourados como o ouro notaram a sua presença que tudo escureceu. Sua mente apagou contra a sua vontade, querendo permanecer ao lado daquele homem de aparência triste e solitária, desejando abraço-lo e dizer que tudo ficaria bem.



[.☁.]



Toda a confusão que antes havia dominado a sua mente pareceu se esvair. Seu braço ainda ardia como se estivesse pegando fogo, sua garganta estava seca e conseguiu sentir lágrimas molharem as suas bochechas de uma forma lenta e dolorosa.


Aos poucos foi abrindo os olhos e fitando o ambiente esbranquiçado com uma luz completamente irritante, causando irritação na sua vista que não parecia das melhores. Sentou-se na cama com dificuldade, seu corpo latejando de tanta dor que imaginou ser causada pelo rapaz que havia dispensado naquele mesmo dia.


— Pelo visto você resolveu acordar, garotão. – Uma voz desconhecida se pronunciou, saindo detrás das cortinas e sorrindo ladino para si — Você apanhou feio hoje, deu sorte de ter sido salvo antes que acabasse com uma hemorragia interna.


A mente de Jeongguk estava confusa enquanto tentava buscar por respostas simples, mas que naquele momento pareciam mais complexas do que um enigma antigo.


— Onde...? – sua voz saiu frágil, a garganta doendo pela falta de uso.


— Enfermaria. – Respondeu o rapaz com fios loiros e uma beleza estonteante — Sou Kim SeokJin, enfermeiro da faculdade e a pessoa que cuidou dos seus ferimentos.


Obri... obrigado. – Agradeceu após um certo esforço, recebendo um sorriso ainda mais gentil e acolhedor do que antes.


— Não se esforce muito, ainda precisa descansar e a faculdade permitiu que passasse a noite aqui sob a minha vigília. – Comunicou o Kim, um sorriso estranho adornava seus lábios.


— Posso ir – murmurou o Jeon depois de alguns minutos, constatando com dificuldade a expressão séria do mais velho.


— Não vou permitir que um rapaz machucado saía deste recinto sem os devidos cuidados. – A expressão séria de SeokJin era de causar medo, mas Jeongguk não queria passar a noite em um lugar como aquele.


— Por favor – murmurou novamente, observando a feição do mais velho não ceder em nenhum momento.


— Não é não. Agora trate de comer o que preparei e depois volte a dormir, não quero teimosos neste recinto. – Com a decisão do Kim só restou a Jeongguk obedecer, tratando de cumprir todas as ordens do mais velho a risca enquanto pensava nos motivos que o levaram a essa situação as vésperas do seu aniversário de vinte e três anos.


O mundo realmente é um poço carregado de muita ironia. Pensou o Jeon mais uma vez, soltando todo o ar preso em seus pulmões para deitar novamente e se entregar aos mundo dos sonhos.


Morfeu o faria dormir como um anjinho, se isso de fato fosse.



[.☀.]



Os raios incandescentes do sol se espalharam por toda a enfermaria, onde dois jovens encontravam-se adormecidos em meio as macas do local.


SeokJin foi o primeiro a despertar, fazendo questão de verificar como estava o seu paciente irritado, observando que ainda permanecia no seu mundinho de sonhos. Sorriu pequeno, Jeongguk poderia mostrar por fora que era um rebelde pronto para defender o que acreditava, mas no fundo não passava de um garotinho solitário que se apegava as pequenas coisas, mesmo que tivesse que arcar com futuras consequências.


Resolveu sair do local em busca de comprar o café da manhã de ambos, já que um Jeon dorminhoco não seria capaz de quebrar regras ou fugir na calada do dia.


Havia um outro ser no ambiente, o mesmo que esteve ali durante duas horas antes do nascer do astro rei, mantendo sua presença escondida para que pudesse se aproximar do rapaz quando estivessem a sós.


Atravessou a cortina que separava as macas, encontrando o seu nobre amigo adormecido como uma princesa de contos de fada. Ele é encantador. Pensou o espírito, sentando-se na maca enquanto esperava Jeongguk acordar.


Dentro de alguns segundos a luz do sol conseguiu despertar o Jeon, que carregava uma carranca em seu rosto contorcido de dor pela maca e por causa dos machucados que estavam percorrendo todo o seu corpo, como uma pintura feita de muito mau gosto.


Os olhinhos cor de jabuticaba focaram aos poucos, notando a presença de um certo espírito irritante que o perseguia desde a infância, tornando-se o seu único e melhor amigo. Realmente Jeongguk possuí diversas peculiaridades.


— Vejo que despertou, Guk. Afirmou o espírito sorridente, feliz em ver o seu amigo bem apesar dos ferimentos.


— Contra a minha vontade. – Completou o Jeon, seu tom seco não assustou o outro que já estava acostumado com o garoto marrento.


— Ele te bateu muito, queria ter chegado antes e te salvado. – Imitou o gesto de suspirar, mesmo que o ar não habitasse mais o seu corpo — Fico feliz que alguém tenha te salvado, mesmo que no fim você tenha se machucado muito.


Jeongguk engoliu em seco, não gostava de ver MinHyuk triste daquela forma e por isso levou a sua destra para segurar a mão transparente próxima de si, fazendo um afago com os dedos.


— Está tudo bem, Hyuk. Confortou o Jeon, sentando-se com certas dificuldade na maca — O importante é que você veio me ver.


O sorriso estonteante e aquecedor de MinHyuk conseguiu afastar um pouco as dores que se alastravam pelo seu corpo, fazendo Jeongguk retribuir pequeno em forma de agradecimento.


Feliz aniversário, Gukkie! O espírito saltou em seus braços, apertando-o com força temendo se afastar do garoto que sempre esteve consigo, principalmente nos momentos solitários após a morte.


— Obrigado. – Agradeceu simplista, acariciando os fios transparentes que conseguia tocar desde a infância — Acha que eles vão ligar hoje? – Perguntou um pouco incerto, imaginando a resposta negativa e as formas de confortá-lo que MinHyuk faria.


— Realmente não sei, eles não ligam a quatro aniversários desde que se mudou para o apartamento. – Começou o ser, simulando novamente a prática de suspirar quando se sentia desanimado — Sinto muito por isso, Guk.


— Não sinta, isso apenas mostra o tipo de pais que eles são. – disse ríspido, mordendo o lado interno da bochecha com força para evitar mostrar fraqueza.


— Você deveria entender o lado deles também. – Começou MinHyuk, levando sua mão translúcida em direção ao rosto afilado, acariciando as bochechas com uma delicadeza invejável — Desde o seu nascimento eles lutam para entender os motivos que te levam a enxergar espíritos como eu. – Escondeu a pequena mecha atrás da orelha de Jeongguk — Eles não conseguem ver o selo, não sabem que você está destinado a grandes atos.


— Você sempre diz isso, mas quando pergunto responde que não sabe o que essa tatuagem esquisita significa. Está me escondendo algo ou apenas sabe disso porque sente ou escuta os outros falarem? – Questiona o Jeon, sua expressão irritada não deixou de abandonar o seu rosto, apenas se intensificou quando chegaram nos assuntos que odiava comentar: seus pais e a sua habilidade estranha de conversar e tocar em espíritos.


— Eu realmente não sei, mas sinto e ouço os outros dizerem que a marca que carregava em seu corpo é sinal de um bom e um mau presságio. – Respondeu MinHyuk, seu olhar parecendo doloroso ao pronunciar cada palavra — Mas por agora vamos esquecer sobre isso! – Exclamou ao seu afastar, imitando um gesto de esticar os braços acima da cabeça — Afinal só se vive vinte e três anos uma vez na vida!


— Nenhuma idade permanece por muito tempo, todas são únicas então essa desculpa não cola. – Jeongguk arqueou a sobrancelha em um tom claro de cinismo, algo bem típico da sua personalidade forte e marrenta.


— Nem no seu aniversário você alivia eu mau humor! – Exclamou MinHyuk, cruzando os braços em forma de descontentamento.


— Não gostou a porta é serventia da casa. – disse com um sorriso ladino pintado em seus lábios, as provocações escapavam ardilosamente de seus lábios.


Um dia eu saio da sua vida, você vai ver só – murmurou irritado, não percebendo que o Jeon havia escutado tudo e apenas riu em baixo tom.


— Jeongguk? – Uma terceira voz surgiu no recinto, fazendo os dois rapazes arregalarem os olhos.


MinHyuk tratou de desaparecer no mesmo momento, deixando um Jeongguk com testa franzida de pura indignação para trás.


Você me paga espírito maldito – murmurou irritado, bufando logo em seguida ao ouvir a risada audível do enfermeiro.


— É normal pra você acordar sempre de mau humor? – Perguntou SeokJin, observando o ambiente ao redor do rapaz ao sentir uma estranha energia.


— E é normal pra você rir dos seus pacientes? – Questiona no mesmo tom, a sobrancelha arqueada em direção ao Kim.


— Você as vezes não diz nada com nada, mas vamos mudar de assunto. – Deu de ombros para o Jeon, pegando a sacolas de papel com o café da manhã de ambos — Come primeiro e depois de trocar os curativos você pode ir. – Estendeu a parte de Jeongguk que aceitou com certo receio.


— Vou estar liberado das aulas de hoje? – Abriu a sacola e começou a comer o sanduíche de peito de peru.


— Se você quiser posso fazer um atestado te liberando, mas só por hoje. – Avisou com um olhar repreendedor.


— Melhor do que nada. – Acenou positivamente.


Eles comeram em silêncio durante o restante do tempo que seguiu. O início das aulas na faculdade havia começado cedo para alguns cursos, por isso SeokJin tratou Jeongguk com rapidez e liberou o rapaz com o seu atestado.


Antes de ir para casa, o Jeon passou na secretaria e entregou o papel que iria deixá-lo livre durante aquele dia, onde aproveitaria o seu aniversário em casa ao lado de um certo espírito medroso de nome MinHyuk.


Com passos calmos ele percorreu o caminho até o velho ponto de ônibus, observando de longe que havia apenas uma senhorinha e um rapaz um pouco familiar, com semblante sério e uma altura bem considerável. Aproximou-se de ambos enquanto esperava pelo mesmo circular que passava em frente ao seu prédio.


Pouco tempo depois ele subiu no ônibus e enxergou os pequenos espíritos infantis que corriam pelo transporte, algo que não era notado pelos demais. Soltou um suspiro cansado e sentou na segunda cadeira livre, tratando de ignorar os seres para passar despercebido, o que não havia funcionado de fato.


— Ei, tio! – Ouviu uma das vozes chamar por si, mas ignorou — Tio! – Chamou mais uma vez — Você não vai mesmo olhar 'pra gente? Você é o moço do selo, não é?


Jeongguk se manteve firme, agindo como se nenhuma das vozes infantis estivesse incomodando a sua cabeça, que os espíritos não estavam notando sua presença e que aquela marca esquisita não significava nada.


Em toda a sua vida buscou por respostas referentes aquele símbolo que o acompanhava desde o nascimento, entretanto, nenhuma resposta concreta lhe era fornecida, como se todos estivessem escondendo a verdade de si. Muitas vezes se sentiu usado por cada um deles, já que graças a toda aquela situação ele estava sozinho no mundo, isolado de tudo e todos assim como... assim como o rapaz de olhos dourados no sonho.


Então era aquele sentimento alastrador que o corroía na terra que poderia haver uma ligação com o mesmo rapaz que sempre encontrava em seus sonhos, mas que dessa vez havia olhado para si com tanta tristeza e um breve traço de alegria em seus olhos.


Se ele tinha a resposta esperava encontrá-lo novamente, somente assim poderia seguir sua vida sem o medo da solidão, assim como sentia que poderia tirá-lo daquele lugar vazio em meio ao espaço.


No que estou pensando? É apenas um sonho, ele apenas uma ilusão criada na minha mente conturbada. Pensou Jeongguk, apertando seus olhos com força para tentar afastar aqueles pensamentos estranhos que sempre cercavam a sua mente.


Ao abrir os olhos notou que estava próximo de casa, por isso deu sinal e saiu do veículo, finalmente conseguindo escapar das vozes irritantes dos espíritos que não conseguiam largar de si. Seguiu seu caminho com tranquilidade, notando os demais seres que percorriam pelas ruas e notavam a sua presença um tanto conhecida.


Em frente a portaria ele notou o porteiro dorminhoco acordar no mesmo instante, permitindo a sua entrada no cômodo que chamava de lar, mesmo que de fato não sentisse assim. Desde a mudança, na verdade desde o nascimento, ele não sabia o que era se sentir em casa, qual era a sensação de alguém te amar com todos os seus erros e falhas, já que nem mesmo os seus pais se importavam consigo, sempre temendo Jeongguk como um garoto alucinado.


A falta de amor foi o principal motivo que o levou a ser uma pessoa amargurada, sempre dura consigo mesmo e com os outros ao seu redor. Mesmo que tenha conhecido um espírito bom como MinHyuk, ainda sim não conseguia mudar a sua personalidade marcada em sua pele, pois aquele Jeongguk frio fazia parte de si e não existia outro que se revelasse o seu verdadeiro eu.


Deitou-se na cama e permitiu aproveitar a tarde em meio aos lençóis e os programas televisivos, esperando seu único amigo vir passar o restante do seu aniversário consigo.



[.☀.]



O dia se foi rapidamente, trazendo consigo uma noite entediante para ambos os seres que se encontravam esparramados no sofá.


Durante aqueles quatro anos desde que se mudou para ficar mais próximo da faculdade, Jeongguk e MinHyuk aproveitavam os aniversários do Jeon da mesma maneira, deitados e maratonando filmes e séries, sejam antigas ou atuais.


Podia ser completamente entediante para alguns, mas eles gostavam da rotina caseira e nada mais tranquilo do que maratonar estando na companhia de quem te faz bem, mesmo que seja um espírito.


Jeongguk não tinha amigos, não carregava o mesmo desejo que outros adolescentes em se entregar a noites festivas de corpo e alma. Ele sempre foi um rapaz muito caseiro, ao contrário do que a família incentivava como forma de torná-lo diferente de quem era, mas que culpa ele tinha que foram as próprias pessoas culpadas de sua personalidade fria e solitária?


Exatamente, nenhuma. E por não ter culpa ele seguia sua vida, mesmo que isso significasse um afastamento da sua família, ou o desejo de muitas vezes ter um outro dois amigos humanos para conversar como qualquer jovem normal. Ele desejava normalidade, mas estava cercado pela esquisita rotina de lidar com espíritos, anjos e demônios que percorriam aquela cidade.


Muitas vezes pensou na possibilidade de estar participando de algum filme paranormal, pois não conseguia entender a fixação dos espíritos consigo e a repulsa dos anjos quando se aproximavam de si. Existia uma causa óbvia e estava marcada em seu braço direito, carregando o desenho de duas carpas que representavam o yin e o yang da mitologia chinesa, o famoso bem e mal. Ao redor delas um círculo com algumas flores, aperfeiçoando a estranha tatuagem que marca a sua vida desde o seu nascimento, fazendo com que seres não humanos o chamem de garoto do selo dourado.


Seja o que for que esteja sendo responsável pela sua situação atual, iria arcar com as consequências de tornar a sua vida uma completa anormalidade superior a livros e estudos sobre esses determinados assuntos.


Gukkie! Exclamou MinHyuk, ganhando a atenção do Jeon — Chegou a hora de ir. – disse o espírito, fazendo uma carinha engraçada de decepção.


— Não fique assim, você sabe que não pode passar a noite comigo. – Confortou o rapaz, olhando sério para ele logo em seguida.


— Vai conseguir dormir bem sem mim? – Os olhinhos brilhavam ansiosos pela resposta.


— Eu sempre durmo bem sem você, mesmo que tenha alguns pesadelos. – Confirmou o Jeon, observando o alívio no rosto de MinHyuk.


— Te vejo amanhã. – Pulou para os braços de Jeongguk, sendo abraçado com força pelo Jeon.


Todas as noites eram da mesma forma, por algum motivo MinHyuk não podia ficar e sempre acabava indo embora, deixando um garoto completamente solitário para trás.


Para Jeongguk era sempre doloroso dormir sozinho, temendo aos sonhos ruins que não lhe pertenciam, mas sim ao rapaz isolado em meio o vazio do universo. Sem MinHyuk ele tinha que lidar com a mesma dor, as mesmas lágrimas derramadas e a vontade imensa de abraçar aquele ser tão solitário e excluído do mundo; suportar tudo sem poder dividir pois temia pela segurança de seu único e precioso amigo.


Foi quando MinHyuk desapareceu pela porta do apartamento que ele percebeu que mais uma noite estaria sozinho, assim como tem sido durante todos aqueles quatro anos desde a mudança.


Andou em direção a varanda, afastando a porta de correr e fitando a paisagem dos prédios e da praia um pouco distante dali. A ventania soprava os seus fios tão escuros como a noite que temia, as noites sem estrelas. Eram em noites como aquelas no dia do seu aniversário que os sonhos tornavam-se pesadelos, que as lembranças dele assombravam as suas noites e mostrava o quão ruim era o mundo que vivia.


Não muito longe ele conseguia ver anjos voando por todas as direções, demônios exalando a mais pura maldade e espíritos tornando-se corrompidos pelo desejo de voltar a ser um simples humano.


O mundo ao seu redor era ruim, torturante e considerado sem salvação, contudo, uma pontinha de esperança ainda residia dentro de si, desejando que algo ou alguém pudesse eliminar aquela catástrofe que somente os seus olhos podiam enxergar.


Soltou um suspiro audível, os olhos escuros e brilhantes exalavam tristeza, restando para si apenas se isolar e esperar pela pior parte daquela noite, os sonhos.


Saiu da sacada, trancou a porta e fechou as cortinas, certificando-se de que nada poderia atingi-lo naquela noite tortuosa que apenas tinha começado. Decidiu fazer uma limpeza na sala e na cozinha, cuidando de todos os utensílios como um homem higiênico que era.


Tendo concluído os seus deveres, seguiu para o banheiro e fez todos os seus hábitos higiênicos antes de apagar as luzes, ligar a televisão e lutar para não se entregar ao mundo de Morfeu.


As horas iam passando rapidamente, o tempo parecia voar e em poucos minutos o seu aniversário acabaria e mais um dia surgiria, mais um ano a se enfrentar e mais dores para suportar. Tudo girava de acordo com o tempo, como se estivéssemos presos em uma roda do destino que sempre deixa escrito todos os nossos deveres e ações.


No fim não passamos de meras obras de algo maior e completamente imbecil. Concluiu em pensamento naquela noite, que tinha tudo para ser mais uma como todas as outras, entretanto, Jeon Jeongguk não esperava que o seu destino agiria naquela hora, naquele exato momento do tempo.


E como se labaredas subissem pela sua corrente sanguínea, seu corpo ardeu em chamas vivas, queimando por toda parte o fazendo gritar inaudível em busca de ajuda. Por todo o seu corpo começaram a surgir escrituras em uma língua desconhecida, jamais vista naquele mundo. Seus olhos brilhavam na mesma intensidade que a estranha tatuagem gravada em seu braço direito.


Tudo brilhava uma luz incandescente em um tom dourado intenso demais, capaz de cegar qualquer ser vivo que estivesse ali presente. Todo o seu corpo queimava como se estivesse em combustão, sendo cercado por chamas douradas inexistentes.


Um grito doloroso rasgou a sua garganta, acabando com todo o fogo que queimava a sua pele que permaneceu intacta, se contradizendo com a dor absurda que alastrou por todo o seu corpo. Quando seus olhos conseguiram focar melhor observou um objeto peculiar a sua frente, uma espécie de chave prateada com tons dourados, aparentava a forma de um relógio e asas de anjo que a faziam voar a sua frente.


Piscou várias vezes tentando afastar aquela imagem, supondo não passar de uma simples ilusão criada pela sua mente, assim como todo o sue corpo ardendo em chamas desconhecidas e coberto por escrituras pertencentes a uma língua estrangeira. Mas a chave ainda permanecia da mesma forma, induzindo-o a segurá-la.


— Seja o que tudo isso for eu espero sobreviver pra contar a história – murmurou mais para si do que para o objeto desconhecido, levando a destra que brilhava por causa da tatuagem a pegar a estranha chave.


No exato momento em que sentiu o objeto em suas mãos, um imenso poder soprou forte como um vento tempestuoso, fazendo os seus longos fios escuros como a noite voaram em direção contrária. E mais uma vez os seus olhos estavam brilhando, revelando lembranças em forma de imagens referentes ao porquê de toda a sua existência, explicando uma história nunca contada em seu mundo, a história de um deus sem uma origem clara e por isso foi tratado como inimigo, julgado e sentenciado ao isolamento perpétuo no espaço vazio do universo, vivendo apenas de observar a evolução do mundo humano a distância.


Estava comovido com toda a dor do rapaz que sonhou por anos, permitindo que lágrimas douradas caíssem por seus olhos, molhando as bochechas com um brilho semelhante ao das estrelas.


As lembranças cessaram e Jeongguk enfim conseguiu respirar, totalmente exausto de todo aquele exagero de poder que penetrava o seu corpo e mostrou a verdade sobre si e o motivo de ter vindo aquele mundo, carregando consigo uma marca odiada por deuses e seres místicos.


Ele foi escolhido para salvar o deus esquecido pelos próprios deuses, aquele que voltaria para se vingar dos outros que considerava como seus irmãos.


Tu és o escolhido para libertar-me desse mundo vazio, coberto apenas pela escuridão. – A voz grossa como um trovão soou por todo o cômodo, causando arrepios um tanto reconfortantes em Jeongguk — Peço humildemente que use a chave do tempo e salve-me desse lugar, permitindo que a nova era se espalhe por este mundo, pois o deus antes esquecido agora retornará como um novo deus.



*Notas Finais*


Primeiramente quero agradecer a @ainoseiza por doar a capa belíssima do Spirit ao qual me encantei a primeira vista. Foi graças a essa obra de arte que uma grande ideia nasceu, então todos os devidos créditos a essa artista que admiro de coração, tanto como designer e como a escritora fabulosa que você é 💖💞💖💞💖


Também quero agradecer de todo o meu coração a @mnephilim do Tumblr por ter feito essa esplendorosa capa do Wattpad, estou realmente apaixonada pela arte e ainda mais pelo seu trabalho como artista, muito obrigada 💜💞💜💞


Espero que tenham gostado, realmente escrevi com muito carinho e ainda vem muito mais por trás desse universo.


@Vluzz você é a melhor amiga que alguém poderia ter 💜


Twitter: @stephy_lilian

CuriousCat:
https://curiouscat.me/stephy_lilian


Nos vemos no próximo capítulo 💕

May 27, 2020, 8:09 p.m. 0 Report Embed Follow story
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To be continued... New chapter Every 30 days.

Meet the author

Ageha Sakura >> why do you still wishing to fly? >> taekook is a cute world sope ; bwoo ; kaisoo ; markson ; hyudawn twitter: @stephy_lilian [Ficwriter]

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