Khamed nasceu em uma pequena aldeia situada na Floresta de Sangue, um local ligeiramente afastado do reino de Framber. Quando pequeno, a aldeia sofria uma grave crise, o que tornava os próprios aldeões desconfiados. Começou-se a criação de alianças dentre os moradores, fazendo com que desencadeasse uma batalha interna por recursos e poder. Os pais de Khamed foram forçados a fugir, deixando o filho para trás. Ao correr para a floresta, o pequeno chegou a uma clareira e foi encontrado por um velho druida que ali habitava. Então, com 4 anos, começou seu treinamento e viveu em meio a floresta durante toda sua vida. Hoje, com 21 anos, isso estava prestes a mudar.
Levantou-se cautelosamente naquela manhã, sentindo a natureza e o cheiro das árvores. Porém se sentiu incompleto, como se o cheiro da relva já não fosse marcante, como se as árvores perdessem a cor e do céu sumisse o brilho. Olhou para si próprio, para seu corpo. Olhou suas tatuagens, cada uma representando seus ensinamentos: feras diversas, todas as que havia aprendido a se transformar durante todos esses anos, símbolos herbalistas, que relembram toda sua cultura no conhecimento de curas através das plantas.
Reparou também em suas cicatrizes, marcadas e inesquecíveis, espalhadas por todo o corpo, adquiridas por conta das diversas batalhas enfrentadas naquela floresta. Mas, mesmo se olhando, não se encontrou. Sua energia vital, sua fé, nem sua confiança. Khamed se sentiu vazio, sozinho, o que nunca o ocorrera antes. Fechou seus olhos verdes. A brisa levantava levemente seus cabelos castanhos, que cresciam até a altura do ombro. Ele inspirou fundo e abriu os olhos decidido.
- Já é hora de retornar a civilização.
Dizendo isso, uma de suas tatuagens brilhou. O brilho saindo do lobo em seu braço direito começou a percorrer seu corpo. Sentiu os pelos e a cauda crescerem, seus caninos afiando e sua postura encurvando. Seus olhos se tornaram amarelos, seu olfato e audição foram apurando-se.
Como um grande lobo cinzento, uivou e partiu em disparada a cidade mais próxima.
[...]
Durante a noite, Cordon Mark corria pelos telhados da cidade de Strawbok, uma das maiores cidades do reino de Framber. Estava fazendo sua "tarefa" de todas as noites: roubar.
Cordon tinha seus 18 anos, mas já apresentava habilidades que deixavam até mesmo seus mestres impressionados. Com 14 anos o jovem fugiu de casa, abandonando seus pais com mais um irmão e uma irmã. Dizia ter vergonha da vida que lhe era fornecida. Seus pais tinham cargos no banco da cidade, o que tornava sua vida tranquila.
Desde pequeno, indignava-se com a pobreza alheia. Foi encontrado por um grupo de ladrões que o acolheram e o ensinaram suas técnicas. Mas o mais importante, o ensinaram a não ter sentimentos. Cordon se tornou frio, calculista, e junto ao seu talento nato para enganar aos outros, o próprio destacou-se perante os demais.
Cordon tinha 1 metro e 80, porém sua flexibilidade e destreza o tornava praticamente invisível aos olhos dos guardas. Sua missão do dia era uma carroça que acabara de chegar da Capital. Dentro da mesma, especiarias e algumas obras de arte eram transportadas para o mercado da cidade. Dois guardas armados com espadas curtas guiavam a retaguarda, enquanto dois soldados pessoais iam à frente com lanças e espadas embainhadas.
Os três olharam do alto de uma pequena igreja após alguns minutos saltando por telhados. Seria a única oportunidade de emboscada que teriam. Prepararam-se para o bote certo, no instante preciso.
Os três saltaram em direção a carroça.
[...]
A brisa que entra pela janela da casa se enfurece por um instante quando a porta se abre. Dovich Flays está finalmente em casa. Após um longo dia de trabalho em uma guarita na entrada de Strawbok, o soldado apenas queria descansar após o exaustivo dia.
Tirou a bainha presa ao corpo e sua espada, e as guardou de lado. Removia lentamente as tiras de armadura presa ao corpo. Quando a última tira se solta, é possível ouvir o forte barulho de metal encontrando-se com o chão.
Dovich caminhou lentamente até sua cama, deitou-se e ali ficou, imóvel e sem dormir. Pensou sobre seu dia e sua infância. Sobre como crescera nessa cidade, e quando completou seus 15 anos entrou para o exército real. Seus pais sempre orgulharam-se por ser dedicado e leal aos seus objetivos. Quando completou 20 anos, sua mãe enfrentou uma grave doença e faleceu. O jovem ficou dois meses afastado do serviço real, até que seu pai disse que iria mudar-se para uma comunidade menor nos arredores da cidade. Seu último pedido foi que o filho não deixasse de continuar seu sonho de ser um grande soldado.
Hoje, com 26 anos, Dovich mantém-se fiel a promessa que fizera. Relembrar isso fez com que o soldado finalmente descansasse, rendendo-se ao sono.
[...]
Os três ladrões saltaram certeiramente sobre a carroça. Cordon rapidamente pula em direção ao cocheiro. O homem fica sem reação quando é bruscamente derrubado pelo rapaz. Os outros dois, Mark e Daniel, encarregam-se dos guardas, saltando ao chão e entrando em combate, primeiramente com os lanceiros. Daniel ataca as pernas do lanceiro da direita, rapidamente derrubando-o. Imóvel, o soldado é apenas capaz de sentir os punhos do ladrão em seu rosto, nocauteando-o.
Mark toma a dianteira, aparando um golpe de lança com sua adaga. A comprida arma vai de encontro ao chão, mas rapidamente o seu portador consegue utilizá-la para desferir uma rasteira contra o ladrão. Mark cai de lado no chão e fere a cabeça, porém consegue rolar para evitar mais um golpe. O sangue esquenta o lado de seu rosto. Ao ver a cena, Cordon adianta-se e arremessa uma adaga nas costas do soldado. O mesmo cambaleia e cai ao lado de Mark.
- O que você fez? - perguntou Mark - "Sem vítimas", não se lembra.
- Era ele ou você. - Cordon desceu da carroça e recuperou sua faca.
Durante o acontecimento, Daniel encarregava-se de um dos guardas restantes. Após nocautear o primeiro, o jovem disparou para cima dos espadachins e sacou sua espada que carregava nas costas. Ao ir de frente com o primeiro deles, as espadas se encontraram. Movimentou-se e buscou flanqueá-lo, atacando mais rapidamente. De cima para baixo, esquerda para a direita, seus ataques eram sequenciados, porém imprevisíveis. Em um momento, conseguiu com a bainha acertar o estômago do guarda, desarmando-o logo em seguida. Com uma segunda joelhada na barriga, o mesmo caiu ao chão.
Daniel virou-se para o segundo, a tempo de ver Cordon saltando em uma das rodas para em seguida, desferir um chute contra a espada inimiga e desarmá-lo. Sequencialmente, derrubou o mesmo e o desmaiou com a bainha da adaga.
- Peguem o que puderem e vamos embora - disse Cordon friamente - Não podemos levar a carroça toda, então tratem de levar o que há de valor.
[...]
Já era noite quando o jovem druida chegava ao cidade de Strawbok. Parou em torno de um quilômetro antes dos portões. Não podia entrar em sua forma de lobo, então voltou ao seu estado normal. Os cabelos levitavam levemente com a brisa. Khamed inspirou suavemente. Havia tempo que não sentia o cheiro da vida urbana, das pedras colocadas juntas para criar uma grande muralha, da palha que cobria os telhados das residências mais simples. Andou vagarosamente até os portões. Acenou levemente com a cabeça para os guardas que ali estavam. Os mesmos o pararam.
- Vai adentrar a cidade senhor? - Indagou o guarda da guarita.
- Apenas repousarei durante a noite.
Os guardas o olharam de cima a baixo. O jovem não demonstrava ameaça. Maltrapilhos e imundice eram as únicas coisas que vestia. Porém suas marcas, cicatrizes e tatuagens eram questionáveis.
- Essas tatuagens são marcadas a magia? - Perguntou o mesmo guarda, ligeiramente suspeito.
- Magia? Desculpe, mas não sei como isso seria possível... - Mentiu o jovem druida. Conforme o passar dos anos e suas diferentes convivências com seres humanos diversos, Khamed aprendeu que não se deve dizer a origem de suas tatuagens a qualquer um que o pergunte.
O guarda olhou-o novamente. Agora tinha um olhar sério
- Receio que o senhor terá de me acompanhar - o guarda abriu a porta da guarita com um par de correntes.
- Para que as correntes?
- O rei precisa de audições com pessoas do seu tipo. Nada pessoal. Agora, não torne isso mais difícil para si mesmo.
- Ah não se preocupe - o urso em seu peito reluziu através da roupa. - Vocês que deviam se preocupar com isso.
Ao dizer isso, os pelos de seu corpo começaram a crescer rapidamente. Encurvado, Khamed começou a aumentar de tamanho, ficando com quase três metros de altura. Suas unhas cresceram a ponto de se tornarem fortes garras. As mãos alargaram-se, e os dentes, afiaram-se. O focinho se tornou comprido e deixou a boca ainda maior. O próprio havia acabado de se tornar um poderoso urso cinzento.
Ergueu-se em suas patas traseiras e partiu para cima do guarda. Os outros três guardas no portão correram para ajudar. Antes que pudessem chegar, o jovem desferiu uma patada no rosto do guarda próximo. Sangue jorrou para o lado. Apoiou-se novamente nas quatro patas e disparou para dentro da cidade, ignorando e quase atropelando os outros guardas que só puderam presenciar a morte do companheiro.
O sino começou a tocar desesperadamente. Podia-se ouvir em quase toda a cidade. O jovem druida percorreu algumas centenas de metros, ainda correndo. Entre ruas e vielas que entrava, voltou a sua forma normal. Vasculhou suas trouxas de roupa e pode encontrar um antigo capuz.
- Melhor que nada - disse a si mesmo quando o vestia.
Porém seu disfarce ia durar pouco. Ouvindo passos atrás de si, Khamed entra rapidamente em outra viela e esbarra-se com um simples cidadão. Ou ao menos, queria que fosse sua sorte.
Vielen Dank für das Lesen!
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