lara-one Lara One

Alguém está desconfiando de que há algo mais entre Mulder e Scully. Mas qual deles seria o primeiro a revelar? Em que situação? Aconteceria alguma coisa entre eles? Seria fácil, entre dois amigos, falar sobre isso? Qual seria a reação de ambos?


Fan-Fiction Series/Doramas/Soap Operas Nicht für Kinder unter 13 Jahren.

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S01#03 - YETI

INTRODUÇÃO DO EPISÓDIO:

Fade in. (tela abrindo)

Em meio à floresta e neve, Mulder e Scully estão correndo, com suas armas nas mãos, fugindo de alguma coisa. Os dois estão em pânico.

SCULLY: - Mulder, o que é aquilo?

MULDER: - Eu não sei, Scully. Mas... Corra! Corra!

Uma criatura, semelhante a um macaco branco gigante, corre atrás deles e urra.

MULDER: - Scully, eu acho que é o Yeti!

SCULLY: - Oh, meu Deus, Mulder! Não há lugar para nos escondermos, não temos pra onde fugir!

MULDER: - (PÂNICO) Cala a boca, Scully.

Scully pára. Vira-se para trás e aponta a arma. Mulder, já distante, pára também.

MULDER: - Vamos, Scully!

SCULLY: - Eu vou atirar nele!

MULDER: - Não, não faça isso! Talvez seja o único sobrevivente de uma espécie já extinta. Vai ser uma grande descoberta para a ciência!

SCULLY: - Dane-se a ciência, Mulder! Eu quero ficar viva!

Scully atira três vezes. O animal grita. Foge. Scully joga-se sentada na neve.

VINHETA DE ABERTURA: A MAIOR DE TODAS AS VERDADES...


BLOCO 1:

FBI - Washington, D.C. - 11:46 AM

[Som: Rick Astley – Cry for Help]

Scully entra na sala dos Arquivos X. Mulder está sentado, compenetrado no jornal.

SCULLY: - Boas férias pra você. Estou indo pra ensolarada e aventureira Califórnia. Aproveite suas férias, Mulder.

MULDER: - Você não vai acreditar!

Mulder levanta-se da cadeira. Caminha até ela. Scully faz cara de indignada.

SCULLY: - Mulder, por que toda vez que você me diz isso, eu pressinto que alguma coisa ruim vem pela frente...

MULDER: - Coisas ruins vêm por todos os lados. Veja isto.

Mulder entrega o jornal que estava sobre a mesa. Scully pega. Lê em voz alta. Mulder pega uma das pastas na gaveta dos Arquivos X.

SCULLY: - Yeti, ou mais conhecido como o Abominável Homem das Neves, ataca novamente... Mulder, você não está pensando em ir...

MULDER: - Pego você dentro de meia hora, em casa. Leve roupas quentes, Scully. Nessa época do ano, neva muito no Nepal.

Mulder sai. Scully suspira.


Himalaia - Hotel Krishna-Vishnu - 6:15 AM

Um jipe percorre algumas trilhas numa montanha. Pára em frente a uma das cabanas do hotel. Mulder e Scully descem, de mochilas nas costas. Neva um pouco. Keva os recebe. Scully está furiosa com a situação.

KEVA: - Você deve ser o Mulder...

MULDER: - Sim, e esta é a Scully...

Scully olha pra ele.

KEVA: - Vamos entrando, está nevando um bocado.

Eles entram na cabana.

KEVA: - Tenho um hotel modesto por aqui. Muitos turistas gostam de escalar montanhas, e eu gosto de isolamento.

Mulder olha pra Scully, sorrindo. Scully sorri fazendo careta pra ele.

KEVA: - O Walter me falou que vocês estão de férias...

SCULLY: - Walter Skinner? O que ele tem a ver com isso?

MULDER: - Esta é a senhorita Keva. Uma amiga do Skinner.

SCULLY: - Ah, então você e ele conspiraram para que as minhas férias fossem passadas numa geleira ao invés do sol da Califórnia...

KEVA: - Acho que a sua namorada não gostou muito da viagem.

SCULLY: - (IRRITADA) Eu não sou namorada dele! Apenas trabalhamos juntos!

Scully cruza os braços, em atitude de rebeldia.

KEVA: - Você gosta do lugar, depois que se acostuma.

MULDER: - E o Abominável Homem das Neves?

KEVA: - Eu não acreditava muito nisso. Pensei que fosse uma lenda local. Mas há quatro dias, eu e alguns turistas vimos uma estranha criatura enquanto escalávamos a montanha. Nunca vi nada parecido como aquilo. Era um gigantesco macaco branco, de uns 2 metros de altura. Estava caçando.

MULDER: - Pode nos levar até lá?

KEVA: - Partiremos amanhã cedo. Precisamos chegar antes do anoitecer para montar acampamento. No alto da montanha, ao norte, tem um chalé confortável, esperando por nós. Mas até chegarmos ao topo, levaremos uns dois dias, acampando entre as poucas árvores que encontrarmos. É uma jornada árdua.

SCULLY: - (DEBOCHADA) Ótimo. Mal posso esperar por isso.

KEVA: - Vou mostrar os quartos de vocês.

[Corte]

Keva leva Scully até um chalé.

KEVA: - Me desculpe, mas pensei que vocês eram namorados, então reservei apenas um quarto. Desculpe a bagunça deste. Você pode deixar suas coisas e ir tomar um café bem quente. Eu providencio a arrumadeira e um quarto para seu colega.

SCULLY: - Então, você conhece o Skinner...

KEVA: - Fomos colegas na universidade. Na verdade, namoramos um bom tempo. Pena não ter me casado com ele. Casei-me com um idiota, fiquei tão frustrada que vim parar aqui, no último lugar do mundo.

SCULLY: - Acho que é muito pessoal, mas... Por que não se casaram?

KEVA: - Eu achei que ele não era a pessoa certa. O Walter sempre foi muito sóbrio, rígido, lógico. Eu queria uma pessoa mística e expansiva, assim como eu. E... Aqui estou. Minha suposta alma gêmea não deu certo. Você é cientista, não é? Então deve saber que a lei do magnetismo também se aplica ao magnetismo entre duas pessoas: Dois polos iguais nunca se atraem.

SCULLY: - Por que não tenta com ele novamente?

KEVA: - Agora é tarde demais. Quando eu podia, tinha medo. Nunca tive coragem de revelar o quanto eu gostava dele. Agora, o destino nos separou da convivência mútua e não há mais nada a fazer. O tempo distancia as pessoas. Ou você ouve sua voz interior e arrisca, ou passará o resto da vida chorando pelo romance que não aconteceu.

Scully observa-a. Põe os cabelos para trás das orelhas.

KEVA: - Venha, vamos tomar um café. Você está precisando.


Himalaia - 5:00 PM

Keva guia Mulder e Scully, subindo a montanha coberta de neve. Estão vestidos com grandes casacos e mochilas nas costas.

KEVA: - Não se preocupem, pegamos um caminho um pouco mais longo, mas não precisamos escalar... Este é o território do Yeti. Como alguma coisa pode sobreviver num lugar desses?

MULDER: - Talvez foi o único lugar que restou, longe de nós. Acredito que seja um Neandertal que evoluiu em temperaturas mais baixas. Por isso deve ser mais inteligente do que nós. Não concorda, Scully?

SCULLY: - Supondo que tal criatura exista, Mulder... Eu teria que concordar com você. Alguns estudiosos dizem que quanto mais frio o clima, mais inteligência e dinamismo para o trabalho as pessoas têm. Se isto é verdade, o Yeti teria inteligência o suficiente para cultivar, trabalhar, pensar. Mas devido ao clima rígido, isto se torna impossível e resta à criatura caçar.

MULDER: - Acho que ele é um parente próximo do Pé-Grande.

Scully ri.

MULDER: - Sério. Há evidências fósseis de grandes primatas humanoides, que atravessaram do continente oriental para a América, ainda quando os continentes eram ligados.

SCULLY: - Mas o Pé-Grande não é marrom?

MULDER: - O Pé-Grande vive numa floresta tropical, Scully. O Yeti vive na neve, portanto teve de evoluir seus pêlos para a cor branca, a fim de evitar predadores.

KEVA: - Acho que podemos acampar aqui. É um bom lugar. Está protegido por pedras grandes. Vou armar as barracas. Você, Fox, pode ir pegar um pouco de lenha.

Keva se afasta. Scully olha pra Mulder. Cerra os olhos.

SCULLY: - Fox? Ela te chamou de Fox?

Mulder ri. Scully tira sua mochila das costas, irritada.


9:37 PM

O acampamento está pronto. Eles conversam sentados à beira da fogueira.

KEVA: - Parece um lugar inóspito. Mas eu gosto daqui. Me dá a sensação de pureza, de estar em outro planeta, longe da miséria e das guerras humanas. Tive uma depressão profunda com trabalho, casamento... Quando cheguei aqui, achei que era a coisa errada a ser feita. Agora, vejo que isto é o paraíso.

SCULLY: - Um bocado frio esse seu paraíso...

KEVA: - Você se acostuma. Bom, acho que vou dormir. Temos uma longa caminhada amanhã.

Keva vai pra sua barraca. Scully encara Mulder.

SCULLY: - (FURIOSA) Tenho apenas sete dias de férias. SETE! E você consegue me meter nessa viagem idiota atrás de uma lenda, congelando! Mulder, você não tem pena de mim!

Scully vai pra barraca. Mulder, cabisbaixo, fica triste.


5:01 AM

Scully sai da barraca. Perdeu o sono. A neve cai, bem devagar. De repente, Scully escuta um urro. Puxa a arma. Mulder e Keva saem de suas barracas.

MULDER: - O que foi isso?

SCULLY: - E-eu não sei.

Mulder puxa a arma.

MULDER: - Seja o que for, não deve ser amigável...

KEVA: - Eu estou com medo...

SCULLY: - Mulder, ouvi alguma coisa. Tem algo se movendo atrás daquele monte de gelo.

MULDER: - Não vejo nada.

Keva afasta-se. Encosta-se numa árvore, com medo. Mulder sinaliza para Scully. Ele vai por um lado do monte e ela por outro. Mulder salta para trás do monte, mirando a arma. Não há nada. Apenas gelo.

SCULLY: - Acho que estamos sonhando.

MULDER: - Scully...

SCULLY: - O que foi?

MULDER: - Onde está Keva?

Close da árvore. Keva desapareceu.


BLOCO 2:

5:27 AM

Scully retorna ao acampamento.

MULDER: - Encontrou algo?

SCULLY: - Nada. E você?

MULDER: - Nem pegadas na neve. Seja o que for é bastante esperto, porque pegou o mais forte de nós, o que conhecia o território. Agora, estamos perdidos.

SCULLY: - (FURIOSA) Ótimo! Isso é a melhor notícia que você poderia me dar, Mulder. Estamos perdidos em algum lugar do Himalaia, com alguma coisa nos perseguindo, está nevando, estou congelando... E tudo por sua culpa!

MULDER: - (CALMO) Scully, eu achei que você era minha parceira, que estava disposta a me ajudar...

SCULLY: - (GRITA) Foda-se, Mulder!

Mulder arregala os olhos, surpreso com o palavrão.

SCULLY: - Estou cansada dessas suas paranoias e buscas de mitos! Da próxima vez, tente ir procurar a Medusa! Pelo menos a Grécia é mais quente! E tem praias!

MULDER: - (SILENCIA POR INSTANTES) ... O que vamos fazer?

SCULLY: - Pense você. Porque eu estou com meu cérebro congelado por sua culpa!

Ouve-se outro urro, agora mais próximo deles. Alguns galhos de árvore se mexem.

MULDER: - (GRITA) Corre!

Em meio à floresta e neve, Mulder e Scully estão correndo, com suas armas nas mãos, fugindo de alguma coisa. Os dois estão em pânico.

SCULLY: - Mulder, o que é aquilo?

MULDER: - Eu não sei, Scully. Mas... Corra! Corra!

Uma criatura, semelhante a um macaco branco gigante, corre atrás deles e urra.

MULDER: - Scully, eu acho que é o Yeti!

SCULLY: - Oh, meu Deus, Mulder! Não há lugar para nos escondermos, não temos pra onde fugir!

MULDER: - (PÂNICO) Cala a boca, Scully.

Scully pára. Vira-se para trás e aponta a arma. Mulder, já distante, pára também.

MULDER: - Vamos, Scully!

SCULLY: - Eu vou atirar nele!

MULDER: - Não, não faça isso! Talvez seja o único sobrevivente de uma espécie já extinta. Vai ser uma grande descoberta para a ciência!

SCULLY: - Dane-se a ciência, Mulder! Eu quero ficar viva!

Scully atira três vezes. O animal grita. Foge. Scully joga-se sentada na neve.

SCULLY: - Meu Deus, meu Deus... É o fim!

Mulder aproxima-se. Com receio.

MULDER: - Scully, eu...

SCULLY: - Não fale mais comigo, entendeu? Nunca mais. Daqui em diante vou fingir que estou sozinha no meio dessa neve toda. Por que de fato eu me sinto sozinha.

MULDER: - Eu não atirei por que...

SCULLY: - Você saiu correndo na frente. Eu que me dane!

MULDER: - Scully, o que está acontecendo com você?

SCULLY: - Cala a boca, Mulder. Os covardes vivem bem!

Scully levanta-se. Segue caminhando. Mulder vai atrás dela.

MULDER: - Scully, eu vou voltar pra pegar nossas coisas. Não vamos sobreviver aqui sem comida, água e cobertores...

Scully pára. Volta com ele para o acampamento. As barracas estão destruídas. As coisas todas foram levadas.

SCULLY: - Ótimo! (ERGUE OS BRAÇOS) Sem comida, sem água, sem cobertores, apenas com a roupa do corpo e perdida neste fim de mundo!!!

Mulder fica quieto. Olha pra ela assustado. Scully sai dali. Mulder vai atrás.

MULDER: - Keva disse que havia uma cabana ao norte.

SCULLY: - (FURIOSA) E daí? Você tem uma bússola?

Mulder tira uma bússola do bolso. Scully olha pra ele.

MULDER: - Por aqui, Scully. A única chance que temos é achar essa cabana. Talvez consigamos algum rádio pra pedir ajuda.

Scully o segue, tremendo de frio.

[Corte]

Eles caminham o dia todo. Param em frente a uma grande parede de rochas e gelo. Scully põe as mãos na cintura.

SCULLY: - Muito bem, Mulder. Você tem material para escalar?

Mulder olha para a bússola.

MULDER: - Eu não entendo. Estamos na direção certa, mas Keva disse que não precisaríamos escalar...

SCULLY: - (INDIGNADA) Talvez porque ela sabia os atalhos por aqui. E agora? Ahn?

MULDER: - Scully, se você vai ficar brigando comigo o tempo todo...

SCULLY: - Eu estaria melhor por aqui sozinha do que com você.

MULDER: - (FURIOSO) Você é insuportável sabia? O que quer ouvir? Que eu errei? Eu errei! Pronto! Está satisfeita?

SCULLY: - Assumir a culpa não vai resolver nada.

MULDER: - Nem ficar dizendo palavrões pelas minhas costas.

SCULLY: - Não estou dizendo nada pelas suas costas, "Fox".

MULDER: - (INDIGNADO) Não me chame de Fox!

SCULLY: - (FURIOSA) Fox, Fox, Fox!

Mulder irritado começa a escalar a parede.

MULDER: - Se quiser me seguir... Caso contrário, pode ficar por aí mesmo. Talvez você encontre o Yeti. Aposto que ele é mais inofensivo que você.

Scully, contrariada, tenta subir. Mas devido a sua baixa estatura, não alcança o ponto de apoio. Mulder olha pra ela, lá embaixo.

MULDER: - O que foi?

SCULLY: - Eu não vou subir isso.

MULDER: - (DEBOCHADO) Você não consegue subir, não é mesmo?

Mulder desce. Pega-a pela cintura e a empurra pelo traseiro, pedra acima.

SCULLY: - (INCRÉDULA) O que está fazendo, Mulder?

MULDER: - Estou com as mãos no seu traseiro. Mas não tem outro jeito de empurrar você.

Scully sobe furiosa.

MULDER: - Vamos, não temos o dia todo pra brincar de alpinista.

[Corte]

Visão panorâmica do local. Os dois tentando subir. Ao longe, avistam-se somente montanhas cobertas de neve. A paisagem é toda branca. Eles se parecem com dois pontos negros diante da imensidão do lugar.

[Corte]

Quase no topo, Scully escorrega e cai sobre uma plataforma de gelo. Mulder vai ajudá-la.

MULDER: - (ASSUSTADO) Você está bem?

Scully fica deitada na neve. Fisionomia de dor, esfregando a perna.

SCULLY: - Minha perna dói...

Mulder olha para as pernas dela. Uma delas sangra através da roupa.

MULDER: - Você deve ter batido em alguma pedra.

Mulder ajuda Scully a levantar.

MULDER: - Apoie-se em mim. Vamos subir juntos.

SCULLY: - Não vamos conseguir.

MULDER: - Vamos. Eu te ajudo.

Mulder tenta segurar-se nas pedras. Tenta tirar a neve delas, mas mesmo assim são escorregadias. Ele segura Scully com força.

MULDER: - Você precisa me ajudar.

Scully agarra-se nas pedras. Escala apoiada nele.

MULDER: - Falta pouco. Segure-se aqui. Eu vou subir e puxo você.

Mulder chega ao topo. Deita-se no gelo. Estende os braços pra baixo.

MULDER: - Me dá sua mão.

SCULLY: - (OLHANDO PRA BAIXO) Estou com medo, Mulder...

MULDER: - Olha pra mim! Não olha pra baixo. (DEBOCHADO) Vamos lá Scully, não é todo dia que um cara pede a sua mão!

SCULLY: - Vou cair! (OLHA PRA BAIXO/ ANGUSTIADA) Ai meu Deus... É o fim...

MULDER: - Você sempre confiou em mim, não? Preciso que confie agora. Não olhe pra baixo. Mantenha seus olhos pra cima. Agora, vamos, me dá sua mão!

Com dificuldade, Scully estende uma das mãos. Mulder consegue pegá-la. Puxa-a pra cima. Scully chega ao topo, arrastada. Mulder está cansado, fica deitado ao lado dela. Respira ofegante.

MULDER: - (OFEGANTE) Conseguimos.

SCULLY: - (OFEGANTE) Você conseguiu.

MULDER: - (OFEGANTE) Era o mínimo... Que podia fazer... Depois de colocar você nessa "gelada".

Mulder levanta-se. Olha pra sua mão. Está sangrando. Olha pra frente. Apenas neve.

MULDER: - Droga! Onde está esse maldito chalé? Fim de mundo desgraçado!

Mulder atira-se no chão.

MULDER: - Merda, merda, merda!

Scully senta-se na neve. Olha pra ele com deboche.

SCULLY: - Impressão minha ou você também falou palavrão?

MULDER: - Merda! Isto é uma grande merda, Scully!

Scully começa a rir.

MULDER: - (INDIGNADO) Do que você está rindo?

SCULLY: - Da nossa situação. Olha pra nós, Mulder. Depois de tanta "merda" juntos, vamos terminar aqui?

MULDER: - Pelo menos estivemos no topo. Do mundo.

SCULLY: - O topo do mundo é o Everest, Mulder, e deve estar há alguns quilômetros de distância.

MULDER: - Vamos, Scully. Está anoitecendo e eu quero tirar vantagem daquela coisa lá atrás.

Mulder ajuda Scully a se levantar e caminhar.

[Corte]

Os dois agentes caminham por mais um tempo, até encontrarem outra pequena porção de árvores.

MULDER: - Aqui estamos mais protegidos.

Mulder ajuda Scully a sentar. Scully senta-se, encosta-se numa pedra.

MULDER: - Vou tentar acender uma fogueira. Mas você é quem faz bem isso.

Scully tira uma caixa de fósforos do bolso. Entrega pra ele. Mulder sorri.

SCULLY: - Depois daquela, agora ando precavida.

[Corte]

Mulder senta-se ao lado dela. A fogueira está acesa. Scully treme de frio.

MULDER: - Eu faço o primeiro turno.

SCULLY: - Não, você está cansado. Eu faço.

MULDER: - Sem discussões.

Scully olha pra mão dele.

SCULLY: - Você se machucou...

MULDER: - Foi só um arranhão. Como está sua perna?

SCULLY: - Dói, mas me sinto melhor.

Mulder a puxa de encontro a seu corpo. Scully lança um olhar de desconfiança.

MULDER: - Só vou esquentar você. Tenta dormir.

SCULLY: - Como é que vou confiar em você? Você pode pegar no sono.

MULDER: - Não, eu não vou dormir.

SCULLY: - Canta alguma coisa pra mim. Daquela vez, quando estávamos naquela floresta, eu cantei pra você.

MULDER: - É, mas eu não sei a letra da música do Creedence, 'Joy to the world'... Nada sei do tal sapo Jeremiah...

Scully ri. Aconchega-se nos braços dele. Fecha os olhos. Mulder começa a cantarolar .

MULDER: - O velho McDonald, tinha uma fazenda, ia, ia, iô... E nessa fazenda, ele tinha uma galinha...

SCULLY: - (RINDO) Ia, ia, iô...

Mulder pára de cantar.

MULDER: - Ouvi alguma coisa, Scully.

SCULLY: - É apenas o eco da sua voz desafinada, Mulder ...

Mulder fica atento. Scully, cansada, dorme.


BLOCO 3:

10:33 AM

Mulder e Scully continuam caminhando, apoiados um no outro. A nevasca está contra eles. Mulder avista um chalé, ao longe.

MULDER: - Scully, estamos quase lá... Mais um pouco...

Scully cai ao chão, quase congelada. Mulder a levanta.

MULDER: - Vamos conseguir.

SCULLY: - (CANSADA/ OFEGANTE) Não vejo nada, Mulder... Nem sinto mais minhas pernas...

MULDER: - Aguenta firme aí, Scully...

SCULLY: - É uma miragem...

MULDER: - Scully, nós não estamos no Saara, estamos no Himalaia.

SCULLY: - Onde? Eu acho que estou delirando...

[Corte]

Mulder abre a porta da cabana com um chute. Olha pra dentro, abismado.

MULDER: - Scully, você tem que ver isto.

Scully, do lado de fora, atirada na neve, tenta reagir. Levanta-se. Entra na cabana. Abre um sorriso de felicidade.

Uma cabana confortável e aconchegante.

MULDER: - O que mais que você queria? Temos lareira, lenha, tapete de urso, fogão... (ABRE OS ARMÁRIOS) E comida!!!

Scully caminha até a lareira. Pega os fósforos e acende o fogo. Mulder continua revirando os armários.

MULDER: - Quer biscoitos?

SCULLY: - Nunca pensei em ficar feliz com um pacote de biscoitos... Vou fazer um café...

MULDER: - Eu faço. Acho melhor você se deitar.

Scully tira o casaco. Pendura-o num cabide atrás da porta. Caminha até a cama de casal. Atira-se nela.

SCULLY: - Mulder.

MULDER: - O que é.

SCULLY: - Tem algo errado aqui.

MULDER: - O quê?

SCULLY: - Esta é a única cama. Não há sofá. Onde você vai dormir?

MULDER: - (DEBOCHADO) Do seu lado?

SCULLY: - Acho que não. Quando você for dormir, eu faço a vigília.

Mulder tira uma garrafa do armário.

MULDER: - Uau! Temos vinho. O que você acha?

SCULLY: - Zzzzzzzz

MULDER: - Scully?

SCULLY: - Zzzzzzzz

MULDER: - Que bela companhia eu arrumei!

Mulder tira o casaco. Abre o vinho. Serve numa caneca. Deita-se no tapete, ao lado da lareira, esfregando as mãos. Olha pra Scully dormindo.


7:00 PM

Mulder acorda. Percebe que dormiu no tapete. Vê Scully colocando pratos na mesa.

MULDER: - Ei, estou sentindo cheiro de comida caseira?

SCULLY: - É, preparei um jantar pra nós com o que encontrei nos armários. Tem comida aqui pra mais de um mês.

MULDER: - Por isso eu adoro trabalhar com mulheres... Que horas são?

SCULLY: - Sete da noite.

MULDER: - Dormi a tarde toda. Como está sua perna?

SCULLY: - Encontrei um estojo de primeiros socorros no banheiro. Estou melhor. Foi só um corte, nada profundo. Deixe-me ver sua mão.

MULDER: - Não mesmo. Estou com tanta fome que a minha mão pode esperar.

Mulder puxa a cadeira pra ela.

MULDER: - Primeiro as damas...

SCULLY: - Mulder, eu achei um radiotransmissor, mas não consigo contato. O tempo está ruim lá fora. Ouvi que uma tempestade de neve se aproxima daqui.

MULDER: - Pelo menos estamos abrigados. Ou eu estou com muita fome ou você cozinha muito bem... (BOCA CHEIA) Scully, isso aqui tá uma delícia!

SCULLY: - (SORRI) ... Gostou mesmo?

MULDER: - Engraçado, Scully... Não conhecia esse seu lado. Você nunca me convidou pra jantar na sua casa. Eu nem sabia que você cozinhava!

SCULLY: - Porque eu cozinho tão bem que se convidasse você pra jantar uma única vez, com certeza você iria acabar arrumando desculpas para filar minha comida todos os dias. Quer vinho?

MULDER: - Aceito. Pelo menos esquenta mais.

SCULLY: - Tem uma garrafa de uísque também... Mulder, como é que vão nos encontrar aqui?

MULDER: - (DEBOCHADO) Não se preocupe, Scully. Se não nos encontrarem, eu vou caçar todos os dias e você cria os nossos filhos.

SCULLY: - O que será que aconteceu com a Keva?

MULDER: - Espero que ela esteja bem. Pelo menos, parece que o Yeti nos deixou em paz...


Hotel Krishna-Vishnu - 10:45 PM

Keva ao telefone.

KEVA: - ... (RINDO) O serviço foi feito. Os dois já devem ter chegado na cabana. Agora, é com eles. Você já fez sua parte.

SKINNER (OFF)x: - (RINDO) E o Yeti?

KEVA: - Não se preocupe com o Yeti, Walter. É uma lenda. Um amigo meu conseguiu assustá-los direitinho.

SKINNER (OFF): - Olha, eu não quero que eles se machuquem. Mas é que eu preciso fazer isso por eles...


Himalaia - 10:51 PM

Scully termina de enfaixar a mão de Mulder. Os dois bebem vinho, sentados no tapete.

SCULLY: - Pronto, Mulder. Agora está melhor.

MULDER: - (OLHANDO PARA A MÃO ENFAIXADA) Scully, alguma coisa me diz que armaram essa pra gente.

SCULLY: - Por que diz isso?

MULDER: - O Skinner me entregou aquele jornal dizendo que seria um ótimo lugar para uma investigação de férias...

SCULLY: - Não acha que Skinner...

MULDER: - Que ele está tramando alguma com o Canceroso? Não. Mas tem alguma coisa estranha por aqui... Talvez tenham usado o Skinner para nos afastar de alguma coisa que está acontecendo nesse momento em Washington. Pense bem. Não...

SCULLY: - Relaxa, Mulder. Estamos cansados demais pra pensar. Eu faço o primeiro turno.

MULDER: - Não, eu faço...

SCULLY: - Estou sem sono.

MULDER: - (ABORRECIDO) Scully, você ainda tá zangada comigo?

SCULLY: - Um pouco. Mas você mereceu.

MULDER: - (PIDÃO) Tá, eu sei, mas... Desculpe.

SCULLY: - Desculpas aceitas se sairmos vivos daqui.

MULDER: - Queria uma televisão agora.

SCULLY: - Eu adorava aqueles faroestes italianos que passavam na madrugada. (SORRI) Eram verdadeiros pastelões...

MULDER: - (SORRI) Você gostava dos Três Patetas?

SCULLY: - Eles eram uns imbecis, mas eu gostava. (RI) Eu gostava mais do Larry.

MULDER: - O Shemp era mais divertido. O Moe era um chato!

SCULLY: - (SORRI) Eu odiava o Moe porque ele maltratava os outros dois.

Scully perde os olhos no nada, sorrindo, saudosa. Olhos iluminados que atraem a atenção de Mulder, que a observa com o pensamento ao longe.

SCULLY: - (SORRINDO) Lembro de um episódio em que Shemp estava com problemas pra dormir e Moe e Larry tentavam fazer com que ele tomasse comprimidos pra dormir... (PERCEBE MULDER A OBSERVANDO/ SORRI) O que foi?

Mulder continua longe.

SCULLY: - Mulder, o que foi?

MULDER: - (ENCABULADO) Nada. Eu estava apenas pensando.

SCULLY: - No quê?

MULDER: - Estava pensando em mim. Na minha vida. Nas coisas que joguei fora pelas atitudes erradas. No tempo que perdi, isolado na minha concha, com medo de todos, tendo que me afirmar no trabalho por não conseguir me afirmar nas coisas que são naturais para os seres humanos. Por ser a piada de todos, só porque escolhi acreditar em algo diferente de cartão-ponto, casamento e família. Scully, você me acha estranho por causa disso?

SCULLY: - Minha opinião é importante pra você? Isso é algo particular demais, Mulder, como eu poderia julgar você e...

MULDER: - Esqueça esses protocolos, não estamos no FBI. Não é questão de julgamento. Apenas me responda, você me acha estranho?

SCULLY: - Acho você diferente. E gosto disso em você. Jamais conheci alguém como você... Mulder, as pessoas costumam seguir padrões impostos pela sociedade, pela própria cultura e pelo próprio instinto de sobrevivência. Elas sonham, mas abandonam seus sonhos porque se cansam de lutar. Então formam uma grande massa de seres que passam toda a sua vida almejando um bom salário, uma boa casa... Casando-se, procriando-se... Resumem suas vidas a isso. É claro que isso faz parte, mas não é tudo...

MULDER: - Você concorda comigo que esse tipo de vida é uma coisa meio... Meio animal? Sem graça? Você acha que sou menos humano por ser obcecado com a verdade sobre os alienígenas, sobre conspirações, em tentar encontrar minha irmã?

SCULLY: - Mulder, você é obcecado. E é menos normal do que elas. O que não significa que você seja louco. Você apenas conseguiu se desligar da banalidade da vida. Você foi adiante. Saiu da caverna de Platão, entende? Você procurou outros caminhos, porque os caminhos triviais das pessoas não lhe bastavam. Você sabe que há mais na vida do que isso. Você sabe que temos um propósito aqui e que, pela lei da evolução, deve ser muito mais do que trabalhar, comer e se reproduzir.

MULDER: - O que mais de 90% do mundo faz. Scully, às vezes eu olho pra essa gente e parece que vejo um bando de Neandertais. Ninguém se questiona das coisas, não percebem as entrelinhas...

SCULLY: - Talvez eles sejam. Talvez, poucos como nós, sejam os verdadeiros resultados da evolução. Hum... (RINDO) Que alter ego que eu tenho!

MULDER: - Nós? Mas você sonha em ter uma vida comum...

SCULLY: - Isto foi antes de abraçar a sua causa. Eu quero algumas coisas normais na minha vida, Mulder. Ter alguém que cuide de mim, um lar, filhos... Adotivos. Mas eu também quero fugir do lugar-comum.

Mulder olha ternamente pra ela. Scully levanta-se.

SCULLY: - Vá dormir, Mulder. Você bebeu demais, já está no estágio da filosofia. Quando começar a contar piadas, atiro em você.

MULDER: - Estou gostando de conversar. (SORRI/ TÍMIDO) Nós nunca conversamos sobre essas coisas. É só trabalho... Talvez temos mais em comum do que pensamos. Talvez nossa divergência esteja apenas no trabalho.

SCULLY: - E nas crenças, no modo de pensar...

MULDER: - Não, eu não acho. Às vezes, olhando pra você, eu percebo que você é uma mulher que tenta se afirmar num mundo machista. Por isso sua necessidade constante de estar certa em relação a mim. De discordar, de provar que como mulher você pode superar um homem...

SCULLY: - Mulder, não dê uma de psicólogo comigo. Vá dormir um pouco.

Mulder deita-se na cama. Olha debochado pra ela.

MULDER: - Estou gostando daqui. Eu, você, uma garrafa de vinho...

SCULLY: - Mulder, eu estou armada. Não se esqueça disso.

Mulder sorri. Scully senta-se numa cadeira. Olha pela janela a neve que cai.


1:10 AM

Mulder acorda-se. Scully ainda está sentada na cadeira. Ele levanta-se.

MULDER: - Hora de trocar o turno.

Scully seca os olhos rapidamente com as mãos. Levanta-se. Mulder percebe que ela chorou. Não diz nada. Scully vai pra cama. Ele a cobre com um cobertor.

MULDER: - Tenta dormir um pouco. Vai fazer bem pra você.

Um barulho lá fora. Mulder pega a arma. Scully levanta-se. Mulder abre a porta. Vê a criatura correndo, sumindo no meio da nevasca. Mulder corre. Scully vai atrás dele. Mulder pára.

SCULLY: - Era o Yeti?

Mulder olha para o chão. Há uma grande pegada.

MULDER: - Acho que era.

Os dois voltam pra dentro. Scully deita-se. Fecha os olhos.

MULDER: - Scully, amanhã vamos caminhar por aí em busca de pistas. Você tem noção do que a descoberta desse tipo de criatura causaria no mundo científico? Poderia arrasar com a teoria da evolução do homem. Ou se fosse um primata, poderia confirmar que evoluímos dos símios e...

SCULLY: - Zzzzzzzz

MULDER: - (INCRÉDULO) De novo? Ô Scully... Você tá acordada?

Scully está ferrada no sono. Mulder senta-se no tapete e a observa dormindo.

MULDER: - Scully? Uh-uhhh? Você está aí?

SCULLY: - Zzzzzzzz

MULDER: - Scully, o Yeti está aí fora! Rápido!!!

SCULLY: - Zzzzzzzz.

MULDER: - ... (SORRI/ CABISBAIXO) Sabe, Scully, os melhores anos da minha vida eu passei com você. Tá ouvindo? Olha, eu... Ah, deixa pra lá.


2:32 AM

Mulder lê uma revista sobre alpinismo que achou por ali. Com a garrafa de uísque do lado. Olha pra Scully. Ela está tremendo. Mulder levanta-se. Vai até a cama. Põe a mão na testa dela.

MULDER: - Scully, você tá com febre.

Mulder vai até o banheiro. Revira o armário. Encontra alguns comprimidos. Serve um copo de água. Volta pra perto de Scully.

MULDER: - Ei, acorda!

SCULLY: - O que é, Mulder...

MULDER: - Você tá com febre. Tome um destes.

Scully ergue-se e toma o comprimido. Cai no travesseiro de novo.

SCULLY: - Mulder... Estou com frio.

Mulder procura mais cobertores. Não encontra. Coloca seu casaco sobre Scully, que ainda assim continua tremendo. Mulder olha pra cama. Olha pro outro lado, mordendo os lábios, angustiado. Olha pra Scully.

MULDER: - ... Scully, eu espero que não me interprete mal, mas eu preciso esquentar você.

Mulder senta-se na cama ao lado de Scully. Enfia-se debaixo do cobertor.

SCULLY: - (ASSUSTADA) Mulder, o que pensa que está fazendo?

MULDER: - Dois corpos se esquentam melhor que um. Comprovação científica. Você está queimando em febre, e eu não sou nenhum canalha. Vou ficar sentado aqui do seu lado.

Scully sorri. Encosta-se no peito dele. Ele a abraça.

SCULLY: - Promete que vai ficar sentado aí a noite toda?

MULDER: - Prometo. Eu não vou me deitar.

SCULLY: - Mulder, você tá bêbado!

MULDER: - Não, eu só bebi um pouquinho pra me esquentar. Tá quatro graus abaixo de zero lá fora. Também estou com frio.

SCULLY: - Eu tô mal, Mulder...

Mulder faz carinhos nos cabelos dela. Scully abre os olhos.

SCULLY: - O que está fazendo, Mulder?

MULDER: - (SAUDOSO) Minha mãe costumava fazer isso quando eu ficava doente. Não me deixava melhor, mas pelo menos me fazia dormir.

Scully fecha os olhos. Dorme. Mulder coloca a arma do seu lado.


3:02 AM

Scully abre os olhos. Sente uma respiração na sua nuca. É Mulder, dormindo, grudado nela, com o braço por cima de sua cintura. Scully sente alguma coisa dura contra ela. Arregala os olhos.

SCULLY: - Mulder... O q-que está fazendo?

MULDER: - Zzzzzz

SCULLY: - (CONSTRANGIDA) Mulder...

MULDER: - (SONOLENTO) O que é?

SCULLY: - Mulder, e-eu... Acho que isso é constrangedor e...

Mulder põe a mão debaixo do cobertor, meio dormindo. Procura alguma coisa. Acha sua arma que estava encostada no traseiro de Scully. Vira-se para o outro lado. Scully fica vermelha. Por fim, segura o riso, rindo de si mesma.


3:27 AM

[Som: Rick Astley – Cry for Help]

Mulder se acorda. Meio sonolento, mal distingue o que vê, até que percebe que é a nuca de Scully. Se dá conta que está agarrado nela. Tira o braço da cintura dela e afasta-se lentamente.

Mulder observa a parceira dormindo. Levanta sua mão, ainda enfaixada, e passa por sobre os cabelos e o corpo de Scully, sem tocá-la, para ela não acordar. Admira Scully. Fecha os olhos, aspirando o perfume dela, num sorriso terno. Percebe a besteira que está fazendo.

Vira-se rapidamente na cama, angustiado. Fica olhando para a parede, tenso, contando as marcas na madeira, tentando desviar sua atenção do calor do corpo atrás dele. Que não é um corpo qualquer, e sim, o corpo dela. Dela.

E isso só faz o coração dele bater mais descompassado. A respiração acelera. A angústia aumenta e o agente Mulder cerra os olhos. Respira fundo. Tenta se conter, lutar, mas não consegue.

Então Mulder vira-se pra Scully. Coloca sua mão e sua perna por sobre o corpo da parceira, se aninhando contra ela. Ofegante, aproxima seu rosto dos cabelos de Scully. Aspira o perfume deles, como quem aspira à vida.

Ela se acorda. Mulder puxa o corpo de Scully suavemente de encontro ao seu. Desliza os lábios e começa a beijar a nuca, descendo para o pescoço da parceira. Scully, imóvel, ergue as sobrancelhas assustada, incrédula com a atitude dele. Mas não reage. Fica paralisada. Mulder continua a beijá-la. Beija seu ombro. Então cai em si. Afasta-se dela rapidamente, pulando da cama.

MULDER: - (NERVOSO) Me-me desculpe, e-eu...

Scully continua paralisada. Olha pra ele, ainda incrédula, olhos arregalados.

MULDER: - O-olha, e-eu...

Mulder chuta uma das cadeiras, com raiva de si mesmo. Scully senta-se na cama. Observa-o em silêncio, estarrecida.

MULDER: - O-olha, Scully, e-eu não quero que você pense que...

SCULLY: - ... (INCRÉDULA)

MULDER: - (ANGUSTIADO) E-eu...

Mulder põe o casaco e sai porta a fora. Scully põe as mãos no rosto, soltando um suspiro profundo.

SCULLY: - Eu não acredito... Isso não pode estar acontecendo...


BLOCO 4:

4:07 AM

Scully bebe café, sentada à mesa, olhos perdidos no nada. Mulder entra, cabisbaixo, envergonhado. Olha pra ela, arrependido.

MULDER: - Foi uma atitude desesperada e eu espero que você possa me perdoar...

Scully desvia o olhar pra ele, com piedade.

MULDER: - E-eu quero que você continue confiando em mim, que essa situação não afete a nossa amizade, o trabalho que fizemos juntos e... Droga!! (IRRITADO/ PASSA AS MÃOS NO ROSTO) Estou mentindo pra mim mesmo!!! Como as coisas poderão voltar a ser como antes?

Scully fecha os olhos. Respira fundo. Mulder apoia a mão na parede, cabisbaixo.

MULDER: - ... Já que eu fui um imbecil e que estraguei tudo mesmo, não adianta mais esconder.

Scully abre os olhos. Olha pela janela. Nervosa. Mulder vira-se pra ela.

MULDER: - E-eu fiz aquilo por que... Por que...

Scully olha pra ele. Com a expressão no rosto de quem já sabe o que vai ouvir.

MULDER: - Por que eu te amo! (RESPIRA ALIVIADO) Pronto! Até que enfim consegui dizer isso! Não quero que você pense que sou um canalha que gosta de atacar minhas amigas no meio da noite. Eu... Você há muito deixou de ser apenas uma amiga.

Scully fecha os olhos. Abaixa a cabeça.

MULDER: - E-eu vou entender se você brigar comigo, nunca mais olhar na minha cara. Depois de hoje, nada mais será como antes. Estraguei nossa amizade, nossa confiança, nosso trabalho. Coloquei tudo fora, por que não pude mais controlar esse sentimento que está ficando difícil de conter. (ANGUSTIADO) Não dá mais, entende? E-eu... Eu amo você demais, Scully.

SCULLY: - (MEDO) Mulder... Seja sincero, não brinque comigo, por favor.

MULDER: - (INCRÉDULO) Sincero? Mais sincero do que eu estou sendo, admitindo o que sinto por você? (INDIGNADO) Você quer sinceridade, tá bom, eu vou ser sincero: Eu menti. É que estou sozinho aqui, com uma mulher que não é uma página de revista barata, e então resolvi me aproveitar!

Mulder, irritado, pega a garrafa de uísque. Bebe pelo gargalo.

MULDER: - (SENTINDO-SE REJEITADO) Poderia ser a Sharon Stone, a Tina Turner ou você!!! Tanto faz!!!

SCULLY: - Por que está sendo estúpido comigo?

MULDER: - Por que achei que você também sentisse algo por mim!

SCULLY: - (MEDO) Mulder, eu alguma vez dei motivo para você pensar isto?

MULDER: - "O nome dela é Bambi?"... "Ah, a Drª White!"... E o que me diz daquele tal do Eddie mutante? Você estava prestes a ir pra cama com ele quando eu abri aquela porta! E o pior é que ele era eu. Ou sei lá o que ele era.

SCULLY: - (AUTODEFESA) Eu estava bêbada!

MULDER: - (AUTODEFESA) Ah, essa é uma boa desculpa. Como sou burro! Por que não pensei nisso antes? Eu estava bêbado, Scully! Por isso agarrei você aqui.

SCULLY: - (AUTODEFESA) Você não tem o direito de falar assim comigo!

Scully levanta-se da cadeira.

SCULLY: - Você é a pessoa mais imprestável que eu já conheci, Mulder. Desde o primeiro dia em que coloquei meus pés naqueles malditos Arquivos X eu odiei a sua arrogância!

MULDER: - Ah, e você? Ahn? Quando vi você pela primeira vez, eu vi a própria Mata Hari tentando me dedurar. Pronta para armar a forca na praça pública e levar minha cabeça numa bandeja para o Canceroso.

SCULLY: - Humph!

MULDER: - E quer saber do que mais? Você é uma ruivinha, baixinha, que era sardenta quando criança, mimada e com um alto grau de convencimento!

SCULLY: - Ah, eu sou? (FERINA) E você, que é um lunático, um tarado... Não, porque tem que ser um tarado pra ter uma gaveta cheia de fitas pornôs no próprio escritório! Já pensou que o fato de comer sementes de girassóis é um símbolo fálico, agente Mulder? Como psicólogo deveria saber disso!

MULDER: - ... Já parou pra pensar que as fitas são uma fuga porque eu tenho medo de me entregar, de amar alguém?

Scully abaixa a cabeça. Silêncio dos dois por segundos. Nenhum deles olha pro outro. Segundos depois, Mulder vira-se pra ela.

MULDER: - ... Eu... Eu tenho medo de amar, Scully. Medo de que aconteça o que aconteceu aqui hoje. É por medo disso que eu prefiro ficar com minhas fitas.

Scully senta-se na cama, perplexa com a revelação. Mulder caminha de um lado para o outro, nervoso.

MULDER: - Desculpe... Eu fui grosseiro com você. Você não tem obrigação de aceitar o que sinto. Foi criancice.

Scully apoia os cotovelos por sobre os joelhos. Coloca as mãos sobre o rosto.

MULDER: - Só quero que saiba que eu vou entender se você pedir transferência dos Arquivos X. Mas eu não queria perder sua amizade. Sei que estou pedindo muito.

SCULLY: - (ANGUSTIADA) Isso não está acontecendo! Eu estou dormindo! Amanhã vou acordar na Califórnia, na beira da praia, com um homem desconhecido e várias latas de cerveja...

Mulder senta-se na cama ao lado dela. Scully pega a garrafa das mãos dele. Bebe um grande gole. Mulder olha para o nada.

SCULLY: - ... E-eu bem que tentei, mas... Eu nunca acredito em nada mesmo. (RI DE SI MESMA) Você já devia saber disso, Mulder.

Scully bebe outro gole. Entrega a garrafa pra Mulder.

SCULLY: - Toma. Você tá precisando.

MULDER: - Eu te amo, Scully. Só queria que entendesse que isso é uma verdade.

SCULLY: - (OLHA PRA ELE/ APAIXONADA)

MULDER: - (TRISTE) Não quero te perder. E o que fiz hoje, num desespero, vai fazer eu te perder. Se não posso ter você como mulher, me deixa tê-la como amiga. Mas não me deixe, por favor.

SCULLY: - (OLHAR AO LONGE) Mulder... Você me surpreende todo o dia. Esse seu lado é realmente engraçado. Agora entendo porque mulheres como Phoebe Green e Diana Fowley fizeram o que quiseram com você. Você parece um garoto arrependido, culpado por ter sentimentos, que se humilha, numa tentativa desesperada de apagar o que fez. De fugir do que sente. Mulder, você se desculpa demais. Criou regras próprias para você e as segue rigidamente. Não dá a si mesmo o direito de sentir.

Mulder abaixa a cabeça.

SCULLY: - (BEBE OUTRO GOLE) ... Há alguns anos, tentei chamar a sua atenção. Mas me dei conta de que isso não ia levar a nada, vendo mulheres como a Diana Fowley perto de você. Mulheres sexys, sedutoras, como a Miss Novembro de 1998, que você pendurou no lado de dentro da porta do armário.

Mulder sorri.

SCULLY: - Não passo de uma sombra atrás de você, Mulder. Eu caminho em direção oposta à sua.

MULDER: - (OLHA NOS OLHOS DELA) Se você caminha em direção oposta à minha, eu vou caminhar atrás de você.

SCULLY: - (TRISTE) Eu sou sem graça, Mulder. Não posso competir com a Miss Novembro de 1998.

MULDER: - Isso não é verdade. A Miss Novembro de 1998 está na porta do meu armário porque é a convenção de beleza feminina que a sociedade impôs. Eu não pendurei uma ruivinha, baixinha...

SCULLY: - (SORRI) Que era sardenta quando criança....

MULDER: - Por que as ruivinhas baixinhas estão mais distantes do meu mundo do que a Miss Novembro de 1998, que qualquer um pode ter, então por isso eu a tenho. Você precisa de uma prova científica dos meus sentimentos?

SCULLY: - Não, Mulder. Eu confio no meu "sexto sentido"...

Scully pega na mão dele. Olha nos olhos de Mulder, que ainda está angustiado e culpado.

SCULLY: - Mulder, eu... Eu não quis magoar você. É que foi difícil acreditar que... Eu precisava ter certeza, como sempre preciso. Ter certeza de que a coisa com a qual eu mais sonhava estava se realizando.

Mulder olha pra ela sem compreender. Scully tira a garrafa das mãos dele.

SCULLY: - Acho que você não precisa mais disto. Precisa disso.

Scully aproxima seus lábios dos de Mulder. Olha-o nos olhos. Fecha os olhos. Mulder aproxima seus lábios, segura o rosto dela e a beija ternamente nos lábios. Scully deixa o corpo cair por sobre a cama, levando o corpo dele sobre o seu.

MULDER: - Se você não quiser, eu...

SCULLY: - Cala a boca, Mulder.

Mulder deita-se sobre ela. Ela o empurra.

SCULLY: - Você está molhado!

MULDER: - Eu caminhei lá fora, estava nevando...

Scully tira o blusão dele.

MULDER: - Tá frio...

SCULLY: - (RINDO) Cala a boca, Mulder!

Mulder senta-se na cama.

MULDER: - Não dá, Scully. Eu não consigo. Isso não tá acontecendo...

Scully empurra-o na cama. Deita seu corpo sobre o dele.

SCULLY: - Chega de brincadeiras, Mulder. É sério.

Os dois começam a rir.

MULDER: - Não dá. Acabou o clima.

Scully sai de cima dele.

SCULLY: - (RINDO) Vou fazer um café. Preciso de cafeína desesperadamente.

MULDER: - Vou tentar consertar o rádio. Precisamos sair daqui.

SCULLY: - E o Yeti?

Mulder coloca o blusão.

MULDER: - Dane-se o Yeti. Que Yeti?


FBI - Washington D.C. - Gabinete do diretor assistente - 3:45 PM

Skinner está sentado à sua escrivaninha, lendo um relatório. Mulder e Scully entram em silêncio. Sentam-se.

SKINNER: - Então este é o relatório. Nenhuma evidência do Pé-Grande...

SCULLY: - Do Abominável Homem das Neves, senhor.

SKINNER: - Sorte a de vocês que a Keva acionou um grupo de resgate.

MULDER: - Só não entendo porque ela demorou tanto pra isso.

SKINNER: - Bem... Problemas de transmissão, agente Mulder. Vocês estavam no Himalaia, não se esqueçam. Algo mais a acrescentar no relatório?

Skinner olha apreensivo para os dois. Nervoso. Curioso. Scully segura um sorriso. Mulder olha pra ela apaixonado.

MULDER: - Acredito que não, Skinner. O Yeti tentou agarrar a agente Scully durante a noite, mas ela conseguiu se livrar dele direitinho. O Yeti não teve chance.

SKINNER: - E como ele é, agente Scully? Qual a aparência dele?

Scully fala, segurando um sorriso.

SCULLY: - Não tenho certeza, senhor. Mas é realmente muito alto. Talvez, em outra ocasião, eu possa descobrir. Mas não foi dessa vez.

Mulder esconde um sorriso com a mão. Skinner olha sério pra eles.

SKINNER: - Bom, se é só isso.

Os dois saem da sala em silêncio. Skinner escuta a gargalhada de Scully do lado de fora. Skinner sorri. A secretária entra.

SECRETÁRIA: - Telefone, senhor. Senhorita Keva, do Nepal.

Skinner atende o telefone.

SKINNER: - ... Eles chegaram bem. Encare isso como uma tentativa de ajudá-los a não errarem como nós erramos. Obrigado por me ajudar a fazer um favor para dois amigos. Talvez um dia, eu alugue aquela cabana, não pra eles, mas para nós. Só que você pode deixar o Yeti de fora.

Skinner desliga o telefone. Volta a seus afazeres, segurando um sorriso nos lábios.

Fade out.


28/10/1999

16. November 2018 12:57 0 Bericht Einbetten Follow einer Story
3
Das Ende

Über den Autor

Lara One As fanfics da L. One são escritas em forma de roteiro adaptado, em episódios e dispostas por temporadas, como uma série de verdade. Uma alternativa shipper à mitologia da série de televisão Arquivo X.

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