sankdeepinside Lara Franco

Tenha boas notas, se exercite regularmente, coma seus vegetais, entre em uma boa faculdade, tenha um bom emprego, ganhe muito dinheiro. Siga aquilo que a sociedade manda, sonhar é bobagem, é inútil, deixe isso para depois, vai ter tempo para fazer o que quiser quando ficar mais velho. Mas e se você não tiver mais tempo? Qual seria seu último pedido? kaisoo • angst


Fan-Fiction Bands/Sänger Nicht für Kinder unter 13 Jahren.

#exo #sookai #kaisoo #angst #yaoi
Kurzgeschichte
5
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I just want you to know who I am

And all I can taste is this moment
And all I can breathe is your life
Cause sooner or later it's over
I just don't want to miss you tonight

Iris – Goo Goo Dolls


Você possui planos para o seu futuro?

Quem não possui, não é mesmo?

As pessoas estão acostumadas a protelar muitas coisas em suas vidas. Sonhos e desejos são frequentemente adiados para datas posteriores, enquanto elas suportam rotinas estressantes, salários pequenos e vidas sem sentido.

As viagens de lazer, os momentos divertidos em família, as declarações de amor, as ousadias, a vontade de quebrar a dieta, o corte radical no cabelo, tudo fica para depois, até que em um momento seja apenas deixado para lá.

Já pensou o quanto da sua vida você já perdeu por preferir seguir a maré, se enfiar em um terno que pinica seu corpo ou em uma saia que não faz o seu estilo apenas porque é isso que a vida espera de você? Te obrigando a deixar todos os seus reais anseios em segundo plano e pouco a pouco fazendo com que você deixe de ser quem verdadeiramente é?

Bem, eu fui uma dessas pessoas.

Mas só até tudo desmoronar.

Desde pequeno fui ensinado a deixar meus desejos para depois, a estudar, trabalhar, alcançar o sucesso e cumprir todas as minhas obrigações para então pensar em fazer algo espontâneo. “Deixe para quando estiver formado. Deixe para quando tiver um bom emprego. Deixe para quando tiver sua própria casa”.

Eu era o filho dos sonhos. Estudando dia e noite para entrar em uma boa faculdade, depois estudando mais ainda para conseguir o diploma e um bom emprego. Minha dieta era balanceada, além dos exercícios que eu fazia religiosamente todos os dias. Nunca consumi drogas, bebida apenas alguns poucos goles de vinho em uma festa de família ou outra. Meus amigos eram completamente normais.

Quando pensa em uma pessoa como eu, provavelmente imagina que meu futuro está garantido, terei um bom emprego, uma esposa simpática, uma vida feliz e plena, com filhos bonitos, saudáveis, completamente normais. Essa é a fórmula pregada diariamente como o segredo do sucesso. Se seguir as regras, terá uma vida estável e feliz.

Basicamente, eu era um garoto bonito, com uma vida regular exatamente como a sociedade pede que seja. Mas, haha, a vida não é uma bula de remédio.

Nesse exato momento, estou sentado no carro que ganhei do meu pai quando me formei na faculdade, não era um modelo caro, mas era um carro. Um prêmio por ser um filho exemplar. Estava no banco do motorista, encarando o painel apagado, completamente atônito.

Tudo o que eu achei que fosse certo acabara de ser roubado de mim, família, diploma, boa casa, comida, vida padrão? Tudo fora jogado no lixo o que me restara fora uma previsão imprevisível: mais alguns meses, talvez quatro, seis, se estiver com sorte.

Estudei, trabalhei, me alimentei e vivi todos os dias em uma rotina plástica na esperança de que em um dia no futuro eu tivesse tempo e dinheiro para realizar o que quer que eu quisesse na vida. Não precisava de pressa, um dia eu teria tempo e dinheiro para viajar, conhecer pessoas, dar festas. Mas, aparentemente, tudo o que ganhei em troca de meu esforço e abstenção foram alguns poucos meses, depois disso, estaria tudo acabado. Tudo não valeu de nada, eu ia morrer.

Ergo minha cabeça até encontrar meu próprio olhar no retrovisor. Eu pareço cansado, exausto. Meu cabelo castanho, geralmente sempre bem penteado, está bagunçado em todas as direções, meus lábios estão secos, minha pele parece precisar de hidratação.

Tenho vontade de chorar, me sinto patético, me sinto pequeno. Mas mais do que tudo, sinto que perdi toda a minha vida agindo como uma formiga operária.

Eu não sentira a adrenalina de matar um dia de aula, não roubara beijos, não comprara bebida antes dos dezenove anos, não entrara em nenhuma briga de bar. Era como se aqueles vinte e cinco anos da minha vida fossem páginas em branco.

Recebera a notícia de que estava com um câncer terminal no fígado, ironicamente, eu sequer gostava de beber. Não havia ninguém ao meu lado para me dar consolo quando recebi aquela notícia, minha mãe, jornalista, era correspondente do maior jornal da cidade e passava quinzenas inteiras na China. Meu pai era empresário e sempre tinha trabalho demais para me acompanhar no que quer que fosse.

Nenhum deles sequer desconfiava que o único e precioso filho estava à beira da morte. Ainda peguei o telefone e deixei o número de minha mãe acender no visor. Se eu ligasse, ela largaria tudo e me encontraria? Me daria colo? Eu não soube, já que joguei o telefone sobre o banco do carona antes de discar qualquer número.

De nada adiantaria falar sobre aquilo com eles, estavam longe demais, ocupados demais seguindo sua rotina inabalável, enquanto eu me vi arrancado daquele universo.

Me debrucei sobre o volante e deixei que as primeiras lágrimas viessem. Eu estava com medo, muito medo, afinal, o que é morrer? Morrer pode significar qualquer coisa. Posso transcender, virar luz, um espírito, qualquer coisa, mas também pode significar nada. Depois das luzes apagadas, seria o fim do show.

Chorei até cansar. As lágrimas não acalentavam meu desespero, mas davam o mínimo de alívio físico que eu precisava naquele instante. A tarde chegava ao fim e logo eu teria que ir para casa, mas lá era o último lugar em que eu gostaria de estar. Dei partida no carro e me deixei vagar.

O desespero de não ter feito nada do que eu mais quis em minha vida me levara até ali, até aquele estacionamento vazio. Eram quase seis da tarde de uma quinta feira e eu tinha câncer. Meu cérebro me levara àquele lugar e eu nem sabia bem por quê.

Oh não, na verdade eu sabia.

Já amou tanto e tão desesperadamente alguém que sequer sabia da sua existência?

Eu sim.

Veja bem, estudei em uma boa faculdade e cursei administração, não porque aquela área me interessasse particularmente, mas porque parecia o certo a se fazer. Cada dia da faculdade era maçante e tomava muito do meu tempo, já que nunca fui um prodígio nos estudos.

Eram necessárias muitas horas lendo, relendo e praticando cálculos para que eu enfim conseguisse absorver o conteúdo e muitas dessas horas eu passava no pátio da faculdade, sentado debaixo de alguma árvore ou sozinho em algum banco. Ali, eu o vi pela primeira vez e por muitos outros dias.

Aluno de artes cênicas, era fácil vê-lo sozinho, agarrado a um tablet ou a um livro, os olhos grandes e concentrados, se levantavam curiosos apenas quando algum amigo surgia e lhe arrancava sorrisos tímidos. Era difícil assumir para mim mesmo o quanto era interessante e divertido observá-lo durante as tardes, mas mais difícil foi aceitar os calafrios e coração acelerado a cada vez que ele, sem sequer se dar conta, cruzava meu caminho.

Sonhei com ele, fantasiei com ele, o procurei nas redes sociais e passei horas encarando sua foto de perfil, a mesma que salvei no celular para ficar olhando quando não podia estar perto o suficiente para vê-lo pessoalmente.

Acompanhei a distância um de seus amores, o vi nascer, desabrochar e morrer com o coração na mão ao imaginar seu sofrimento. O vi nervoso e ansioso com a proximidade da formatura, o vi gargalhando e abraçando pessoas queridas com o diploma em mãos. Acompanhei todos os seus passos enquanto pude e, meu deus! Como eu quis me aproximar. Entretanto, jamais troquei sequer uma palavra com ele.

Gostaria de ter tido alguns instantes de coragem e ter me apresentado, gostaria de tê-lo como amigo, mais do que isso, gostaria de lhe dar o amor que ele não recebera dignamente de seus ex-namorados. Contudo eu jamais dera um único passo em sua direção, esperando que uma oportunidade cruzasse nossos caminhos, que me permitisse enfim tornar realidade as infinitas cenas de apresentação que criara em minha mente.

Mas bem, a vida não me dera nenhuma oportunidade e Do Kyungsoo se tornou um sonho em meio às infinitas responsabilidades reais em minha vida. Ao menos até aquele instante.

Assim que saí da clínica, dirigi a esmo por Seoul. Não tinha ninguém em casa para me receber, não tinha nenhum amigo próximo o suficiente para ouvir meus anseios, não havia nenhum lugar que me desse alento. Após receber aquela notícia, curiosamente, eu apenas conseguia pensar na única coisa que desejara na vida e nunca tivera: aquele homem que eu amei sozinho, à distância, no escuro, e que sequer sabia da minha reles existência.

Depois de três anos, eu ainda o procurava na internet, eu ainda lia seus tweets antigos, ainda via as raríssimas atualizações de seus Instagram, ainda procurava por seu paradeiro. Eu sabia exatamente onde encontrá-lo e por mais que eu lhe fosse um completo desconhecido, eu o procurei.

Saí do carro sentindo as pernas tremerem e o coração bater com força no peito. Diante de mim, uma pequena escola de teatro exibia uma placa de seleção para uma peça. Era gratificante saber que ele era professor, mas a mera ideia de entrar pela porta daquele estabelecimento era aterrorizante. Eu era um homem de plástico, não sabia lidar com desafios e momentos como aquele, nunca tivera aquele tipo de coragem antes e, honestamente, uma parte de mim apenas queria sair correndo.

Como eu falaria? O que eu falaria?

“Oi, sou Kim Jongin, tenho um amor platônico do tamanho do universo por você, mas estou morrendo, pode me amar de volta apenas por alguns meses? ”

O aperto no meu estômago era tão grande, sentia que estava prestes a vomitar. Eu deveria ir embora, não deveria? Mas, para meu azar, um aluno se aproximou da porta e estranhou ao me ver ali.

- Vai participar da audição? – Ele perguntou.

Engoli em seco.

- Hãããã...

- Se for deve entrar logo, Kyungsoo sunbae só vai avaliar até as seis da tarde, faltam quinze minutos.

- Ah. – Respondi.

Kyungsoo devia ter tido um dia cansativo avaliando audições, estava prestes a ir embora e eu não devia ocupar seu tempo com minhas tolices.

- Venha, eu o levo até lá. – O garoto abriu a porta.

- N-ão eu...

- Anda logo!

Cerrei os punhos. Por que eu estava hesitando? Se ele me aceitasse ou rejeitasse, eu iria morrer de qualquer forma. Não tinha nada a perder.

Dar o primeiro passo em direção àquela porta aberta foi o mais difícil, mas o segundo já não foi tão assustador e em alguns poucos segundos eu quase corria por um corredor escuro, parando apenas um auditório a meia luz.

Meu olhar vagou o ambiente com urgência, precisava vê-lo, precisava ter certeza de que ele estava ali, de que eu realmente estava prestes a fazer a coisa mais maluca da minha vida. Meu cérebro trabalhava a mil por hora em infinitas combinações de diálogos, mas instantaneamente ficou completamente em branco tão logo vi aquele par de olhos curiosos se erguerem, pela primeira vez na vida, para mim.

- Está atrasado, sorte sua que ainda não acabei. – Aquelas foram as primeiras palavras que Do Kyungsoo dirigira para mim e, por um instante, achei que meu prazo para morrer havia se reduzido àquele dia e eu cairia morto no chão.

Ele não estava muito diferente do Kyungsoo das minhas memórias. O cabelo castanho estava um pouco mais longo e ondulado em cima, os braços também pareciam mais fortes e seu rosto mais adulto. Fora isso, ainda era o mesmo. Os mesmos lábios cheios em formato de coração, o mesmo nariz perfeito, o mesmo maxilar angular, os mesmos olhos grandes e curiosos.

Eu estava em pânico, completo pânico, ele seria capaz de me reconhecer? Ao menos me achar familiar? Ele era a criatura mais linda que eu pusera os olhos e queria muito, desesperadamente, chorar em seus braços, o único lugar que parecia oferecer alento naquele instante.

Mas não era tão simples, não é mesmo? Ele não fazia ideia de quem eu era ou do que eu sentia.

- M-m-me desculpe. – Foi um milagre eu sequer ter conseguido pronunciar alguma coisa.

- Me dê seu nome e vá para os bastidores, o chamarei quando for sua vez. – Seu olhar voltou para uma prancheta sobre o seu colo. Observei enquanto ele batia a ponta da caneta sobre o papel, impaciente... Oh!

- Ah, sim, sou Kim Jongin, é um prazer conhecê-lo, senhor. – Me curvei em uma saudação respeitosa, sentindo as borboletas no meu estômago se agitarem feito velhas histéricas.

Ele esboçou um traço de riso diante da minha falta de jeito, aquele sorriso... ugh!

- Certo, sou Do Kyungsoo. Vá para os bastidores agora, Jongin.

- Sim, claro.

Jongin.

Meu nome.

Meu nome na boca de Do Kyungsoo.

Quero gritar e sair correndo. Será que eu estou reagindo muito exageradamente?

Caminhei até a entrada dos bastidores sentindo um bolo se formar em minha garganta. Eu não era ator, nunca fizera nada do tipo antes e nem mesmo tinha um script para ter noção de que tipo de peça faria audição.

Estava tão nervoso, porém, pensando melhor naquela situação, aquela era a maior loucura que eu tinha feito na vida. Comecei a rir, não, comecei a gargalhar, a ponto de lágrimas saírem dos meus olhos.

Eu estava nervoso pra porra.

Encontrei nos bastidores dois garotos bem mais jovens do que eu ensaiando falas. Ao me verem, me olharam de cima abaixo, afinal, não era comum ver um homem de terno e gravata na fila de uma audição de teatro, não parecia encaixar.

- Está perdido? – Um deles me perguntou.

- Um pouco, cheguei em cima da hora, não sei nem mesmo que peça é essa. – Joguei verde com um sorriso tímido.

Ambos riram, mas prontamente se dispuseram a me ajudar. A peça era uma adaptação regionalizada de Romeu e Julieta, mas para a audição eu precisava apenas dramatizar uma cena de morte. Seria cômico, se não fosse irônico.

Eu era o último da fila, quando fiquei sozinho ao lado do palco, tirei o paletó e a gravata, desabotoei o primeiro botão da camisa e me senti livre, respirando profundamente.

Olhei no relógio de pulso, àquela hora eu geralmente estaria saindo do trabalho, me enfiando em um engarrafamento, pensando no que iria jantar. Eu havia quebrado minha rotina e devia aproveitar aquilo ao máximo.

Kim Jongin!­ – Aquela voz preguiçosa ecoou pelas caixas de som do teatro, avisando de que eu teria que ir ao palco e fazer alguma coisa, qualquer coisa.

Fiquei surpreso ao perceber que todos os outros atores já haviam ido embora, apenas Kyungsoo ainda estava lá, sentado com a prancheta sobre o colo. Ele aparentava estar cansado, mas nem um pouco entediado. O sorriso sutil em seu rosto mostrava que se divertia fazendo aquilo.

Meu coração sambava no peito e me vi sorrindo descaradamente. Ele era tão bonito, parecia tão feliz com a vida que levava, era diferente de mim em tantos aspectos. Era apaixonante. Apenas em encará-lo eu já me sentia feliz.

Pigarreei e tentei ao máximo me lembrar de quando havia lido Romeu e Julieta, ainda no colegial. Sabia que se tratava de uma história de amor juvenil, que nasce de forma veloz demais, se formos considerar as formas convencionais do amor, mas que acaba com desfecho trágico.

Sem saber que Julieta fingia a própria morte para fugir com seu amor, Romeu se mata, levando Julieta ao desespero e ao suicídio ao se de dar conta da morte de seu amado.

Lembro de que quando li Romeu e Julieta na escola não consegui entender aquela atitude tão exagerada de jovens que se conheciam tão pouco. A obra de Shakespeare falava de um amor avassalador, que brotava e explodia de forma tão rápida, terminando em mortes desesperadas, causadas por um jogo político que pouco considerava sentimentos. Eu não entendia como pessoas eram capazes de ir tão longe por um sentimento que, ao que me parecia, era tão raso.

Contudo, ali, debaixo do holofote daquele palco, olhando para Do Kyungsoo, pensando no que me fizera ir até ali, eu de repente pude entender a obra completamente.

Nunca tive nenhuma experiência com artes cênicas além de um espetáculo do Lago dos Cisnes que vi quando minha mãe ainda não era correspondente e me levava ao teatro. Como eu disse, nunca fiz nada ousado, nunca agi conforme meu coração mandava apenas na esperança de que um dia eu tivesse concluído minhas obrigações e fosse livre para enfim ser quem eu era.

Depois de ter ouvido que teria apenas mais alguns meses de vida, decidi que aquele dia seria hoje.

Fechei os olhos e ergui os braços em um movimento suave, movendo-os ao peito, simulando a batida forte do meu coração com as mãos. Eu lembrava pouco da obra, mas usei meu corpo para encená-la, caindo devagar sobre o palco. Se eu podia escolher do que morrer naquele momento, não ia morrer de câncer, preferia morrer de amor.

Me concentrei em fazer uma boa interpretação, engatinhando pelo palco e esticando o braço, na esperança de alcançar algo invisível, algo que parecia próximo, entretanto incerto e distante. Por fim, despenquei completamente no chão, simulando uma respiração ofegante, implorando com os olhos algo que a morte não me levasse, mas seria tarde demais e meus olhos lentamente se fecharam. Estava morto.

Um longo instante de silêncio pairou no auditório e de repente me senti constrangido, mas apenas até ouvir novamente aquela voz rouca saindo pelas caixas de som.

- Isso foi muito bom Jongin, obrigado.

Abri os olhos ainda deitado no chão e sorri para ele.

- Realmente acha que foi bom?

- Sim. – Kyungsoo exibia um sorriso de aprovação e fazia anotações na prancheta. – Não usou nenhuma das falas do roteiro, mas gostei. Teve emoção.

- Obrigado, nunca havia feito nada assim antes.

- Interpretar sem roteiro?

- Não, interpretar apenas. Não sou ator.

- Sério? – Os olhos dele se voltaram novamente para mim e mais uma vez senti um arrepio eriçar cada pelo do meu corpo.

- Sério.

- Isso não é verdade, acabou de atuar diante dos meus olhos, então é ator. Não foi o melhor de todos, mas conseguirá um bom pap...

- Não estou aqui por causa da peça.

- Huh?

Me coloquei de pé, sentindo o corpo inteiro fraquejar de nervosismo. Era agora.

Como eu explicaria aquilo para ele? Como colocar em palavras o amor irracional que eu sentia? Como explicar que nunca havia feito nada de interessante em toda a minha a vida e que estava prestes a morrer? Como explicar que ele era meu único e último pedido antes de morrer?

Você já se declarou alguma vez para alguém? Sentiu um tremor atravessar cada membro do seu corpo, deixando eles meio moles, sem a menor confiança de se mover? Como se tivesse algo apertando os seus pulmões, fazendo sua respiração ficar errada e o ar não parecer suficiente?

- Kyungsoo-ssi, eu lhe pareço familiar?

Era óbvio que ele não me reconheceria, nunca sequer olhara em minha direção, nem mesmo estudava no mesmo bloco que eu para ao menos memorizar meu rosto. Era uma pergunta estúpida a se fazer. O olhar vago que ele dirigiu a mim já entregava que ele não fazia a ideia de quem eu era, mesmo assim eu insistira naquela esperança de ele ao menos saber de onde eu o conhecia.

- Me desculpe por perguntar, é óbvio que não me conhece.

- Sim. – Ele respondeu em voz baixa no microfone. – Lembro de você. Estudamos na mesma faculdade, você era o cara que estudava sozinho nos intervalos, parecia ter dificuldade.

Abri a boca e não consegui fechar.

Ele me viu.

- Você me viu. – Pronunciei em voz baixa.

- Se falar tão baixo não posso ouvi-lo daqui.

- Me desculpe. – Minhas mãos estavam encharcadas de suor e eu já não sabia se seria capaz de falar tudo o que eu queria. Fui covarde, mas por que eu estava sendo covarde? Eu ia morrer de qualquer forma. – E-e-eu...

Merda!

- Parece estar um pouco cheio de coisas na cabeça, quer descer daí? Podemos conversar enquanto tomamos um café, preciso fechar o teatro agora.

- Sim! – Respondi alto demais e Kyungsoo riu de mim.

- Ótimo, me espere lá fora, vou apagar as luzes.

Quando você tem amor platônico por alguém, acaba se acostumando em criar inúmeras fantasias e alimentar todas elas com o pouco de informação que você tem. Você não conhece aquela pessoa, apenas a ideia que você faz dela através das informações que consegue stalkeando, observando, sonhando.

No fim, pode acabar frustrado por aquela pessoa não corresponder a todas as expectativas que depositou nela, ou triste demais por nunca ser correspondido por aquela pessoa que você tem certeza de que se encaixa perfeitamente com você. Contudo, se você tiver um pouco de sorte...

- Você se lembra de mim? Como? – Perguntei com vergonha enquanto tomava o primeiro gole de um frappuccino cheio de chantilly que Kyungsoo pedira para mim.

- Eu sempre sentava no mesmo lugar, você sempre sentava no mesmo lugar, eu me acostumei a vê-lo na paisagem.

- Ah.

- Não me lembrei imediatamente, mas quando perguntou se me lembrava de você me veio sua imagem na minha cabeça. – Sorri ao vê-lo bebericar o próprio café cheio de creme. – Mas você parece triste, por que veio me procurar?

- Isso vai soar bem vergonhoso.

- Tudo bem. – Kyungsoo sorria, brincando com o canudo de sua bebida.

Ele era tão gentil, falava com paciência e não parecia ter metade dos arrependimentos que eu tinha. Senti um pouco inveja.

- E-eu descobri que estou muito doente hoje. – O olhar de Kyungsoo se ergueu preocupado para mim e me perguntei se não estava vivendo um sonho. Ele realmente estava olhando diretamente para mim com aquelas írises de cobre líquido. – E... hãã.. enquanto eu estava muito ocupado chorando por isso, me dei conta de que nunca fiz o que realmente quis, nunca tomei iniciativa em nada e que eu morreria como um boneco plástico, com uma vida insignificante.

- Você não é um boneco de plástico.

- Honestamente, precisei receber a notícia de que estava prestes a morrer para ter essa certeza, sabe? “Olha, Kim Jongin, você vai morrer, parabéns, você não é de plástico, só um inútil de merda”.

- Sinto muito que se sinta assim.

- Não sinta, isso tudo é minha culpa. Fui eu que nunca fiz questão em quebrar nenhuma regra, fui eu que não tive coragem de correr atrás do que meu coração queria, eu apenas abaixei a cabeça e deixei a vida passar. Agora eu estou arrependido e desesperadamente tentando recuperar todo o tempo que perdi antes que já não tenha tempo algum. – Engoli seco e o encarei, ele me olhava de volta, dentro dos olhos. – Eu sei que você mal me conhece, então me desculpe por estar bombardeando você com toda essa informação. Mas veja, Kyungsoo-ssi, enquanto eu estava digerindo a notícia da minha morte, comecei a pensar nas coisas que mais desejei ter feito na vida e única coisa que me veio à mente foi seu nome.

- Eu? Por que eu?

Tomei um gole do frappuccino novamente, envergonhado demais para encontrar meu olhar com o dele.

- Como eu posso dizer sem parecer um completo idiota? – Dei de ombros – Você é tudo o que mais quis. Juntei toda minha coragem para vir até aqui e dizer isso para você, não me leve a mal, não estou pedindo que me ame, nem nada, mas se eu morresse com isso sufocado, eu jamais me perdoaria.

Enfim tomei coragem para encará-lo e achei que fosse parar de respirar assim que vi seu sorriso. Por que ele tinha que ser tão bonito? Era quase injusto.

- Gosta de mim? – Perguntou rindo, mas de alguma forma eu estava nervoso demais para retribuir o sorriso – Ninguém nunca se declarou para mim antes.

- Nem para mim. – Respondi fracamente.

- Não fique tão nervoso.

Fácil falar.

- Você está namorando alguém? Faz um tempo que não procuro sobre sua vida... então não sei.

- Não, Jongin, não tenho ninguém.

- Ah. – Engoli em seco.

O que eu faria agora? Já havia dito o que tinha para dizer, não dava para pedir um beijo, dava?

- Quer me conhecer melhor? – Assenti rapidamente com a cabeça. – Ótimo, então vamos andar.

Kyungsoo se levantou e pegou o café que ainda estava na metade. Me surpreendi ao ver sua outra mão estendida para mim. “Vamos”, foi o que li em seus lábios grossos e, porra, eu estava apaixonado até pelo modo que ele piscava os olhos.

Aquilo era algum tipo de piedade dos céus com os moribundos? Porque se eu soubesse tinha pedido para morrer há um bom tempo.

Andamos pelas calçadas do bairro, uma região muito longe do subúrbio rico em que eu morava com meus pais. Kyungsoo levava uma vida muito simples, morando sozinho e vivendo do salário de professor de teatro. Ele me contou que tentou papéis em grandes peças e na TV, mas ainda não dera muita sorte. Entretanto, aquilo não parecia preocupá-lo, nem mesmo o pouco dinheiro ou o futuro incerto.

Ele também me contou sobre seu último relacionamento, que durara pouco mais do que seis meses e terminara quando ele descobrira uma traição. Aquilo me irritou profundamente, apenas a ideia de imaginá-lo sendo traído me parecia a coisa mais sem sentido do planeta. Por que alguém trairia uma pessoa tão boa? Tão bela? Tão cheirosa?

- Por que está fazendo careta? – Ele riu de mim, se ao menos soubesse.

- Não consigo imaginar por que alguém trairia você.

- Ah Kim Jongin, se todos os meus ex-namorados pensassem como você hoje eu não seria solteiro. – Ele riu tristemente.

- Não ria, estou falando sério. Você é uma boa pessoa, merece amor.

- Você também, Jongin.

- Huh?

Kyungsoo parou e colocou as mãos nos bolsos, puxando a respiração e encolhendo os ombros.

- Você também é uma boa pessoa, mas não teve muitas chances de experimentar essas coisas malucas da vida que todo mundo prova. Não é justo.

Soltei uma risada triste.

- Me desculpe por enchê-lo com meus problemas, não era minha intenção. Por favor, não quero que sinta pena de mim, não foi por isso que o procurei.

- Então pelo que foi? O que espera de mim?

Senti as bochechas queimarem de vergonha.

- Não espero nada, você mal me conhece, não há muito o que eu possa pedir.

- Sério? Estou decepcionado. Achei que seu momento de coragem fosse mais ousado.

- O que quer dizer?

- Quero dizer que estou triste em descobrir que está doente, veja bem, estava pensando em lhe dar uma chance.

Parei, eu estava maluco ou realmente ouvira o que ele acabara de dizer corretamente? Ele falava sério? Agarrei seu pulso antes que ele pudesse voltar a andar.

- Você...?

Não pude terminar a frase, os lábios dele já estavam sobre os meus.

Por um segundo não pude pensar logicamente, completamente pasmo diante daquela boca macia que pressionava a minha. Porém, quando ele pediu passagem, me dando um beijo longo, molhado, quente e delicioso, o agarrei imediatamente, puxando-o pela cintura até se chocar contra meu corpo, emaranhando os dedos em seu cabelo bagunçado.

Eu queria tocá-lo, queria sentir todo o seu corpo e ter a completa certeza de que aquilo não era minha imaginação me pregando uma peça. E ah! Eu estava derretendo. 

Não fiquei surpreso ao saber que ele encaixava perfeitamente em meus braços, eu sabia daquilo, eu sonhara com aquilo e tinha certeza de que ele tinha medidas perfeitas para mim.

Uma de suas mãos me segurava pela nuca, seu toque ardia sobre minha pele, quente e preciso. Nenhum beijo jamais se compararia àquilo, nenhum perfume jamais se igualaria ao aroma delicioso da pele de Do Kyungsoo ou do gosto doce de chantilly em sua boca, nenhuma outra pessoa deixaria meu coração tão louco como aquele homem era capaz. E bem, era realmente ele ali.

Consegue imaginar o que isso causa em um coração que só sobreviveu de imaginação até agora? É surreal. Um sonho que se tornara realidade. Se eu pedisse, ele ficaria ao meu lado até meu último dia?

Não seria por muito tempo.

Provavelmente alguém já lhe disse que a vida é uma caixinha de surpresas. Não discordo disso, mas se eu pudesse mudar esse ditado, transformaria a vida em uma caixa de Pandora, quando você a abre, uma quantidade indecifrável de azar o segue por toda a vida. Mais do que azar, todos dias você é rondado, perseguido, diminuído até ser completamente massacrado por todos os absurdos que você é sujeitado diariamente, estresse, padrões, pressão, você precisa ser o melhor, precisa ser o mais rápido, o mais bonito, o mais inteligente, o mais em todos os aspectos. O resultado disso todos já conhecem, são seres humanos plásticos, completamente arruinados emocionalmente e fisicamente.

Enquanto tudo isso acontece e você deseja desesperadamente que algo bom lhe aconteça, é sempre frívolo demais quando comparado às infinitas dores de apenas existir. A caixa de Pandora que você fecha desesperadamente na intenção de conter todos os males, mas acaba prendendo sua esperança.

De alguma forma bem sádica, em meus últimos dias, a vida me presenteou com Do Kyungsoo.

Seria muito fantástico se eu tivesse mais quarenta anos de vida e pudesse dar cada um desses anos àquele que mais merecia todos eles. Contudo, eu não possuía quarenta anos, mas sim quatro meses.

Quatro meses que se esgotariam rápido demais e logo eu seria apenas uma memória.

Mas sabe qual é pior parte?

Kyungsoo gostava de mim.

Kyungsoo era meu assim como eu era de Kyungsoo.

Por quatro meses.

E isso me enlouquecia.

- Jongin-ah? – Aquela voz preguiçosa em meu ouvido me arrancava sorrisos mesmo estando exausto e quase adormecido. – Está acordado?

Minha cabeça descansa sobre seu peito nu e suas mãos passeiam devagar sobre meus cabelos.

- Estou acordado.

- Como se sente?

Eu pisco. Pisco tão devagar que tenho medo que meu tempo tenha acabado, mas tudo durou apenas um segundo.

- Sinto como se estivesse no melhor lugar do mundo.

Vejo um sorriso tímido se abrir em seu rosto, iluminando suas feições. Seu dedo escorrega pela curva do meu nariz e aperta a ponta com cuidado.

- Você está triste, posso ver em seus olhos. Por que está triste?

Não quero chorar em seus braços, mas é tarde demais quando as primeiras lágrimas rolam contra a minha vontade. Isso é injusto.

Eu tive vinte e três anos de saúde para aproveitar ao lado dele, por que a vida só foi me dá-lo agora? O que era aquilo? Prêmio de consolação?

Não queria deixá-lo, não queria vê-lo sofrer por minha causa, não queria que ele se entregasse a outros amores que não o amassem tão completamente como eu o amava.

Estava tão frustrado e fraco.

Queria fingir que não estava morrendo, mas a cada dia meu corpo enfraquecia e jogava na minha cara a realidade cruel.

“Você está morrendo, Kim Jongin”.

- Jongin-ah... – Ele pronuncia meu nome e eu quebro de uma vez, soluçando e deixando a torrente de lágrimas correr livremente.

- Eu não quero morrer, quero ficar com você, é pedir demais?

Kyungsoo engole seco e evita meu olhar. Ele tenta ser forte e não entregar os pontos diante de mim, mesmo que eu saiba que ele se tranca pela casa para chorar quando acha que não estou prestando atenção. A única coisa que ele não sabe é que minha atenção sempre esteve nele, então aquilo não era algo que pudesse disfarçar.

Ele sofria e a culpa era minha, que entrara em sua vida apenas para marcá-lo com feridas profundas. Eu era a porra de um egoísta e me odiava.

- Me escute, Jongin. – Afundo o rosto em sua pele, aspirando o aroma cru de seu corpo, tentando absorver os mínimos detalhes daquele momento que logo mais eu deixaria de ter. – Não chore.

- Me desculpe Kyungsoo-ssi, me desculpe por ter entrado em sua vida, você não merece a dor que eu lhe causo todos os dias.

- Não diga isso, você é minha preciosidade, a luz que veio iluminar minha vida, meu amor. – Sua voz tremula e seus braços me seguram com força – Você diz que sou seu último pedido, mas você foi a única coisa que pedi. Não preciso de mais nada. A única coisa que eu queria era amor, cego, insano e irracional amor. Queria amor por completo e não há mais nada que eu queira que você não tenha me dado.

- Kyungsoo-ssi...

- Não pense nessas coisas, não pense em nada, só aproveite. Aproveite cada gota, cada segundo, cada pequeno fragmento de mim, sou seu até o fim.

22. November 2018 01:28 0 Bericht Einbetten Follow einer Story
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Das Ende

Über den Autor

Lara Franco Jornalista de 23 anos de idade e ficwriter desde os 15. Completamente apaixonada por Kim Junmyeon, Moon Taeil e tudo o que os rodeiam, defensora de Zhang Yixing e Kim Dongyoung, mantém um sonho secreto de povoar o site com fanfics SuLay, 2Ho e Doil. Milita a favor do fim da guerra entre ships e sonha com o dia em que os couples flops irão dominar o mundo.

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