Este conto foi criado para o Desafio "Gostosuras ou Travessuras" de 2018. De acordo com o desafio, cada escritor recebe uma imagem, aleatoriamente, e deve escrever uma história a partir dela. Este conto que irá começar a ler [espero que goste hehe] foi baseado na imagem abaixo:
Créditos da imagem: Menoevil.
Em uma manhã de 31 de Outubro, uma árvore, cujo grosso galho pendia perto das águas do rio, entoou uma canção para as águas corredeiras:
– Tempo. Tempo. Inexorável, imperturbável, impetuoso, linear, ilusório. Esse tempo que nos cerca sem parar como as suas águas, ó, rio. Minhas raízes que se alastram por esse vasto domínio de terra sentem cada pedregulho, cada cupim, cada formiga, cada coelho, cada rato que se embrenha por esses campos verdejantes. Elas sentem cada mineral a absorver, cada passada de água a correr, cada passo pisado, e como são tantos esses últimos. Eles vêm com firmeza alguns, com timidez, outros poucos, mas sempre vêm no final. Vêm pela companhia, pois qual companhia melhor há de se ter do que a de uma velha árvore que já viu tantos tipos de flores florescerem? Ah, sim, companhia, é o que todos eles querem, mesmo que uns já venham acompanhados a se embrenhar por minhas raízes expostas como cama macia para os toques ardentes. Ouço as palavras de amor e os suspiros de exaltação, faço minhas folhas balançarem ao som da brisa fresca como melodia singela aos ouvidos deles. Alguns vêm sozinhos apenas, ter consigo mesmos e sem perceberem contam a mim seus mais profundos segredos, porque sim, minhas raízes também sentem estes. E enquanto alguns vêm pintar e desenhar essas paisagens maravilhosas à sombra da minha copa, na tentativa de levar ao papel em branco a essência mais pura do que há nesse mundo, outros vêm se amarrar ao meu grosso braço para uma sentença mortal, ainda que eu não tenha sido feita para tal. Todas essas companhias que recebo, num primeiro momento tão diferentes, se mostram, ao meu espírito amadurecido, iguais num mesmo aspecto: nenhum deles conhece o tempo como nós conhecemos, não é mesmo? Ah, que peso incômodo é quando assim acontece de servir de instrumento pérfido e peço desculpas, do fundo das minhas raízes, por não conseguir aguentar tal peso por vezes e deixar cair a infelicidade em corpo, maculando suas límpidas águas. Ó, rio, que dias melhores venham para tais pesares não existirem mais. Assim que meus visitantes de passos tímidos e firmes compreenderem nosso tempo, não mais precisarei sucumbir e manchar suas águas, assim como você não precisará mais carregá-los até suas margens secas, tanto de água quanto de vida. Mas veja, minha amiga querida, sinto passos a avançarem pelo campo em nossa direção! É alguém a procura da companhia de uma velha árvore, alguém que deseja sussurrar segredos nas folhas vermelhas de outono... Melhor calar-me, pois que para o resto do mundo nada mais somos do que, eu, uma velha árvore, e você, um rio de corredeiras.
Vielen Dank für das Lesen!
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