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Essa não é a fuga da minha realidade, mas talvez seja a da sua.


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20 de novembro de 2019 - Dia 1

Hoje

acordei com muito sono por causa do remédio, mesmo tendo dormido horas suficientes. Logo fiquei irritada. Ele falou ontem de noite que ia acordar cedo pra fazer meu café. Tava atrasado e me dando tchau. Ele percebeu que eu não estava bem por algum motivo e quis saber e eu disse. Ele falou alto "que absurdo, eu não disse isso", e saiu, bateu o pé na porta fazendo barulho, não sei se de propósito ou não. Eu voltei a dormir, tinha mais 10 minutos de soneca. Levanto pra me arrumar e ele chega com o café, pede desculpas pelo jeito que falou e diz que não se lembrava de ter dito. Não acredito, mas dou tchau e desejo que ele se cuide e tenha um dia bom; continuo me arrumando.

Não completamente bem com minha aparência, mas sai, sem comer muito bem e sem fumar, não posso mais faltar essa aula nem chegar atrasada mais. Sol na cara mas temperatura agradável. Atravesso a rua e vejo, na faixa, a senhora idosa que fica na rua, o pano nos cabelos, a pele enrugada e escura e os olhos fundos. De velhice ou noites mal dormidas? Me sinto mal. Sem tempo, sem dinheiro e sem comida a mãos. Chego na parada, uma fila imensa. O ônibus deve chegar logo, não deve lotar.

Lotou, lembrei dos exercícios que fazem no exército de manter os braços retos na horizontal por mais tempo que conseguir, dor nos ombros, nas costas, nos braços e nas pernas. Será que meu cabelo tá estranho?

Meu início de dia não foi ruim, por que parece tão melancólico?

Cheguei na aula em tempo de não levar atraso. Sentei na cadeira de alguém, mas lembrei que precisava ficar em um canto, fazer a tradução da próxima aula. Grupo apresenta, algumas falas me prendem a atenção. Que apresentação ótima dessa menina por conseguir fazer isso. Que dom.

Acho que é por isso que a gente se distrai o tempo todo. Séries, livros, filmes, aulas, trabalho, música, falar com alguém, qualquer coisa pra não pensarmos no dia-a-dia. Mesmo quando eu quero pensar, percebi que acaba comigo. Por que parece tão chato? Foi um dia bom até.

Bom até.

Bom até.

Que merda é essa.

Já é algo. É estável. Construtivo. Cansativo. Te faz dormir de noite e levantar no outro dia. Mentira, remédios fazem isso.

A vida é chata e é por isso que não se pensa nela.

Esse blog vai me deixar fodida de novo.

Eu vou escrever a realidade, que ninguém quer ler, e eu não quero encarar. Não mais do que o necessário. Existem coisas boas. Mas elas são tão pequenas. Um café com cheiro de amêndoa. Uma conversa curta com colegas de aula. Pequena brecha do isolamento. Hora de ir embora, colega no mesmo ônibus, sozinha como eu, e assim permanecemos, constrangidas.

Aqui agora tá tão solitário e morto sem ele. Final de semana são bons, meus dias são bons. Minhas noites não. Não sozinha. Não tenho cigarros suficientes e se beber vou querer fumar mais e também não vou poder tomar meu remédio pra ansiedade. Nem poderia. "Não toma todos os dias e no máximo 3 por dia", ela me disse. Confuso, por que pode 3 de uma vez, mas 3 separados por dia não? Nunca tomei mais de um em 1 dia, mas já tomei 2 em dois dias. Se tomasse hoje seriam 3. Seguidos, não pode.

Tenho 6 reais de papel. Falei se ele quiser vir. Sinto que ele não quer. Eu nem to apresentável, nem animada, nem sei o que a gente faria. Só queria sentir isso passar, essa angústia, medo, e vácuo. Sabe quando botamos a cabeça pra fora do carro em movimento como um cachorro faria? Se não, imagine comigo. É muito vento, do tipo que tem tanto ar que tu não consegue respirar, como se ar nenhum existisse. Eu sinto esse vácuo no meu peito e respirar não ajuda. Não passa. E realmente parece que vou morrer sufocada tipo um peixe fora d'água. Respira, respira e morre.

Mas é lógico que não vou morrer, só sofrer até que amanheça e eu ocupe minha cabeça. Com coisas cotidianas, tristes, boas, até que boas, tanto faz. Só faz essa merda passar.


20. November 2019 23:54 0 Bericht Einbetten Follow einer Story
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