fayecrys Fäye Crystal

E se alguém oferecesse uma chance de mudar a sua vida por completo com a condição de que abandonasse tudo o que conhece ou achava que conhecia, você aceitaria? Guinski fez sua escolha e agora terá que arcar com suas consequências. Um dia, quem sabe, ele talvez diga que teria feito tudo diferente mas a verdade é que ele não se arrependeu de sua escolha.


Romantik Romantische Spannung Nur für über 18-Jährige.

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O Sonho


"O sonho martelava a minha cabeça, queria fazê-lo parar. Entretanto, questiono a minha audácia de querer parar um sonho sob o qual não possuo controle."

Guinski andava pelas ruas à noite, tinha acabado de chover. Fumava um cigarro enquanto voltava para a sua casa alugada na Rua 27. Havia pouca iluminação naquela parte da cidade, a parte antiga. As casas eram amontoadas, pequenas e possuíam um estilo do século 19, algumas luzes estavam acesas e quando Guinski espiava pelas janelas todo o charme de viagem no tempo desaparecia. Ele via televisões, videogames e muita tecnologia.

Guinski gostava de sua nova casa, era pequena e discreta, ficava no fim da esquina e isolada dos grandes centros da cidade. Ele não podia reclamar de sua nova vida no Brasil, fez tudo o que podia para fugir de seus problemas nos Estados Unidos, apenas queria um pouco de paz.

Ele ficou de frente para a porta de sua casa, jogou o cigarro no chão, pegou a chave e entrou. Tinha um cheiro reconfortante, no entanto por mais que tentasse Guinski nunca achava um lugar para chamar de lar. Tirou seu casaco e o jogou no sofá, subiu as escadas e foi direto para o seu quarto acender a luz.

Preparou-se para dormir colocando seu pijama azul listrado. Guinski apagou a luz e deixou o luar penetrar seus aposentos, enquanto se deitava pensou ter visto uma silhueta do lado de fora de sua janela. Era um homem encostado em um poste de luz encarando a janela. Guinski ficou apreensivo e quando decidiu olhar mais de perto não havia mais ninguém lá, não conseguiu distinguir as feições do estranho mas sabia que ele tinha cabelos ondulados curtos.

Precavendo-se Guinski foi checar as trancas da porta de entrada e verificar se todas as janelas da casa estavam fechadas. Ele ficou acordado um pouco mais aquela noite, não conseguiu se decidir sobre o que fazer com o estranho, não sabia se era mais uma de suas paranoias de perseguição mas depois de Jacksonville Guinski jamais seria o mesmo.

Quando finalmente caiu no sono veio aquele sonho novamente...

Ele corria por uma floresta perdido com sons ensurdecedores por todos os lados, não foi capaz de discernir nada naquela confusão só sabia que tinha que correr mas por que estava correndo? Disso nem ele sabia, tinha algo a ver com um... como era mesmo? Seu corpo enquanto dormia se remexia intensamente na cama, o lençol e as cobertas estavam no chão e ele se debatia com o seu travesseiro. No sonho via um homem, um que deveria supostamente proteger, afinal toda vez em que Guinski sentia a presença dele vinha um sentimento de urgência e devoção, ele corria pela floresta junto com Guinski mas estava muito atrás. Dizia para fugir para as Pedras, dava direções para que ele não saísse do caminho.

Guinski acordou às quatro horas da manhã suando frio e agarrando seu travesseiro como se fosse um bichinho de pelúcia. Foi ao banheiro para vomitar, seu estômago estremecia.

Era o mesmo sonho desde que tinha 16 anos. O único que se repetia. É claro que ele tinha outros mas estes eram apenas variações do primeiro, via o homem que deveria proteger se transformar repentinamente em uma mulher, que também deveria proteger. Uma flor vermelha brilhando na escuridão. Guinski poderia ser considerado um maluco se contasse tudo o que já sonhou à alguém.

Ele se levantou e a primeira coisa que fez foi arrumar sua cama com panos novos, depois seguiu para o banheiro onde escovou os dentes e tomou um banho demorado. Se trocou e após sair do banheiro pegou seu celular e viu que seu ex-marido Robert tinha deixado várias mensagens do tipo: "Onde você está?" "Você sumiu, o que foi que aconteceu?". Falar com Robert era a última coisa de que Guinski precisava. Sua vida já estava bem ruim sem Robert para encher o saco.

Decidiu ficar na sala de estar e ligar a televisão para que houvesse algum barulho na casa. Enquanto fingia que a via o noticiário quebrou seu telefone e anotou mentalmente que deveria comprar outro após sair do trabalho.

Guinski trabalhava em uma livraria como caixa, ele escolheu essa posição porque era simples e ele não precisaria falar muito com as pessoas. Uma pena que seu expediente só começava às 6 horas, teria que ficar meia hora pensando em assuntos desagradáveis.

Finalmente deu 5:30 e ele teve que sair de casa para ir trabalhar. Chegando no local presenciou Gabriela, gerente e dona do estabelecimento, conversando com um homem corcunda, de cabelos lisos marrons escorregadios, apoiava-se em uma bengala na mão esquerda, seus olhos eram um pouco desiguais e seus lábios finos. Suas roupas, no entanto, eram elegantes. Era uma pessoa desgastada pelos males da vida.

Guinski saudou-os com um simples "Bom dia" e foi para o armazém colocar seu avental de funcionário para depois se dirigir ao caixa. Nem prestou atenção na conversa entre os dois, apenas queria fazer seu trabalho e não se importar com a vida alheia, porém, a surpresa no rosto de Gabriela fez com que as sobrancelhas de Guinski levantassem.

Gabriela era uma mulher independente e muito simpática além de que poucas pessoas conseguiram surpreendê-la e aquelas que o faziam geralmente eram muito inteligentes ou que possuíam enorme criatividade. Guinski passou a notar a conversa dos dois com bastante atenção.

― Então o senhor deseja mesmo realizar esse pedido? Somos uma loja de pequeno porte senhor... ― Respondeu Gabriela preocupada, provavelmente pensava nos números de estoque.

― Ah sim, sabe eu possuo uma livraria na cidade e queria comprar uma remessa de livros sua para preenchê-la melhor. Os seus livros esotéricos são ótimos! Possui uma excelente coleção, Richard Garnier, Elizabeth Stein... Todos ótimos escritores! ― Elogiou o senhor.

Gabriela ofereceu-lhe um lugar para se sentar no Canto Recreativo da Livraria e lá eles continuaram a conversar por horas. Enquanto o faziam, Guinski atendia o caixa de uma loja de livros bastante movimentada, turistas pelo que ele imaginava. Sempre perguntando sobre as principais atrações turísticas da cidade e sobre os locais de encontro mais quentes à noite.

Guinski não gostava de toda essa atenção, afinal, ele sempre foi mais soturno e antissocial além de que a livraria nunca ficou tão cheia como naquele dia. Até mesmo Gabriela e os outros funcionários ficaram completamente estupefatos com a grande movimentação.

O Senhor Estranho não pareceu se incomodar ou se surpreender, ficou num canto afastado da loja, mais precisamente no setor religioso. Guinski notou que o velho encarava as prateleiras com um olhar crítico.

Lucas veio substituir Guinski no caixa, era o horário de almoço. Antes de sair para almoçar na lanchonete que ficava na esquina da rua, ele decidiu ver se o senhor precisava de ajuda com algo.

― Não, nada. Estou analisando somente. Obrigado por sua atenção, jovem. ― Respondeu o senhor sem muito interesse em qualquer assistência.

Guinski saiu da livraria e foi diretamente para a lanchonete. A rua estava bastante movimentada com pessoas no mínimo excêntricas, usavam roupas coloridas e ou mantos cobrindo o restante de suas vestes. Falavam em uma língua a qual Guinski não reconhecia mas que lhe era familiar.

A dicção era puxada e eles falavam rápido, ele pensou que era tudo bobagem pois as pessoas pareciam um monte de crianças falando. Uma jovem bonita o parou para pedir informações e ela pareceu ter dificuldades para falar português brasileiro. Guinski entendia essa dificuldade pois quando veio ao Brasil também sentiu um leve desconforto ao ter que aprender essa língua.

― Nossa... Nossa... - A moça puxou muito o "s" na frase e imediatamente se desculpou. ― Obrigado...?

― Moça, caso se considere do gênero feminino deve-se usar "Obrigada" e não "Obrigado".

A jovem ficou confusa diante da afirmação.

― Vocês diferenciam o gênero aqui? Que estranho. ― Ela comentou e depois saiu com um sorriso no rosto.

Quem tinha ficado confuso agora era Guinski, não pela fala dela mas sim pelo conceito, ele sempre achou que todos os cantos do mundo ainda diferenciavam os gêneros. De que país aquela mulher veio? Perguntou-se com curiosidade.

Entrou na lanchonete e para a sua sorte estava vazia. Ele se sentou no banquinho de bar do local, pedindo um sanduíche de carne e coca para o atendente que se chamava Matheus. Guinski foi atendido prontamente e comeu o seu lanche.

O dia seguiu normal na medida do possível, logicamente que os moradores se surpreenderam com a quantidade de turistas e imigrantes, a maior parte deles possuía uma característica física marcante: uma pele brilhosa mesmo que fosse escura ela chegava a brilhar, seus olhos eram cores vivas, alguns tinham olhos dourados outros violetas marcantes, seus cabelos e estilos eram novidade, muitos possuíam cabelos coloridos mas estes não pareciam ser tingidos dava a impressão de serem naturais!

Guinski foi para casa com uma expressão boba no rosto, tudo aquilo era inacreditável! Ele achava que tudo aquilo tinha a ver com o homem misterioso que apareceu na biblioteca, não conseguia tirar essa teoria de sua mente, pelo menos teria algo para se distrair enquanto tentava pregar no sono à noite. Infelizmente esqueceu-se de comprar um celular novo.

Quando adormeceu o sonho da noite passada se repetiu mais intensamente. Sentiu-se ofegar na cama, ansiar pelo toque de uma pessoa desconhecida, sonhou com seus lábios colados e quando abriu os olhos... tudo tinha ido embora. Acordava no chão, suado e com o tórax totalmente arranhado por suas mãos, as cobertas e o lençol foram para todos os lados no quarto! Que bagunça, pensou Guinski com um pouco de tédio e dor nas costas.

Ainda bem que era sábado.

15. Januar 2019 11:46 0 Bericht Einbetten Follow einer Story
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