lara-one Lara One

Um agente do FBI. Um mercenário. Dois inimigos. Trabalhando juntos numa mesma causa.


Fan-Fiction Series/Doramas/Soap Operas Nur für über 18-Jährige.

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S05#20 - BAD BOYS


INTRODUÇÃO AO EPISÓDIO:

[Fade in]

[Som: Underworld – Born Slippy]

[Fade out]

Terminal Ferroviário – Veneza – Itália – 5:39 P.M.

Movimento de turistas pela longa plataforma, fisionomias e traços físicos diferentes, procurando seus respectivos destinos. Japoneses, arianos, negros, árabes. Vários trens estacionados.

Alguns carabinieres (policiais) conversam entre si, descontraidamente, enquanto riem de alguma coisa. Um deles acena negativamente com a cabeça, num sorriso.

A senhora gorda tenta arrastar sua mala, com várias sacolas de presentes típicos de Veneza, na maior dificuldade. As pessoas passam indiferentes por ela.

O casal de namorados, escorados contra a parede, acaricia-se mutuamente, alheios a todos.

Duas freiras segurando suas pequenas malinhas, conversam seriamente alguma coisa com o padre ao lado delas.

Corta para o enorme trem onde se lê o destino: "Orient Express".

Corta para o rebelde que se aproxima: Krycek surge entre os turistas, num jeans, camiseta branca colada, jaqueta de couro preta, botas pretas com fivelas. Barba mal feita. Um pequeno brinco na orelha. A mecha de cabelos que cai pela testa. O ar de malandragem e rebeldia. Mãos nos bolsos, atento ao movimento. Os olhos verdes espreitam alguma confusão.

Corta para o cavalheiro sentado ao banco: Mulder, lendo o Washington Post. Vestindo um sobretudo preto. Gravata com girassóis. Terno azul escuro. Algumas mechas de franja também caídas sobre a testa. O ar de seriedade e classe. Algumas vezes olha por cima do jornal discretamente. Os olhos verdes revelam tensão.

O menino bom e o menino mau. A contradição explícita.

A senhora gorda continua arrastando a mala. Krycek para, ainda com as mãos nos bolsos da jaqueta, fingindo olhar o trem. Mulder percebe a senhora gorda. Larga o jornal e levanta-se. Oferece ajuda, ela agradece. Mulder puxa a mala até o banco, enquanto ela senta-se cansada, tentando ajeitar as sacolas, agradecendo Mulder num sorriso. Mulder retribui o sorriso. Senta-se ao lado dela. Ela sorri novamente. Mulder lhe oferece o jornal. Ela aceita. Mulder levanta-se.

Krycek olha pra Mulder, disfarçadamente, com um ar de deboche. Mulder caminha em direção ao trem, enquanto coloca as mãos nos bolsos. Krycek entende o código e sai atrás dele.

Os dois param à frente da porta de um dos vagões. Trocam um olhar de quem combina algo. Mulder movimenta a cabeça sugerindo para entrarem.

Krycek leva a mão até a jaqueta e puxa a arma com um silenciador discretamente. Os dois entram no trem.

Os turistas que passam rindo, tirando fotos, comentando alguma coisa, não percebem que algo está para acontecer naquele trem tão famoso em tantas histórias de suspense.

Em menos de alguns segundos, Mulder e Krycek saem correndo às pressas de dentro do trem. Um árabe sai, com a mão sobre o peito ensanguentado, caindo sobre a plataforma. Os gritos começam. Histeria e pavor.

Os policiais percebem e saem atrás dos assassinos. Mulder e Krycek começam a correr por entre os turistas. Os policiais atrás deles. A confusão está armada. Os dois empurram as pessoas, tentando correr rapidamente. Pulam para os trilhos. Os policiais começam a atirar. Eles esquivam-se pelos trens, separando-se um do outro.

Mulder encosta-se contra um vagão, respirando ofegante, olhando para um lado. Então percebe o barulho do gatilho contra a sua cabeça. Outro árabe olha pra ele num sorriso. Mulder fecha os olhos. Então acerta rapidamente uma cotovelada no estômago do árabe, que se curva pra frente. Mulder segura a mão dele, tentando tirar a arma. Os dois lutam. Mulder acerta um soco no árabe. A arma cai ao chão. Os dois tentam pegar a arma, mas Mulder é mais rápido. O árabe ergue as mãos, implorando por sua vida com os olhos. Mas o tiro lhe racha a testa rapidamente, fazendo-o cair sobre os trilhos ao lado. Mulder vira-se pra trás e vê Krycek com a arma apontada.

Os policiais se aproximam e começam a atirar. Mulder esquiva-se das balas, mas Krycek revida, acertando um dos carabinieres.

Um trem parte. Mulder olha para o trem. Krycek guarda a arma dentro das calças e os dois saem correndo pelos trilhos tentando alcançar o trem antes que os policiais os alcancem ou alguma bala os pegue pelas costas. Krycek consegue agarrar-se nas grades do trem e pular pra dentro. Estende a mão pra Mulder e consegue puxa-lo. Os guardas desistem ao ver o trem que se perde ao longe.

VINHETA DE ABERTURA: A VERDADE ESTÁ LÁ FORA



BLOCO 1:

Caesar's Place Hotel – Roma – Itália – 6:48 A.M.

Mulder sentado na poltrona, de cuecas boxer e um robe aberto, observando pela janela com o binóculo. Leva a mão à garrafa de água. Batidas na porta. Mulder levanta-se, fechando o robe. Abre a porta. Krycek, só com as calças jeans e os pés descalços, cabelos molhados, espia pra dentro do quarto.

KRYCEK: - Sozinho?

MULDER: - (DEBOCHADO) Não. Tem umas quinze mulheres no meu banheiro. Todas nuas.

Krycek entra, fechando a porta.

KRYCEK: - Pouco me importa, contando que uma das quinze não seja Diana Fowley. A fim de dividir ou acha que consegue dar conta sozinho do harém inteiro?

MULDER: - Interessado na Fowley? É toda sua.

KRYCEK: - Passo. Prefiro loiras. Nada da Suzanne Modesky?

MULDER: - Não. Não veio ainda.

KRYCEK: - Três dias fora de casa? Estou começando a desconfiar que alguém vazou alguma informação e ela levantou asas.

MULDER: - Não olhe pra mim. Prefiro ruivas.

KRYCEK: - Se ela não aparecer em 24 horas vamos embora. Vou deixar Fowley aqui.

Krycek sai batendo a porta. Mulder volta pra janela. Senta-se. Pega o binóculo.

MULDER: - Vamos Suzanne... Apareça... Onde diabos você se meteu?

Mulder larga o binóculo rapidamente sobre a cama. Começa a vestir a calça.

MULDER: - Droga! Droga! Droga!!!!

Mulder fecha a calça e coloca uma camisa por cima. Abotoa rapidamente, olhando pela janela. Coloca os sapatos sem meias e um paletó por cima. Pega um bilhete sobre a cômoda. Assina o nome e coloca no bolso. Abre a porta em silêncio. Espia pelo corredor. Nenhum movimento. Então sai sem fazer barulho, tomando o elevador.


Corta para a frente do hotel. Mulder sai. O porteiro permanece ali. Há um vendedor de flores, sentado na escadaria. Mulder aproxima-se dele.

MULDER: - Fala minha língua?

ITALIANO: - Io non lo capisco, signore.

MULDER: - Boa... Tô bem arranjado! Olha... Eu preciso de um favor... Favore!

ITALIANO: - Sì?

Mulder retira a carteira do paletó e entrega alguns dólares e o bilhete. Tenta se fazer entender. Sinaliza para o bilhete, para uma rosa e para o outro lado da rua. O homem olha pro bilhete e percebe que é o endereço à frente. Sorri.

MULDER: - Entendeu? Capisco?

ITALIANO: - Sì... Sì... Una ragazza...

MULDER: - (SUSPIRA) Eu não te entendo, meu amigo... Ai, queria a Scully agora aqui. Pelo menos ela 'capisca' alguma coisa de italiano...

Mulder faz um gesto de curvas femininas com as mãos. O homem sorri.

ITALIANO: - Sì, sì! Una ragazza...

MULDER: - É, una ragazza...

Mulder pega uma rosa e enrola o bilhete. Entrega pro homem.

MULDER: - Quero que diga (GESTICULA A MÃO NA GARGANTA) para a ragazza (APONTA PRA CASA DE SUZANNE) ... que eu... io... (APONTA PRA SI) Estou no café! (APONTA PRO CAFÉ)

ITALIANO: - Caffè?

MULDER: - Sì! Caffè.

Mulder aponta pro café quase ao lado do hotel. O homem acena com a cabeça, afirmando ter entendido. Atravessa a rua com a rosa e o bilhete. Mulder olha pro alto do hotel, verificando as janelas. Então sai às pressas em direção ao café.


Caffè Domenico – 7:02 A.M.

Mulder sentado numa mesa ao fundo. Observa o relógio no pulso, nervoso. A garçonete aproxima-se, num vestido justo, seios fartos e à mostra. Mulder olha pra ela espantado. Ela entrega o menu, inclinando-se sobre ele. Mulder arregala os olhos para o decote à sua frente.

GARÇONETE: - Buon giorno, signore!

MULDER: - ... (CATATÔNICO) Mama mia! Ahn... Café... Per favore.

A garçonete se afasta, piscando pra ele. Mulder suspira.

MULDER: - (MURMURA PRA SI) Me perdoe Scully, mas eu não posso furar meus olhos!

Suzanne entra no café. Procura com os olhos. Ao ver Mulder, aproxima-se. Mulder levanta-se.

SUZANNE: - Nem acreditei quando vi meu endereço e seu nome embaixo. Menos ainda com aquele florista me dizendo que um cavalheiro apaixonado estava me esperando aqui. Confesso que trouxe minha arma na bolsa.

MULDER: -O apaixonado ficou por conta da imaginação dele, já que não consigo me fazer entender em terra estrangeira.

Suzanne sorri. Mulder puxa a cadeira pra ela. Os dois sentam-se.

MULDER: - Eu tinha que me comunicar de algum jeito, mas não poderia ir até sua casa.

SUZANNE: - O que faz aqui? Como me encontrou?

MULDER: - Sente-se que a história é longa e temos que ser breves. Não fui eu quem te encontrou.

Suzanne olha para o cardápio.

SUZANNE: - Pediu algo?

MULDER: - (SORRI) Café. É a única coisa que eles entendem.

SUZANNE: - (RINDO) Vou pedir algo pra você. Não deve falar muito italiano, não é agente Mulder?

MULDER: - Sei algumas coisas básicas do vocabulário: pizza, Pavarotti e macarrone. Esqueça o agente. Acho que pode me chamar de Mulder.

SUZANNE: - Como me descobriu, Mulder?

MULDER: - Não descobri você. O Sindicato descobriu.

O medo se estampa no rosto dela.

MULDER: - Estou aqui pra matar você. É isto que querem. Suzanne, precisa confiar em mim. Já passamos por isto antes, só que eu estava atrás de você como agente federal. E agora estou aqui como um assassino e uma espécie de terrorista internacional. Mas juro que a coisa de amarrar 10 quilos de dinamite no próprio corpo e recitar algum trecho do Alcorão não está nos meus planos.

SUZANNE: - E por que confiaria em você? Que interesse você tem na minha vida? Por que está do lado deles agora?

MULDER: - Eu poderia dizer uma série de motivos humanos, mas vou te dar um motivo bem convincente: Preciso de uma cientista capacitada para trabalhar com a Scully em total sigilo e criar uma vacina contra os alienígenas. E você tem menos de três meses pra fazer isso.

SUZANNE: - (ESPANTADA) Você nem pede muito...

MULDER: - Suzanne, ou você fica e morre, ou você volta para os Estados Unidos e me ajuda. Se ficar aqui, eu não irei matar você, eu não poderia. Contudo, tem mais dois pra fazer esse serviço caso eu falhe.

SUZANNE: - Quer me explicar o que está acontecendo, Mulder?

MULDER: - (DEBOCHADO) Só se você me pedir um café da manhã completo antes que eu morra de fome. Capisce?


7:23 A.M.

Suzanne larga a xícara de cappuccino e olha pra Mulder, impressionada.

SUZANNE: - Acho que entendi. Você copiou um programa de computador deles que decodifica todo o genoma humano em questão de minutos. Sendo assim, Scully identificou qual gene humano resiste a invasão do óleo negro nas células. Só que este gene está adormecido nas pessoas por causa da evolução. Foi despertado em você, mas não é algo natural e por isso tem sérias consequências físicas como suas dores de cabeça. Mas seu filho tem esse gene desperto no organismo naturalmente, sem efeitos colaterais.

MULDER: - Certo.

SUZANNE: - Scully isolou o gene e vocês precisam achar um jeito de produzi-lo artificialmente sem os efeitos colaterais que causa. Você quer provocar a imunologia nas pessoas, mas quer isso como uma substância que todos tenham acesso sem saber do que se trata.

MULDER: - Mais ou menos isso.

SUZANNE: - Quando esse bebê nascer, o governo pode descobrir sua mentira e então expulsará você do Sindicato. Por isso precisa estar com a vacina pronta, um passo adiante deles, para dissemina-la, sem levantar suspeita de que ela exista.

MULDER: - Exato. Olha, Strughold está espalhando uma praga, disfarçada de corante alimentício. E o Canceroso está doidinho pra roubar isso dele e assumir o controle. E vai conseguir, é questão de tempo. Por isso estou ajudando o Canceroso a destruir Strughold. Pra ganhar tempo e dinheiro. Existe um laboratório de pesquisas na Virgínia, todinho pra você e Scully.

SUZANNE: - E podemos contar com essa gente?

MULDER: - Duas cientistas com nomes falsos, você e Scully, possuem ações deles. Ok? Esse laboratório presta serviços ao governo. Está na lista do Canceroso para distribuição de pragas. Mas ele não vai saber se o que está saindo dali é uma praga ou é uma cura. Entendeu?

SUZANNE: - Meu Deus! Você não está brincando! Está usando o dinheiro deles contra eles mesmos!

MULDER: - O que eu quero é que você assuma esse laboratório. Scully ficará na retaguarda, em casa, por segurança. Eu não quero perder meu filho. Não quero que nada de mal aconteça à minha família. Mas não posso deixar o mundo se danar por isso.

SUZANNE: - Entendo Mulder. E posso imaginar o quanto dói pra ela como mãe...

MULDER: - Vocês duas precisam criar algo que possamos distribuir para as empresas colocarem em produtos como eles estão fazendo. Pode ser algo em alimentos, bebidas, em remédios, quanto mais produtos melhor. Nada que surta desconfiança, como eles fazem. Você estará vendendo uma cura, e com o dinheiro, poderá fabricar mais cura. Eu só quero a imunidade desse planeta. Se aquelas coisas não tiverem mais como se procriar, matar os que já estão aqui será fácil. E evitar que voltem, mais fácil ainda.

SUZANNE: - Vai ataca-los da mesma forma...

MULDER: - Sim. De todas as formas possíveis. Suzanne, não temos mais tempo. Precisamos espalhar isso e deixar as pessoas imunes ao óleo negro. E Scully precisa de você. Vocês duas podem fazer isso. Mas o relógio está andando. E nós trabalhamos contra o tempo.

SUZANNE: - Quem está nisso? Posso saber?

MULDER: - Eu, Scully, você e os Pistoleiros. Ninguém mais sabe disso e nem pode saber.

SUZANNE: - Uma espécie de organização antigovernista? Mulder, em que está me metendo?

MULDER: - Acredite, em algo muito grande que vai salvar vidas.

SUZANNE: - Estou dentro.O que preciso fazer?

MULDER: - Aja normalmente. Desconfio que há escutas em seu apartamento. Não contate comigo. Depois do nosso plano executado, deixe a coisa esfriar por uns três dias e volte para a América. Faça contato com Frohike e ele vai agilizar tudo pra você.

SUZANNE: - Isso é muito louco.

MULDER: - Eu sei. Mas temos que ser loucos. Não leve nada, pegue apenas um passaporte falso, eu sei que você tem vários. Precisa de dinheiro?

SUZANNE: - Não, eu tenho algumas economias...

MULDER: - Vamos sincronizar nossos relógios. Você vai voltar e ligar o gás. Prepare o cabide como pedi, de forma a simular sua silhueta pela cortina fechada. Às 9:01 eu chamo Krycek e ficarei o enrolando. Quero que você apareça na janela exatamente às 9:04... Vou chamar a atenção dele pra você. Você fecha a cortina. Sai correndo pelos fundos da casa. Você tem um minuto pra fazer isso. Eu vou atirar pela janela exatamente às 9:05.

SUZANNE: - E se algo der errado?

MULDER: - Se algo der errado, você morre. Portanto, não pode dar errado.

SUZANNE: - E o que vai dizer sobre a explosão???

MULDER: - Isso é comigo. Agora dê o fora. Faça o que combinamos. Sangue frio. Cabeça fria. Tudo vai dar certo. Eu prometo que ninguém mais vai lembrar de Suzanne Modesky. Você estará morta. E livre deles pra sempre.

SUZANNE: - (TRISTE) Mulder... E você? Tem noção do que vai acontecer com você quando eles descobrirem tudo?

MULDER: - Tenho. (SORRI) Mas se algo acontecer comigo, eles não vão poder rir. Antes eu terei segurado meu filho. E deixado pra Scully o que ela sempre quis, que lhe foi tomado sem permissão. Alguém precisa se sacrificar. O que é a morte de um, comparada à salvação de milhares?

SUZANNE: - Nunca conheci um homem como você, Mulder. Será um prazer ajuda-lo nisto. Afinal, também tenho contas a acertar com essa gente. Quero a minha vida de volta.

Suzanne respira fundo, tomando coragem. Levanta-se e sai do café. Mulder levanta-se. O celular toca. Mulder atende.

MULDER: - Mulder... Ainda em Roma... Não, ela não apareceu... Entendi. Se Suzanne não voltar, deixaremos Diana e partiremos antes do amanhecer. Caso contrário, Diana volta pra Washington.

Mulder desliga. Respira fundo.

MULDER: - Nem James Bond tinha a vida tão agitada... E pelo menos ele tinha carrões, mulheres, iates e devia ganhar bem melhor do que eu!


Rua 46 Este – New York – 11:38 A.M.

Silêncio. O Canceroso olha para o Homem das Unhas Bem Feitas e Garganta Profunda. Sopra a fumaça do cigarro. Caminha de um lado para outro, com a mão no bolso das calças.

CANCEROSO: - Quero mais alguém no encalço de Mulder. Não confio nele. Algo me instiga, sussurrando no meu ouvido, que Mulder está aprontando alguma. O desaparecimento de Scully ainda me deixa desconfiado... Eu não sei o quê, mas eu não sou idiota. Não cheguei até aqui sendo estúpido.

HOMEM DAS UNHAS BEM FEITAS: - Krycek está vigiando Mulder.

CANCEROSO: - Não confio no russo. E fora das missões, eu não sei onde Mulder anda. Quero alguém no encalço da vida particular de Mulder. Onde ele anda aos finais de semana, durante a noite, com quem sai e o que conversa. Não tenho controle sobre o que ele faz quando não está no FBI ou naquele apartamento.

GARGANTA PROFUNDA: - O que todo homem na idade dele faz: vai se divertir.

HOMEM DAS UNHAS BEM FEITAS: - Mas temos as escutas no carro e nos telefones.

CANCEROSO: - Não basta. Ele pode estar desconfiado, não tirem Mulder pra idiota. Vou colocar um homem atrás dele.

Garganta Profunda olha para o Canceroso.

GARGANTA PROFUNDA: - Desde que voltei me sinto um inútil sentado nesta sala. Não sou homem de decisões. Sou de ações. Eu me encarrego de seguir Mulder.

CANCEROSO: - Está velho demais pra isso.

GARGANTA PROFUNDA: - Todos estamos velhos demais pra isso. Ficar sentado num carro seguindo alguém exige muito esforço físico? Não vai confiar isso a qualquer um. Deixe Mulder nas minhas mãos. Se ele esconde algo, eu vou descobrir.


1:28 A.M.

[Som: Andrea Bocelli – Con te Partiró]

Uma ruela escura. Mulder e Krycek dentro de um carro. Mulder com calça social e blusão de lã. Krycek de jaqueta jeans e calças jeans. Mulder come sementes de girassol, concentrado na música, embalando o corpo na melodia. Krycek observa a ruela escura. De repente, começa a cantar, emocionado, de olhos fechados, revelando uma voz muito afinada.

KRYCEK: - Con te partirò...

Mulder olha pra ele, incrédulo. Krycek continua cantando de olhos fechados.

KRYCEK: -Paesi che non ho mai... Veduto e vissuto con te... Adesso sì lì vivrò...

Mulder fica o observando, num gesto de surpresa, cruzando os braços. O russo está viajando com a música, mergulhado nela.

KRYCEK: - Oh, con te partirò... Su nave, per mare che io lo so... No, non non esisto no più... Con te io li vivrò...

MULDER: - (IMPRESSIONADO) Onde aprendeu a cantar?

Krycek abre os olhos, caindo na real. Disfarça, embaraçado.

MULDER: - Gosta de música italiana?

KRYCEK: - Prefiro música italiana a esses carros italianos... E você, gosta?

MULDER: - Fora os tenores, estou fascinado por Eros Ramazzotti. Uma vez, uma amiga ruiva me disse que amava as músicas dele. Ela tinha razão, são lindas.

KRYCEK: - Meu favorito é o Bocelli. Pra você ver que a natureza priva de uma coisa e dá outra. O cara é cego e tem uma voz de invejar qualquer um.

MULDER: - (CURIOSO) Essa música... O que fala?

KRYCEK: - Ele exalta a mulher que ama. Está longe dela. 'Com você partirei por países que nunca vi nem vivi. Com você agora lá viverei. Com você partirei em um barco, pelo mar. E eu sei que não existo mais.'

Mulder sorri, perdendo os olhos num ponto de fuga. Krycek olha pra ele.

KRYCEK: - Ainda pensa nela, Mulder...

MULDER: - ... E posso esquecer?

KRYCEK: - ... (ABAIXA A CABEÇA)

MULDER: - (FECHA OS OLHOS SOLTANDO UM SUSPIRO QUE NÃO CONTÉM)

KRYCEK: - Não encare isso como uma provocação. Temos que trabalhar juntos e ambos não gostamos um do outro. Mas vou te dizer uma coisa.

Mulder olha pra ele.

KRYCEK: - Eu tenho uma certa paixão recolhida pela sua agente ruiva. E estou disposto a fazer de tudo pra pegar o sacana que deu sumiço nela.

MULDER: - (ENCIUMADO) Uma mulher como a Scully jamais se interessaria por um vira lata como você, Alex Krycek. Ainda mais com seu histórico.

KRYCEK: - As pessoas mudam, Mulder. Você mesmo mudou. (INSTIGANDO) E não pense que as mulheres gostam dos caras certinhos. Elas até querem maridos assim, por segurança. Mas querem os desajustados atirados para amantes. A velha teoria: toda fêmea da natureza escolhe o pai ideal pra sua cria baseado nos melhores genes que possam garantir a perfeição do filho. Mas isso não significa que o pai ideal é o melhor amante.

MULDER: - (FURIOSO) Acho melhor você mudar de assunto ou vou acabar atirando em você e colocando a culpa na máfia italiana.

KRYCEK: - (SORRINDO MALICIOSO) Você nasceu pra ser marido, Mulder. Eu nasci pra ser amante. Não se preocupe. Talvez Dana Scully volte. (DEBOCHADO) E eu não sou ciumento...

Krycek dá um sorriso provocativo. Mulder puxa a arma e mira na testa dele. Krycek ergue as mãos na defensiva.

KRYCEK: - Calma, calma...

Mulder se contém. Guarda a arma. Desconta esmurrando o volante, doente de ciúmes. Krycek segura o riso. Mulder olha pra ele.

MULDER: - (AMEAÇADOR) Se quer ficar vivo, rato, não toque mais no nome da Scully. Tá me entendendo?

KRYCEK: - ... Calma, Mulder... Que falta de senso de humor... Bom, pelo menos ganhamos o dia. Modesky está morta... Mas quem ia adivinhar... Você viu mesmo o sujeito entrar na casa dela mais cedo?

MULDER: - Vi, mas pensei que fosse o cara da companhia de gás. Ia adivinhar que poderia ser um dos homens de Strughold com a mesma intenção de matá-la? Eu podia ter poupado uma bala. Ela ia morrer asfixiada mesmo.

KRYCEK: - Pena que não sobrou nada... Merda isso ter acontecido. Não pudemos ficar pra encontrar o corpo.

MULDER: - Ainda acha que alguém sobreviveria a uma explosão daquelas? Você a viu na janela. Ela estava lá. Não sobrou um tijolo em pé!

Krycek sorri debochado. Tira a luva. Mulder olha pra mão dele. Arregala os olhos.

MULDER: - Como recuperou seu braço e sua mão novamente?

KRYCEK: - Acha que negociei seu filho com os aliens e Strughold pra quê?

Mulder continua pasmo olhando para o braço de Krycek. Krycek pega um mapa de dentro da jaqueta e observa. Mulder olha pra ele.

MULDER: - Como conseguiram isso?

KRYCEK: - Não importa. Os pontos em vermelho são os locais das experiências de Strughold.

Krycek fecha os olhos. Respira fundo. Mulder olha pra ele.

MULDER: - O que foi?

KRYCEK: - A pior parte será no Oriente Médio... Mulder, eu não costumo dizer isso pra ninguém. Mas estou com medo. Aqui os alvos são fáceis. Mas por lá, a coisa vai ser diferente.

MULDER: - Estamos por nós mesmos.

KRYCEK: - Mulder, está sendo um desafio confiar minha vida a você.

MULDER: - Não pense que isso é fácil pra mim, rato. Algumas vezes me pergunto: qual é o meu carma com você.

KRYCEK: - Não sei, mas eu tenho um com você também. E espero pagar nessa vida pra não ter mais que olhar pra sua cara.

MULDER: - Idem.

Krycek distribui olhares pelo beco. Olha pra Mulder.

KRYCEK: - Se sairmos vivos dessa, vamos tomar um vinho tinto e eu vou te apresentar uma amiga que adora policiais...

MULDER: - Você gosta da boa vida, hein, Krycek?

KRYCEK: - Viva bem hoje porque num ramo desses, você nunca sabe se vai acordar amanhã.

MULDER: - (PROVOCANDO) Amiga? Hum, não sabia que Marita Covarrubias estava por aqui... Ela é quente. Tem peitos que fazem qualquer homem levitar de tesão.

KRYCEK: - (SORRI DEBOCHADO) Desista Mulder... Não sou ciumento. Amantes não são ciumentos.

MULDER: - (PROVOCANDO) Ainda bem.

Krycek olha pra ele, totalmente desconfiado. Mulder segura um sorriso sacana. O silêncio se estabelece. Até que Krycek o quebra, cismado.

KRYCEK: - Por que disse isso?

MULDER: - (INSTIGANDO) Por nada.

KRYCEK: - O que você e Marita tiveram?

MULDER: - Nada.

KRYCEK: - ... (OLHAR DE DESCONFIANÇA)

MULDER: - Ela era apenas minha informante.

KRYCEK: - (CISMADO) Sei.

MULDER: - (PROVOCANDO) Sabe, não leve isso pro lado pessoal, Krycek, mas... Eu notava os olhares dela pra mim quando estávamos sozinhos. Acho que Marita queria me dar outro tipo de ajuda... Afinal, toda mulher gosta de amantes, mas elas sempre almejam um marido...

Krycek cerra os punhos. Mulder percebe e sorri debochado.


1:49 A.M.

Os dois descem do carro. Mulder puxa a arma. Eles caminham lentamente pelo beco. Krycek vai à frente, puxando a arma. Mulder observa pra todos os lados, com a arma em punho.

KRYCEK: - Isso está muito silencioso...

MULDER: - Percebi. Não gosto de silêncio.

Krycek para em frente a uma porta de depósito. Sinaliza pra Mulder. Mulder aproxima-se, ficando de costas para Krycek, observando o beco. Krycek puxa a arma. Mulder olha pra ele.

MULDER: - Você me dá cobertura. Eu tenho mais experiência em entrar em lugares proibidos.

Mulder retira uma chave mestra do bolso. Tenta abrir a porta. Krycek observa o beco, atento.

MULDER: - (RECLAMANDO) O que eu faço perdido a essa hora num beco italiano com um rato russo?

KRYCEK: - Não confie que ratos gostam de becos... Eu odeio lixo. Sou cheirosinho, sabia?

MULDER: - Ainda por cima um rato fresco e elitista.

Krycek sorri. A fechadura estala.

MULDER: - Abri. Vou erguer a porta, você me dá cobertura.

Mulder coloca a mão no puxador da porta de metal, mas para.

MULDER: - O que tem aí dentro?

KRYCEK: - Não sei.

Mulder olha pra ele.

MULDER: - (PÂNICO) Você está brincando não é?

KRYCEK: - Acha que eu estaria com medo se soubesse o que me espera?

MULDER: - Somos malucos. Isso é um depósito! Imagina o que guardam aí dentro?

KRYCEK: - Lingeries femininas exóticas? Assistiu Beleza Americana? Que tal um depósito cheio de clones da Mena Suvari?

MULDER: - Na Itália? E não acha que ela é muito nova pra você não?

KRYCEK: - As garotinhas são mais quentes. Não acha?

MULDER: - (DEBOCHADO) ... Não sei de nada. Você tem a vantagem de ser o vilão. Vilões podem ser perversos, mocinhos tem que ser comportados...

KRYCEK: - Não se preocupe, Mulder. Não devem ser aliens. E se forem, você finge que é Will Smith e saímos atirando aos gritos: Fora escória do universo!

MULDER: - (DEBOCHADO) Hehehe... Como você é engraçadinho.

KRYCEK: - (DEBOCHADO) Elas sempre dizem isso.

MULDER: - Dizem porque elas ainda não conhecem um homem de verdade assim, como eu...

KRYCEK: - (SUSPIRA) Acho que as abduções estragaram seu cérebro Mulder.

MULDER: - Olha, vou contar até três e... Espera aí. Vi isso em Máquina Mortífera. Presta atenção: só entramos depois que eu disser três. Entendeu?

KRYCEK: - (SUSPIRA)

MULDER: - Ok... Um... Dois... T...

Mulder ergue a porta. Nem terminou de dizer três e Krycek entra de arma em punho.

Geral do lugar. Tudo escuro. Nenhum movimento.

MULDER: - (INDIGNADO) Eu disse depois do três, imbecil!

KRYCEK: - Eu entendi que era no três, imbecil!

Eles observam atentos.

MULDER: - Muito quieto... Nem meu apartamento é tão quieto assim... Pelo menos escuto o peixe nadando...

KRYCEK: - Aqui não deve haver peixes, Mulder... Deveria haver baratas. Mas não posso ouvir nem o ruído delas, o que significa que há algo errado.

MULDER: - ... Odeio quando dizem isso!

KRYCEK: - (CANTAROLANDO BAIXINHO) La cucaracha, la cucaracha...

Mulder olha incrédulo pra Krycek.

KRYCEK: - (DEBOCHADO) Gosto das latinas também, Mulder... Sangue quente, molejo nos quadris... Lábios vermelhos, sensualidade, pele morena...

MULDER: - Para com isso! Para!!!! Tortura não vale!!! Aqui não tem chuveiro frio!!!

KRYCEK: -Estamos na pior Mulder... Quero uma festinha assim que isso acabar...

Os dois ficam em silêncio, desconfiados. Avançam para dentro do depósito, no escuro.

MULDER: - Acho que vou acender a lanterna e você fica atento. Se aparecer alguma Mena Suvari, você me avisa.

Mulder puxa a lanterna. Acende. Sem querer está mirando o foco da lanterna para alguma coisa mais alta do que eles, em pé, envolta num pano. Mulder dá um grito. Krycek começa a atirar na 'coisa'.


Corta para a escada de madeira que cai ao chão, com um lençol por cima. Os dois se entreolham, suados e nervosos. Mulder olha pra Krycek.

MULDER: - (PÂNICO) Pensei que fosse um daqueles greys altos.

KRYCEK: - (DEBOCHADO) Usando toga romana? Pode ser que se você escavar alguma ruína ache algum imperador cinza com folhinhas de louro... Esquece... Eles não têm orelhas pra segurar os louros...

MULDER: - Precisamos nos acalmar... Isso aqui está vazio. Parece em reforma.

KRYCEK: - O que é aquilo lá no fundo? Uma porta?

MULDER: - Parece uma porta de vidro... Ei, tem dois pontos em néon no vidro.

KRYCEK: - O que deve ser?

MULDER: - Vamos descobrir.

Os dois caminham silenciosamente. Aproximam-se do vidro. Mulder mira a lanterna. O alien do óleo negro, de olhos abertos, grunhe pra eles, arranhando o vidro pelo lado de dentro. Mulder salta pra trás dando um berro. Krycek só pára de correr quando chega na metade do depósito. Pula com raiva, esmurrando o ar com a mão que segura a arma.

KRYCEK: - (IRRITADO/GRITA) Néon??? Droga, Mulder! Droga! Seu idiota, eu quase enfartei!!! Aquilo são os olhos dessa coisa!

MULDER: - (DEBOCHADO) Mas como você é corajoso!!!!

Krycek aproxima-se, indignado. O alien tenta sair desesperadamente. Mulder o observa curioso.

MULDER: - Será que eles se comunicam de alguma forma?

KRYCEK: - Eu não quero saber! Ele seria o último com quem gostaria de bater um papinho!

MULDER: - (OLHANDO PARA O ALIEN) Parla italliani? Do you speak English?

Krycek olha pra Mulder. Põe a mão na testa, incrédulo.

KRYCEK: - Ai meu Deus! Mulder, durante a sua abdução trocaram seu cérebro pelo cérebro do Jerry Lewis??? Já foi ao médico apertar esses parafusos? Pode ser contagioso.

Mulder mira a lanterna pelo depósito. A câmera acompanha a luz da lanterna, revelando mais outras portas de vidros, repletas de aliens acordados que tentam sair.



BLOCO 2:

Mulder e Krycek, de olhos arregalados, em pânico. A porta do depósito se fecha. Mulder mira a lanterna rapidamente.

MULDER: - Cilada!

Os dois correm, tentando abrir a porta. Mas está travada.

MULDER: - Ai, ai, ai, ai, ai... O que mais falta acontecer?

KRYCEK: - Jamais faça esse tipo de pergunta. Dá azar...

As luzes do depósito acendem-se. Os dois assustados viram-se rapidamente, olhando por tudo. É quando percebem os vários corpos humanos mutilados num canto.

MULDER: - (DEBOCHADO) Alex Krycek...

KRYCEK: - O que é?

MULDER: - (DEBOCHADO) Segura a minha mão?

KRYCEK: - Sai fora!

As portas de vidro se abrem lentamente para libertar os aliens.

MULDER: - Acho que fomos convidados pra uma festinha. O problema é que somos o banquete.

KRYCEK: - Mulder, você assistiu o Gladiador?

MULDER: - Por quê?

KRYCEK: - Porque acho que estamos no meio da arena. Estão soltando os leões. Pior que nem folhas de louro nós temos aqui. Pior ainda é que sou russo, não tenho crença e ainda estou com um maldito judeu. Adoraria estar com um cristão segurando um rosário...

MULDER: - E a experiência me diz que judeus em Roma não acabam bem... Não mesmo...

KRYCEK: - Não sei de nada. Lavo as minhas mãos.

Os dois procuram saídas com os olhos. Mas há apenas uma janela num segundo patamar.

MULDER: - Seguinte Krycek. Se correr o bicho pega. Se ficar o bicho come.

Mulder olha para o lado. Há várias latas de tinta e solvente. Mulder começa a tirar a roupa rapidamente, ficando de cuecas. Krycek olha pra ele incrédulo.

KRYCEK: - O que está fazendo?

MULDER: - Tire a roupa.

KRYCEK: - Ô Mulder, não me leve a mal, mas você não é bem o que eu tenho em mente sobre realizar um último desejo antes de morrer. Não estou tão desesperado pra tanto.

MULDER: - Molhe isso tudo com solvente.

KRYCEK: - Ok, esperto. E vamos acender isso com o quê?

Mulder retira um isqueiro do bolso das calças. Atira as roupas pra Krycek. Sorri.

MULDER: - Agora entendi porque o Canceroso me disse que eu deveria fumar...

Mulder começa a quebrar uma caixa com o pé. Krycek se despe, ficando de cuecas e começa a despejar solvente pelas roupas deles. Os dois fazem tochas com pedaços de madeira e as roupas. Krycek olha pra ele.

KRYCEK: - Se não der certo, fique sabendo de uma coisa. Meu maior desejo era transar com a sua mulher.

Mulder olha pra ele indignado. Acende a tocha com raiva, quase queimando Krycek. Krycek recua.

MULDER: - Leve uma lata que eu levo outra. Vamos espalhando isso pelo meio do caminho.

Os dois de cuecas, meias e sapatos, com as costas coladas um ao outro, vão passando entre os aliens e os afastando com as tochas.

KRYCEK: - Aperta o passo, Mulder... Não vai ter fogo o suficiente pra afastar esses bichos até chegarmos naquela janela.

MULDER: - Que situação embaraçosa... Não encosta muito aí!

KRYCEK: - Não se preocupe, você não faz o meu tipo.

MULDER: - Quando estivermos perto das escadas eu conto até três e nós subimos. Ateamos fogo nessa droga e trancamos as janelas... Vão morrer queimados. E serviço cumprido.

KRYCEK: - No três ou depois do três?


Delegacia de Polícia – 3:21 A.M.

O agente da Interpol alto e gordo observa através das grades, com ar de deboche. Mulder e Krycek em trajes íntimos, andando pela cela.

AGENTE DA INTERPOL: - Ok... Fui tirado do meu sono porque desconfiam que vocês são da máfia. Vamos tentar de novo. Querem me explicar o que aconteceu, meninas? Ou querem falar em italiano com o delegado?

MULDER: - Já disse! Fomos assaltados!

AGENTE DA INTERPOL: - Não acredito que vocês não se enquadrem em atentado ao pudor.

KRYCEK: - Fomos assaltados. Quando nos pegou, estávamos indo até nosso carro. Somos apenas turistas, pode verificar a informação na embaixada!

AGENTE DA INTERPOL: - Sei... Eu tenho amigos 'turistas' que usam batom nos finais de semana.

Mulder se levanta e tenta agarrar o sujeito pela grade.

MULDER: - Olha aqui, seu imbecil...

AGENTE DA INTERPOL: - Ei, ei, ei... Quero saber a relação de vocês com o incêndio! Não me parecem ser da máfia...

MULDER: - Por que não verifica a informação? Hein?

AGENTE DA INTERPOL: - Quero saber da boca de vocês, seus safados.

MULDER: - Ora, seu...

KRYCEK: - Mulder, calma. Olha, agente Morrone, era uma gangue, na certa provocaram tudo. Estávamos saindo de um bar, deixamos o carro longe e quando voltamos pelo beco fomos surpreendidos por garotos usando jaquetas e tatuagens.

AGENTE DA INTERPOL: - Sei, uma gangue... garotinhos, é isso?

KRYCEK: - (INCRÉDULO) O quê?

AGENTE DA INTERPOL: - Estavam molestando garotinhos num beco escuro?

Krycek fica enfurecido e agora é ele quem tenta pegar o agente pela grade. Mulder desiste. Senta-se na cama e põe as mãos no rosto.

MULDER: - Eu mereço! Eu mereço! Eu cuspi na cruz!

AGENTE DA INTERPOL: - Que tipos de tarados são vocês que ficam nus, transando com garotos cabeludos e tatuados num beco escuro e atam fogo num depósito?

Mulder e Krycek suspiram.

KRYCEK: - Não tem jeito. Ele não vai entender. É estúpido demais pra entender qualquer coisa.

MULDER: - Por isso é da Interpol.

AGENTE DA INTERPOL: - Olha aqui, 'Thelma', se não moderar sua língua vou colocar você e a sua amiga Louise aí com uns grandões peludos fãs dos Hell Angels na cela ao lado.

O agente afasta-se. Krycek levanta-se.

KRYCEK: - Que situação! Nunca passei por isso. Sabe que você é azarado?

MULDER: - Eu?

KRYCEK: - É você. Você é pé frio! E agora tá me contaminando com o seu azar!

MULDER: - Ah é assim? Eu salvei sua pele, seu filho da mãe!

KRYCEK: - Espero que eles nos achem. Ou vou ter que ficar aqui olhando pra você vestido desse jeito e tendo vontade de vomitar!

MULDER: - O que está reclamando? Não queria um depósito cheio?

KRYCEK: - De Mena Suvari. Não de gafanhotos gigantes. Que barco furado!

MULDER: - Culpa sua! Deveria saber o que tinha lá bem antes!

KRYCEK: - Ah, você acha que nós sabemos sempre de tudo?

MULDER: - Droga! Estou seminu numa delegacia em Roma com um cara de cuecas, às três e meia da manhã! Estou com fome, com frio, cansado...

KRYCEK: - Ah, você só reclama! Sou eu quem deveria reclamar! Não durmo direito há semanas por sua causa! Estou cansado de ser sua babá! Você é chato, mimado e frangote!

MULDER: - Ah, eu sou um frangote é?

Os dois se peitam furiosos.

KRYCEK: - É você é sim.

Krycek mexe os braços e cacareja feito galinha.

KRYCEK: - Frangote!

Os dois se atracam a socos na cela. O agente aproxima-se.

AGENTE DA INTERPOL: - Ei, garotas, parem de brigar! Verifiquei a informação na embaixada americana e vocês estão livres.

Eles param. Olham um pro outro.

MULDER: - E agora?

KRYCEK: - Agora temos que continuar nossa viagem... E tenho uma notícia pra você.

MULDER: - Que notícia?

KRYCEK: - (SORRI/ EMPOLGADO) Eu vou pilotar o avião...

Krycek sai da cela. Mulder coloca as mãos no rosto, apavorado.


Deserto do Saara – 2:11 P.M.

Close no chão arenoso. Pedras, areia e o calor do sol que forma ondas no ar.

Os pés calçando botas. Passam em frente à câmera se arrastando.

Atrás, pés calçando sapatos, se arrastam mais ainda.

Mulder caminha, sem camisa, apenas de calças e sapatos sociais. A camisa amarrada na cabeça, com a ajuda da gravata. À frente dele, Krycek, com uma mochila nas costas, camiseta regata, calças jeans. Os dois completamente suados. Mulder com uma cara de quem está morrendo. Krycek para. Vira-se e olha pra Mulder.

KRYCEK: - (OFEGANTE) Estamos chegando.

MULDER: - (MAL HUMORADO) Sei! Você disse isso há uma hora atrás!

KRYCEK: - (CHATEADO) O que estou fazendo aqui? Droga!

Krycek continua caminhando, Mulder atrás dele, com cara de poucos amigos.

KRYCEK: - (CANTANDO) Aaaaaaaaaaaaaaaaaaah!

Mulder olha pra ele incrédulo.

KRYCEK: - Pod sosnuyu... pod zelenoyu... Spat' polozhite vy menya... Aaaaaaaaaj!

Mulder para. O observa. Ele continua cantando. Mulder põe as mãos nas orelhas.

MULDER: - Eu não acredito!!!!!!!! Era só o que me faltava!

KRYCEK: - (CANTANDO) Spat' polozhite vy menyaaaaaaaaaaa.... Ka...linka, kalinka, kalinka moya! ... V sadu yagoda malinka, malinka moya! Hej! Kalinka, kalinka, kalinka moya! V sadu yagoda malinka, malinka moya!

MULDER: - Tudo bem, se quer xingar a minha mãe pelo menos faça isso na minha língua. É mais educado.

KRYCEK: - É uma canção folclórica russa.

MULDER: - (DEBOCHADO) É, deve ser porque pelo menos você umedeceu o deserto cuspindo!

Krycek para. Olha pra ele.

KRYCEK: - (INDIGNADO) Sabe qual é o seu problema?

MULDER: - (BEIÇO) ...

KRYCEK: - Mau humor!

MULDER: - (IRRITADO) Ah! Eu sou mal humorado é?

KRYCEK: - (INDIGNADO) É, você é muito mal humorado.

MULDER: - (DEBOCHADO) E você canta muito desafinado!

KRYCEK: - Pois saiba que eu fui do coral do exército vermelho!

MULDER: - (DEBOCHADO) É? O que fazia no coral? Limpava a sala de ensaio?

KRYCEK: - (IRRITADO) Hehehehe... Como você é engraçadinho, Mulder.

Krycek continua caminhando, chutando as pedras.

MULDER: - (RECLAMANDO) Como consegue cantar no meio desse nada, debaixo de um sol escaldante e que por sinal, foi você que nos meteu nessa confusão!

Krycek para. Vai até Mulder. Os dois se peitam.

KRYCEK: - (IRRITADO/ GRITA) Ah é? Fui eu quem resolveu tomar a rota errada?

MULDER: - (GRITA/ FURIOSO) Devia ter me dito que estava dirigindo pro precipício!

Começa a discussão.

KRYCEK: - Eu estava ocupado matando aqueles árabes que estavam atrás de nós!

MULDER: - Você e suas idéias de James Bond! Jipe com paraquedas! Ahn! Coisa idiota!

KRYCEK: - Não foi invenção minha! Foi sua gente que inventou aquela droga de paraquedas que não funcionou! Nós russos somos mais espertos!

MULDER: - Tá chamando os americanos de burros, é? Burro é você, porque tivemos que pular do jipe de paraquedas justamente no meio do nada????

Os dois se encaram. Furiosos.

KRYCEK: - Olha aqui se tem ideia melhor, então por que não diz? Ahn? Esperto?

MULDER: - (RESMUNGANDO) Estou perdido no inferno do Saara! Com um rato soviético que canta desafinado. Meus miolos estão torrando, meus pés estão cozidos e eu já vi três oásis em menos de uma hora! E tem mais de seis urubus nos espreitando!

KRYCEK: - Me dá o mapa!

MULDER: - Pra quê? Você não sabe onde fica o norte mesmo!

Krycek puxa o mapa do bolso de Mulder. Abre-o. Pega a bússola de seu bolso.

KRYCEK: - Tá vendo aqui? O norte é lá! E segundo esse mapa tem uma cidade. Temos um contato lá.

MULDER: - Cidade? Eu não entendo árabe, mas pra mim isso é povoado.

KRYCEK: - Ah!!!!!!!! Cidade, povoado, tanto faz! Pelo menos vai ter água! E gente pra nos tirar daqui.

MULDER: - E se fôssemos por lá? Ahn? Me parece mais fácil, não tem tanta pedra e nem uma montanha no meio do caminho...

KRYCEK: - Não. O norte é pra lá, e nós vamos pra lá. Se quiser ir pro outro lado leve os urubus com você. E afinal, judeu, você está em casa. Devia levar seu povo pra terra prometida! Ou esqueceu o caminho?

MULDER: - Isso é que chamo de Inferno Vermelho! Estar no deserto escaldante com um russo!

Krycek continua caminhando. Mulder rosna de raiva. Vai atrás dele.

KRYCEK: - (CANTANDO) Hej! Kalinka, kalinka, kalinka moya! V sadu yagoda malinka, malinka moya!

Mulder, debochado, cruza os braços.

MULDER: - (DEBOCHADO/ CANTANDO) Hey!

KRYCEK: - (CANTANDO) Kalinka, kalinka, kalinka moya! V sadu yagoda malinka, malinka moya!

MULDER: - (CANTANDO) Hey!


4:47 P.M.

Foco na duna de areia. Mulder e Krycek surgem no topo, descendo de arrasto. Krycek não se aguenta e se atira na areia, rolando duna à baixo. Mulder cai, rolando também. Os dois deitados na areia escaldante, rosto colado no chão.

MULDER: - Os urubus ainda estão atrás de nós?

KRYCEK: - Não sei... Não posso me mover.

MULDER: - Foi um desprazer morrer aqui com você.

KRYCEK: - Preferia morrer na neve, no meio da Sibéria...

MULDER: - Preferia morrer no meio do deserto... Mas num harém cheio de mulheres seminuas usando véus transparentes...

Krycek ergue a cabeça. Olhar incrédulo.

KRYCEK: - Mulder...

MULDER: - O que foi?

KRYCEK: - Se não for uma miragem, acho que tem uma mulher nos olhando.

MULDER: - (SORRI) Você tá pior do que eu! Que jejum! Aposto que não transa há anos! Já tá vendo até mulher nesse fim de mundo!

Mulder ergue a cabeça. Movimenta-a de um lado pra outro, tentando acreditar.

MULDER: - Hum... Parece uma mulher... Mas deve ser um cacto...

KRYCEK: - Não tem cactos nesse deserto!Vamos fazer um teste. Você pula em cima dela e a beija. Se for um cacto eu vou saber.

MULDER: - (INDIGNADO) Espertinho... Pula você!

KRYCEK: - Tem umas tendas lá na frente? Ou meus miolos estão torrados?

MULDER: - (INDIGNADO) Era essa a cidade que você falou? Isso é uma tribo nômade! Nem devem sabem o que é telefone! O serviço de entrega rápida dos correios aqui se chama 'Camel Express'!

Os dois se levantam, cansados. A mulher, usando roupas árabes, véu no rosto, aproxima-se com um cantil de água.

MULDER: - Ok, espertalhão. Você fala italiano. Quero ver se fala árabe.

KRYCEK: - Alguma coisa, mas não dialetos.

MULDER: - Ótimo! Estamos perdidos! No mínimo são da tribo do Ali babá e os 40 ladrões! E eu não sou o Lawrence da Arábia!

Mulder olha pra mulher. Ela sorri pra ele. Mulder dá um sorriso bobo. Krycek encara Mulder. Mulder o cutuca, enquanto pisca pra mulher.

MULDER: - (DEBOCHADO) Sai fora, russo. Ela gostou de mim.

KRYCEK: - Gostou nada. Ela ainda não sentiu o seu cheiro depois de ficar horas no deserto.

MULDER: - Hehehe... Mulheres adoram homens suados e sexys.

KRYCEK: - O problema é que você só se encaixa na categoria suor.

MULDER: - Enquanto eu vou ficar numa tenda curtindo as mil e uma noites você vai dormir com os camelos... hehehe...

KRYCEK: - Será que ela dança a dança do ventre?

MULDER: - Adoraria vê-la dançando isso em cima de mim... Por que mulheres completamente cobertas causam fascínio?

KRYCEK: - Tudo que fica exposto perde a graça... Hum, gatinha, eu daria tudo pra saber o que você esconde debaixo de tanta roupa.

MULDER: - Ok, vamos ao cara ou coroa. Quem ganhar leva.

A mulher sorri pra Mulder.

MULDER: - Esqueça. Acho que a coisa é comigo... Ela me achou com cara de Aladim...

KRYCEK: - Você tá mais é com cara de lâmpada mágica. Me faz aparecer um tapete voador e eu te deixo com ela.

MULDER: - Ainda bem que ela não fala a nossa língua.

MULHER: - (DEBOCHADA) Sou o contato de vocês por aqui, seus meninos pervertidos. Me acompanhem.

Mulder e Krycek se entreolham. Mulder em pânico. Krycek segura o riso. Aproxima os lábios da orelha de Mulder.

KRYCEK: - (COCHICHA) Em todos esses anos, essa foi a pior gafe que já cometi.

MULDER: - (COCHICHA) Idem. Me lembre de na próxima vez verificar o idioma primeiro antes de dizer sacanagens.

KRYCEK: - Essa foi pior do que a vez que estive em Portugal. Precisava fechar um pacote, mas não sabia falar fita adesiva em português. Então pedi um rolo de durex.

MULDER: - O que tem? Te deram outra marca de fita adesiva?

KRYCEK: - Durex pra eles significa preservativo.

Mulder olha pra ele segurando o riso.

MULDER: - Por metro? Não tá com essa bola toda não, russo...

KRYCEK: - (DEBOCHADO) Deixa assim, Mulder... Mas precisava ver pra onde as portuguesas olharam sorrindo quando pedi isso...


5:48 P.M.

O guia caminha pelo deserto puxando um camelo. Mulder e Krycek caminhando em trajes árabes o seguem, enquanto discutem.

MULDER: - Que roubada! Eu poderia estar na minha confortável sala no porão. Mas onde estou? Aqui, no meio do nada, usando vestido!

KRYCEK: - Agradeça por estar aqui no meio do nada usando vestido. Imagine se tivéssemos dado de cara com facções não simpatizantes? ... (DEBOCHADO) Confesso que você de vestido está uma gracinha. Mas eu tenho pernas mais bonitas.

Mulder ergue o manto e olha pras suas pernas.

MULDER: - Minhas pernas são mais bonitas do que as suas!

KRYCEK: - Não são não! As minhas pernas são mais bonitas!

Os dois caminham discutindo aos empurrões.


Palestina - 1:11 A.M.

Mulder e Krycek entram no quarto ainda em trajes árabes. Krycek segurando um exemplar do Alcorão. Um quarto pequeno, precário e sujo. Mulder larga a sacola de viagem no chão, em estado de pânico. Krycek atira a mochila na cadeira. Atira o Alcorão na mesa. Os dois estão irritados. Mulder retira o lenço do rosto.

KRYCEK: - (INDIGNADO) Argh! São essas situações que me deixam furioso! Quero voltar pra Itália! Lá tinha pizza, serviço de quarto, hidromassagem, vinho e Andrea Bocelli. E mulheres que usam minissaias enquanto dirigem motocicletas! Além do fato de que eu não precisava usar vestido!

MULDER: - (IRRITADO) Quero minhas roupas de volta! Me sinto num baile à fantasia! Não gosto desse ventinho por baixo! É sinistro e desconfortável!!!

Foco na única cama do quarto. De casal.

MULDER: - Eu não vou dormir com você!

KRYCEK: - Ótimo. Eu fico com a cama e você com o tapete.

MULDER: - Como você é engraçadinho.

KRYCEK: - Você já disse isso. É por isso mesmo que prefiro que fique bem longe de mim.

MULDER: - Achei que trabalhando pra essa gente o luxo fosse requisito básico.

KRYCEK: - Nesse fim de mundo você quer luxo?

MULDER: - Pelo menos faça o favor de tomar banho. Vou odiar sentir cheiro de macho do meu lado.

KRYCEK: - Não se preocupe. Vou pedir um travesseiro extra pra dividir a cama. Por via das dúvidas, vou dormir armado.

MULDER: - Isso é o que eu chamo de dormir com o inimigo. E o pior de tudo é que você não é a Julia Roberts!

Krycek pega a mochila e vai pro banheiro. Bate a porta. Mulder liga a TV e senta-se na cama.

MULDER: - (GRITA) E não pendure suas cuecas no banheiro! Estou acostumado há anos a trabalhar com mulher! Odiaria ver cuecas e aparelho de barbear ao invés de lingeries e maquiagem!


2:24 A.M.

Mulder sai do banheiro vestido com um pijama do Scooby Doo. Krycek deitado na cama olha pra ele. Começa a rir.

KRYCEK: - (DEBOCHADO/ IMITANDO) Scooby dooby doo...

MULDER: - (IRRITADO) Sem graça!

KRYCEK: - Aposto que isso é presente da Scully.

MULDER: - Acha que eu compraria pijaminha do Scooby Doo?

KRYCEK: - Sei não Mulder... (RINDO) Você é realmente estranho... Não vai demorar muito e vai dormir com creme no rosto e bobs nos cabelos... Eu hein???

Mulder deita-se ao lado dele. Puxa o edredom, indignado. Krycek coloca um travesseiro entre eles. Puxa o edredom. Mulder puxa também, a guerra começa.

KRYCEK: - Você não sabe dividir uma cama?

MULDER: - Sei! Com uma forma cheia de curvas, pequena e cheirosa, não com um brutamonte fedido a testosterona!

KRYCEK: - Vou relatar isso. Você não está sendo cordial.

MULDER: - Relate. Rato dedo-duro.

Os dois ao mesmo tempo, viram-se de costas um pro outro. Então rapidamente, se viram com as costas no colchão.

KRYCEK: - Amanhã eu mato o cara do quarto ao lado e assim um quarto fica vago... Quer desligar essa TV?

MULDER: - Eu durmo com a TV ligada!

KRYCEK: - (INDIGNADO) Isso é um absurdo! Você sabia que o mundo está em crise de energia elétrica? Você não tem consciência ambiental?

MULDER: - Quer calar sua maldita boca?

KRYCEK: - Deveria economizar! Pra que dormir com a TV ligada?

MULDER: - Eu gosto!

KRYCEK: - Coisa de americano, bando de consumistas desgraçados sem consciência ambiental alguma! Eu odeio zunzum e claridade! Você nem está entendendo patavinas dessa porcaria aí em árabe!

MULDER: - Posso não estar entendendo, mas tem elefantes ali. Devem estar falando sobre o modo de vida dos elefantes... Não tem CNN nessa droga de TV?

KRYCEK: - (INCRÉDULO) CNN??? Você está no interior da Palestina, Mulder! Se suspirar com sotaque americano toma um tiro! E se eu fosse você, esconderia esse nariz de judeu pra não levar uma bomba nas costas. E pare de procurar McDonald's nas ruas!

MULDER: - (DESESPERADO) Eu quero minha casa de volta! O Washington Post na minha porta! Eu quero os meus cereais matinais, ovos mexidos e bacon! Os motoristas estressados e as fofocas diárias sobre a sexualidade do Michael Jackson! Eu quero o meu país! Já tô até com saudade do Bush! Acredita? Ai, Buffy, a caça-vampiros... Acho que eu era feliz e não sabia...

KRYCEK: - Para de resmungar! Você é chato!

MULDER: - Filme erótico, será que tem?

KRYCEK: - Tá maluco? Mulder, já viu como as mulheres se vestem aqui? Filme erótico é coisa da América, a filha do capeta!

MULDER: - (PÂNICO) Eu quero ir embora daqui! Não quero mais brincar de agente duplo!

KRYCEK: - Mulder, cala a boca e desliga essa droga que eu preciso dormir!

MULDER: - Vá dormir na rua!

KRYCEK: - Você não sabe dividir nada, não é? Sabia que a sua liberdade termina quando começa a do outro?

MULDER: - Sabia que a sua liberdade termina quando você termina?

KRYCEK: - Vai atirar em mim é?

MULDER: - Quero dormir! Me poupe dessa sua voz chata!

Krycek coloca o edredom sobre o rosto.

KRYCEK: - Saco... Ainda tenho que trabalhar com um maluco cheio de manias...

MULDER: - Para de resmungar! Parece uma mulher depois de 20 anos de casamento!

Krycek pega o controle remoto da mão dele. Muda de canal. Atira o controle remoto no chão e enfia o edredom por sobre a cabeça.

KRYCEK: - Prefiro ouvir o noticiário.

MULDER: - Eu não acredito! Quero meus elefantes!

KRYCEK: - E eu o noticiário!

MULDER: - Elefantes!

KRYCEK: - Noticiário!

Mulder levanta-se enfurecido e muda de canal. Pega a arma do coldre sobre a cômoda. Deita-se na cama.

MULDER: - Elefantes. E se mudar o canal eu atiro em você.

KRYCEK: - Impressionante! Você não sabe dividir nada!

MULDER: - Eu sou capitalista compulsivo, não sou comunista!

KRYCEK: - Sabe que é preferível morrer alcoolizado com vodca do que gordo por excesso de fast-food?

MULDER: - Eu vou te dizer a minha ideia sobre o que seja fast-food.

KRYCEK: - Inclui sua mulher?

Mulder senta-se na cama. O encara.

MULDER: - Deixa Scully fora disso!

KRYCEK: - Eu já te disse, ela é interessante.

MULDER: - Se encostar um dedo na Scully, eu juro que te faço cantar Kalinka como soprano!!!

Krycek começa a rir. Mulder cruza os braços e mantém a arma na mão. Fica sentado na cama, emburrado.


7:41 A.M.

Mulder sentado na cama. Krycek sai do banheiro, já em trajes árabes.

MULDER: - (INDIGNADO) Sabia que você ronca?

KRYCEK: - Eu? Eu não ronco não!

MULDER: - Ronca sim! Parece até aqueles velhos monomotores da segunda guerra!

KRYCEK: - Ah cala a sua boca! Vou buscar o café da manhã. E fique aqui no quarto. Mantenha suas feições judias americanas fora de encrenca. E seu inglês. Vamos embora daqui.

Krycek sai. Mulder suspira.

MULDER: -Até o chato do Carter me dá saudade!



BLOCO 3:

Deserto do Kalahari – 4:11 P.M.

Mulder e Krycek, com roupas de caçadores e botas, sentados num jipe debaixo de uma enorme árvore seca. Krycek observa com o binóculo.

KRYCEK: - Estão em movimento... Vamos ter que esperar o anoitecer para atacar.

MULDER: - (PÂNICO/OLHANDO PRA TODOS OS LADOS) Esperar anoitecer? Aqui? No meio de leões e essa bicharada toda?

KRYCEK: - Você tem uma arma. Atire.

MULDER: - Eu não vou atirar nos bichinhos! O intruso aqui sou eu!

KRYCEK: - Ótimo. Então seja o jantar dos 'bichinhos'.

Mulder continua olhando pra todos os lados, em pânico.

MULDER: - Confesso que assistir o Discovery era menos perigoso...

KRYCEK: - Não era você que ficou brigando comigo por causa de elefantes? Pois aproveite agora a companhia deles. Utilize seus conhecimentos do Discovery.

MULDER: - Droga, tem uma girafa olhando pra nós... E não é o Skinner...

KRYCEK: - Deixe-a em paz. Girafas não são animais perigosos. É só não ficar no caminho delas.

MULDER: - Como você sabe?

Krycek abaixa o binóculo.

KRYCEK: - Mulder, você é um cara extremamente da cidade e da tecnologia, percebeu? Se tirar isso de você, acaba-se o Mulder.

MULDER: - Você age como se estivesse acostumado com isso.

KRYCEK: - Estou acostumado com isso. Eu trabalhei pra KGB, corria o mundo todo. O Kalahari é fichinha diante da Sibéria e das torturas políticas praticadas pelo regime comunista.

Mulder continua olhando pra todos os lados. Nervoso.


7:21 P.M.

Mulder e Krycek sentados debaixo da árvore. Uma fogueira na frente deles. Mulder de braços cruzados, com frio. Krycek bebe um gole de uísque na garrafa.

MULDER: - (RINDO)...

KRYCEK: - E mandei ele colocar aquele cigarro num lugar muito particular, na frente do lorde inglês, que me olhou horrorizado. 'Rapaz rebelde... Essa educação moderna...'

Mulder começa a rir. Krycek entrega a garrafa pra ele.

KRYCEK: - Tome. Precisa se aquecer...

MULDER: - (RINDO) Aquelas múmias lá deveriam se aposentar... Aposto com você que já viraram patrimônio histórico de Nova Iorque... Visitar a Rua 46 implica conhecer o 'museu da maldade'...

KRYCEK: - (RINDO) Que velharada do cão aquela. Você olha pra eles e pensa que são uns velhinhos amáveis, gentis... Que dão comida aos pombos... (RI) E toma um tiro de surpresa.

MULDER: - (SUSPIRA) ... Eu só queria viver como um sujeito comum sabe? Daqueles que não tem preocupação alguma a não ser as preocupações comuns.

KRYCEK: - Não. Você não aguentaria o cotidiano normal.

MULDER: - Não sei... Mas eu queria ser o sujeito comum...

KRYCEK: - (SORRI) Um marido...

MULDER: - (SORRI/ BEBE UM GOLE) É, um marido. Uma vez minha tia disse: só há duas vocações pra um homem. Uma delas é ser padre. As outras opções significam todas a palavra marido.

KRYCEK: - (SORRI) Não pense você que eu também não gostaria de ter uma família. Uma boa casa, uma mulher, meus filhos... Claro que eu gostaria. Mas eu não vejo nada em meu futuro a não ser morrer por isto. É a vida que eu tenho. O que me restou.

Mulder boceja. Entrega a garrafa pra Krycek.

KRYCEK: - Dorme. Eu acordo você quando a barra estiver limpa.

Mulder cruza os braços e fecha os olhos. Krycek fica atento.

KRYCEK: - Mulder?

MULDER: - O que é?

KRYCEK: - Posso perguntar uma coisa pra você?

MULDER: - Que coisa?

KRYCEK: - Bem... É algo meio... íntimo.

Mulder olha pra ele. Krycek brinca com um graveto, nervoso.

MULDER: - Fala. Mas não me venha com a história de que aqui tá frio e que dois corpos se esquentam melhor... Estou armado.

KRYCEK: - (SORRI) ... Como conseguiu manter a Scully interessada em você?

MULDER: - Vai começar a me provocar?

KRYCEK: - Não, não. Eu... Eu algumas vezes acho que não sei lidar com as mulheres. Já você parece ser bem entendido no assunto.

MULDER: - ... (OLHA PRA ELE CURIOSO)

KRYCEK: - Eu não consigo saber o que a Marita espera de mim. Admito, tenho dificuldades pra me entregar a uma mulher. Tenho medo de parecer idiota. Preciso me esconder na estupidez.

Mulder olha pra ele debochado.

MULDER: - Está me pedindo conselhos amorosos, rato?

KRYCEK: - ... Esquece... Besteira.

MULDER: - ... Seja sensível às necessidades dela.

KRYCEK: - É difícil... E se ela começar a mandar em mim? Eu não quero ser daqueles caras manipulados pela mulher.

MULDER: - Se ela gosta de você e te respeita isso nunca vai acontecer. E eu acho que ela te respeita. Acho que ela realmente ama você. Que mulher perdoaria um homem por tê-la entregue pra experiências?

KRYCEK: - ... Eu fui um canalha interesseiro... Mas há algo por trás disso que eu jamais poderia revelar pra você, tinha que ser Marita.

MULDER: - Por quê?

KRYCEK: - Ah, deixa pra lá... Besteira.

MULDER: - Deixa de ser cego, russo. Acha que ela estaria nessa vida se não fosse por você? Por que acha que ela topou ser minha informante? Pra entrar no jogo e ficar mais perto de você.

KRYCEK: - Mas ela teve um caso com aquele lorde inglês... E quem me garante que agora ela não está na cama com ele?

MULDER: - Se estiver é porque ele é gentil com ela. Ele é cavalheiro, não fica tratando aos pontapés como você faz.

KRYCEK: - Ou por que ele tem grana e poder? Vamos admitir pra nós mesmos, Mulder: mulheres bonitas adoram homens poderosos e com grana. Mas eu não quero mulher assim. Olha pra mim e vê se eu tenho cara de banco?

MULDER: - Que homem quer uma mulher assim? Mas eu não sei se é o caso da Marita. Ela tá levando a grana dela. Não precisaria ficar de amasso com aquele velho nojento pra ter alguma coisa. Ela gosta de você. Se você mandasse ela dormir com o Fumacinha ela faria só pra te agradar.

KRYCEK: - ... Aquele ali não se vende por sexo, é esperto demais... Não sei se deveria te contar isso, mas... Você sabia que ele e Diana...

MULDER: - (INCRÉDULO)

KRYCEK: - ... É. Mas ele só tirou a lasquinha, não vendeu o jogo...

MULDER: - Aquela vaca... Nem meu pai ela respeita! Estou com tanto nojo daquela mulher que chega a me dar urticária só de ouvir o nome dela! ... Aquilo ali é uma cadela barata! Pode ser gostosa, mas continua sendo uma cadela. E eu comi aquela droga! Argh!

Mulder começa a se coçar. Krycek começa a rir. Mulder está indignado.

MULDER: - (INDIGNADO) Não sei como tive apetite... Meu Deus, como eu era burro!

KRYCEK: - (RINDO) Não se preocupe Mulder. Você não é o único cara a se arrepender de algum caso. (PENSATIVO) ... Tenho medo que Marita faça comigo o que mulheres nesse meio fazem, como até ela fez com o Lorde Inglês. Ir pra cama pra catar informações. Como Diana tá fazendo com Carter.

MULDER: - Você sente que Marita seja assim?

KRYCEK: - Acho que sim.

MULDER: - Não percebe? Ao invés de ficar tratando a Marita como uma amante, faz algo diferente.

KRYCEK: - Como assim?

MULDER: - Quando vocês se encontrarem pra transar não transe. A leve pra um jantar romântico. A surpreenda. Diga que você quer mais do que sexo. Se é que você quer mais do que isso.

KRYCEK: - ... É, eu... Eu não sei. Eu gosto dela... Mas algumas vezes não sinto nada. Acho que é medo.

MULDER: - Quer uma dica? Primeiro ame você. Depois ame a Marita. Quando souber o que quer, vai saber como conquistar.

KRYCEK: - Você fez isso com a Scully?

MULDER: - Eu aprendi a me amar por ela. Se ela amava um traste como eu que não valho nada, imagina se eu não deveria me amar por ela?

Mulder fecha os olhos. Krycek suspira.

KRYCEK: - Mas você e Scully parecem feitos um pro outro. Eu e Marita não parecemos.

MULDER: - Você e Marita tiveram tantas desgraças no caminho quanto eu e Scully. Arranja outra desculpa.

KRYCEK: - É diferente. Vocês confiam um no outro.

MULDER: - Bom, isso é verdade. Já vocês dois... Ela não pode confiar em você cegamente depois do que você fez com ela. Admita seu erro.

KRYCEK: - Eu sei que errei.

MULDER: - E ela sabe que você sabe que errou?

KRYCEK: - ...

MULDER: - Seja homem, rato. Peça perdão. Admita suas fraquezas. Não vai afetar sua masculinidade.

Mulder fecha os olhos. O silêncio é de instantes. Krycek abaixa a cabeça.

KRYCEK: - Marita merece algo melhor do que eu.

Mulder abre os olhos. Olha pra ele, debochado.

MULDER: - Posso te dizer uma coisa, rato?

KRYCEK: - Diga.

MULDER: - Você tá apaixonado... Acaba de se entregar numa só frase.

Krycek sorri. Mulder fecha os olhos.

MULDER: - (RINDO) Alex Krycek apaixonado... Quem diria! Os brutos também amam...

KRYCEK: - Quem diria é você apaixonado! O Estranho Mulder.

Mulder sorri de olhos fechados. Krycek pega o binóculo. Observa.

KRYCEK: - Mulder... Estão indo embora... Tá na hora de trabalhar. Está a fim de explodir uma nave alien enterrada no deserto?

Mulder levanta-se rapidamente.

MULDER: - Yhaaa! Vamos nessa. Explodir é comigo mesmo! Eu fui campeão de Space Invaders...

KRYCEK: - (RINDO) Mulder... Você tá ficando velho!


Alpes Suíços – 9:28 A.M.

Mulder e Krycek em trajes de esqui. A neve cai sobre eles.

MULDER: - Cinco dias zanzando pelo mundo... Se fosse em outra situação seriam férias interessantes...

KRYCEK: - Confesso que se eu tivesse a Sharon Stone na minha companhia seria muito interessante... Temos que chegar ao topo antes do entardecer...

MULDER: - Ontem no calor do deserto, hoje no frio das geleiras... Que vida extremista. Vou acabar pegando um resfriado!

KRYCEK: - Mas é divertido, confesse.

MULDER: - É, tenho que confessar que é divertido mesmo. Fora a coisa de fugir da polícia, de muçulmanos revoltados e de leões africanos...

KRYCEK: - (RINDO) Confesso que adorei ver a cara que você fez quando eu gritei: leão! Mulder, nunca vi alguém subir tão rápido numa árvore!

MULDER: - Vai rindo... (PÂNICO) Olha o urso!

Krycek fica estático. Mulder começa a rir. Krycek suspira aliviado.

KRYCEK: - Sem graça, Mulder.

MULDER: - (RINDO) Queria ter uma câmera aqui pra tirar a sua foto. Ia mandar pras pegadinhas do Candid Camera.

Krycek sai esquiando e deixa Mulder pra trás, indignado.


4:57 P.M.

O chalé no meio das parcas árvores. Luzes acesas. A neve cai fina.

Corta pra Mulder e Krycek agachados debaixo de uma janela. Alternam espiadelas e agacham-se.

KRYCEK: - (COCHICHA) Não acredito! (SORRI) Bingo! Strughold está na reunião.

MULDER: - (TENSO) Vamos explodir essa droga assim mesmo?

KRYCEK: - Ainda duvida? Agora mesmo que quero ver essa choupana voar com os porquinhos lá dentro.

MULDER: - Não tenho mais fôlego. Assopre você.

KRYCEK: - Quantos são?

Mulder espia. Agacha-se.

MULDER: - São em cinco. Dois eu conheço como líderes terroristas internacionais procurados pelo FBI.

KRYCEK: - Mulder... Quer arriscar explodir essa merda? Que tal se entrássemos atirando? Depois mandamos isso pro ar.

MULDER: - Topo... Mas quem vai atirar no alien?

KRYCEK: - Alien?

Krycek espia pela janela e abaixa-se.

KRYCEK: - Merda! Tem alienígenas ali dentro... Eu vi aquele caçador.

MULDER: - Eles todos são gêmeos... Povinho sem criatividade física... Trouxe o picador de gelo?

KRYCEK: - Pra quê? Pra picar as geleiras? Basta você cravar até uma estaca na nuca do filho da mãe. Esquece. Vamos explodir tudo de uma vez, é mais garantido.

MULDER: - Vem alguém aí...

Eles saem agachados rapidamente, se escondendo atrás de uma pedra enorme. Mulder pega o binóculo. Observa.

MULDER: - Tem dois guardas ao redor do chalé. Um na esquerda, um à direita. Você pega o da esquerda, já que é comunista.

Krycek olha pra ele, indignado. Mulder segura o riso.

MULDER: - No três?

KRYCEK: - Não. Agora.

Krycek sai correndo pela esquerda. Mulder pela direita. Krycek ataca o enorme sujeito pelas costas. Ele cai na neve, puxando a arma. Krycek é mais rápido e puxa a arma com o silenciador, acertando um tiro na cabeça do homem. O sangue começa a correr pela neve. Krycek dá a volta no chalé rapidamente. Para. Põe as mãos no rosto. Suspira desanimado.

KRYCEK: - Eu não acredito! O que está fazendo, Mulder?

Corta pra Mulder, amarrando o outro guarda, inconsciente, num pinheiro.

MULDER: - Acha que quero que ele se solte?

KRYCEK: - Era pra matar o desgraçado, seu MacGyver burro!

MULDER: - Pra quê? Ele não me fez nada.

KRYCEK: - Mulder, seu maldito imbecil, coração mole!

Krycek puxa a arma. Mulder se põe na frente.

MULDER: - Pra quê? Até ele acordar já destruímos tudo.

Krycek suspira. Olha pra Mulder.

KRYCEK: - Vamos colocar as cargas explosivas ao redor do chalé. Não vou entrar lá dentro pra matar ninguém. Vou é manda-los direto pras nuvens tocando Jesus Glory na harpinha. Afinal lá dentro só tem amante de bomba...

Mulder começa a abrir a mochila. Retira as cargas de explosivos.

KRYCEK: - Quando colocarmos tudo, vamos pegar os snowboards e dar o fora daqui o mais rápido. Acionamos o detonador. Aventura, Mulder... Adoro o cheiro de aventura... Isso me dá água na boca.

MULDER: - Você me dá medo, Dr. Jivago...

Corte.


Mulder e Krycek nos snowboards, descendo a montanha rapidamente. Param. Krycek puxa o detonador da mochila. Eles olham pro alto da montanha.

KRYCEK: - Adios muchachos... Vamos fazer linguiça desse alemão. Tschüss tschüssStrughold!

Krycek aperta o botão.

A explosão é enorme. A neve começa a se desprender numa avalanche.

KRYCEK: - Vamos dar o fora daqui, Mulder... Serviço feito.


Hotel Reno – Berlim – Alemanha – 11:39 P.M.

Um quarto luxuoso. Mulder, sentado na cama, não consegue dormir. Observa o telefone. Suspira. Deita-se. Fecha os olhos. Mas o sono não vem. Ele vira-se e pega o telefone. Disca. Mulder fica na expectativa. Mas a ligação cai. Ele desliga, preocupado. Levanta-se e vai para o banheiro.


12:03 A.M.

Mulder deitado, vestido num roupão de banho. Olha pro laptop sobre a cama. O sono quase o vence, mas ele está preocupado. Digita alguma coisa. Abre um sorriso de alívio.

Close do e-mail na tela.

SCULLY (OFF): - Caro senhor estranho... Aqui é a agente secreta codinome Foxy Roxy. Sua amante virtual para todas as horas... Por favor quero o número do seu cartão de crédito para desconto bancário de meus préstimos sexuais na web. Se estiver interessado tenho fotos ousadas em poses totalmente didáticas para médicos ginecologistas e um vídeo que gravei sentada enquanto digitava este e-mail. Estava sem calcinha...

Mulder ri.

SCULLY (OFF): - Em virtude da minha compulsão momentânea, fui jantar com Mrs. Mommy, Branca de Neve e os Três Patetas num restaurante japonês distante... Não sei a que horas volto. Pretendo abrir todos os biscoitinhos da sorte. Alguém por aqui adora sushi, não me culpe. Portanto, se ligar, está tudo bem. Estou com saudades do seu pezinho quente... Chefe Moe me contatou por e-mail, estava indignado conosco. Branca de Neve chegou bem e ficará com eles. 'Shemp' adorou essa ideia. E chorou quando soube da nossa novidade. Mas 'Larry' não nos perdoou pela mentira... Portanto, traga um CD dos Ramones ou perderemos o amigo. Volta logo, Pinguinho manda beijos. Eu te amo. Saudades... E não esqueça: Delete isso!!!

Mulder deleta o e-mail. Fecha o laptop, num sorriso. Deita-se cansado. Leva a mão ao telefone. Liga. Ninguém atende. Ele acaba dormindo com a mão sobre o telefone, completamente cansado.


Corta para o quarto ao lado. Krycek assiste TV, deitado de cuecas. Olhar distante. Pega o telefone. Disca. Nenhuma resposta. Krycek suspira. Deita-se, puxando o edredom sobre si, virando-se de costas pro telefone. Fecha os olhos e dorme, exausto.


9:34 A.M.

Krycek dorme profundamente. A porta abre-se lentamente. Krycek continua dormindo. O vulto aproxima-se rapidamente da cama, colocando um travesseiro no rosto de Krycek. Ele pula, assustado, ofegante. Mulder se afasta rindo alto. Krycek passa as mãos nos cabelos.

KRYCEK: - Você não teve infância!

MULDER: - Não. Como adivinhou?

KRYCEK: - Que horas são?

MULDER: - Hora de acordar e tomar um delicioso café...

Mulder abre as cortinas. O sol entra. Krycek cerra os olhos, levando o braço ao rosto. Mulder abre a janela inspirando o ar da manhã num sorriso.

KRYCEK: - Que bicho te mordeu, Mulder?

MULDER: - Nenhum. Essa é a diferença. Dormi maravilhosamente bem. Nesse hotel, não tem pulgas. E nem você roncando no meu ouvido.

Krycek levanta-se indo pro banheiro.

KRYCEK: - Eu já disse que não ronco!

MULDER: - Vou comprar um gravador e colocar ao lado da sua cama. Vou ter provas pra incriminar você.

KRYCEK: - Vou te desafiar. Que tal uma partida de basquete quando voltarmos? Ahn?

MULDER: - Topo. Traga o seu time que eu levo o meu. Prepare-se pra perder.

Krycek coloca a cara pra fora do banheiro, todo sujo de creme de barbear. Aponta o barbeador pra Mulder.

KRYCEK: - Você vai ver, cara... Está pensando que vai ganhar dos russos?

MULDER: - Ahn, vocês são bons em ginástica olímpica e circo. Basquete é coisa de americano.

KRYCEK: - Tênis era coisa de americano... Que vergonha!

MULDER: - E daí? Futebol agora é coisa de francês.

KRYCEK: - É o que eu falo da globalização.

Mulder senta-se na cama.

MULDER: - Sabe de uma coisa, rato? Eu me pego várias vezes pensando comigo mesmo... Como é grande este planeta. Quantas raças diferentes habitam nele. Cada cultura com sua peculiaridade. Cada país com sua história. Cada lugar mais lindo do que o outro... Mares, terras, neve, deserto... Climas diferentes... Costumes, crenças, cores diferentes... Mas tem uma coisa que não muda entre nenhum povo.

Mulder levanta-se. Escora-se na porta do banheiro. Krycek continua fazendo a barba.

MULDER: - Todos buscam a felicidade. Pode parecer coisa de fã de John Lennon, mas eu penso que é tanta mesquinharia... Tanta injustiça. Tanta violência desnecessária... A humanidade poderia viver em paz consigo mesma. Tipo aquelas cidades interioranas onde todo mundo que passa sorri e pergunta como você vai. Aliás, o 'como você vai' significa 'me preocupo com você, eu gosto de você'... Tem uma coisa que Albert Camus falou sobre flagelos. Mas ele esqueceu de dizer que é nos flagelos que vemos o quanto o ser humano se preocupa uns com os outros. O quanto ele é solidário...

KRYCEK: - Você é utópico, Mulder... Cabeças diferentes nunca coabitarão num mesmo espaço sem desentendimento.

MULDER: - Não, não me refiro a isso. Deve haver o desentendimento, dele surge a compreensão. Dele surge outros lados que estavam ocultos. Mas devia haver paz. Você sair na rua e saber que não vai tomar um tiro num assalto, porque não há assaltantes. Eles têm empregos... Não vai haver mendigos, eles terão chances. Não vai ouvir coisas como 'ei negro, ei judeu, ei árabe, ei protestante'... num sentido pejorativo.

Krycek olha pra ele, incrédulo.

KRYCEK: - Está me falando da teoria do comunismo, seu capitalista?

MULDER: - Não. Estou falando de igualdade. De liberdade. Democracia verdadeira e absoluta. Não apenas derrubar o muro simbólico. Mas o muro que existe dentro de nós mesmos.

KRYCEK: - Mulder, a teoria do comunismo é uma utopia. A teoria é bela, mas a prática nunca foi baseada na bela teoria. Eu voltaria pra Rússia. Sinto, ainda não me acostumei a chamar de 'Comunidade dos Estados Independentes'... Primeiro foram os czares. Depois Stalin... Vejo a juventude russa no McDonald's festejando, aquilo é um hábito, eles não se questionam de o quê aconteceu pra que agora eles pudessem saborear um hambúrguer... Eles não sabem quantos morreram lutando pela liberdade. Pra eles a princesa Anastácia é uma ficção criada por Walt Disney... Me lembro que quando eu era garoto não sabia o que era o gosto da Coca-Cola e ficava sonhando com isso enquanto folheava uma revista americana contrabandeada pelo meu pai... Olhava as fotos dos rapazes de jeans, gel no cabelo, os discos de rock... Depois tinha que tomar o cuidado de esconder a revista debaixo do assoalho de madeira da casa... Então sentava, pegava a balalaica e tentava tocar Kalinka...

MULDER: - ... (OLHA PRA ELE ENTRISTECIDO)

KRYCEK: - Uma música difícil que se eu não conseguisse tocar, nunca conseguiria passar no teste da Filarmônica de Moscou e era a minha única chance de ser alguém, de tirar minha família daquela droga de vida, apesar de que eu detestava balalaica... (SORRI CHATEADO) Nunca passei... Se tivesse passado não estaria aqui com você.

MULDER: - ... (TRISTE)

KRYCEK: - Mas eu ficava imaginando como seria você entrar numa loja e comprar tudo o que quisesse... Essa coisa de sair na rua e poder gritar: o governo está errado! Sem tomar um tiro ou apanhar numa prisão russa até morrer de fome e maus tratos... O que me preocupa é a falta de memória... Um povo sem memória é um povo que retorna aos erros. E os russos estão perdendo sua memória.

MULDER: - Será? Estamos na Alemanha e você vê jovens com a bandeira de Hitler... Não sei, mas eu não gosto daqui... Eu sei que não tem nada a ver, que foi passado, que a Alemanha de hoje é um país aberto e receptivo, o povo é cordial, mas... É uma coisa que não sei explicar.

KRYCEK: - Você não é o único. Eu me sinto mal na Alemanha. E nem é pelo povo, pela história. É só um calafrio na espinha. Sei lá.

MULDER: - Não me chame de doido. Mas eu fui dar uma volta por aí e... Sabe quando você vê um lugar pela primeira vez em sua vida, mas parece que já o viu antes... Passei por uma ruazinha com flores na calçada e pensei: o segundo prédio à esquerda com a placa de bronze. Cara tinha um prédio com a placa de bronze! Eu não entendo alemão pra saber o que era, mas tomei nota. Fiquei curioso... Bom, vou me arrumar. Vamos tomar um café da manhã decente... A propósito, você fala alemão?

KRYCEK: - Não tem muita diferença pro inglês. É só chiar e cuspir.

Mulder sai rindo. Krycek sorri, abaixa a cabeça e lava o rosto.

BLOCO 4:

10:11 A.M.

Mulder sentado num restaurante ao ar livre. Fala ao telefone, enquanto olha para o relógio.

MULDER: - Acho que as coisas não deram certo pra ele. Digamos que uma avalanche inusitada acabou soterrando os planos... Sim, está aqui, numa outra mesa, lendo o jornal e comendo alguma coisa... Não, ele está de mau humor hoje... Eu digo.

Mulder desliga. Levanta-se. Aproxima-se de Krycek sentado a uma mesa. Krycek num terno bem alinhado. Mulder puxa a cadeira e senta-se.

MULDER: - O que está lendo?

KRYCEK: - (BOCA CHEIA) Sobre como conquistar uma mulher indecisa.

MULDER: - Meninos maus não conquistam mulheres difíceis.

KRYCEK: - Não pense que você é um menino bonzinho. Dentro de você tem um menino muito mal. Ou não estaria aqui comigo fazendo essas coisas.

MULDER: - Não se preocupe, já fiz uma lista dos meus pecados. Num rolo de papel higiênico. Vou deixar no muro das lamentações.

Krycek sorri. Fecha o jornal. Olha pra Mulder.

KRYCEK: - Marita não dormiu em casa.

MULDER: - ... Talvez estivesse trabalhando.

KRYCEK: - Não. Liguei pra lá também.

MULDER: - O Canceroso ligou. Nos mandou fazer o serviço hoje e voltar amanhã. É, mas antes de ir pra casa temos uma coisinha pra fazer em Miami. E o pior é que tenho que voltar ao FBI... Devem estar loucos lá dentro. Fui viajar pra Nebraska atrás de um espectro e ainda não dei notícias. Skinner já deve ter colocado até a CIA atrás de mim.

KRYCEK: - Não se preocupe... Se incomodarem, eu cutuco o Carter com uma arma... Ele não está apenas na sua lista negra. Está na minha também... Quer saber, Mulder? Perdi o apetite. Vamos tomar uma cerveja. Vir pra Alemanha e não tomar uma cervejinha é pecado mortal. Depois a gente faz a faxina do dia... Isso é fácil, é só vigiar o chanceler e entregar a mercadoria pra ele.

Os dois levantam-se.


12:19 P.M.

Mulder e Krycek sentados num bar, tomando cerveja.

KRYCEK: - Eu só saio daqui amanhã cedo. Ponto final. Vamos descansar. Admire essa paisagem.

MULDER: - É, também não quero voltar pra América virado num bagaço... Tenho coisas importantes a fazer por lá que exigem minha atenção total...

A loira passa por eles. Os dois olham ao mesmo tempo.

MULDER: - Rapaz! ... Que saúde!

KRYCEK: - Que pernas! Ei Fraulëin, vem aqui vem, benzinho...

MULDER: - Hum, tem certeza de que ela não fala a nossa língua? Eu tô fora, já passei vergonha uma vez! Não mexo mais com mulher de fora do meu país.

KRYCEK: - Você nem sabe por onde começaria ali. É muita coisa pra você dar conta. Isso é coisa pra russo.

MULDER: - Ah não acredite, eu sou um cara responsável. Quando assumo um trabalho, pode ser cansativo, mas eu dou conta.

KRYCEK: - Você é muito mau, Mulder... Consegue ser mais pervertido do que eu! ... (OLHA PRO RELÓGIO) Mulder, tá na hora. Vamos voltar pro hotel, trocar de roupa e encontrar o chanceler.

MULDER: - Quem entrega o pacote?

KRYCEK: - Você. Eu fico ao longe observando de binóculo com o rifle. Se alguém aparecer fora do que planejamos, sai correndo. Vou meter bala.


3:17 P.M.

Mulder, sentado num monumento. Escreve algo numa folha, disfarçadamente, enquanto fala ao telefone.

MULDER: - Nada ainda. Quinze minutos de atraso.

Corta pra Krycek que observa pelo binóculo, sentado no alto de um prédio em reforma. O celular ao ouvido.

KRYCEK: - Estou achando estranho...

Corta pra Mulder.

MULDER: - Acha que esse cara nos trairia?

KRYCEK (OFF): - Não confie em ninguém, já sabe o primeiro mandamento da seita do Canceroso.

Mulder desliga o telefone. Disfarça que escreve alguma coisa, enquanto observa pra todos os lados com os olhos atentos. A limusine preta estaciona. Um velho bem vestido desce, ajeitando o paletó, procurando Mulder com os olhos. Mulder ergue a cabeça. O velho aproxima-se dele.

VELHO: - Me diga um número rapaz.

MULDER: - Sete é o número.

VELHO: - (SORRI/ OLHANDO PRA TODOS OS LADOS) Trouxe a mercadoria?

Mulder retira um papel dobrado do meio das folhas em que escrevia. Entrega pra ele. O velho rapidamente coloca no bolso.

VELHO: - Diga a ele que em menos de 10 dias o problema será resolvido. A questão dos Alpes não foi solucionada. Dr. Mengele se safou.

O velho afasta-se e entra na limusine. Mulder levanta-se rapidamente e sai dali. Puxa o celular. Aperta uma tecla.

MULDER: - Entreguei rato. Mas Strughold ainda está vivo.


Miami – Flórida – USA – 12:07 P.M.

[Som: Bad Boys – Inner Circle]

Mulder dirige o conversível. Para na faixa de segurança. Os pedestres passam. Krycek ao lado dele olha pro mapa. Os dois vestidos como turistas, em camisas coloridas.

KRYCEK: - Acho que agora você deve pegar a direita... Meu Deus!

Os dois acompanham alguma coisa num assovio descarado em coro.

MULDER: - Você viu aquilo?

KRYCEK: - ... Precisaria parar pra comprar biscoitos...

MULDER: - Mais um pouco e sai pra fora do biquíni...

KRYCEK: - Adoro a Flórida!

MULDER: - Aposto que em Moscou elas não andam assim.

KRYCEK: - Por que acha que vim pra cá? Pra cheirar fumaça de cigarro???

Mulder olha pra ele dando uma risada sacana.

MULDER: - Direita?

KRYCEK: - Exatamente. Mas se quiser ir pra esquerda, atrás da loira, acho que a missão pode esperar...

MULDER: - Se eu for atrás da loira, você perde a paquera pra mim.

KRYCEK: - (RINDO) Como você é idiota! Acha que entre nós dois ela optaria por você?

MULDER: - Claro. Elas não resistem a minha carinha de pidão.

KRYCEK: - Mulheres não gostam de carinha de criança. Querem um rosto másculo como o meu.

MULDER: - Além de feio você é convencido!

KRYCEK: - Deveria comprar um espelho, Mulder.

Krycek puxa a arma da cintura. Verifica as balas.

KRYCEK: - ... Cadê a bomba?

MULDER: - Na sacola. E toma cuidado com isso, seu idiota! O laboratório está vazio?

KRYCEK: - Ora Mulder, que mania! Se estiver vazio ou cheio, temos que matar os homens de Strughold.

MULDER: - É mas sempre tem gente inocente nisso.

KRYCEK: - Você é chato, sabia? O verdadeiro chato.

MULDER: - Está vazio ou não? Eu vou verificar primeiro.

KRYCEK: - Está vazio. É meio dia, todos foram almoçar. E por favor, não dá uma de Rambo dessa vez. E nem somos Tango e Cash.

MULDER: - Eu? Rambo? Você é que se empolga e sai metendo bala em todo mundo!!!

KRYCEK: - Eu? Quem é que saiu atirando até nas plantas no meio do deserto do Kalahari gritando desesperado 'tem uma girafa atrás de mim, ela vai me devorar!!!'...

MULDER: - Ah, tá bom, vai começar, ô Magnun russo? Só tá faltando o bigode cafona.

KRYCEK: - Depois fica me acusando de ser cinéfilo! Você é devorador de enlatados americanos!

MULDER: - Pra seu governo minha série preferida é o Comissário Rex. E essa é da Alemanha.

KRYCEK: - Comissário Rex... Ahn! Admita, você assiste O toque de um anjo e chora a cada episódio! Você tem tara pela Oprah!

MULDER: - Eu? Sou eu por acaso que ficou mais de uma hora falando empolgado sobre um episódio de Full House?

KRYCEK: - Não. Mas ficou mais de uma hora falando sobre a Ru Paul. Admita, Mulder, você é gay enrustido.

MULDER: - Gay é você com esse brinquinho na orelha.

KRYCEK: - Mulder, Mulder... Não atire pedra se tem telhado de vidro. Já te vi de brinquinho por aí...

Mulder para o carro.

MULDER: - É aqui?

KRYCEK: - Pelo mapa...

MULDER: - Isso aqui é um laboratório? Tem certeza?

KRYCEK: - Aqui diz que sim.

MULDER: - Mas é uma agência de turismo!

KRYCEK: - Fachada.

MULDER: - Me deixa ver esse mapa, você não sabe ler inglês.

Krycek olha pra ele incrédulo. Mulder puxa o mapa da mão de Krycek.

KRYCEK: - E então, espertalhão?

MULDER: - É... É aqui... Quem sabe eu desço e verifico?

KRYCEK: - E o que vai dizer? Eu quero comprar duas passagens pra um laboratório clandestino aí atrás?

Os dois descem. Krycek carrega uma sacola. Entram na agência. Uma mulher os observa.

MULDER: - O que vamos dizer?

KRYCEK: - Queremos ver um roteiro pra nossa lua de mel???

Mulder o fulmina com os olhos. Os dois se aproximam da mesa. Sentam-se.

RECEPCIONISTA: - Pois não?

KRYCEK: - Queremos fazer uma viagem interessante.

RECEPCIONISTA: - Algum roteiro em mente? Seria uma viagem pra vocês dois?

KRYCEK: - (DEBOCHADO) Sim, nos casamos há pouco.

Mulder olha pra ele, em pânico. Krycek segura o riso. A mulher olha pra eles, desconcertada.

RECEPCIONISTA: - B-bem... E-eu... Meus parabéns.

MULDER: - (DEBOCHADO/ APONTA PRO OUTRO) Ele é a noiva.

Krycek olha indignado pra Mulder.

RECEPCIONISTA: - Bom... eu indicaria uma viagem a...

MULDER: - Moça, pra dizer a verdade, vocês é que vão viajar em menos de cinco minutos. Pro além.

Krycek olha pra Mulder. A mulher arregala os olhos.

MULDER: - Saia daqui!!!!!

Ela levanta-se apavorada e sai correndo aos gritos. Krycek olha pra Mulder.

KRYCEK: - (INDIGNADO) Por que tem que fazer isso sempre?

MULDER: - Ora, ela é uma mulher. Apenas uma recepcionista tentando ganhar a vida honestamente.

KRYCEK: - Sim, e em cinco minutos chega um bando de tiras aqui e desarmam essa merda.

MULDER: - Não vão ter tempo. Esconde isso aí no meio das plantas.

Krycek coloca a sacola com a bomba entre algumas plantas. Os dois saem discretamente. Param na calçada.

KRYCEK: - Você é um imbecil. Eu vou relatar isso.

MULDER: - Gente inocente não deve morrer! O acordo foi esse entre nós dois! E você não está cumprindo porque atirou naquele policial italiano e no miserável do segurança suíço.

KRYCEK: - Você é coração mole, Mulder! É por isso que não serve pra esse tipo de serviço.

MULDER: - Ah é? Ou será que você não tem um instinto genocida? Ahn?

KRYCEK: - Ora cale essa boca!

MULDER: - Cale você, estou cheio de você! Quero divórcio!

KRYCEK: - Ah e eu? E eu que tenho que aguentar suas piadas sem graça a viagem toda? Eu não sou a pobre infeliz da Scully!!!!!! Não sou do FBI, não sou seu parceiro!

MULDER: - Ah, são sem graça? Por que não conta piadas melhores então? Ou porque não faz como nos velhos tempos de FBI e fica me falando de estatísticas de pessoas que morrem no trânsito por causa de sono?

KRYCEK: - Ah, vai começar?

MULDER: - Não, estou até terminando!

Corta para o prédio que explode. Os vidros estilhaçam, jogando os dois pra longe, dentro do carro conversível.

Mulder levanta-se, do banco do carona. Ergue o rosto, todo chamuscado. Olha indignado pra Krycek. Krycek levanta-se do banco de trás, cabelos arrepiados, camisa rasgada, todo chamuscado também.

MULDER: - (AOS BERROS/ FURIOSO) E além de não saber ler, não sabe horários em inglês!

KRYCEK: - Eu programei aquilo pra 12:16!!!!!!!

MULDER: - E se lembrou que aqui tem diferença de fuso?

KRYCEK: - Ei, a culpa não foi minha!

MULDER: - Russo imbecil! Podia ter nos matado!

KRYCEK: - Ah é? Pois por que você não programou aquela droga?

MULDER: - Eu vou te esganar... Arghhhhhhhhh

Mulder começa a sacudir Krycek pelo pescoço.

Som da sirene dos bombeiros.

KRYCEK: - (ASFIXIANDO-SE) Os tiras! Cof Cof... Os tiras!

Mulder o solta. Pula pro banco do motorista e liga o carro. Arranca violentamente. Krycek quase cai pra fora do carro.

MULDER: - Seu imbecil!

KRYCEK: - É? Mas quem foi que salvou sua pele lá na base árabe?

MULDER: - Não está dizendo que você salvou minha pele! Você salvou a sua, seu rato sujo!

KRYCEK: - E você, por acaso está muito limpo pra me chamar de sujo?

Krycek pula pro banco da frente.

MULDER: - Precisamos de um hotel. Preciso de um banho. De roupas limpas.

KRYCEK: - Já notou como você resmunga? Parece uma velha! Ai minha roupa, ai meu cabelo... Você é chato! Chato e fresco!

MULDER: - Eu não estou acostumado com essas coisas!

KRYCEK: - Como não? Olha vou te dizer uma coisa. Quando o conheci, você era um bagunceiro, sedentário, relaxado. Acho que a Scully é que deixou você assim todo fresco e cheio de mania! Pra quem comia sentado no sofá, dormia no sofá cheio de farelos e deixava roupas pela casa você tá muito fresco!

MULDER: - Eu vou dizer quem é fresco aqui! Você é que não tem boas maneiras! E tá fedendo ainda por cima.

Krycek cheira a camisa esburacada.

KRYCEK: - Não tô fedendo nada!

MULDER: - Tá fedendo sim!

Eles continuam discutindo feito duas crianças.


Hotel Las Palmas - 1:21 P.M.

Mulder come sementes de girassol. Observa pela janela do quarto.

MULDER: - Muito estranho. Tem um furgão estacionado ali há mais de 10 minutos... Tá me ouvindo?

KRYCEK: - (GRITA) O que estão fazendo?

MULDER: - Por enquanto nada...

Mulder afasta-se da janela. Entra no banheiro. Krycek sentado no balcão do banheiro, enrolado numa toalha, cortando as unhas do pé. Olha-se no espelho.

KRYCEK: - Estou irresistível hoje. Não tem concorrente.

MULDER: - (INCRÉDULO) O que está fazendo? Isso é hora pra cortar unhas?

KRYCEK: - Não sabia que tinha hora certa pra cortar unhas.

MULDER: - Ah, depois eu que sou vaidoso e fresco!

KRYCEK: - Deixa de ser chato Mulder. Vai botar uma mulher nesse corpo que acaba esse ranço!

Krycek pega o telefone. Disca um número.

KRYCEK: - (GALANTEADOR) Boa tarde... É a senhorita... Puxa, me esqueci do seu nome, mas é aquela moreninha jamaicana do sorriso doce... Trancinhas no cabelo... A mais linda da recepção...

Mulder olha pra ele incrédulo.

KRYCEK: - Aqui é o Alex, do quarto 33... Eu... Eu queria pedir um favor pra você. O amigo que veio comigo tem uns amigos que são muito barulhentos, sabe? Não gosto deles e infelizmente eles virão aqui. Se alguém aparecer por aí, não diga que estou hospedado neste hotel. Mande eles direto pro quarto do meu amigo... Obrigado, Jenny... Você merece rosas...

Krycek desliga. Mulder continua catatônico.

KRYCEK: - Se eles subirem, vamos ouvir a porta do seu quarto. E damos o fora pela janela.

MULDER: - É assim que consegue favores?

KRYCEK: - (DEBOCHADO) Depois eu mando as rosas.

MULDER: - (INDIGNADO) Ahhh!! Você me irrita.

KRYCEK: - Por quê? Por que me dou bem com as mulheres e você não? Talvez seja porque eu corto as unhas!

MULDER: - Ah tá legal! Eu não corto as minhas. Por isso meus sapatos são tão grandes!

Mulder volta pro quarto. Olha pela janela.

[Som do chuveiro sendo ligado]

KRYCEK: - (GRITA) Mulder, você precisa fazer uma plástica! Existem bons médicos por aí que reduzem o tamanho do nariz.

Mulder entra no banheiro enfurecido.

MULDER: - (IRRITADO) Olha aqui rato, não adianta ficar se empetecando todo porque a Marita não está te esperando hoje. Vai chegar lá e flagra-la com um velho que poderia ser o pai dela. E sabe por quê?

Krycek põe a cabeça pra fora do box. Cabelos escorrendo água.

KRYCEK: - Por quê?

MULDER: - Porque você é feio. Você não tem nada que chame a atenção de uma mulher.

KRYCEK: - E você tem? Bem você tem algo que chama a atenção das mulheres de cara. O nariz do Pinóquio!

Krycek fecha a porta do box gargalhando. Mulder fica furioso.

MULDER: - Pois saiba que eu tenho outras qualidades. Sou um cara honesto, trabalhador...

KRYCEK: - Marido!

MULDER: - Sou educado, culto, bem vestido...

KRYCEK: - Marido!

MULDER: - Quer calar essa boca?

KRYCEK: - Marido, marido, marido!!!!

Mulder abre o zíper das calças e se aproxima do vaso.

MULDER: - Tudo bem eu sou marido. Eu admito! Mas isso não significa que eu não possa ser um grande amante. Maridos podem ser amantes também.

KRYCEK: - Já te disse que existem dois tipos de homens, Mulder. Os maridos e os amantes. E você é marido, nasceu marido e vai morrer marido. Não tem meio termo.

Krycek abre a porta do box e mete a cabeça pra fora, todo cheio de xampu.

KRYCEK: - Mulder, não aprendeu ainda que... (ARREGALA OS OLHOS) Pelo amor de deus! Isso é natural ou é implante? (FECHA A PORTA DO BOX) ... Tá bom, Mulder, esqueça o que eu disse. Você tem um grande potencial pra amante. Mas saiba que o tamanho não significa nada. O que importa é o desempenho.

Mulder fecha o zíper das calças e caminha até a pia. Krycek começa a cantarolar 'Boys don't cry' do The Cure. Mulder desliga a torneira. Pressente algo.

MULDER: - Rato, cale a boca...

KRYCEK: - Já vai começar?

MULDER: - Sai do chuveiro. Tem gente aí fora.

Mulder seca as mãos rapidamente e corre até o quarto. Pega a arma do coldre. Krycek sai nu do banheiro todo molhado, procurando as roupas. Mulder encosta a orelha contra a porta, com a arma em punho. Krycek veste-se rapidamente. Mulder olha pra ele incrédulo.

MULDER: - Eu hein? E ainda fala de mim! Cruzes!

Krycek fechando as calças e correndo até a janela. Mete a cabeça e olha pra fora.

KRYCEK: - Estão no seu quarto.... (IRRITADO) Merda! Achei que fosse paranoia sua.

Krycek pega a arma. Mulder afasta-se da porta. A maçaneta gira rapidamente. Os dois miram na porta. A porta abre-se num supetão com dois caras enormes segurando automáticas. Ao verem Mulder e Krycek apontam as armas.

MULDER: - Estamos num empate...

Krycek olha pra Mulder sorrindo.

KRYCEK: - O que acha Mulder?

MULDER: - Acho que tenho o fígado de um na minha mira.

KRYCEK: - Eu tenho a cabeça do outro. Vamos?

Os dois grandões se entreolham. Ameaçam largar as armas, tentando enganar Mulder e Krycek. Mas não tem tempo de atirarem, Mulder e Krycek começam a disparar deixando os dois mortos no chão. Krycek pega suas roupas e vai jogando na mochila.

KRYCEK: - Pegue suas coisas Mulder. Vamos dar o fora daqui! Os tiras vão chegar logo.

Mulder sai correndo do quarto.


Aeroporto de Miami – 2:46 P.M.

Krycek e Mulder pegam as passagens no balcão. A atendente dá um sorriso pros dois. Eles se afastam.

MULDER: - Foi pra mim, russo.

KRYCEK: - Foi nada, foi pra mim, yankee.

Os dois param. Ficam de frente um pro outro.

MULDER: - Espero que eu tenha descanso dessa sua cara idiota por uns tempos.

KRYCEK: - Idem. Foi um desprazer.

MULDER: - Recíproco...

KRYCEK: - Ah eu sei que vai chorar a minha falta. Mas se sentir saudades da minha voz cantando Kalinka, me ligue.

MULDER: - Não vou sentir saudades de você. Você é que vai sentir falta dos meus resmungos... Pra onde vai?

KRYCEK: - Nova Iorque. Entregar o relatório 'no museu das múmias'.

MULDER: - Boa viagem.

KRYCEK: - Boa viagem até Washington.

Os dois se separam. Um para cada lado, com um sorriso.


Virgínia – 5:21 P.M.

O carro preto para em frente a casa, chamando a atenção de Nancy, que está na janela. Mulder desce do carro, num terno impecável, ajeitando a gravata.

NANCY: - George, George! O safado do amante médico voltou! Quero só ver se vai assumir a barriga da coitada! Esses homens são uns canalhas mesmo. Fazem filhos como se fizessem strikes de boliche! Ahn! Não me admira que a enrolou, ele é bem apanhado... Estou achado que a coitada é inocente nisso. Ele a engrupiu! George???

George cochila na poltrona aos roncos, de boca aberta, cuecas, camiseta regata e cercado de long necks de cerveja.

Corta pra Mulder. Ele abre o porta malas retirando um rádio gravador. E um violão. Uma fisionomia matreira. Fecha o porta malas e entra no jardim. Nancy vai pra outra janela pra ver melhor.

Mulder larga o rádio gravador atrás de um arbusto embaixo da sacada. Ajeita o terno. Prepara o violão, quase o derrubando no chão. Ajeita-se novamente. Aperta a tecla play.

[Som: Eros Ramazzotti - Più Bella Cosa]

Mulder segura o violão, fingindo tocar. Mexe a boca tentando dublar um italiano todo errado. No violão o nome 'Dana' estampado.

Scully sai na varanda, curiosa. Olha pra baixo. Abre um sorriso incrédulo. Mulder começa a afinar o violão no meio da música. Ela ri.

A corda arrebenta. Ele põe uma das mãos na cintura, mordendo os lábios, olhando pro lado, indignado. Scully rindo. Ele faz uma cara debochada.

Mulder morde a língua, faz trejeitos de roqueiro. Scully ri, apaixonada. Mulder olha pra dentro do violão, tentando tirar a palheta que caiu. Scully põe as mãos nos lábios, mal se aguenta de tanto rir. Ele atira o violão no jardim e finge tocar com as mãos. Mais trejeitos, cara debochada, fazendo palhaçada pra ela. Scully sai da varanda rapidamente, rindo. Mulder continua fingindo cantar e dançar. Então flagra a vizinha na janela. Debochado, vira o traseiro pra ela rebolando. Ela apavorada, fecha as cortinas. Mulder dá um sorriso deslavado. A porta abre-se. Scully olha pra ele.

SCULLY: - (DEBOCHADA) Ok, Eros Ramazzotti... Entre. Meu marido está viajando... Trouxe meus CDs?

MULDER: - Primeiro me diga uma coisa. Eu tenho cara de marido ou de amante?

SCULLY: - ???... Acho que você é um ótimo marido e um ótimo amante. Mas tem cara de marido.

MULDER: - (PÂNICO) 'Até tu Brutus'???

Mulder aproxima-se dela. A puxa pra fora, dançando com ela. Scully olha pra ele, preocupada.

SCULLY: - Está bem, inteiro, não te feriram?

MULDER: - Estou ótimo agora. Estou com você.

SCULLY: - (RINDO) Eu amo você... Palhaço da minha vida. Só você pra me fazer rir mesmo.

Os dois trocam um beijo apaixonado, se abraçando com força. Mulder recua a cintura pra trás, dando espaço pra barriga de Scully. Ela ri. Ele afaga a barriga dela.


New York – 7:12 P.M.

[Som: Kalinka – Orquestra Filarmônica de Moscou]

Krycek sentado na varanda, observando o céu. Ao lado dele um copo de vinho sobre a mesinha. A porta da varanda abre-se. Marita surge.

MARITA: - Não sabia que você chegaria hoje... Por que está ouvindo isso?

KRYCEK: - Porque eu gosto.

MARITA: - Pensei que só ouvisse isso quando está triste.

KRYCEK: - Desde quando sabe de mim?

Marita esfrega o braço com frio, ignorando o comentário. Krycek pega o copo de vinho, sem olhar pra ela. Sério, magoado.

KRYCEK: - Onde dormiu nas últimas noites?

MARITA: - Por quê?

KRYCEK: - Liguei pra você em seu apartamento, no sindicato...

MARITA: - Nunca iria me encontrar. Eu dormi aqui.

Krycek olha pra ela, incrédulo.

KRYCEK: - ... Por que dormiu aqui?

MARITA: - Estava enjoada do meu apartamento. Preciso ter motivo pra dormir no seu apartamento?

KRYCEK: - Essa é a verdade?

Marita aproxima-se das grades da varanda. Apoia-se. Olha pro céu.

MARITA: - A verdade, Alex... É grande demais pra você entender... Se não está a fim eu vou embora. Nos vemos amanhã.

Marita afasta-se das grades e caminha em direção à porta.

KRYCEK: - Espera aí.

Marita para. Olha pra ele. Krycek abaixa a cabeça.

KRYCEK: - Eu... Eu pensei em você todos esses dias.

MARITA: - Acha que devemos terminar?

KRYCEK: - Por que você fica esperando que eu decida tudo? Pra você basta? Quer terminar?

MARITA: - Terminar o quê, Alex? Nunca começamos nada. Não há o que terminar. Vou entrar, estou com frio.

KRYCEK: - Espera.

Marita olha pra ele. Krycek estende a mão pra ela. Marita olha pra ele sem entender. Mas aproxima-se. Ele a puxa pra sentar-se em seu colo, colocando a jaqueta nos ombros dela. Marita está sem reação. Krycek a abraça, recostando-a contra seu corpo, esquentando-a. Beija os cabelos dela.

KRYCEK: - Sartre tinha razão quando disse que os amigos não são amigos. Seus inimigos são mais amigos, pois são sinceros, te odeiam e por isso jogam as verdades em sua cara.

MARITA: - ...

KRYCEK: - ... Me perdoa. Eu errei com você.

Marita continua sem reação alguma. Apenas derruba lágrimas de quem não acredita no que escutou. Recosta a cabeça no ombro dele e chora calada, enquanto ele, de olhos fechados, faz carinhos nos cabelos dela.


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02/09/2001

22. August 2019 02:08 5 Bericht Einbetten Follow einer Story
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Das Ende

Über den Autor

Lara One As fanfics da L. One são escritas em forma de roteiro adaptado, em episódios e dispostas por temporadas, como uma série de verdade. Uma alternativa shipper à mitologia da série de televisão Arquivo X.

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Karimy Lubarino Karimy Lubarino
Olá, autora! Acho que teve um probleminha ao publicar esta história.
December 18, 2019, 14:27

  • Lara One Lara One
    Oi, me informa o probleminha pq os meus leitores não querem perdem a sequência das histórias. December 18, 2019, 16:18
  • Karimy Lubarino Karimy Lubarino
    Então, como expliquei no comentário que fiz na sua outra história, você pode confirmar que o site salvou seu capítulo ao clicar em "Salvar", na página de edição. December 18, 2019, 16:20
  • Lara One Lara One
    Valeu!!! Vou arrumar isso!!! Bjus!!! December 18, 2019, 16:22
  • Karimy Lubarino Karimy Lubarino
    Beijos! December 18, 2019, 16:22
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