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Tori A.


''Alfred parecia se divertir perseguindo seu próprio rabo. Não pude conter o riso. - Vamos voltar caro amigo? Não quero acabar com sua diversão mas o dia será cheio hoje, principalmente para o senhor.''


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Alfred, amigo

Já perdi as contas de quantas vezes me revirei esta noite, são três da manhã e não prego os olhos há trinta e duas horas. Helena insiste em dizer que é excesso de cafeina. Ela se levanta e abre a janela - Ar fresco sempre ajuda - Diz ela.

- Quem sabe, não é mesmo?

Me levanto, calço as botas e saio para andar com Alfred.

- Sabe, amigo, você é o único que me entende. - Sem soltar um só ruído, ele me olha e lambe suas patas. - Ou não, é claro, mas de todos desta cidade, apenas eu e você possuímos hábitos noturnos.

Uma breve pausa silenciosa surge entre nos dois.

- Eu deveria ter feito mais, caro amigo, olhe para Helena, ela parece feliz com a vida que tem - Alfred solta um granido e me olha com seus olhos tortos - Você também, é claro. Tem um estoque vitalício de comida, brinquedos de todos os tipo e uma bela cama para dividir conosco. Mas é claro que isso não te torna feliz, não é mesmo? Não há espaço para correr ou para caçar pombos, ou seja lá o que você goste. - O céu estava começando a clarear, pássaros a cantarolar e Alfred a ficar impaciente. - Quero dizer, você sente que está tudo completo? Que todos os brinquedos que possui te faz feliz? Ou acha que lhe falta algo? - Suspirei - Eu poderia ter feito qualquer coisa meu caro, mas cá estou, tive medo das tentativas e do fracasso, agora me contento com quatro ossos e uma meia. - Alfred pareceu confuso com tudo aquilo, não posso culpá-lo, naquela altura até eu estava.

Respirei fundo novamente, o céu estava razoavelmente limpo - Um belo dia hoje - Pensei.

Me levantei e segui o mesmo caminho até a entrada da casa em que morava há trinta e cinco anos.- Trinta e cinco! pode imaginar? - É claro que não podia, provavelmente não compreendia uma palavra do que eu dizia.

- Se Helena estivesse acordada diria ''Pare de chatear o cachorro, querido'' - Soltei uma gargalhada com o tom exato de sua voz. - Não me olhe assim, meu caro, nós dois sabemos que ela esta certa. - Deixei Alfred cheirar as flores enquanto observava a rua vazia.

Todas as casas pareciam exatamente iguais á trinta anos atrás, as mesmas cores, o mesmo jardim.

- Vamos andar mais um pouco, meu caro. - Alfred parece ter se alegrado com a notícia, os passeios noturnos eram uma das poucas vezes em que Alfred saía para o mundo, '' coitado ''. - Sabe amigo, não me arrependo do que fiz, me arrependo do que deixei de fazer. Isso parece confuso, eu sei. Mas é a mais pura verdade.

Olhei para o céu novamente, como se todas as respostas estivessem escritas por lá.

- Morei neste mesmo bairro minha vida toda, esta vendo? - Apontei para uma casa a alguns quarteirões de distância. - Nasci e cresci bem a li, assim que me casei com Helena não quis, ir para muito longe. Ela tinha planos, sabe? E deixou todos eles para trás por minha causa, hoje me pergunto se ela fez o certo.

Alfred parecia se divertir perseguindo seu próprio rabo. Não pude conter o riso. - Vamos voltar, caro amigo? Não quero acabar com sua diversão, mas o dia será cheio hoje, principalmente para o senhor.

Helena me esperava na porta de entrada vestindo seu roupão preferido, com uma xícara imensa de chá nas mãos

- Sem café?

- Hoje não, querido - Disse ela, sorrindo.

Soltei Alfred da coleira. Ainda pensativo repousei a xícara sobre a mesa e observei Helena lavar a louça do café.

- Querida? Acha que fez o certo?

- Preferia de hortelã?

- Não, não. - Dei uma golada - Digo, em se casar comigo, em fazer as escolhas que fez.

- Então, é com isso que veio chateando o cachorro ? - Disse ela sorrindo. - Não me arrependo de nada querido, eu não poderia ter escolhido vida melhor, tenho você, Alfred e lindos filhos. - Sorri - Toda essa preocupação, algo haver com o dia de hoje?

- Talvez. - Olhei para uma foto de família, eu, Helena, Alfred e nossos dois filhos Mark e Anne. - É um dia especial para Anne, não quero que ela se arrependa de nada no futuro.

- E você se arrepende ? - Perguntou Helena pegando Alfred no colo.

- Talvez, eu acho - Olhei novamente para a foto de família. - Na verdade não - Corrigi - Apenas faria as coisas de modo diferente. Não teria comprado uma casa dois quarteirões de minha mãe, por exemplo.

Observei Helena pôr uma gravata em nosso cachorro, hoje ele levará as alianças de Anne e seu futuro marido. Toda minha insônia e preocupação faziam sentido afinal.

Helena sorriu.

- E ela não ira cometer o mesmo erro. - Disse rindo.

Olhei para Alfred.

- Amigo, você esta ridículo. - Nem um dos dois pareceu se importar. Helena subiu as escadas cantarolando e Alfred parecia entretido com seu novo apetrecho.

Olhei para fora novamente, a cidade começava a acordar. O sol anunciava sua chegada, os vizinhos saíam para passear com seus cachorros e eu continuava a pensar sobre minha vida.

- Talvez Helena esteja certa, caro amigo - Olhei para minha xícara quase vazia. - Eu não poderia querer vida melhor. - Me levantei, peguei o casaco e joguei meu talão de cheques em cima da mesa. - Vou comprar a casa dos Wilters.

Decido, sorri e saí pela porta em direção á casa vizinha.

12. Februar 2019 22:16 0 Bericht Einbetten Follow einer Story
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Das Ende

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