Antes que os humanos fossem criados, criaturas existiram, cujas hoje chamados de folclore, usadas como histórias para assustar crianças levadas ou até mesmo para fazerem outras caírem nos sonos mais profundos e imaginarem, em sonhos, que pudessem ser alguém com os mesmos superpoderes que aquelas criaturas possuíam. Um escape.
Mas quando Alfrin era pequena, seu avô havia lhe contado que um dia conheceu um grande mago, Ztain. Ztain contou a Sr. Varus que, no nosso mesmo mundo, existiam seres de outras culturas, eles caminhavam entre nós. E que um dia sua pequena neta seria a salvadora daquele mundo que só os merecedores conheciam, que ela possuía poderes que um dia se fariam necessários para a salvação deles.
Beirava vinte e dois anos e nada ainda havia acontecido, o que a fazia rir e questionar a sua sanidade toda vez que lembrava do que seu falecido avô tinha lhe dito. Não era possível que uma parte dela realmente almejasse por isso, mas almejava, e não podia fugir desse sentimento. Sentimento que a fazia sentir seu coração realmente pulsar, se sentir necessária para alguma coisa, um propósito para sua existência, pois ainda não o havia encontrado.
Levava uma vida deveras pacata, não suportava mais a rotina do seu dia a dia e não tinha ninguém a quem pudesse chamar de família por perto. Levantar da cama todo dia pela manhã e encarar o que estava por vir, era um sacrifício. Trabalhava em dois empregos, pela manhã entregava jornais e a noite era entregadora de pizza. O único serviço que conseguira arrumar sem habilitação, pois não tinha dinheiro para tirar uma ainda, realizava suas entregas em sua bicicleta, que havia sido uma das poucas coisas que o Sr. Varus tinha lhe deixado. De seus pais, que conheceu apenas por fotos, poucas coisas sobraram, segundo seu avô.
Mas mesmo assim, carregava um colar consigo desde que nasceu, que como pingente, continham as alianças de seus pais. Seu avô sempre insistiu para que levasse para onde fosse, pois Ztain havia lhe contado que aqueles não eram simples objetos quaisquer e que a manteriam sempre em segurança, que como a salvadora, iria precisar se manter segura até que seu despertar chegasse.
Por mais que já não acreditasse tanto na história quanto quando era criança, gostava de levar o colar com ela onde quer que fosse, sentia que com as alianças, seus pais estariam por perto.
O que Alfrin não sabia, era que aquilo tudo era real, havia um mundo dentro daquele mundo, ao qual somente aqueles que possuíam conexão com aquele tipo de linhagem, elfos, magos, fadas, bruxas e até mesmo curupiras e lobisomens podiam acessar. E que a cada dia que se passava e seu aniversário se aproximava, ela ficava mais perto de conhecer tudo aquilo que sempre achou que não passava de um conto.
Acabou de realizar sua última entrega e estava a caminho de casa, já era próximo a meia-noite do dia dezesseis, seu aniversário seria daqui dois dias, no dia dezoito. Havia um misto estranho de sentimentos dentro de si, como se uma mudança estivesse prestes a acontecer, não conseguia deixar aquele pensamento de lado, mas preferiu esquecer por hora, ir para a casa e descansar era sua prioridade.
Foi para o banho assim que chegou, não tinha nada melhor para poder relaxar e deixar qualquer coisa que a incomodasse de lado. Assim como todos os dias, após o banho, foi para cama.
Mas aquele era um dia diferente, tudo nela estava diferente, como ela mesma já havia notado, considerando o turbilhão de sentimentos que a preenchia. Rolava na cama de um lado para o outro, sentia como se seu corpo estivesse em chamas, havia sido assim a noite inteira.
Quando acordou pela manhã, sua cama estava encharcada de suor, fora o sonho louco que havia tido. Nele, ela estava pairando sob sua cama e olhava para seu próprio corpo enquanto uma luz branca resplandecia de dentro dele, forte o suficiente para iluminar todo o seu quarto.
Sentia-se diferente naquela manhã, sentia que podia fazer de tudo e realizar qualquer coisa. Não estava acostumada a desejar grandes coisas, mas a mínima que desejou, por coincidência do destino, havia se realizado como um truque de mágica. Seu telefone havia tocado, e conforme seu chefe tinha lhe informado, ela não precisava sair para entregar jornais naquela manhã.
Decidiu sair para a rua e gastar sua pouca economia, o dinheiro que havia juntado para tirar sua habilitação podia ser juntado outra hora. Olhou para aquele pequeno bolo de dinheiro e enfiou em sua mochila, quando colocou ela nas costas, desejou que aquela pequena quantidade de dinheiro fosse multiplicada.
Mas Alfrin não sabia que seus poderes estavam despertando e que qualquer coisa que ela desejasse do fundo do seu coração podia se realizar. Desde que, como a salvadora, ela soubesse usar seus poderes. Mas ela ainda não entendia tudo que estava acontecendo.
Foi para o centro da cidade e enquanto ainda tinha dinheiro para ser gasto, ela iria permanecer por lá.
[...]
— Minha rainha... — chamou Morks.
— O que quer? Você já encontrou aquela pirralha? — perguntou a bruxa.
— Ainda não, mas encontrarei.
— Então parta logo para o mundo dos humanos! Logo o despertar chegará e é melhor que possamos dar um fim nisso antes que comece.
— Sim, minha rainha! Mas vim lhe pedir uma ajuda, não sabemos como podemos encontrar a meia humana.
A rainha desceu a escadaria que levava para seu trono no castelo sombrio, parando de frente ao seu criado. Morks era um lobisomem que estava a serviço da rainha das trevas, que o prendeu usando um feitiço de lealdade, mas o meio homem, meio lobo, não fazia ideia da feitiçaria.
A rainha gesticulou para os guardas, que saíram do recinto e logo voltaram com um homem, sendo arrastado pelas correntes que prendiam suas mãos e seus pés.
— Ora, se não é o mago mais poderoso deste mundo. — A rainha cuspiu as palavras com desprezo enquanto erguia o rosto do homem de igual para o seu.
— Ravena... então era você. — Poupou seu fôlego.
O homem era incrivelmente bonito, mesmo estando a maltrapilhos, seus cabelos eram grisalhos, mas não por causa da idade, desde que nasceu era de uma cor única, seus olhos eram vermelhos como o sangue e o rosto marcado pela barba longa não impedia de ver o quão belo ele era.
— E quem mais conseguiria prender você por tanto tempo, Ztain? — debochou a rainha. — Eu quero a meia humana! Aonde ela está?
— Não adianta procurá-la agora! Logo o despertar chegará e ela nos salvará.
— Pare de ser bobo, eu a encontrarei antes de que aconteça e me certificarei de que ela não salvará nenhum de vocês. Tolice.
— É o destino dela, o seu reinado de escravidão chegará ao fim!
— Levem-no!
Ztain havia sido pego por Ravena em um momento de descuido seu, por ser um dos melhores magos, sempre tentaram contra sua vida, então ele já desconfiava de todos. Mas Ravena havia sido esperta, mandou um de seus subordinados alterar sua bebida, isso ninguém nunca tentou, então caiu feito um pato.
Os guardas arrastaram Ztain porta afora, mas eles não imaginavam que o mago já estava armando sua fuga. Preparou um feitiço forte o suficiente para lhe devolver parcialmente seus poderes, com a ajuda dos alimentos que levavam para si no cativeiro. Ztain puxou com brusquidão seus braços de volta para si, agarrando as correntes com força e as aqueceu com seu poder. Então explodiu, fazendo com que várias partículas de ferro voassem pelos ares. Com as mãos livres, puxou a corrente de seus pés, se livrando delas também.
Então estalou seus dedos e, em um piscar de olhos, já estava no mundo dos humanos. Era hora de encontrar Alfrin.
O submundo precisava dela, a pouco menos de vinte e dois anos, Ravena duelou contra a Magestade da luz, Shinfryn, para tomar o trono. Shinfryn carregava em seu ventre sua herdeira, a qual, em seu leito de morte, confiou a Ztain. Sua gestação não passou de três meses, então com todo o conhecimento em magia que possuía, Ztain fez uma porção para poder preservar aquela criança dentro de uma câmara que mais se parecia com o útero, todo cuidado se fez necessário. Mas dando seus nove meses, após uma semana depois de ter a retirado de dentro da câmara, Ztain achou melhor lançar sobre ela um feitiço de proteção, consequentemente escondeu dentro dela própria seus poderes, até que ela pudesse despertar sozinha, entregou ela ao pai de Shinfryn e lhe contou toda a sua história.
Sr. Varus, que havia escolhido viver no mundo dos humanos depois de ter concebido o trono à sua filha e seu genro, jurou ao mago que a protegeria até que o dia de seu despertar chegasse. Antes que partisse, Ztain deu a ele as alianças de sua filha e seu falecido genro, mas não sem antes as banharem em um feitiço, no qual Shinfryn e Eron pudesse acompanhar sua filha aonde quer que eles tivessem, fosse ele paraíso ou inferno, desde que eles não interferissem em nada.
Ravena não sabia sobre a criança, até que um dia, usando de sua magia, prendeu Morks, o lobisomem, forçando-o a ser leal a ela também, assim como era com sua antiga rainha. Então o questionou sobre todo o passado de Shinfryn e Eron, descobrindo então que Ztain escondeu a criança.
A nova rainha ficou transtornada, primeiro decidiu que essa criança não mudaria nada, mas com o passar do tempo, todos aguardavam a volta da salvadora para serem salvos. Ravena se irritou e decidiu escravizar todos, desde os seguidores da criança desconhecida e até mesmo aqueles que não se importavam com nada e só queriam seguir com suas vidas.
Escravizou os anões, acabou com os orcs, destruiu todos os golens e ameaçou várias criaturas, buscando informações sobre a criança, mas a única coisa que sabia era que Ztain era o único que tinha as respostas que procurava.
Andou a cidade por um tempo até que desistiu de procurá-la da forma normal, então fez um rápido feitiço e a encontrou, estalou seus dedos e em um piscar de olhos estava de frente à Alfrin.
Não via a garota desde que a deixou com Varus, nem a reconheceu de imediato. Seus cabelos cacheados em um tom de ruivo estava volumoso, dando contraste com sua pele branca feito leite, Alfrin era idêntica à sua mãe, de seu pai só havia puxado a altura, diferente de sua mãe que era baixa, Alfrin tinha quase 2 metros.
— Te encontrei! — falou no mesmo momento em que apareceu à sua frente em meio a fumaças.
[...]
Estava em frente ao espelho provando uma troca de roupa que gostou, quando um estranho envolvido por fumaças apareceu no seu campo de visão. Mas ela não se assustou, era exatamente a maneira que Alfrin havia previsto.
— Você é... — No mesmo instante, Alfrin soube de tudo, e sabia sobre o que se tratava aquele aparecimento. — Esperei tanto por esse dia!
— Sinto muito por isso, princesa. — disse Ztain se prostrando, devotando-se a ela.
— Como posso eu saber de tudo? — perguntou sem entender.
— Você estava sendo protegida por um feitiço, quando se encontrasse comigo, ele se quebraria, e você saberia sobre tudo o que acontece em seu reino... Bom, em outras palavras, sou seu intermediário! — respondeu Ztain.
— Obrigada, meu amigo, por cuidar de mim esse tempo todo...
— Não foi esforço algum, minha majestade! Mas agora precisamos correr, se seu feitiço foi quebrado, Ravena pode te encontrar e ela não está medindo esforço algum para isso — disse Ztain e colocou a cabeça para o lado de fora do provador e voltou para dentro logo em seguida. — Temos pouco tempo até que seu aniversário chegue.
— Tenho uma ideia! — disse a princesa.
— Não! — disse o mago, prevendo o que seria.
— Mas é nossa melhor opção, Ravena não irá me procurar no seu reino.
— É muito arriscado, minha princesa, deixe-me protegê-la aqui.
— Sinto muito, Ztain, mas meu povo precisa de mim, não posso me esconder agora. Em poucas horas, meu aniversário chegará e com ele meu poder, está na hora de tirar a Ravena de lá.
— Espero que saiba o que está fazendo, senão, jamais me perdoarei, assim como seus pais não me perdoariam. — Mais uma vez, a fumaça se fez presente, e então chegaram ao submundo.
Prevendo que os monstros da rainha logo os encontrariam com o quebrar do feitiço de proteção de Alfrin, tinham que correr contra o tempo.
A princesa pediu para que Ztain reunisse todos aqueles que eram a favor do reinado de seus pais, aqueles que aguardaram ansiosos pela sua volta e então prometeu a eles que tomaria de volta o trono para a sua família.
Pouco faltava para que o badalar do relógio batesse meia noite. Em silêncio fugiu, e então deixou-se ser presa pelos guardas grotescos de Ravena.
— Ora, se não é a queridinha de Ztain! Está na hora de colocar um basta nessa palhaçada toda e em você — disse Ravena, levantando a mão com uma fumaça roxa em formato de bola.
Blen-blen blen-blen blen-blen blen-blen blen-blen blen-blen blen-blen blen-blen blen-blen blen-blen blen-blen blen-blen.
Quando o relógio badalou a meia-noite, Alfrin se libertou dos guardas e correu em direção a Ravena.
Alfrin queria mais que tudo libertar o povo que a rainha escravizou, antes de se encontrar com ela, andou sobre o submundo e algo dentro de si a dizia que ela era culpada por tudo, ouviu uma das fadas reclamar que Ravena escravizou todos porque queria encontrar Alfrin. Achava injusto ter acontecido tudo isso com seu povo, que deveria proteger, só porque Ravena procurava por um bebê que um dia reivindicaria seu trono.
Antes que pudesse chegar perto, saltou e então de si saiu um clarão que cegou a todos.
O despertar da Luz havia chegado.
A luz havia ganhado da escuridão, o primeiro feito de Alfrin foi libertar seu povo, fazendo com que a reconhecesse como sua magestade. A única coisa que queria era deixar seus pais orgulhosos, mas ela sabia, no fundo do seu coração, que eles olhavam por ela.
Vielen Dank für das Lesen!
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